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A importância das variáveis sociais na formação do perfil linguístico do falante pessoense

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Academic year: 2023

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Pesquisas em Lingüística e Literatura: Descrição, Aplicação, Ensino - ISBN: 85-906478-0-3 284 A Sociolinguística Quantitativa, ou Teoria da Variação, rechaça os pressupostos teóricos das correntes lingüísticas anteriores no que concerne à concepção de língua por elas adotada, pois não acredita num falante ouvinte ideal nem numa língua homogênea, mas sim numa língua heterogênea, dinâmica e passível de sistematização

Essa corrente linguística é definida por Carmen Corvalán (19) como

“uma disciplina independente, com uma metodologia própria, desenvolvida principalmente nos Estados Unidos e Canadá a partir dos anos 60, que estuda a língua em seu contexto social e se preocupa essencialmente em explicar a variação lingüística, sua interelação com fatores sociais e o papel que esta variabilidade desempenha nos processos de mudança lingüística.”

A idéia de homogeneidade é descartada na Sociolingüística porque seus falantes são de sexo, faixa etária e classe social distintas, e sendo assim, sofrem diferentes influências do ambiente externo. O resultado dessas interferências do meio social é a variação lingüística, ou seja, diversas maneiras de dizer algo com o mesmo valor de verdade (Tarallo; 1990).

A Sociolinguística estuda a relação entre língua e sociedade com o objetivo de entender a estrutura da língua, diferente da Sociologia da Linguagem, que estuda a relação entre língua e sociedade objetivando entender a estrutura da sociedade.

(CHAMBERS; 1995).

Por acreditar na sistematização da heterogeneidade da língua falada ela tem uma metodologia própria, trabalhando com dados empíricos que, ao serem descritos e analisados, revelarão que fatores lingüísticos e sociais influenciaram regularmente na escolha de uma forma em detrimento de outra. E se essa escolha está levando a um processo de mudança lingüística.

Tencionamos nesse trabalho traçar o perfil linguístico do falante pessoense com base em estudos sociolinguísticos que tomam por base o corpus do projeto Variação Linguística no Estado da Paraíba (VALPB), composto de 60 entrevistas com falantes de sexo, faixa etária e escolaridade diferentes.

1. As variáveis sociais

A idéia de um estudo que integrasse a variação na fala e os aspectos sociais foi desenvolvida de forma pioneira por William Labov, que em 1963 publica um trabalho feito por ele na comunidade de Martha’s Vineyard, Massachusetts sobre a

centralização do ditongo /ay/ e /aw/. Em 64, Labov conclui seu trabalho sobre a estratificação social do inglês de Nova York e elabora “um modelo de descrição e interpretação do fenômeno lingüístico no contexto social de comunidades urbanas”

(Alkimin; 2001), que é denominado Teoria da Variação.

A partir desses estudos a concepção de língua isolada da sociedade, ou seja, impossível de receber influências do meio social no qual está inserido o falante é ultrapassada por uma concepção de língua ativa, mutável e que sofre uma grande influência de fatores como o sexo ou classe social do indivíduo, por exemplo.

Ao adotar a metodologia laboviana, os estudos a serem aqui apresentados quantificam a influência dos fatores sociais por eles selecionados, sexo, faixa etária e anos de escolarização, e dessa forma observam quais deles estão contribuindo para que haja uma mudança lingüística na comunidade pessoense.

Optamos por dividir os estudos a serem aqui abordados em dois quadros, sendo que no primeiro agrupamos os que adotam uma variável fonológica, enquanto que no segundo constam os estudos voltados para fenômenos sintáticos. Nestes quadros destacamos quais variáveis sociais foram selecionadas como relevantes para cada estudo.

Variáveis Sociais Selecionadas Quadro1

Quadro2

A importância das variáveis sociais na formação do perfil linguístico do falante pessoense

Ana Clarissa Santos Beserra Quézia Neves de Oliveira Universidade Federal da Paraíba ABSTRACT: The sociolinguistic studies, as the own name already says, observe the relation between language and society, emphasizing the influence that the social factors as the sex, the age or the social classroom of the speaker exert in speak. Based in the estimated theoreticians of the Quantitative Sociolinguistic, the present objective work to trace a linguistic profile of the based speaker from João Pessoa in studies that had used the corpus of the Projeto Variação Lingüística no Estado da Paraíba (VALPB), formed for informers of this community, demonstrating the importance of the social variable as conditioning of the linguistic phenomenon for boarded them.

PALAVRAS-CHAVE: sociolingüística; variação; perfil.

SINTAXE SEXO FAIXA ETÁRIA

ANOS DE ESCOLARIZAÇÃO Estratégias relativas não-padrão

na fala pessoense x

Fenômeno variável: nós e a gente x x x

A Influência da Simplificação da Conjugação Verbal na Construção do

Imperativo x

A Influência da Saliência Fônica na Concordância Nominal Falada

em João Pessoa x

A ordem sujeito verbo/ verbo sujeito na fala

pessoense x x

A Regência Ir de Movimento na

Perspectiva Variacionista x

Variação ter/haver na fala pessoense x x x

Comportamento sociolingüístico da

preposição para na Paraíba x x

A variável saliência fônica e sua atuação no processo variável da concordância verbal

na fala pessoense x

Perfil do possesivo de terceira pessoa na

fala pessoense x

(2)

285 Pesquisas em Lingüística e Literatura: Descrição, Aplicação, Ensino - ISBN: 85-906478-0-3

A partir desse quadro percebemos que a variável social considerada como influente na maioria dos estudos, sejam eles fonológicos ou sintáticos, é a que se refere aos anos de escolarização dos falante, selecionada em 14(quatorze) dos 16(dezesseis) trabalhos, enquanto a variável sexo e faixa etária foram selecionadas em 7 (sete) e 6 (seis) estudos, respectivamente.

1.1. Sexo

O primeiro estudo a considerar o sexo como um fator condicionante na escolha de variantes foi realizado por Fischer(1958), quando num estudo feito numa comunidade rural da Nova Inglaterra sobre a realização de [ing] ou [in] ele observou que a mulheres utilizavam mais a forma padrão [ing] à não padrão [in]. A esse estudo Fischer intitulou Social influences on the choice of a linguistic variant.

O estudo realizado por Labov (1966) em Massachussets corrobora o de Fischer, pois no fenômeno estudado as mulheres também favorecem a forma padrão.

Nos fenômenos lingüísticos da comunidade pessoense que tiveram a influência da variável sexo, as mulheres se mostraram inovadoras, pois em 4 (quatro) dos 7(sete) estudos elas preferiram a forma não padrão em detrimento da padrão. Os fenômenos onde a mulher foi considerada inovadora são os analisados por Marques (2001), Barros(2000), Fernandes(1998) e Silva (2001) sendo o primeiro relacionado à fonologia e os demais à sintaxe.

Apesar de estar inserida numa sociedade onde o homem domina o mercado de trabalho, a mulher está conquistando seu espaço, e, conseqüentemente, ampliando seu círculo de amizades, mantendo um convívio direto com outras pessoas, e recebendo influências diretas destas no seu modo de falar.

1.2. Faixa Etária

Em 1905, em seu estudo sobre a palatal /λ/ numa aldeia suíça, Gauchat constatou pela primeira vez diferenças entre o comportamento lingüístico de falantes pertencentes a faixas etárias distintas. Neste estudo demonstrou-se que os jovens eram responsáveis pela implantação da forma inovadora, preferindo a pronúncia /y/, enquanto os mais velhos privilegiavam o uso da forma mais conservadora /λ/ . Os falantes da faixa etária intermediária utilizavam ambas as realizações.

Não percebemos grandes diferenças ao analisar a fala dos pessoenses. Selecionado em 6 (seis) estudos, esse fator atestou uma mudança em progresso em 3 (três) deles: o uso variável do ditongo em contexto de sibilante, o apagamento da oclusiva dental /d/, e as estratégias relativas não-padrão na fala pessoense, já que coube aos jovens o papel de inovadores utilizando mais formas não padrão do que a padrão. Nos três estudos restantes essa variável indicou uma estabilidade na língua, pois os jovens e idosos utilizam a mesma forma enquanto os adultos não.

A variável faixa etária apresenta-se como determinante na verificação de um processo de mudança pois, se os idosos realizam uma variável distinta das utilizadas pelos jovens e adultos, a comunidade pode estar vivenciando uma mudança com relação ao fenômeno lingüístico estudado.

1.3. Anos de escolarização

A variável social anos de escolarização foi a mais selecionada nos trabalhos realizados no VALPB, presente em 12 dos 15 trabalhos observados.

Segundo os estudos sociolingüísticos já realizados e que

adotaram essa variável como relevante para o estudo de fenômenos de variação, os falantes mais escolarizados tendem a utilizar mais a variável padrão, em oposição aos menos escolarizados que utilizariam as formas estigmatizadas. Um exemplo que confirma essa hipótese é o estudo feito por Labov (1966) intitulado de The social stratification of English in New York city que foi o primeiro a adotar a variável social anos de escolarização.

A grande maioria dos trabalhos observados ratifica o resultado do estudo de Labov. Silva (1997) pesquisou sobre o processo de monotongação e concluiu que os falantes mais escolarizados monotongam menos que os não escolarizados.

Segundo Oliveira e Silva (1996), o estudo de ditongos feito na escola realça a presença da semivogal.

Um fato interessante a se observar é que mesmo os fenômenos que não são alvos da programação escolar mostraram- se condicionados pelo nível de escolarização. Como exemplo, temos o uso do pronome nós em relação à forma a gente, e o uso da forma seu concorrendo com a forma dele na terceira pessoa, que apesar de não serem focalizados pelo sistema escolar, mostram a interferência da escola. Andrade, investigou o uso do possessivo de terceira pessoa mostrando que, quanto mais escolarizado o falante, mais ele usará a forma padrão, no caso, o possessivo seu, em detrimento à forma não padrão, dele.

Concluímos que, direta ou indiretamente, a participação da escola acaba sendo decisiva como condicionante do comportamento lingüístico. O trabalho que ela faz com os alunos a fim de levá-los a falar segundo a norma culta, faz com que eles coloquem em prática o que é passado, e mesmo aqueles que rejeitam tal norma apresentam na fala alguns traços da atuação da escola. O próprio fato dos alunos conviverem com outros de nível de escolarização superior, ou até mesmo com os professores, também é condicionante para que eles privilegiem a forma padrão. Sendo assim, os falantes analfabetos têm uma tendência bem maior de falar a forma não padrão, já que não tem acesso à escola, e muitas vezes, relacionam-se com pessoas de mesmo nível de escolarização.

2. Perfil do falante pessoense

De acordo com o que pudemos observar nos estudos realizados na comunidade pessoense, o falante dessa comunidade apresenta inovações no que se refere às três variáveis sociais selecionadas. No que se refere ao sexo, a mulher pessoense está ocupando uma posição de inovadora em relação ao homem, que por sua vez, está utilizando mais a variável padrão. No que se refere à faixa etária os adultos estão na posição de inovadores, enquanto os jovens e idosos optam pelo uso da variável de prestígio, a padrão.

O fator anos de escolarização faz dos universitários os grandes privilegiadores da forma padrão, enquanto os analfabetos continuam, como em muitos estados brasileiros a utilizar a forma não padrão, considerada estigmatizada.

Sendo assim um homem idoso e com um alto nível de escolaridade seria um ótimo exemplo de um falante que segue os padrões da norma culta, enquanto uma mulher adulta e analfabeta representaria, na comunidade pessoense, um protótipo de que formas diferentes daquelas defendidas pela gramática normativa podem ser utilizadas eficientemente na comunicação entre indivíduos.

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(3)

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Referências

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