• Nenhum resultado encontrado

A política externa do governo Médici para a América do Sul: mudanças de regime e difusão autoritária entre 1969 e 1974

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2023

Share "A política externa do governo Médici para a América do Sul: mudanças de regime e difusão autoritária entre 1969 e 1974"

Copied!
182
0
0

Texto

A política externa do governo Médici para a América do Sul: mudanças de regime e difusão autoritária entre 1969 e 1974. O objeto de pesquisa desta tese de doutorado é a política externa do governo de Emílio Garrastazu Médici para a América do Sul.

A Conjuntura internacional da Guerra Fria e o governo Nixon….…

Para fins deste trabalho, vale destacar a influência da Guerra Fria na América Latina, e mais especificamente na América do Sul, territórios sob influência de Washington. A literatura também considera que a política externa de Nixon e Kissinger para a América Latina não deu importância à questão das violações dos direitos humanos.

Características gerais do governo Médici

A historiografia argumenta que as ações de segurança interna do governo Médici foram baseadas em um quadro formado por vigilância, censura e repressão. Além das ações dos opositores que permaneceram no país, o governo Médici também teve que se preocupar com os brasileiros asilados.

A política externa do governo Médici

Apesar de focar no caso do Chile a) e da influência cubana (2013b, 2019) na América Latina, o autor também se preocupa com a participação do regime militar brasileiro. Quanto à Bolívia, Schilling mostra que o golpe que levou Banzer ao poder "foi planejado e financiado pelo regime militar brasileiro" (SCHILLING, 1981, p.65) e menciona várias vezes a participação de Hugo Bethlem.

Devido às muitas mudanças de regimes ocorridas em um curto período de tempo, o Brasil poderia ser considerado um Centro de Gravidade Autoritário (AGC) caso seja comprovada sua participação nesses processos políticos (KNEUER et al., 2018). Isso significa que todos os casos analisados ​​serão apresentados em três momentos: antes, durante e depois do processo de mudança de regime.

Tipologia das fontes

A Missão Rockefeller não foi a única iniciativa lançada no início do governo Nixon para moldar sua política para a América Latina. O lançamento da nova política americana para a América Latina ocorreu no discurso de Nixon em 31 de outubro (NIXON, 1969a).

O modelo do regime brasileiro como exemplo para a Argentina

Hugo Banzer lidera golpe de Estado na Bolívia em agosto de 1971

Em junho de 1971, representantes dos regimes brasileiro e argentino, em contato com as autoridades americanas, consideraram que o exército era a melhor alternativa para a Bolívia. Em agosto de 1971, assessores de Torres afirmavam que a nova organização golpista era patrocinada por organizações estrangeiras do Brasil, Paraguai e Argentina, com concentração em Santa Cruz de la Sierra, região mais afetada pela presença de brasileiros (EMBAIXADA DOS EUA EM LA PAZ , 1971). Especificamente sobre o envolvimento do Brasil na queda de Torres, ocorrida em agosto de 1971, as fontes primárias mais esclarecedoras foram produzidas nos dias seguintes ao golpe.

Em diálogo entre Banzer e o embaixador brasileiro em La Paz, Claudio Garcia de Souza, menos de dois meses após o golpe, o presidente boliviano questiona "se era verdade, como disse o general Bethlem [...] O Brasil, durante os acontecimentos de agosto último, havia sido conquistado pela ação pessoal do militar brasileiro junto ao nosso governo" (BRASIL, 1971o). Barrientos, e que o teria levado ao presidente Médici, quando da liberação de armas para uso em o golpe de estado de agosto de 1971 foi negociado (SOTOMAYOR, 2023). Em telegrama à Secretaria-Geral do Itamaraty em setembro de 1971, o embaixador Claudio Garcia de Souza descreveu duas reuniões que propuseram apoio militar brasileiro ao golpe na Bolívia.

Além disso, outros documentos mostram que o regime brasileiro também patrocinou diretamente o momento do golpe. Ou seja, segundo o relatório da CIA, a cooperação desses três países no golpe não se limitou ao envio de armas, mas também ao patrocínio de grupos golpistas e à oferta de seus territórios para a organização do golpe. A satisfação com a queda de Torres e a posse de Banzer foi tamanha que o chanceler Mário Gibson Barboza escreveu ao presidente Médici no dia seguinte ao golpe de estado.

O envolvimento brasileiro na política interna uruguaia até 1971

Os primeiros anos da relação entre a ditadura militar e Montevidéu

Os dois principais desafios de Pacheco Areco eram a economia e a segurança interna, principalmente pela atuação dos tupamaros. Em 1969, a ditadura militar fez uma série de concessões comerciais a Montevidéu, principalmente nos setores de maior produção no Uruguai, visando aumentar as exportações uruguaias para o Brasil em cerca de US$ 10 milhões, contribuindo assim para o fortalecimento interno de Pacheco Areco (BRASIL, 1969p) . Essas negociações foram finalizadas durante a visita do uruguaio ao Brasil sob o comando de Costa e Silva em junho de 1969 (BRASIL, 1970b).

O diplomata foi solto apenas em fevereiro de 1971, após seis meses de cárcere privado, o que gerou tensão nas relações bilaterais entre os dois países, que chegaram a ser suspensas (BARBOZA, 1971). A postura de Pacheco Areca foi intransigente no sentido de que não negociou com os sequestradores, algo que só mudaria em janeiro de 1971, quando disse a um deputado dos Medici que poderia garantir que os criminosos deixariam o país se os sequestradores fossem entregues vivos. . O regime brasileiro pressionou então Montevidéu a negociar com os Tupamaros, como já havia feito em episódios semelhantes no Brasil (FREDERICO, 2020).

A relação dos Tupamaros com alguns dos dissidentes brasileiros residentes no Uruguai, comandada pela ditadura por meio do CIEX, também gerou outros atritos entre os países. O transporte de Wilson Barbosa para o Brasil se daria como parte de uma troca de presos políticos em que os tupamaros foram enviados para o Uruguai. O texto da CNV apontava para a participação específica do então embaixador do Brasil no Uruguai, Luiz Bastian Pinto, que havia participado das negociações que incluíam, por exemplo, a definição de data e local onde o brasileiro seria entregue.

As eleições no Uruguai em novembro de 1971

Consequentemente, o governo Médici identificou as eleições presidenciais uruguaias de 1971 como um momento fundamental para sua política externa e desenvolveu uma estratégia de envolvimento nas eleições com meses de antecedência. A estratégia da ditadura brasileira para interferir nas eleições uruguaias de 1971 foi detalhada em documento da série "Informações ao Senhor Presidente da República", desclassificado para acesso por pesquisadores em 2018 e também exposto pelo SNI contém (ANEXO A). Em suma, para os fins deste trabalho, caberá a nós encontrar outros documentos que indiquem que tal plano de intervenção proposto pelo SNI e pelo Itamaraty e aprovado pelo próprio Médici foi de fato implementado entre junho e novembro de 1971. .

Depois que o presidente Médici aprovou a estratégia do Brasil nas eleições uruguaias, um novo embaixador foi nomeado para o cargo em Montevidéu: Arnaldo Vasconcellos substituiu Bastian Pinto em agosto de 1971. Embora o embaixador brasileiro quisesse evitar tal possibilidade, Pacheco Areca também foi solicitado pela Argentina, segundo Lanusse, também em agosto de 1971 (LODGE, 1971). Isso significa que a ação do regime brasileiro nas eleições uruguaias de 1971 ajudou a garantir que um candidato de esquerda não ganhasse a eleição.

Depois de contribuir para as mudanças de regime na Bolívia e no Uruguai, Médici fechou o segundo semestre de 1971 com o que alguns autores consideram o ápice de sua política externa: uma visita à Casa Branca. A visita de Medici a Washington, planejada em meio ao ajuste da política externa de Nixon no final de 1970, durou três dias, de 7 a 9 de dezembro de 1971. carta ao presidente argentino (ELIOT JR, 1971b).

Bolívia: o apoio de Brasília para a estabilidade do governo Banzer

Embora o regime brasileiro já tivesse doado cinco aeronaves à Bolívia, o documento destacava o interesse do governo Banzer em adquirir mais aeronaves do modelo Xavantes, negócio que Médici, segundo o próprio presidente, divulgou a Nixon em Washington. Nas fontes primárias acima, representantes do governo boliviano mostram que se espelharam no Brasil em alguns aspectos. Embora tal cooperação ocorra com certa frequência entre países vizinhos, vale ressaltar que no governo de Ovando Candia, por exemplo, o regime brasileiro considerou o apoio argentino a La Paz nessa área de infraestrutura como um elemento de aproximação entre os dois governos , que incomodava Brasília.

Em agosto de 1973, a Embaixada do Brasil e os Adidos em La Paz receberam instruções para dar continuidade a esse trabalho (EMBAIXADA DO BRASIL NA BOLIVIA, 1973a). Em agosto de 1973, Banzer reprimiu uma tentativa de golpe supostamente apoiada por agentes argentinos do governo peronista (EMBAIXADA DO BRASIL NA BOLIVIA, 1973b). Também em outubro de 1973, um representante do governo brasileiro, coronel Camargo, viajou a La Paz e se reuniu com o presidente Banzer para discutir a cooperação da AERP com a Bolívia (SOUZA, 1973a).

Em março, por exemplo, La Paz havia solicitado a presença de quatro assessores militares brasileiros e dois grupos de artilharia como parte da cooperação militar entre os países. Vale destacar também que Brasília nem sempre atendia aos pedidos bolivianos, como aconteceu quando La Paz solicitou a vigilância de um avião do Chile que levaria opositores de Banzer. Além disso, embora o governo argentino se vangloriasse de ter cooperado com o golpe de agosto de 1971, e que Banzer tivesse uma relação pessoal mais próxima com Buenos Aires, a documentação indica um maior alinhamento do governo boliviano.

A ascensão política dos militares uruguaios do início de 1972 até o

No entanto, o fim do mandato e da política externa de Médici foi marcado por uma mudança de regime decisiva para a Guerra Fria na América do Sul: em setembro de 1973, Augusto Pinochet liderou o golpe que tirou Allende do poder no Chile. A conclusão de Simon foi que o objetivo do governo Médici era construir um regime “semelhante à ditadura brasileira” (SIMON, 2021). Ou seja, não encontramos evidências de que a ditadura tentou implementar seu modelo de regime ou criar uma identidade comum entre os governos da região.

Sobre o momento anterior ao golpe de 1971, vale destacar que o aprofundamento do contato entre representantes do regime brasileiro e o exército anticomunista boliviano ocorreu durante o governo de Ovando Candia, quando o adido militar em La Paz sugeriu o envio de armas ao locais. as forças armadas combateram os movimentos de guerrilha e se prepararam para uma mudança de regime (LOPES, 1970g)54. Ou seja, neste caso, o objetivo de Médici era impedir a formação de um novo governo de esquerda no continente e não mudar o tipo de regime do Uruguai, de uma democracia para uma ditadura. Outro país sul-americano que experimentou uma mudança de regime durante o governo Médici foi o Equador.

Ou seja, embora seja necessário aprofundar os estudos, há indícios de que o regime equatoriano também recebeu ajuda do governo Médici para desenvolver parte de sua estratégia de repressão. Este trecho nos mostra que a compreensão do regime brasileiro sobre como influenciar a política interna dos países vizinhos para uma mudança de regime coincide com a literatura teórica. À época da viagem do ditador brasileiro aos Estados Unidos, já haviam sido implementadas ações brasileiras de mudança de regime na Bolívia e no Uruguai.

A política externa do governo Médici para os países sul-americanos sob a influência da esquerda. Disponível em: https://www.cmi.no/publications/file/5189-latin-american-civil-military-relations-in-a.pdf.

Referências

Documentos relacionados

Então vejo que o que existe de essencialmente diferente entre o regime capitalista, também do ponto de vista da democracia po- lítica, e um regime socialista, do tipo do