• Nenhum resultado encontrado

CosDefloradas e desonradas [manuscrito]: um estudo sobre a violência carnal contra as mulheres em Juiz de Fora/MG

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2023

Share "CosDefloradas e desonradas [manuscrito]: um estudo sobre a violência carnal contra as mulheres em Juiz de Fora/MG "

Copied!
194
0
0

Texto

O objetivo principal deste trabalho é analisar os discursos nos processos de defloramento/estupro da Primeira República brasileira no município de Juiz de Fora/MG. Portanto, analisar os processos de defloramento/estupro é um meio pelo qual podemos identificar as mulheres como sujeitos históricos e observar sua resistência a uma sociedade marcada por representações de gênero.

O BRASIL NO ALVORECER DA REPÚBLICA: MULHERES E A

História das mulheres: a violência carnal

Dessa forma, levando em conta o surgimento da história das mulheres como campo de estudo historiográfico, tivemos uma ampliação das possibilidades de abordagem dessa dimensão. Portanto, a história das mulheres como campo historiográfico, que visa compreender as relações de poder entre os sexos, possui uma multiplicidade de abordagens, nas quais podemos identificar as construções sociais de nossa sociedade, a partir da abordagem da violência sexual contra a mulher.

Relações de gênero no advento do Brasil República

Portanto, a implantação do regime republicano que veio com o intuito de trazer modernidade e progresso, ao menos para as mulheres, não foi um sistema que trouxesse mudanças significativas. E as mulheres que ainda tinham que trabalhar para sobreviver eram julgadas com base nessas construções sociais.

Código Penal de 1890 e Código Civil de 1916: mudanças e permanências nas legislações

Assim, mais simbologias estão envolvidas nos processos de violência sexual, visto que as mulheres são julgadas antes de serem interrogadas pela violência sofrida. Como veremos adiante, nos processos de demarcação e estupro na cidade de Juiz de Fora, a honra das mulheres vítimas desse tipo de violência sempre foi questionada.

Processo de defloramento e estupro em Juiz de Fora: suas principais características

O IMAGINÁRIO COLETIVO ATRAVÉS DOS PERIÓDICOS: A

Os jornais e suas representações na sociedade

Portanto, como agente da história, os periódicos trazem à tona diversas perspectivas de uma dada sociedade, atuando assim como objetos e sujeitos da história. Nesse sentido, a pesquisadora Tânia Regina Luca destaca: “[..] A imprensa é ao mesmo tempo objeto e sujeito da história brasileira. Tem uma certidão de nascimento lavrada em 1808, mas é também um veículo de reconstrução do passado.”101 Assim, os jornais fazem parte das mudanças e permanências da sociedade e contribuem como mais um meio de análise do nosso corpo social, como os jornais nos informam para revelar as características de uma determinada sociedade em um determinado momento e atuam como agentes da história.

Os jornais devem ser interpretados como agentes da história [..] Ao analisar o que é publicado, deve-se entender que a imprensa não é uma fonte que vai propagar a neutralidade.”105 Portanto, a imprensa deve ser vista como fonte de pesquisa para as mudanças e sustentabilidade da nossa sociedade, agente da história.

Os jornais católicos em Juiz de Fora: sua função pedagógica e educativa

O simbolismo sobre o comportamento feminino foi assim usado com força na imprensa católica e reforçou todo um quadro de representações que distinguiam as mulheres entre as honestas e as desonestas de acordo com sua atitude. E esta instituição identificou que as mulheres tinham funções "naturais" a exercer e o desrespeito a esta regra poderia perturbar esta ordem "natural" da sua existência na sociedade. A Igreja Católica foi e é um importante agente de difusão das representações de gênero, contribuindo para a formulação de estereótipos sobre as mulheres e para movimentos de resistência frente a essas imposições.

Pretendemos ilustrar como as representações do discurso religioso estiveram presentes nos processos de exposição e estupro, e como esses estereótipos prejudicaram as mulheres vítimas dessa violência.

O caso Sophia Hauck: um padre envolvido em um processo de defloramento

O julgamento segue com o depoimento de Heitor Pinto, natural e morador do Chapéu D'uvas, dezenove anos, solteiro, jornaleiro, que sabia ler e escrever. Outra testemunha no caso foi Joaquim Pinto de Miranda, natural e morador do Chapéu D'uvas, 28 anos, casado, lavrador, que sabia ler e escrever. Posteriormente, ele disse ter ouvido dizer, em voz pública, no Chapéu D'uvas, que o réu era o autor do defloramento de Sophia.

Por fim, a última testemunha do processo, Manoel Caetano Pinto, natural e residente em Chapéu D'uvas, 25 anos, casado, funcionário municipal, sabia ler e escrever.

MENINAS DEFLORADAS: A PERDA DA “PUREZA”

As promessas de casamento

Nesta primeira parte do processo, vemos novamente que a vítima foi surpreendida pela promessa de casamento e por isso consentiu em manter relações sexuais com o arguido. No caso de Maria, ela alegou que foi seduzida por Vicente, que a avisou que era solteiro e teve relações sexuais com ele várias vezes, pois a enganou com promessas de casamento. Segundo a peticionária, ela não mantinha mais relações sexuais com seu noivo ou com qualquer outra pessoa, e que após um mês do ocorrido, seu noivo não apareceu em sua casa.

Como nas demais, por mais que a vítima denunciasse o uso de violência, a acusada sempre usava a artimanha de que não era mais virgem, que tinha ouvido falar que já havia tido relações sexuais com outros rapazes, ou seja, falas que se repetem. em todos os casos analisados, com o objetivo de tirar o foco do crime e questionar o comportamento da vítima.

A violência contra criança: o caso Corina Ferreira e de Josefina Pedretti e Maria da

Portanto, a violência sexual contra crianças está enraizada nesse quadro simbólico de dominação, onde os homens teriam “sempre” direitos sobre essas meninas. É o tipo de processo em que a vítima não é condenada por ser criança e sua inocência em relação à violência sexual é levada em conta. A violência sexual faz parte de um sistema em que impera a violência – claro, por assim dizer, a propósito de nada [aos nossos olhos]; crianças são espancadas por adultos, mulheres por homens ou outras mulheres, domésticas por seus patrões [...] Seria muito artificial, nessas condições, isolar o abuso sexual de outras formas de agressão que estão constantemente presentes ou latentes na vida cotidiana da sociedade tradicional.199.

Por isso, a violência sexual tem como foco o estudo do discurso, permeado de depoimentos que ilustram o comportamento dos envolvidos, sobre os quais o juiz proferirá sua sentença.

Meninas órfãs: a ausência da figura paterna

Uma questão muito interessante que permeia os processos de defloramento/estupro é o fato de que os acusados ​​não são estranhos às vítimas. Uma afirmação muito recorrente em todos os processos de defloramento é o fato do suspeito dizer que a vítima não era mais virgem. Ele disse que a filha mais nova, Maria Madalena de Assis, costumava fazer compras na casa de Manoel Cruz, que ficava no bairro Manoel Honório.

Tanto o depoimento da mãe da vítima quanto o da menina corroboram uma questão já abordada neste trabalho, o fato de o acusado ser sempre uma pessoa conhecida, que às vezes visita a casa da vítima, aspecto que os processos de caracterizar a exposição. /estupro.

O defloramento e a gravidez: a honra da família em jogo

Por fim, ao final do processo, surge o depoimento da mãe da vítima, que diz ter empregado a filha na casa de Francisco da Silva, morador da Colônia de Dom Pedro, onde Alcides era empregado. A mãe da moça dizia que Alcides não queria mais se casar com Jesuína, que sua filha era quase virgem, burra e trabalhadora, honesta e modesta. Afirmou que a sua filha não menstruava efectivamente há quatro meses, mas que não estava grávida e que a sua menstruação voltou após a medicação administrada pelo depoente.

Conta-se que uma vez uma menina lhe contou que sua filha estava grávida, o que ela confirmou e disse.

A VIOLÊNCIA SEXUAL NO SEIO FAMILIAR E NO ÂMBITO DO

Pais e irmãos defloradores: a perda da honra no ambiente

Quando o réu recebeu a palavra, ele confessou o crime, mas depois se retratou dizendo que não era verdade que ele teve relações carnais com sua filha Maria Nazareth. Antônia de Jesus: Você disse que há muitos anos sua filha Maria deu à luz uma menina que morreu em Portugal, e essa sua filha disse que era filha do pai dela, o marido da testemunha. Todas as testemunhas tiveram a mesma linha de pensamento e enfatizaram que era do conhecimento geral que João Ribeiro mantinha relações sexuais com a filha.

Portanto, por não saber desse fato, não soube antecipadamente da gravidez de sua filha.

A violência carnal cometida por parentes próximos

Logo, a violência sexual era um crime que envolvia todos os familiares da vítima e também um grande projeto do estado republicano brasileiro. As testemunhas do julgamento disseram enfaticamente que Balduíno era bastardo da cunhada. A testemunha acima reforça a fala de todas as testemunhas do processo e destaca que Balduíno foi o responsável pela desgraça da cunhada e que o réu ainda tentou convencer a cunhada a acusar outra pessoa de seu defloramento .

Portanto, foram muito corajosos aqueles que divulgaram publicamente o fato de suas filhas terem sido defloradas por seus pais ou parentes, pois já sabemos que o crime de violência sexual envolve todos os membros da família porque é um crime de honra.

A violência sexual e o ambiente de trabalho feminino

Portanto, são depoimentos que não se complementam, pois cada um traz uma perspectiva diferente sobre o fato da menina ter saído de casa. Em seu depoimento, Carlos Keller confirmou o fato de Maria ter ido morar com ele, mas nunca disse que a aconselhou a ficar e também enfatizou que não foi ele o autor da exposição da agressora. A vítima carregava alguns fardos nas costas que não eram favoráveis, como o fato de trabalhar fora de casa e sair de casa para morar com outro homem.

Em segundo lugar, destacamos o fato de que a recusa dessa mulher não foi acatada, o que gerou violência sexual.

Defloramento e rapto de mulheres

Conforme explicado acima, o crime de agressão sexual tem suas peculiaridades, inclusive o fato de que a vítima e o acusado geralmente são pessoas próximas a eles. Em seguida, temos as testemunhas, protagonistas nos processos de defloramento e estupro, na medida em que o crime de violência sexual era um crime que geralmente acontecia sem testemunhas oculares. Porém, é importante ressaltar que o fato de ser um crime pouco noticiado por causa de todos os depoimentos envolvidos possibilitou que as mulheres que foram denunciar possibilitassem que outras pessoas fizessem o mesmo, suas vozes sejam ouvidas e parem de esconder casos de violência sexual.

Da mesma forma, há a questão do sequestro, que levava à violência carnal e às vezes também era associado a votos de casamento; por fim, a questão do trabalho feminino, que envolveu um discurso pejorativo sobre as mulheres em processos de violência sexual.

Referências

Documentos relacionados

Já as para mulheres adultas, josei ( 女性 ), são bem menos numerosas. O fato de as mulheres serem geralmente mais sentimentais guia muitas das diferenças entre quadrinhos