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Visita

Comunhões Crisma Casamentos Batizados

Alagoinha 4 a 8 homens 1520 mulheres 2630 940 homens 1254 mulheres 10 35 Guarabira 9 a 15 homens 2130 mulheres 4221 homens 2007 mulheres 2600 12 00 Serraria 8 a 13 homens 1145 mulheres 2187 homens 782 mulheres 1345 08 00 Borborema, capela da freguesia de Serraria 15 a 19 homens 378 mulheres 857 homens 447 mulheres 512 11 00 Pilões 19 a 22 homens 326 mulheres 775 00 07 00

Fonte. AEPB – Jornal A Imprensa Catholica. Visita Pastoral. Bi-Semanario Catholico da Parahyba, segunda – feira, 28 de janeiro de 1924. Anno XXI – No 37.

Fundando-se nessa deliberação do Episcopado, as visitas pastorais constituíram- se em vistorias periódicas realizadas pelos bispos, ou delegados por ele escolhidos, para fiscalização das paróquias de sua jurisdição, da atuação do clero e da observância religiosa dos fiéis, com caráter pedagógico e admoestativo. A Igreja Católica objetivava com isso condicionar o clero a uma atuação mais direta na reforma da religiosidade popular.

Nesse período as visitas não perderam seu caráter de reguladoras da vida da população, porém, ganharam maior ênfase os de propagadora e fiscalizadora do modelo

de cristianismo sacramental e racionalizado pretendido pela Igreja Católica no contexto de mudanças políticas e sociais pelas quais Brasil e Paraíba passaram com o declínio do Império e estabelecimento da República e das novas relações entre Igreja e Estado.

As visitas eram instaladas sob orientação das cartas pastorais, no qual os bispos expressavam suas preocupações e a necessidade de maior ação católica por parte da Igreja nos locais visitados, na figura do Bispo ou do pároco local. Este, por sua vez, era selecionado pelo bispo ou cabido diocesano68 nas instâncias superiores da hierarquia eclesiástica, normalmente de naturalidade europeia e formação de nível superior, fortemente influenciado pelo ideário episcopal, diferentemente da situação em que se encontrava a maioria do clero, fazendo com que a visita pastoral perfizesse com frequência pelas localidades pertencentes à Diocese da Paraíba.

Buscando garantir a eficiente aplicação dos preceitos reformadores determinados pela Santa Sé Romana também se fazia necessário enquadrar nesse projeto de modelo de cristandade seus principais agentes disseminadores, o clero. Com esse objetivo, o Episcopado apoiado pelo Papa buscava a reorganização dos bispados visando uma profissionalização do clero que o tornasse capaz para o exercício da nova pastoral e do projeto reformador da Igreja.

A eficiência das visitas pastorais previam investimentos na qualidade intelectual dos padres e uma sólida formação recebida em seminários adequados para este fim, talvez por isso o bispo Dom Adauto tivesse esta preocupação com a formação sacerdotal dos padres. Aspectos fundamentais para preparar um clero que combateria as superstições do povo e suprimiria o catolicismo doméstico e leigo pelo catolicismo institucional e sacralizado. De acordo com Eduardo Hoornaert, as visitas se configuravam também com esse intuito, promovendo uma vigilância sobre as ações do clero elas ―proporcionavam a excelente ocasião de admoestar os padres relapsos, aconselhá-los a se entrosarem na renovação pretendida‖. (HOORNAERT, 1992, p. 302).

Os bispos exerceram importante papel no processo de restauração católica pretendida pela Igreja, e as visitas pastorais foram importantes por buscar a

68 Antes das reformas conciliares, os títulos de cônego e monsenhor formavam o cabido diocesano, para a

função de conselheiros do bispo, o governo da diocese durante a vacância e o esplendor das funções litúrgicas na catedral. Hoje, os títulos de cônego e monsenhor são honorários e não indicam a posse de nenhum cargo ou posição na Igreja. Mas, são títulos de homenagem e reconhecimento por serviços prestados à Igreja.

reaproximação do clero com o povo, buscavam meios pedagógicos de inculcar a nova concepção de religiosidade por onde visitavam. Para isso, afirma Riolando Azzi,

Tomaram uma série de medidas práticas, que podem se sintetizadas em dois aspectos principais: em primeiro lugar, eliminar progressivamente os elementos considerados profanos do culto religioso, como meio de purificação da religião popular. Em segundo lugar, fazer com que o clero assumisse a total direção das manifestações de culto e das associações religiosas, de modo a poder utilizá-las como instrumento de catequese popular. (AZZI, 1992, p. 33).

Podemos afirmar que as visitas pastorais constituíram-se, junto com o investimento na formação do clero, importante instrumento de promoção da ação episcopal e de uma busca de aproximação com Roma e a sociedade, com quem o episcopado brasileiro mantinha uma precária relação por conta do Regime de Padroado, mas que, depois do rompimento com o Estado republicano o clero estava buscando recuperar esta relação que tinha ficado distante nos tempos da colônia e do império.

Nesse contexto, Dom Adauto realizou durante seu bispado uma série de ações reformadoras dentro do modelo de catolicismo tridentino e romanizado na Província da Paraíba e do Rio Grande do Norte (subordinada ao bispado paraibano no período). Realizava além das visitas pastorais, as chamadas Conferências Eclesiásticas, que tinham como objetivo ajustar a formação teológica do clero e incentivo aos estudos. Outras ações importantes para o projeto de reforma religiosa dentro de seu bispado foram à fundação da Diocese, do Seminário de Santo Antônio, de colégios católicos e o incentivo a entrada de novas congregações religiosas vindas da Europa, a exemplo dos Diocesanos e Maristas.

Refletindo sobre esse momento de mudança politica no cenário brasileiro e de novas necessidades da Igreja de reestrutura-se, percebemos que as visitas diocesanas realizadas durante o bispado de Dom Adauto de Miranda Henriques, pode ser entendido como instrumento que se adequou e se reconfigurou às necessidades da pastoral católica, mostrando-o zeloso e sintonizado com as questões relacionadas à primeira fase da República e as novas diretrizes do episcopado brasileiro, estando presente e atuante no espaço paraibano durante seu bispado e arcebispado, objetivando através de práticas

e ensinamentos cristãos a eliminação do catolicismo doméstico e leigo pelo catolicismo institucional, organizado e sacralizado que pudesse colaborar para a expansão do catolicismo em terras paraibanas.

3.5 – Instrução educacional e religiosa: caminhos para a propagação da fé católica na Paraíba

O catolicismo ultramontano da segunda metade do século XIX e das primeiras décadas do século XX procurou instaurar novas práticas sociais e religiosas divergentes daquelas aplicada pelo Estado laico. Para continuar mantendo seu poder e suas influências políticas, a Igreja passou a desenvolver ações sociais e educacionais diversas, dentre elas tivemos as visitas pastorais, criação de dioceses e a abertura e/ou reabertura de colégios voltados para a educação feminina e masculina, cuja intenção era sobrepor-se as ideias laicas deste período, assim como incentivar e disseminar através de cartas pastorais a importância da instrução religiosa, do estudo da bíblia e do catecismo.

A questão da liberdade religiosa e do ensino leigo eram sem dúvida temas importantes e merecedores de amplo debate nas últimas décadas do Império. Desde a época do Império, o episcopado brasileiro vinha fortalecendo seus vínculos de dependência com relação a Santa Sé. Dentro deste contexto, se inicia um novo período de educação católica, tendo como ênfase a substituição da tradicional formação luso- brasileira por uma orientação educacional marcadamente europeia.

Habituada a exercer o domínio exclusivo na área religiosa, a hierarquia católica reagiu com firmeza, visando preservar sob sua tutela o setor educacional, caminho seguro para sua expansão e arrebatamento de novos fiéis a causa cristã. Seguindo as orientações de Roma, o episcopado brasileiro foi incentivado a fundar colégios católicos e expandir as visitas pastorais, sobretudo nas cidades onde as escolas públicas ou protestantes estavam sendo implantadas.

A primeira Constituição da República brasileira exemplificava a liberdade concedida ás instituições religiosas em virtude do pensamento positivista que

assegurava os traços da cultura vigente, cuja intenção era extingui-los paulatinamente e substitui-los pelo pensamento cientifico e naturalista do positivismo. A religião católica e a organização politica laica eram e ainda são poderes distintos em uma sociedade que disputam a atuação sobre os grupos dominados e assim foram se constituindo os espaços tantos religiosos como políticos ao longo da primeira República.

Entendemos, que a mudança do regime político de Monarquia para República não significou profundas alterações na política clientelista existente. Estas práticas foram se aperfeiçoando com o passar dos anos e acabou por consolidar-se como prática política recorrente entre os grupos dominantes. A política de favores foi amplamente utilizada pelas elites para se perpetuarem no poder, utilizando inclusive os cargos administrativos nos colégios, beneficiando os grupos partidários da época.

No inicio da República, o planejamento para organizar a educação instrucional era feito de forma tímida e com poucos recursos, e a distribuição das cadeiras isoladas ficava a cargo dos interesses de cada liderança política estadual e municipal, que as utilizavam como barganhas políticas. Em 1892, o governador Álvaro Machado em mensagem ao Congresso Constituinte, fez a seguinte avaliação sobre a situação das escolas paraibanas, ―achão-se esparsas pelo Estado sem plano sem systema; cream-se e extinguem-se muitas vezes por caprichos e interesses individuais, sem a menor attenção ás necessidades do ensino público‖.69

Ao longo da primeira República tivemos tanto a extinção como também a criação de cadeiras isoladas, e estas questões estavam diretamente ligadas às necessidades e influências de poder através das relações de compadrio e de favores existentes neste período, inclusive com relação a nomeação de professores e os valores pagos a este. O ensino é público, mas as ações exercidas sobre o ensino e sua utilização eram praticadas como se fosse particular ou de grupos privilegiados que tinham acesso ao ensino através de favores e amizades.

O funcionamento das cadeiras isoladas perdurou até as primeiras décadas do século XX na Parahyba do Norte. Com o passar dos anos os espaços escolares deixaram de funcionar em casas privadas e foram passando para o poder público, este fato foi contribuindo para um novo modelo de organização escolar com uma estrutura curricular dividida em dois graus. Estas escolas de primeiro grau tinham o objetivo de desenvolver

69

Instituto Histórico e Geográfico Paraibano – IHGP. Serie Jornais. Jornal da Parahyba – Julho de 1892. PARAHYBA DO NORTE, Estado da. Mensagem do governador, Dr. Álvaro Lopes Machado ao Congresso do Estado em 1º de julho de 1892. p. 13.

e preparar os meninos para os conhecimentos diversos, enquanto que os de segundo grau deveriam conduzir os meninos para os estudos clássicos.

De acordo com o Jornal O Tempo datado de 25 de setembro de 1865, afirmava que; Á este systema encadeão-se os collegios, lyceus, gymnasios que continuão a

educação até o grão em que a mocidade, depois de haver recebido uma cultura clássica e liberal, começa os estudos práticos na vida comum ou estudos scientificos superiores e especiaes nas faculdades ou universidades.70

Refletindo sob a ótica liberal da época, poderíamos afirmar que o ensino católico era considerado pelos liberais como um instrumento utilizado pelo clero para garantir o domínio sobre a sociedade brasileira. Sendo assim, o grande esteio para o clericalismo era a oficialização da fé católica através dos colégios e do ensino religioso.

Dentro deste contexto, os grupos relacionados ao catolicismo ultramontano no Brasil, em especial as Congregações estrangeiras, como as diocesanas, marianas, salesianas e maristas alertas a tentativa de suplantação dos valores católicos pelos valores modernos no seio da sociedade, procuraram construir os seus estabelecimentos de ensino com edificações superiores as das escolas públicas, demonstrando o poderio da religião católica junto ao desenvolvimento das cidades.

Com a finalidade de promover e consolidar essa nova perspectiva eclesiástica estruturada na reformulação e fortalecimento do clero, o episcopado brasileiro determinou a reformulação de antigos mosteiros e a abertura do país para numerosas congregações masculinas e femininas vindas da Europa. De 1880 a 1930 ingressaram no Brasil aproximadamente 36 congregações masculinas, das quais 13 provenientes da Itália, 9 da França, 4 da Alemanha, 4 da Holanda, 3 da Espanha, 3 da Bélgica, Áustria e Ucrânia.71

Em termos quantitativos, o ingresso de congregações femininas vindas da Europa foi mais expressiva. De 1859 a 1930 ingressaram no país 81 institutos religiosos femininos, com destaque para alguns países como a França no total de 28, Itália 24, enquanto que da Alemanha e da Espanha vieram nove, respectivamente.

Este movimento imigratório de congregações neste período justifica-se por tratar-se do início de um movimento de reestruturação católica, tendo como uma de suas principais metas a expansão da educação confessional. Vale salientar que muitas destas

70 IHGP – Fundo Chancelaria. Serie – Jornais. Cod. 020. A1.P1. Jornal O Tempo datado de 25 de

setembro de 1865.

71

CERIS – Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais. http://www.ceris.org.br/antigo/ -

congregações vieram para o Brasil por orientação da politica ultramontana. Neste cenário de mudanças, a educação católica funcionou como poderoso aliado e dosador desta modernidade para a formação de mulheres de diferentes grupos sociais: elite dirigente, operários e imigrantes. A maior parte destas congregações tinha como objetivo primeiro o trabalho com a educação, um dos caminhos de reestruturação da Igreja brasileira.

O rompimento dos laços institucionalizados com o Estado com a mudança de regime e o fim do padroado (1890), gerou a necessidade de reestruturação, organização institucional e federalização, estendendo igrejas, seminários e escolas por todo o território nacional, atingindo grandes e pequenas cidades. Para MICELI (2009, p. 151), a política expansionista da Igreja Católica no Brasil voltava-se para duas direções: reconquistar os espaços ameaçados com a ruptura com o Estado e recrutar novos grupos para constituírem a elite eclesiástica. Havia a necessidade de acúmulo de patrimônio, de combate a outros movimentos religiosos e de recrutamento de pessoas. Dessa forma, a Igreja operava, através de biombos institucionais: obras vocacionais, escolas ou orfanatos e agentes de recrutamento.

Progressivamente essas congregações europeias foram recebendo número expressivo de vocações brasileiras, o que contribuiu para imprimir nesses institutos características nacionais. Além dessas congregações vindas do além-mar, deve-se assinalar também a fundação de institutos femininos em diversas regiões do país. A finalidade primordial dessas instituições religiosas era o fortalecimento da crença católica dentro da sociedade brasileira através do ensino do catecismo, das devoções, das práticas de piedades e da pregação de missões populares, merecendo destaque os redentoristas e lazaristas.

A contribuição mais importante desta época em termos de formação da sociedade burguesa foi dada através da esfera educacional. Nesta fase, muitas congregações masculinas e femininas já atuavam com eficiência na Europa no setor educacional. Nessa atividade educativa distinguiram-se os jesuítas, beneditinos, salesianos e maristas, cuja formação educacional era voltada para os homens. Já as congregações femininas destacam-se as Irmãs de São José, as Dorotéias, as Filhas de Maria, as Marianas, as Irmãs de Sion, para citar alguns exemplos.

A preocupação com a instrução educacional passou a ser uma bandeira de luta pela Igreja, partindo da necessidade de educar filhos e filhas dentro dos padrões estabelecidos pela Igreja, isto é, tomando como referência para este ensino os

ensinamentos bíblicos que deveria ser ensinado dentro das escolas. Em matéria pública no Jornal a Imprensa de 12 de maio de 1901, intitulada A Educação da Mocidade, era defendida que;

Sem instrucção religiosa não pode haver bom systema de educação. Não basta ensinar a religião aos que devém prega-la; cumpre ensina-la aos que devem pratica-la, isto é, a todo o mundo. Crear escolas sem religião, é organizar a barbárie, Não ha quem não reconheça que a instrucção máxime primaria, deva de ser essencialmente religiosa. É ,mister que a educação popular seje dada e recebida no seio d‘uma atmosfera religiosa; que as impressões e hábitos religiosos se insinem por todas as partes. Não ha educação possível sem ideias religiosas...72

Diante deste número de congregações religiosas e da preocupação do clero com o ensino educacional que se fizeram presente em solo brasileiro entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX, podemos destacar o papel que as famílias tiveram ao enviar seus filhos e filhas para serem educados em regime de internato nesses colégios administrados por padres e freiras. Nestes colégios, estes jovens eram preparados tanto para desempenhar atividades politicas e econômicas, cuja formação era mais voltada para a cultura literária clássica no caso dos homens, enquanto as meninas eram instruídas em prendas domésticas mais voltadas para o convívio familiar e de conduta moral e religiosa.

No entanto, nessa fase de transição da cultura rústica, vivida nas fazendas e nos engenhos, para a cultura letrada e urbana, tanto os meninos como as meninas eram educados para assimilarem as normas de civilidade e de boas maneiras exigidas pela sociedade elitista e dominante da época, aprendiam a pautar sua conduta pelas diversas normas colegiais, imbuindo-se da concepção regrada que estruturava a vida urbana. Ao mesmo tempo, os jovens de ambos os sexos eram formados dentro dos princípios religiosos e morais, visando à conservação de valores herdados da sociedade rural.

Em termos mais amplos, pode-se afirmar que as congregações religiosas masculinas e femininas contribuíram de forma expressiva para a expansão dos valores

72 IHGP – Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba. Jornal A Imprensa de 12 de maio de 1901. Matéria