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BASES PARA UM DICIONÁRIO LINGUÍSTICO-GRAMATICAL

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Academic year: 2023

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D

Consoante oclusiva, dental, sonora. Quarta letra do alfabeto e quar- to numa seriação. Segundo Gilio Giacomozzi et al. (2004, s.v.), no la- tim antigo, a escrita era feita somente com maiúsculas. As letras mi- núsculas foram criadas na Idade Média.

Observe a evolução desta letra a partir dos fenícios:

Trata-se da letra que representa o fonema consonantal /d/. Exem- plos: dado, dedo, advogado, pedra. Quando esta letra for seguida de consoante que não seja r, os usuários tendem a inserir um [i], ou um [e], na língua oral. Assim, ad-mi-ra (três sílabas na língua escrita) > [a di mi ra] (quatro sílabas na língua oral), ad-vo-ga-do (quatro sílabas na língua escrita) > [a di vo ga du] (cinco sílabas na língua oral), ad mis são (três sílabas na língua escrita) > [a di mi sãw] (quatro sílabas na língua oral) e Dja ni ra (três sílabas na língua escrita) > [di ᴣa ni ra]

(quatro sílabas na língua oral).

A norma culta não admite esta inserção, quer na língua escrita (erro de ortografia), quer na língua oral (erro de ortoepia). Com d, seguido de r, não ocorre a inserção. Assim: dro-ga, a-dre-na-li-na. A letra d, se- guida imediatamente de e ou de i, pode em algumas regiões ser pro- nunciada [dᴣ]. Assim [dᴣi] e [dᴣia] para de e dia.

Veja os verbetes: Alfabeto, Consoante, Erro, Fonema consonantal, Latim, Letra, Língua, Língua portuguesa, Maiúscula, Minúscula, Nor- ma culta, Ortoepia, Ortografia e Sílaba.

D. & C.

D. & C. é abreviatura de dedicat et consecrat, dedica e consagra,

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expressão que frequentemente subscreve as dedicatórias nos livros an- tigos.

D. et C.

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), D. et C. é a forma abreviada de dedicat et consecrat, dedica e consagra, usada sobretudo nos títulos das obras, referindo-se ao mecenas que pa- trocinou a obra ou à pessoa a quem é dedicada.

d.C.

A abreviatura d. C., que quer dizer “depois de Cristo”, é usada após a data a que diz respeito.

D.C.O.

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), D.C.O. é a abreviatura de dedicat, consecrat et offertat, “dedica, consa- gra e oferece”, frequente, subscrevendo o título de uma obra ou uma composição poética que pretende dedicar-se a uma pessoa.

D.D.D.

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), D.D.D. é a abreviatura das seguintes expressões latinas: dono, dedit, dedicavit, ou do, dico, dedico ou dat, dicat, dedicat, todas elas tendo o sentido de oferta e dedicatória a um personagem a quem é dirigido o texto subscrito por esta sigla, geralmente laudatório.

D.V.C.

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), D.V.C. é o conjunto de iniciais com o significado de dedicat, vovet et consecrat, isto é, “dedica, vota e consagra”, muito utilizadas para subs- crever uma dedicatória ou prefácio.”

Da época

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), da época é uma expressão usada quando se pretende dizer que uma en- cadernação, uma nota manuscrita etc., são contemporâneas da data de escrita ou de impressão do livro.

Dáctilo

Dáctilo é o pé de verso grego ou latino, de uma sílaba longa seguida de duas breves.

Veja o verbete: Pé.

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Dadaísmo

Segundo Massaud Moisés (2004, s.v.), dadaísmo é o movimento de artistas plásticos e poetas, nascido em Zurique, a 8 de fevereiro de 1916, parcialmente em razão da atmosfera convulsa da I Guerra Mun- dial. Tristan Tzara (1896-1963) liderava o grupo fundador, composto de Hans Peter Wilhem Arp (1886-1966), Hugo Ball (1886-1927) e Ri- chard Hueselbenck. “Dada”, vocábulo escolhido para lhes sintetizar a plataforma estética, teria surgido casualmente, pela inserção de uma espátula num Petit Larousse, onde a referida palavra se destacava entre as demais. O modo como a rubrica das suas aspirações foi encontrado revela, desde logo, o caráter do movimento dadaísta.

É que, como asseverava Tristan Tzara, em letras garrafais, “dada não significa nada”; reagindo contra tudo e todos, o dadaísmo preten- dia-se exterminador; propunha-se desmantelar todos os valores consa- grados, fossem quais fossem, não para construir algo em seu lugar, algo julgado melhor ou utopicamente desejável, ma pelo simples gosto de pôr abaixo as instituições estabelecidas, as correntes estéticas em moda, a burguesia, a psicanálise, a filosofia etc., a tal ponto que o seu funda- dor resume tudo numa frase: “os verdadeiros dadás estão contra DA- DÁ” (TZARA, 1972, p, 49).

Espécie de última encarnação do Romantismo, levava o prazer gra- tuito da anarquia ao extremo possível, no gozo de uma espontaneidade que se diria infantil não fosse baseada num pensamento intelectualmen- te elaborado. Refutando todos os “ismos”, sistemas e manifestos, a ló- gica, a memória, a arqueologia, os profetas, o passado, o presente, o fu- turo, – os dadaístas queriam ser totalmente livres, de forma que “dada”

e “liberdade” se tornassem vocábulos sinônimos. Para consegui-lo, usavam da inteligência, do talento e do humor cuasticante, irreverente, destruidor.

O Nada, que resultava dessa desintegração completa, e na qual pu- nham o seu objetivo máximo, manifestava-se por meio de colagens pic- tóricas e verbais arbitrárias, numa entrega ao acaso e divertimento lúdi- co que não ambicionava senão colecionar, dissolver, desmanchar, sem ordem nem sentido. Literariamente, traduzia-se numa sintaxe esdrúxu- la, desarticulada, nem mesmo obediente a um propósito oculto de orde- nação, como se a revolta se instalasse para sempre no reino das pala- vras e a lógica da sua estruturação explodisse nos ares.

Não obstante, os seus adeptos frequentavam regularmente o Caba- ret Voltaire, na capital suíça; desses encontros resultou a publicação de uma revista com igual título, na qual inseriram o primeiro manifesto do

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grupo, e em julho de 1917 lançavam Dada, Recuel d’Art et de Littéra- ture, a que se seguiu Dada II, Dada III, Anthologie Dada, Dadaphone etc., até 1919.

Enquanto esses episódios se desenrolavam em Zurique, por coinci- dência, en Nova York, três pintores, Henri Robert Marcel Duchamp (1887-1964), Francis-Marie Martinez Picabia (1879-1953), europeus, e Man Ray, norte-americano, entregavam-se a experiências semelhantes.

E a Alemanha conheceria o dadaísmo logo após o armistício, graças a Richard Hueselbenck.

No fim de 1919, Tristan Tzara (1896-1963) se muda para Paris, on- de o movimento continua, agora com a adesão de André Breton (1896- 1966), Louis Aragon (1897-1982), Philippe Soupault (1897-1990), Paul Éluard (pseudônimo de Eugène Emile Paul Grindel, 1895-1952), Geor- ges Ribemont-Dessaignes (1884-1974). No Salão dos Independentes, que organizam a 5 de fevereiro de 1920, promovem um sarau dadaísta, no qual seriam lidos manifestos. Escândalo geral, aliás de acordo com as previsões do grupo: o dadaísmo ganhava notoriedade pública. Apa- rece o Dada 5, e a onda de negativismo culmina pela autodestruição, uma vez que apregoavam o extermínio dos pintores, músicos, esculto- res, literatos, republicanos, monarquistas, liberais, imperialistas, comu- nistas etc.

Por último, pregam a dissolução do próprio Dada: o sarcasmo diri- gido contra todos acaba por voltar ao ponto de partida, e a própria arte, esfera na qual o dadaísmo se move, é friamente negada. O movimento chega ao ápice em matéria de agitação escandalosa, mas começa, ao mesmo tempo, a agonizar.

Em 27 de março de 1920, realizam outra noitada, na qual leem o Manifesto Canibal na Escuridão, de niilismo extremo, e em 26 de maio, em Festival dada, que desencadeia forte indignação do auditório.

A partir de 1921, o dadaísmo esmorece: em junho de 1923, ainda levam a efeito uma Soirée du Coeur à Barbe, que acaba em pancadaria entre os próprios dadaístas, a ponto de requerer a intervenção da polícia.

Cindido, desgastado pelo afã devastador, carbonizado nas chamas em que se alimentava, o dadaísmo entra em falência, simultaneamente ao aparecimento de novas propostas estéticas, como o Surrealismo, nasci- do por iniciativa de alguns companheiros de jornada, André Breton à frente.

Como leituras complementares, sugere-se O Dada e o Surrealismo, de Dawn Ades (1976) Theories of Modern Art, de Herschel Browning Chipp (1968); De Baudelaire au Surréalisme, de Marcel Raymond

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(1947) e Nuevas direcciones de la crítica literaria, de Guillermo de Torre (1971).

Dado linguístico

Veja os verbetes: Dados, Observatório.

Dado numérico

Dado numérico é o dado representado por número e, por extensão, por outros caracteres, que podem ser alfabéticos.

Dado textual

Dato textual, em catalogação em sistemas automatizados, é aquele que se destina a figurar numa entrada de catálogo, por oposição a dado codificado.

Dado/novo

Dado/novo é um modo de classificar os elementos de uma sentença de acordo com seu conteúdo informativo, segundo Robert Lawrence Trask (2015, s.v.). A maioria dos enunciados não é produzida isolada- mente; ao contrário, cada um deles é produzido em algum contexto que abrange aquilo que foi dito previamente e aquilo que o falante e o ou- vinte sabem, acreditam ou acreditam saber. Por isso, acontece com fre- quência que certa parte de um enunciado serve apenas para ligar esse enunciado ao contexto, ao passo que uma outra parte introduz algum ti- po de informação nova. Por isso, falamos da distinção dado/novo.

A parte dada de um enunciado representa aquela que já é, de algum modo, conhecida do ouvinte, ao passo que o novo representa a principal contribuição do enunciado. Considere-se esta interação verbal: Miguel:

Não sei quem é a mulher de roupa branca. / Beatriz: Ah, ela é a profes- sore de psicologia. Aqui, a resposta de Beatriz pode ser analisada como sendo formada pela parte dada ela e pela parte nova é a professora de psicologia.

A análise das sentenças e enunciados em termos de como organi- zam a informação teve por pioneiros os linguistas da Escola de Praga, no início do século XX, sob o nome de perspectiva funcional da sen- tença, especialmente pelo trabalho do tcheco Vilém Mathesius (1882- 1945). Em vez dos termos dado e novo, Vilém Mathesius utilizou os termos tema e rema, que ainda estão em uso hoje, especialmente entre os partidários da linguística sistêmica, embora os termos sejam usados, nessa teoria, de maneira levemente especializada. Há também linguistas que preferem usar com o mesmo sentido os termos tópico e comentá- rio.

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Como leituras complementares, Robert Lawrence Trask sugere o capítulo 20 de Syntax: A Linguistic Introduction to Sentence Structure, de Keith Brown e Jim Miller; o capítulo 18 de A Student’s Grammar of the Englih Language, de Sidney Greenbaum e Randolph Quirk; e o ca- pítulo 6 de Introducing Functional Grammar, de Geoff Thompson.

Veja o verbete: Tópico.

Dados

A linguística usa o termo dados em seu sentido geral, com referên- cia aos fenômenos que constituem seu material de estudos, segundo David Crystal, (2011, s.v.). No entanto, há duas teorias distintas sobre a natureza deste comportamento linguístico, geralmente vistas uma em oposição à outra. A concepção tradicional de dados linguísticos se limi- ta aos padrões observáveis da fala e da escrita, especialmente quando gravados e coletados em um corpus. A teoria linguística gerativista, por outro lado, vai além, incluindo os julgamentos (intuições) do usuá- rio de uma língua sobre a mesma como parte da matéria-prima para análise. Ainda existe muita controvérsia a respeito destas duas teorias opostas (basicamente associadas às divergências entre as filosofias behaviorista e mentalista), com críticas à limitada credibilidade e gene- ralidade dos dados observáveis, e à dificuldade de verificação e objeti- vidade de dados mentalistas, como evidência do sistema linguístico. Na aquisição da linguagem, a expressão "dados linguísticos primários" se refere à primeira língua com que a criança tem contato, através de pais, irmãos etc. Veja também o primeiro capítulo de An Introduction to En- glish Transformational Syntax, de Rodney Huddleston (1976).

Entre os atos de fala, segundo Jean Dubois et al. (1998, s.v.), toda teoria linguística retém alguns para deles fazer os seus dados (ou data) empíricos, reunidos num corpus.

É assim que não se deve alimentar ilusão sobre as possibilidades de estudar um ato de fala: importa que ele esteja acabado para se iniciar o seu estudo, porque esse estudo só é possível em relação a um ato pas- sado, o que comporta numerosas consequências.

Assim, também o estudo dos sons da língua jamais poderia ser ver- dadeiramente exaustivo. Mesmo o foneticista só retém para a sua pes- quisa certos aspectos de uma emissão fônica. Com maior razão, o fono- logista só se interessa pelos traços pertinentes dos sons da língua.

Não se podem, pois, confundir fatos empíricos e fatos físicos. Deve- se ter sempre em mente que toda observação dos fatos de língua é su- bentendida por uma teoria subjacente: mesmo em fonologia, domínio que poderia parecer objetivo, a construção teórica (no nível da teoria

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linguística geral e no das hipóteses sobre a estrutura fonológica da lín- gua examinada) é responsável pela construção do objeto estudado. Em linguística, como em qualquer outra ciência, deve-se observar com cui- dado a distinção entre objeto real e objeto da ciência.

É viva a polêmica entre os linguistas preocupados antes com reco- lher dados e os que cuidam primeiro da formulação das hipóteses teóri- cas. Para Noam Chomsky, a adequação da observação, isto é, do rigor na apresentação dos fatos observados, é o mais elementar objetivo que o linguista deva ter em mente. Uma gramática que explique a compe- tência linguística do falante nativo e especifique os dados como genera- lizações que exprimem as regularidades subjacentes, atinge um segun- do nível. Mas somente uma teoria linguística geral pode atingir o ter- ceiro nível, o da capacidade de julgar entre diversas gramáticas basea- das nos dados, de avaliá-los em função do critério de simplicidade.

Nessa nova perspectiva, os dados não mais se assimilam a um sim- ples corpus. Devem englobar simultaneamente o conjunto infinito dos acontecimentos físicos chamados atos de fala e a intuição do falante na- tivo a respeito desses acontecimentos. São, ao mesmo tempo, os enun- ciados e os juízos sobre eles emitidos que constituirão os dados.

Noam Chomsky, por exemplo, considera impossível a aquisição da língua pela criança a partir dos enunciados que ela ouve. É necessário que ela possua um mecanismo inato, o sistema da aquisição capaz de forjar diferentes gramáticas que expliquem enunciados ouvidos e, ao mesmo tempo, capaz de escolher entre elas a que melhor corresponda ao critério de simplicidade.

Na apreciação dessa concepção dos dados linguísticos, importará distinguir bem: 1) a importância polêmica epistemológica acerca da prioridade a ser conferida, num dado estado da ciência, à pesquisa dos fatos ou à teoria; 2) a tomada de consciência da necessidade de precisar o objeto do estudo linguístico; e, enfim, 3) o desenvolvimento da teoria gerativa transformacional como reação contra o empirismo da linguísti- ca americana que a precedera.

Dados bibliográficos

Dados bibliográficos são dados necessários à identificação de um documento: número, autor, título, origem, data de publicação etc.

Dados biográficos

Dados biográficos são elementos relativos à identificação de um in- divíduo, ou seja: o nome, a data de nascimento, a naturalidade, a filia- ção, a profissão, o endereço, o estado civil etc.

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Dados linguísticos primários

Carly Silva (1988, s.v.) ensina que dados linguísticos primários é uma expressão usada por Noam Chomsky (por exemplo, em 1964d, p.

26; 1965, p. 25 e 31) para designar o conjunto de informações à dispo- sição de quem aprende uma língua como falante nativo. Tais informa- ções abrangeriam exemplos de desempenho linguístico interpretados como orações bem-formadas da língua, exemplos de sequências não correspondentes a orações (assim, caracterizadas como resultado da correção das tentativas do aprendiz pela comunidade linguística) e mui- tas outras informações necessárias para a aprendizagem da língua. En- tende Noam Chomsky que os dados linguísticos primários são de natu- reza bastante precária, sendo esta uma das razões pelas quais o autor postula uma rica estrutura mental inata para explicar o processo de aquisição da linguagem.

James David McCawley (1968d, p. 560, nota 4) criticou a noção de dados linguísticos primários, sustentando que "quaisquer dados que dão à criança qualquer informação sobre o sentido de uma oração ou um morfema podem desempenhar um papel na aquisição da linguagem, in- clusive dados que não são 'primários' nem 'linguísticos'". Assim sendo, é preferível, segundo o autor, falar simplesmente em "dados", designa- ção que abrangeria não só o que dizem os outros membros da comuni- dade linguística, mas também o que a própria criança diz e a observa- ção, por parte dela, dos resultados do que é dito.

Dálmata

Dálmata é o mesmo que dalmático.

Dalmático

Língua românica, atualmente extinta, falada outrora na costa leste do Adriático. O nome decorre da antiga província romana da Dalmácia.

Registram-se dois dialetos no dalmático: o ragusano, conhecido so- mente através de uns poucos documentos medievais, e o velhoto, falado na Ilha de Velha. O dalmático subsiste em topônimos e, como substra- to, no croata.

Com a morte trágica, em 1898, de Antônio Udina, desapareceu da face da terra o último falante do dalmático. O dalmático sobrevive ape- nas em topônimos e como substrato, escasso, em termos croatas.

Dar a lume

Dar a lume ou dar à luz é o mesmo que publicar, divulgar sob for- ma impressa.

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Data

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), data é a menção do tempo em que uma obra foi escrita. Nos primeiros tempos, os manuscritos raramente eram datados, e as xilografias não apresentavam data. Na segunda metade do século XV, os incunábulos também raramente apresentavam data ou esta figurava apenas no co- lofão. As primeiras datas eram indicadas em algarismos romanos, tendo estes sido pouca a pouco substituídos pela numeração árabe. Os edito- res e impressores usavam por vezes formas enigmáticas ou cronográfi- cas para dissimular as datas.

Veja também o verbete: Dados.

Data de acesso

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), data de acesso é a data estabelecida por regulamento ou lei, variando consoante o tipo de documentação, disponibilizando os documentos à consulta pública, uma vez terminado o prazo de restrição ao acesso; da- ta em que uma publicação entra no registro de acesso. Também pode ser a data em que o consulente acessou um documento virtual na inter- net. Neste caso, é importante o registro da data de acesso, pois, além de haver documentos que são retirados de determinado local virtual ou mesmo retirado do acesso, além do fato de que o documento pode ter sido alterado depois daquela data.

Data de copyright

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), data de copyright é a indicação do ano em que foi feito o registro de uma publicação como propriedade de um autor, usualmente impressa no verso da sua página de título. Por vezes, são dadas várias datas, que significam alterações do texto ou renovações do copyright. A data da primeira copyright indica a data da primeira edição de um livro e cor- responde à data de impressão da edição original.

Data de dedicatória

Data de dedicatória é a data que aparece no início ou no fim da de- dicatória.

Data de edição

Data de edição é a data que indica o ano, o mês ou o dia em que de- terminada edição de uma obra foi produzida ou dada a público.

Data de impressão

Data de impressão é o ano em que se compõe e imprime uma pu-

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blicação. Nos livros antigos e, ainda hoje, em edições cuidadas, indica- se também o dia e o mês.

Data de introdução

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), data de introdução é a data de um livro, que aparece no início ou no fim da introdução. É usada em descrição bibliográfica, na zona da pu- blicação, quando o documento não apresenta qualquer outra, cujo fato se assinada em nota.

Data de prefácio

Data de prefácio é a data que se apresenta no início ou no fim do prefácio.

Data de publicação

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), data de publicação é a indicação do ano e mês e, se necessário, do dia em que numa obra foi publicada. É normalmente colocada no pé da pá- gina de título ou no verso ou ainda no colofão. Nos livros antigos, fazia parte, frequentemente, do colofão.

Data do colofão

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), data do colofão é a menção do tempo em que uma obra foi escrita, apresentado no colofão e que, à falta da data da edição ou impressão na página de rosto ou página de rosto substituta ou outras páginas prelimi- nares, é q que vai figurar na descrição ou na referência bibliográfica.

Data littera

Na Idade Média, data littera significava, literalmente, o momento de redação de um documento.

Datação

Em lexicografia, a etimologia da palavra de entrada é muitas vezes acompanhada da data da primeira atestação escrita, seguida da referên- cia à obra de onde este primeiro uso foi tomado. Essa datação é dada como o primeiro aparecimento da palavra na língua. Por exemplo, a pa- lavra linguística, segundo Antônio Houaiss (2009, s.v.), é de 1858.

Datação do manuscrito

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), datação do manuscrito é a operação que consiste na atribuição ao ma- nuscrito de uma data ou datas. Dato que a maior parte dos manuscritos não apresenta indicação de ano de ano de cópia, tem de se fazer uma

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estimativa do século da escrita, individualizando possivelmente as par- tes (por exemplo, metade, um terço, um quarto etc.) com base em ob- servações paleográficas e codicológicas, elementos internos etc.

datil.

Datil. é abreviatura de “datilografado”.

Datílico

Diz-se do verso formado por pés dátilos, de acordo com a métrica greco-latina. Os pés dátilos são os que têm quatro tempos, sendo uma sílaba longa e duas subsequentes breves, correspondendo a uma semí- nima ou a duas colcheias.

Datilografia

Datilografia é a arte de escrever a máquina.

Datilografia original

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), numerosos escritores datilografaram as suas próprias obras. Esses tex- tos são hoje procurados avidamente pelos bibliófilos, tanto que apre- sentam muitas vezes correções autógrafas, o que confirma a sua atri- buição. Esta situação não se repetirá com o atual processo de texto no suporte informático, onde essas correções não deixam o mínimo vestí- gio.

Datilógrafo

Datilógrafo é a pessoa que escreve a máquina.

Datilologia

Sistema de representação gestual do alfabeto utilizado por línguas oral-auditivas. Cada letra do alfabeto na datilologia tem uma configura- ção gestual específica que permite soletrar as palavras. É utilizado por surdos conjuntamente com a língua de sinais icônicos.

Veja os verbetes: Letra e Libras.

Datiloscrito

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), datiloscrito é o texto escrito a máquina, o que aconteceu depois de 1876 e, na generalidade, só a partir do início do século XX, ou proces- sado, a partir dos anos 1970 em diante. Datiloscrito é o testemunho de um texto (autógrafo ou cópia) em forma mecanografada.

Veja o verbete: Mecanoscrito.

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Datismo

Datismo é o emprego redundante de palavra sinônima. Não raro ví- cio de linguagem, pode, contudo, constituir figura, se bem empregado.

Dativo

Denominação correspondente à escolhida pelos gramáticos gregos para um caso que aparecia normalmente como complemento do verbo dar e sinônimos. É o casus dandi de Marco Terêncio Varrão (116-27 a.C). O dativo indica o ser, geralmente pessoa, a quem a ação (intransi- tiva ou transitiva acompanhada do respectivo complemento) interessa- va, favorecendo, prejudicando ou atingindo simplesmente. A esse com- plemento verbal, os gramáticos franceses denominariam mais tarde ob- jeto indireto. Exemplo: “Dedi librum Petro” (“Dei o livro a Pedro”).

Segundo Franck Neveu (2008, s.v.), nas línguas flexionais, o dativo, construído com os verbos de transferência, é um caso reservado à ex- pressão do destinatário da ação, frequentemente em correlação com uma estrutura acusativa, que exprime a entidade transferida.

Por exemplo, em latim: “Do librum amico”, “Dou um livre a meu amigo”; “Mittere equites auxilio legioni laboranti, “Enviar os cavalei- ros em auxílio a uma legião em dificuldade” (exemplos empregados por Guy Serbat, 1980). Em basco: “Baïgorriri saria eman diote”, “De- ram o prêmio a Baïgorry” (exemplos emprestado de Jacques Allière, 1979). A estrutura dativa é representada, em francês, pelos sintagmas preposicionados (ou seus substitutos pronominais) em função do com- plemento chamado de segundo objeto (complemento de atribuição, na antiga gramática escolar). Chama-se dativo ético a direção que serve à expressão de interesse tomada pelo sujeito na ação. Exemplo: “Então, você me agride o chefe dessa forma!?” Essa modalidade, construída, em francês, com pronomes pessoais conjuntos, é uma adaptação do da- tivo ético latino, variedade atenuada do dativo de interesse.

Dativo de fim: Trouxe isto para você.

Veja os verbetes: Caso e Objeto.

Dativo de interesse

Segundo Tassilo Orpheu Spalding (1971, s.v.), dativo de interesse é a construção latina, usada em português, em que os possessivos são substituídos por pronomes oblíquos. Exemplos: Não me apertes o bra- ço! (Não apertes o meu braço!), Roubaram-me o capote (Roubaram o meu capote). Apesar de semelhante, não é exatamente a mesma coisa que dativo ético, podendo ser considerado um subtipo de dativo ético.

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Dativo ético

Dativo ético ou dativo de interesse é a pessoa incluída na ação ver- bal, sem tomar parte nela, tratando-se de um emprego enfático do pro- nome oblíquo. Esta forma de dativo só aparece representada pelos pro- nomes átonos me, te, se, nos, vos, lhe, lhes, junto ao verbo. Exemplo:

"Não me deixes de estudar, menino!" Embora seu uso seja quase exclu- sivo da língua falada, particularmente do diálogo no ambiente familiar, não faltam exemplos na literatura. Exemplos: "Não me suba pelo cor- rimão!". "Não me atirem pedras no telhado!". “Nem pensar que um dia / me podeis morrer, Senhora” (Eugênio de Castro). “Badala-me assim, badala” (Vicente de Carvalho). “E ver agora um ninguém / vir-me ao Porto dar a lei” (João de Deus). Diga-me isto ao diretor!... Ele me foi entregar o dinheiro justamente a ela!... Agora, ele me saiu com esta.

Não me reprovem estas ideias! "Ânimo, Brás Cubas, não me sejas pa- lerma". (Machado de Assis). "D. Lucrécia, vós com esses vestidos de luto! Pois não é hoje um dia de... festa para nós ambas! Oh! mudai- mos, mudai-mos breve!" (Gonçalves Dias)

O dativo ético, segundo Jean Dubois et al. (1998, s.v.), indica uma participação do sujeito na ação expressa pelo verbo. Exemplo: Caue mihi mendaci quicquam ["Não me venhas com qualquer mentira"]

(Plauto, apud Ernesto Faria, 1958, 352-353). Mihi é o dativo étido, e o exemplo também serve para o português, pois, me, em Não me ve- nhas... também é um caso de dativo ético.

Veja os verbetes: Realce e Objeto.

Dativus commodi

Dativus commodi é expressão latina usada para designar o caso in- dicativo da pessoa em cujo proveito recai a ação verbal. Exemplo: Tra- balhar para os outros (os outros seria expresso em dativo) (JOTA, 1981, s.v.).

Dativus incommodi

Dativus incommodi é o dativo que representa a pessoa sobre a qual recai a ação prejudicial do verbo.

Datum et datum

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), datum et datum é a locução latina que indica a fórmula usada nos do- cumentos antigos para indicar que um instrumento foi projetado e es- crito no mesmo tempo e dia nele indicados.

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DC

DC é o acrônimo de Dewey Decimal Classification, classificação decimal de Dewey, assim como o acrônimo DDC.

DDC

DDC é o acrônimo de Dewey Decimal Classification, classificação decimal de Dewey. É o mesmo que DC.

DE

Abreviação de descrição estrutural, usada na gramática gerativa.

De costas

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), de costas é a expressão usada para designar duas obras encadernadas untas de tal modo que abrem em sentido oposto, sendo comum às duas uma das três capas utilizadas, tendo as duas lombadas opostas assim como as orlas dianteiras. É frequentemente usado em obras redigidas em duas línguas.

Também se usam as expressões: dos à dos (em espanhol) e tête- bêche (em francês).

De pane lucrando

De pane lucando é locução latina que aparecia em obras artísticas ou literárias realizadas exclusivamente com finalidades lucrativas como uma espécie de epígrafe, com o sentido de “para ganhar o pão”.

De verbo ad verbum

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), de verbo ad verbum é a locução latina que quer dizer “palavra por pa- lavra”, expressão utilizada sobretudo para trans

Debate

Segundo Sérgio Roberto Costa (2018, s.v.), no cotidiano, debate é uma discussão acirrada, altercação, contenda por meio de palavras ou argumentos ou exposição de razões em defesa de uma opinião ou con- tra um regimento, ordem, decisão etc. Na área jurídica, discussão ou argumentação entre defesa e acuação, diante de uma assembleia, antes do julgamento, exame conjunto de um assunto, questão ou problema.

Na política, discussão, argumentação e resolução formais de uma mo- ção diante de uma assembleia legislativa ou outro corpo deliberativo público, de acordo com as regras do procedimento parlamentar ou re- gulamentar. Pertencente mais comumente à comunicação oral, em to- dos os seus tipos, predomina a linguagem argumentativa e/ou expositi-

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va.

Este gênero coloca em jogo capacidades humanas fundamentais sob o ponto de vista: a) linguístico, como as técnicas de retomada do dis- curso do outro, marcas de refutação etc.; 2) cognitivo, como as capaci- dades crítica e social (escuta e respeito pelo outro) e c) individual, co- mo as capacidades de se situar, de tomar posição, de construção de identidade. Entre outros, podem se destacar alguns tipos de debate:

a) debate de opinião de fundo controverso: visa à compreensão de um assunto controverso (por exemplo, “A favor ou contra a clonagem de seres vivos”), já que possui várias facetas ou permite várias posições e pode também influenciar a posição do outro, como também preci- sar/forjar ou transformar/modificar a própria opinião;

b) debate deliberativo: visa, após a discussão de um tema (por exem- plo, “Realizar uma festa de formatura” ou “Escolher um lugar para pas- sear”) que permite a explicitação e exposição de motivos de cada parti- cipante, à tomada de uma decisão que pode estabelecer soluções origi- nais para algo que era anteriormente polêmico;

c) debate para resolução de problemas: valendo-se de um conhecimen- to comum dos debatedores (por exemplo, “Eclipse lunar”, “Reprodução humana”), cuja solução existe, mas não é totalmente conhecida, o gru- po deve construir uma proposta de solução com base nas contribuições de cada debatedor;

d) debate público regrado: os debates podem ter uma forma livre, e ca- da debatedor expressa o que pensa e o que acha sobre o tema, ou po- dem também ter regras (debate regrado), com a presença de um mode- rador que assegura o papel de síntese, de reenfoque, de reproposição, não permitindo uma dispersão desnecessária. Este é um modelo de de- bate muito comum, usado pelos meios de comunicação, em época de eleições.

Joaquim Dolz, Bernard Scheneuwly, Jean-François de Pietro e Ga- brielle Zahnd, 1998 (in Bernard Scheneuwly et al., 2004, p. 259-260) dizem que, sob o ponto de vista didático e pedagógico, “trata-se de um debate por meio do qual os alunos desenvolvem seus conhecimentos, ampliando seu ponto de vista, questionando-o e integrando – em dife- rentes graus do ponto de vista dos outros debatedores (MILLER, 1987;

NONNON, 1996/1997). Além disso, um tal modelo permite também distingui-lo dos outros tipos de debate (como o debate deliberativo, em que uma decisão deve afinal ser tomada) e mesmo de gêneros mais ou menos próximos – tais como a conversa ou a discussão”.

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Debitivo

Debitivo se diz do modo verbal, no báltico, que denota obrigação. É também o nome desse modo verbal.

Debordamento

Termo com que se pode traduzir em português o termo inglês over- lapping, que se refere à substituição de um fonema de uma forma lin- guística pelo outro fonema que constitui com ele um par opositivo. Do debordamento resulta, portanto, uma neutralização da oposição referi- da. Na fonologia portuguesa, convém classificar como debordamento o emprego de /ê/, /ô/ por /é/, /ó/, respectivamente, ou vice-versa, bem como no Brasil a mudança de timbre de uma vogal pretônica por har- monização. Dentro desse ponto de vista, há uma diferença de conceito entre a neutralização e o debordamento: naquela, elimina-se a oposição dos fonemas; neste, cria-se uma flutuação na escolha de um ou outro fonema da oposição.

Noutro sentido, pode-se usar o termo debordamento para traduzir na técnica do verso o que em francês se chama enjambement ou caval- gamento.

Debreagem

Debreagem, segundo Valdir do Nascimento Flores et al. (2018, s.v.), é a operação de projeção para fora da instância de enunciação.

A debreagem é um dos mecanismos de instauração de pessoas, es- paços e tempos no enunciado. O outro mecanismo é a embreagem. A debreagem é uma operação pela qual a instância da enunciação projeta para fora dela as categorias ligadas à sua estrutura de base (a pessoa, o tempo e o espaço) para constituir os elementos sobre os quais se assen- ta o enunciado-discurso. Dessa forma, ela povoa o enunciado de pesso- as e inscreve as ações e os estados num tempo e num espaço.

Sugere-se a leitura de As astúcias da enunciação: as categorias de pessoa, espaço e tempo, de José Luiz Fiorin; Sémiotique: dictionnaire raisonné de la théorie du langage; e Dicionário de semiótica, de Algir- das Julius Greimas e Joseph Courtés.

Veja os verbetes: Embreador, Embreagem, Debreagem enunciativo e Debreagem enunciva.

Debreagem actancial

Debreagem actancial, segundo Valdir do Nascimento Flores et al.

(2018, s.v.), é o procedimento de projeção para fora da instância de enunciação de um não eu, instalando no discurso tanto os parceiros do ato enunciativo compreendidos pelo eu e o tu, quanto a posição narrati-

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va que compreende o ele.

A debreagem actancial instala no discurso, tanto os actantes da enunciação (eu/tu), quanto os actantes do enunciado (ele). Nesse tipo de debreagem, projeta-se para fora da instância da enunciação sempre um não eu, porque o enunciador, responsável pela produção do enunci- ado, é sempre implícito e pressuposto. Ele não se manifesta nunca no discurso. Qualquer eu projetado no interior do discurso-enunciado não pode ser considerado o enunciador propriamente dito nem se identifica com ele. Esse eu será um narrador, que não se confunde com o autor (enunciador). Assim, o não eu instalado no discurso enunciado será um eu/tu, actantes da enunciação, quando o texto for narrado em primeira pessoa, ou um ele, quando o narrador se ausentar no enunciado, nos textos ditos narrados em terceira pessoa. Observe-se que a terminologia narrado em terceira pessoa é imprecisa, porque, por definição, que fala é a primeira pessoa. Na verdade, os enunciados “narrados em terceira pessoa” são aqueles em que o narrador se oculta sob uma camuflagem objetivante.

Sugere-se a leitura as páginas 59 a 126 de As astúcias da enuncia- ção: as categorias de pessoa, espaço e tempo, de José Luiz Fiorin; as páginas 79 a 81 de Sémiotique: dictionnaire raisonné de la théorie du langage; e Dicionário de semiótica, de Algirdas Julius Greimas e Jo- seph Courtés.

Veja os verbetes: Debreagem, Debreagem enunciativa e Debrea- gem enunciva.

Debreagem enunciativa

Debreagem enunciativa, segundo Valdir do Nascimento Flores et al. (2018, s.v.), é o procedimento de projeção para fora da instância de enunciação e de instalação no enunciado dos parceiros do ato enuncia- tivo compreendidos pelo eu e o tu, do espaço da enunciação e do tempo da enunciação.

Na debreagem enunciativa, instalam-se no enunciado os actantes da enunciação (eu/tu), o que cria uma narrativa em que o narrador se ex- plicita como eu e em que se pode também explicitar o “leitor” a quem ele se dirige. Instauram-se também o espaço do aqui e aqueles que se organizam a partir do espaço enunciativo (por exemplo, aí, ali, lá). Ins- tituem-se os tempos relacionados diretamente ao presente da enuncia- ção (concomitância, anterioridade e posterioridade ao presente). Na medida em que na debreagem enunciativa se estabelecem actantes, es- paços e tempos enunciativos, temos uma debreagem actancial enuncia- tiva, uma debreagem espacial enunciativa e uma debreagem temporal

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enunciativa. Esse tipo de debreagem cria um efeito de sentido de subje- tividade. Observe-se, por exemplo, o início do poema “Tabacaria”, de Álvaro de Campos, um dos heterônimos de Fernando Pessoa: “Não sou nada. / Nunca serei nada. / Não posso querer ser nada. / à parte isso, te- nho, tenho em mim todos os sonhos do mundo”. A debreagem enuncia- tiva produz a enunciação enunciada, ou seja, os elementos da enuncia- ção que estão projetados no enunciado.

Sugere-se a leitura as páginas 41 a 56 de As astúcias da enuncia- ção: as categorias de pessoa, espaço e tempo, de José Luiz Fiorin.

Veja os verbetes: Debreagem e Debreagem enunciva.

Debreagem enunciva

Debreagem enunciva, segundo Valdir do Nascimento Flores et al.

(2018, s.v.), é o procedimento de projeção para fora da instância de enunciação e de instalação no enunciado da posição narrativa que com- preende o ele, do espaço do enunciado e do tempo da enunciação.

Na debreagem enunciva, instalam-se no enunciado os actantes do enunciado (ele), o que cria uma narrativa em que o narrador se ausenta do enunciado, o que é imprecisamente denominado narrativa em ter- ceira pessoa. Nela é como se os fatos se narrassem a si mesmos. Ins- tauram-se também os espaços que não têm nenhuma relação com o es- paço enunciativo (por exemplo: no primeiro capítulo da segunda parte de O Guarani, de José de Alencar, aparece a seguinte frase: “No vasto copiar do pouso havia três pessoas contemplando com um certo prazer a luta espantosa dos elementos”). Instituem-se os tempos relacionados, seja a um marco temporal pretérito (concomitância, anterioridade e posterioridade ao pretérito), seja a um marco temporal futuro (concomi- tância, anterioridade e posterioridade ao futuro). Na medida em que na debreagem enunciava se estabelecem actantes, espaços e tempos enun- civos, temos uma debreagem actancial enunciva, uma debreagem espa- cial enunciava e uma debreagem temporal enunciva. Esse tipo de de- breagem cria um efeito de sentido de objetividade. Efetivamente, se os fatos parecem narrar-se a si mesmos, num espaço não relacionado ao da enunciação e num tempo pretérito ou futuro, que simulam o tempo cósmico, então se tinge o texto de “objetividade”. A debreagem enun- civa produz o enunciado enunciado, que é assim chamado para mostrar que mesmo o que parece escapar ao ato enunciativo é enunciado, isto é, resultante do ato enunciativo.

Sugere-se a leitura das páginas 41 a 56 de As astúcias da enuncia- ção: as categorias de pessoa, espaço e tempo, de José Luiz Fiorin.

Veja os verbetes: Debreagem e Debreagem enunciativa.

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Debreagem espacial

Debreagem espacial, segundo Valdir do Nascimento Flores et al.

(2018, s.v.), é o procedimento de projeção para fora da instância de enunciação de um não aqui, fundando no discurso, ao mesmo tempo, o espaço objetivo do enunciado e o simulacro do espaço da enunciação.

Na debreagem espacial, projeta-se para fora da instância da enunci- ação sempre um não aqui, porque um aqui instalado no discurso- enunciado será sempre diverso do espaço pressuposto da enunciação.

Esse não aqui se manifestará como um simulacro do espaço da enunci- ação ou como um espaço criado no interior do enunciado, sem qualquer relação com o aqui enunciativo. Por exemplo, quando o poeta diz “Mi- nha terra tem palmeiras; / Onde canta o sabiá; / As aves que aqui gor- jeiam, / Não gorjeiam como lá”, o espaço marcado pelo advérbio aqui é um simulacro do espaço da enunciação, pois é diferente do aqui da enunciação pressuposta, e o espaço assinalado pelo advérbio também é um espaço da enunciação, porque é determinado a partir do aqui. O espaço “objetivo” do enunciado é aquele que não é construído a partir de um aqui. No início do capítulo V de O Guarani, aparece a seguinte frase: “No pequeno jardim da casa do Paquequer, uma linda moça se embalava indolentemente numa rede de pala presa aos ramos de uma acácia silvestre”. O espaço marcado pelo adjunto adverbial de lugar

“no pequeno jardim da casa do Paquequer” é um espaço ser relação com o lugar da enunciação. Por isso, diz-se que ele é do domínio do es- paço “objetivo” do enunciado. O termo objetivo aparece entre aspas, para indicar que esse espaço é também uma criação da enunciação, e que, colocá-lo fora da relação com o aqui da enunciação, é uma astúcia enunciativa, para criar um efeito de sentido de objetividade.

Sugere-se a leitura das páginas 257 a 299 de As astúcias da enunci- ação: as categorias de pessoa, espaço e tempo, de José Luiz Fiorin; das páginas 81 e 82 de Sémiotique: dictionnaire raisonné de la théorie du langage; e Dicionário de semiótica, de Algirdas Julius Greimas e Jo- seph Courtés.

Veja os verbetes: Debreagem, Debreagem enunciativa e Debrea- gem enunciva.

Debreagem interna

Debreagem interna, segundo Valdir do Nascimento Flores et al.

(2018, s.v.), é a operação de projeção para fora da instância de enuncia- ção realizada por um actante já instalado no enunciado.

Na debreagem interna (na instauração no enunciado, das categorias de pessoa, espaço e tempo), um actante já instalado no enunciado, seja

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ele o narrador ou um ator do enunciado, dá a palavra a outro, operando assim uma debreagem de segundo ou de terceiro grau. É, assim, por exemplo, que se constitui um diálogo. Observe o texto que segue, reti- rado do capítulo XVIII de Quincas Borba, de Machado de Assis: “– Os conservadores não se demoram no poder, disse-lhe finalmente Cama- cho. – Não? – Não; eles não querem a guerra, e têm de cair por força”.

O narrador, instalado no enunciado por uma debreagem, realiza uma nova debreagem, dando a palavra a Camacho e a Rubião. A afirmação

“disse-lhe finalmente Camacho” é do narrador. Os atores do enunciado tomam a palavra, tornando-se, portanto, um eu. Essa é uma debreagem interna de segundo grau. Se, dentro do diálogo, alguém realizasse uma nova debreagem, seria ela de terceiro grau. Exemplo: “O Coronel, um tanto chocado, confidenciou-nos: – Minha mulher hoje chegou para mim e disse: – Quero me separar de você”. Teoricamente, os graus de debreagem são infinitos. Na prática, é raro irem além do terceiro grau.

As debreagens internas produzem um efeito de referencialização, pois é como se um ator estivesse repetindo literalmente o que o outro disse.

Sugere-se a leitura das páginas 41 a 56 de As astúcias da enuncia- ção: as categorias de pessoa, espaço e tempo, de José Luiz Fiorin

Veja os verbetes: Debreagem, Debreagem enunciativa e Debrea- gem enunciva.

Debreagem temporal

Debreagem temporal, segundo Valdir do Nascimento Flores et al.

(2018, s.v.), é o procedimento de projeção para fora da instância de enunciação de um não agora, instituindo no discurso um simulacro do agora da enunciação e também construindo o tempo objetivo do enun- ciado, a partir de um marco temporal pretérito ou futuro, que se pode denominar o tempo de então.

Na debreagem temporal, projeta-se sempre, para fora da instância da enunciação, um não agora, porque um agora instalado no discurso enunciado será sempre diverso do tempo pressuposto da enunciação.

Esse não agora se manifestará como um simulacro do tempo da enun- ciação ou como um tempo criado no interior do enunciado, a partir de um marco temporal pretérito ou futuro. No capítulo IX da segunda par- te do romance Senhora, de José de Alencar, lemos: “Tornemos à câma- ra nupcial, onde se representa a primeira cena do drama original, de que apenas conhecemos o prólogo. Os dois atores ainda conservam a mes- ma posição em que os deixamos”. O narrador, depois de um longo rela- to de fatos passados, retoma a história no ponto em que a suspendera no

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final da primeira parte. O anúncio da retomada é feito no agora da nar- ração. Daí a utilização do presente, que indica uma concomitância ao momento do ato enunciativo, e o pretérito perfeito, que aponta para uma anterioridade ao presente. Esse agora não é o agora da enunciação pressuposta, mas um simulacro construído no enunciado. No capítulo I da segunda parte da mesma obra, aparece o seguinte texto: “Dois anos antes deste singular casamento, residia à Rua de Santa Teresa uma se- nhora pobre e enferma. Era conhecida por D. Emília Camargo; tinha em sua companhia uma filha já moça, a que se reduzira toda sua famí- lia”. Instala-se no enunciado um marco temporal pretérito “Dois anos antes deste singular casamento”. A partir desse tempo de então (oposto ao agora da enunciação), estabelecem-se concomitâncias durativas (re- sidia, era conhecida, tinha) e uma anterioridade (reduzira). Esse é o tempo “objetivo” do enunciado. O termo objetivo aparece entre aspas, para indicar que se trata de um efeito de sentido construído pela enun- ciação.

Sugere-se a leitura das páginas 127 a 255 de As astúcias da enunci- ação: as categorias de pessoa, espaço e tempo, de José Luiz Fiorin; a página 81 de Sémiotique: dictionnaire raisonné de la théorie du lan- gage; e Dicionário de semiótica, de Algirdas Julius Greimas e Joseph Courtés.

Veja os verbetes: Debreagem, Debreagem enunciativa e Debrea- gem enunciva.

Década

Década é a estrofe de dez versos.

Veja os verbetes: Décima e Estrofe.

Decadentismo

Veja o verbete: Simbolismo.

Decaimento morfêmico

Veja o verbete: Glotocronologia.

Decalcar

Decalcar uma prova é reproduzir um original por meio de cópia fei- ta em papel transparente; transfoliar ou imitar servilmente.

Decalque

Tipo de empréstimo linguístico em que a forma exterior é da língua que recebe e a forma interior é da língua que transmite.

A palavra Ausdruck tem toda a aparência de um nome alemão. Na verdade, porém, é um decalque do latim expressio, pois a construção

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vocabular imita o latim, e as morfoses empregadas são as que corres- pondem ao latim: aus = ex; drck = pressio (cf. o verbo latino premere e o verbo alemão drücken, ambos com o mesmo sentido de "compri- mir").

O espanhol espejismo é, igualmente, um decalque do francês mira- ge, pois se procurou representar a ideia do termo francês com formas linguísticas do espanhol (o radical espanhol espejo é tradução do radi- cal francês miroir).

Quando, em nossa língua, um nacionalista exaltado não quer dizer futebol e sim balípodo, está usando disfarçadamente o próprio termo inglês, pois simplesmente dá vestes gregas aos mesmos elementos mór- ficos daquele idioma europeu: foot = poús, podós; quanto a ball tem radical correspondente ao grego bállo, eu ativo. O neologismo balípodo é, pois, um decalque do inglês foot-ball. Do mesmo modo, poderíamos exemplificar com a palavra cachorro-quente, do português, como de- calque do inglês hot dog .

O decalque pode ser simplesmente semântico, isto é, consistir na atribuição a um vocábulo de uma língua de um sentido novo importado de língua estrangeira. Assim, o sentido de "transpor mentalmente para a realidade" que ultimamente se tem dado ao verbo "realizar" (Você rea- lizou as intenções de seu adversário?) é empréstimo ao inglês to reali- ze (calcular, imaginar).

Não se deve confundir decalque (onde entre sempre um transporte de significado) com "adaptação fonética". Sinuca, por exemplo, em vez do inglês snooker, é uma adaptação fonética e não um decalque.

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), decalque ou decalco é a imagem esquemática ou esboçada numa folha de papel translúcido, sobre outra folha contento a imagem e desenhan- do naquele os elementos a transferir; calco. No tempo dos manuscritos, esta operação era, por vezes, feita através de um suporte impregnado de resina.

Decassilábico

Decassilábico se refere ao verso de dez sílabas, que pode ser imper- feito, heroico ou sáfico. Que tem dez sílabas.

Veja o verbete: Verso.

Decassílabo

Decassílabo é o verso ou a palavra de dez sílabas. É o mesmo que decassilábico.

O decassílabo heroico tem acentuação predominante na sexta e na

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décima sílaba métrica, como em “Um grupo destacava-se amoroso

(Castro Alves).

O decassílabo sáfico tem acentuação predominante na quarta, na oi- tava e na décima sílaba métrica, como em “Como a criança que ba- nhada em prantos...” (Cassimiro de Abreu).

O decassílabo imperfeito tem acentuação predominante na quarta e na décima sílaba métrica, havendo um acento secundário na oitava, como no seguinte exemplo: “Que o sangue podre das carnificinas...

(Augusto dos Anjos) Decástico

Veja os verbetes: Décima e Estrofe.

Decêmero

Decêmero ou decenário é uma publicação que sai a cada dez dias.

Decenário

Decenário ou decêmero é uma publicação que sai a cada dez dias.

Decibel

Decibel é a unidade de intensidade de som, correspondente à déci- ma parte do bel. O volume da voz varia de +20db (mais vinte decibéis) a -40db (menos quarenta decibéis), que corresponde a um fraco sussur- ro (JOTA, 1981, s.v.).

Veja o verbete: Lei de Weber y Fachner.

Decifração

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), decifração é o ato de decifrar. Ou seja, a leitura ou tradução daquilo que parece incompreensível ou enigmático, escrito sob forma obscura ou através de cifra. É a técnica que permite transformar uma imagem gráfica numa realização oral.

Decifrar

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), decifrar é ler e descobrir o que está escrito em cifra, ou compreender a complicação ou obscuridade du um texto, ou ainda, conseguir ler e en- tender o que está mal escrito.

Décima

Estrofe composta de dez versos, como neste exemplo de Castro Al- ves:

Às vezes quebra o silêncio Ronco estrídulo, feroz.

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Será o rugir das matas, Ou da plebe a imensa voz?...

Treme a terra hirta de sombria...

São as vascas da agonia Da liberdade no chão?

Ou do boro o braço ousado Que, sob montes calcado, Abala-os como um Tufão?!...

Segundo Massaud Moisés (2004, s.v.), décima designa a estrofe ou o poema de dez versos. Em vernáculo, podem se distinguir dois tipos de décima: a medieval, encontradiça desde a lírica trovadoresca até o século XVI, incluindo o Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, Luís Vaz de Camões e outros poetas do tempo, “era realmente uma falsa dé- cima, pois se compunha de duas quintilhas independentes pela rima e separadas por uma pausa” (MARTINS, 1969, s.v. “Estância”), consti- tuindo aquilo que na poética espanhola se denomina copla real. E a clásica, também chamada espinela, em homenagem ao seu presuntivo inventor, Vicente Gómez Martínez Espinel (1550-1624), poeta espa- nhol do século XVI, consta de uma quadra e de uma sextilha em ver- sos, redondilhos maiores (sete sílabas), separadas por uma pausa, obe- decendo no geral ao seguinte esquema de rima: abba / accddc. A qua- dra constitui uma espécie de mote, e a sextilha, de glosa: “na décima, para ser perfeita, deve haver uma cláusula de sentido completo, ou pelo menos aparente, no fim dos primeiros quatro versos, amplificando-os nos seis versos seguintes” (CARVALHO, 1867, p. 43).

Largamente empregada, sobretudo como estrofe, nos séculos XVII e XVIII, a décima foi menos apreciada pelos românticos, mas os parna- sianos repuseram-na em circulação. Em vernáculo, podem ser encon- trados exemplos desde a Fênix Renascida (século XVII) até Alberto de Oliveira (século XIX-XX). Os cantadores nordestinos utilizam-na com frequência.

Também chamada “pequeno soneto”, a décima, graças à condensa- ção de efeito que alcança, adapta-se eficazmente aos temas epigramáti- cos e satíricos, Pode, contudo, servir a fins líricos. Pode, contudo, ser- vir a fins líricos. De Gregório de Magos, que cultivou a décima como poema isolado, colhemos o seguinte espécime (“A um livreiro”):

“Levou um livreiro a dente / de alface todo um canteiro, / e comeu, sendo livreiro, / desencadernadamente. / Porém, eu digo que mente / a quem disso o quer tachar; / antes é para notar / que trabalhou como um mouro, / pois meter folhas no couro / também é encadernar”.

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Como leituras complementares, sugere-se Manual de versificación española, de Rudolf Baehr (1970); La poésie lyrique espagnole et por- tugaise à la fin du Moyen Âge, de Pierre Le Gentil (1949 e 1952) e Mé- trica española, de Tomás Navarro Tomás (1972).

Veja os verbetes: Estança, Estrofe e Vilancete.

Decisão

Decisão é um processo psicológico que se dá quando um indivíduo deve escolher entre muitas condutas possíveis, segundo Jean Dubois et al. (1998, s.v.). O conceito é usado em linguística sob os nomes de es- colha e seleção. No funcionalismo, a unidade de escolha é o monema.

Declaração

Termo usado na teoria dos atos de fala com referência a um tipo de enunciado onde as palavras do falante provocam uma nova situação no mundo exterior, como em Eu batizo esta criança..., Eu renuncio. Veja o capítulo 3 de Psychology and Language, de Herbert H. Clark e Eve V. Clark (1977).

Declaração é variação de afirmação, na classificação das funções das sentenças, em oposição a interrogação, ordem e exclamação.

Segundo Sérgio Roberto Costa (2018, s.v.), declaração é a manifes- tação escrita, às vezes oral, com ou sem testemunhas, de quantia, nú- mero e espécie de rendas, lucros, bens, mercadorias ou objetos, sujeitos a impostos ou direitos, como declaração de imposto de renda, declara- ção de bens, declaração para alfândega etc. Geralmente, os itens a se- rem preenchidos em formulário impresso ou eletrônico são predetermi- nados pelo órgão público.

No cotidiano, revelação, confissão oral ou escrita, informal, de sen- timento ou depoimento. No Direito, ato diplomático, pelo qual duas ou mais potências firmam acordo sobre determinado assunto. Neste caso, ganha, muitas vezes, a forma de código estatutário ou regimental, com capítulos, parágrafos, incisos etc. (Exemplo: Declaração Internacional dos Direitos Humanos).

Declarativo

Diz-se da frase que traduz uma declaração, opondo-se a imperati- va, a optativa e a exclamativa. Em relação a estas, que são derivadas, a frase declarativa é básica, primitiva, decorre da função intelectiva da linguagem e permite uma análise lógica. Melhor nome, na opinião de Celso Pedro Luft (1972, s.v.), seria expositiva ou enunciativa.

A oração declarativa pode ser afirmativa ou negativa. Exemplos:

José fez o dever. José não fez o dever.

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Verbo declarativo é o que exprime o enunciado puro e simples de uma asserção, como dizer, contar, declarar, anunciar, afirmar etc., por oposição aos verbos de opinião que se empregam quando a asserção que se faz é assumida (crer), ou que a dão como simples opinião (pen- sar).

Declarativa é o mesmo que assertiva e enunciativa.

Declinação

Ordenação sistemática das flexões casuais de um nome (substanti- vo, pronome ou adjetivo).

As flexões casuais indicam a função sintática do nome (substantivo ou adjetivo) ou pronome e, acidentalmente, também o gênero e o nú- mero. Essa ordenação pode dar origem a mais de um sistema de flexões e, então, cada sistema-tipo constitui uma declinação à parte.

Em latim, por exemplo, havia cinco declinações, cada uma delas com seis casos. Na passagem do latim para o português, os casos se re- duziram primeiramente a dois (o nominativo e o acusativo) e depois a um só (o acusativo). Por seu turno, as declinações de cinco passaram a três (a quarta incorporou-se à segunda e a quinta passou, em parte, à primeira e, em parte, à terceira declinação).

Em consequência, os nomes da 1ª declinação, terminados em -a, na maioria femininos, continuaram femininos em português e o -a final se converteu em desinência desse gênero. Os nomes da 2ª declinação, na maioria masculinos (os neutros se incorporaram ao masculino), deram em nossa língua masculinos terminados em -o, e essa vogal passou a ser vista como desinência desse gênero. Os nomes da 3ª declinação, masculinos ou femininos, deram em nossa língua palavras terminadas em -e ou em consoante, e, por isso, em português, os nomes em -e ou consoante podem ser masculinos ou femininos. Exemplos: a fonte, o monte, o sal, a cal. Quanto ao plural em -s, é uma decorrência da flexão do acusativo plural, sempre terminado nessa consoante nos nomes mas- culinos e femininos.

Em fonética, declinação é o mesmo que abaixamento tonal.

Em português, as declinações desapareceram completamente, ape- sar de termos pronomes do caso reto (correspondente ao nominativo, na função de sujeito) e do caso oblíquo (que incluem todas as demais fun- ções gramaticais do nome). Contudo, temos, ainda, vestígios que lem- bram os casos latinos, como anota Tassilo Orpheu Spalding (1971, s.v.):

1) Nominativo – Os vestígios deste caso, principalmente, referem-se a nomes próprios. Exemplos: Deus, Jesus, Lucas, Vênus, Ceres, Cícero,

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Nero, Moisés, Isaía, Mateus, Bóreas, Íris etc.

2) Genitivo – São poucos os vestígios mórficos deste caso no verná- culo, o que não é para causar estranheza, já que no latim vulgar, era ca- so de pouco uso. Exemplos: aqueduto (aquae ductus), viaduto (viae ductus), condestável (comes stabuli), jurisconsulto (juris consustus), legislação (legis lationem), petróleo (petrae oleum), terremoto (terrae motus). Como se vê dos exemplos, são formas compostas por aglutina- ção. Dos exemplos oferecidos, só "condestável" é de origem popular.

3) Dativo – Confundiu-se, muito cedo, com o locativo, genitivo, ablativo e instrumental (que é, também, ablativo); daí os poucos exem- plos que podemos respigar: crucifixo (cruci fixus). fideicomisso (fidei commissus).

4) Acusativo – caso lexicogênico. Através do acusativo, vieram quase todos os nomes latinos para o nosso léxico, salvo as raríssimas exceções que ora são examinadas.

5) Vocativo – Parece que desse caso (que não é complementar), só nos ficou a invocação "ave-maria".

6) Ablativo – Era o caso de maior emprego no latim. Afirma Antó- nio Feliciano de Castilho (1800-1885) que, em uma página de Cícero, verificou que dois terços dos substantivos e adjetivos estavam no abla- tivo. Afora "amanuense" (a manu ensis), todas as demais palavras que nos vieram através do ablativo são advérbios ou pronomes. Exemplos:

agora (hac hora), talvez (tali vice), boamente (bona mente), hoje (ho- die), comigo (cum mecu), contigo (cum tecu), convosco (cum voscu) etc.

Segundo Franck Neveu (2008, s.v.), chama-se declinação o conjun- to de formas flexionadas (ou o paradigma) de um nome, de um prono- me ou de um adjetivo. Estas variações flexionais são marcadas por de- sinências casuais que se unem ao tema radical da unidade lexical. O papel destas desinências é o de dar função sintática à palavra num enunciado. Guy Serbat (1980), a partir do latim, assim comenta os limi- tes do procedimento flexional da declinação:

“O procedimento flexional do latim apresenta diversos inconvenien- tes: ele está longe de atender à expressão de todas as relações que um nome pode assumir na frase. Assim o latim – como outras línguas com flexão, o alemão e o russo por exemplo – recorre simultaneamente a procedimentos bem diferentes, principalmente a emprego de preposi- ções. A coexistência de dois sistemas, flexional (sintético, o nome con- tém em si mesmo a marca da sua função) e preposicional (analítico, a função do nome estando indicada principalmente por uma outra pala-

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vra, a preposição) provoca sua concorrência e finalmente o desapare- cimento da flexão como conjunto de marcas distintivas” (SERBAT, 1980).

Veja os verbetes: Caso, Conjugação, Desinência, Flexão, Paradig- ma.

Declinação contracta

Declinação contracta é a declinação grega em que a vogal temática se contrai com a vogal inicial da desinência. O mesmo fato se observa na conjugação contracta (JOTA, 1981, s.v.).

Declinação flexiva

Declinação flexiva ou declinação orgânica é o mesmo que declina- ção, para diferir da chamada declinação sintática, a que se expressa pe- la posição das palavras ou com auxílio de morfemas não desinenciais (JOTA, 1981, s.v.).

Declinação forte

Declinação forte ou declinação indeterminada, em germânico, é a declinação pronominal dos adjetivos. É também a declinação dos no- mes de tema vocálico (JOTA, 1981, s.v.).

Declinação fraca

Declinação fraca, em germânico, é a declinação dos nomes em consoante ou dos adjetivos determinados.

Declinação imparissilábica

Declinação imparissilábica é a declinação dos nomes imparissilábi- cos, ou seja, daqueles nomes que têm número diferente de sílabas nos casos nominativo e genitivo.

Declinação mista

Declinação mista é a que engloba tipos diferentes de declinação ou casos de forma dúplice na mesma declinação. Os nomes gregos, em la- tim, não raro mantinham formas gregas e latinas. O numeral latino duo, duae, duo, além de seguir a primeira declinação (o feminino) e a se- gunda (masculino e neutro), segue, no dativo e ablativo para os três gê- neros, a terceira.

Declinação parassilábica

Declinação parassilábica é a dos nomes parissilábicos.

Declinação sintática

Veja o verbete: Declinação flexiva.

Referências

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