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2.2 A lagoa Jacuném: aspectos caracterizantes e sua interrelação no processo expansivo da Serra.

VOLUME MÉDIO (M 3 ) 2.550.000,

Fonte: LÉLLIS, 2006. Adaptado pela autora.

A lagoa Jacuném conta com afluentes importantes, como os córregos Jacuném, Barro Branco e Veener, que juntos são responsáveis pela maior contribuição hídrica da Lagoa (conforme FIGURA 20).

FIGURA 20: Representação ilustra a rede de drenagem da Lagoa Jacuném com os três principais afluentes: córrego Barro Branco, córrego Jacuném e córrego Veener.

Fonte: LÉLLIS, 2006. Adaptado pela autora.

Até a década de 1980, a referida Lagoa representou importante manancial cujas condições ambientais de seu corpo hídrico eram favoráveis e propícias para o abastecimento público de toda a região de Carapina. Mas tanto a exploração excessiva e indiscriminada de seus recursos quanto a constatação da impropriedade de suas águas para tal uso acabaram por impedir o sistema de captação, tratamento e distribuição desse manancial. Tal fato decorreu da progressiva perda da qualidade hídrica e, concomitantemente, do avanço da

ocupação do solo de seu entorno, destituindo a cobertura vegetal que predominava até aquela época (LEAL, 2006). O aumento da exposição do solo acarretou no aumento de sedimentos direcionados à Lagoa, contribuindo para o avanço do processo de assoreamento da mesma. Aliado a este fator, o avanço imobiliário e industrial em seu entorno traduziram-se em fatores fundamentais à sua degradação bem como à perda progressiva do contato visual dessa expressiva unidade paisagística. Constatações facilmente identificadas durante nossa visita de reconhecimento do espaço.

De acordo com Léllis (2006), a bacia do rio Jacaraípe possui lagoas de estabilização e represamento de seus córregos que funcionam como tensores tróficos. Esse fator contribui para a significativa diminuição da qualidade hídrica da lagoa Jacuném. Outro fator que contribui para tal diminuição é a elevação dos níveis de matéria orgânica provenientes dos esgotos sanitários (tanto dos provenientes das estações de tratamento quanto os que são vertidos in

natura). Por outro lado, a supressão da área ciliar representa mais um fator

desfavorável devido à diminuição de infiltração e percolação da água de chuva para recarga do lençol freático. Atualmente, os efeitos desse conjunto de ações antrópicas tornam-se grandes responsáveis pelo processo de eutrofização13 pelo qual a Lagoa Jacuném vem passando (ver FIGURA 21).

FIGURA 21: Tensores da lagoa Jacuném.

Fonte: LÉLLIS, 2006.

Nota: Tensores identificados: Represamento em córrego B. Branco; Lagoa de estabilização na sub-bacia do córrego B. Branco; Represamento e lagoas de estabilização no córrego Jacuném; Represamento do córrego Veneer; Lagoa de estabilização no córrego B. Branco.

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Eutrofização é o processo pelo qual o ambiente aquático é gradualmente enriquecido com nutrientes, resultando no aumento da produtividade primária e acumulação de material detritívoro orgânico no sistema (Smith, 2003, apud FCAA, p.76,). A eutrofização cultural é proveniente do aporte de efluentes domésticos e/ou industriais com alta carga de matéria orgânica e nutrientes, principalmente compostos nitrogenados e fosfatados, resultando na degradação das condições ecológicas destes ecossistemas, a ponto de tornar inviável qualquer forma de utilização (Smith & Schindler, 2009, apud FCAA, 2011 ,p.77).

As análises realizadas em projeto da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos - SEAMA, em convênio com a empresa alemã Deutsche

Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (GTZ apud BARBOSA, 2011),

tiveram a lagoa Jacuném como um dos objetos de estudos, que incluíram análises fisico-químicas e biológicas que confimaram sua progressiva degradação, uma vez que a interpretação dos resultados das análises laboratoriais dos diversificados parâmetros estipulados pelas normativas atestam a qualidade sanitária do corpo hídrico. Dentre os mais usuais destacamos alguns cujos aspectos caracterizantes são expostos a seguir (FIGURA 22):

FIGURA 22: Quadro expõe alguns Parâmetros de Qualidade da Água. Parâmetro Analisado Aspectos Caracterizantes

Oxigênio Dissolvido (OD)

O oxigênio dissolvido na água é resultante da dissolução do oxigênio atmosférico e aeração por contato entre água e ar, portanto, como se pode imaginar, ambientes aquáticos em terrenos acidentados tem maior concentração de OD. As bactérias aeróbias fazem uso do oxigênio nos seus processos respiratórios, podendo causar redução do gás no ambiente. A solubilidade do OD varia com a altitude e temperatura. Ao nível d o mar com 20ºC a concentração de saturação é 9,2 mg/l, valores superiores são indicativos da presença de algas (fotossíntese); inferiores são indicativos de matéria orgânica (provavelmente esgotos). Com OD inferior a 2 mg/l ocorre a morte dos peixes.

Matéria Orgânica (DBO)

A matéria orgânica proveniente de esgotos é a principal causadora da poluição das águas e os microorganismos presentes nos efluentes são os grandes responsáveis pelo consumo de oxigênio dos ecossistemas. Devido à grande diversidade da matéria orgânica são utilizados métodos indiretos para sua quantificação ou do seu potencial poluidor. A forma fundamental de análise é a medição do consumo de oxigênio por meio da Demanda Biológica de Oxigênio – DBO. A DBO pode se elevar de forma natural pela presença de matéria orgânica animal e vegetal, mas alcança picos por despejos de efluentes domésticos e industriais. A DBO de esgotos domésticos fica em torno de 300mg/l.

Nitrogênio

O nitrogênio pode ser encontrado em alguns estados de oxidação na biosfera: nitrogênio molecular (N2), nitrogênio orgânico (dissolvido

ou em suspensão), amônia, nitrito e nitrato. Sua presença na água é indicativo da presença de despejos domésticos ou industriais, excrementos de animais e fertilizantes. A presença do nitrogênio pode conduzir a um crescimento exagerado de algas (eutrofização). O nitrogênio na forma de amônia livre é tóxico, podendo matar peixes.

Fósforo

O fósforo na água se apresenta na forma de ortofosfato, polifosfato e fósforo orgânico. É um elemento que pode ser encontrado dissolvido ou na forma de sólidos em suspensão. Indica presença de despejos domésticos e industriais, detergentes, excrementos de animais e fertilizantes. O Fósforo não apresenta problemas sanitários, mas pode conduzir a crescimento exagerado de algas (eutrofização).

Biológicos (coliformes)

A analise da qualidade biológica da água está associada a sua possibilidade de transmitir doenças. A determinação desse risco é indicada de forma indireta pela presença de organismos indicadores de contaminação fecal, sobremaneira ao grupo coliformes. Os coliformes não são patogênicos, mas dão uma indicação satisfatória do quanto a água apresenta contaminação por fezes humanas ou de animais de sangue quente. Os organismos presentes nas fezes têm um grande potencial de causar doenças.

Turbidez

Assim como a coloração, a turbidez também indica o estado em que o esgoto se encontra. Este parâmetro está relacionado com a concentração dos sólidos em suspensão. Esgotos mais frescos ou mais concentrados possuem geralmente maior turbidez

Fonte: VON SPERLING, 1996.

Deste modo, os parâmetros avaliados pela empresa confirmam os efeitos drásticos provocados pela deficiência do tratamento de efluentes e de dejetos domésticos (FIGURAS 23, 24 e 25).

FIGURA 23:Quadro de Parâmetros Químicos analisados pela GTZ na Lagoa Jacuném.

Fonte: GTZ, 2000 in BARBOSA, 2011.

FIGURA 24: Quadro com parâmetros do estado trófico na Lagoa Jacuném em 2006

Fonte: LÉLLIS, 2006.

FIGURA 25: Esquema de disposição das ETES em alguns dos contribuintes da Lagoa Jacuném.

Fonte:BARBOSA, 2011. Adaptado pela autora.

Segundo Léllis (2006), os efluentes lançados nos córregos contribuintes da lagoa Jacuném, apesar de contarem com estações de tratamento que promovem uma relevante redução da Demanda Bioquímica de Oxigênio – DBO (quantidade de oxigênio molecular necessária à estabilização da matéria orgânica), ainda não garantem uma eficácia necessária. E essa ineficácia na remoção de nutrientes e elementos patogênicos agrava ainda mais o processo de eutrofização, impondo restrições quanto ao uso da água (conforme FIGURAS 26, 27, 28, 29 e 30).

FIGURA 26: Variação da Demanda Bioquímica de Oxigênio- DBO.

Fonte: FCAA, 2011.

Nota: Gráfico demosntra o aumento gradual da DBO na Lagoa Jacuném a partir de amostragens colhidas entre 2000 e 2009 pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos-IEMA.

FIGURA 27: Quadro aponta índices extraídos das estações de tratamento lançados nos afluentes da Lagoa Jacuném.

FIGURA 28: Quadro demonstra índices Lagoa após o tratamento.

Fonte: CESAN in BARBOSA, 2011.

FIGURA 29: Quadro sobre parâmetros de qualidade de efluentes das ETES no ano de 2007 pelo Projeto Águas Limpas.

Fonte: CESAN apud BARBOSA, 2011.

FIGURA 30: Gráfico demonstra declínio da qualidade da água da Lagoa Jacuném.

Fonte: FCAA, 2011.

Nota: que, apesar de apresentar classificação do IEMA apresentar-se em classe 2 que permite usos como recreação de contato primário, aquicultura e pesca, no período analisado apresentou maior percentual de amostragem com restrições a estes tipos de aplicações/destinações.

CAPÍTULO

III

-

NORMATIVAS

E

PLANEJAMENTO: