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2.7 CONECTIVIDADE

2.7.3 ZONAS DE AMORTECIMENTO

A Lei do SNUC, em seu artigo 2º, inciso XVIII, define zona de amortecimento como “o entorno de uma UC, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade”. Além disso, a lei estabelece que todas as categorias de UCs devem possuir zona de amortecimento, exceto Área de Proteção Ambiental e Reserva Particular do Patrimônio Natural. O órgão responsável pela gestão da unidade deverá estabelecer as normas específicas para a regulamentação da ocupação e dos usos dessa área. Os limites da zona de amortecimento e as normas que regem a sua ocupação e utilização podem ser definidos no ato de criação da unidade ou posteriormente (artigo 25, § 1º e § 2º, Lei do SNUC).

Bensusan (2006) enfatiza a importância da criação da zona de amortecimento no ato de criação da UC, para evitar um uso excessivo dos recursos naturais da área, como forma de aproveitar antes do estabelecimento de restrições das atividades locais. Entretanto, ao criar a UC, nem sempre há informações suficientes para uma exata definição dos limites e restrições dessa zona. Dessa forma, talvez a solução seja a criação da zona de amortecimento segundo critérios ecológicos e sociais gerais e, com o passar do tempo, seriam realizados ajustes conforme a aquisição de conhecimento sobre a unidade e o seu entorno.

Assim, a zona de amortecimento é um espaço composto por territórios situados adjacentes à UC, onde há restrição de utilização e ocupação, visando reduzir os efeitos das atividades antrópicas sobre a área protegida (MACHADO, 2001; VIO, 2001; MORSELLO, 2008). Essa zona pode ter dois objetivos principais, ampliar a área de proteção de um tipo de habitat, possibilitando a manutenção de populações maiores do que seria possível se restrito à área da UC; e abrigar a comunidade residente do entorno, com atividades de

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subsistência ou econômicas, mas que não afetem muito a finalidade da unidade (MACKINNON et al., 1986 apud MORSELLO, 2008). Outro objetivo dessas áreas é reduzir as decorrências negativas do efeito de borda, transformando essas bordas em suaves, com um menor contraste do habitat interno com o entorno (BENSUSAN, 2001).

As zonas de amortecimento, como ressalta Vio (2001), visam o ordenamento e orientação das atividades nas áreas no entorno das UCs. Não se objetiva restringir totalmente os usos daquela região, mas possibilitar que essas atividades sejam desenvolvidas, proporcionando o desenvolvimento econômico do município, mas sempre respeitando a existência de uma área protegida, que não deve ser atingida negativamente. Dessa forma, busca-se uma integração de ações, abrangendo o governo e a sociedade como co-gestores da conservação da biodiversidade.

O autor lista, ainda, as diversas funções de uma zona de amortecimento:

 Formação, como o próprio nome define, de uma área de amortecimento no entorno da UC, que segure as pressões de borda promovidas pelas atividades antrópicas;

 Proteção dos mananciais, resguardando a qualidade e a quantidade da água;

 Promoção e manutenção da paisagem em geral e do desenvolvimento do turismo ecológico, com a participação da iniciativa privada;

 Ampliação das oportunidades de lazer e recreação para a população do entorno das UCs;

 Educação ambiental servindo como base para consolidar a atitude de respeito às atividades e necessidade ligadas à conservação ambiental e à qualidade de vida;

 Contenção da urbanização contínua e desordenada;

 Consolidação de usos adequados e de atividades complementares à proposta do plano de manejo da UC (p. 348).

O termo zona tampão também é utilizado para a zona de amortecimento. Morsello (2008) relata que o conceito dessa área pode alterar em vários aspectos, dependendo das UCs envolvidas e dos gestores do local, tais como: tamanho e extensão necessária; restrições impostas aos terrenos que a compõem; localização em relação á delimitação legal da UC; tipos de usos alternativos do solo admitidos; permissão ou não de ocupação da população; entre outros.

Em um estudo sobre os fragmentos de vegetação natural remanescentes da Mata Atlântica, Vio (2004) menciona a importância das zonas de amortecimento para a efetiva proteção das UCs e da conservação da vegetação. Assim, o autor sugere a mudança do pensamento de uso alternativo do solo voltado apenas para agricultura, pecuária e mineração, para alternativas de manejo sustentável dos recursos florestais, possibilitando o uso econômico desses locais aliado conservação das áreas protegidas. Essa situação pode

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ser aplicada a toda UC e área protegida. O ideal seria a gestão integrada da paisagem e dos usos alternativos do solo, de forma a compatibilizar sempre a conservação da natureza com o desenvolvimento econômico.

A zona de amortecimento cumpre o papel de ampliar o espaço físico das UCs, auxiliando na conservação da natureza, formando uma faixa de proteção para a unidade. Além dos objetivos ambientais, a zona de amortecimento possui também uma importante função na contenção do crescimento urbano desordenado e no incentivo ao desenvolvimento do turismo ecológico e rural (VIO, 2001).

As propriedades que compõem a zona de amortecimento são, em geral, de domínio privado. Dessa forma, as restrições impostas para atingir os seus objetivos ecológicos e sociais são baseadas na determinação da Constituição Federal, que estabelece que é garantido o direito de propriedade, mas que esta atenderá à sua função social (artigo 5º, XXII e XXIII, Constituição Federal) (MACHADO, 2001). Esta, por sua vez, é composta por uma dimensão ambiental (artigo 186, II, Constituição Federal).

Dessa forma, é fundamental que a legislação seja aplicada com mais rigor na zona de entorno das UCs. A proteção da vegetação natural das reservas legais e das áreas de preservação permanente amplia a possibilidade de conservação in situ no local, além de aumentar a diversidade de habitats na paisagem. Deve-se ainda incentivar usos alternativos do solo que envolvam práticas agroflorestais, hortos, pequenas bosques de uso múltiplo, possibilitando o uso econômico da terra e o manejo da paisagem (FARIA & PIRES, 2007).

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