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3. ANÁLISE DE DADOS

3.1 IDENTIDADES SOCIAIS DE GÊNERO COM INTERSECÇÃO DE RAÇA E DE

3.1.3 Visibilidade e Representatividade das Mulheres Negras no LD

A figura Varied Diet, pertencente à unidade 1, Studying with Technology (Estudando com tecnologia), traz a representação de uma mulher negra para abordar o assunto sobre alimentação saudável. Todavia, é importante ressaltar que o assunto abordado nessa página não tem nenhuma relação com o tema da unidade, sendo assim, fica configurado em uma posição desprivilegiada do livro.

FIGURA 3. 8 – Varied Diet

Fonte: TAVARES, K.; FRANCO, C. Way to go. v. 3, 1 ed. São Paulo: Ática, 2013, p. 12.

Podemos perceber que a imagem da mulher negra foi utilizada para abordar um assunto que faz parte da vida de todo ser humano. Além disso, “a jovem negra aparece sorrindo e sua cor de pele é destacada pelo fundo branco [...]”, (SILVA; ROCHA; SANTOS, 2011, p. 113), ou seja, sua beleza parece ser valorizada. De acordo com Silva, Rocha e Santos, o fato de “em nenhum momento, o texto fazer referência à cor/etnia da jovem, [...] indica que ela está sendo utilizada para representar o gênero feminino, ou seja, a normatividade branca é contraposta” (SILVA; ROCHA; SANTOS, 2011, p. 113), algo raro dentro do livro que vale a pena ser destacado. “Assim, consideramos este um exemplo de valorização dos traços da mulher negra [...]” (SILVA; ROCHA; SANTOS, 2011, p. 113).

Dessa forma, o LD favorece a construção de identidades dos/as alunos/as, uma vez que ele “[...] abre caminho para uma possível subversão das identidades, principalmente daquelas identidades cristalizadas, como por exemplo, as identidades socioculturais homogêneas” (SANTOS, 2013, p. 145), conforme discutido no capítulo do referencial teórico.

FIGURA 3. 9 – Sustainable Practices

Fonte: TAVARES, K.; FRANCO, C. Way to go. v. 3, 1 ed. São Paulo: Ática, 2013, p. 39.

A Figura 3.9, pertencente à unidade Save the World! Go Green!, traz a imagem de uma mulher negra para abordar o assunto acerca de práticas sustentáveis. Sendo assim, tanto a imagem quanto o exercício condizem com o tema da unidade. Ademais, o sorriso na face da moça expressa alegria. De acordo com Jovino, na sua análise acerca do LD de espanhol, a imagem de uma pessoa negra alegre no LD afasta “[...] a ideia estereotipada de sofrimento ligada às questões históricas do período de escravidão e tão recorrentemente recuperada no cenário social” (JOVINO, 2014, p. 131).

Quanto às vestes da mulher, condizem com as de uma pessoa que possui capital econômico elevado (bens materiais), afastando o estereótipo de negro/a como pessoa pobre. Além disso, a quantidade de objetos que ela coloca para reciclagem indica que ela é uma pessoa que consome bastante. Visto isso, compreendemos que se trata de uma imagem livre dos padrões hegemônicos impostos pela sociedade (TRINDADE, 2011).

Considerando que o/a professor/a deveria construir “[...] estratégias educacionais que visem a uma pedagogia antirracista e de respeito à diversidade – promotora de igualdade racial [...]” (MONTEIRO, 2006, p. 123), nesse sentido, essa figura favorece a tarefa do/a professor/a.

FIGURA 3. 10 – Old Heroes/Heroines

Fonte: TAVARES, K.; FRANCO, C. Way to go. v. 3, 1 ed. São Paulo: Ática, 2013, p. 93.

A figura 3.10, pertencente à unidade Old Heroes, New Heroes, exibe a representação de pessoas que são consideradas heróis e heroínas de antigamente. Tal figura apresenta imagens de pessoas negras na mesma proporção que de pessoas brancas, todas representadas igualitariamente. Dessa forma, “[...] a inclusão da diversidade pode ser uma faísca para o professor, intelectual transformador, incendiar sua aula e promover a construção de identidades emancipatórias” (SANTOS, 2013, p. 33).

Outro quesito que foi observado nessa imagem é que a mulher negra, foco desta pesquisa, não é representada com alguém que exerce algum cargo subalterno ou ainda como dona de casa ou mãe, como nas imagens das heroínas modernas. Diante disso, podemos dizer que nessa figura, a mulher negra aparece “[...] em posições de prestígio e em situação de igualdade (ou quase) aos personagens brancos” (MARTINS, 2011, p. 55).

FIGURA 3. 11 – Stereotypes

Fonte: TAVARES, K.; FRANCO, C. Way to go. v. 3, 1 ed. São Paulo: Ática, 2013, p. 62.

A figura Stereotypes, pertencente à unidade 3, intitulada Traveling around Brazil (Viajando a redor do Brasil), traz a imagem da escritora nigeriana Chimamanda Adichie e também uma citação sua, para abordar o assunto sobre estereótipos. Isso pode ser considerado como um fator positivo. Todavia, o tipo de estereótipo mencionado no livro é sobre favela e o preconceito contra alguma cultura ou grupo de pessoas, vizinhança, cidade ou país. Embora as pessoas negras pertençam a um grupo de pessoas que sofre preconceito, a questão do racismo não é abordada explicitamente. Além disso, apesar do exercício trazer a imagem de uma escritora negra, não é abordado a questão acerca dos estereótipos de mulheres negras e do preconceito interseccional que a mulher negra sofre, apenas deixa-se implícito por se tratar de um tipo de preconceito.

Tendo isso em vista, a frase When you break out stereotype, you’re free to be yourself (quando você quebra estereótipos, você é livre para ser você mesmo) ainda vem acompanhada da imagem de uma menina branca, desviando o olhar dos/as alunos/as e do/a professor/a dos estereótipos de mulher negra. Por que não é a imagem de uma mulher negra sendo livre? Quais são os estereótipos que as pessoas brancas têm? Somente as pessoas brancas podem ser livres?

Outra questão importante a ser observada é que, ainda que a unidade 3, Traveling around Brazil (Viajando a redor do Brasil), destaque as favelas como pontos turísticos do Rio de Janeiro, o assunto sobre estereótipos parece não ter nenhuma relação com o tema da unidade, sendo assim, tal assunto fica disposto em uma posição desprivilegiada no livro. O assunto teria mais destaque se estivesse localizado na unidade 8, Express Yourself through Words (Expresse-se através das palavras), em que se discute acerca dos preconceitos sociais.

Entretanto, independente dessas questões, esse é um momento oportuno para o/a professor/a conversar com os/as alunos/as a respeito das imagens estereotipadas de pessoas negras presentes no LD e também abordar a questão acerca do racismo e das ideologias por trás desse material. Segundo Pereira, o/a professor/a deveria:

[...] conduzir suas atividades docentes de forma a levar seus alunos e suas alunas a questionarem aquilo que lhes é apresentado em livros didáticos e em discursos que circulam na sociedade e no meio escolar como verdadeiro e absoluto, sendo capazes de identificar ali as ideologias subjacentes e assimilá-las ou contestá-las. (PEREIRA, 2007, p. 266).

Em síntese, o/a professor/a pode trabalhar o letramento crítico em sala de aula, promovendo reflexões, conforme abordado nas discussões do capítulo do referencial teórico.

3.1.4 Representatividade da Mulher no Livro Didático Way to Go 1 a partir do