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A contribuição da hermenêutica filosófica de Hans Gadamer para a interpretação do Direito Ambiental

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ANAIS DA IX MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCA – NOV./2015 ISSN – 2317-5915

F A C U L D A D E I N E D I – C E S U C A

Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | e-mail:

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A contribuição da hermenêutica filosófica de Hans Gadamer para a interpretação do Direito Ambiental

Michelli Linhares de Bastos1

Resumo: Esse artigo apresenta uma pesquisa bibliográfica que visa à explanação sobre a hermenêutica filosófica de Hans Gadamer, estabelecendo paralelos entre os estudos de Gadamer e como eles constituem ferramentas para a interpretação reflexiva do Direito Ambiental. Fazemos um cotejando dos princípios desse ramo do direito e o embate desses com a tradição de exploração irresponsável dos recursos ambientais, salientando como uma interpretação reflexiva é fundamental para um entendimento e aplicação efetivos do Direito Ambiental.

Palavras-chave: Direito ambiental; Hermenêutica filosófica; Hans Gadamer.

Abstract: This article introduces a literature review on the philosophical hermeneutics of Hans Gadamer. It establishes relations between Gadamer’s studies and how they are tools for a reflective interpretation of environmental law. We make notes of the principles of environmental law and the conflict between them and the tradition of irresponsible exploration of natural resources. We emphasize as a reflective interpretation is important for an effective understanding and application of environmental law.

Keywords: Environmental law; Philosophical hermeneutics; Hans Gadamer.

1. INTRODUÇÃO

Ao longo da história, o homem desenvolveu a ideia de que era dono da natureza e essa, por sua vez, era uma fonte inesgotável de recursos. Tal ideia está alicerçada na visão antropocentrista desenvolvida no final da Idade Média. Essa visão coloca o homem no centro do mundo e, consequentemente, em posição de senhor da natureza. No entanto, os efeitos gerados pela exploração desenfreada dos recursos naturais deu origem e fomentou uma preocupação com o meio ambiente. Diante disso, surge o Direito Ambiental que tem o intuito de elaborar um conjunto de normas que regulam as relações entre o homem e o meio ambiente. Segundo Antunes (2013, p. 1433)2 o direito ambiental é “um ramo do direito que regula as atividades humanas em relação ao meio ambiente, visando proteger as espécies e os recursos naturais, permitindo um desenvolvimento sustentável sem prejudicar gerações futuras”.

1 Estudante do quinto semestre de Direito do CESUCA – Faculdade Inedi. Licenciada em Letras – habilitação Português e Inglês pela Faculdade Porto-Alegrense – FAPA. E-mail che.bastos@hotmail.com.

2 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2013.

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Porém, cabe ressaltar que a transição entre a tradição de exploração descometida do meio ambiente para um uso consciente e precavido dos recursos naturais não se deu de forma instantânea e simples. Aliás, essa transição ainda está em construção. Nesse sentido, precisamos lançar mão de recursos interpretativos diferenciados do que se usa em ramos tradicionais do direito. Nesse sentido, os ensinamentos do filósofo alemão Hans Gadamer são instrumentos efetivos para o desenvolvimento de uma consciência crítica e reflexiva que nasce com a hermenêutica filosófica. De acordo com Hupffer (2012, p. 109)3, Gadamer entende que a hermenêutica sempre envolve uma “coisa” polêmica. Essa polêmica é fruto do conflito existente entre a tradição e o olhar reflexivo sobre a “coisa”.

Dessa forma, a tradição de degradação do meio ambiente precisa ser repensada diante do conjunto de normas e princípios que visam à proteção do ambiente.

2. A HERMENÊUTICA FILOSÓFICA DE HANS GADAMER

Nas palavras de Gadamer4 (p.402, 1999) “quem quiser compreender um texto realiza sempre um projetar”. Essa sentença nos remete ao fato de que toda leitura é transpassada pela expectativa e perspectiva do leitor a partir do seu primeiro contato com o texto. Para que haja uma leitura efetiva, aquele que lê deve colocar seu projeto inicial em constante reanálises ou, até mesmo, elaborar diversos novos projetos ao longo de sua leitura, realizando o confronto do seu projeto inicial com os projetos subsequentes. Esse processo de reprojetar foi desenvolvido por Heidegger.

Gadamer alerta que a existência de um projeto inicial não implica em arbitrariedade, pois, quando há racionalização, o leitor é capaz de afastar seus hábitos linguísticos. Pinto5 (2013) esclarece que, segundo Gadamer, o interprete trabalha em cima da pergunta e das respostas, ou seja, em uma hermenêutica filosófica o interprete se debruça sobre questionamentos envolvendo a “coisa”, deixando de lado seus conceitos próprios e buscando respostas para seu projeto inicial de leitura.

Segundo Gadamer, a Hermenêutica pode ser dividida em três esferas: a compreensão, a interpretação e a aplicação. Essas esferas não atuam separadas, mas são métodos complementares para que a hermenêutica efetivamente ocorra. A compreensão envolve o contato direto com a linguagem do que está escrito e ela é complementada pela interpretação No entanto, Gadamer alerta que é a aplicação o grande problema da hermenêutica. O autor utiliza o exemplo dos textos bíblicos e o modo como esses sofreram alterações de aplicação conforme as mudanças históricas-sociais.

Além de haver uma hermenêutica literária, há também a hermenêutica técnica e legal. Nessas duas últimas há um conflito persistente entre aquilo que está escrito na norma e o modo como essa norma é interpretada e acaba se concretizando diante de fatos reais.

Gadamer explica que a hermenêutica vista do ponto de vista cientifico6 é essencialmente histórica, afinal a hermenêutica não é processo mecânico no qual se aplica consciência a

3 HUPFFER, HAIDE MARIA. Degradação ambiental e consciência da história efeitual: contribuições de Hans-Georg Gadamer ao diálogo intergeracional. Revista Espaço Acadêmico, n. 131, abr. 2012. ISSN 1519-6186.

4 GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Petrópolis: Vozes, 1999.

5 PINTO, Emerson de Lima. Walter Benjamin e Gadamer: um diálogo hermenêutico com uma tese sobre o conceito de história. Anais da VI Mostra Científica do Cesuca, v. 1, n. 7, 2013.

6 Teoria desenvolvida inicialmente por Heidegger.

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uma norma estipulada, de forma objetiva. O processo histórico envolve uma visão filosófica que visa à escolha de qual forma de interpretação se enquadra melhor dentro das mudanças históricas existentes.

A interpretação técnica é transpassada por duas ações não isoladas, mas partes de um único processo: descobrir o sentido do texto legal e descobrir como aplicar esse texto em uma situação real. É preciso compreender o texto original, por meio da interação com a linguagem utilizada, e, então, realizar uma espécie de “performance” levando esse texto para a situação real. Para Gadamer, o conflito existente nessa prática de uma hermenêutica filosófica não está entre os critérios objetivos (leitura da norma) e subjetivos (aplicação no caso concreto). O conflito está entre os polos da função normativa e da cognição. No primeiro polo, estamos tratando do significado da norma, de forma mais pressa à linguagem, pois aqui tratamos do que está no texto escrito. Já o polo cognitivo representa a capacidade de pegarmos essa norma escrita e analisarmos o que de fato é significativamente fundamental, encontrando o que a norma realmente quer nos dizer.7 Para Gadamer, está claro que esse é o melhor caminho para a aplicação das normas jurídicas, pois, nesse modelo, a norma não atua como um instrumento dominador que impõem comportamentos, mas um instrumento que presta um serviço para que ocorra a aplicação do sentido objetivado pelo legislador.

Tendo em vista essa visão de hermenêutica como um campo que envolve compreensão, interpretação e aplicação, partimos para a relação da linguagem com a efetivação da hermenêutica. Foucault ao analisar a relação do sujeito com o discurso afirma que nossos discursos são transpassados pelas nossas experiências. Essa afirmação vai ao encontro do pensamento de Gadamer8 (p. 405, 1999) que afirma, baseado em Heidegger, que aquele que “quer compreender não pode se entregar, já desde o início, à causalidade de sua próprias opiniões prévias e ignorar o mais obstinada consequentemente possível a opinião do texto”. Sendo assim, não podemos nos iludir com a utópica ideia de neutralidade, mas temos que buscar de maneira crítica a integração entre nossos conhecimentos prévios com a verdade do texto. Sobre as experiências prévias do interprete, Zanini 9(p.78, 2006)

Gadamer mostra que, no encontro com o texto, somos irremediavelmente guiados por nossa pré-compreensão. Esta resulta de nossa formação pessoal, de nossos valores, de nossa cultura, de nossa língua, de nossa história, enfim, de nosso contato com o mundo. Cada um de nós tem um determinado conjunto de referências que é utilizado na constante busca da construção de sentido: os pré- juízos, referências que, para o autor, não representam algo forçosamente negativo. Nosso lastro de juízos prévios não indica, necessariamente, sob o prisma gadameriano, que estamos condenados a uma espécie de incapacidade intelectual que inviabilizaria qualquer atitude crítica, ou que estamos atados a um passado imutável, permeado de tradições dogmáticas e Interpretações fixistas, que traduziriam uma limitação absoluta da nossa liberdade – significa, apenas, que somos, em parte, condicionados por nossa finitude e historicidade.

7 We have the ability to open ourselves to the superior claim the text makes and to respond to what it tells us.

8 GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Petrópolis: Vozes, 1999.

9 ZANINI, Rita Dostal. Hermenêutica Filosófica e Hermenêutica Jurídica: uma aproximação a partir dos conceitos de Hans-Georg Gadamer. 2006. Dissertação de Mestrado – Programa de Pós Graduação em Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2006. p. 78.

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O que ocorre em uma hermenêutica filosófica é o encontro entre a história, os conhecimentos prévios do interprete da lei e o encaixe no caso concreto. O que caminho trilhado pelo intérprete da lei é circular, ou seja, “trata-se da relação circular entre o todo e suas partes: o significado antecipado em um todo se compreende por suas partes, mas é à luz do todo que as partes adquirem a sua função esclarecedora” (GADAMER, 2003, p.

58)10. Sendo assim, a interpretação não é estanque, mas sim um movimento contínuo de idas e vindas do todo para as partes de modo o sentido interpretado é continuamente ampliado.

3. A CONTRIBUIÇÃO DE GADAMER PARA O PROCESSO DE INTERPRETAÇÃO DO DIREITO AMBIENTAL

Hupffer (2012, p. 113)11 explica que para Gadamer toda interpretação envolve pré- juízos, ou seja, conceitos historicamente construídos nos indivíduos. No entanto, esses pré- juízos podem ter um caráter negativo – a resistência ao novo – ou um caráter positivo – a consciência crítica de é preciso mudar. Dessa forma, é utópica a ideia de interpretação neutra, pois todos somos transpassados por conceitos prévios. O que devemos buscar é a capacidade de colocarmos em xeque esses pré-juízos para, de maneira dialética, chegarmos a uma síntese interpretativa. A declaração de Estocolmo, de 1972, mostra como a ideia de desenvolvimento passou por um processo de interpretação crítica-reflexiva. O conceito de desenvolvimento, até então, era baseado no uso abusivo dos recurso naturais por parte do homem. Na declaração em questão, o desenvolvimento passou a ser interpretado sob uma ótica da sustentabilidade.

Conforme explica Machado (2013, p. 76)12, a sustentabilidade não objetiva obstaculizar o crescimento econômico, mas sim a preservação intergeracional, em outras palavras, o cuidado para que as futuras gerações tenham garantido seu direito de acesso a um meio ambiente equilibrado. Essa visão intergeracional nasce de uma interpretação pautada na compreensão de que a relação homem e natureza depende de questões passadas, presentes e futuras. Diante desses conceitos, a Constituição Federal de 1988 prevê no artigo 225 o dever do poder público e da coletividade em defender e preservar o meio ambiente para as futuras gerações. Assim, ao interpretarmos, por exemplo, o princípio da livre iniciativa que norteia a ordem econômica brasileira, devemos ter claro que esse é mitigado quando haver ameaça ao meio ambiente.

A luz da interpretação gadameriana, a interpretação de uma norma envolve um processo de busca daquilo que realmente ela visa tutelar. O artigo 225 busca a tutela da preservação da vida e da dignidade humana. Vida e dignidade são a essência dos direitos fundamentais. Dessa forma, por ser uma extensão do direito da vida, o direito ao meio ambiente ecologicamente saudável, embora não inserido no artigo 5º da Constituição

10 GADAMER, Hans-Georg. O problema da consciência histórica. 2. ed.. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003.

11 HUPFFER, Haide Maria. Degradação ambiental e consciência da história efeitual: contribuições de Hans-Georg Gadamer ao diálogo intergeracional. Revista Espaço Acadêmico, n. 131, abr. 2012. ISSN 1519-6186.

12 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 21. ed. São Paulo: Malheiros, 2013.

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Federal, é um direito fundamental e como tal goza das proteções que cercam esses direitos como a indisponibilidade (MORAES, 2003, p. 49)13.

Hupffer e Adolfo (2013, p. 196)14 afirmam que o direito ambiental, devido sua complexibilidade, precisa ser interpretado diante de novos paradigmas. Sendo assim o positivismo de Hans Kelsen baseado em um modelo de intepretação preso às normas positivadas não é suficiente para a tutela do direito ambiental. Segundo Hupffer e Adolfo (2013, p. 202)15:

O Direito Ambiental tem essa condição privilegiada de necessitar do contato com outras áreas do conhecimento e, em suas conexões com a sociedade, buscar a reversão do processo formativo, mudar de atitude frente ao problema ambiental, para superar a visão reducionista do positivismo exegético- normativista.

Um exemplo interessante de como o positivismo não satisfaz a interpretação necessária para uma proteção efetiva do ambiente é o princípio da precaução. Esse princípio nega a concepção positivista de que o direito é capaz de abarcar todas as situações sociais possíveis, pois esse princípio abre proteção sobre a dúvida. Barros (2008, p. 69) explica que, segundo esse princípio, “quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental”. Nas palavras de Hupffer e Adolfo (2013, p. 206):

O Princípio da Precaução vem, justamente, para mostrar que não há certezas científicas, nem validade universal ou rigor matemático para antecipar as ameaças e graves crises que possam causar dano irreversível e riscos incalculáveis ao meio ambiente.

Na ação civil pública n. 5002157-48.2011.404.700816, julgada pelo TRF4, em 29/04/2015, houve análise do caso de uma construção de casa feita em área de manguezal no município de Paranaguá/PR. Nesse julgado, a relatora Salise Monteiro Sanchotene, cita os princípios da precaução e do poluidor-pagador. Ao analisar a questão do conflito entre o direito de propriedade e a proteção do meio ambiente, a relatora afirma: "em se tratando de construções que podem ocasionar dano a esse, imperioso fazer-se valer o princípio da precaução". Nesse caso concreto, o município e o proprietário da residência foram responsabilizados, devendo ambos demolirem a casa e removerem o aterro, retornando o solo original. Aqui, encontramos outro princípio importante do direito ambiental: o poluidor-pagador. O princípio do poluidor-pagador baseia-se na ideia de que aquele que agride o meio ambiente deve ser responsabilizado na medida do dano causado. Conforme o disposto no artigo 14 da lei 6938/91, a responsabilidade do poluidor é objetiva, ou seja, não é necessária a comprovação de culpa. O Ministério Público é legitimado para propor ações de responsabilidade civil e criminal por danos causados ao meio ambiente. O poluidor,

13 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

14 HUPFFER, Haide Maria; ADOLFO, Luiz Gonzaga Silva. A experiência hermenêutica do jogo no ensino do direito ambiental. Revista Educação e Filosofia, Uberlândia, v. 24, n. 53, jan/jun 2013. ISSN 0102-6801.

16 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Ação civil pública n. 5002157-48.2011.404.7008. Relatora Salise Monteiro Sanchotene, julgado em 29 de abril de 2015.

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conforme explica Barros (2008, p. 72)17, não se limita ao autor direto, mas a todos de forma indireta, mesmo o poder público. Temos, então, o princípio do poluidor-pagador, no qual não só quem construiu a residência, mas o poder público também foi responsabilizado pelo dano.

A hermenêutica gadameriana trata da aplicação das normas nos casos concretos, ou seja, a busca pelo sentido daquilo que o legislador buscou proteger. Sendo assim, as normas de direito ambiental precisam ser vistas diante das concepções de macrobem e microbem. Essa é, de acordo com Hupffer e Adolfo (2013, p. 204), uma visão ecologicocêntrica, pois há uma interpretação pautada no entendimento de que a existência digna de todos os seres vivos depende de um meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Milaré18 (2007, p.124) disserta sobre o fato do direito ambiental poder ser entendido como um macrobem e como um microbem. É um macrobem, pois o meio ambiente é um conjunto de interações e elementos tanto originais quanto artificiais. Assim, meio ambiente envolve questões naturais, artificiais, culturais e de trabalho, ou seja, todos os aspectos da vida em harmonia com o ambiente. É microbem, porque os elementos do meio ambiente podem ser considerados de forma individualizada. Exemplos de microbem são a água, o solo, a fauna e a flora.

O direito ambiental é um ramo transdisciplinar das diversas áreas do direito. Assim, a interpretação das questões ambientais deve se dar de forma conjunta com as demais áreas do direito. Conforme afirma Gadamer, a leitura é um processo continuo de reanálises.

Portanto, uma intepretação efetiva deve levar em consideração essa interdisciplinariedade.

Segundo Barros19 (2008, p. 45 e 46) o direito ambiental dialoga com o direito constitucional (intens relação devido as garantias fundamentais que a constituição prevê, além do estabelecimento de competências em matéria ambiental); com o direito administrativo (diversas disposições legais acerca da responsabilidade da administração pública sobre o meio ambiente); com o direito penal (definição de crimes e medidas de segurança no âmbito ambiental); com o direito civil (pagamento de multas, por exemplo);

com o direito agrário (as relações do homem com a terra); com o direito processual (tanto administrativo, civil ou penal). O fato do direito ambiental não ser codificado, ou seja, sua positivação encontra-se em leis esparsas, é um traço dessa relação multidisciplinar.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, o direito ambiental demanda uma intepretação que vá além da mera compreensão das normas positivadas. Segundo Hupffer e Adolfo20 (2013, p. 202):

17 BARROS, Wellington Pacheco. Curso de Direito Ambiental. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

18 MILARÉ, Edis. Direito do ambiente : a gestão ambiental em foco. 5.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

19 BARROS, Wellington Pacheco. Curso de Direito Ambiental. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

20 HUPFFER, Haide Maria; ADOLFO, Luiz Gonzaga Silva. A experiência hermenêutica do jogo no ensino do direito ambiental. Revista Educação e Filosofia, Uberlândia, v. 24, n. 53, jan/jun 2013. ISSN 0102-6801.

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A tomada de decisões em questões ambientais não permite se fixar apenas nos critérios previamente estabelecidos. Grande parte das decisões nas questões ambientais são negociadas, exigem persuasão, argumentação, diálogo, priorizando a busca de consensos informados.

Sendo assim, a hermenêutica não é só uma ferramenta do direito ambiental, mas atua quase como um elemento constitutivo, afinal esse ramo está em pauta nas discussões jurídicas e, conforme a lição de Heidegger, não devemos buscar uma resposta lógica para as questões do ambiente, mas sim, devemos perseguir novos questionamentos cada vez mais profundos para que passemos a explorar pontos ainda esquecidos. “Na filosofia, o único exame justificável é aquele em que se leva o diálogo tão longe onde nenhum dos dois interlocutores tem a resposta (HUPFFER, 2013, p. 11521)”. Diferentemente da doutrina positivista, o direito ambiental deve ser analisado, refletido e construído constantemente, à medida que novas questões vão surgindo. Hupffer e Adolfo (2013, p.

208), analisa que a reflexão jurídica sobre o meio ambiente busca “descobrir os condicionamentos que estão presentes quando nos empenhamos em esclarecer um princípio, ou uma norma, ou as contribuições das outras ciências, visto que são formadores da sua constituição prévia”.

Por isso, uma justiça ambiental de verdade só é possível diante de uma interpretação que tenha como projeto inicial os princípios norteadores do direito ambiental: a preocupação com as gerações futuras (diálogo intergeracional), a precaução com os riscos, um desenvolvimento pautado na sustentabilidade e o acesso de todos a um ambiente ecologicamente equilibrado. O direito ambiental é um direito difuso, ou seja, pertence a coletividade como um todo. Essa coletividade não só tem direito, mas também tem o dever, juntamente com o Poder Público, de zelar por esse ambiente. Dessa forma, cabe a todos nós entendermos a posição de valor a qual devemos dedicar ao direito ambiental, como cabe aos aplicadores e criadores do direito, além desse entendimento, a compreensão da necessidade de criarmos novos paradigmas sobre as questões ambientais para que esses sirvam como novos pontos de partidas para novas interpretações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 15 ed. São Paulo: Atlas, 2013

BARROS, Wellington Pacheco. Curso de Direito Ambiental. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Ação civil pública n. 5002157-

48.2011.404.7008. Relatora Salise Monteiro Sanchotene, julgado em 29 de abril de 2015.

21 HUPFFER, HAIDE MARIA. Degradação ambiental e consciência da história efeitual: contribuições de Hans-Georg Gadamer ao diálogo intergeracional. Revista Espaço Acadêmico, n. 13, Abr. 2012. ISSN 1519-6186.

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GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Petrópolis: Vozes, 1999.

GADAMER, Hans-Georg. O problema da consciência histórica. 2. ed. Rio de Janeiro:

Editora FGV, 2003.

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contribuições de Hans-Georg Gadamer ao diálogo intergeracional. Revista Espaço Acadêmico, n. 131, abr. 2012. ISSN 1519-6186.

HUPFFER, Haide Maria; ADOLFO, Luiz Gonzaga Silva. A experiência hermenêutica do jogo no ensino do direito ambiental. Revista Educação e Filosofia, Uberlândia, v. 24, n.

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PINTO, Emerson de Lima. Walter Benjamin e Gadamer: um diálogo hermenêutico com uma tese sobre o conceito de história. Anais da VI Mostra Científica do Cesuca, v. 1, n. 7, 2013.

ZANINI, Rita Dostal. Hermenêutica Filosófica e Hermenêutica Jurídica: uma aproximação a partir dos conceitos de Hans-Georg Gadamer. 2006. Dissertação de

Mestrado – Programa de Pós Graduação em Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2006. p. 78.

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