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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

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Academic year: 2023

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O segundo capítulo, “A sociedade no Ensaio sobre a cegueira”, propõe uma breve análise sociológica de Ensaio (1995) com base nas afirmações que José Saramago possui. O quarto capítulo discute como a presença feminina na obra de José Saramago se destaca em termos de solidariedade, igualdade e empatia. A 8 de outubro de 1998, José Saramago foi o primeiro escritor de língua portuguesa a receber o Prémio Nobel da Literatura.

José Saramago na literatura portuguesa

O pós-modernismo

A teórica Linda Hutcheon afirma que “o pós-modernismo é um fenômeno contraditório que usa e abusa, instala e depois subverte os próprios conceitos que desafia” (HUTCHEON, 1991, p. 19). Hutcheon destaca a literatura pós-moderna como multifacetada, aberta a inserções advindas de produtos culturais, em que há hibridismo entre diversas formas de composição existentes, revoluções de pequenos grupos e questionamento do registro histórico por meio da metaficção historiográfica, "como forma de repensar e sua reelaboração de formas e conteúdos do passado” (HUTCHEON, 1991, p. 22). Todos estes acontecimentos são tratados de forma muito especial por Saramago, que tem a clara intenção de dessacralizar a história oficial, muitas vezes falsificada em favor da minoria, para transformá-la numa perspectiva popular e sobretudo humana.

A formação estilística de José Saramago

Ainda assim, segundo Spivak (2010, p. 122), as duas sentenças estão longe de se legitimarem mutuamente, mas o fato é que não há evidências “da voz-consciência das mulheres”. Considerando os fatos e que a ação da mulher só era reconhecida quando legitimada por um homem, Spivak (2010, p. 163) conclui: “o subalterno como sujeito feminino não pode ser ouvido nem lido”. Spivak apresenta, assim, sua preocupação em “teorizar sobre um sujeito subalterno que não pode ocupar uma categoria monolítica e indiferenciada, pois esse sujeito é irredutivelmente heterogêneo” (SPIVAK, 2010, p. 13).

A análise sociológica da literatura

Romance-ensaio

No romance do século 18, segundo Watt, não há nada que se compare aos primeiros capítulos de The Red and the Black, de Standhal. Para Husserl, a crise começou com Galileu e Descartes, que se dedicaram à exploração técnica do mundo. Um a um, o romance descobriu à sua maneira, pela sua lógica, os diferentes aspectos da existência: com os contemporâneos de Cervantes, pergunta-se o que é a aventura; com Samuel Richardson ele começa a investigar “o que se passa lá dentro”, para descobrir a vida secreta das emoções; com Balzac descobre as raízes do homem na história; com Flaubert ele explora a terra até então desconhecida da vida cotidiana (KUNDERA, 2009, p. 13).

Ou seja, em vez de verdades absolutas, entenda o mundo como ambiguidade, como verdades relativas que se contradizem. Em Cervantes, por exemplo, Dom Quixote aventurou-se num mundo que se expandia diante dele, como os primeiros romances europeus, onde o mundo parecia ilimitado. O que se pode concluir sobre isso é, como afirma Kundera (2009, p. 19), que o período dos paradoxos terminais está longe de terminar.

Como diz Adorno (2003, p. 17), “ele (o ensaio) não começa com Adão e Eva, mas com aquilo de que se quer falar; ele diz o que lhe vem à mente e termina onde sente que chegou ao fim, não onde não há mais nada a dizer." Ensaio sobre Cegueira (1995) abre com um semáforo abrindo e um carro parado, causando transtornos aos motoristas e pedestres nas proximidades. Agora, ao contrário, encontrava-se imerso numa brancura tão brilhante, tão total, que consumia não só as cores, mas as próprias coisas e os próprios seres, em vez de absorvê-los, que assim tornam duplamente invisíveis. (SARAMAGO, 1995, p. 16).

Devido à posição precária em que se encontram, alguns cegos adotam comportamentos individualistas, violentos, animalescos e primitivos que colocam à prova os contratos sociais.

Narrador e inclinação para pautas sociais

Segundo Oliveira Junior, a rejeição do narrador, apoiada por Saramago, não é ingênua, pois o que parece contraditório do ponto de vista enunciado está alicerçado no conceito de atividade artística marxista. A esposa do médico sorriu, acho que você tem que aceitar isso se os outros concordarem (SARAMAGO, 1995, p. 53). Quando um dos dormitórios utiliza arma de fogo para assumir o controle da economia daquele local, introduz a violência como forma de negociação por recursos de sobrevivência.

Para o autor, por questões políticas “quem governa quem?” (ARENDT, 1985, p. 27), é necessário compreender as diferentes terminologias. Assim, “quando dizemos que alguém tem poder, na verdade nos referimos ao fato de essa pessoa ser investida de poder, por um determinado número de pessoas, para agir em seu nome” (ARENDT, 1985, p. 28). “Força”, coloquialmente confundida com violência como meio de coerção, deveria ser usada para denotar “a energia liberada por meio de movimentos físicos ou sociais” (ARENDT, 1985, p. 28).

Dado que o poder deve ser legitimado por um grupo e que as instituições políticas são materializações dele (ARENDT, 1985, p. 25), a tirania é, portanto, “a forma de governo mais violenta e menos poderosa” (ARENDT, 1985), p. 26 ). Portanto, não se trata de um comportamento instintivo e irracional, mas que pertence “ao âmbito político dos assuntos humanos” (ARENDT, 1985, p. 52). A filósofa afirma, assim, que para ela “nada poderia ser teoricamente mais perigoso do que a tradição do pensamento orgânico na política, segundo a qual o poder e a violência são interpretados em termos biológicos” (ARENDT, 1985, p. 47), uma vez que, por exemplo, o poder e a violência são interpretados em termos biológicos. desta forma, a violência “pode parecer um pré-requisito para a vida coletiva da humanidade” (ARENDT, 1985, p. 48).

Segundo o autor, a palavra deriva de vis, palavra de origem latina, que “refere-se às noções de limitação e ao uso da superioridade física sobre os outros” (MINAYO, 2006, p. 13).

Violência de gênero: abusos contra a mulher

Violência sexual

Contudo, a formulação da lei n. A Lei nº 12.015 de 2009 altera o artigo 213 e define estupro como “obrigar alguém, por meio de violência ou grave ameaça, a manter relação sexual ou a praticar e permitir que seja praticado ato libidinoso com ele”. A Lei nº 65, de 1998, inclui o parágrafo segundo do artigo 163, definindo como criminoso aquele que, por abuso de cargo em posição hierárquica, seja econômica ou de trabalho, obrigar outra pessoa a praticar ato sexual consigo mesma ou com outra pessoa. . é punido com pena de prisão até 2 anos. Por fim, a lei n. A Lei nº 83 de 2015 resume o parágrafo segundo do artigo 213 e acrescenta a pena de prisão: “Quem, por meios não previstos no parágrafo anterior, obrigar outra pessoa a sofrer ou praticar ato sexual significativo, com ou com outra pessoa. , é punido com pena de prisão até 5 anos."

Porém, eles já entenderam que essa é a única forma de se alimentarem, pois a sala três contém as formas de poder. As personagens femininas são submetidas a violência sexual e agressões físicas e psicológicas, provocando a morte de uma delas, devido ao comportamento animalesco dos cegos do quarto três, que “gritavam, choravam, riam por dentro” (SARAMAGO, 1995) . , pág. 175). Em Ensaio (1995), o cego da pistola precisa do reconhecimento de sua autoridade por parte de seus companheiros para ter poder legítimo.

Além disso, a terceira casa utiliza a violência como forma de intimidar os outros, o que sugere que se trata de uma forma frágil de poder, pois segundo Arendt (1985, p. 28), a violência excessiva é uma forma de compensação pela ausência de poderes legítimos. poder. Contudo, as mulheres representam o maior número de vítimas de violência sexual8 e são, portanto, as mais afetadas pelo que Sousa (2017, p. 13) chama de cultura do estupro. No Ensaio sobre Cegueira (1995) podemos ver como esta categoria de violência foi utilizada como forma de coerção e domínio e superioridade sobre os outros.

Fonte: https://nacoesunidas.org/da-violencia-moral-a-letal-entenda-como-a-violencia-de-genero-prejudica-as- Mulheres/ Acessado em 27 de janeiro.

Violência institucional: cárcere e abandono

Na novela, após a doença branca ser classificada como epidemia, o governo toma a medida de colocar em quarentena os infectados, "uma prática antiga, herdada da cólera e da febre amarela, em que os barcos infectados ou apenas suspeitos de infecção tinham que ficar". à distância, partir por quarenta dias, até eu ver” (SARAMAGO, 1995, p. 45). Porém, como afirma o ministro: “por ser muito grande, tornaria difícil e dispendiosa a vigilância dos presos” (SARAMAGO, 1995, p. 46), enfatizando que “a disciplina às vezes exige uma cerca, a especificação de um local heterogêneo em torno de todos os outros e fechado em si mesmo” (FOUCAULT, 2018, p. 139). Assim, a fala anterior da esposa do médico é repetida pelo sargento responsável pela fiscalização do asilo: “O sargento também disse: o melhor seria deixar eles passarem fome, o animal morreria, o veneno acabaria” (SARAMAGO, 1995 , pág. 89).

Um dos conflitos internos que ela sofre é se deve ou não contar aos outros o que pode ver, mas depois de pensar no assunto e conversar com o marido, ela percebe que não deve contar a tudo e a todos e que “isso não é um trabalho para uma pessoa” (SARAMAGO, 1995, p.136). As duas mulheres subiram atônitas, afinal a bruxa tinha sentimentos. Ela não era uma pessoa má, estar sozinha deve ter seus sentidos arruinados, a menina com óculos escuros comentava sem parecer pensar no que dizia (SARAMAGO, 1995, p. 240).Segundo Santos (2020, p. 14), apesar de em alguns países ter sido prematuro, feito num momento em que os cidadãos notavam a ineficiência dos cuidados de saúde para combater a epidemia e exigiu medidas do Estado para retardar a propagação do vírus.

Estamos fechados, Vamos morrer todos aqui, Não está certo, Cadê os médicos que nos prometeram, isso era novidade, as autoridades haviam prometido aos médicos, ajuda, talvez até recuperação completa” (SARAMAGO, 1995, p. 73- 74). A violência contra as mulheres, como em Ensaio sobre Cegueira (1995), em que foi retratada em tempos de epidemia, foi potencializada pela pandemia do coronavírus. A trama de Saramago termina com a seguinte reflexão: “Por que ficamos cegos, não sei, talvez um dia se saiba a causa, Quer que eu te diga o que penso, Diga, acho que não vamos . cego, acho que a gente é cego, cego quem vê, cego quem, vendo, não vê” (SARAMAGO, 1995, p. 310).

Como no romance de Saramago (1995, p. 151), “mesmo nos piores males, é possível encontrar uma parte de bem suficiente para suportá-los com paciência, até os ditos males”. O romance de José Saramago mostra-nos que mesmo num momento em que a sociedade está em ruínas e os meios de sobrevivência são poucos, o corpo, especialmente o da mulher, é subjugado e torturado. Antonio Candido (1995, p. 243) afirma que “a literatura afirma e nega, propõe e condena, apoia e luta, e nos dá a possibilidade de viver nossos problemas dialeticamente”, e assim é na obra de Saramago: Ensaio sobre a Cegueira (1995). ) apresenta um mundo ficcional composto por graves desigualdades sociais, o que nos permite pensar nas questões que nós, como sociedade, ainda temos que resolver.

Referências

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E-mail: amayhe@ufrrj.br A Coleção Entomológica Costa Lima CECL, do Instituto de Biologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro UFRRJ, é depositária de milhares de espécimes