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O Man como ninguém (Niemand), constância (Ständigkeit) e dispersão (Zerstreuung) do Dasein no Man, o Man-Selbst como o por mor do qual (das

Worumwillen) do Dasein quotidiano, a prioridade do Man na abertura (Erschließen) do Dasein e o si próprio autêntico como modificação existencial (existenzielle Modifikation) do Man.

Como vimos acima348

, no §27 de Sein und Zeit está em causa a determinação do si próprio do Dasein; mais do que isso, nesse § trata-se de identificar que “entidade” corresponde ao si próprio do Dasein quotidiano: do Dasein tal como este se exprime e se vive naquilo a que Heidegger chama a quotidianidade349. Vimos também que Heidegger recorre à noção de das Man para poder dar conta mais adequadamente desta questão, uma vez que identifica o si próprio da quotidianidade com das Man. Na mesma altura, considerámos ainda o modo como este Man (enquanto si próprio da quotidianidade) se caracteriza pela sua indefinição e pela dificuldade que sentimos em localizá-lo; estreitamente ligado a este problema da dificuldade em verificar a ocorrência do Man e em definir os seus contornos está — como também já analisámos — o facto de o Dasein não se ter a si próprio como o princípio fundamental do seu modo de ser e agir; por outras palavras: o facto de o

Dasein (enquanto vive no Man) ter sempre já “entregado” a algo de outro a “decisão” sobre o modo como é e age.350

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 348

Vide supra o ponto a.

349

Sobre esta noção, vide supra o ponto b.

350 Quando se fala aqui de “ter entregado” e de “decisão”, não se está a fazer uso do

significado normal destas formulações; com efeito, não se trata de “acções” executadas conscientemente, nem sequer se trata de acções propriamente ditas: este “ter entregado” e esta “decisão” de que falamos exprimem um facto sempre já constituído como tal, bem como a sua reiteração a cada instante; segundo Heidegger, não se pode evitar o encontro com a facticidade deste facto (ela é original), mas em cada momento — porque o Dasein se caracteriza pela reversibilidade do seu modo fundamental de ser e agir — o Dasein tem a possibilidade de inverter o estado-de-coisas em questão: é neste sentido que há uma componente activa na “entrega” e na “decisão” referidas. Essa “entrega” e essa “decisão” são operações que dizem respeito à própria esfera da constituição de sentido do Dasein, a qual molda de cada vez o seu modo de ser e a forma como a totalidade da vida (e tudo quanto cabe nela) a cada instante se apresenta ao Dasein. Como também já averiguámos, o algo de outro a que o Dasein “entrega” a “decisão” sobre como ser e agir não são os outros como nós, mas uma “entidade” que transcende totalmente o plano da alteridade humana (embora se faça mediar por ela); é

Porque o Man, na qualidade de si próprio do Dasein quotidiano, não é susceptível de se identificar exactamente com nada — disso parece provir, pelo menos em parte, a escolha do termo das Man para caracterizar o plano em causa — e porque a definição do si próprio habitualmente se produz por referência a um núcleo pessoal (do ponto de vista linguístico: por referência a um pronome pessoal, por exemplo), uma outra forma de exprimir a indefinição do Man é utilizar a negação do pronome pessoal indefinido “ninguém” transformando-a no substantivo das Niemand.

Heidegger exprime a articulação fundamental de todo este problema resumindo-a no seguinte parágrafo textual:

“Jeder ist der Andere und Keiner er selbst. Das Man, mit dem sich die Frage nach dem Wer des alltäglichen Daseins beantwortet, ist das

Niemand, dem alles Dasein im Untereinandersein sich je schon ausgeliefert hat.”351

Numa palavra, caracterizar o si próprio do Dasein quotidiano como das Man é dizer que esse mesmo Dasein não é o princípio fundamental a partir do qual ele define o modo como é e age, ou seja: é dizer que o Dasein (enquanto vive ou existe na forma da quotidianidade) não é si próprio; ele é e age a partir de um princípio que se acha “localizado” no exterior de si — fora de si.

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esse algo de outro que — na sua não-identificabilidade e na sua não-verificabilidade — constitui propriamente o Man.

351

Dito isto, é preciso analisar agora as determinações que constituem esta forma peculiar de (não) se ser si próprio — e que são, ao mesmo tempo, as operações (ou as “acções”) pelas quais o Dasein se mantém na forma referida de (não) ser si próprio.

Para começar, recordemos que já averiguámos com algum pormenor352 as

noções de Alltäglichkeit, Abständigkeit, Durchschnittlichkeit, Einebnung,

Seinsentlastung e Entgegenkommen (bem como o modo como estas noções se articulam entre si). Ora, o que Heidegger diz — numa espécie de resumo das suas anteriores análises e em trânsito para outras averiguações — é que em todas estas noções, na sua articulação e no seu funcionamento conjunto, reside aquilo a que chama a “constância primária” (nächste Ständigkeit) do Dasein:

“In den herausgestellten Seinscharakteren des alltäglichen

Untereinanderseins, Abständigkeit, Durchschnittlichkeit, Einebnung, Öffentlichkeit, Seinsentlastung und Entgegenkommen liegt die nächste »Ständigkeit« des Daseins.”353

Esta constância primária do Dasein, enquanto modalidade ou expressão de das

Man, tem como este um carácter existencial354, ou seja: não consiste numa propriedade identificável no objecto Dasein (a partir de um ponto de vista extrínseco e puramente considerativo), mas numa característica que é relativa ao modo de ser do

Dasein próprio (isto é: ao Dasein enquanto algo que é vivido na primeira pessoa). !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

352

Vide supra o ponto a.

353

SZ 128.

354

É isto mesmo que Heidegger exprime quando diz:

“Diese Ständigkeit betrifft nicht das fortwährende Vorhandensein von etwas, sondern die Seinsart des Daseins als Mitsein.”355

Heidegger diz, além disso, que a constância primária do Dasein — que, como veremos, se exprime sob a forma de inconstância — não se traduz num enfraquecimento da presença e da efectividade de das Man na vida do Dasein:

“Im Gegenteil in dieser Seinsart ist das Dasein ein ens realissimum, falls »Realität« als daseinsmäßiges Sein verstanden wird. (…) Dem unvoreingenommenen ontisch-ontologischen »Sehen« enthüllt es sich als das »realste Subjekt« der Alltäglichkeit.”356

Por outras palavras, estes últimos pronunciamentos de Heidegger vêm confirmar o carácter existencial da constância primária do Dasein, uma vez que mostram que — por mais inconspícua que seja para um ponto de vista considerativo — a constância primária está presente e encontra expressão efectiva no próprio modo de ser do Dasein. Mais do que isso, como teremos de ver com clareza, tal constância !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

355

SZ 128. A respeito da noção de Vorhandenheit, vide supra Primeira parte, Terceiro capítulo, §§ 2, 3 e 4. No passo citado, Heidegger fala da Seinsart des Daseins als Mitsein; o termo

Mitsein deve ser aqui entendido como o modo fáctico em que o Man sempre já se acha desformalizado (vide supra o ponto a).

356

diz respeito ao próprio sujeito (ao próprio si) da quotidianidade: o Man sc. o Man-

Selbst.

Temos, portanto, de averiguar que constância é esta em que se exprime efectivamente o modo de ser do si próprio do Dasein na quotidianidade (sc. no Man).

Se prestarmos um pouco de atenção ao termo, só por si, Ständigkeit exprime a qualidade de algo que se caracteriza pela sua continuidade, pela sua permanência ou constância ao longo do tempo: e pode dizer respeito ao carácter de uma pessoa, à persistência de determinadas acções, a certos objectos e às suas características, etc.

É, com efeito, este núcleo fundamental da noção que está em causa quando Heidegger refere:

“In den herausgestellten Seinscharakteren des alltäglichen

Untereinanderseins, Abständigkeit, Durchschnittlichkeit, Einebnung, Öffentlichkeit, Seinsentlastung und Entgegenkommen liegt die nächste »Ständigkeit« des Daseins.”357

Ou seja, a quotidianidade sc. o Man exprime-se (e exprime-se permanentemente: ao ponto de ser essa forma de expressão que constitui a quotidianidade sc. o Man) por meio das características ou dos modos de ser referidos neste passo; e tanto quer dizer, na medida em que o Man constitui o si próprio do

Mitsein: é por meio desses mesmos modos de ser que o si próprio do Mitsein sc. o

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 357

Man (ou melhor, o Man-Selbst) permanentemente se exprime. Em suma, o si próprio do Mitsein sc. o Man é essa mesma permanência de expressão.

Temos, no entanto, de perguntar: porque é que Heidegger usa de aspas quando, no passo citado, se refere à constância primária do Dasein?

Vendo bem, isso não se deve apenas ao facto de estar em jogo um terminus, mas também — e sobretudo — ao facto de o termo em questão não estar a ser usado sem ambiguidade; de sorte que a pergunta tem de ser: trata-se aqui de facto de uma constância do Dasein ou será que o fenómeno que Heidegger tem sob foco não se exprime com mais propriedade justamente pelo termo contrário (sc. inconstância)?

O próprio Heidegger parece justificar esta formulação quando, pouco depois de ter introduzido o conceito de constância, se pronuncia do seguinte modo:

“Man ist in der Weise der Unselbständigkeit und Uneigentlichkeit.”358

O que pode parecer um paradoxo na verdade não é. E para perceber como não se trata de um paradoxo, temos de considerar a ambiguidade do termo — quer no que diz respeito àquilo a que se aplica, quer no que diz respeito às perspectivas a partir das quais se produz essa aplicação.

Já vimos, de algum modo, um primeiro sentido em que se pode dizer que há uma constância do Dasein — um sentido que tem que ver com o funcionamento

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 358

permanente (no âmbito do Man) das determinações oportunamente referidas359

e com uma certa expressão (ou um certo regime de expressão) do si próprio do Dasein. É a esta constância ou permanência do Dasein no Man que Heidegger chama “constância ou permanência primária” (nächste Ständigkeit). Trata-se, pois, de uma constância (de uma homogeneidade, se quisermos) já dada à partida, que não se constitui por reflexão ou consciência por parte do Dasein. Não se trata, porém, de uma constância meramente formal — nos termos da qual se pode dizer que o Dasein, a despeito de toda a sua dispersão por uma multiplicidade de conteúdos, mantém uma identidade formal: é sempre o mesmo Dasein —, uma vez que o funcionamento do Man, como observámos, tem uma consistência própria e uma presença efectiva na existência do

Dasein (ou seja, reflecte-se no seu próprio modo de ser e de se compreender a si mesmo).

Ora, se procurarmos identificar a perspectiva a partir da qual esta caracterização é produzida, verificamos que não é a perspectiva da própria quotidianidade (a própria perspectiva que tal caracterização tem como objecto).

Isso está bem patente, por exemplo, no uso que Heidegger faz dos termos “primário” (nächst), “inconstância” (Unselbständigkeit) e “inautenticidade” (Uneigentlichkeit). Nestes termos, com efeito, está reflectida a perspectiva da própria analítica existencial (sc. a perspectiva da própria filosofia), a partir da qual se pode descrever como primário algo que não se vive como tal — mas como absoluto, para além do qual não parece haver mais nada — e classificar como inconstante e

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 359

Scil. Alltäglichkeit, Abständigkeit, Durchschnittlichkeit, Einebnung, Seinsentlastung e

inautêntico algo que, na verdade, se pode compreender como constante e autêntico (ou então fora do horizonte dessas categorias).360

Não podemos descrever, neste momento, as características daquilo a que Heidegger chama a autenticidade (a autêntica constância do Dasein). A compreensão da noção de Ständigkeit, porém, exige que façamos algum uso da noção de

Eigentlichkeit361 — como se pode ver pela própria sequência da exposição de Heidegger362

.

Digamos, para já, que a noção de autenticidade tem que ver com um determinado modo de dar forma à totalidade da existência do Dasein: aquele que dá forma a essa totalidade a partir do próprio Dasein a que a totalidade em causa diz respeito. Mais do que isso, esse modo de dar forma à totalidade é incompatível com

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 360

Numa palavra, como veremos melhor já de seguida, os termos “primário” (nächst), “inconstância” (Unselbständigkeit) e “inautenticidade” (Eigentlichkeit) são termos cunhados por uma perspectiva que não é a que está a ser descrita por intermédio deles — uma perspectiva exterior (para lá daquilo que eles descrevem): a perspectiva da autenticidade.

361

Sobre a noção de “autenticidade” (Eigentlichkeit) não podemos dar, pelo menos para já, senão as indicações que se vão seguir; e, na verdade, só as damos nesta altura porque são indispensáveis para se perceber que é que Heidegger pretende indicar quando fala de “constância” (Ständigkeit) no âmbito do Man.

362 A sequência da p. 128 de SZ que aqui se acha em questão é a seguinte: “In den

herausgestellten Seinscharakteren des alltäglichen Untereinanderseins, Abständigkeit, Durchschnittlichkeit, Einebnung, Öffentlichkeit, Seinsentlastung und Entgegenkommen liegt die nächste »Ständigkeit« des Daseins. Diese Ständigkeit betrifft nicht das fortwährende Vorhandensein von etwas, sondern die Seinsart des Daseins als Mitsein. In den genannten Modi seiend hat das Selbst des eigenen Daseins und das Selbst des Anderen sich noch nicht gefunden bzw. verloren. Man ist in der Weise der Unselbständigkeit und Uneigentlichkeit.” É bem patente, pois, que Heidegger usa o termo Ständigkeit primeiro com aspas, depois sem elas e depois ainda o termo Unselbständigkeit. A nossa tese, a este respeito, é a de que não se trata de um paradoxo, mas de uma ambiguidade que tem que ver com a dualidade de perspectivas em causa. O que está em jogo, neste momento, é compreender que é que isso significa.

outros modos de o fazer — e, designadamente, com aquele segundo o qual essa formação está já disponível: o Man. Por causa dessa incompatibilidade com o Man, a autenticidade afirma-se como ruptura com o Man.

Isto vem a propósito na medida em que a autenticidade é a perspectiva a partir da qual se olha para a constância primária do Dasein como tal. Porque a perspectiva da autenticidade constitui uma perspectiva total exclusiva, tende a considerar a perspectiva do Man enquanto perspectiva total — embora esta não se veja como tal — que se trata de neutralizar ou anular o mais possível nos seus efeitos sobre nós. Por outras palavras, é a perspectiva da autenticidade, enquanto perspectiva advertida para o problema da própria formação ou transformação da execução da existência humana, que percebe que há um projecto de totalidade no próprio Man — isto é: um funcionamento das suas determinações constitutivas que se procura afirmar como constante e modulador da totalidade da vida —, mesmo que a imersão no Man impeça a própria perspectiva que se acha imersa de se ver como tal. Mais do que isso, uma vez que a perspectiva da autenticidade se acha já advertida para a possibilidade de duas modalidades fundamentais de execução da vida no seu todo (ou seja: para o facto de ela própria consistir numa forma de relação explícita com a totalidade da vida, por contraste com a relação inexplícita do Man), a constância do Dasein no Man pode ser caracterizada como uma constância primária (espontânea ou irreflectida). Com efeito, do próprio ponto de vista que se acha imerso no Man, aquilo que parece prevalecer é a dispersão numa multiplicidade de conteúdos ou tarefas que se

apresentam de cada vez ao Dasein.363

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 363

Para o caso de não ter ficado claro (pois a exposição adequada deste aspecto tornaria demasiado longo um ponto que já o é), é preciso vincar que a separação entre autenticidade e inautenticidade não é uma separação absoluta. Com efeito, não só a disposição da autenticidade (por

Mas vejamos melhor de que modo é que Heidegger caracteriza aquilo a que chama a “dispersão” (Zerstreuung) do Dasein. Assim, a dispersão caracteriza o

Dasein enquanto este se acha dominado pelo Man:

“Als Man-selbst ist das jeweilige Dasein in das Man zerstreut und muß sich erst finden.”364

Como já referimos, a dispersão em causa corresponde a uma determinação do próprio “sujeito” ou do próprio si do Dasein. Mais do que isso, trata-se de uma determinação que diz respeito ao si próprio do Dasein enquanto este se acha imerso ou absorvido em tarefas mundanas:

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mais purificada de inautenticidade que esteja) parece encerrar inevitavelmente momentos de inautenticidade, como também a disposição da inautenticidade (por mais irreflectida que seja) parece lidar de algum modo sempre com uma determinada consciência do seu próprio modo de ser enquanto inautêntico. De tal modo que, quando aqui se fala de autenticidade, é necessário não esquecer que está em causa uma tensão ou um esforço para estabelecer uma perspectiva consciente em relação à totalidade da vida e para resistir à incessante tentativa de imposição de modos inautênticos de relação com o todo da vida. Não só a inautenticidade tem a possibilidade de se transformar em autenticidade, mas também esta última — porque conserva em si momentos de inautenticidade e consiste no esforço permanente de transição da inautenticidade para a autenticidade — tem a pretensa possibilidade e a pretensa legitimidade de ajuizar com propriedade aquilo que se passa no próprio terreno da inautenticidade. O que verificamos na analítica existencial é, portanto, uma tentativa, por parte de Heidegger, de considerar a perspectiva correspondente à autenticidade como aquela que possui o critério que está apto para avaliar em próprio a inautenticidade. Esta tese não nos parece, no entanto, pacífica: precisa de ser demonstrada — e, tanto quanto conseguimos ver, Heidegger não o procurou fazer.

364

“Diese Zerstreuung charakterisiert das »Subjekt« der Seinsart, die wir als das besorgende Aufgehen in der nächst begegnenden Welt kennen.”365

A bem dizer, são justamente tais tarefas que — na sua multiplicidade e na variedade dos conteúdos em que sucessivamente depõem — produzem a dispersão do

Dasein. Por outras palavras: se quisermos falar de uma dispersão do Dasein (tal como Heidegger o faz), temos de nos referir ao âmbito do Besorgen no sentido em que esse âmbito se caracteriza pela multiplicidade das tarefas que inclui e pela multiplicidade dos conteúdos que cada tarefa de cada vez encerra366

.

Isto, porém, não basta para se perceber plenamente que é que está em jogo na noção de Zerstreuung. Com efeito, o Dasein podia estar numa situação tal que tivesse de executar sucessivamente uma multiplicidade de tarefas (com tudo o que isso implica de lida com uma grande variedade de conteúdos que se acham associados a essas tarefas) — e, todavia, não se encontrar disperso pela multiplicidade e pela variedade em questão.

Por conseguinte, para que o Dasein — que executa um determinado número de tarefas e que lida com uma enorme variedade de conteúdos — possa estar disperso, !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

365

SZ 129.

366

Como é evidente, o âmbito do Besorgen não constitui um âmbito cujas diferentes tarefas estejam separadas entre si, mas antes um âmbito que se encontra marcado pela estrutura da “remissão” (Verweisung). Esta noção permite, assim, acentuar o carácter dinâmico do Besorgen e dá uma ideia mais clara do carácter incessante da própria sucessão e da própria imposição de tarefas e conteúdos com que o Dasein está de cada vez confrontado no Besorgen. A impossibilidade de parar ou suspender a lida com tarefas ou conteúdos torna muito difícil, para o Dasein, não se viver a si mesmo como dispersão pelos referidos conteúdos e tarefas.

tem de se achar numa perspectiva na qual a multiplicidade das tarefas e dos conteúdos (os termini ad quos da própria execução de tarefas) prevaleçam sobre o terminus a

quo dessa mesma execução: o próprio Dasein enquanto tal.

A dispersão consiste, portanto, na própria perspectiva imanente à imersão — perspectiva na qual a multiplicidade parece ter predominância na própria determinação do modo como a perspectiva em causa se vive a si mesma: como perspectiva imersa, dispersa.

Mas põe-se o problema: será que a perspectiva do Man se vive exactamente assim — como pura dispersão? Ou antes: não será que há uma qualquer forma de unificação inerente à própria perspectiva do Man que a salva de uma perda completa na dispersão?

Heidegger, vendo bem, parece dar indicações disso mesmo, ao usar de algumas determinações que claramente fazem referência às noções de unidade e de totalidade do Dasein.

Segundo Heidegger, a dispersão diz respeito à imersão do Dasein no terreno do Besorgen enquanto terreno que se caracteriza por uma enorme multiplicidade de tarefas e conteúdos. Na medida em que diz respeito ao Besorgen, a dispersão supõe sempre já uma relação com a totalidade — a totalidade que corresponde ao projecto existencial concreto do Dasein e por mor da qual o Dasein executa as tarefas que executa:

“Das Man-selbst, worum-willen das Dasein alltäglich ist, artikuliert

den Verweisungszusammenhang der Bedeutsamkeit.”367

Para Heidegger, intimamente associado a esta relação com a totalidade está o facto de o Dasein, no regime do Man, ser portador de uma determinada perspectiva sobre essa mesma totalidade:

“Wenn das Dasein ihm selbst als Man-selbst vertraut ist, dann besagt das zugleich, daß das Man die nächste Auslegung der Welt und des In-

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