XXXI Congresso de Iniciação Científica
Lei 7.716/89 no TJSP: Análise da estrutura do Judiciário e sua relação com o racismo institucional
Daniela Cristina de Oliveira Balduino. Orientador Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa, Câmpus Franca, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Direito. dnbalduino@gmail.com. PIBIC/Reitoria.
Palavras Chave: Racismo Institucional, poder judiciário, acesso à justiça.
Introdução
A naturalização do racismo encontra-se nas mais variadas formas, e, consequentemente, dentro das instituições, fazendo com que a população negra tenha seu acesso a oportunidades sociais, culturais e profissionais prejudicado. O presente estudo propõe-se analisar se o campo jurídico está afetado pelo racismo institucional, mediante a investigação dos desafios impostos ao judiciário diante do imperativo de concretização do previsto no ordenamento jurídico na lei 7.716 de 1989, cujo objetivo é punir crimes relacionados ao preconceito de raça, cor e procedência nacional.
Objetivo
Analisar a abordagem jurídica atribuída aos casos de racismo visando desvendar as facetas do racismo institucional presente no Brasil, e, consequentemente, observar sua manifestação na dinâmica do judiciário.
Material e Métodos
O estudo pautou-se numa análise exploratória tanto da literatura científica do Direito, quanto das Ciências Sociais sobre o preconceito racial e sua expressão na sociedade; a construção e manifestação do racismo institucional, e, por fim, a construção doutrinária da legislação antirracista.
Como parte de uma investigação mais abrangente, foi analisado especificamente o artigo 20, parágrafo 2º da referida Lei, onde lê-se “qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza”1. Destarte, ao acessar o sítio eletrônico do Tribunal de Justiça de São Paulo (http://esaj.tjsp.jus.br) foi selecionado para pesquisa livre os termos “crime de racismo” e “crimes resultantes de preconceito de raça e de cor”.
Posteriormente, foram encontradas doze decisões pautadas na Lei 7.716, sendo dez delas referentes ao parágrafo 2º. Frente a tamanha incidência optou- se pela análise dos crimes enquadrados especificamente nesse parágrafo. Objetivando analisar a manifestação do campo prático do saber jurídico, selecionou-se as decisões improcedentes a fim de observar a fundamentação articulada pelos magistrados.
1 Brasil. Lei 7.716 de 1989. Brasília, DF 1989.
Resultados e Discussão
Foi utilizado como referencial teórico os elementos para uma sociologia do Direito, de Pierre Bordieu2. Segundo o autor, existe no campo do Direito uma divisão do trabalho a qual implica disputas de poder que definem o saber jurídico: o campo da interpretação teórica e o da interpretação prática.
Assim, diante da jurisprudência levantada foi possível observar dois eixos de fundamentação.
Primeiramente, alega-se que as situações fáticas contidas nas denúncias se caracterizam enquanto injúria racial e não como crime de racismo, muitas vezes sem qualquer respaldo doutrinário ou jurisprudencial na decisão. Além disso, há a descaracterização frente ao elemento subjetivo do tipo penal. As manifestações jocosas, mesmo que no sentido de fazer piada, não estão livres da abrangência da lei3, todavia, os magistrados, em suas decisões, têm levantado o animus jocandi como forma de absolver os réus das denúncias, colocando a intenção de fazer piada como oposta a prática do racismo. Esse tipo de decisão vem acompanhada de testemunhos onde se justifica que o réu convive com outras pessoas negras no seu cotidiano, na intenção de defender-se do cunho preconceituoso da brincadeira, configurando outro elemento estranho a legislação utilizado, contudo, para ceifar sua aplicação.
Conclusões
A partir da análise destes casos e da base teórica construída acerca da expressão do racismo na sociedade brasileira, a pesquisa em andamento demonstrou até o momento: o parecer dos magistrados contém explicações fundamentadas em elementos que promovem racismo institucional, constituindo barreiras de acesso à justiça, bem como demonstram uma dificuldade do campo jurídico em reconhecer o que é racismo e quais os alcances e limitações da legislação antirracista.
Agradecimentos
Agradeço ao meu orinetador pela oportunidade e aprendizado, bem como à Reitoria Unesp pela concessão da bolsa de iniciação científica.
2 Bordieu, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil 2007.
3 Osório, F. M.; Schafer, J. G. Dos crimes de discriminação e preconceito. Revista dos tribunias, p. 329, 1995.
