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1 SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL, PERIFERIA E O MEDO DA

2.2 Zona Norte de Natal: Da Periferia Trabalhadora a Periferia em

A Zona Norte do município de Natal surgiu durante a década de 1970, e esta diretamente relacionada ao contexto de mudanças sócio-econômicas vivenciadas no âmbito nacional e local do período. A ocupação da região esta inserida no grande enlace do dilema urbano gerado pela expansão demográfica (surtos dos efeitos das secas em décadas anteriores e resquícios do aumento populacional vivenciado nos anos da Segunda Guerra Mundial) o que surtiu no alavancamento dos problemas oriundos do déficit habitacional municipal, no qual na época dava-se em virtude da concentração populacional existente na região central de Natal, que era formada pelos antigos bairros tradicionais e por periferias já consolidadas. Não obstante, a saída para a superação do entrave se deu por duas vias: o surgimento e adensamento de favelas, espaços ainda mais pobres do que os bairros operários; e a ocupação de vazios urbanos, esta ultima que se deu por meio de políticas habitacionais amplamente difundidas no regime militar brasileiro.

Com o golpe de 1964 e a entrada do governo militar na cena política do país, tínhamos o inicio de uma nova fase para a questão urbana brasileira. Nessa contextualização de fervor político, a pobreza estrutural do Brasil e sua condição de país subdesenvolvido passaram a receber uma vista grossa durante os anos em que se estenderam a gestão dos presidentes militares, o que autores como Domingues (2002), nos mostra o quanto o período pode ser compreendido como ambíguo, uma vez que na medida em que as políticas de incentivo econômico ganhavam espaços nas discussões internas, as desigualdades sociais aliadas a intensa repressão política davam aos programas um tom de “modernização conservadora”, o que fica evidente na ideia que o “bolo” econômico cresceu, mas não foi “repartido” justamente.61

61 “O Bolo precisa crescer para ser repartido”. Essa frase, pronunciada pelo ministro Delfim

Nesse contexto de mudanças, a administração militar no país ficou notabilizada pelo proporcionamento de um surto econômico positivo, episódio que ficou conhecido como Milagre Econômico Brasileiro (1968-1973), onde esse “impulso” da economia nacional, ainda quando o parâmetro das riquezas dos Estados nacionais era contabilizado a partir de seu Produto Interno Bruto (PIB), atingiu a níveis de crescimento gigantescos a uma cifra de 11% ao ano. (VELOSO, VILELA e GIAMBASE, 2008)

Porém, a tomada dessas políticas modernizadoras no país estão ligadas diretamente ao contexto econômico do momento, recorte este que estava sendo marcado por profundas crises econômicas e estagnação do mercado interno, pois o Brasil sofria com a deficiência estrutural de seu sistema financeiro, que ainda era bastante precário, assim como também com altas taxas de inflação que assolava a população desde o inicio da década de 1960.

Diante desse “estrangulamento” da economia interna, os governos militares, em especial a partir da gestão de Castelo Branco (1964-1967), optaram pelo fomento de políticas econômicas a partir do incentivo a industrialização, ao aprimoramento do parque tecnológico e investimentos pesados no setor da construção civil como viés de superação do “terceiro mundismo”, e é justamente nessa gama de políticas econômicas, em especial da ultima, que foi fundado o Sistema Financeiro de Habitação (SFH)62, que englobava o Banco Nacional de Habitação (BNH) e a Caixa Econômica Federal (CEF). Outras instituições também formavam o SFH, como “caixas econômicas estaduais, sociedades de crédito imobiliário e Associações de Poupança e Empréstimo (APE), como também foi criado um novo mecanismo de poupança compulsória, o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), que se tornou uma importante fonte de recursos para o SFH.” (VELOSO, VILELA & GIAMBIAGI, 2008).

A grosso modo, o surgimento dessas instituições de provimento habitacional foram decisivas para o aprofundamento da expansão urbana nas cidades brasileiras:

alusão ao crescimento da economia brasileira no período e a divisão igualitária de seus frutos. Apesar das grandes políticas econômicas, as desigualdades sociais permaneceram atuantes, o que lhes rendeu fortes criticas.

É evidente que o sistema urbano brasileiro foi graciemente por esses ciclos de expansão. O sistema financeiro de habitação, sob o BNH, funcionava como alavanca de sustentação dos investimentos urbanos na construção civil, assim como o Planasa63 e as empresas estaduais de saneamento (ambas com bases nos recursos do FGTS) apoiavam o saneamento básico. Especialmente desde os anos 60 e ao longo dos anos 70, ocorreram grandes surtos de investimento urbano infraestrutural e habitacional, cuja a história ainda precisa ser bem sistematizada. As metrópoles estaduais se expandiram notavelmente, a urbanização se acelerou, os sistemas estaduais de cidades foram se integrando. O emprego urbano cresceu vigorosamente criando oportunidades ocupacionais e evitando uma caotização maior, decorrente desse movimento acelerado. (COUTINHO, 2003, p. 39)

O processo de crescimento das cidades brasileiras trazia no seu desenvolvimento um efeito muito perverso: os subsídios gerenciados e fornecidos pelo Estado as várias políticas habitacionais/ urbanas, apesar de propiciar um crescimento vertiginoso no que tange a infraestrutura das cidades e a economia nacional, acabou também por formar novos enclaves de pobreza no espaço urbano, onde, até certa medida os conjuntos habitacionais, e mais explicitamente os loteamentos, tornaram-se o expresso sintoma dessas políticas.

Na cidade de Natal a questão não fugiu muito ao parâmetro nacional de crescimento urbano, pois mesmo sendo distintos o ritmo de crescimento e os contextos sócio-economicos entre as cidades do país, Natal se assemelha a outras tantas metrópoles no que se refere a ocupação e consolidação de localidades periféricas, e portanto, engajado em todo esse contexto, as políticas habitacionais na cidade também acabaram se tonando decisivas para o surgimento de outras periferias distintas das periferias operárias tradicionais que já estavam solidificadas, como os bairros do Alecrim, Quintas e Rocas.

Atrelada ao financiamento de moradias por meio do BNH, logo surgiram instituições encarregadas de prover a construção dos conjuntos habitacionais, porém cada uma responsável em atender as demandas de acordo com as configurações do tecido sócio-economico da capital, ou seja, o

63 Plano Nacional de Saneamento instituído em 1969, e tinha como objetivo repassar verbas

para que os estados brasileiros elaborassem seus próprios planos de saneamento. Era gerido pelo Banco Nacional da Habitação (BNH). In: http://www.tecsi.fea.usp.br/

espaço urbano da cidade passara a ser dividido tangente a questão da renda, onde o Instituto de Orientação às Cooperativas Habitacionais (INOCOOP) tinha seus empreendimentos direcionados a classes média e rica urbana, e a localização de seus conjuntos habitacionais estavam situados na Zona Sul de Natal, enquanto que a Companhia Habitacional Popular (COHAB) ficou destinada a consolidar a macha urbana em locais distantes até então do centro da cidade:

A Zona Norte da Cidade, que concentrou os conjuntos construídos pela COHAB, que por sua vez atenderam uma população cuja renda familiar variava entre 1 a 5 salários minimos regionais. A concentração desses conjuntos contribuiu para diferenciá-la do resto da cidade, configurando-se o processo de segregação. A construção do primeiro conjunto na região deu-se em 1975, e já em 1991 registrou-se a existência de 34 conjuntos totalizando 20.375 unidades (VIDAL, 1998, p. 54).

Complementando o argumento de Vidal (1998), Silva (2010) nos mostra que essas políticas habitacionais têm seus respaldos ainda em décadas anteriores a de 1970, pois durantes os anos de 1950 e 1960 foi aberto um mercado de terras por meio de loteamentos privados, o que propiciou nos anos posteriores uma expansão urbana da cidade baseadas nessas políticas habitacionais infligidas pelo SNH/BNH, que ainda de acordo com o autor, essas foram as grandes responsáveis por tornar Natal uma cidade 100% urbana já na década de 1980. A partir daí temos uma breve noção dos impactos ocasionados pelas políticas de Estado sobre a questão urbana na cidade, em especial o acirramento da segregação sócio-espacial.

Dessa maneira, o povoamento da região norte de Natal não pode deixar de ser justificado pela chegada dos primeiros conjuntos habitacionais, na medida em que estes são responsáveis pela expansão da mancha urbana da cidade, e assim o “outro lado do rio”, ou o que Lima (2001) denomina de “terceira margem do rio Potengi”, desde então foi considerado o espaço reservado para parcelas da sociedade potiguar com a menor renda, no qual a Zona Norte, na perspectiva mais clássica da segregação sócio-espacial, se encaixava nos seus parâmetros em termo de homogeneidade sócio- economica, como bem mostra Vidal (1998) nas palavras de um técnico da

antiga COHAB, quando o mesmo afirma que “quando se definiu pela

construção dos conjuntos da COHAB do outro lado do rio, a gente considerou o preço da terra, caras em outras áreas e praticamente inviável para a população atendida, e também considerou a instalação do distrito industrial que empregava muita gente” (VIDAL, 1998, p. 55).

Porém, como bem atenta Souza (2008), a Zona Norte de Natal, antes da ocupação massiva ocorridas entre as décadas de 1970/80, já possuía dois núcleos populacionais que ainda nos remetiam aos tempos da colonização portuguesa no Brasil: Igapó e Redinha, onde a primeira fora formada inicialmente por populações indígenas até sua expulsão – pelos portugueses - para Extremoz e de lá para cá se manteve como típica comunidade; e já a segunda, na maior parte do tempo foi considerada região praieira, inicialmente escolhida pela classe média natalense para período de férias e estadias de veraneios. (SOUZA, 2008, p.40).

A Região Norte até a década de 1960 era considerada área rural, formada por pequenas granjas concentradas especialmente próximas as margens do rio Potengi. Além de seu despovoamento e características de zona ruralizada, essa região da cidade ainda sofria com a separação física em relação ao centro oficial de Natal, que segregada inicialmente por barreiras meramente naturais, seu acesso se dava de duas maneiras: através do município de Macaiba, por meio de estradas carroçáveis, o que exigia tempo demasiadamente longo, ou pela travessia do Rio Potengi. Em 1914, foi iniciado um processo de ligação entre a região norte e o centro oficial da cidade, pois nesse ano davam-se os preparativos para construção de uma ponte rodo- ferroviária sobre o rio Potengi (ponte de Igapó) inaugurada em 20 de abril de 1916, que apesar de sua extensão, havia apenas uma única mão de via, o que dificultava o trafego de veículos, mas que servia para a travessia do rio por pessoas que vinham do interior, ou por veranistas que se dirigiam a praia da Redinha em tempos de férias. Essa ponte de ferro foi substituída por uma ponte de concreto armado durante a década de 196064 e duplicada ainda na década de 1990, no governo de Geraldo Melo (1986-1988). (SOUZA, 2008).

64 Construída pelo Departamento de Estradas e Rodagens (DER) no governo do Monsenhor

FIGURA 4: Mapa de Localização dos Conjuntos de COHAB, INOCOOP e CEF e

Apesar da ligação entre as duas partes da cidade a partir de 1916 o processo não teve um impacto tão significativo para a terceira margem do rio. Silva (2003) expõe que até a década de 1950, os lotes de terras nessa parte da cidade tinham preços muito baixos, até que em 1952 a abertura da Estrada da Redinha (hoje Avenida João Medeiros Filho) se mostrou como um considerável impulso ao processo de expansão urbana de Natal em direção a parte Norte, pois esse fator acabou por atrair “interessados em adquirir terras a um preço muito baixo e revendê-las em forma de lotes, além de possibilitar aos seus proprietários um ganho muito superior ao que se obtinha com as terras rurais.” (SILVA 2003, p. 106).

Essas faixas de terras existentes na área ao norte da cidade, tornaram- se na década de 1950 e 1960 objetos de mercadorias e comercialização nas mãos de particulares, que lotearam e depois passaram a vende-las para o Estado ou para outros agentes privados. Os lotes originárioS que formavam a região norte eram: Loteamento Parque Floresta, Loteamento Parque Sta. Catarina, Loteamento de Humberto Pignataro, Loteamento América, Loteamento Aldeia Velha e Loteamento Santarém Grande (SILVA, 2003, p. 109-110).

Esses loteamentos eram de tamanhos consideráveis, e eram impossíveis de serem habitados devido a sua inospitabilidade do restante da cidade, e portanto de 1957 a 1978, Silva (2003) afirma que a Zona Norte fora uma região de proprietários, e não de moradores, com exceção de antigos núcleos como Redinha e Igapó. No entanto a partir do final da década de 1970 se constata uma explosão em números de conjuntos habitacionais construídos principalmente pela COHAB (Ver Figura 4).

Os primeiros moradores desses conjuntos habitacionais da Zona Norte tiveram que conviver com diversas dificuldades da vida cotidiana no que se refere a questão de acesso a serviços e a infra-estrutua, e assim acabavam por exaltar a condição de residentes de um espaço segregado da cidade, qualificando-os como moradores de locais “pobres”, assimilados a condição de operário:

Moro na Zona Norte desde 1981. Antes eu morava lá na Vila Dom Eugenio65, e me mudei para cá porque casei, e lá os preços dos alugueis eram caros demais, e aqui eram muito mais baratos. Na época não tínhamos como tirar uma casa pela COHAB, porque eu e meu marido éramos assalariados, cada um ganhava um salário mínimo comercial, aí a nossa renda não foi aprovada. Então tivemos que alugar. De 1981 a 1986 moramos em casas alugadas e em diversos conjuntos. O primeiro foi o Conjunto Potengi, pois meus sogros já moravam ali e ele era Policial Militar. Era terrível por causa da penitenciária, pois escutávamos os gritos dos presos apanhando durante toda a madrugada e também tínhamos o medo das fugas, sem contar que não tínhamos padarias, farmácias, supermercados e tudo o que fazíamos era para o outro lado do rio, inclusive eu acordava as 5:00 horas da manhã todos os dias para esta no trabalho as 8:00 horas no Centro da Cidade. De lá me mudei para o Conjunto Santa Catarina, porque lá as casas eram um pouco melhores. Depois fui para o Conjunto Santarém, voltei para a Vila Dom Eugenio, e enfim, em 1986, com o dinheiro que recebi de minhas contas e o FGTS comprei minha primeira casinha no Santa Catarina, porque lá era “melhorzinho” em relação aos serviços. Só sai de lá em 1996 e até hoje estou morando aqui no Soledade II. (Funcionária Pública, 51 anos e há 31 anos mora na Zona Norte. Moradora do Conjunto Soledade II)

Dona Maria Do Carmo é exemplo de um típico morador dos conjuntos habitacionais dos primórdios da região Norte de Natal. Observamos em suas lembranças o quanto a precariedade desses parques residenciais acabava por pesar nas condições de locomoção intra-urbana de seus moradores que ficam evidentes em sua fala a partir da inexistência de estrutura: a distancia do Centro Financeiro e Urbano da cidade, a constante mudança no espaço em busca de menores preços e a negação de acesso a uma moradia digna e própria, no qual essa constante mudança rompia qualquer necessidade de formação de uma identidade social do morador da zona norte.

As barreiras (cotidianas) enfrentadas pelos primeiros moradores da região, como “Do Carmo”, são evidenciadas em sua fala quando afirma “que não tínhamos padarias, farmácias, supermercados e tudo o que fazíamos era para o outro lado do rio, inclusive eu acordava as 5:00 horas da manhã todos

65 A antiga Vila Dom Eugenio hoje esta situada no bairro Dix-Sept Rosado, na Zona Oeste de

os dias para esta no trabalho as 8:00 horas no Centro da Cidade”. Assim, a Zona Norte:

Se caracterizava como uma cidade dormitório (pois a maior parte da população produtiva trabalhava em outras áreas da cidade) onde existiam precários espaços de reprodução, era uma área da cidade desprovida de atividades econômicas relevantes, de espaços dotados de centralidade, baia densidade de ocupação e precárias condições sócio- ambientais, assim como, pela condição de ser ocupada pela população menos favorecida economicamente (com renda familiar correspondente até 4,8 salários mínimos na década de 1980), e também por incorporar marca discriminadora da área receptora de migrantes do interior do estado do RN, compondo uma concentração de capital humano. (SOUZA 2008, p. 96) Outro aspecto interessante notado na fala de Dona “Do Carmo” é a presença da “penitenciária” na área, que consiste no atual Complexo Penal Doutor João Chaves, situado na Avenida João Medeiros Filho, no Bairro Potengi, que teve sua construção iniciada no governo de Silvio Pedrosa (1951- 1956) e foi concluído em 1968 já no mandato do Monsenhor Walfredo Gurgel (1965-1968). A construção da cadeia caracterizava a institucionalização das políticas penais pelo governo do estado, onde a ideia inicial era a implementação de uma Colônia Agrícola Penal, pois as características rurais da zona norte ainda predominavam no cenário bucólico da paisagem, ponto este que seria perfeito, pois diante da aplicação das penas de castigo, o isolamento físico (no sentido humano e espacial) do restante da cidade e da sociedade é um viés para a tentativa de correção do individuo. O presídio agrícola, pensado para responder a demanda prisional do estado do Rio Grande do Norte, em seu projeto inicial trazia consigo a filosofia do trabalho de subsistência no âmbito carcerário, onde os apenados consumiria o que produzisse em suas hortaliças, porém:

Com o avanço do índice populacional e de urbanização, a criminalidade aumentou. Assim, uma instituição que foi pensada para atender a uma pequena demanda, foi substituída por um presídio que passou a funcionar com o cumprimento de penas privativas de liberdade. Posteriormente ao abrigar os presos que cumpre outros regimes, tem o seu nome substituído por Complexo Penal Dr. João Chaves (CPJC), nome que se mantém na atualidade. (DUARTE, 2008, p.59).

A questão da presença de um Presídio público na região Norte acabou também por assimilar o espaço habitado predominantemente por operários e pobres a uma região violenta, e rapidamente, a população local, onde suas principais dificuldades estavam alicerçadas na questão das diferenciações espaciais em virtude de um quase isolamento em relação as outras partes da cidade, repentinamente passou a ser associada a violência e ao crime, uma vez que o presídio, enquanto um enclave físico/territorial, também nos remetem a um ideal de âmbito agregador de valores, uma vez que ali estão isolados aqueles que quebraram todos os padrões sócio-juridicos impostos a sociedade. Para os moradores, a presença do presídio, duelando suas muralhas com a cidade legal, acabou imbuindo o fechamento de um ciclo perverso que consolidou de vez a imagem da Zona Norte atrelada ao imaginário da população natalense: periferia de trabalhadores, pobres, criminosos e de muita violência. Essa condição fora bastante alimentada pela mídia impressa e televisiva, principalmente durante os anos 1980 e 1990, quando os primeiros sintomas de crise das políticas carcerárias passaram a ser externalizadas por meio de grandes rebeliões ensaiadas com massacres, extermínios e fugas cinematográficas, episódios estes interpretados entre os órgãos de segurança e apenados bastante conhecidos em meio aos veículos de comunicação como “Brinquedo do Cão”, “Demir”, “Chocolate”, “Naldinho do Mereto” e Paulo “Queixada”. (NOVO JORNAL, 2012, p. 5).

Os constantes episódios de violência no complexo penal logo lhes renderam, pelas crônicas policiais, vários epítetos como “Caldeirão do Diabo”, e a “Universidade do Crime”, e a relação entre o presídio e o espaço reside no fato de que o conjunto Potengi teve como uma parcela predominante de moradores soldados da Policia Militar, que atendiam a demanda do funcionamento do presídio, ou seja, um conjunto residencial inteiro aos poucos tinha sua funcionalidade construída e consolidada em virtude do presídio público. (TRIBUNA DO NORTE, 2006)

No tocante a produção do espaço urbano, não podemos deixar de ressaltar a profunda importância que existe no que tange a diferenciação sócio- espacial interna da própria Zona Norte, onde uma significativa parcela que não

teve condições de arcar com as parcelas da casa própria acabou ficando de fora do SFH, e o resultado dessa exclusão foi ressentido na ocupação de loteamentos irregulares repletos de assentamentos precários, em forma da condição mais sub-humana de moradia: as favelas.

Esse fator foi agravado pelo forte descompasso existente entre o ritmo de construção de novos empreendimentos habitacionais na cidade e o aumento populacional, onde em 1971, Natal registrou a construção de 762 unidades habitacionais, ao passo que em 1983 esse número saltou para 6.329 unidades, tanto construídas pela COHAB, INOCOOP ou CEF, como visa a diferenciação entre o primeiro que era para pobres, e o segundo destinado as