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3 O ARTISTA, SUA VIDA E A SUA OBRA

3.6 WALDELAN E A ESCOLA PESQUISADA

Dada a participação da pesquisadora na comunidade houve a oportunidade de conhecer vários artistas locais da cidade de Jacareí. Assim, foi convidado para visitar a escola e conduzir uma oficina com os professores, Waldelan de Paula, o artista local extremamente criativo que trabalha com materiais reciclados, sucatas e vários objetos.

A oficina teve como objetivo ampliar a sensibilidade e expressividade dos educadores do Ensino Fundamental do Ciclo I e do Ciclo II, com vistas a desenvolver uma proposta interdisciplinar para o ensino da arte.O artista demonstrou grande satisfação em ter sido convidado para apresentar sua obra e contar sobre o seu processo criador para os educadores do Centro Educacional Mello e Arice, dando a perceber o quanto se sentiu valorizado em participar de uma atividade destinada aos educadores.

3.6.1 Os Professores e o artista

Mesmo que os professores gostem de estudar arte local é difícil convencer os artistas da comunidade a vir à escola. É um relacionamento marcado pela distância. Quando se convida o artista, geralmente escutam-se desculpas, como por exemplo: “Não estudei para dar aulas” ou “Não me sinto bem falando às pessoas”.

No entanto, o artista Waldelan aceitou prontamente o convite, demonstrando apenas certa insegurança em relação às criticas sobre o seu trabalho. Ponderou, de maneira humilde, que talvez não fosse bom o suficiente para ser apresentado a professores em uma escola.

De qualquer maneira, a distância entre o artista e os professores se esvaneceu no momento em que entrou na sala de aula, pois passou a se sentir bem à vontade. O artista disse que iria falar pouco, uns dez ou quinze minutos no máximo, que não teria o que falar com professores durante muito tempo. Então, começou a falar e os professores começaram a fazer perguntas, e acabaram conversando por muito mais tempo. A oficina foi muito além do horário previsto.

Apresentar aos professores um artista intimamente ligado ao reaproveitamento de resíduos permitiu acionar, mediante a oficina de arte, o diálogo, a pesquisa, o interesse a participação e a intervenção em relação a questões ambientais e ecológicas do cotidiano.

3.6.2 A participação dos professores

Os educadores participantes da oficina foram dez e trabalham com o ensino Fundamental Ciclos I e II. A formação acadêmica desses educadores é, em sua maior parte, na área de Ciências Humanas. Com graduação em Pedagogia havia seis educadores no grupo, um licenciado em História, outro em Letras, um educador com licenciatura em Matemática e um bacharel em Arte. Todos os educadores trabalham somente na esfera educacional. As idades dos sujeitos variavam entre vinte e quarenta anos.

A professora Rita nasceu em Jacareí e sempre viveu nesta cidade. Há seis anos trabalha na escola realizando trabalhos de artesanato com a comunidade e ministrando aulas para o Ensino Fundamental, Ciclo I. Não possui formação acadêmica em arte, já fez muitos cursos na área, como cerâmica, porcelana escultura, artesanatos em geral e atualmente estuda na cidade de Taubaté, na escola Maestro Fego Camargo, realiza vários trabalhos de técnicas de desenho, colagem e pintura.Iniciou seu trabalho no Centro Educacional Mello e Arice participando de um projeto social como professora de artesanato, oferecendo propostas artesanais para a comunidade, com objetivo de ensinar um ofício aos participantes. Há três anosa professora ampliou sua carga horária e ministra aulas para os alunos do ciclo I, dividindo as turmas com a professora Sandra.

Rita acredita que as crianças precisam saber noções de arte, porém, não de forma aprofundada. Relata que começa seu curso ensinado as cores primárias, depois as cores secundárias e complementares. Afirma que as crianças precisam aprender a pintar bem forte, de maneira uniforme para adquirirem a noção de pintura bem feita. Prioriza também o ensino das linhas: curvas e retas, e para ensinar os conteúdos acima ela escolheu dois artistas: Romero Brito e Gustavo Rosa. O trabalho com o artista Romero Brito se refere às linhas. .Assim, a professora conta que as crianças aprenderam a desenhar o gato de uma das obras de Romero Brito porque, a partir do desenho do gato, iriam aprender vários tipos de linha. Também está empenhada em ensinar as crianças a realizarem vários tipos de colagem com casca de ovo para aprenderem sobre o mosaico; para o bimestre final ela pretendia trabalhar com a

pintura em vários suportes e com muitos tipos de tinta como guache e tinta de tecido, tinta feita com elementos da natureza.

A professora Rita é muito alegre e extrovertida, adora contar sobre seus projetos com os alunos. Baseia-se na crença da sedução, por isso conta que em todas as suas aulas ela chega à sala cantando e envolvendo as crianças para depois começar com os conteúdos e abre espaço para que os alunos escolham o que querem desenhar ou pintar.

Sandra é nascida na cidade de São Paulo e compõe o quadro de educadores da escola Centro Educacional Mello e Arice há dezessete anos, ministrando aulas de arte para o Ensino Fundamental (Ciclo I), mas ao contrário da professora Rita, não gosta de falar de seu plano. Também não possui formação acadêmica em Educação Artística.

Conta que fez vários cursos de artesanato e realizou muitos trabalhos artísticos, tem formação em pintura, escultura e técnicas de empapelamento. Seu trabalho pedagógico na escola está pautado em práticas que desenvolvem a formação intelectual do cidadão por meio de atividades de construção com sucatas, aprimoramento do desenho, pintura e colagem. Revelou ainda que: ‘’Arte pra mim é a reflexão expressiva sobre os sentimentos do cotidiano, possibilita outra forma de observar o mundo’’ (Sandra).

A escola conta ainda com mais uma professora de arte que trabalha com o Ensino Fundamental (Ciclo II). Além de trabalhar no Centro Educacional Mello e Arice, também é professora da Rede Estadual na cidade de Jacareí. Possui formação acadêmica em Educação Artística. Seu plano prioriza conteúdos de fácil assimilação. Afirmou que todas as atividades são fundamentadas na História da Arte, nos movimentos artísticos, do antigo ao contemporâneo e na contextualização das obras apresentadas. Seu objetivo é proporcionar ao aluno a vivência e o entendimento num processo de criação, opinião crítica e reflexiva.

É interessante observar a diferença de concepção, de pensamento e principalmente de ação que existe entre professores e artistas. A personalidade do artista é ingrediente que se transforma em gesto criador. As atividades artísticas e estéticas dos artistas são resultados de determinantes sociais, culturais, que são por eles apreendidos, cultivados, conservados ou modificados. Acompanhando a vida e a trajetória das produções de alguns artistas, observam-

se que eles são seres sociais históricos, comuns, não dotado de dons sobrenaturais.

O artista Waldelan nunca estudou arte,mas ele tem medo de ousar, descobrir, criar e suas obras são frutos de um trabalho criador. Waldelan se utilizou muito bem de técnicas pedagógicas na oficina e nunca oferecia nada pronto, tomando o cuidado de incentivar os educadores a criarem. Na opinião dele, mesmo sem nunca ter trabalhado na escola, a real importância da arte reside na capacidade de promover a criatividade e esse foi o seu papel naquele momento. Seu entusiasmo por arte, sua habilidade em lidar com qualquer material e principalmente a sua disposição em ajudar os professores tornou a experiência de grande efeito para a aprendizagem e propiciou a descontração dos educadores acerca de criar com materialidades distintas.

3.6.3 As obras de Waldelan

Segundo Pareyson (1997) a relação entre o artista e a matéria é de absoluta criação, já que o artista a cria no próprio ato que lhe resgata a preexistência; por outro lado, é de determinação, no sentido de que o artista sofre as exigências da matéria e está obrigado a sujeitar-se a ela e a servi-la. De um lado, é preciso reconhecer que a matéria artística não é tal por si só, independente do ato com que o artista a adota é precisamente ele quem a constitui como tal, oferecendo-lhe uma disposição fértil de possibilidades e dela liberando uma multidão de sugestões criativas e de iniciativas de obras. Sem o olhar criador do artista, a matéria é inerte e muda. É apenas aquele olhar formativo que a desperta para a vida de arte. Assim que acontece com Waldelan de Paula. Suas criações são pensadas a partir da forma do objeto que ele encontra, como se a forma lhe proporcionasse a inspiração para realizar as suas peças. O artista apresenta em seu trabalho uma linguagem de colagem própria que se aproxima de padrões artísticos de arte contemporânea. Pode-se perceber em sua obra um aspecto rude, áspero, que ao mesmo tempo se torna gracioso e divertido.

Foto 24: Bicho feito de espanador de pó- Waldelan Fonte: foto da pesquisadora

Foto 25: Abajur feito de casca de árvore, pintado com tinta plástca Fonte: foto da pesquisadora :

Foto 26: Cadeira da mamãe, feita de restos de madeira e revestida com retalhos de tecido Fonte: foto da pesquisadora

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Foto 27: Galinha feita de jornal amassado e massa Fonte: fotoda pesquisadora

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