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Somente os corredores não são suficientes para assegurar que as reservas isoladas cumprirão o seu papel de preservar as espécies nelas contidas. O número de espécies presentes em um fragmento está diretamente relacionado à área efetiva e à diversidade de habitats do fragmento, e inversamente relacionado ao seu estágio sucessional e grau de isolamento (FORMAN e GODRON, 1986).

Se o grau de exposição da reserva ao ambiente circundante for muito alto, o seu tamanho efetivo será progressivamente reduzido pela deterioração do habitat a partir de suas margens externas, devido ao efeito de borda, propriamente dito. Para enfrentar tal problema, tem sido usado para manejo de entorno de unidades de conservação o conceito de zona-tampão ou zona de amortecimento.

Segundo MMA (2003), as zonas-tampão consistem em áreas locadas no entorno de Unidades de Conservação, onde as atividades humanas estarão sujeitas a normas e restrições específicas, principalmente no tocante ao uso do solo, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a área protegida.

O conceito de zonas-tampão, ou ainda como Noss e Harris (1986) definem: zona de uso múltiplo, advém da premissa proposta pelos mesmos autores de que a conservação da biodiversidade não depende somente das fronteiras de uma dada área protegida, mas também do contexto de paisagem onde ela se encontra inserida. Não

se pode considerar parques e reservas como sistemas fechados auto-sustentáveis, e sim partes que interagem totalmente em um contexto no qual estão localizados: a paisagem.

De acordo com esses autores, o que garantiria a perpetuação das espécies depende, em grande parte, da implementação dessas zonas de uso múltiplo, que seriam unidades de manejo com uma área “core” tal, que garantiria a viabilidade de populações de espécies em questão, sendo, por exemplo, um parque nacional ou uma área de reserva legal de um assentamento de reforma agrária, que seriam tratados como nódulos de biodiversidade. As buffers zones seriam faixas no entorno dessas reservas onde o uso humano com restrições seria permitido, como usos do solo alternativo, como o caso de módulos agroflorestais, atividades florestais de baixo impacto e extração de produtos florestais não-madeireiros (NOSS e HARRIS, 1986).

Segundo Salafsky e Wollenberg (2000), as populações de entorno de áreas protegidas sempre dependeram de produtos oriundos da biodiversidade nas áreas vicinais às unidades de conservação para satisfação de necessidades básicas como lenha, caça, remédios etc. Porém, de acordo com IUCN (1994), os sistemas tradicionais de áreas protegidas prescrevem que o uso de recursos de origem biológica por comunidades de entorno é atividade conflitante com os objetivos conservacionistas.

Em resposta a essas limitações, durante as três últimas décadas, os conservacionistas, sobretudo pesquisadores que trabalham em países em desenvolvimento, iniciaram trabalhos junto a essas comunidades de entorno, a fim de identificar alternativas de desenvolvimento socioeconômico-ambiental que liguem o seu sustento com a biodiversidade, sem conflitar com os objetivos de conservação propostos (MMA, 2002).

De acordo com Wells e Brandon (1992), houve demanda em se traçar estratégias de conservação juntamente com essas comunidades de entorno, com o intuito de as terem como aliadas do processo, já que o histórico de relação entorno x área protegida sempre foi conflitante, principalmente pela forma como se dava a implantação dessas áreas protegidas. Assim, essas iniciativas eram elaboradas de forma que houvesse ligação indireta entre a biodiversidade e o sustento dessas comunidades de entorno.

Portanto, as zonas-tampão, juntamente com as áreas protegidas, como parques nacionais, formaram as chamadas Reservas da Biosfera (UNESCO, 1972). Essas

áreas eram compostas por uma zona-núcleo protegida e proibida de uso direto, destinada unicamente à proteção da biodiversidade, circundadas por uma zona de amortecimento, onde há a permissão de uso direto por parte dessas populações locais.

Os desenhos dessas zonas-tampão geralmente eram feitos de forma a circundar as zonas-núcleo. Recentemente, um entendimento por parte de biólogos da conservação tem levado a delineamentos mais complexos dessas zonas, com arranjos espaciais diferenciados, incluindo encraves para comunidades locais e corredores para a biodiversidade (KREMEN et al., 1999).

Outro elemento-chave dessas zonas-tampão é o zoneamento, feito com o fim de criar um contexto espacial que permita às comunidades locais tirarem seu sustento dos recursos de natureza biológica, de forma concomitante a programas de conservação. Em outras palavras, significa diminuir a dependência dessas comunidades da biodiversidade local, como forma de sustento. As formas de manejo têm sido elaboradas dentro de diversos campos e é por conseqüência multidisciplinar. Inclui manejo florestal comunitário, produtos florestais não-madeireiros, sistemas agroflorestais, resolução de conflitos de forma participativa com as comunidades envolvidas etc. (STRAEDE e HELLES, 2000).

Dessa forma, tende-se a criar programas de renda alternativa, como plantio de café em zonas-tampão, plantio de espécies florestais que forneçam madeira para uso doméstico e venda, apicultura etc., seguindo uma linha de desenvolvimento sustentável e comércio justo como agentes agregadores de valor (STRAEDE e HELLES, 2000).

De acordo com Salafsky e Wollenberg (2000), a idéia básica inserida nessa abordagem é a de prover alternativas econômicas substitutas que não agridam a biodiversidade local.

3.13. Considerações sobre o manejo

Segundo Saunders et al. (1991), o manejo de ecossistemas fragmentados tem dois componentes básicos: 1) o manejo de sistemas naturais, ou a dinâmica interna dos fragmentos, e 2) o manejo das influências externas ao sistema natural. Para áreas remanescentes grandes, como o caso de parques, a ênfase deve ser o manejo da dinâmica interna do fragmento, incluindo, por exemplo, o regime de distúrbio e a dinâmica populacional de espécies-chave. Por outro lado, para áreas reduzidas, a

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