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EDUCAÇÃO COMO MEIO DE SUPERAÇÃO DA POBREZA: UMA ANÁLISE A PARTIR DA PERSPECTIVA DE ALUNOS DO 9º ANO DA REDE MUNICIPAL DE

ENSINO DE SÃO LUÍS, MARANHÃO

ELGA MOTTA OLIVEIRA1 HÉLIO TRINDADE DE MATOS2 FRANCILENE DO ROSÁRIO DE MATOS3

Resumo

Este trabalho possui como questão central percepções dos adolescentes entrevistados acerca da educação como meio de superação da pobreza. Buscou-se inicialmente apresentar uma breve historicização acerca do Programa Bolsa Família.

Posteriormente buscou-se apresentar diferentes concepções acerca da educação como meio de superação da pobreza. Por fim, são apresentados os resultados da pesquisa desenvolvida junto aos alunos de escolas públicas pertencentes a rede de ensino do município de São Luís do Maranhão. Sendo considerado como principal resultado o reconhecimento da educação como elemento fundamental para a superação da pobreza, mas que necessita de acompanhamento de outras políticas públicas.

Palavras-chave: Educação. Programa Bolsa Família.

Superação da pobreza.

Abstract

This work has as its central issue perceptions of adolescents interviewed about education as a means to overcome poverty.

We tried to initially submit a brief historicizing about the Bolsa Família Program. Subsequently sought to present different conceptions about the education as a means to overcome poverty. Finally, we present the results of the research developed with students from public schools in the education network of the city of São Luís of the Maranhão. Being considered as main result the recognition of education as a fundamental element for overcoming poverty, but that requires follow-up of other public policies.

Keywords: Education. Bolsa família program. Overcoming poverty

1 Graduação em Serviço Social. Especialista em Educação, Pobreza e Desigualdade Social.

Universidade Federal do Maranhão – UFMA. E-mail: elgamota@yahoo.com.br

2 Graduação em Administração de Empresas. Mestre em Desenvolvimento Social e Regional.

Universidade Federal do Maranhão – UFMA. E-mail: helio.matos@ufma.br

3 Graduação em Pedagogia. Mestre em Educação. Universidade Federal do Maranhão – UFMA. E- mail: Francilene.matos@ufma.br

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I. INTRODUÇÃO

Partindo do entendimento que a educação pode ser um instrumento norteador para ascensão social e superação da pobreza, buscou-se analisar nesse estudo diferentes categorias que se interligam, tais como: ascensão social, pobreza e educação. Faz-se essa análise a partir da visão de adolescentes alunos do 9º ano de escolas públicas nas zonas urbana e rural localizadas em São Luís do Maranhão. Assim, o olhar dos pesquisadores buscou o entendimento dos alunos participantes sobre essas categorias, servindo como referencial para avaliar a relação entre as categorias propostas e a perspectiva de vida de cada um dos participantes.

Este trabalho possui sua relevância ao contribuir para o aumento do entendimento acerca da temática no âmbito acadêmico e no âmbito da sociedade, por seu recorte local abranger duas áreas bastante populosas da cidade de São Luís e por contribuir para ações futuras de intervenção na realidade local. Para o alcance do objetivo estabelecido optou-se como procedimento metodológico por uma pesquisa de caráter qualitativo, a adoção de uma postura analítica de cunho crítico com base na dialética marxista, no intuito de compreender o entendimento dos entrevistados acerca da educação, da superação da pobreza e deles mesmos enquanto principais agentes de aprendizagem e mudança neste processo.

O levantamento bibliográfico e documental teve por finalidade aprofundar a compreensão acerca das categorias teóricas que dão fundamentação ao estudo da temática. As entrevistas abertas foram realizadas com adolescentes beneficiários do Programa Bolsa Família, regularmente matriculados em escolas públicas municipais, o que correspondeu a 57 alunos de ambos os sexos, com idade entre 14 e 15 anos que residiam e estudavam próximo à área do Porto do Itaqui, sendo que destes 35 alunos estudavam e residiam na zona urbana e 22 adolescentes residiam e estudavam na área rural.

Para apresentação dos resultados obtidos com esta investigação, o plano de exposição deste artigo além desta introdução comporta dois capítulos. No capítulo intitulado Programa Bolsa Família: um breve histórico faz-se uma breve apresentação do programa e no capítulo intitulado A educação como perspectiva de superação da pobreza a partir da visão dos alunos do 9º ano de duas escolas públicas do município de São Luís apresenta-se algumas discussões acerca da educação como instrumento de superação da pobreza e enfatiza-se os dados obtidos na pesquisa de campo realizada com os alunos. Por fim, o trabalho é finalizado com as considerações finais.

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II. PROGRAMA BOLSA FAMILIA: um breve histórico

Historicamente, o Brasil apresenta significativos percentuais de desigualdade de renda e de famílias em situação de pobreza, porém de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2010, 2013) nos últimos anos houve redução dos percentuais destes índices embora o quantitativo a nível nacional de pessoas em situação de pobreza permaneça elevado.

No Brasil, os primeiros Programas de Transferência de Renda4 para combate à pobreza foram implementados em meados dos anos 90, na gestão de Fernando Henrique Cardoso, de 1995 a 2002, onde diante da conjuntura econômica do país a pobreza passou a fazer parte na agenda pública federal como um desafio a ser combatido, haja vista que a nação passava por um momento de estabilização monetária com o Plano Real, mas apresentava restrições econômicas para o desenvolvimento social (BARBOSA, 2013, p. 58).

Na gestão do Governo Lula, de 2003 a 2006, houve a criação do Programa Bolsa Família (PBF)5, que se constitui no maior programa de transferência condicionada de renda já realizado no Brasil e contribuiu para que o país atingisse a meta proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU) por meio do Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (ODM) de reduzir pela metade até o ano de 2015 o número de pessoas vivendo em extrema pobreza.

Este programa, que foi lançado em 2003 e permanece em vigência, tem como público beneficiário as famílias consideradas economicamente pobres ou extremamente pobres e vincula a transferência direta do auxílio financeiro ao cumprimento de condicionalidades ligadas às políticas públicas de saúde e educação (Rocha, 2008, p.19).

De acordo com Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), por meio da transferência condicionada de renda o PBF visa promover o alívio imediato da pobreza e objetiva romper com seu ciclo intergeracional através do cumprimento das condicionalidades, visto que estas reforçam o exercício de direitos sociais em políticas públicas importantes para o desenvolvimento do capital humano e futuro combate à pobreza.

O Bolsa Família, como comumente é conhecido, tornou-se referência mundial de estratégia de combate à pobreza e no governo da presidente Dilma Rousseff foi ampliado e passou por aperfeiçoamento de estratégias. Sendo que de acordo com o MDS, no ano de 2013, existiam no país 13,7 milhões de famílias beneficiárias do Programa.

4 Como Programas de Transferência de renda foram criados o Auxílio Gás, Bolsa Alimentação, Bolsa

Escola e Benefício de Prestação Continuada. Sendo que este último é vinculado a área assistencial e previdenciária.

5 Lei de criação do Programa Bolsa Família: nº 10.836 de 09 de janeiro de 2004.

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De acordo com Rocha (2008), o Bolsa Família contribuiu para aumentar a eficácia da Política Pública no enfrentamento a pobreza, uma vez que considerou como público famílias vivendo na linha da pobreza e abaixo desta, ou seja, respectivamente famílias consideradas em situação de pobreza e de pobreza extrema e condicionou a participação destas no programa a questões que garantissem o compromisso mínimo do cidadão e sua família à saúde, educação e assistência social, priorizou o repasse de renda para o poderio feminino e ampliou o leque de possibilidades relacionadas a geração de renda para toda a família e ao acesso a outros serviços de outras políticas públicas, pressupondo que os municípios garantissem a prestação de serviços em tais políticas públicas como contrapartida.

Desta forma, de acordo com IPEA (2013), o Programa Bolsa Família entende que a situação de pobreza não se restringe a privação monetária, mas ele apoia o desenvolvimento das capacidades de seus beneficiários por meio do reforço aos acessos a saúde, educação e assistência social, bem como de um conjunto amplo de programas sociais e outras políticas públicas já existentes, haja vista que o programa é destinado a famílias.

Ainda de acordo com o IPEA (2013), no Programa Bolsa Família, o repasse de recursos tem o intuito de contribuir para aliviar os efeitos imediatos da pobreza e as condicionalidades existentes tem o propósito de enfrentar, a longo prazo, mecanismos de reprodução da pobreza. As condicionalidades existentes relacionadas a política pública de educação se restringem a frequência escolar, onde busca-se a garantia da frequência mínima de 85% no caso de crianças e adolescentes e frequência mínima de 75% no caso de jovens de 16 e 17 anos regularmente matriculados.

III. A EDUCAÇÃO COMO PERSPECTIVA DE SUPERAÇÃO DA POBREZA: a partir da visão dos alunos do 9º ano de duas escolas públicas do município de São Luís

Segundo o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE, 2004), a pobreza pode ser definida como um estado de privação do ser humano a direitos sociais como habitação, acesso à educação, saúde, alimentação adequada, participação nas decisões políticas dentre outros e privação de liberdades de escolha. Entende-se assim, a pobreza como um fenômeno multidimensional, numa dinâmica cíclica, na qual a privação de liberdades ou de capacidades de um ser humano se fazem presente e repercutem na participação deste para o crescimento e desenvolvimento econômico, social e cultural de si próprio e do meio onde interage, em conformidade com Sen (2010).

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A garantia dos direitos sociais aos cidadãos é de competência ao Estado e de acordo com Arroyo (2015), o reconhecimento de tais condições deve conduzir à estruturação de políticas sociais e de programas que busquem transformar essa realidade, sem incorrer em medidas meramente assistencialistas ou moralizantes. Ou ainda, em conformidade com Carapiço (2012), privação de elementos básicos para a sobrevivência, reflete na interação do indivíduo na sociedade, principalmente no tocante consciência crítica e ao mundo do trabalho com seus reflexos, pois baixos níveis de escolaridade podem contribuir para um estado de desqualificação profissional e desemprego, acentuando mais ainda o estado de situação de pobreza do indivíduo e sua família, dificultando o acesso a melhoria de condições de vida e de ascensão social.

De acordo com pesquisa desenvolvida pelo Banco Mundial, 2001, há uma relação estreita entre a pobreza e a educação, ou seja, de acordo o BM (2001, p. 8), “73%

dos domicílios pobres têm como chefe de família indivíduos com no máximo quatro anos de escolaridade. É a desigualdade educacional, mais do que a segmentação ou a discriminação no mercado de trabalho, que explica a maior parcela da desigualdade de renda no Brasil”.

Considerando apenas o nível de escolaridade como fator determinante de ascensão social e superação da pobreza, a condicionalidade da educação no Programa Bolsa Família pode ser considerada determinante para promover melhores condições para que seus beneficiários quando em fase economicamente ativa, ingressem no mercado de trabalho, ampliando assim a renda e gerando o rompimento do ciclo da pobreza, haja vista que a condicionalidade educação garante a elevação do nível de escolaridade pois concentra-se na matricula e na frequência escolar.

Porém, se considerada a qualidade do ensino escolar recebido pelos beneficiários do Programa, assim como outras questões político estruturantes, sociais e culturais em relação ao âmbito escolar e social, ao mercado de trabalho, a questões étnicas, de classe e território, entende-se que os esforços de programas de transferência de renda e a educação escolar não são suficientes para a superação da pobreza existente.

Portanto, convém ressaltar que a permanência das crianças na escola não é suficiente para que sua formação as ajude a sair do círculo vicioso da pobreza. A frequência escolar é uma condição necessária, mas não suficiente para garantir uma boa educação: sem escola de qualidade, sem boas condições de estudo em casa, sem apoio de pais e professores, as crianças de famílias pobres muito dificilmente conseguem obter bons resultados e alcançar um nível de instrução suficiente para ter mais chances profissionais na vida. (PINZANI; REGO, 2016, p.25)

No tocante à educação, os esforços do programa de transferência de renda em questão e a qualidade do ensino recebida pelo público do programa permanece a cargo do

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Ministério da Educação, das instituições de ensino e dos órgãos regulamentadores, não havendo por parte das diretrizes do PBF o objetivo de incrementar ou melhorar o processo de ensino/ aprendizagem do aluno bem como aperfeiçoar outras questões ligadas a educação e que possam favorecer o capital cultural e humano dos beneficiários do Programa. Além do mais, na organização social vigente, a elevação do nível educacional não é garantia de inserção no mercado de trabalho e nem da inserção do indivíduo neste mercado com condições satisfatórias que garantam sua dignidade humana.

Entendamo-nos bem: é legítimo e até mesmo necessário do ponto de vista da democracia, atacar o problema das "baixas qualificações" (isto é, numa linguagem menos tecnocrática, acabar com o subdesenvolvimento cultural de uma parte da população). Mas é ilusório deduzir daí que os não- empregados possam encontrar um emprego simplesmente pelo fato de uma elevação do nível de escolaridade. (CASTEL, 1998, p. 521).

De acordo com Bourdieu, o ambiente escolar contribui para reforçar e reproduzir as estruturas sociais responsáveis pela manutenção da desigualdade social e as pessoas menos favorecidas economicamente que conseguem ascender socialmente pela via da escolarização são exceções, em conformidade com Bourdieu (2010, p. 59), “o sucesso excepcional de alguns indivíduos que escapam ao destino coletivo dá uma aparência de legitimidade à seleção escolar, dá crédito ao mito da escola libertadora junto àqueles próprios indivíduos que ela eliminou, fazendo crer que o sucesso é uma simples questão de trabalho e de dons.”.

Segundo Pinzanni e Rego (2015), a educação obtida na escola é voltada para a geração de lucro e para a reprodução do capital ao invés de ser uma educação formadora com o objetivo de gerar ou de suscitar a cidadania nos alunos.

O que se verifica, de fato, é o abandono de um componente fundamental da vida democrática: a educação no sentido mais profundo do termo – que compreende a educação dos sentimentos, da sensibilidade, do gosto, e da sociabilidade em geral; enfim, a educação como formadora de identidade e de subjetividade –, em prol de uma mera formação profissional e tecnicista cuja principal preocupação é a de gerar lucro, não de formar cidadãs e cidadãos. (PINZANI; REGO, 2015, p. 25)

Objetivando compreender melhor a percepção de adolescentes acerca da educação como instrumento para a superação da pobreza, foram entrevistados 57 adolescentes de ambos os sexos, na faixa etária de 14 e 15 anos, beneficiários do Programa Bolsa Família e estudantes do 9º ano de escolas públicas municipais em São Luís do Maranhão. As entrevistas se deram após a participação destes em oficinas previstas no curso de Especialização em Educação, Pobreza e Desigualdade Social.

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Inicialmente a pesquisa foi desenvolvida com o público residente e estudante na zona rural, onde foram formados três grupos, um composto de sua maioria meninos, outro por sua maioria adolescentes do sexo feminino e um outro somente por adolescentes do sexo feminino. Durante o desenvolvimento deste período inicial foi possível perceber o interesse dos alunos na busca de oportunidades para a superação da pobreza, como o desejo de empreender, perceber talentos diversos existentes naquele grupo, tais como:

talentos para a culinária, para o artesanato e para negócios.

Os adolescentes apresentaram uma visão mais próxima da realidade deles ou da realidade de duas famílias, apresentando sonhos profissionais de trabalharem em uma firma, ser operador de máquina ou de guindaste em alguma empresa próxima de casa;

trabalhar em empresa como o pai e poucos explicitaram a projeção de futuro por meio da obtenção do nível superior de escolaridade, como advogado ou engenheiro.

As adolescentes apresentaram suas perspectivas com maior projeção para o futuro idealizando e segundo elas, buscando profissões que exigem o nível superior de escolaridade, como médicas, engenheiras, psicóloga do exército, médica da marinha, professora, enfermeira, odontóloga, proprietária de restaurante, dentre outras. Notou-se assim, que as projeções de futuro expostas pelas participantes do sexo feminino vão além da realidade local vivida, diferentemente do apresentado pela maioria dos participantes do sexo masculino, que colocaram planos de curto prazo e com retorno mais imediatista e próximo da realidade já vivida no meio e na família.

Dos adolescentes do sexo masculino entrevistados, 98% demonstraram o pensamento de reprodução do meio onde vivem e apenas 2% nos apresentaram em suas falas o desejo de rompimento com a realidade já existente. Podendo ser observado um nuance de empoderamento feminino junto as adolescentes, onde declaram nas entrelinhas para si mesmas que a mulher pode alcançar o que quiser, pode chegar aonde quiser e que a educação é o principal meio para se alcançar os seus objetivos.

Como dados obtidos com os adolescentes residentes na zona urbana, 2,85%

não souberam afirmar suas perspectivas para o futuro. 97,15% afirmou o desejo de galgar novos patamares, sendo que destes, 9,09% desconsideraram a elevação do nível de escolaridade como fator preponderante para a superação da pobreza e 90,91% declararam considerar a educação como a garantia de um futuro próspero, com inserção no mercado de trabalho e, como consequência, principal meio de elevação dos níveis socioeconômicos familiares.

Para 100% dos alunos entrevistados residentes na zona urbana, obteve-se como resposta ao questionamento sobre a importância da educação na vida, que a educação oferecer uma esperança de um futuro próspero e a inserção no mercado de trabalho. Destes, 14,28% consideraram como educação o conhecimento de disciplinas

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ministradas no âmbito escolar e a adquirida fora do âmbito da escola e 85.72%

consideraram como educação apenas as disciplinas ministradas em sala de aula.

Como pode se observar, o percentual de alunos que considera outras vias como fontes de educação, como a família, é consideravelmente inferior aos que consideram a escola como principal ou única fonte de educação. Esta é uma característica de sociedades com alto nível de desigualdade, ou seja,

[..] em sociedades com alto nível de desigualdade, o processo de transmissão de saber e de conhecimento superiores permanece restrito às elites. Enquanto as crianças de famílias pobres recebem, na escola, uma educação limitada ao tipo de conhecimento básico exigido para sua futura vida profissional – são alfabetizadas, aprendem habilidades técnicas rudimentares suficientes para desempenhar trabalhos não especializados ou com baixo nível de especialização –, as crianças de classe média e alta recebem na própria família (não na escola) o tipo de educação que as distinguirá de seus(suas) colegas mais pobres: é na família que são estimuladas a ler os livros pertencentes ao “cânone” – isto é, à lista de textos que se espera que sejam conhecidos pelas pessoas “bem-educadas”

–, que se confrontam com obras de arte, que aprendem a apreciar arte e cultura, e a saber como comportar-se nas diferentes circunstâncias, mostrando que pertencem ao tipo “certo” de pessoas (SOUZA, 2009, 18 et seq. e 44 et seq.).

Quanto a contribuição que a escola pode ofertar para que os entrevistados alcancem seus objetivos ou sonhos para o futuro, 63% dos alunos expuseram o papel da escola como instituição puramente de ensino para a educação regular, destes 7,3%

demonstraram preocupação e desejo com uma melhor qualidade do ensino e 37%

demonstraram expectativas relacionadas a motivação, desenvolvimento da linguagem e interpretação.

No intuito de se perceber questões ligadas ao capital cultural e humano e acerca da percepção de liberdade e a de empoderamento, questionou-se aos alunos quais as coisas que eles aprenderam no âmbito escolar além das matérias ministradas em sala de aula. 94,29% dos entrevistados consideraram em sua resposta a convivência com as outras pessoas. 5,71% responderam que nada além das aulas.

Acerca de suas preferências no âmbito escolar, os itens mais citados foram lanche, hora do recreio, convivência com colegas e algumas disciplinas como português, educação física, matemática e ciências. 38,14% dos entrevistados responderam amigos, seguidamente de lanche ou recreio 26,16%, aulas foram citadas por 21,42% dos alunos e 14.28% fizeram referência aos professores.

Com base nas respostas obtidas e com base as características dos modelos de educação tecnicista e de educação para a cidadania, conclui-se que a maior parte dos alunos na zona urbana consideram a educação recebida no âmbito escolar como uma

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educação para a cidadania, haja vista que compreendem a escola como um espaço onde eles aprendem a viver e conviver com os outros, ao viver, aprendem o conteúdo repassado e configura-se como um espaço de aprendizado imprescindível para se obter futuramente uma profissão e estes são itens que caracterizam a educação para a cidadania. Já os alunos residentes na zona rural entrevistados, nos apresentaram em suas respostas um direcionamento maior para uma educação tecnicista recebida no âmbito escolar.

IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Reconhece-se que o Programa Bolsa Família é o maior programa de renda condicionada já desenvolvido no país e mais de 13 milhões de famílias foram beneficiadas por meio de suas ações, elevando o país ao índice de superação de famílias abaixo da linha da pobreza. Como meio de superação da pobreza e possibilidades de rompimento com o movimento cíclico desta. O programa apresenta a transferência de renda como forma de superação imediata da pobreza, as condicionalidades ligadas a saúde de crianças e das gestantes e a educação de crianças, adolescentes e jovens como meios de superação a longo prazo junto com uma gama de serviços públicos a serem ofertados à população.

Considerando os autores citados neste trabalho, compreendeu-se que a educação é de suma importância para a superação da pobreza, porém esta não deve se restringir ao grau de escolaridade dos indivíduos. A educação deve compreender a qualidade do processo ensino/ aprendizagem, além de fatores ligados a cultura e habilidades que o ser humano deve desenvolver no âmbito escolar e fora deste para que possa concorrer com maior igualdade às escassas vagas no mercado de trabalho vigente, haja vista que devem ser consideradas as complexidades do sistema capitalista e seus reflexos na sociedade.

Outro fato a ser considerado são as condições físicas e materiais das instituições de ensino as quais os alunos estão inseridos. Foram apresentados como principais problemas para o bom funcionamento da escola, a necessidade de ampliação do corpo de professores e a precariedade de recursos didáticos para os mesmos; materiais escolares, sala com recursos audiovisuais, quadra próximo a escola, sala de dança e de artes para os alunos. Estas ultimas, inclusive foram alternativas de trabalho como demanda a ser trabalhada no âmbito escolar. Outros aspectos considerados são a relação família–

escola–aluno, onde seria necessário uma proximidade e envolvimento maior de famílias nesta relação; A relação de dificuldade de aprendizagem de alguns alunos, por diversos motivos, incluindo condição de pobreza, falta de saneamento básico e saúde de alunos e

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familiares é outro aspecto considerado. A evasão de alunos por causa da insegurança eminente e envolvimento com a violência em si, também são aspectos pontuados e considerados importantes.

Mediante o exposto, principalmente no que se refere aos problemas identificados e as características do entorno da escola e das famílias, entende-se que os problemas apontados tem relação direta com as dimensões dos direitos humanos, a saber: a dimensão do direito a igualdade, visto que o Município não oferta condições de igualdade e políticas públicas satisfatórias nos direitos sociais a saúde, educação com qualidade, moradia digna;

direito a cultura, pois não há espaços apropriados e corpo técnico qualificado para o desenvolvimento de atividades que promovam a cultura e o lazer e os direitos econômicos, visto que grande parte das famílias que possuem alunos matriculados na escola, são beneficiarias do Bolsa Família e possuem desempregados no lar ou trabalhadores em condições precárias e sem remuneração justa.

Considerando as respostas apresentadas pelos alunos entrevistados, estes observam a educação recebida pela escola como principal meio de superação da pobreza pois objetivam a inserção no mercado de trabalho e uma melhor qualidade de vida a partir da elevação do grau de escolaridade, como se o segundo fosse automaticamente decorrente do primeiro. Destaca-se que não se observou na fala dos entrevistados a relação da aprendizagem na escola com as palavras de empoderamento, direito ou qualquer forma de protagonismo ou fala alguma que destacasse a educação no âmbito escolar como alternativa de luta contra o capital ou que destacasse a individualidade dos entrevistados.

Compreende-se, portanto, que na visão dos estudantes a educação é um elemento essencial para a superação da pobreza, entretanto, o conjunto de dificuldades identificadas por eles mesmos tende a comprometer a visão de um futuro diferente do já vivenciado por seus familiares.

Não foi pretensão deste trabalho esgotar as análises sobre o objeto estudado.

No entanto, acredita-se que este estudo contribua para a academia, ao ampliar o conhecimento sobre o papel da educação como instrumento de superação da pobreza e da importância das condicionalidades do Programa Bolsa Família para o alcance desse objetivo. Diante da necessidade de acompanhamento do desenrolar dessa política pública convém a realização de estudos futuros para o aprofundamento de questões não abordadas neste trabalho, tal como, a análise do desenvolvimento educacional dos alunos, possibilitando a compreensão das condições de permanência na escola, desenvolvimento e de ascensão social.

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