• Nenhum resultado encontrado

3 VIVENCIAR APRENDENDO: A AUTOFORMAÇÃO DO EDUCADOR WALDORF

3.1 METAMORFOSE DAS BORBOLETAS: A ESCOLHA

Fazer escolhas é sempre uma tarefa difícil, nesta vivência precisávamos escolher uma borboleta a partir da foto das larvas. Ao meu olhar uma mais esquisita que a outra, exóticas, mas tínhamos que escolher uma delas, só no final do curso a professora iria mostrar o ciclo de transformação, como elas eram antes e depois de transformadas em borboletas. Este trabalho trouxe a reflexão de que realmente podemos nos transformar, não importa como você é, sempre é possível ser e fazer melhor e, como seres humanos, fazer escolhas. Por incrível que pareça, as larvas mais horrorosas se transformaram em borboletas lindíssimas. Foi aí que a autotransformação começou a mostrar sua face, fazer sentido. Partindo do ciclo da borboleta, todos os ovos, após estarem depositados na planta hospedeira, eram iguais, no entanto, ao se tornar larvas, tinham outro aspecto. Algumas larvas eram muito esquisitas nessa fase, nada apreciativo, mas, no tempo e no ritmo certo, afloraram, tomaram forma.

Todos nós, seres humanos, passamos por transformações, assim como as lagartas que devoram tudo que veem pela frente, nós também devoramos tudo que vemos pela frente, nutrimo-nos de diversas fontes. A vida da borboleta é dividida em 4 estágios (ovo, larva, pupa e adulto), fazendo uma comparação com os setênios e com nossas fases de criança, de adolescente, de jovem e de adulto, percebemos que elas são seres que, como nós, sofrem mudanças radicais em seu corpo, ao longo da vida, até se tornarem borboletas.

Ao depositar seus ovos na folha hospedeira e se certificar de que esta servirá de alimento e abrigo seguro e terá condições necessárias para se desenvolver, inicia o ciclo. A escolha dessa folha nos faz lembrar nosso lar, nossos pais, que nos recebem e amparam, enquanto estamos nos desenvolvendo, nos ensinando como fazer as coisas da melhor maneira possível, acompanhando nossos primeiros passos até chegarmos a caminhar sozinhos. Enquanto a borboleta cresce, mudanças acontecem, assim como acontece conosco, nossa planta hospedeira são nossos pais e estes estarão sempre ali para nos proteger e amparar, mas sem nos impedir de voar... de caminhar com nossas próprias pernas.

Assim como as lagartas que se prendem a um fio de seda que tem em seu corpo para iniciar a formação de Crisália, nós, seres humanos, nos ancoramos no

66

conhecimento e na educação recebida de nossos pais e dos nossos mestres para iniciar uma vida promissora. Para ter êxito nesse estágio, a Crisália fica imóvel por até 3 semanas e sobrevive a partir da alimentação que ela acumulou na fase lagarta, o que faz lembrar a nossa educação nas séries iniciais, é a partir dessa base que vamos nos desenvolver. Só então, como a borboleta, poderá se reproduzir e voar, conquistar a tão sonhada liberdade. Mas o que mais me impressionou foi que as larvas mais esquisitas e que não foram escolhidas por seu aspecto um tanto estranho foram as que se tornaram lindas borboletas, coloridas, radiantes e iluminadas.

Ao realizar uma pesquisa sobre a metamorfose da borboleta13, encontramos as seguintes informações: ―as borboletas são animais que, juntamente às mariposas, formam a Ordem Lepidoptera. São seres que sofrem metamorfose, ou seja, sofrem mudanças em seu corpo até se tornarem adultos, como representado na Figura 1, a seguir. Como os indivíduos jovens e adultos são completamente diferentes, dizemos que a metamorfose das borboletas é completa‖.

Figura 1 – Metamorfose da Borboleta

Fonte: Ilustração criada por Byrata Lopes (2017).

13

67

Fazendo uma analogia com os seres humanos, nascemos, crescemos e desenvolvemos em uma constante metamorfose, embora diferentes, mas iguais, dependemos de diversos nutrientes para que aconteça o desenvolvimento.

A vida de uma borboleta pode ser dividida em quatro estágios: ovo, larva, pupa (ou crisálida) e adulto. A borboleta fêmea adulta coloca seus ovos normalmente nas folhas de uma planta, que geralmente serão utilizadas como alimento quando esses insetos nascerem. As borboletas ficam atentas para a textura da folha para garantir que ela não irá se quebrar após a postura dos ovos. Os ovos demoram cerca de 5 a 15 dias para eclodir, dependendo da espécie, e liberar as larvas, conhecidas popularmente como lagartas. As lagartas apresentam um corpo alongado e cilíndrico, com cores variadas e, muitas vezes, pelinhos que causam alergias e queimaduras quando tocados. Durante essa fase da vida, esses animais alimentam-se intensamente das folhas de vegetais, causando sérios problemas em locais que apresentam plantações. É dessas folhas que a lagarta tira seus nutrientes e a água de que precisa para sobreviver. A borboleta fica na forma de lagarta de 1 a 8 meses, aproximadamente, dependendo da espécie. Durante o estágio de lagarta, ocorrem várias mudanças de pele enquanto o animal cresce, geralmente de cinco a oito mudanças. Depois de algum tempo, a lagarta prende-se pela porção posterior de seu corpo através de fios de seda e inicia-se a formação da crisálida — um estágio imóvel, em que o animal sobrevive graças às reservas nutritivas acumuladas na fase de lagarta. O estágio de crisálida pode durar de uma a três semanas, dependendo da espécie observada.14

Esse estágio imóvel da lagarta vem ao encontro da busca pelo autoconhecimento. A base que recebemos, tanto na educação familiar como acadêmica, são as folhas de onde tiramos nossos nutrientes, assim como as reservas acumuladas na fase lagarta, que nos fortificam e nos fazem sobreviver e buscar mais.

3.2 EDUCADORES WALDORF: MEMORIAIS DE FORMAÇÃO

3.2.1 A escolha dos colaboradores da pesquisa

A escolha e o planejamento para encontrar os colaboradores desta dissertação de mestrado na realidade aconteceram como que por encanto, as pessoas certas no lugar certo. O convite foi recebido como um presente, num clima de amor e de solidariedade por parte das pessoas que vivem a pedagogia Waldorf. Devo confessar que um a um foi surgindo, ao longo da caminhada no Curso de pedagogia Waldorf, sem que fosse necessário um esforço maior. Ouvi palavras

14

68

como: ―Terei o maior prazer em participar desta dissertação‖; ―Estou à inteira disposição e fico lisonjeado com o convite‖; ―É uma honra poder colaborar e divulgar a pedagogia Waldorf no meio acadêmico‖, entre outras.

Num mundo tão ocupado e individualista, onde nem sempre as pessoas estão dispostas a colaborar, e também pelo fato de ouvir de outros colegas o quanto foi difícil encontrar um colaborador que desejasse estar na pesquisa e dedicar um pouco do seu tempo para responder questionário e/ou gravar uma entrevista, tinha muito receio na busca pelos colaboradores da pesquisa. Certamente nessa caminhada nem tudo foram flores, tive uma colaboradora que, mesmo com muito boa vontade, no decorrer do processo, no segundo encontro, se sentiu desconfortável ao ponto de rasgar os documentos da entrevista com a justificativa de que estava sendo muito difícil lembrar e relembrar de alguns fatos de sua vida que ainda a fazem sofrer e que não desejava mais colaborar, não estava preparada para esse momento, quem sabe em outra oportunidade.

Nessa ocasião lembrei-me das palavras da minha orientadora, Profª. Adriana, sobre as narrativas, dizendo que poderiam surgir momentos de desconforto e como deveríamos proceder. Mesmo sendo alertada, nunca imaginei que fosse possível acontecer, mas é fato, aconteceu comigo e, por julgar de comum acordo com minha orientadora e por não ser ético, não utilizamos o termo de compromisso assinado. Outra pessoa que marcou esta pesquisa no meu ver era imprescindível por sua experiência com o tema, mas foi uma grande decepção e frustação a maneira como recebeu a proposta com certo desprezo pela academia.

Portanto, os que fazem parte desta dissertação, como colaboradores nas vivências na pedagogia Waldorf, são pessoas de energia boa, de brilho nos olhos, que amam o que fazem, que têm satisfação em ser educadores Waldorf e que buscam a autoeducação, a autotransformação e o autoconhecimento todos os dias.

3.2.2 O Voo das borboletas

Os colaboradores da pesquisa estão identificados, neste memorial, por borboletas coloridas, a exemplo da Figura 2, a seguir. Nas cores azul, verde, amarelo, roxo, laranja e Vermelho, onde também me incluo, utilizando meu nome próprio, por fazer parte das vivências em Curso de pedagogia Waldorf, mas não abrindo mão de ser uma borboleta.

69

Figura 2 – (Auto)transformação e (Auto)conhecimento

Fonte: Ilustração Byrata Lopes (2017).