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1 APRESENTAÇÃO

3.1 Vivenciando e Ampliando a Consciência: Repensando a Vida

(ptRJÍXIS

O ofício de v iv e r Se aprende ao f a z e r .

Toucfié

Se o âomem aceitasse sempre o mundo como ele é, e se, p o r outro lado, a ceitasse sem pre a s i mesmo em seu esta d o a tu a l, não sen tiria a necessidade de tra n sfo rm a r o mundo ou de transform ar-se. O Homem age conhecendo, do mesmo modo que — como verem os a d ia n te — se confiece agindo.

V a zq u e z

Segundo G rof e Bennett (1994), há muitos caminhos diferentes para nosso entendim ento da consciência. "Após esse entendimento", diz o autor, "nossa vida não é mais a mesma".

Para construir minha vida acadêmica, e mesmo minha vida pessoal, tenho andado por vários caminhos. Todos eles são trilhados, motivados, por necessida­ des, por insatisfações. Tem sido uma eterna busca. Através deles refaço conceitos e modos de agir.

Quando minha consciência foi “m exida” pela prim eira vez, senti necessi­ dade de uma nova forma de abordar a vida humana. Dessa semente, em ergiu mais tarde a necessidade de construção de um referencial teórico para a enfermagem.

Esse processo iniciou em finais da década de 70, quando desenvolvia ati­ vidades junto a crianças e famílias em hospital e comunidade, enquanto acadêmica do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande

do Sul.

Fui tocada quando me deparei com a realidade, com a condição hum ana de um “outro mundo"; ao interagir com crianças internadas no Hospital Santo Antônio de Porto Alegre; ao tom ar conhecimento de sua realidade social, afetiva, cultural, e da form a como isso era abordado pelos sistemas de saúde, incluindo seu pessoal.

N essa oportunidade, graças à sensibilidade da Professora que nos acom pa­ nhava, D ra Olga Eidt, aprendi, ou talvez seja melhor dizer, senti, com mais propriedade a dimensão "modo de olhar os eventos" e, em especial, senti a dim ensão ética, tão importante no processo saber-fazer enfermagem, quanto o são os conhecim entos científicos.

A Professora que acompanhava nosso grupo salientou a im portância de diversas dim ensões do cuidar, ressaltando a necessidade de avaliarm os nossos sentim entos em relação às pessoas e sua realidade. Algumas colegas sentiram-se angustiadas com o que vivenciaram; umas não demonstraram preocupação; outras se revoltaram e acabaram culpando a família, em especial a mãe da criança.

E a Professora, por sua vez, preocupada com a postura dessas últim as co­ legas, nos colocou a realidade que não conhecíamos: a realidade "daquela mãe". E, mais, salientou que não basta refletir, se angustiar com a situação, é preciso agir. Afinal, a ansiedade sem rumo nos faz ficar doentes.

N aquela oportunidade, com olhar em princípios da Pediatria Social, fiz m inha prim eira síntese: "Enquanto profissionais da saúde e cidadãos, envolvidos em colaborar na transform ação de situações lim itantes em possibilidades de saúde da população, precisamos sentir angústia, ansiedade e indignação frente às situações lim itantes, de sofrimento, de injustiças. Esse seria o ponto de partida, o pré-requisito, para o desenvolvimento de possibilidades de mudança" (Patricio,

1993g, p.2). Era preciso preocupar-se com o bem viver dos outros.

Daí em diante, até 1980, tentei, em silêncio, aplicar meus princípios em referenciais já pré-estabelecidos, sedimentados, nas instituições onde trabalhei.

Entre 1980 a 1982, enquanto docente da UNISUL (U niversidade do Sul de Santa Catarina), comecei a refletir mais sobre o tema. Passei a sentir grande insatisfação e necessidade de modificar o referencial que utilizava. Precisava de um referencial que, além das questões biológico-afetivas, valorizasse tam bém a

dim ensão cultural dos indivíduos e suas questões socioeconóm icas. Esse foi um grande " Período de Luzes ".

N essa época meu olhar e minha consciência estavam voltados para o pro­ cesso de viver de crianças e fam ílias em diferentes contextos, e de trabalhadores da Estrada de Ferro Dona Tereza Cristina. Em especial, estava fascinada com a diversidade da vida sociocultural de nossos brasileiros do N orte do País, mais especificam ente de Itaituba, no Pará:

Incrível aquela vida de busca de ouro, de p ra zer desenfreado... Toda aquela a g i­ tação numa imensidão de beleza natural, silenciosamente regada p elo Tapajós... Eles vinham de tão longe... E aqueles adolescentes, tão jovens, e j á no mundo da p rostitu ição e do álcool...

Em estudo que fiz, através de observação participante, durante 8 dias na cidade de Pradópolis, São Paulo, em 1981, conheci outras dim ensões do viver das pessoas. Em meio a canaviais, usinas, serviços de saúde e de assistência social da cidade, conheci a necessidade de satisfação de necessidades de poder e lucro do ser humano através da exploração de semelhantes que abandonavam suas regiões em busca de m elhores condições de vida. Mas, conheci, também outros seres humanos, m édicos da USP, indignados com essa realidade local.

Sem dúvida, o referencial que utilizava não com binava com o processo de viver e ser saudável das pessoas, nem do Sul e nem do Norte.

M inha insatisfação estava justificada pela utilização de um referencial m ecanicista, fragm entário, centrado na doença e não na pessoa, descontextualizado do ser, e neutro, perante às diferenças sociais. Apesar de estar me fundamentando num marco de enfermagem que se propunha a ver o homem como um todo, esse referencial não estava sendo suficiente, não estava dando conta da abordagem das necessidades do ser humano, ao menos enquanto compreensão naquela época. Mesmo enquanto enfermagem, não era forte o suficiente para superar o modelo médico vigente, legitim ado, que dominava a prática dos profissionais da saúde.

Comecei, então, a elaborar a partir de atividades teórico-práticas, alguns princípios e técnicas de abordagem individual e coletiva, fundam entados na com preensão do viver sociocultural e afetivo da relação ser humano-ambiente, incluindo aspectos de cidadania, em particular da criança-adolescente-fam ília nos seus próprios contextos (domicílio, escola, creches, comunidade).

Hoje, tenho consciência de que foi nesse período que me introduzi num mundo de construção teórico-prática, que futuramente vim a adotar como opção m etodológica: o mundo da pesquisa participante, ou pesquisa-ação.

O período de 1983 até meados de 1985, enquanto iniciante na academ ia da Universidade Federal de Santa Catarina, eu caracterizo como um "Período de

Som bras”, em razão de não ter tido a liberdade de aplicar e, muito menos, de

transcender o que já havia conquistado.

Em finais de 1985, a luz começou novamente a brilhar. Reiniciei a cons­ trução do referencial, graças a diversas possibilidades que se abriram. N essa oportunidade o cotidiano do Departamento de Enfermagem foi invadido por uma Professora que acabava de retornar de seu doutorado nos Estados Unidos. Trazia na bagagem m uita vontade de fazer pesquisa na área da fam ília, muitas idéias e vibração que acabaram por m obilizar grande parte dos docentes. Foi então que neste ano me introduzi sistem aticam ente no mundo da pesquisa, através de leituras e discussões de teorias e participação em pesquisa no Grupo de Assistência, Pesquisa e Educação na Área da Fam ília que estava sendo criado no Departamento de Enfermagem (Elsen et al., 1987). Outro motivo foram as oportunidades que se abriram nesse mesmo ano, de atuar em projetos na área de saúde coletiva, como orientação de trabalho de conclusão de curso na área de criança-fam ília.

Em 1986, com apoio de colegas, consegui, de fato, me libertar novamente e recom eçar m inha caminhada na construção de um referencial diferente. Por acreditarm os na necessidade de sair dos muros da universidade, e por solicitação de com unidade escolar e fam ílias para que mantivéssemos trabalhos após o término de estágios curriculares, começamos projetos sistem atizados de saúde coletiva centrados na unidade Criança-Adolescente-Fam ília-Escola (Patrício; Athayde,

1986; Patrício; Casa; Loeffler, 1987).

Concom itantem ente àqueles estímulos acadêmicos, um outro grande motivo concretizou esse período de 1985-1986 como um grande "Período de luzes". Nesse período comecei a trilhar outros caminhos, longe da academia. Estava precisando tratar meus problemas pessoais. Foi a libertação!

Nesses novos caminhos, minha consciência expandiu-se de forma intensa. Foi quando entrei em contato com outros conhecimentos e crenças (além daqueles

da cultura brasileira), em especial da cultura oriental. Aprendi teoria e prática de terapias de outras tradições e também princípios da parapsicologia. As várias vivências, chame-se até de "experiências", que tive a partir daí comigo m esma e com clientes, amigos e amigas, me fizeram perceber o potencial que cada um tem dentro de si, e a diversidade de instrum entos que podemos utilizar para conhecer, com preender e transform ar a realidade. Comecei a RE-ORIENTAR m inha vida.

"Não havia dúvida, em minha mente, de que tudo aquilo aproximava-se muito de experiência da ‘consciência cósm ica’, sobre o que eu havia lido nos grandes livros m ísticos do mundo" (G rof e Bennett, 1994, p .30). Faço meu o de­ poimento desses autores ao relatar suas experiências (p esq u isas/- "Francamente, houve momentos em que senti profundo medo e desconforto ao confrontar fatos para os quais não tinha explicação racional e que estavam m inando meu sistem a de crença e visão de mundo".

A partir desse período ciência e enfermagem para mim passaram a significar: conhecim entos precisos, saberes tradicionais, m ística, arte, intui­ ção, filosofia, sentim ento e razão.

3.2 Re-Ligando Crenças e Conhecimentos: Construindo um Referencial para a Saúde

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