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emancipação política nos marcos da sociedade capitalista

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Academic year: 2023

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EMANCIPAÇÃO POLÍTICA NOS MARCOS DA SOCIEDADE CAPITALISTA:

ELEMENTOS PARA ANÁLISE

Maicow Lucas Santos Walhers1 Cirlene Aparecida Hilário da Silva Oliveira2 Gabrielle Stéphany Nascimento Sgarbi3

RESUMO: O estudo busca compreender a temática participação social, sua gênese, conquistas e desafios na hodiernidade. Esse processo prediz a participação da sociedade nos processos de organização, reivindicação e tomada de decisões. Buscando atender esse objetivo, a Constituição Federal de 1988 estabeleceu a criação de conselhos gestores, que se constituem como relevantes instâncias deliberativas. Porém, apesar dos aparatos legais a participação enfrenta desafios que perpassam a gestão participativa, como processos burocráticos que requerem o empenho de profissionais, assim como a luta da sociedade objetivando superar desafios. O estudo utilizará abordagem qualitativa e pesquisa bibliográfica buscando contribuir na discussão acerca da temática.

Palavras-chave: Cidadania. Direitos. Participação social.

1 Doutorando em Serviço Social do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais – UNESP/Franca. Graduado e Mestre em Serviço Social pela UNESP/Franca. Especialista em Gestão de Organização Pública de Saúde – CEAD/UNIRIO. Membro pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Formação Profissional em Serviço Social (GEFORMSS). E-mail: <maicow.assistentesociali@live.com>.

2 Docente do curso de graduação em Serviço Social e do Programa de Pós-graduação em Serviço Social pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais – UNESP/Franca. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Formação Profissional em Serviço Social (GEFORMSS). E-mail: <cirleneoliveira@terra.com.br>.

3 Doutoranda em Serviço Social do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais – UNESP/Franca. Graduada e Mestre em Serviço Social pela UNESP/Franca. Membro pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Formação Profissional em Serviço Social (GEFORMSS). E- mail: <gabriellesgarbi@gmail.com>.

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ABSTRACT: The study seeks to understand the thematic social participation, its genesis, achievements and challenges in today's society. This process predicts the participation of society in the processes of organization, claim and decision making. In order to meet this objective, the Federal Constitution of 1988 established the creation of management councils, which constitute themselves as relevant deliberative bodies. However, despite the legal apparatuses, participation faces challenges that permeate participatory management, such as bureaucratic processes that require the commitment of professionals, as well as the struggle of society in order to overcome challenges. The study will use a qualitative approach and bibliographical research seeking to contribute to the discussion about the theme.

Keywords: Citizenship. Rights. Social participation

1 INTRODUÇÃO

Pensar os desafios para a emancipação política nos marcos da sociedade capitalista é necessário inseri-las dentro das contradições da luta de classes e dos projetos societários emancipatórios. Inicialmente, torna-se necessário diferenciar a emancipação política da emancipação humana e seus limites na sociedade capitalista contemporânea e os aspectos conjunturais e estruturais na sociedade brasileira, principalmente no atual momento político do país. Tomaremos como referencial o pensamento crítico de Karl Marx em suas obras Sobre a questão judaica de 1943 e as Glosas Críticas Marginais ao Artigo “O Rei da Prússia e a Reforma Social” de um Prussiano de 1844, considerando esses referenciais como importantes contribuições para compreendermos em sua radicalidade a emancipação política, que na particularidade da sociedade do capital, se materializa através da cidadania burguesa, encontrando como forma de sua expressão os aparatos do Estado. Dessa forma, o Estado e os aparatos legais devem ser analisados a partir da correlação de forças entre as classes sociais a partir de conjunturas políticas, sociais e econômicas determinadas:

Minhas investigações me conduziram ao seguinte resultado: as relações jurídicas, bem como as formas do Estado, não podem ser explicadas por si mesmas, nem pela chamada evolução geral do espírito humano; essas relações têm, ao contrário, suas raízes nas condições materiais de existência, em suas totalidades, condições estas que Hegel, a exemplo dos ingleses e dos franceses do século 18, compreendia sob o nome de “sociedade civil”. Cheguei também à conclusão de que a anatomia da sociedade burguesa deve ser procurada na Economia Política. (MARX, 2008, p. 45).

Esta particularidade na sociabilidade burguesa, encontra no terreno das contradições sociais da luta de classes limites e possibilidades para sua efetivação, de acordo com cada momento histórico. Mas é crucial ter clareza, que a cidadania burguesa, que se expressa

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através do Estado Democrático de Direitos, configura-se como uma estratégia frente as tensões sociais dos movimentos e das classes sociais, não sinalizando a superação da lógica capitalista e o seu modo de produção centrado na propriedade privada dos meios de produção e da riqueza socialmente produzida. Tonet (2005), apresenta uma análise crítica em relação a concepção da cidadania, colocando-a no campo das relações sociais mediadas pelo trabalho e não no campo jurídico-político:

[...] o equívoco mais comum nas investigações da filosofia e da ciência política: buscar na dimensão jurídico-política o princípio de inteligibilidade da cidadania, quando, de fato, ele se encontra, em última análise, nas relações que os homens estabelecem entre si no trabalho. Tendo em vista estas considerações metodológicas e ainda o fato de que, para Marx, a cidadania faz parte do que ele chama de emancipação política, julgamos necessário, antes de mais nada, entender o que é a política para este autor.

Desde os gregos, passando pelos romanos, pelos medievais e pelos modernos, variadas são as concepções a respeito da origem, da natureza e da finalidade da política. Mas, todas elas têm algo em comum: a consideração de que a política é uma dimensão incorporada de modo irrevogável à existência humana e tem como fim principal a preocupação com o bem comum (TONET, 2005, p. 55).

Apesar dos desafios e limitações da sua concretização na sociedade de classes é fundamental perceber que a emancipação política se configura como uma das estratégias para o acesso da população aos seus direitos e da sua intervenção no aparato Estatal, já que este configura como uma das mediações da sociedade capitalista moderna. Ou seja, a luta de classes também perpassa dentro dos aparatos democráticos de direitos. O Estado moderno como mediação da sociedade capitalista, não dilui a desigualdade social, mas a reproduz dentro do projeto societário burguês. historicamente, surge dentro do marcos do capitalismo como uma das estratégias de superação do antigo regime:

Por isso mesmo é que Marx (1991) diz que a emancipação política implica a dissolução da velha sociedade feudal, na qual não havia separação entre sociedade civil e Estado e na qual os entes singulares estavam irrevogavelmente subsumidos às ordens sociais ou às corporações de ofício. Deste modo, a emancipação política significou tanto a separação entre sociedade civil e Estado – sem que isto implicasse nenhuma dissolução do vínculo ontológico entre eles, mas apenas uma nova configuração – quanto à cisão da sociedade em duas esferas – privada e pública – sendo a segunda, a expressão da primeira. O Estado, portanto, não é apenas um instrumento de defesa dos interesses particulares da burguesia, mas também uma expressão invertida da desigualdade social de raiz. Invertida, porque o interesse particular, que reina soberano na sociedade civil, apresenta-se, na sociedade política, sob a forma de interesse geral (TONET, 2005, p. 72).

Na atual conjuntura, frente ao avanço do ideário neoliberal e de setores dominantes que ocupam cargos do mais alto escalão nos poderes executivo, legislativo e judiciário, tem demonstrado que a cidadania nos moldes do capitalismo ainda se configura como um desafio, diante do cerceamento da participação popular e os ataques ao direitos sociais, seja diretamente através da sua retirada, seja indiretamente através do sucateamento e

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estratégias de retirada da capacidade de decisão popular por meio do ataque a educação brasileira, cada vez mais tecnicista, aligeirada e precarizada.

O que tem sido evidenciado pelos constante ataques a democracia brasileira e a educação através de projetos conservadores como “Escola sem partido”, colocando como neutralidade o cercamento do pensamento livre, e a não priorização do ensino de humanas no ensino superior e outras ações que tem atacado o ensino superior público. Frigotto (2016) desvela a real intenção dos projetos de lei e iniciativas que tentam atacar a democracia brasileira e a liberdade de pensamento:

[...] trata-se da defesa, por seus arautos, da escola do partido absoluto e único: partido da intolerância com as diferentes ou antagônicas visões de mundo, de conhecimento, de educação, de justiça, de liberdade; partido, portanto da xenofobia nas suas diferentes facetas: de gênero, de etnia, da pobreza e dos pobres, etc. Um partido, portanto que ameaça os fundamentos da liberdade e da democracia liberal, mesmo que nos seus marcos limitados e mais formais que reais (FRIGOTTO, 2016, [p. 1]).

Apesar de não ser nosso objeto de reflexão, é importante salientar que abordar a questão da emancipação humana, numa perspectiva enquanto sujeito de direitos, que participa de forma consciente e autônoma dos instrumentos de participação popular, perpassa por uma formação crítica, plural e que permita o debate e a reflexão sobre as questões que permeiam nossa sociedade.

A participação social almeja integrar o indivíduo à sociedade, fazendo com que esse possa participar de questões no âmbito governamental que rebatem diretamente na sua realidade social concreta.

Compreende-se a participação como um processo social, político e sobretudo educativo, para que essa ocorra é necessário que os indivíduos estejam conscientes das possibilidades e dos desafios acerca realidade social que vivenciam, podendo refletir e questionar a mesma com uma perspectiva crítica.

Ademais, a participação social pode ser exercida por meio de oficinas socioeducativas, mobilizações, passeatas, conselhos, fóruns e associações assistenciais de bairro, com intuito de organizarem-se e reivindicar ações em defesa dos direitos sociais, dos interesses da população visando o bem comum de todos.

Para Souza (2000, p.81) “[...] a participação é linguagem comum nas diversas camadas da população em que pese existirem interesses e preocupações contraditórias e antagônicas.”

Na década de 1950, a participação social esteve mais presente nas discussões do país, pois nesse momento o ideal desenvolvimentista tomava conta do Brasil. “Os indivíduos buscavam organizar-se, pois presenciava-se o agravamento da questão social, da qualidade

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de vida, da pobreza, do desemprego, da educação, da saúde, do meio ambiente. ” (SILVA, 2004, p.10)

A partir da década de 1960, devido ao árduo período de ditadura militar que assolava o Brasil, a participação social ficou caracterizada pelo seu posicionamento político e social, pois nesse momento as mobilizações marcaram o país, fizeram-se presentes buscando o bem comum para a população por meio da organização e reivindicação dos indivíduos pelos seus direitos.

Já a década de 1980 foi marcada pelas conquistas, ressaltamos a Constituição Federal de 1988 como um avanço. Para Nogueira, (2004, p. 141) “A Constituição de 1988, ressoava vibrações da luta contra a ditadura e trouxe relevantes elementos de democracia participativa.”

A década de 1990, foi considerada como um período de avanço, pois diversas questões travadas em luta pela população foram regulamentadas em lei. Nesse período surge a proposta dos conselhos “ [...] os conselhos foram propostos numa conjuntura de mobilização da sociedade. ” (BRAVO, MENEZES, 2012, p.274)

Diante do breve exposto histórico acerca da participação social, compreende-se que essa deve ser considerada como um direito de todos os indivíduos, pois é oriunda da organização, reivindicação e luta do povo brasileiro.

Para possuirmos conquistas relevantes referentes a participação social, é necessário que os indivíduos se organizem e reivindique seus direitos, buscando o que é melhor para todos, esse é um campo de luta política, social e educativa.

2. Os tipos de participação e a democracia

Para analisarmos os desafios da participação popular enquanto sujeitos de direitos, é necessário compreendermos como se materializa a cidadania burguesa, enquanto fenômeno da sociedade capitalista a partir da construção do Estado Moderno, representando enquanto mediação necessária para a reprodução do capitalismo, garantindo dessa forma, sua hegemonia e o controle das classes sociais, como expressão da luta de classes.

Karl Marx em sua obra A questão judaica apresenta em termos concretos a diferenciação entre a emancipação humana e a política, ao apresentar uma crítica radical A Bruno Bauer. Para Marx, a emancipação política é a “A revolução política é a da sociedade burguesa” (MARX, 2010, p. 51), sendo uma emancipação parcial pois não elimina a dominação do homem pelo homem, ocorrendo dentro dos limites da sociedade burguesa e a partir do que é permitido pelo próprio processo de produção capitalista em seus diferentes

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estágios. Já a emancipação humana, supõe o desenvolvimento do homem em sua potencialidade, enquanto homem genérico, livre e sem a dominação e exploração de classes.

Nesta perspectiva a categoria trabalho constitui enquanto eixo fundamente, diante da sua dimensão enquanto atividade ontológica, capaz de promover a plena expansão dos sujeitos sociais, enquanto indivíduo e coletivo, em todas as dimensões da vida social. Esta diferenciação é explícita na obra de Marx (2010) ao apresentar a crítica a Bruno Bauer, ressaltando que o mesmo não realiza a crítica ao Estado como tal, confundindo emancipação política com emancipação humana:

Ele impõe condições que não estão fundadas na essência da emancipação política mesma. Ele levanta perguntas que não estão contidas na tarefa que se propôs e resolve problemas que deixam o seu questionamento sem resposta. Bauer diz sobre os adversários da emancipação dos judeus que: “Seu único erro foi presumirem que o Estado cristão é o único verdadeiro e não o submeterem à mesma crítica com que contemplaram o judaísmo” (p. 3); diante disso, vemos o erro de Bauer no fato de submeter à crítica tão somente o “Estado cristão”, mas não o “Estado como tal”, no fato de não investigar a relação entre emancipação política e emancipação humana e, em conseqüência, de impor condições que só se explicam a partir da confusão acrítica da emancipação política com a emancipação humana em geral (MARX, 2010, p. 36).

Os instrumentos jurídico-legais surgem como forma de proteger a propriedade privada:

“o executivo no Estado moderno não é senão um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa" (MARX; ENGELS, 2010, p. 42). Dessa forma, o Estado representa os interesses políticos, econômicos e ideológicos da classe social que detém a hegemonia na sociedade. Essa relação é claro que por ser dialética, está inserida na luta de classes e sofre os tensionamentos dessa relação e dos interesses das classes sociais em disputa ao longo do processo histórico. Nesta relação contraditória, ontológica e antagônica, a política possui relação orgânica com a economia, devendo a partir do prisma da luta de classes e dos processos sociais mais amplos ser analisado a questão da cidadania enquanto fenômeno particular da sociedade capitalista: “é por isso que, na ótica marxiana, a compreensão da entificação da cidadania moderna é inseparável, não apenas em termos cronológicos, mas em termos ontológicos, da entificação da sociabilidade capitalista” (TONET, 2005, p. 59).

Marx (2010) reconhece a importância da emancipação política no contexto da sociedade capitalista, mas aprofunda a análise, ao destacar seus limites e apontar a revolução do proletariado como caminho para a emancipação humana.

A emancipação política de fato representa um grande progresso; não chega a ser a forma definitiva da emancipação humana em geral, mas constitui a forma definitiva da emancipação humana dentro da ordem mundial vigente até aqui. Que fique claro:

estamos falando aqui de emancipação real, de emancipação prática (MARX, 2010, p.

41).

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Após esses breves aspectos conceituais apresentaremos algumas reflexões sobre a construção de processos democráticos principalmente a partir da década de 1980, com o período de redemocratização, período histórico este que também atravessou o Brasil, evidenciando os desafios para a efetivação da cidadania, que ocorre tardiamente no contexto do nosso país.

Fazendo um retrospecto, Nogueira (2004) ressalta que os países que finalizaram o período ditatorial na década de 1980 conseguiram um grande incentivo à participação, tendo em vista o processo de redemocratização pelo qual passaram. Dessa forma, o referido autor nos revela que [...] ainda que nem toda participação seja imediatamente política, não há participação que não se oriente por algum tipo de relação com o poder – tanto com o poder de outros atores quanto com o de determinados centros organizacionais e decisórios.

(NOGUEIRA, 2004, p. 129)

Nogueira (2004) classifica quatro tipos de participação, que podem variar de acordo com aspectos históricos e sociais, além do grau de consciência coletiva, dentre elas podemos citar: A participação assistencialista, que possui de cunho filantrópico e solidário, e pode estar relacionada à igreja ou a ações comunitárias, geralmente visa atender a população em situação de vulnerabilidade social. A participação corporativa que possui o intuito de atender aos interesses de grupos sociais ou de categorias profissionais específicos, como as associações e os sindicatos trabalhistas que lutam por melhores condições de trabalho. A participação eleitoral que está diretamente vinculada a governabilidade, emanando seus efeitos sobre o coletivo. Essa participação reflete diretamente na vida da população podendo beneficiar os prejudicar a mesma. E a participação política que envolve a comunidade como um todo e pressupõe a sua relação com o Estado.

Por intermédio da participação política, indivíduos e grupos interferem para fazer com que a diferença e interesses se explicitem num terreno comum organizado por leis e instituições, bem como para fazer com que o poder se democratize e seja compartilhado. É essa participação, em suma, que consolida, protege e dinamiza a cidadania e todos os variados direitos humanos. (NOGUEIRA, 2004, p. 133).

Contudo, no que diz respeito ao campo da democracia representativa liberal, tais modalidades de participação configuraram-se como um desafio.

Esse fato ocorre devido a interesses particulares adversos à democracia, exigência por mais participação da sociedade, maior conhecimento especializado e aspectos relacionados à tecnologia da informação acabaram por banalizar os efeitos da política, contribuindo para a decadência da democracia representativa e a emergência da democracia participativa.

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2.1 Os desafios à participação na gestão pública

As formas de organização dos diversos grupos sociais são fundamentais para que estes possam somar forças no processo de reinvindicação, visando conquistas e ampliação dos direitos sociais.

No entanto, hodiernamente, observa-se um processo de descaracterização daquilo que é público em comparação ao que é ofertado pelo setor privado, contribuindo, de certa forma, para um processo de desmobilização.

De acordo com Nogueira (2004), a questão da crescente insatisfação da sociedade em relação à gestão pública está ligada à qualidade inferior na oferta de serviços públicos.

Dessa forma, tal insatisfação também pode configurar-se como uma “campanha contra o Estado”, uma vez que ao invés de haver uma melhoria de tais serviços existe o movimento inverso, ressaltamos a privatizações em diversas áreas como a educação e a saúde.

Porém, podemos observar que somente a previdência social ainda aparece como exclusividade do Estado, enquanto a saúde está sujeita aos efeitos da privatização e a assistência social vem sendo relegada às Organizações não-governamentais - ONG’s, e às corporações que pretendem mostrar o seu lado da “responsabilidade social”, que na maioria das vezes se configura como uma estratégia de mercado, restringindo direitos sociais e trabalhistas.

Nesse ínterim chegamos a um paradoxo, pois ao mesmo tempo em que há a decepção de uma parcela da sociedade em não poder usufruir dos bens públicos que lhes cabem por direito, também existe a outra parcela que nutre o desejo de participar, ainda que tal participação implique em um caminho burocrático.

A burocratização tende a tornar os processos lentos e por vezes ineficientes para propiciar as respectivas respostas as demandas oriundas da luta da população, limitando e até impossibilitando o efetivo processo de participação social.

A esse respeito, crescem as estratégias para “dinamizar a burocracia”, incorporando tecnologias da informação ao processo, na tentativa de oferecer um feedback mais rápido à sociedade.

No entanto, devemos nos questionar até que ponto os sistemas informatizados atendem às necessidades da população de forma ágil, tendo em vista as constantes situações em que a “falta e/ou queda” no sistema tornaram um atendimento mais demorado ou até mesmo prejudicado.

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Os problemas que perpassam a gestão pública podem ser potencializados com a liberação do mercado e estratégia de globalização capitalista, pois podem contribuir dinamizando a concepção que o Estado gasta muito com o social e que a intervenção do Estado deveria ser mínima, ocasionando posteriormente a redução dos gastos sociais.

Na gestão participativa o Estado possui autonomia, porém não pode abusar desta autonomia, como se estivesse desvinculado da sociedade.

A gestão participativa opera em termos descentralizados e fomenta parcerias, dentro e fora do Estado, isto é, entre as organizações públicas e a sociedade civil. Não promove a diminuição da intervenção estatal em benefício de uma maior liberdade de iniciativa e de uma maior intervenção da sociedade civil. (NOGUEIRA, 2004, p. 147)

A participação social, deve ser concebida como um direito de todos, mas ela também possui desafios e esses também perpassam a gestão participativa, entre os desafios temos os processos lentos e burocráticos que por vezes limitam o processo de participação, entretanto, conforme afirma Nogueira (2004, p. 149),

A gestão deve operar para além do formato burocrático, para produzir resultados efetivos que não se limitem ao administrativo e estejam abertos a transformação social. Mas deve dar a devida importância as questões administrativas e organizacionais, realizando também uma reforma administrativa. Portanto, não devemos eliminar a burocracia, mas a inserção de novos elementos, procedimentos e ideias para dinamizá-las.

Conforme afirma Nogueira (2004, p. 151), “a gestão deve fazer com que suas operações fiquem articuladas, ela depende de profissionais qualificadas que dominem o campo técnico-científico. Os novos gestores são bons intelectuais, mais que bons burocráticos”.

Outro desafio é que a comunidade possua uma cultura que depende da educação para a cidadania. Os cidadãos possam possuir consciência sobre suas vivências. Pois, a construção da consciência social faz-se fundamental no processo da participação.

É notório que vivenciamos um momento histórico permeado por desigualdades sociais profundas, diversas transformações societárias que precarizam as condições de trabalho e acarretam prejuízos principalmente para a classe trabalhadora.

Presencia-se também a realidade do mercado de trabalho competitivo e individualista, no qual possui um alto teor de exigências para os profissionais, e no que se refere a área da gestão participativa, não é diferente.

Ressaltamos que os profissionais dessa área devem possuir uma educação continuada, ser qualificados, dotados de conhecimento técnicos e científicos.

Diante desse contexto neoliberal ao qual estamos inseridos, torna-se evidente a existência da correlação de forças na sociedade capitalista, a luta de classes, a disputa e/ou

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distribuição de poder. Frente a este ideário, observa-se uma mudança na relação entre o público e o privado, prevalecendo a mercantilização dos direitos sociais, através da transferência das responsabilidades do Estado para a sociedade civil, transformando direito em mercadoria. Neste processo, evidencia-se a fragilização do poder dos sindicatos e demais entidades representativas da classe trabalhadora, espaços democráticos de negociação dos trabalhadores com o Estado e setores empresariais:

[...] os direitos sociais perdem identidade e a concepção de cidadania se restringe;

aprofundase a separação público-privado e a reprodução é inteiramente devolvida para este ultimo âmbito; a legislação trabalhista evolui para uma maior mercantilização da força de trabalho; a legitimação (do Estado) se reduz à ampliação do assistencialismo. (SOARES, 2000, p. 13)

Segundo Demo (2001, p. 19) “ [...] o espaço de participação precisa ser conquistado, centímetro por centímetro, o que ocorre muitas vezes é que não podemos andar a metro, mesmo porque todos os processos participativos profundos tendem a ser lentos. ”

Sabe-se que no decorrer da história do Brasil, a população foi e está sendo prejudicada até os dias atuais, possuindo seus direitos negados em detrimento de um grupo restrito que detém o capital, e por vezes preocupa-se com seus interesses particulares, chegando a desviar verbas públicas (corrupção).

Infelizmente essa realidade acarreta diretamente diversos prejuízos para a população e para participação social.

Para caminharmos no campo da participação social, faz-se necessário criar estratégias de enfrentamento e lutar, conquistando este campo aos poucos em defesa dos direitos sociais.

3 CONCLUSÃO

Ao propormos analisar os desafios para a efetivação da cidadania na contemporaneidade, faz necessário, compreendê-la a partir da categoria da emancipação política, no contexto do desenvolvimento da sociedade capitalista, onde o Estado Moderno é expressão, enquanto instrumento regulador das relações sociais, através do seu aparato jurídico-legal. Percebemos que ao evidenciar os limites da emancipação política, ao partir de uma perspectiva revolucionária, torna-se fundamental abordar a questão da emancipação humana, enquanto alternativa viável e indubitável da revolução social.

Apesar dos seus limites, percebemos que na atualidade encontramos desafios para a efetivação da cidadania nos moldes do Estado Democrático de Direito, diante do avanço do ideário neoliberal e a mudança na relação entre o público e o privado, ameaçando as garantias

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fundamentais e avançando na perda dos direitos sociais. Ao passo, que se fragiliza os instrumentos de participação social e de organização política da classe trabalhadora.

Neste processo, o desmonte da educação torna-se uma importante estratégia da sociedade capitalista para a não participação social, ao focar em uma educação mercantilizada, a-crítica, tecnicista e voltada para os interesses do mercado.

Por vezes, a participação social é considerada como um processo que não irá efetivar- se, porém é um processo de conquista vinculada a cidadania, que supõe a organização, reivindicação, processo de luto em prol dos direitos sociais e superação de desafios, almejando o bem comum da população.

Compartilhando da visão de Chaves e Nogueira (2005) “A participação da sociedade civil é importante na construção de um novo projeto societário, que tenha a sustentabilidade como pressuposto.”

Contudo, torna-se necessários que nós, enquanto assistentes sociais, possamos criar estratégias de enfrentamento aos desafios que perpassam o processo de participação social.

Por meio de questionamentos, debates e reflexões acerca do processo de gestão e participação social, com intuito de realizar uma análise crítica acerca da realidade social e política do país, e de nossa própria atuação profissional.

Ressaltamos que, o profissional deve buscar contribuir e/ou criar um espaço de participação social no seu ambiente de trabalho, envolvendo os usuários, identificando suas demandas diárias, suscitando uma visão crítica acerca da participação, desmistificando a ideia dos direitos adquiridos como uma dádiva por meio de atividades socioeducativas e debates, pois dessa forma o profissional está contribuindo no processo de luta pelos direitos daquele cidadão.

REFERÊNCIAS

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2001. Tese (Doutorado em Política Científica e Tecnológica) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2001.

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Referências

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