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Mental health the Light of Body Psychology

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8 REVISTA LATINO-AMERICANA DE PSICOLOGIA CORPORAL Ano 3, No. 5, Junho/2016 – ISSN: 2357-9692

Edição eletrônica em http://psicorporal.emnuvens.com.br/rbpc

Saúde Mental à Luz da Psicologia Corporal

Resumo: Esse artigo tem como objetivo apresentar uma experiência de desinstitucionalização de hospitais psiquiátricos em Pernambuco para um novo modelo de “Saúde Mental pela Prática da Convivência”, e de “portas abertas”, realizada em um núcleo de ressocialização que recebeu 70 usuários de longa permanência do Instituto de Psiquiatria do Recife no ato da sua desativação em 2010. Tem como objetivo também fundamentar a psicologia corporal a partir de Wilhelm Reich e Alexander Lowen como bases teóricas e práticas para desenvolvimento de uma proposta que respeita a singularidade e a humanização em Saúde Mental. Esse artigo apresenta uma nova metodologia de atendimento às pessoas acometidas de transtorno psíquico tendo como base a capacitação e integração da equipe multiprofissional para um modelo pautado nas demandas e na voz do próprio usuário e da sua família.

Palavras chave: Saúde Mental; Reforma; humanização; usuário; Psicologia Corporal.

Mental health the Light of Body Psychology

Abstract: This article aims to present a deinstitutionalization experience of psychiatric hospitals in Pernambuco for a new model of "Mental Health from Practice of Living Together" and "open" held in a core of resocialization which received 70 long-term users permanence of Recife Institute of Psychiatry at the time of its deactivation in 2010.It aims also support the body psychology from Wilhelm Reich and Alexander Lowen as theoretical and practical bases for developing a proposal that respects the uniqueness and humanization in Mental Health. This paper presents a new method of care for people suffering from mental disorders based on the training and integration of the multidisciplinary team for a model based on the demands and the user's own voice and your family.

Keywords: Mental Health; Reform; humanization; user; Body Psychology.

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Reich disse que ninguém trapaceia a natureza, acredito totalmente nisso. Uma vez que somos parte dela, enganá-la seria enganar a nós mesmos. O perigo do mundo moderno é a megalomania, segundo o qual podemos fazer tudo que sonharmos. Essa informação infundada beira a insanidade. A verdadeira realização que a vida e a terapia ofercem é a capacidade de o indivíduo ser verdadeiro consigo mesmo.

Porque, para mim, o eu é corporal e é o único que jamais chegaremos a conhecer.

Confie nele, ame-o e seja verdadeiro com você mesmo. (LOWEN, 2007).

Fernanda Andrade Lima 1

1 Psicóloga Clínica com Pós Graduação em Análise Bioenergética e Terapia de Casal e família. Arteterapeuta e Presidente da Associação Pernambucana de Terapia de família. Diretora Científica da Federação Latino-Americana de Análise Bioenergética.

E-mail:

fernanda.horizonte@gmail.com

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9 REVISTA LATINO-AMERICANA DE PSICOLOGIA CORPORAL Ano 3, No. 5, Junho/2016 – ISSN: 2357-9692

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Introdução

Desde 1971 com a Reforma Psiquiátrica iniciando em Trieste , estamos passando por uma Reforma na saúde mental em todo mundo. Na América Latina um marco importante foi a Declaração de Caracas : “A atenção psiquiátrica convencional não permite alcançar os objetivos compatíveis com uma atenção comunitária, integral, descentralizada, contínua, participativa e preventiva;” aprovada no dia 14 de Novembro de 1990, (Série E. Legislação de saúde, 2004, p.11. 2.13.) e que legitima a reestruturação da assistência desconstruindo o modelo hospitalocêntrico para o desenvolvimento de novos dispositivos de atenção primária, secundária e terciária, ou seja, assistência em atendimentos para prevenção, cuidados semi -intensivos , intensivos e internações de breve permanência respectivamente . A reestruturação da assistência psiquiátrica no Brasil tem como marco a lei 10. 216 de 06 de Abril de 2001, (Série E. Legislação de saúde, 2004, p. 17.18.19) “que as organizações, associações e demais participantes dessa conferência se comprometam solidariamente a advogar e desenvolver em seus países, programas que promovam a reestruturação da assistência psiquiátrica e a vigilância e defesa dos Direitos Humanos dos doentes mentais, de acordo com as legislações nacionais e respectivos compromissos internacionais”. Essa lei confirma a declaração de Caracas e legitima os Direitos a Saúde Mental pelo SUS, bem como estimula os movimentos sociais que clamam libertar a pessoa acometida de transtorno psíquico da internação desnecessária, exige humanização e inclusão Social.

Alguns países estão mais a frente no processo Reformista, e outros ainda em processo incipiente, e ainda outros, nem aderiram ao processo. No Brasil existiu um movimento dos trabalhadores de saúde mental que começou por volta de 1970 dentro dos próprios Hospitais Psiquiátricos e, através dos trabalhadores engajados com as mudanças do tratamento ao doente mental, que evoluiu para o movimento hoje nomeado de Luta Antimanicomial. O Movimento Antimanicomial tem o dia 18 de maio como data de comemoração no calendário nacional brasileiro. Esta data está relacionada ao Encontro dos Trabalhadores da Saúde Mental, ocorrido em 1987, na cidade de Bauru, no estado de São paulo, que reuniu mais de 350 trabalhadores na área de saúde mental. Na sua origem, esse movimento está ligado à Reforma Sanitária Brasileira da qual resultou a criação do Sistema Único de Saúde - (SUS); está ligado também à experiência de desinstitucionalização da Psiquiatria desenvolvida em Gorízia e em Triestre, na Itália, por Franco Basaglia nos anos 70.

O Movimento Antimanicomial com abrangência em todo país tem como ideologia mudar a assistência das pessoas com transtornos psíquicos através de uma visão humanizada e inclusiva, contra os tratamentos com resquícios asilar e manicomial, em todas as instâncias de atendimento em saúde mental. Muitas iniciativas vêm se desenvolvendo para fortalecer a desinstitucionalização.

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O estado de Pernambuco já reduziu em torno de 2.000 leitos em hospitais psiquiátricos conveniados com o SUS nos últimos vinte anos e já implantou 54 residências terapêuticas para abrigar pessoas que ficaram abandonadas nas instituições que se encontram em processo de desativação. O presente artigo pretende relatar uma experiência ainda em curso que tem como base os fundamentos da Psicologia Corporal através dos teóricos Wilhelm Reich e Alexander Lowen, também enfatiza as bases Psicanalíticas winnicottianas destacando a formação de vínculo no processo de ressocialização de pessoas acometidas de transtorno mental grave e que passaram mais de 10 anos em instituições psiquiátricas. Serão apresentadas nesse artigo novas propostas de atendimento no processo de desinstitucionalização fruto dessa experiência, e para tal, é importante contextualizar marcos importante na história da loucura.

Importantes momentos na Reforma Psiquiátrica

Os atos asilares, heranças da história da loucura fundados na desconstrução Pineliana que desacorrentava aqueles que comprometiam a ordem social e tratava como categorias marginais. Esses eram os “vagabundos , prostitutas, marginais e os comportamentos visto pela desrazão ”, que ou eram expulsos de suas cidades ou acorrentados, herança da Idade Clássica.

A obra de Pinel, em tecnologia de saber e intervenção entre a loucura e o hospital, cujos pilares são representados pela constituição da primeira nosografia, pela organização do espaço asilar e pela imposição de uma imposição terapêutica (o tratamento moral), representa o primeiro e mais importante marco histórico para medicalização do hospital, transformando-o em instituição médica (e não mais social e filantrópica), e para apropriação da loucura pelo discurso e prática médica.

(AMARANTE, 2005 P27).

O tratamento asilar onde as pessoas consideradas “alienadas”, portanto incapazes, eram retiradas das suas casas e das ruas, fundou um poder hospitalar e de tutela institucional. Os hospitais gerais e filantrópicos, asilos, tinham como função de “recolher” para moralizar e catequizar e não acolher e tratar. Com o desenvolvimento social e a impossibilidades técnicas dos religiosos de prestar assistência, e também pelo aumento dessa população abandonada que era considerada incapaz e amoral começa a se diferenciar a “desrazão” para loucura. Surgiram as colônias como grandes centros de pesquisa da neuropsiquiatria, onde se inicia o surgimento de um olhar científico para a doença mental emergente a partir do final do século XIX. Nessa época ao mesmo tempo em que se reconhece um sujeito do cuidado, esse cuidado ainda permanece em um modelo alienante, a uma visão entrelaçada entre marginalização e doença.

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Foi se desenvolvendo um DES tratamento que confundia o tratar e o punir. Essa população começou a ser vista como doentes de alta periculosidade e causavam rejeição social, portanto passaram a ser tratados em manicômios, assim chamados por utilizar métodos de contenção, métodos Biomédicos que tendiam a tirar a consciência como a lobotomia, eletroconvulsoterapia, camisa de força e celas de isolamento. Essas atitudes e medidas implantadas na época tinham como objetivo coerção dos sintomas e comportamento impulsivo, “desordeiro, hetero agressivo e bizarro”, mas já reconhecido por um modelo biomédico( FOUCAULT 2005), deixando o paciente sem capacidade de reação, sem memória, sem expressão e sem “voz”, afetando a sua personalidade enquanto sujeito e principalmente sua existência e identidade enquanto ser humano.

No Início do séc. XX, Ainda buscando novas formas de tratamento foram surgindo os hospitais colônias e hospitais psiquiátricos a partir do modelo Biomédico que se transformaram em centros de pesquisas neuropsiquiátricas iniciando o surgimento da medicalização. Com o surgimento dos hospitais psiquiátricos começam a se instalar um modelo de internações de emergência e com menos tempo de permanência, surgem também às equipes interdisciplinar de apoio, ainda assim, esses hospitais herdam atitudes asilares e manicomiais. A antipsiquiatria surge em1967 como um movimento anglo americano tendo como referência Ronald Laing e David Cooper:

a antipsiquiatria busca um diálogo entre a razão e a loucura, enxergando a loucura entre os homens e não dentro do homem. Critica a nosografia que estipula o ser neurótico, denuncia a cronificação da instituição asilar e considera até a procura voluntária uma imposição do mercado ao indivíduo que se sente isolado na sociedade. (AMARANTE, 2015, p.47).

Paralelamente, a esses movimentos tivemos um momento experiencial da desconstrução hospitalocêntrica que inaugura concretamente uma verdadeira Reforma psiquiátrica. Ocorre inicialmente no manicômio de Gorízia através do processo de humanização concebido por Franco Basaglia, e depois em Triste, dando continuidade a Psiquiatria Democrática italiana. Começaram então mudanças que operam no campo comunitário, a integralidade do sujeito para uma visão de saúde mental, a assistência psicossocial, prevenção em rede, acolhimento, emergência e centros de atividades e convivência. Essa experiência começa a desconstruir o modelo hospitalocêntrico e redimensiona a Atenção a Saúde Mental para o modelo comunitário. “As propostas de transformação da assistência psiquiátrica encontram-se imersas em contextos sócio- histórico precisos e, portanto datadas e matizadas por jogos de interesse, relações entre saberes, poderes, práticas e subjetividade”

(AMARANTE, 2015, p.48.).

Atualmente todo Brasil passa por um processo de transição diante da Reforma Psiquiátrica em curso desde 1991. Está sendo implantada a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) que estabelece os

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pontos de atenção para o atendimento de pessoas com problemas mentais, incluindo os efeitos nocivos do uso de crack, álcool e outras drogas. A Rede integra o Sistema Único de Saúde (SUS).

A Rede é composta por serviços e equipamentos variados, tais como: os Centros de Atenção Psicossocial(CAPS); os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT); os Centros de Convivência e Cultura, as Unidade de Acolhimento (UAs), e os leitos de atenção integral (em Hospitais Gerais, nos CAPS III). Faz parte dessa política o programa de Volta para Casa, que oferece bolsas para pacientes egressos de longas internações em hospitais psiquiátricos. As informações completas para adesão à Rede estão na Portaria do GM Nº 3.088. RAPS.

O processo de desinstitucionalzação propõe a substituição dos leitos psiquiátricos dos hospitais de grande e médio porte. A Rede de Atenção Psicossocial preconiza os programas “De Volta para casa” e “Residência Terapêutica” para os usuários que se tornaram residentes nessas instituições respeitando a territorialidade de suas origens e o resgate da cidadania destituída. Preconizam também os equipamentos substitutivos da internação por atendimentos nos CAPS, centros de atenção psicossocial para o transtorno mental em adultos, adolescentes e crianças, além dos adictos. A RAPS também está estruturando os consultórios de rua, centros de convivência e cooperativas profissionais.

Apesar dos avanços na assistência muitos desafios se apresentam para o novo modelo de atenção a saúde mental na tentativa de evitar o desamparo social e a desassistência psiquiátrica nesse momento de transição.

Desencouraçando o sujeito

Falar de Reforma Psiquiátrica é também falar de um sujeito fragmentado, desincorporado e encouraçado numa camisa de força do seu próprio organismo. O sujeito impedido de expressar suas dores negadas por uma sociedade que não pode ver a loucura, estranheza e “estereotipia” e que por isso não lhe escuta, não lhe vê e, sobretudo não lhe toca, bloqueando a sua legitimidade emocional.

A psicologia corporal começou a se desenvolver a partir de 1923 na Europa, Viena, quando então, Wilhelm Reich, ainda Psicanalista, começou a estudar sobre as emoções bloqueadas no discurso do sujeito, e utilizar intervenções ativas para trabalhar as resistências. Reich, (1994) também tentou ampliar as pesquisas Psicanalíticas para além das fases pré-genitais explorando o campo da genitalidade na adolescência e no desenvolvimento do adulto, entendendo o orgasmo como uma função Inter-relacionada com as fases pré-genitais. Em suas pesquisas Reich escreveu uma obra fundamental para o desenvolvimento da psicologia corporal, psicopatologia e sociologia da vida sexual, e que se transformou depois de várias edições nos livros A Função do orgasmo, e a Análise do caráter editada pela primeira vez no Brasil, respectivamente em 1975 e1989.

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A análise do caráter e a Função do Orgasmo preconizam que durante o desenvolvimento psicossexual do sujeito, a partir do nascimento, o bebê começa a lidar com sua capacidade de prazer através das relações objetais pré edípicas, na trama edípica das relações parentais e em relação ao processo de desenvolvimento até a puberdade. Reich entendeu que o desenvolvimento psicossexual infantil quando reprimido ou frustrado em seus impulsos naturais interferiam nas funções fisiológicas, e assim sendo passavam a formar bloqueios viscerais e musculares no organismo, que concebeu como uma unidade psicossomática, onde as vivências traumáticas além de interferir no comportamento, também se desenvolviam no corpo, o que denominou de couraças, uma função de defesa ao mesmo tempo contra o mundo exterior e contra as forças pulsionais internas.” (DAUDON, 1991, p.132.).

Desenvolveu seus fundamentos ampliando a visão da integração corpo/mente na Neuropsiquiqtria, Psicanálise e Psicologia, demonstrando através de suas pesquisas na prática clínica que a repressão afetiva, sexual e política interferiam no desenvolvimento da sexualidade infantil, na expressão espontânea dos afetos, na capacidade amorosa e no fluxo natural da Bioenergia, “o trabalho bioenergético combate o negativo, a auto destruição, a couraça.” ( DAUDON,P,1991, p.59).

Reich referenciou a libido como a energia viva da psicanálise, e se preocupou também com os reflexos das relações autoritárias na a entrega ao amor e ao orgasmo como função natural do organismo. Chegou a dizer que o homem é o único animal que destrói a sexualidade ( 1994).“ O Amor, o trabalho e o conhecimento são as fontes da nossa vida deveriam então governá-la. Essa sentença de Reich é apresentada em quase toda sua obra para enfatizar que as áreas mais importantes da vida estão vinculadas a relação prazer-desprazer como antítese do desenvolvimento.

Desde o nascimento as dificuldades relacionais na estruturação dos vínculos e a expressão natural do organismo são bloqueadas e vão desenvolvendo tensões, inicialmente viscerais, até dá origem as couraças musculares e sua representação psíquica que Reich denominou de couraça caracterial. A couraça caracterial representa a soma de todas as forças de defesas repressivas

(DAUDON,1991, p.131).

As experiências primárias são de dimensão psicossomática, ou seja, o desenvolvimento tem duas vias, psique e soma, refletindo desde a concepção, onde podem se estruturar os traços esquizoides desenvolvimentais, passando pela complexidade caracterológica. O organismo desenvolve defesas que se estruturam para se proteger das faltas, da frustação, do desamor, das ansiedades primárias e do desamparo social que são à base da neurose e da psicose. Em suas pesquisas sobre cisão esquizofrênica: “Destrói-se a vontade do bebê, da criança. Então a criança recolhe-se e renuncia com um grande não. Não diz não. Não grita não, não. Mas existe uma expressão de não, é uma renúncia.” (HIGGINS, M. RAPHAEL, C. 1979, p. 42).

Desde 1931 Reich também propõe as clínicas sociais e os seminários psicanalíticos como uma das possibilidades de reflexão sobre a evolução nesse campo, bem como discussões e novas pesquisas,

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e de que forma o social corrobora para a neurose e a psicose. Um dos focos de Reich era a prevenção através de suporte, orientação as classes desfavorecidas, orientação familiar, educação para crianças, educação sexual para juventude e casais formando movimentos de Higiene Mental, o sexpool, movimento de política sexual que chegou a reunir 40.000 associados entre adultos e adolescentes.

Desde então a preocupação de Reich evoluiu além da visão da integralidade psicossomática para o contexto sócio político acreditando que os componentes emocionais que promovem a neurose e a cisão esquizofrênica estão relacionados a uma sociedade que nega os Direitos Humanos de forma autoritária e devastadora, impedindo assim, qualquer expressão libertária do sujeito que se cala e reprime o seu corpo e seus afetos. Já em 1930, Reich se anunciou como um reformista em saúde mental, dando ênfase ao contexto biopsicossocial, quando divulga o que é caos social,? E o que não é o caos social ? Proposta que se baseia na sexualidade e no amor, (BOADELLA, P.82 e 83, 1985.)

Milita no comunismo, contra o fascismo. Escreveu a Revolução Sexual, 1945 e psicologia de massas do fascismo, 1933, que se baseia em refletir as relações de domínio que regulam a sexualidade da sociedade negando a expressão dos afetos, portanto fragilizando o sujeito em sua potência existencial.

Reich então se torna pioneiro em desenvolver intervenções corporais como psicanalista tendo como proposta estimular o sujeito a exercitar sua respiração de forma mais profunda, que favorece o contato com as sensações corporais e as emoções. Reich também propôs movimentos espontâneos para expressão das dores inconscientes primárias que se diferenciavam da catarse, porque essas técnicas corporais estavam conjugadas com a elaboração dos conteúdos psíquicos. É importante entender que com o desenvolvimento dessa técnica as resistências diminuíam e o trabalho terapêutico progredia. Para Reich, era necessário já em 1930 fazer mais pesquisas relacionando as fases pré- genitais com a genitalidade, indo além da visão Freudiana, pois onde a palavra não chega, o corpo expressa. Um dos objetivos do trabalho corporal é a recuperação da potência Orgástica no seu sentido mais amplo de recuperação de pulsão de vida e de saúde mental.

É precisamente o processo fisiológico de repressão que merece a nossa atenção. Não deixa nunca de ser surpreendente o modo como a dissolução de um espasmo muscular não só libera a energia vegetativa, mas vai, além disso, e principalmente, produz a lembrança da situação da infância na qual ocorreu a repressão do instinto.

(REICH,1994, p.255).

A psicologia corporal propõe as intervenções corporais a partir dos fundamentos psicanalíticos, especialmente em relação ao desenvolvimento do vínculo. Propõe o fortalecimento do sujeito através da expressão da dor, de potencializar a capacidade de prazer. Atualmente existem

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sociedades no mundo inteiro, uma das que vem se destacando é a sociedade Internacional de Análise Bioenergética, fundada desde 1956 por Alexander Lowen e Jonh Pierrakos.

O sujeito “Reichiano” é um ser social que legitima seus Direitos, um ser biológico em sua integralidade psicossomática, e acima de tudo, um ser sistêmico que vem sendo negado desde sua concepção em sua conectividade cósmica e sua antítese funcional de morte e vida. “O que anteriormente parecia uma excitação psíquica surgia agora como uma corrente biológica” (REICH, 1994, p.227). Reich nos deixou um legado ainda hoje pouco explorado que permite adentrar nesse sujeito contemporâneo que busca se realojar em si mesmo diante de tantas contradições vincular e social, podendo integrar sua loucura como conteúdo da sua saúde mental.

Alexander Lowen, cliente e aluno de Reich se tornou terapeuta corporal e desenvolveu uma nova abordagem, a Análise bioenergética em 1956, baseada nos fundamentos e prática Reichiana.

Manteve os fundamentos do pioneirismo de Reich em uma prática da psicologia de intervenções corporais por entender também e legitimar o sujeito como unidade psicossomática. Lowen introduziu exercícios corporais desenvolvidos através de suas próprias vivências junto com um colega Jonh Pierrakos, também terapeuta corporal, visando o desbloqueio dos anéis de tensão no corpo que causam graves danos ao organismo. Danos físicos, emocionais e comportamentais, alguns irreparáveis.

Destaca-se em Lowen e Pierrakos, especialmente os trabalhos desenvolvidos em comum, uma tendência crescente em colocar em primeiro plano as intuições do

“vivido”, os feelings, aquilo que o indivíduo sente e experimenta, e de privilegiar os efeitos terapêuticos. É esta valorização tecnicista que contribui para separar a noção de Bioenergia do conjunto do texto Reichiano e para conferir-lhe uma função mais nitidamente pragmática, ao lado de técnicas e terapias vizinhas : a Gestalt terapia de inspiração Reichiana, que pretende fazer com que o indivíduo admita as partes reprimidas, omitidas separadas de sua personalidade; os métodos de desenvolvimento do potencial humano; os grupos de encontro e de aconselhamento recíproco. (DAUDON, 1991, p.57).

A visão caracterológica de Lowen,(1958) desenvolvimento de um self a partir também, das vivências somáticas se diferenciam de Reich em função da sistematização dos caráteres que Lowen descreve como cinco tipos, e os desenvolve dando ênfase a etiologia, estrutura corporal, padrão de comportamento, e também intervenções terapêuticas corporais sugeridas para trabalhar a sintomatologia de cada estrutura. Esses caráteres são designados de: O caráter Esquizoide, o caráter oral, o caráter masoquista, o caráter psicopático, o caráter rígido.

A concepção teórica desses caráteres está relacionada às fases pré-genitais da teoria Freudiana, as “pulsões libidinais”, as relações objetais e a s fontes erógenas corporais, então já podemos ver o desenho de uma psicologia corporal teoricamente se estruturando nas concepções psicanalíticas, mas se diferenciando das intervenções unicamente pelo discurso do sujeito e suas representações simbólicas. Vale salientar que uma das formas de entendimento dessas estruturas se baseia em

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compreender onde o sujeito bloqueou o prazer e como está a sua capacidade de restaurá-lo. Essa designação é uma forma para um entendimento teórico, mas em sua prática, compreendê-los faz parte de uma dinâmica complexa e singular para cada sujeito, e só um terapeuta em Análise Bioenergética tem capacidade para fazer leituras dinâmicas e intervenções corporais. Outro fator importante nas concepções da Análise Bioenergética é de como cada terapeuta deve está em ressonância corporal com o cliente para atuar através da empatia e favorecer o Vínculo.

Em sua etiologia podemos perceber que as estruturas caracterológicas vão se construindo, a partir da sua própria capacidade de desenvolvimento, através dos vínculos familiares, inicialmente com prevalência da função materna e a ligação e o apoio, ou não, da função paterna, e a partir daí a construção dos vínculos familiares, bem como a inserção como sujeito na sociedade. (LOWEN, 1982).

Os bloqueios somáticos começam a se estruturar desde a concepção, a gestação, crescimento até a vida adulta. É importante pontuar aqui as contribuições de WINNICOTT (1983), em que os fundamentos psicanalíticos atualmente se aproximam da Análise bioenergética, especialmente em relação a formação dos vínculos e no processo de maturação. Para a teoria winnicottiana, não existe bebê sem função materna, assim como não existe função materna sem a paterna, aqui a função paterna vai está em interação com o ambiente. Para o sujeito atingir a independência precisa de um cuidado materno suficientemente bom, desde o nascimento, para construção do processo de diferenciação na fusão absoluta com a mãe que implica também um cuidado paterno/materno que perpassa por quatro estágios no holding: fusão absoluta, dependência total, dependência relativa, independência para vir a ser”. (WINNICOTT, 1982).

É exatamente nesse “vir a ser” que o sujeito vai apresentar a sua fragilidade e o seu potencial originado nos diversos estágios do desenvolvimento diante dos traumas de desenvolvimento.

Para winnicott, a função paterna como parte do ambiente emocional do bebê. Aqui a função paterna está na posição de suporte à mãe e ao ambiente. Nesse processo de Holding, winnicott descreve o bebê como uma massa caótica de emoções que através das identificações projetivas e a fusão corpo a corpo com a função materna vai dando continência a essas emoções, que faz o bebê passar de um estágio não integrado, usando outra linguagem,

“desincorporado” para sensação de integração, ou seja, a inserção da psique no soma, incorporando sua existência psicossomática.

1-Há um potencial herdado pelo bebê que

impulsiona o seu crescimento desde a dependência absoluta, à dependência relativa, rumo à independência, até vir a ser... 2- Mãe e bebê vivendo juntos.

O Holding na fusão total com a função materna se desenvolve através do contato, toque, cuidados físicos e emocionais e com o erotismo das zonas erógenas musculares que se fundem com o funcionamento orgástico que vai dá a base para o desenvolvimento das relações objetais. A provisão

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ambiental está relacionada à empatia nos cuidados primários e se desenvolve através dos cuidados fisiológico e afetivo fundidos, o que torna possível estruturar um self a partir da realidade psíquica interna/externa e as percepções do esquema corporal.

A Análise Bioenergética favorece o potencial de estruturação de vínculos uma vez que o analista se põe numa postura empática favorecendo holding e grounding, diante das sensações de fragmentação e caos emocional, ora na função materna ora na função paterna, e também tornando o setting terapêutico um ambiente seguro. Para tal, a Análise Bioenergética desenvolveu intervenções corporais que estimulam a expressão das emoções contidas e reprimidas, bem como, técnicas que possibilitam a contenção e a integração de sensações caóticas emocionais.

O grouding, (1985) que tem uma importância central no processo terapêutico, Lowen, Odila, Adriana. É uma postura concebida em poder suportar a realidade desde o desenvolvimento dos conflitos primários intra psíquico até o enfrentamento do mundo externo. “O grounding pode ser entendido como enraizamento, ou seja, a capacidade da pessoa entrar em contato consigo mesmo e com o mundo exterior.”( WEIGAND, 2006, p. 30).

Sentimentos de compaixão, cuidado e amor na empatia da relação terapêutica humaniza os campos de atendimento e desenvolve o grounding através do processo de vinculação em saúde mental (LIMA, 2015).

Apesar da sistematização teórica de Lowen podemos entender a Análise Bioenergética como um referencial de um legado da Psicologia Corporal que vem se ampliando para todos os campos de atuação. No presente artigo as referências teóricas e práticas da Psicologia Corporal foram desenvolvidas para humanizar as relações organizacionais que teve como reflexo a humanização do ambiente possibilitando a empatia e o holding entre profissionais e usuários que se encontram em expansão a todos que vão se inserindo nessa proposta.

Firmando Passos e a Psicologia Corporal

Trataremos aqui da experiência de desinstitucionalização em um hospital de grande porte, o Instinto de Psiquiatria do Recife, fundado em 1961 pelo médico psiquiatra Dr. Luiz Ignácio de Andrade lima Neto. Em 2010 essa instituição com 273 leitos pediu desativação a Prefeitura da cidade do Recife (PCR), no entanto havia 70 usuários de longa permanência graves esquizofrênicos, e outros com retardos mentais severos, que não tinham para onde ser encaminhados, pois os mesmos ou não possuíam mais vínculos familiares, ou esses vínculos eram bastante frágeis impedindo o programa de

“Volta para Casa”. Foi pactuado com a PCR uma proposta de transferência para um anexo do hospital

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que se localizava em outra rua, e o desenvolvimento de um projeto de ressocialização enquanto estes aguardariam a instalação das residências terapêuticas para abrigá-los.

A mudança desses usuários se deu para um pequeno prédio de3 andares numa rua que apesar de está inserida no centro urbano de Recife é bastante tranquila. O primeiro impacto dos profissionais e usuários foi uma mudança relâmpago para esse novo espaço que em nada se parecia com um hospital, e tinha características de um prédio residencial, essa característica já promoveu uma aproximação entre todos, trabalhadores, usuários, famílias e comunidade.

O segundo impacto é que a planta desse prédio tinha uma estrutura de salas muito conjugadas onde enfermarias, cozinha, refeitório, quartos, salas de administração, de atendimentos, atividades e áreas de lazer eram muito próximas promovendo uma interação intensa durante todo o tempo.

O terceiro impacto, era a porta de entrada e saída que era única, e dava para uma calçada e rua muito simpática, entendemos então, que tínhamos como desafio deixar “a porta aberta” para não sentirmos que estávamos confinados e aprisionados, como durante tantos anos estivemos.

O quarto impacto foi desenvolvermos um projeto de ressocialização condizente com esse espaço e essas pessoas, pautado na convivência do dia adia e na singularidade das relações entre trabalhadores e usuários tendo como fonte principal a humanização, afetividade e a construção de vínculos.

O quinto impacto foi construir conhecimento desconstruindo nossas heranças asilares e manicomiais que encobriam ansiedades, medos e angústias da nossa loucura. A loucura de “portas abertas”, a loucura da “convivência” e principalmente a loucura do “corpo a corpo”, com o diferente, o bizarro e o estranho. Já cantava Caetano “de perto ninguém é normal”.

A equipe junto com os usuários e familiares foi democratizando as ações e horiazontalizando as relações por entender que todo profissional inserido no Firmando passos, apesar das diferentes áreas e hierarquia, tinham o mesmo valor como trabalhador de Referência, pois o dia a dia e a convivência com cada uma dessas pessoas foram se tornando dentro do processo, intervenções terapêuticas valiosas. Foi preciso trabalhar nossas couraças e nos implicarmos em um projeto sócio político de inclusão e respeito rompendo os ditames de portarias que não ouviam e nem compreendiam a voz do usuário.

Para lidar com todos esses impactos nossa primeira proposta foi nos tratarmos e nos humanizarmos. Para tal foi contratado um trabalho de intervenção organizacional com a clínica Horizonte Desenvolvimento Humano baseado na Análise Bioenergética, “o corpo nos grupos : os valores essenciais que dão sentido a vida como o amor, a compaixão, a generosidade, a humildade a justiça nos são transmitidas em grupos e são eles o exercício contínuo de desenvolvimento de nosso ser” (ALVES J.; CORREIA G.,2004 p.38).

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Essa experiência fez a diferença, pois apesar dos profissionais já estarem trabalhando a muitos anos juntos, operar mudanças precisou de contato com as fragilidades, potencializar as forças de superação e compartilhar os sentimentos. As intervenções corporais da Análise Bioenergética propõem exercícios de expressão de nossos traumas na tentativa de desbloquear dores contidas que nos incapacitam, e as vivências de grupo nos possibilitaram recuperar a capacidade de entrega e confiar em novas experiências. Ao mesmo tempo em que essa confiança aumentava e o holding do grupo que se fortalecia, aumentava também a nossa compreensão das pessoas com transtornos tão graves. O nosso olhar deixou de ser distante e passou a ser profundo.

Passamos a enxergar com o coração, que segundo Lowen, (1982), é preciso integrar os sentimentos em todas as atitudes de nossas vidas para evitar o congelamento emocional defensivo.

Deixamos de ser técnicos e burocratas e passamos a ser pessoas convivendo com pessoas, construindo juntos uma linguagem singular pelo vínculo com o outro. Deixamos de querer entender a patologia e passamos a compreender a saúde pelas necessidades de existir, de ter afetos, de pertencer, de possuir, de expressão e de contato. Desconstruímos a noção linear de cura e passamos a preservar o bem estar do dia a dia. Também passamos a escutar vozes que emanam de todo corpo e expressam nossos sentimentos. Deliramos nas possibilidades de ressocialização e muitos, encontraram novos caminhos nas Residências Terapêuticas. Deixamos de ser uma massa caótica de emoções e passamos a desenvolver continência através da empatia com o usuário, ora na função materna, ora no suporte paterno e também na provisão ambiental tornando o espaço acolhedor e seguro.

Outro aspecto importante foram os programas de atualização em Reforma psiquiátrica, baseada na bibliografia e experiência de Franco Basaglia, Franco Rotelli, Paulo Amarante, entre outros. A capacitação em acompanhante terapêutico e técnico de Referência para nortear teoricamente o que na prática ia se desenvolvendo, e à medida que íamos estudando íamos corporificando técnicas criativas afetivas.

Podemos dizer que as pessoas que costumam beneficiar – se do Acompanhamento terapêutico, em geral portam sofrimento psíquico grave que vai além do problema de saúde em si. Se, por um lado, não podemos ajudar todas as dificuldades por que passam as pessoas que acompanhamos, por outro, temos consciência do que o que se demanda de um acompanhante terapêutico não está restrito a atenção à saúde e sim a maneira mais ampla ao resgate e a promoção de qualidade de vida. (CARVALHO;S. 2004; P.25).

O abraço terapêutico foi uma técnica desenvolvida naturalmente por um trabalhador da área de manutenção para dá continência em alguns momentos de agitação, substituindo pela contenção física com alguns usuários que apresentavam sintomas de agitação psicomotora. Fomos construindo uma metodologia que foi se denominando “saúde Mental pela prática da convivência”.

A saúde mental pela prática da convivência, 2015, é uma metodologia processual inspirada no ato responsável a partir de nossos gestos e todas as formas de contato que “são constituintes de nossas

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condições intrínsecas, são comunicantes de sentimentos apreços, vontades e relações sociais” (LIMA, A. LOPES, A. LIMA, F. P.112, 2015).

São inspiradas também na psicanálise winnicottiana com seus pressupostos de Holdding e empatia, na Psicologia Corporal através da teoria e prática de Wilhelm Reich e Alexander Lowen, onde se entende o sujeito como unidade psicossomática e nos novos equipamentos de Atenção em Saúde Mental a partir dos fundamentos do Acompanhante Terapêutico e Técnico de Referência adaptando - se a nossa prática em desenvolvimento.

“A Metodologia saúde Mental pela Prática da Convivência” (2015 continua se desenvolvendo a partir da interação atual de Trabalhadores de Referência, usuários, família, comunidade, estudantes e estagiários integrados a Rede de Saúde Mental do Recife em todo o estado de Pernambuco).

Tem como princípios básicos já consolidados em seu “Terreno Sólido” p.100, 101, 102, 103, 104, 105,106: Portas Abertas, não usar fardamento, transformar o atendimento terapêutico onde o usuário está saindo das salas. Mudar o foco do transtorno para saúde, desfazendo o mito da cura e focar no bem estar cotidiano. Desconstruir o modelo da psicopatologização para compreensão dinâmica da crise. Comprometer todos os trabalhadores como agentes terapêuticos com supervisão, educação continuada e gestão de equipe pela integração e humanização.

Considerações finais

Atualmente O Firmando Passos ainda abriga 40 usuários todos em tratamento para adaptação as novas residências terapêuticas. A equipe multiprofissional conta com oficinas de culinária, auto expressão, autoimagem, passeios terapêuticos, atividades externas de reconhecendo território, espiritualidade, Biodança, Cine passos entre outras.

Todos os trabalhadores participam ativamente das atividades e contam também com a participação dos familiares para recuperação e fortalecimento dessas relações. Nesse processo nos encontramo-nos “Reformando” de dentro para fora, e de fora para dentro, em um intercâmbio de aprendizagem mútua entendendo a loucura como parte da nossa saúde mental.

Nossas principais ferramentas tem sido a prática da convivência exercitando empatia para proporcionar holding e grounding no “vir a ser” de cada uma dessas pessoas, porém nenhuma dessas técnicas terá respostas transformadoras se não houver a humanização pelo amor.

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ANDRADE LIMA, Adriana de; LOPES, Alberon; ANDRADE LIMA, Fernanda. Firmando Passos:

Saúde mental pela Prática da Convivência, 1ª Ed. Libertas, Recife, 2015.

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Recebido em 12/04/2016 Aceito em: 14/05/2016

Referências

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