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Da frase ao inconsciente: a escrita e os efeitos do significante

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Academic year: 2023

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Através da escrita pode-se perceber o sentido do sentido e conduzir o psicanalista da frase ao inconsciente. Com base nisso, mostraremos que a análise morfossintática e semântica da frase – que tem como princípio as relações sintagmáticas e associativas saussurianas – pode ser entendida como uma análise eficaz dentro dos objetivos a que se propõe. Em seguida, combinaremos a visão da análise sintática tradicional da frase com a teoria saussuriana das relações sintagmáticas e associativas.

A GRAMÁTICA TRADICIONAL E A FRASE

Nessa gramática, a frase e seus elementos são estudados pela sintaxe, estudo que visa analisar a formação estrutural da frase e determinar as funções que cada elo desempenha nessa estrutura. É uma análise que busca determinar as funções dos termos na linearidade da frase e as características morfológicas de cada oração de acordo com sua função. O que gostaríamos de destacar é que a questão do sentido está relacionada à leitura que fazemos da frase, e essa leitura se dá a partir de uma organização estrutural.

Chamamos a atenção para o fato de que as funções sintáticas de sujeito e complemento verbal só podem ser estabelecidas se tomarmos como parâmetro o verbo da frase. As relações sintáticas estabelecidas a partir do verbo produzem um efeito de sentido, ou seja, são relações sintáticas e semânticas. As associações que podem ser feitas nesse tipo de análise, portanto, também ocorrem a partir do que é externo à frase, ao contrário do que ocorre com as relações sintagmáticas, que acontecem na linearidade da frase.

A CONSTITUIÇÃO DO SIGNIFICADO E A PRODUÇÃO DOS SENTIDOS

Para entender a constituição do sentido, devemos considerar não apenas as funções sintáticas e as classificações morfológicas dos termos da frase. O significado pretendido na frase refere-se a outros significados existentes no sistema, ativando a corrente que representa a seta para baixo. A outra seta representa o retorno do sentido à frase após a verificação de que é o sentido mais adequado para o que se pretende dizer.

Neste caso, partimos também de uma relação sintagmática para chegar à definição do sentido "sonhos" como algo distinto dos demais sentidos colocados na frase em sua presença. Tudo o que ocorre na estrutura da frase é composto por relações que envolvem tanto as diferenças observadas no plano linear quanto as diferenças com o que existe fora dessa mesma estrutura. A partir da constituição do sentido, podemos ler a cadeia de termos que aparecem na frase e atribuir um sentido a ela.

Isso significa que, quando chegamos ao final da frase, somos enviados de volta ao início para entender a mensagem que está sendo transmitida. Semblante que desaparece quando consideramos que o discurso precisa de uma dimensão linear para se desenvolver, o que implica, assim, a necessidade de uma dimensão temporal indispensável para a produção da frase. O material linear disponível para análise sintática representa o fulcro para todas as associações que podem ser feitas na percepção dos efeitos semânticos.

Ou seja, a análise morfossintática trabalha no nível da frase, mas o que está além da frase também é importante na construção do sentido que pode ser atribuído a ela.

A ANÁLISE MORFOSSINTÁTICA TRADICIONAL, A LÍNGUÍSTICA E A PSICANÁLISE

Para a análise sintático-semântica, é importante o sentido que se produz na frase, no primeiro plano da língua, o que podemos ler imediatamente na estrutura. Na visão desse tipo de análise gramatical, o que se produz na linguagem é o sentido. Para a psicanálise, os efeitos de sentido produzidos por meio da estrutura da linguagem estão em dependência fatal do que é interno a essa estrutura.

Para poder dizer por meio da análise sintática que uma frase tem um significado, é essencial considerar o posicionamento dos termos. Tudo o que acontece na parte diacrônica da frase é resultado de pares de oposições sincrônicas. O signo linguístico nos permite perceber as diferenças que se criam entre os elementos para que possamos ler os significados e sentidos derivados da cadeia de termos da frase.

As setas verticais representam a coexistência sincrônica de outras unidades linguísticas vinculadas ao que é apresentado na frase. No entanto, o sentido que pode ser percebido na linearidade só se constitui porque há uma conexão entre o que está na frase e o que está além do que ela diz. Devemos sempre ter certeza do que lemos, pois pode haver mais de um sentido para o que é revelado por meio da escrita.

Há, portanto, algo além do que é expresso por meio das unidades linguísticas que se conectam na frase.

AS RELAÇÕES QUE PRODUZEM O SENTIDO NA FRASE E O INCONSCIENTE

Se a fala do sujeito não é totalmente controlada, é útil para a psicanálise entender que o sujeito é apenas uma consequência da linguagem em que é composta. A especificidade do discurso analítico reside no fato de que o sujeito e sua relação com a estrutura da linguagem estão sempre em jogo, o que não ocorre na análise gramatical ou linguística. A psicanálise segue um caminho diferente da análise gramatical, na medida em que não basta considerar apenas as relações que os termos estabelecem na produção de sentido.

Essa manifestação é social no sentido de que a organização dos elementos na estrutura da frase deve obedecer a regras de escrita assumidas como válidas por todos aqueles que se comunicam por meio da mesma língua. O que importa é que, no momento da produção da frase, o significante estabeleceu uma relação que escapava ao controle do sujeito, pelo fato de o significante se relacionar com outros significantes, mesmo que o sujeito desconheça essas relações. Temos, então, na relação entre a frase e o inconsciente, que a existência de ambos depende do significante.

A visão lacaniana de que há uma barreira entre o significante e o significado produz a visão de que o significado é um efeito do significante. No entanto, ele não está ciente de que existe uma relação entre significante e significado no que ele diz. Portanto, ele também não percebe que o sentido que pretende só pode ser constituído pela relação diferencial existente na sequência "a-m-o-r".

Essa diferença, que coloca os dois elementos em campos diferentes, serve à psicanálise para pensar a separação entre significante e significado em que isso é possível.

Figura 1: as massas amorfas 5
Figura 1: as massas amorfas 5

A partir disso, o inconsciente se apresenta como o discurso do Outro, o espaço onde se constitui o desejo do sujeito. A subordinação do sujeito ao inconsciente existe principalmente pelo fato de o sujeito querer algo que desconhece e que vem de outro lugar. É uma linguagem que nunca está sob o controle do sujeito e, portanto, fala sem que o sujeito possa intervir.

A frase produzida pelo sujeito é sempre questionável para o analista, pois é uma frase que busca, mesmo inconscientemente, enganar, ou seja, ocultar o desejo oculto na linguagem do sujeito. O inconsciente, oculto pelo discurso do sujeito, está na ordem do significante, ou seja, na ordem da diferença, que se articula pela estrutura. Se no Outro o sujeito reconhece essa verdade e a fala se constitui no Outro, podemos dizer que o discurso consciente existe como efeito da subordinação do sujeito ao Outro, porque o desejo do sujeito é o desejo do Outro.

O fato que se oculta no discurso do sujeito decorre de sua própria natureza inconsciente. Por isso, o discurso autoconsciente do sujeito é o discurso em que a verdade não é enunciada diretamente, pois é uma verdade que o sujeito não conhece. A frase é a representação de um enunciado que se cria na realidade apenas pela ação do significante que fala "à revelia" do sujeito: o inconsciente.

O sentido nele identificado a partir da análise morfológico-sintática não é tão importante neste caso quanto o fato de que a estrutura na qual o sentido é produzido é uma estrutura que emerge do sujeito falante inconsciente.

A ESTRUTURA DA LINGUAGEM E DA FALA: A “VONTADE” DO SUJEITO

Se a psicanálise sustenta que o sujeito é um elemento da linguagem, ela será composta por um sistema de relações diferenciais semelhantes àqueles a que estão sujeitos todos os outros elementos da linguagem. Quando o sujeito produz sua fala, ele escolhe os elementos que acha mais adequados para o que "quer" expressar. Há, portanto, uma ligação entre a ideia e o som que se dá a partir da ligação que o sujeito estabelece entre o que diz e o que imagina que sairá desse dizer.

Se o sujeito marca seu lugar no mundo por meio do recurso simbólico da linguagem e esse recurso reproduz seu pensamento, concluiríamos que o sujeito existe porque pensa. Mas a fala que o sujeito constrói a partir da linguagem produz efeitos que escapam ao seu controle. Surge um discurso consciente que quer dizer o que o sujeito quer dizer, mas o desejo do Outro está sempre em jogo.

Dessa forma, quando tomamos a perspectiva da relação do sujeito com o Outro, podemos dizer que o sujeito fala porque quer. Como o sujeito fala a partir do desejo do Outro, de uma falta, é uma falta que nunca é totalmente preenchida. Para a psicanálise, mesmo que o sujeito pare para pensar nessa atitude, como no caso da estrofe que analisamos no ponto anterior, é do Outro que ele recebe as "orientações" para que sua fala produza os efeitos que espera alcançar.

Com base no entendimento de Lacan, pode-se dizer que se o sentido que o sujeito pretende produzir é um efeito da estrutura da frase, esse sentido é um efeito do inconsciente do sujeito.

A ESTRUTRA SINTÁTICO-INCONSCIENTE DA FRASE: UMA CONCLUSÃO

O sujeito nessa relação é um intermediário entre o pensamento que pode transmitir seu sentido e o enunciado inconsciente a partir do qual esse sentido começa a se formar como efeito do significante. Seguindo essa linha de pensamento, a estrutura da frase é uma estrutura significativa e aparece como um efeito do inconsciente. Seguindo esse raciocínio psicanalítico, temos que a materialidade da frase – efeito do significante – permite ao analista dizer algo sobre o sujeito.

Então, ao dizer que a estrutura sintática da frase é inconsciente, estamos adotando um viés puramente psicanalítico, pois não se pode chegar a perceber esse efeito da linguagem e do significante que é o sujeito por meio de uma leitura morfossintática da frase. , nem é necessário, pois esta análise tem outros objetivos e, como já dissemos, é eficiente e suficiente para atingir esses objetivos. Passamos então às considerações finais sobre o que apresentamos nesta significativa jornada “Da frase ao inconsciente”. Além disso, fazemos uma comparação com a visão lacaniana da frase e os objetivos de sua observação de sua estrutura e funcionamento de acordo com os objetivos da psicanálise, assim destacamos a visão da psicanálise lacaniana sobre o significante e sua relação com a fala. assunto.

Vimos que, do ponto de vista psicanalítico, todo efeito que se verifica na frase e que é capaz de produzir um sentido é fruto de um enunciado inconsciente. A frase e o sujeito são efeitos do significante e, portanto, sempre dizem mais do que o discurso concreto traz para sua materialização. Nossa ênfase na visão psicanalítica/lacaniana é justificada pelas diferenças marcantes entre essa visão e a compreensão da estrutura da frase pela análise lingüística.

De fato, estamos convencidos de que a leitura que trouxemos do que se pode ler na frase – diferenciando os pressupostos da lingüística e da psicanálise – abre espaço para outros estudos comparativos que levem em conta outros aspectos da estrutura da linguagem. em ambos os campos. que tomamos como base.

Imagem

Figura 1: as massas amorfas 5

Referências

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Esse destaque é importante para que se faça uma ressalva em relação ao viés que este trabalho toma, pelo menos até este momento: não estamos nos esquivando