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Transatlânticas: personagens trans nas literaturas de língua portuguesa

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Academic year: 2023

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Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da Faculdade de Ciências e Letras - Unesp/Araraquara, como requisito para obtenção do título de Doutor em Estudos Literários. Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da Faculdade de Ciências e Letras – UNESP/Araraquara, como requisito para a obtenção do título de Doutor em Estudos Literários.

INTRODUÇÃO

Por isso, peço aos leitores que tenham paciência se acharem que esse é um repertório teórico muito colonial. É um gesto motivado por dar visibilidade aos transatlânticos e seus corpos-T, que ocupam o espectro das identidades trans cujas histórias na literatura de língua portuguesa só recentemente foram estudadas.

CORPOS CIS, CORPORALIDADES T

Transcursões

Por serem fruto de uma ideologia positivista, é difícil relê-los e interpretá-los à luz do paradigma do início do século XXI, sem que pareçam categorizações castradoras e opressoras que imitam a lógica, outrora patologizantes, pensamento que vem da modernidade. É comum, portanto, que a indisciplina de tais conceitos não seja simplesmente resultado do acaso ou erro conceitual, mas uma estratégia de resistência na qual.

Transmutações da utopia virtual

3La promesa de felicidad y autorrealización en el trabajo yacía en el tejido discursivo e imaginario de la nueva economía. El derrumbe de la ideología felicista ligada a la economía en red comenzó cuando los títulos tecnológicos comenzaron a perder puntos en las bolsas de todo el mundo y se empezó a esperar que la llamada “burbuja especulativa” pudiera estallar.

Transgressões tentaculares ao rizomático

Para ambos os filósofos, o pior desfecho que pode advir da desterritorialização, de um corpo sem órgãos, de um processo revolucionário de ruptura com as formas edipianas de representação, é a criação de linhas de fuga para a produção de sentidos que culminam no fascismo. Embora essa distinção já tenha sido sublinhada no presente estudo, que compartilho com a perspectiva cisgênero das escritoras que compõem o corpus, a fundamentação teórica que norteia essa posição se baseia em um pensamento e uma política de alianças e afinidades identitárias.

Um jardim de corpos transgênicos

Com base em uma retórica fundamentada na crítica aos estereótipos de gênero, feministas radicais, incluindo uma autora best-seller da literatura inglesa, argumentaram isso. No capítulo 3, ao discutir as ficções de Fusco e cabo-verdianas, me aprofundarei nas teorias da transecologia, que se apropriam do debate sobre a natureza a partir de uma perspectiva trans, com o objetivo de explorar novos territórios epistêmicos.

JOSÉ

É possível transar com Camões?

Além disso, são previamente estabelecidas as orientações teóricas para a presente proposta de cartografia do Chtuluceno nas literaturas de língua portuguesa, nomeadamente a filosofia de Deleuze e Guattari (2011) e Donna Haraway (2016), correntes que, a meu ver, permitem para pensarmos nas peculiaridades e questões pertinentes ao século XXI. No seu levantamento da produção literária das últimas décadas do século XX, João Barrento (2016) destaca a emergência de uma nova (des)ordem narrativa na literatura portuguesa a partir das vozes femininas emergentes com liberdade de publicação no pós-Revolução dos Cravos , em 1974.

Transeuntes ibéricos, travessias físico-virtuais

Esses caras não acordam depois de um século assombrando o submundo, prontos para mergulhar em um futuro glorioso. Envolver e usar a experiência do fracasso como ferramenta é crucial para construir um modelo de subjetividade política com o qual todos possamos conviver. Por outro lado, mobilizando um repertório luso-brasileiro para forjar uma nova identidade portuguesa, Freire lança mão de um sincretismo futurista, em que a portugalidade, o cosmopolitismo ibérico e as identidades trans se misturam em simbiose.

Do meu ponto de vista, esta é talvez uma forma possível de compreender o romance de Raquel Freire dentro daquilo que Miguel Real (2012) vai chamar de cosmopolitismo, ou seja, uma renúncia do romance português ao seu passado predominantemente local e realista/naturalista, em que privilegiou a identidade de um povo e não de um indivíduo.

Língua portuguesa transtornada: o gênero neutro

Raquel Freire leva esse debate adiante em seu romance e o radicaliza ao usar uma linguagem que ainda está nascendo e surgindo dentro da língua portuguesa. A evolução de uma língua nem sempre obedece a uma regularidade, e a restauração de um gênero neutro – ainda que morfológica e gramaticalmente em circunstâncias muito diversas – suscita um sintoma de desconforto em vários falantes da língua, que afirmam,. Alguns estudos, embora raros, já tratam dos usos de uma língua inclusiva/não binária/neutra no português.

É importante ressaltar que na literatura portuguesa contemporânea, a representatividade de uma identidade trans é um discurso estético em disputa.

FUSCO

Pode a tchinda falar?

O documentário começa com uma dedicatória a Cesária Évora (amiga íntima de Tchinda) e com uma cena em que um morador da comunidade local tenta atirar uma garrafa de água a um macaco que está no telhado de uma das casas. Para entendê-lo melhor, é importante não simplificar a construção da literatura cabo-verdiana às influências brasileiras ou portuguesas na constituição da identidade do arquipélago, ressaltando que ela é resultado de alianças e forças culturais mútuas entre os continentes africano e sul-americano. No entanto, o ponto de partida defendido para a leitura de Marginais centra-se na análise dos possíveis contributos que os dissidentes periféricos oferecem à descolonização de espaços urbanos onde existem diferenças sexuais.

Embora seja um romance cuja narrativa se passa na mitologia do antigo Egito, que foi dominado por vários mitos, narrativas e lógicas culturais de gênero, há um forte peso do realismo naturalista (conceito que exploro com mais detalhes no capítulo 4), que se impõe ontologicamente à obra de Vieira.

Transbordando a periferia do mundo

Foram raras as noites em que não sonhei com aquele corpo escultural em meus sonhos molhados. Em meio à adrenalina do momento em que Sérgio é pego, ele encontra o amigo pianista agredido sexualmente por um policial e depois descobre por meio de Beto. Sonhava com o dia em que viraria mulher, faria plástica e ganharia uns mamões redondinhos.

Fica claro, portanto, que o sonho de Sérgio repete a visão do espaço em que vive como um lugar de interseção, de transição, no meio.

Sujeitos translúcidos: para além do lusco-fusco

Do meu ponto de vista, esta é uma forma precária de cosmopolitismo, colocando os corpos de uma população marginalizada em um fluxo de viajantes, turistas e locais. O nojo que sente por Valdomiro também expõe a máxima de que não se pode ver ao lado de uma chinda à luz do dia. Aqui prefiro pensar que Fusco, tal como Tchinda Andrade e a comunidade Tchinda da ilha do Mindelo, encontra aceitação e sucesso em Itália, onde se torna uma referência de resistência e um ícone gay, posteriormente redescoberto por investigadores e documentários audiovisuais que contam a sua história de uma forma calorosa e refinada.

A renda é doada pela Fusco à comunidade periférica da Ilha de Sal por meio de uma instituição que reverte seus lucros para a construção de abrigos para dissidentes sexuais e de gênero na comunidade da Ilha do Sal.

SHIRLEY MARLONE

Realismo Naturalista: é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do Naturalismo?

Talvez a primeira representação de uma identidade trans na literatura brasileira contemporânea tenha surgido, também em 1956, não em uma obra de Guimarães Rosa, mas no romance Georgette de Cassandra Rios53. Nesta obra, a interpretação de que se trata de uma personagem transgênero pode ser contestada, mas ao mesmo tempo deixa fortes indícios de que poderia ser uma travesti (FERNANDES, 2016). Leituras como a de Sussekind são sustentadas por uma visão do texto a partir da ruptura com o paradigma dialético da representação literária.

O narrador é um convidado cujo nome não é revelado em nenhum momento da narrativa, sabemos apenas que se trata de uma identidade masculina com forte atração física por James.

Atravessando pela transitoriedade das ruas

Como em Uma mulher diferente, a história de Elvira Vigna começa com o assassinato de uma prostituta. No trecho sublinhado, Shirley Marlone desaparece ao encontrar uma mulher que estava no banheiro e, ao vomitar sobre o peixe podre comido no bar, lembra-se de uma de suas vizinhas. Ou seja, o futuro depende do presente, que por sua vez depende de uma construção linear.

Essa observação evidencia a forma como o narrador atua até então, assumindo o papel de narrador-cartógrafo, ou seja, um sujeito que quer reconstruir o passado e o futuro a partir do momento presente.

Transfuturismo

Assim, dissidentes e sujeitos sexuais que são metonímias de uma negatividade que impede a concretização desse futuro. As nuances de uma utopia queer têm sido debatidas com alguma frequência por pensadores americanos. Esses movimentos artísticos marcaram o início de uma tendência modernista e tinham em comum a crença na ideia de um futuro utópico baseado no desenvolvimento científico e tecnológico a partir de uma perspectiva racional e política da educação (BERARDI, 2019; BÜRGER, 2017).

Dessa forma, a expressão artística não se traduziria em uma expressão vulnerável ao sequestro do sistema, mas em uma matéria refletida nos devires desejosos dos corpos ciborgues, transexuais e performativos do século XXI, atores responsáveis ​​por isso.

A intransitividade do verbo esquecer

Além disso, possui o poder de uma ultrassensibilidade e proximidade com a natureza, elemento transfuturístico da ficção especulativa. Nesse sentido, o conto de Dugim traz uma contribuição positiva ao trazer à tona um protagonista transfuturista, ainda que inserido em um contexto distópico, onde os objetivos de uma sociedade ecológica foram distorcidos por um projeto segregacionista e higienista. O texto, assim, faz questão de ressaltar que, embora Íris esteja em situação social privilegiada, persistem a marginalização, o machismo e a violência contra dissidentes sexuais.

A colonização da subjetividade transforma os sujeitos em escravos dessa categoria, dedicando grande parte da energia mental cotidianamente ao fortalecimento de uma identidade de gênero que corresponda àquela proclamada pelo sistema.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A experiência de desterritorialização do transcorpo, bem como a presença constante de animais dissidentes do corpo humano canônico, promove a possibilidade transfuturística de viver em territórios periféricos, mesmo em um espaço com grande fluxo de pessoas, como e.g. Ilha de Sal, Cabo Verde. Embora surja do realismo naturalista predominante em Portugal, Cabo Verde e Brasil, o romance marginal também funciona como uma estética especulativa para a produção de discursos que conectam os transcorpos à natureza. O sintoma de um corpo desidentificado de um espaço social previamente construído assume a forma de um travesti.

Vejo, portanto, a estética transfuturista, que se projeta na literatura aqui estudada, como um meio de superar o realismo naturalista.

Disponível em: https://www.cambridge.org/core/journals/pmla/article/abs/manifesto-for-a-queer-south-politics/9A66CF06F95AA247C7AF52D60565D7B7. Carne (ou Como Matar Édipo no Ciberespaço). org.).Cyberspace/Cybertrupa/Cyberpunk: culturas de incorporação tecnológica. Do que você está grávida?: (re)pensando as relações de gênero em Chá de Revelação (♀≠♂). https://periodicos.ufam.edu.br/index.php/wamon/article/view/7133.

In: Phile: the International Journal of. https://susannapaasonen.org entrevista-com-colby-keller/. PACH, R. Guia da Rússia para o turismo em colapso: ou o espetáculo das ruínas construtivistas na Moscou especulada.

Referências

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Sendo assim, nas duas últimas décadas, o foco dos estudos sobre avaliação da educação se desloca “da avaliação externa da educação básica para a avaliação