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Se o sono é o ponto mais elevado da distensão física, é o ócio o grau mais elevado do relaxamento psíquico. O ócio é o pássaro onírico a chocar o ovo da experiência. Basta um sussurro na floresta de folhagens para espantá- lo. Seus ninhos — as atividades, ligadas intimamente ao ócio — já foram abandonados nas cidades, e no campo estão decadentes. Assim, a capacidade de ouvir atentamente se vai perdendo e perde-se também a comunidade dos que escutam. Pois narrar estórias é sempre a arte de transmiti-la depois, e esta acaba se as estórias não são guardadas. Perde-se porque ninguém mais fia ou tece enquanto escuta as narrativas. Walter Benjamin.

Lentamente retornamos às nossas leituras e reflexões diante deste texto, que se intitula Vozes Documentadas: a polifonia dos discursos históricos. Sentimos que não sabemos como começá-lo (e talvez nem terminá-lo). Para tanto, levamos em consideração a nossa trajetória como professora de Matemática, na rede estadual de Ensino paulista, e apontamos para o nosso propósito que consiste em interpretar a constituição de um órgão estatal denominado CENP (Coordenadoria

1 O termo polifonia é utilizado, no sentido bakhtiniano, para distinguir um determinado tipo de

texto em que se avistam diversas vozes, em oposição aos textos monofônicos, que ocultam os diálogos que os compõem. Embora o diálogo seja condição da linguagem e do discurso, há que se considerar a existência de textos polifônicos e monofônicos. No primeiro caso, as vozes se expõem; no segundo, o dos monofônicos, elas se configuram sob a forma de uma única voz, ou seja, mascara-se o diálogo. Tanto um como outro decorrem de procedimentos discursivos, que se utilizam em textos, por definição, dialógicos. Assim, Bakhtin concebe o dialogismo como princípio

de Ensino e Normas Pedagógicas) — órgão pertencente ao organograma da Secretaria da Educação — buscando entender a estrutura das organizações burocráticas e, mais especificamente, investigar a formação da equipe técnica de Matemática dentro da CENP, bem como os textos por ela produzidos, de forma a iluminar determinados aspectos que transformaram as orientações do ensino de Matemática no período considerado, ou seja, de 1976—1983. Para que essa história produzida assinale uma aproximação entre vida pensada e trabalho produzido, em meio às relações sociais, destacamos atos de governos que, em um determinado momento histórico, e muito bem datado em nosso país, comandaram a Coordenadoria de Ensino e Normas Pedagógicas (CENP).

Talvez uma visão cultural, diria Burke, talvez uma ideologia, diria Thompson, talvez uma forma de continuar resistindo ao poder, diria Foucault, talvez uma interpretação densa, diria Geertz, talvez uma experiência, diria Benjamin. Não sabemos, sabemos que buscamos.

Procurando navegar nas experiências que nos foram transmitidas oral e oficialmente, estabelecendo uma relação fundamentada num interesse comum, entre narrador e ouvinte e, superando antigas barreiras, conversamos, reflexivamente, desarmados, como diria Guimarães Rosa, sobre essa instituição, com coordenadores e professores que trabalharam nesse órgão. Procuramos focar nosso olhar naquele espaço — à época, cumpridor de ordens de uma ditadura no âmbito educacional paulista— sem que antigas ideologias e rancores, de ambos os lados, se manifestassem. A História era o alvo.

A experiência “propicia ao narrador a matéria narrada, quer esta experiência seja própria ou relatada. E, por sua vez, transforma-se na experiência daqueles que ouvem a estória” (Benjamin, 1975 p. 66). Contar e ouvir histórias consistiu numa forma natural de organizar nossa experiência e colocar em jogo movimentos que necessitavam de realizações que os sustentassem, organizadamente, para que pudéssemos descobrir como as coisas funcionavam, em que consistiam e de que forma eram compartilhadas.

Assim, o que permeou as falas das pessoas-narradoras e das pessoas- interrogadoras constitui-se na leitura que cada qual fez do lugar praticado e, assim sendo, propiciou momentos de reflexão: “na maior parte das vezes, lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e idéias de hoje, as experiências do passado” (Bosi, 1994, p. 55).

Chamamos a todas as pessoas, aqui envolvidas, de nossos colaboradores/ narradores e não “sujeitos de pesquisa”, uma vez que todas elas concordaram em ser nominalmente citadas.

Foi intencional a escolha das pessoas com as quais nos propusemos trabalhar. Priorizando o recorte temporal dessa pesquisa, 1976–1983, focamos alguns professores que constituíram a equipe de Matemática, como também os Coordenadores da CENP. Estes últimos, em ordem cronológica, foram: a Profª Therezinha Fram, Profª Drª Maria de Lourdes Mariotto Haidar, Profª Drª Clarilza Prado e o Prof. Dr. João Cardoso Palma Filho.

Entre esses, somente a Profª Therezinha Fram não concedeu entrevista. Chegou a ponto de agendá-la, mas depois a cancelou alegando imprevistos, prometendo dar um retorno. Em nosso primeiro contato telefônico, quando a convidamos para participar de nossa pesquisa, mostrou-se interessadíssima, todavia nunca mais entrou em contato conosco, apesar de nossos insistentes apelos. Durante o período de um ano, deixamos recado em sua secretária eletrônica, chegando até mesmo a solicitar ajuda de algumas pessoas que lhe eram próximas, com o intuito de convencê-la a nos (re)contatar. Entendemos que a “ausência de resposta” já era “uma resposta”. Dessa forma, justificamos a ausência de voz da primeira Coordenadora da CENP, atentando para as pessoas que a sucederam no exercício da função.

Todos os passos desta pesquisa foram permeados pelo total esclarecimento e consentimento dos entrevistados. Nossa aproximação dessas pessoas com as quais trabalhamos foi mediada inicialmente pelo professor Almerindo Marques Bastos, que conhecia tanto a nós como nossos futuros colaboradores. Assim,

obtivemos os números dos telefones das professoras Drª Maria de Lourdes Mariotto Haidar, Lydia Condé Lamparelli, Drª Célia Maria Carolino Pires e do Prof. Dr. João Cardoso Palma Filho. Esse, por sua vez, forneceu-nos o telefone da Profª Therezinha Fram e da Profª Dra. Clarilza Prado.

Quando a professora Marília nos telefonou pedindo o telefone do professor Almerindo porque queria cumprimentá-lo pelo seu aniversário, aproveitamos a oportunidade para convidá-la a participar desta pesquisa, esclarecendo alguns pontos do projeto. Também solicitamos dela o número do telefone da professora Suzana, uma vez que as duas mantêm um relacionamento profissional e de amizade. Ela nos informou que a professora Suzana se encontrava muito ocupada, ministrando cursos pelo Brasil afora, fator esse que justifica, em relação às demais, a defasagem de tempo na realização da entrevista com esta professora. Valeu a pena esperá-la. Trouxe colaborações, igualmente, às dos que a antecederam, valiosas. Nessa troca de informações de números telefônicos chegamos a todos.

Esse início de relacionamento tão promissor só poderia ficar comprometido se não tivéssemos dado atenção a procedimentos, como: saber esperar, ter paciência, não criar situações constrangedoras, manter pontualmente os compromissos. Obviamente, esses procedimentos não requereram regras fixas. Trabalhamos em conformidade às circunstâncias que se estabeleceram e à nossa percepção.

Demos início à realização das entrevistas de acordo com a disponibilidade de tempo das pessoas envolvidas. Assim, começamos com o Prof. Dr. João Cardoso Palma Filho no dia 07/08/2002, às 13h45min, no Instituto de Artes/UNESP/SP, sala 12, Pós-Graduação. A seguir, a Profª Drª Clarilza Prado agendou a entrevista para 19/08/2002, na Fundação Carlos Chagas, às 15h00. A Profª Drª Maria de Lourdes Mariotto Haidar nos recebeu em sua residência, em 12/09/2002, às 15h00. A Profª Drª Célia Maria Carolino Pires concedeu-nos entrevista em sua residência, em 04/10/2002, às 14h00. A Profª Marília Barros de Almeida Toledo e a Profª Lydia Condé Lamparelli nos receberam em suas residências, no dia 01/10/2002, às

08h00 e 15h00 respectivamente. A Profª Suzana Laino Cândido também nos recebeu em sua residência, em 19/07/2003, às 15h00. Todas essas entrevistas foram gravadas e filmadas, exceto a da Profª Drª Maria de Lourdes Mariotto Haidar, que não permitiu filmagem; mas ela, assim como a professora Lydia Condé Lamparelli, solicitou com antecedência o roteiro de perguntas.

Participou dessa jornada o Prof. Dr. Antonio Carlos Carrera de Souza,2

cuidando o tempo todo da gravação e da filmagem na entrevista do Prof. Dr. Palma. A partir dessa entrevista, sentimos necessidade de mais uma pessoa para nos auxiliar. Dessa forma, convidamos Sueli Zutim — técnica de laboratório “Imagem e Som” do Departamento de Educação da UNESP/RC — que passou a fazer parte da nossa equipe a partir da entrevista com a Profª Drª Clarilza Prado. A filmadora utilizada na pesquisa foi gentilmente emprestada pelo Departamento de Educação da UNESP/RC, uma vez que não dispúnhamos desse recurso áudio- visual. Embora estivéssemos munidos dessa tecnologia, para nós, esteve sempre presente o maior dos desafios: o discurso humano. É preciso lembrar que “(...) o discurso humano, que é universal, não é restritivo nem tecnológico. (...) nem toda comunicação é tecnológica” (Portelli, 2000, p. 69).

O professor Almerindo também aceitou o convite de participar da pesquisa. Nossa relação de amizade data do nosso primeiro contato por ocasião da pesquisa de mestrado. Como já havia concedido oito horas de entrevista na pesquisa anterior, a princípio, pensamos em reportar-nos a esse trabalho; todavia, optamos por entrevistá-lo novamente, direcionando um novo olhar. Nossos contatos foram telefônicos, por e-mail e correio. Facilitou muito o fato de já termos trabalhado juntos.

Esse trabalho de construção dos documentos teve uma gestação prolongada, pois cada passo dado era precedido de muita reflexão, antes mesmo dos contatos

2 O Prof. Dr. Antonio Carlos Carrera de Souza (cotidianamente, no meio acadêmico, e fora dele,

chamado de professor Carrera) iniciou sua profissão como professor de Matemática, em meados de 1968, em escolas da rede pública estadual. No período de 1979 a 1982, afastado de suas funções docentes, foi designado para trabalhar na então Divisão Regional de Ensino do Litoral, como coordenador de projetos. Nesse período manteve estreito contato com a CENP.

telefônicos. Houve a necessidade de se fazer um “estudo exploratório” para que pudéssemos construir um provisório roteiro de perguntas, consultando bibliografias, trabalhos de mestrado e doutorado, produções publicadas pela CENP e, por que não acrescentar, utilizando a experiência adquirida nas passagens por cursos promovidos pela CENP, uma vez que trabalhamos em escolas da rede pública estadual como docente de Matemática.

Nossa permanência nesses cursos oferecidos pela CENP, por intermédio de convocações, via Delegacia de Ensino de Santos ou Divisão Regional de Ensino do Litoral, não nos permitiu conhecer os nossos colaboradores em questão. Conhecíamos pessoalmente a professora Lydia Condé Lamparelli quando, a convite da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Santos, em 1979, acompanhou e traduziu o Seminário dado pelos professores Jacques Colomb e Marie Nöelle Audigier. Nesse dia, fomos platéia e a professora Lydia não podia nos conhecer. Embora a Profª Drª Célia Maria Carolino Pires fosse nossa contemporânea de Faculdade, não nos víamos há muito tempo: correrias da vida cotidiana? Construção de espaços diferentes, porém afins? Não sabemos responder. Só sabemos dizer que foi muito bom esse (re) encontro.

Aprendemos muito. Esse encontro com o outro não é passivo: as pessoas se envolvem, se influenciam, negociam. O ver, o ouvir e o falar — sentidos mais vividos e exercitados —, durante o processo, possibilitaram uma maior interação, fazendo com que constatássemos que, a cada entrevista realizada, os discursos proferidos permitiam que tanto nós como nossos colaboradores passássemos a refletir sobre nossas próprias vidas a partir dos diálogos que se estabeleciam.

Não somos mais os mesmos após a realização da entrevista porque a memória tece lembranças cujos movimentos vibram de forma descompassada, independentemente de grandes ou pequenos acontecimentos; o ânimo que instiga esse lembrar é gerado na espessura de sua experiência e esta, ao não fixar saberes, remete-nos para inúmeras formas de proceder; oferece-nos traços singulares e impõe-se como realidade por intermédio de interpretações que pode sustentar.

Existem nas lembranças de uns e de outros [como que] zonas de sombra, silêncios, ‘não ditos’. As fronteiras desses silêncios e ‘não ditos” com o esquecimento definitivo e o reprimido inconsciente não são evidentemente estanques e estão em perpétuo deslocamento (Pollak, 1989, p. 9).

Durante a entrevista, o Prof. Dr. Antonio Carlos Carrera de Souza3

auxiliava, não só se dedicando cuidadosamente ao controle e manipulação do gravador, como também, em alguns momentos, com a permissão do entrevistado e da nossa, aprofundando alguns pontos da entrevista com perguntas pertinentes, que faziam aflorar maiores esclarecimentos durante o processo dialógico estabelecido no ato da entrevista. Dessa forma, por sugestão de nossos entrevistados, em comum acordo conosco, consideramos que algumas de suas intervenções, ao acrescentar contribuições, deveriam ser mantidas no texto final. Assim, reconhecemos que os roteiros previamente constituídos, por vezes, não foram seguidos à risca.

À medida que realizávamos as entrevistas, providenciávamos a transferência da gravação realizada em MD (Mini Disc) para CD. Essa transferência foi realizada por um técnico especializado na área. Para realizar as transcrições das entrevistas gravadas em CD, improvisamos o nosso “transcritor” de CDs. Demos um download, via internet, no programa de regravação de CDs, chamado Winamp4, e através deste transcrevemos nossas entrevistas.

3 Do grupo de pesquisa “História Oral, ‘Concepções’ e Educação Matemática”, constituído no ano

de 2001, sob a coordenação do Prof. Dr. Antonio Vicente Marafioti Garnica, do Programa de Pós- Graduação em Educação Matemática da UNESP, campus de Rio Claro-SP, participam alunos de graduação, mestrado e doutorado. Nominalmente: Emerson Rolkouski, Heloisa da Silva Ivani Pereira Galetti, Ivete Maria Baraldi, Maria Ednéia Martins, Marisa Rezende Bernardes e Rosinete Gaertner. A partir de meados de 2002, o grupo passou a ser chamado “História Oral e Educação Matemática”. Houve a inclusão de outras pessoas, a saber, Antonio Carlos Carrera de Souza, Carlos Roberto Vianna, Sílvia Regina Vieira da Silva e eu, desenvolvendo este projeto de pesquisa sob a orientação do Prof. Dr. Antonio Miguel, do Departamento de Metodologia de Ensino da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, membro do Círculo de Estudo, Memória e Pesquisa em Educação Matemática (CEMPEM) e coordenador do Grupo de Pesquisa, História Filosofia e Educação Matemática do Programa de Pós-Graduação em Educação da FE/UNICAMP.

4 Winamp: é um programa utilizado em regravação e audição de CD. Por intermédio desse

programa, transcrevemos as gravações das entrevistas que haviam sido gravadas em Mini Disc (MD) e transferidas para CD.

Com as entrevistas em CD, realizamos as transcrições na íntegra, que, obviamente, continham os vícios da fala oral. O fato de ter a gravação em vídeo facilitou bastante a transcrição. Revivíamos o “instante da entrevista” como também corrigíamos os textos transcritos, assistindo aos vídeos repetidas vezes. Esse trabalho de transcrição e conferência das entrevistas é demorado e, por que não dizer, “penoso”. Enviamos uma cópia, acompanhada da gravação em CD, para que cada um de nossos colaboradores pudesse conferir a autenticidade da transcrição de sua entrevista. Um retorno desse material, além de “limpar” os excessos, permitiu um (re) fazer mais orgânico. Esse é o momento em que o narrador tem o direito de ouvir e voltar atrás, sem o qual parece usurpação da narrativa. Eles tiveram a oportunidade de apagar, modificar, acrescentar dados, reescrever, pois consideramos que a ética profissional repousa na ética pessoal e dela extrai sua força; obriga-nos a enxergar por uma convicção de que a cegueira —ou a ilusão—prejudica a virtude como prejudica as pessoas (Geertz, 2001, p. 46).

Verificamos que, ao agir dessa forma, houve um maior envolvimento de todos nós à medida que retornávamos e (re) trabalhávamos as entrevistas. Muitas vezes negociávamos via e-mail e telefone. Conversas informais que não diziam respeito à pesquisa foram retiradas por ambas as partes. Perguntas foram aglutinadas de forma a evidenciar a fala de nossos colaboradores. As entrevistas iam e vinham de forma que ajustes, recortes, acréscimos de informações eram negociadas e (re)escritas à medida que (re)trabalhavam suas memórias e retiravam informações de seus baús.

É o momento de desempenhar a alta função da lembrança. Não porque as sensações se enfraquecem, mas porque o interesse se desloca, as reflexões seguem outra linha e se dobram sobre a quintessência do vivido. Cresce a nitidez e o número das imagens de outrora, e esta faculdade de relembrar exige um espírito desperto, a capacidade de não confundir a vida atual com a que passou, de reconhecer as lembranças e opô-las às imagens de agora (Bosi, 1994, p. 81).

Após todas essas intervenções, enviamos o texto para ser submetido à correção por uma professora de Português, cumprindo mais um dos compromissos

assumidos com os nossos colaboradores, uma vez que o código escrito é diferente do oral. Terminada essa fase de correção, enviamos novamente o texto, cuja finalidade foi não só a de checar a veracidade de seus depoimentos como também nos conceder carta de cessão para que pudéssemos utilizar suas narrativas em nossa pesquisa. Em História Oral, essa é a chamada etapa de “conferência” e “legitimação”.

Assim, neste trabalho conjunto, procuramos registrar uma história cultural atentando para vozes e silêncios de pessoas que ocuparam diferentes posições na instituição, ou seja, para uma história polifônica da CENP. A um olhar posterior, nos propomos realizar uma análise interpretativa “densa”, a partir da visão antropológica sugerida por Clifford Geertz, dessas micro-histórias que apresentaremos a seguir.

Profa. Dra.Maria de Lourdes Mariotto Haidar

Talvez seja interessante eu dar uma idéia da minha formação. Não é isso que você deseja?

Sim! Gostaria que a senhora falasse a respeito.

Eu tirei cópia desse Curriculum Vitae resumido, resumidíssimo, que era o que estava um pouco mais atualizado. A única coisa que falta aqui é a informação de que eu agora pertenço à Academia Paulista de Educação, na cadeira de número 30, cujo patrono é Joaquim Silva.

Na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, fiz o curso de Pedagogia, que terminei em 1955, e o de Filosofia, concluído em 1962. Cursei o Mestrado em Educação, ainda na antiga Faculdade de Filosofia, cuja área de Pedagogia estava em vias de converter-se na atual Faculdade de Educação, e o concluí em 1969, com a defesa da dissertação: “O Ato Adicional de 1834 e a descentralização do ensino”. Em 1971, sob a orientação do Prof. Dr. Laerte Ramos de Carvalho, concluí o Doutorado na Faculdade de Educação (criada com a Reforma da USP de 1969), com a tese: “O Ensino Secundário no Império Brasileiro”.

E então coordenei o curso de Pós-Graduação. Em 1972, por Decreto do então Governador Laudo Natel, passei a integrar o Conselho de Educação de São Paulo.

O orientador de meu Doutorado e primeiro Diretor da Faculdade de Educação da USP, Prof. Dr. Laerte Ramos de Carvalho, era membro atuante do Conselho Estadual de Educação e sempre desejara que um dos docentes do Departamento de Filosofia da Educação e Ciências da Educação da FEUSP também viesse a integrar aquele Colegiado.

A idéia, contudo, não atraía os docentes mais titulados do Departamento. Era o caso, por exemplo, do eminente Professor Dr. Roque Spencer Maciel de Barros, profundo conhecedor da realidade educacional brasileira e extremamente

preocupado com os destinos da educação em nosso país (como o evidenciam inúmeras obras publicadas e centenas de artigos divulgados nos jornais O Estado de São Paulo e Jornal da Tarde), que não desejava manter vínculo com organismos estranhos à Universidade.

Então acabei sendo a indicada, com o apoio decisivo do Prof. Laerte e, provavelmente, graças à intervenção da então Secretária de Educação, Profa. Dra. Esther de Figueiredo Ferraz, que integrara a banca examinadora de minha tese de Doutorado.

Tomei posse no Conselho no início do mês de agosto de 1972, tendo sido indicada para a Câmara de Ensino de 1o Grau. Nesse dia, na sessão plenária que se

seguiu à primeira reunião das Câmaras, sentei-me ao lado do Prof. Laerte, Vice- Presidente do Conselho, no lugar que me fora designado pela Presidência na sala do Plenário.

Na segunda-feira seguinte, dia 07 de agosto, quando deveria se realizar a primeira reunião ordinária do Conselho, recebi pela manhã, na sala de reuniões da Câmara de 1o Grau, a espantosa notícia de que o Cons. Laerte acabara de falecer,

vítima de um enfarte fulminante.

Admito que pensei em desistir do Conselho para dedicar-me exclusivamente as minhas atividades de ensino e pesquisa na Faculdade de Educação. Contudo, o volume, a importância e a complexidade das tarefas a serem cumpridas pelo Conselho de Educação, com vistas à implantação em São Paulo da Lei de Diretrizes e Bases no 5692/71, representavam um desafio enorme que, a meu

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