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Capítulo 2 O PERCURSO METODOLÓGICO E A INSERÇÃO NO CAMPO:

2.2.5 Vivendo as festas de arrocha

Vivenciar algumas festas do ritmo aqui pesquisado objetivou responder as perguntas sobre qual o público do arrocha, bem como ter a experiência semelhante a das pessoas que produzem o arrocha e dos fãs do arrocha. Além disso, mapear o funcionamento e a estrutura dessas festas também se fez presente como objetivo desta etapa da pesquisa de campo, a fim de aprofundar a leitura das etapas anteriores.

Para trabalhar durante essas vivências, utilizou-se a observação participativa, onde me coloquei como público em algumas festas, e em outras, me tornei presente como parte de bandas que possuem nos seus repertórios, músicas do ritmo Arrocha. Para Gil (1999), a observação mencionada anteriormente se caracteriza por ser uma técnica que possibilita o conhecimento do objeto de pesquisa estudado a partir do interior dele mesmo, ou seja, através desse tipo de observação, o pesquisador passa a

29 Todo o conteúdo presente nas respostas do questionário, mantiveram-se como as respostas cedidas

pelos participantes, sem que houvesse alguma correção ortográfica, no intuito de manter a maior fidedignidade possível.

fazer parte do grupo que pertence ao objeto de pesquisa. Além da observação, nessa etapa da pesquisa também foi utilizada a captura de imagem das festas por fotografias.

Fui ao show Arrocha Vip que aconteceu em março de 2015, na praça de eventos do mercado municipal da cidade de Aracaju, tendo como atração principal, o cantor Pablo do Arrocha. Tal festa teve como um dos principais organizadores, o produtor Marcelo Bonfá, um dos entrevistados. A festa Arrocha Vip teve a sua estrutura montada no mercado municipal de Aracaju, na mesma praça de eventos onde ocorrem os maiores festejos juninos da capital e teve o público dividido entre pista, área vip e camarote. No camarote aconteciam shows de outras bandas nos intervalos das atrações da festa, dentre quais estavam as bandas: Ponney do Arrocha, Alma Gêmea, Rafael Gonçalves e Pablo do Arrocha. Dentro do camarote, os shows foram com a banda Forró dos Vip’s e banda X-10.

Fui ao show sozinha chegando aproximadamente às 21h30 da noite, eu ainda não havia comprado o ingresso da festa, os quais tinham os preços variados entre 30 reais e 70 reais se fossem comprados de forma antecipada. Ao chegar no local da festa, passei mais ou menos uma hora caminhando entre as barraquinhas de drinks, carrinhos de cachorro quente e espetinhos, observando o movimento daquele lugar. Com um gravador de voz dentro da bolsa procurando uma oportunidade para conversar com alguém que autorizasse ser gravado, o que infelizmente, não aconteceu.

Conheci um rapaz o qual expliquei a ele sobre a pesquisa que eu estava fazendo, e que estava ali como pesquisadora. Segundo as palavras dele, iremos chama-lo aqui de R.: “para saber o que é o arrocha, é preciso sentir, e não só olhar”, referindo-se à necessidade e o prazer de dançar o arrocha. R. jogava dinheiro pelo chão, mas o pegava de volta, pagava bebida para os amigos, esbanjava a sua tatuagem no pescoço com o símbolo do cifrão “$”, repetindo várias vezes a palavra “ostentação”. Além disso, se gabava por não brigar com ninguém em festas, pois, segundo ele, é melhor “matar logo”.

Confesso que essa interação interpessoal que eu tive com R. e as observações que fiz na festa Arrocha VIP, me surpreenderam, pois foram fatos que não condiziam com o conteúdo da entrevista que realizei com a produtora musical, T. A produtora

mencionada, trabalhava para um cantor de arrocha da cidade de Aracaju, e elogiou as festas do ritmo, por serem “festas tranquilas, sem brigas”. De fato, comparada às micaretas de músicas de axé e pagode, a quantidade de brigas que vi acontecerem nas festas de arrocha que frequentei são mínimas, porém, não menos perigosas.

Além do Arrocha VIP, fui à gravação do DVD de Raquel dos Teclados, uma das artistas mais famosas em Sergipe, por cantar músicas de arrocha e dançar de forma, digamos, diferenciada, mesclando movimentos pélvicos com balanços de pernas em seus shows. A gravação do DVD aconteceu no estacionamento de um shopping em Nossa Senhora do Socorro/SE. Nunca havia me sentido tão encurralada em uma situação, quanto eu me senti nesse show, ao ficar no camarote observando a festa, e de repente uma briga que começou entre duas pessoas que estavam no camarote se estendeu pra todo o show quando uma pessoa da área que fica fora do camarote jogou uma latinha de cerveja em direção ao camarote, iniciando assim uma “guerra” de latinhas entre um ambiente e outro, enquanto eu tentava me proteger entre uma latinha e outra.

Escolhi essas duas festas para observá-las, por terem sido as maiores festas de arrocha que aconteceram na cidade entre Março e Junho do ano corrente. Porém, além dessas festas tive a oportunidade de comparecer em outros shows com atrações musicais do ritmo arrocha, mas, como parte de uma das bandas que estavam entre as atrações da noite. Por eu estar em momento de trabalho, não pude ficar fotografando ou buscando pessoas para serem entrevistadas, utilizando apenas da técnica de observação para a obtenção de informações e coletas de dados. No ambiente dos músicos, é comum ouvir críticas em relação ao arrocha ou ao ambiente da festa de arrocha, como por exemplo, “eu que não deixo minha mulher em um ambiente desse”, embora muitos dos músicos afirmam que tocariam, por exemplo, com Raquel dos Teclados, devido a sua agenda repleta de shows, o que significa maior número de cachês e consequentemente, um maior salário ou renda. Além disso, há os artistas que não se denominam artistas do arrocha, mas que incluem músicas do ritmo no seu repertório.

Foi através dessa técnica que pude observar grupos de músicos conversando e se referindo ao arrocha como algo que faz sucesso no momento, sendo almejado por parte dos músicos com o intuito de captar recursos financeiros. Porém, ao se referirem ao

ambiente das festas, alguns músicos se referem ao público em tom de chacota, ao comentarem sobre a estética da maioria das pessoas que comparecem aos shows desse ritmo.

Sendo assim, com as festas tornou-se possível obter como resultados, a diversidade do público apesar dos locais dos shows visitados serem considerados, lugares perigosos, como por exemplo, o Mercado Municipal de Aracaju Sergipe, o estacionamento de um Shopping na cidade de Nossa Sra. do Socorro na grande Aracaju. A relação do público com a bebida, o sentimentalismo das músicas e as danças sensuais são os fatores que mais chamaram atenção, sendo explicitados nos discursos do público em forma de bordões que dizem: “Tô sofrendo”, “vamo beber que amar tá difícil”, etc.

Em suma, a grande quantidade de informações e conteúdos colhidos durante as fases da pesquisa de campo e a impossibilidade de abordar com profundidade todos os aspectos percebidos durante estas, iremos nos deter na análise dos resultados aos discursos relacionados ao histórico do arrocha, a possível relação entre o arrocha e a desvalorização e o preconceito, a relação entre o preconceito contra o arrocha, o preconceito contra o nordestino e a relação entre arrocha e sexualidade/sensualidade. Em todas as etapas foram utilizadas técnicas de coletas de dados, como por exemplo, entrevistas, aplicação de questionários e observação.

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