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VISITAÇÕES PASTORAIS.

O DOM DA TUTELA

4.1. VISITAÇÕES PASTORAIS.

No que diz respeito à visita pastoral como prática religiosa, consiste numa “instituição canônica da mais subida importância”, visto que a disciplina adotada pelo cristão na doutrina católica, conservava em si

costumes como forma de reparar os maus hábitos, renovando a religiosidade do povo e do clero, como requisitos que auxiliam a religião.201

As visitas pastorais eram consideradas como obrigações dos bispos no projeto romanizador. Para isso, os bispos preparavam os padres e vigários, oferecendo-lhes as instruções determinadas pelo projeto ultramontano, além de fiscalizarem as ações desses clérigos para que eles não se rebelassem contra os preceitos da nova ordem eclesiástica. Desse modo, realçavam os hábitos, dando ênfase ao cumprimento das obrigações litúrgicas.202

Logo após a separação da Igreja do Estado, Dom Macedo Costa, bispo do Pará, representando o episcopado publicou um documento intitulado “Pontos de reforma na Igreja do Brasil”, onde ele aborda a necessidade de mudanças no Catolicismo. Para isso, era necessário que os bispos estivessem em harmonia com suas dioceses, dando apoio à nova proposta do projeto romanizador, como também investigando, através das visitas pastorais, as atitudes do clero, informando às paróquias sobre o que por lá se passava.203

A preparação da visita pastoral era feita por cada bispo em sua diocese. Para a visitação eram encaminhados avisos às igrejas, informando-as da chegada do bispo e também para que preparassem os rituais de acordo com o modelo romanizado.

Mediante o aviso sobre a visita pastoral, as Igrejas eram informadas de que deveriam fazer repicar os sinos, a fim de informar à comunidade da

201Apud. MIRANDA, Carlos Alberto, 1988. , p. 41 202 MISCELLI, op. cit. , p. 100

vinda do bispo; de que para essa ocasião o poder eclesiástico determinava que os párocos vestissem pluvial branco rico e sem estola, tendo em vista que, para a solenidade de recepção ao bispo, o padre não deveria vestir a estola.204

Para a chegada do bispo, organizava-se uma recepção em que as pessoas e o clero se dirigiam para a Igreja ou para a casa que tivesse sido preparada e, a uma certa distância da igreja, o clero erguia a cruz e, organizado por categorias, seguia o séquito ao encontro do bispo. Ao chegar à porta da igreja, o bispo ajoelhava-se, recebia o crucifixo, beijava-o e seguia em direção ao altar, trilhando o caminho por um tapete.205

A partir daí, o bispo encaminhava-se para a cadeira preparada no presbitério.206 Após cumprir essas primeiras cerimônias, ele entoava o hino e seguia para o pálio no centro da capela-mór, e desfilava em procissão

com irmandades, ordens e clero e seguem para a matriz entoando o responsório e outros hinos como: benditos, magníficos, ladainha de Nossa Senhora e o hino do Padroeiro.207

E ainda, o cerimonial da visita pastoral era disposto com uma cadeira de braços forrada com damasco, chamado de trono, a qual ficava sobre um tapete, que se arrastava por uns três degraus abaixo dela; no altar-mor forrava-se um tapete com uma almofada para o bispo se ajoelhar. No altar

203 RIBEIRO, op. cit. , p. 280

204 Carta Pastoral de D. Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, bispo de São Paulo, anunciando . ao

clero e aos fiéis sua primeira visita diocesana. São Paulo, Typographia da Indústria de São Paulo. 1896. p. 26

205 Ibid. 206 Ibid. , p. 27

207 Constituições Eclesiásticas do Brasil do Brasil. Nova Edição da Pastoral Coletiva de 1915. Adaptada ao

Código de Direito Canônico ao Concílio Plenário Brasileiro e as recentes decisões das sagradas congregações romanas. Typografia La Salie, Canoas, Rio Grande do Sul. p.p. 425-426

ficavam a epístola e o missal contendo a oração titular da Igreja marcada e

ao lado uma banqueta com mais ou menos seis velas acesas.208

Todas as vezes que o clero se reunia por ocasião das visitas pastorais, ele agrupava as ordens, as irmandades e os leigos para organizar um cortejo, com o objetivo de determinar as pessoas que iriam carregar as varas do pálio. Era costume escolher para essa finalidade as autoridades locais que eram tidas como pessoas de honra do lugar.209

E, dessa forma, prosseguia o ritual da visita pastoral: o bispo paramentado vai ao sólio e desveste o traje pontificial, em seguida publica as indulgências que poderiam ser proferidas antes ou depois da missa, mas se fosse no meio da missa e o bispo quisesse pregar, ele subia ao púlpito ou acomodava-se no faldistório. Feita a homilia, o bispo vai para o seu trono ou sólio e um pároco ou outro padre entoa a confissão. Terminado o confiteor, o bispo levanta-se e dá absolvição e, depois de uma breve oração, faz os avisos acerca da visita pastoral.210

Durante as visitas pastorais, era feita visita à estação dos defuntos, durante a qual se cumpriam as seguintes disposições: os bispos usavam os paramentos roxos, levavam a mitra simples e também o livro pontifical; a caldeirinha com água benta era levada pelos sacristãos e a cruz processional ficava sempre virada com a face para o altar.211

As irmandades reuniam-se para acompanhar a procissão à estação dos defuntos; os membros das irmandades seguiam com tochas acesas nas

208 Carta Pastoral de D. Arcoverde de 1896. op. cit. , p. 24 209 Ibid.

210 Pastoral |Coletiva de 1915. op. cit. , p. 428 211 Carta Pastoral de 1896. op. cit. , p. 31

mãos, dispostas lado a lado, o clero e o vigário também colocados na mesma disposição, tendo nas mãos o Ritual ou o Breviário para fazer as preces.212 Então, o Bispo e todo o cortejo dirigiam-se ao cemitério, andavam em redor das sepulturas e com a água benta iam aspergindo o caminho, como também levavam o turíbulo em brasas acessas, e o clero e as irmandades entoavam cantos e responsórios. 213

No final do ritual, o bispo levantava a mão direita e fazia o sinal da cruz por toda parte sobre o cemitério. Em seguida, tomava a mitra e voltava com todos para a igreja ou para a Capela-mór, do mesmo modo que haviam entrado no cemitério.214

Por essa época, a Igreja Católica mandava excluir do direito da sepultura eclesiástica os que morressem sem batismo, exceto os que tivessem morrido antes do batismo, sem que tivesse culpa de não ter sido batizado.215 Eram também privados do direito de sepultura eclesiástica os que morressem sem arrependimento das suas faltas, como

Os apostatas filiados a seitas heréticas, ou a seita maçônica ou outras sociedades deste gênero, os excomungados ou interditos depois de sentença condenatória ou daclaratória; os que se derem a morte com propósito deliberado; os mortos em duelo ou de feridas neles recebidas; os que houveram mandado incinerar os

212 Ibid.

213 Carta Pastoral de 1896. op. cit. , p. 31 214 Ibid.

seus corpos; os outros pecadores públicos e manifestos ( c. 1240).216

A partir dos nossos estudos sobre as visitas pastorais, constatamos que essas já se encontravam dispostas no Concílio de Trento, como forma de manter a doutrina católica, abolindo, desse modo, o que pudesse corromper os bons hábitos e dispersar os católicos da religião.217

Para a efetividade dessas práticas religiosas, Dom Arcoverde, como parte do clero reformador, durante a visita pastoral, além de corroborar com a ostentação do ritual instituído pelo modelo romanizado, dava ênfase às práticas das pregações, como forma de reforçar o estilo romanizado.

4.2. AS PREGAÇÕES COMO MEIOS DE REFORÇAR OS

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