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Fabio Ramos

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Academic year: 2023

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OUTORGA DE DIREITOS DE USO DOS RECURSOS HÍDRICOS PARA POTENCIAIS HIDRELÉTRICOS

Leonardo Clemente1; Fabio Ramos2; Maria Cristina F. C. Marin3 & Flávia de Araújo Ramos4

Resumo - O incipiente sistema nacional de gestão de recursos hídricos está enfrentando, agora, seus primeiros desafios para implementar os seus instrumentos de gestão. Entre estes instrumentos, a outorga de direitos de uso dos recursos hídricos é, sem dúvida, um dos mais efetivos. Este artigo sugere procedimentos e critérios para a outorga de direitos de uso da água para geração hidrelétrica, considerando aspectos operacionais, de riscos e ambientais, tanto para pequenas quanto centrais de médio ou grande porte. Os critérios sugeridos pretendem ser simples e flexíveis.

Abstract - The incipient institutional water resources system of Brazil is facing now the implementation of its management instruments. Among these instruments, the award of water use rights by the State is one of the more effectives. This paper suggests procedures and criteria to perform the award of water use rights for hydropower plants, considering operational, risk and environmental aspects, either for small or regular power plants. The criteria and procedures suggested intend to be simple and flexible.

Palavras-chave - outorga, potenciais hidrelétricos, gestão.

1 Coordenador de projetos da RHE. Mestre em Engenharia Hidráulica (UFPR) – leonardo@rhe.com.br

2 Presidente do Conselho da RHE e Professor do Curso de Pós-Graduação em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental (UFPR). Ph.D. em Recursos Hídricos (MIT) e Mestre em Recursos Hídricos (MIT e UFRGS) – fabioramos@rhe.com.br

3 Diretora de Recursos Hídricos da RHE. Mestre em Engenharia Hidráulica (UFPR) – mariacristina@rhe.com.br

4 Advogada da RHE. Pós-graduada em “Máster en Economía y Regulación de los Servicios Públicos” pela Universidade de Barcelona – flavia@rhe.com.br

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INTRODUÇÃO

A questão ambiental, ao longo do tempo, vem preocupando crescentemente a população mundial e, este tema, vem sendo discutido com bastante freqüência em diversos fóruns, principalmente em relação à disponibilidade dos recursos hídricos.

No Brasil, somente em um passado bastante recente, foi instituída a Política Nacional de Recursos Hídricos e, assim como a União, os Estados também instituíram suas políticas de gerenciamento. O desenvolvimento destas políticas no País ainda está em fase incipiente e, instrumentos como a outorga e a cobrança pelo uso dos recursos hídricos, ainda se encontram em fase de estruturação. Neste contexto, somente a muito pouco tempo atrás, o Paraná, um dos Estados pioneiros no assunto, através da sua Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental – SUDERHSA, elaborou o Manual Técnico de Outorgas de Direito de Uso dos Recursos Hídricos, parcialmente desenvolvido pelos autores deste artigo.

Neste artigo são apresentados os critérios utilizados para a outorga de Potenciais Hidrelétricos.

Com a evolução da implantação dos instrumentos da política de gerenciamento dos recursos hídricos em todo o País, a outorga de direitos de uso dos recursos hídricos será mais um requisito que o investidor em geração de energia elétrica deve se preocupar para viabilizar um potencial hidrelétrico. Isto significa que está havendo um monitoramento cada vez maior e necessário em relação à disponibilidade dos recursos hídricos, seja este recurso utilizado para qualquer fim. Porém, este monitoramento e controle devem ser realizados de forma equilibrada, de modo a preservar o meio ambiente e os recursos hídricos, bem como também permitir o desenvolvimento do País.

OUTORGA DE DIREITOS DE USO DOS RECURSOS HÍDRICOS PARA POTENCIAIS HIDRLÉTRICOS NO ESTADO DO PARANÁ

Considerações gerais

Os critérios propostos para a emissão de outorgas de direitos de uso dos recursos hídricos de domínio do Estado do Paraná, para o aproveitamento de potenciais hidrelétricos, foram estabelecidos mediante regras de caráter geral e não específico. Isto por que o objetivo destes critérios, além de verificar se as vazões requeridas têm coerência com as características das estruturas da usina, é o da necessidade do Poder Público Outorgante ter um grau suficiente de discricionariedade e flexibilidade necessário para a emissão dos atos de outorgas.

Os conceitos que estabeleceram os critérios têm uma base científica forte, são bastante abrangentes, objetivos e de fácil aplicação.

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Base Legal

A outorga de direitos de uso de recursos hídricos de domínio do Estado do Paraná é um dos instrumentos da Política Estadual de Recursos Hídricos, conforme estabelece o artigo 6º, inciso IV da Lei Estadual nº 12.726/99 (Lei que veio a instituir a Política Estadual de Recursos Hídricos). A referida Lei estabelece nos seus artigos 12 a 18, sobre o regime de outorga de direitos de uso dos recursos hídricos do Estado, mencionando que estão sujeitos à outorga pelo Poder Público, dentre outros usos, os usos de recursos hídricos para o aproveitamento de potenciais hidrelétricos. O Decreto Estadual nº 4.646, de 31 de agosto de 2001, veio a regulamentar o regime de outorgas.

Vazões cuja outorga deve ser requerida

De acordo com o Art. 22 do Decreto nº 4.646/2001, do Estado do Paraná, as vazões a serem outorgadas para os usos correspondentes ao aproveitamento de potenciais hidrelétricos são as seguintes:

- Vazão correspondente à Energia Assegurada;

- Vazão correspondente ao engolimento máximo das máquinas;

- Vazões de projeto das estruturas extravasoras; e, - Vazões mínimas a serem garantidas a jusante.

Este conjunto de vazões caracteriza de forma completa o uso dos recursos hídricos, compreendendo os aspectos operacionais da usina (vazões correspondentes à Energia Assegurada e ao engolimento máximo das máquinas), os aspectos de risco pela existência da barragem (vazões de projeto das estruturas extravasoras), e aspectos ambientais (vazões mínimas a serem garantidas para jusante).

A seguir são apresentadas algumas considerações gerais sobre a outorga de direitos de uso dos recursos hídricos para o aproveitamento de potenciais hidrelétricos e, mais adiante, os procedimentos administrativos e técnicos para a análise dos requerimentos de outorga desses usos.

ETAPAS PARA OBTENÇÃO DA OUTORGA DE DIREITOS DE USO DOS RECURSOS HÍDRICOS PARA POTENCIAIS HIDRELÉTRICOS

O processamento dos requerimentos de outorga de direitos de uso dos recursos hídricos para potenciais hidrelétricos, para o Estado do Paraná, compreende duas etapas distintas:

- Outorga Prévia:

A mesma é exigível quando o objeto requerido é condicionante para a continuidade de outros procedimentos de licenciamentos, em especial a Autorização Ambiental e a Licença

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Prévia – LP. A outorga prévia deve ser requerida com a devida antecedência, de acordo com os prazos definidos para análise do Poder Público Outorgante.

A outorga prévia não implica em decisão final do Poder Público Outorgante, não estabelecendo, portanto, direitos de uso dos recursos hídricos, correspondendo à manifestação prévia do Poder Público Outorgante acerca do objeto requerido, de modo a possibilitar ao requerente prosseguir no planejamento e projeto de empreendimento, no atendimento às etapas de licenciamentos previstas na legislação ambiental, de uso e ocupação do solo e demais normas aplicáveis.

No caso do uso de recursos hídricos para aproveitamento de potenciais hidrelétricos, a outorga prévia terá, como finalidade precípua, declarar a reserva de disponibilidade hídrica, para efeito de aplicação do disposto no artigo 7º, §1º da Lei Federal nº 9.984, de 17 de julho de 20005 (Lei que dispõe sobre a criação da Agência Nacional de Águas).

- Outorga de Direitos de Uso:

O requerimento da outorga de direitos de uso deve ser efetuado, preferencialmente, junto com o requerimento da outorga prévia, compondo um único processo administrativo.

O Poder Público Outorgante dispõe de um prazo máximo de 90 (noventa) dias, contados da data de abertura do processo de requerimento de outorga, para deliberar sobre o mesmo, podendo, nos casos em que houver a necessidade de licenciamento ambiental, se estender a 60 (sessenta) dias contados a partir da data de anexação ao processo de requerimento de outorga, da cópia da licença ambiental pertinente.

Em um contexto geral, para melhor entendimento, na Figura 1 a seguir, é apresentado um fluxograma dos procedimentos administrativos do requerimento de outorga, conforme estabelecido no Decreto nº 4.646, do Estado do Paraná, de 31 de agosto de 2001.

5 Dispõe o art. 7º, §1º da Lei 9984/2000: “Quando o potencial hidráulico localizar-se em corpo de água de domínio dos Estados ou do Distrito Federal, a declaração da reserva de disponibilidade hídrica será obtida em articulação com a respectiva entidade gestora de recursos hídricos.”

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Figura 1 – Procedimentos Administrativos do Requerimento de Outorga (Decreto nº 4.646/2001)

A Secretaria do DGRH encaminha o processo administrativo para análise técnica do requerimento de outorga. Para análises técnicas a SUDERHSA poderá articular-se com outros órgãos e instituições do Governo do Estado do Paraná, em especial com IAP e organizações técnicas de ensino e pesquisa.

O interessado deverá apresentar conjunto de informações relativo ao empreendimento para abertura do processo administrativo junto a SUDERHSA. Na composição da documentação, deverão constar os elementos mencionados nos incisos do artigo 11 do Decreto 4646/2001, detalhados nos artigos 14 e 15 do referido Decreto, que correspondem também aos necessários para a tramitação da etapa da outorga prévia.

O Interessado deve protocolar o processo administrativo junto a SUDERHSA. Caso no município ou região em que o requerente se encontra não exista uma regional da SUDERHSA, o processo pode ser protocolado junto as regionais do IAP, as quais encaminharão o processo para a SUDERHSA.

A Secretaria do Departamento de Gestão dos Recursos Hídricos - DGRH cadastra o usuário e faz publicação da súmula do pedido de outorga no Diário Oficial.

A SUDERHSA disporá de um prazo não superior a 15 dias contados a partir da instauração do processo administrativo ou da produção de elementos relativos à sua fase de instrução, para solicitar ao requerente informações ou documentos complementares, conforme §1º do artigo 16 do Decreto 4646/2001.

Caso a intervenção seja objeto de licenciamento ambiental, a SUDERHSA emitirá a outorga prévia, por meio de um parecer administrativo.

Para obtenção da outorga de direito de uso do recurso hídrico, o requerente deverá apresentar as informações solicitadas pela SUDERHSA, conforme disposto no artigo 12 do Decreto 4646/2001.

Caso a intervenção não seja objeto de licenciamento ambiental, a SUDERHSA emitirá a outorga de direitos de uso do recurso hídrico, mediante a apresentação por parte do requerente das informações dispostas no artigo 12 do Decreto 4646/2001.

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Figura 1 – Procedimentos Administrativos do Requerimento de Outorga (Decreto nº 4.646/2001) – [continuação]

Documentação do Processo Administrativo

Para a composição da abertura do processo administrativo devem constar os dados gerais pertinentes ao objeto do processo administrativo, compreendido em ambas as suas etapas de outorga prévia e outorga de direitos de uso, dados e informações constantes de estudos preliminares, de concepção ou de viabilidade, cópia do deferimento à Consulta Prévia concedido pela Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba - COMEC ou por entidade regional equivalente e, certidão da Prefeitura Municipal declarando expressamente que o local e o tipo de empreendimento ou atividades estão em conformidade com a legislação municipal aplicável ao uso e ocupação do solo e à proteção do meio ambiente.

Para a instrução do ato administrativo final, deverão ser anexados ao processo, após a verificação e análise dos documentos juntados em sua abertura, informações de interesse para o processo de outorga provenientes de projetos de engenharia, cópia da Anuência Prévia da COMEC ou de entidades regionais equivalentes e, cópia, quando a intervenção for objeto de licenciamento ambiental, da licença pertinente, obtida junto ao Instituto Ambiental do Paraná – IAP.

Forma dos Atos Administrativos

Os artigos 28 e 29 do Decreto Estadual nº 4646/2001, estabelecem o que deverá constar no ato administrativo de outorga prévia, denominada no referido Decreto de “parecer administrativo”, A SUDERHSA disporá de prazo máximo de 90 dias, contados da data de abertura do processo administrativo para deliberar sobre o requerimento, ressalvados os casos em que houver necessidade de licenciamento ambiental, quando o prazo máximo para deliberação estenderá a 60 dias contados da data de anexação no processo administrativo da cópia da licença ambiental pertinente.

Arquivamento do processo em caso de não atendimento às solicitações e aos prazos fixados pela SUDERHSA.

Cumpridas as formalidades administrativas e concluídas as análises técnicas, a final de cada etapa, de outorga prévia e de outorga de direitos de uso, os processos serão submetidos à decisão do Diretor Presidente da SUDERHSA.

O Diretor Presidente emite o ato de parecer administrativo ou de autorização de direito de uso por meio de publicação na imprensa oficial.

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sendo os seguintes: os dispositivos legais que fundamentam a competência do Poder Público Outorgante para praticar o ato administrativo e a finalidade do ato administrativo como fator de realização do interesse coletivo; a caracterização do requerimento e a identificação do requerente enquanto elementos geradores do ato administrativo; qualificação e quantificação, e respectivos regimes de variação, dos usos pretendidos que podem ser outorgados; a probabilidade de garantia do suprimento hídrico dos volumes pretendidos que podem ser outorgados; o prazo de vigência, sendo que este não poderá ser superior a 35 (trinta e cinco) anos, ou a data de encerramento da outorga de concessão ou autorização do potencial de energia hidráulica, expedida pela Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, renovável, segundo critérios técnicos estabelecidos em ato próprio do Poder Público outorgante; requisitos e condicionantes para a etapa seguinte do processamento administrativo do requerimento de outorga e para a efetivação e operação dos usos, empreendimentos, atividades ou intervenções, além de declaração de reserva de disponibilidade hídrica, também devem constar no parecer administrativo.

Nas autorizações de direitos de uso, os itens que devem constar são basicamente os mesmos dos pareceres administrativos, exceto a periodicidade para a apresentação de declaração de confirmação dos dados de outorga de direitos de uso, a obrigatoriedade de recolhimento dos valores da cobrança pelo uso de recursos hídricos, quando exigível. Ocorrerá a revogação se nos casos em que o licenciamento ambiental for exigível, se a Licença de Instalação - LI for indeferida ou se a Licença de Operação - LO for cancelada ou, ainda, se as licenças municipais para construção e funcionamento não forem emitidas ou em uma ampliação, reforma ou modificação nos processos de produção, que alterem as disposições contidas no ato administrativo de outorga, de forma permanente ou temporária, deverão ser objeto de novo requerimento, a sujeitar-se aos mesmos procedimentos que deram origem ao ato administrativo anterior. Porém, nesta fase, os documentos devem ser elaborados sempre considerando que as vazões já foram outorgadas.

PROCEDIMENTOS TÉCNICOS PARA A ANÁLISE DOS REQUERIMENTOS DE OUTORGA DE DIREITOS DE USO DOS RECURSOS HÍDRICOS PARA POTENCIAIS HIDRELÉTRICOS NO ESTADO DO PARANÁ

Critérios condicionantes para análise técnica dos requerimentos de outorga de direitos de uso Para a análise técnica dos requerimentos de outorga de direitos de uso, os critérios condicionantes são os seguintes:

- As prioridades de uso estabelecidas nos Planos de Bacia Hidrográfica;

- O enquadramento dos corpos de água em classes de uso de acordo com os Planos de

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observando-se as concentrações limites de cada indicador de poluição para seção de corpo hídrico ou sub-bacia;

- A preservação dos usos múltiplos dos recursos hídricos; e,

- A manutenção, quando for o caso, das condições adequadas ao transporte aquaviário.

A análise técnica dos requerimentos de outorga de direitos de uso é baseada, ainda, no cotejamento das informações contidas no processo administrativo com as disponibilidades hídricas.

Estas disponibilidades hídricas ficam definidas, para a seção de corpo hídrico ou sub-bacia, como sendo o resultado de cálculos de balanço hídrico e de qualidade de água, computando-se as seguintes parcelas:

- Vazões de referência: vazões naturais, determinadas com base em estudos hidrológicos, para diferentes períodos de retorno e duração ou freqüência de curvas de permanência;

- Qualidade das águas nos corpos hídricos, obtida por meio de redes de monitoramento ou estimada, para diferentes condições hidrológicas, com a utilização de modelos matemáticos de simulação;

- Vazões outorgadas: vazões já comprometidas por meio de ato administrativo de outorga de direitos de uso, devidamente registradas nos cadastros de usos e usuários de água do Poder Público Outorgante;

- Cargas outorgadas: quantitativos e concentrações das cargas despejadas, para os diversos tipos de poluentes, já permitidas por meio de ato administrativo de outorga de direitos de uso, devidamente registradas nos cadastros de usos e usuários de água do Poder Público Outorgante;

- Vazões e cargas insignificantes: estimativa das vazões e cargas decorrentes dos usos insignificantes, determinados de acordo com os critérios do parágrafo único do art. 7o deste regulamento;

- Vazões para prevenção da degradação ambiental e manutenção dos ecossistemas aquáticos;

- Vazões, inclusive de diluição, para o atendimento às demandas futuras, de acordo com o Plano Estadual de Recursos Hídricos, os Planos de Bacia Hidrográfica e demais planos setoriais, com prioridade para aquelas destinadas ao consumo humano e à dessedentação de animais;

- Vazões para manutenção das características de navegabilidade do corpo hídrico, quando for o caso.

As disponibilidades hídricas deverão estar associadas a uma probabilidade de garantia do suprimento hídrico, calculada por meio de estudos hidrológicos.

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Os cálculos de balanço hídrico e de qualidade de água deverão contemplar, inclusive, os usos passíveis de outorga que, por qualquer motivo, ainda não estejam registrados nos cadastros de usos e usuários de água do Poder Público Outorgante.

Estando submetidos à apreciação do Poder Público Outorgante, simultaneamente, requerimentos que explicitem conflitos de uso de recursos hídricos que não possam ser hierarquizados por meio dos parâmetros e critérios descritos acima, caberá ao respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica deliberar sobre a alocação dos recursos hídricos mais convenientes aos interesses coletivos, adotando, nesta decisão, critérios sociais e econômicos, sempre que possível, referenciados ao Plano de Bacia Hidrográfica. Constatando-se a impossibilidade de se estabelecer a hierarquia entre os objetos dos requerimentos, inclusive após a intervenção do Comitê de Bacia Hidrográfica, os requerimentos serão avaliados de acordo com a ordem em que foram protocolados junto ao Poder Público Outorgante.

Na seqüência são apresentados quais os procedimentos técnicos necessários para a análise dos requerimentos de outorga dos usos da vazão correspondente à Energia Assegurada, vazão correspondente ao engolimento máximo das máquinas, vazões de projeto das estruturas extravasoras e vazões mínimas a serem garantidas a jusante.

Vazão correspondente à Energia Assegurada

A Energia Assegurada das usinas hidrelétricas despachadas centralizadamente pelo Operador Nacional do Sistema - ONS, é considerada como 95% da Energia Garantida e, esta, por sua vez, é definida como a energia capaz de atender a demanda do sistema com risco de déficit de 5%. Neste ano de 2003 todas as energias asseguradas destas usinas passarão por uma revisão de seus valores.

Para as usinas hidrelétricas não despachadas centralizadamente, o que inclui as Pequenas Centrais Hidrelétricas – PCHs (potência instalada abaixo de 30 MW), a Energia Assegurada é definida como a média da energia que o aproveitamento poderia gerar, levando-se em consideração a série de vazões, a produtividade média, a indisponibilidade total e a potência instalada, conforme estabelecido na Resolução ANEEL nº 169, de 3 de maio de 2001.

Os dados necessários para efetuar a análise dos requerimentos de vazão correspondentes à Energia Assegurada dos Potenciais Hidrelétricos são os seguintes:

- Queda, em m;

- Projetos do reservatório, barragem, casa de força e canal de restituição;

- Série de vazões naturais do local do aproveitamento, em m3/s, ou estudos de regionalização hidrológica;

- Energia Assegurada, definida pela ANEEL ou nos estudos energéticos, em MWmed;

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Os procedimentos são:

A) Traçar curva de permanência de vazões, através da série de vazões naturais, ou utilizar estudos de regionalização disponíveis;

B) Caso a Energia Assegurada tenha sido fornecida pela ANEEL, aplicar a equação (1):

H 81 , 9

EA QP 1000

×

× η

= × (1)

Onde:

QP: Vazão Preliminar, em m3/s

EA: Energia Assegurada, em MWmed

η: rendimento do conjunto turbo-gerador (caso não existam dados disponíveis, adotar o valor de 0,85)

H: Queda, em m

Caso a queda não tenha sido fornecida diretamente, calcular esta conforme as instruções a seguir:

- Para PCHs e centrais hidrelétricas a fio d´água, adotar o desnível total entre a cota do reservatório e a cota da restituição;

- Para centrais hidrelétricas com reservatório, adotar o desnível total entre a cota de montante correspondente a 2/3 do volume útil do reservatório e a cota da restituição.

Se o valor da Energia Assegurada for fornecido pelo requerente da outorga com base nos estudos energéticos, fazer inicialmente a seguinte verificação:

PINST

FC= EA (2)

Onde:

FC: Fator de Capacidade adimensional EA: Energia Assegurada, em MWmed PINST: Potência Instalada, em MW

Se 0,50 < FC < 0,65, aplicar a equação (1) utilizando a Energia Assegurada fornecida. Caso o FC esteja fora da faixa indicada, solicitar ao requerente cópia dos estudos energéticos. Nos estudos energéticos, verificar:

- Para PCHs: se a Energia Assegurada é igual à potência média da usina. Caso não seja, adotar esta média para PCHs conectadas ao sistema interligado. Para PCHs em sistemas isolados, analisar os estudos fornecidos.

- Para Centrais Hidrelétricas em geral: para Centrais Hidrelétricas conectadas ao sistema interligado, verificar nos estudos energéticos a geração média da usina durante o

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período crítico do sistema interligado (junho/1949 à novembro/1956), e adotar este valor. Para Centrais Hidrelétricas em sistemas isolados, analisar os estudos fornecidos.

C) Na curva de permanência de vazões, entrar com o valor de QP e obter o percentual de permanência (perm1) desta vazão.

D) No eixo das abcissas, se perm1 > 20%, a vazão correspondente à esta permanência pode ser outorgada.

Caso perm1 seja menor que 20%, solicitar esclarecimentos ao requerente.

Vazão correspondente ao engolimento máximo das máquinas

Para efetuar a análise dos requerimentos de vazão correspondente ao engolimento máximo das máquinas dos Potenciais Hidrelétricos são necessários os seguintes dados:

- Série de vazões naturais do local do aproveitamento, em m3/s;

- Projeto da Casa de Força;

- Especificação do fabricante das turbinas.

Os procedimentos são os seguintes:

A) Traçar curva de permanência de vazões;

B) Calcular o somatório da capacidade de engolimento das turbinas (engol), em m3/s, de acordo com a especificação do fabricante das turbinas;

C) Na curva de permanência de vazões, entrar com o valor de engol e obter o percentual de permanência (perm2) desta vazão;

D) No eixo das abscissas, se perm2 > 7,5%, a vazão correspondente à esta permanência pode ser outorgada.

Caso perm2 seja menor que 7,5%, solicitar esclarecimentos ao requerente.

Vazões de projeto das estruturas extravasoras

Para a análise das vazões de projeto das estruturas extravasoras, devem ser solicitados os seguintes dados:

- Série de vazões diárias naturais do local do aproveitamento, em m3/s, ou estudos de regionalização hidrológica;

- Projeto do Vertedor;

- Tempo de Recorrência adotado para obtenção da vazão de projeto e, conseqüentemente, dimensionamento do vertedor, em anos.

Os procedimentos necessários são descritos a seguir:

1ª verificação: vazão de cheia

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A) Obter a descarga máxima anual para todos os anos da série de vazões, ou utilizar estudos de regionalização hidrológica disponíveis;

B) Calcular a freqüência (Tempo de Recorrência) para cada valor de descarga máxima anual;

C) Construir a curva de freqüência de cheias (Descarga Máxima Anual x Tempo de Recorrência), ajustando os pontos plotados por uma reta e extrapolando esta até Tempo de Recorrência = 10.000 anos.

D) Na curva de freqüência de cheias, entrar com o valor do Tempo de Recorrência adotado para dimensionamento do vertedor e obter a vazão correspondente. Valores recomendados para projetos de estruturas extravasoras são apresentados na Tabela 1 a seguir.

Tabela 1 – Projeto de estruturas extravasoras Tempo de

recorrência (anos)

Vida útil da usina

(anos) Risco (%) Caso

500 50 9,5 Geral

1.000 50 4,9 Perigo de sérios danos

materiais a jusante

10.000 50 0,5 Perigo de danos humanos a

jusante Fonte: ELETROBRÁS (1999).

E) Se a diferença entre a vazão requerida e a vazão calculada no passo anterior for inferior a 10% da vazão requerida, adotar a vazão requerida. Caso contrário, solicitar esclarecimentos ao requerente.

2ª verificação: dimensionamento do vertedor A) Identificar o tipo de vertedor;

B) Calcular a vazão máxima de projeto, em função do dimensionamento do vertedor, segundo o tipo considerado;

Calcular a vazão máxima de projeto, em função do dimensionamento do vertedor, segundo o tipo considerado.

- Para vertedor em canal, adotar a equação (3), apresentada a seguir:

QMAX =VMAX×[(b×hMAX)+(m×hMAX2 )] (3)

Onde:

QMAX: vazão máxima de projeto, em m3/s

VMAX: velocidade máxima admissível no canal, em m/s b: largura da base do canal, em m

hMAX: lâmina d’água máxima, em m m: inclinação dos taludes, em m

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- Para barragem vertedoura, adotar a equação (4), apresentada a seguir:

QMAX =CD×b×h32 (4)

Onde:

QMAX: vazão máxima de projeto, em m3/s

CD: coeficiente de vazão. (adotar 2,0 se o vertedor for de concreto e 1,7 se for em enrocamento)

b: largura da base do canal, em m h: lâmina d’água, em m

- Caso tenha sido adotada outra configuração de vertedor, desconsiderar esta verificação e analisar o caso específico.

C) Se a diferença entre a vazão calculada e a vazão requerida for superior a 10%, solicitar esclarecimentos ao requerente em relação ao dimensionamento do vertedor.

Vazões mínimas a serem garantidas para jusante

Para análise das vazões mínimas a serem garantidas para jusante são necessários os seguintes dados:

- Série de vazões diárias naturais do local do aproveitamento, em m3/s, ou estudos de regionalização hidrológica;

- Projeto contendo o arranjo geral do empreendimento;

- Projeto da Descarga de Fundo.

E, os procedimentos são os seguintes:

1ª verificação: vazão mínima

A) Obter as vazões mínimas de 7 dias de duração com base na série de vazões diárias naturais diárias do local do aproveitamento ou utilizar estudos de regionalização hidrológica;

B) Calcular a freqüência (Tempo de Recorrência) para cada valor de vazão mínima;

C) Adotar 50% do valor correspondente a 10 anos de Tempo de Recorrência como a vazão mínima a ser garantida para jusante.

D) Se a diferença entre a vazão requerida e a vazão calculada no passo anterior for inferior a 10%

da vazão requerida, adotar a vazão requerida. Caso contrário, solicitar esclarecimentos ao requerente.

2ª verificação: dimensionamento da descarga de fundo

A) Calcular a vazão máxima admissível na estrutura, em função do dimensionamento da descarga

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5 , 0 D

MAX C A (2 g h)

Q = × × (5)

Onde:

QMAX: vazão máxima na descarga de fundo, em m3/s

CD: coeficiente de descarga adimensional (adotar 0,82 caso a saída da estrutura opere livre e 0,78 caso a saída da estrutura opere afogada, ou detalhar a análise)

A: área da seção transversal da descarga de fundo, em m2 g = 9,81 m/s2 (aceleração da gravidade)

∆h: altura do nível d’água, em m (caso a estrutura opere afogada, considerar a diferença de altura entre os níveis de montante e jusante)

B) Se a diferença entre a vazão calculada e a vazão requerida for superior a 10%, solicitar esclarecimentos ao requerente em relação ao dimensionamento da descarga de fundo.

CONCLUSÕES

De acordo com os critérios propostos para o Manual Técnico de Outorgas de Direito de Uso dos Recursos Hídricos para o Estado do Paraná, em relação a potenciais hidrelétricos, pode-se afirmar que estes se tratam de critérios de fácil aplicação pelos profissionais do corpo técnico do Poder Público Outorgante, de modo que estes tenham condições de aferir se as vazões solicitadas pelo requerente das outorgas estão de acordo com o projeto do potencial hidrelétrico.

Os critérios propostos intencionalmente não têm regras muito rígidas, pois se assim fosse, o Poder Público Outorgante poderia se imaginar em uma situação difícil no surgimento do primeiro projeto que não seguisse o padrão normal. Isto não significa que as vazões requeridas para serem outorgadas estão erradas, mas apenas que o projeto em análise seja um pouco fora do contexto.

Procurou-se o adequado equilíbrio entre regras precisas de análise e a criatividade e liberdade do projetista, reservando-se sempre a possibilidade da discussão técnica, no caso de resultados discordantes entre o projetista e o analista para outorga.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA - ANEEL. Resolução nº 169, de 03 de maio de 2001. Estabelece critérios para a utilização do Mecanismo de Realocação de Energia –

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MRE por centrais hidrelétricas não despachadas centralizadamente Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 4 mai 2001.

CLEMENTE, Leonardo. Seleção da Potência Instalada Ótima de PCHs no Contexto de Mercados Competitivos. Curitiba, 2001. 270 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Hidráulica) – Setor de Tecnologia, Universidade Federal do Paraná.

CLEMENTE, Leonardo; RAMOS, Fabio. Critérios para a Seleção da Potência Instalada de PCHs (Criteria for the Selection of Installed Capacity of SHPs). Revista PCH Notícias &

SHP News. Itajubá, ano 4, n.º 15, Ago/Set/Out 2002.

ELETROBRÁS. Diretrizes para Estudos e Projetos de PCH. Rio de Janeiro, 1999.

ESTADO DO PARANÁ. Decreto nº 4.646 de 31 de agosto de 2001. Dispõe sobre o regime de outorga de direitos de uso de recursos hídricos. Diário Oficial do Estado, Curitiba, 31 ago 2001.

SUPERINTENDÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS E SANEAMENTO AMBIENTAL DO ESTADO DO PARANÁ – SUDERHSA. Manual Técnico de Outorgas de Direitos de Uso dos Recursos Hídricos para o Estado do Paraná. Curitiba, 2003.

Referências

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Durante a análise foram destacados pontos primordiais para o conhecimento e detalhamento dos homicídios, tais quais: meses do ano, bairros, relação dos homicídios com