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Academic year: 2023

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Educação ambiental e poluição marinha: um relato de experiência no Ensino Fundamental

Melanie Silva1 Fábio vieira araújo2

rebeca oliveira caStro3

Resumo: Arraial do Cabo, por causa de sua grande biodiversidade, é uma importante região pesqueira, capital brasileira do mergulho e do turismo. Consequentemente, sofre com a poluição e com problemas na gestão de resíduos. O presente trabalho objetivou desenvolver atividades de educação ambiental em escolas do município para sensibilizar os alunos quanto a esse tema por meio de métodos cognitivos e afetivos.

A resposta dos alunos às atividades propostas foi satisfatória. Após a aplicação de atividades práticas e lúdicas de educação ambiental, notou-se a sensibilização dos alunos quanto à poluição por meio das falas durante os encontros, relatos expostos nos textos e respostas dadas ao questionário. Ações de educação ambiental em es- paços formais e não formais são fundamentais no município para a preservação dos ambientes costeiros.

Palavras-chave: Educação. Escola. Poluição.

Environmental education and marine pollution: an experience report in elementary school

Abstract: Arraial do Cabo, due to its great biodiversity is an important fishing re- gion, the Brazilian capital of dive and tourism. As a consequence, we have to deal with pollution problems. The purpose of this work was to develop environmental education activities in schools to raise awareness about this issue through cogni- tive and afatives methods. The students’ response to the proposed activities was satisfactory; after the application of practical and playful activities of environmen- tal education, it was noticed the sensitization of the students regarding pollution through the speeches during the meetings, reports exposed in the texts and answers given in the questionnaire. Environmental education actions in formal and non- -formal spaces are fundamental in the municipality for the preservation of coastal environments.

Keywords: Education. Pollution. School.

ARTIGOS DE DEMANDA CONTÍNUA

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Educación ambiental y contaminación marina: informe de una experiencia en escuelas primarias

Resumen: Arraial do Cabo, por su gran biodiversidad, es una importante región pes- quera, la capital brasileña del buceo y el turismo. En consecuencia, sufre contaminación y problemas en la gestión de residuos. El presente trabajo tuvo como objetivo desarrollar actividades de educación ambiental en las escuelas de la ciudad para sensibilizar a los es- tudiantes sobre este tema a través de métodos cognitivos y afectivos. La respuesta de los estudiantes a las actividades propuestas fue satisfactoria; Luego de la aplicación de activi- dades prácticas y lúdicas de educación ambiental, se notó la conciencia de los estudiantes sobre la contaminación a través de los discursos durante los encuentros, los informes expuestos en los textos y las respuestas dadas al cuestionario. Las acciones de educación ambiental en espacios formales y no formales son fundamentales en el municipio para la preservación de los ambientes costeros.

Palabras clave: Educación. Colegio. Polución.

Introdução

A maioria das cidades costeiras brasileiras possui o turismo como prin- cipal fonte geradora de economia, chegando a triplicar a população em perío- dos do verão, férias e feriados. Dessa forma, os problemas cotidianos de gestão e infraestrutura urbana, tais como fornecimento de água, coleta, tratamento e destinação de efluentes líquidos, coleta e destinação de resíduos sólidos, tam- bém aumentam nesse período (OLIVEIRA; TESSLER; TURRA, 2011). Arraial do Cabo é um município que sofre com os impactos ambientais ocasionados pelo turismo. O principal atrativo da região é a beleza natural, principalmente as praias com águas claras e grande biodiversidade marinha, fazendo dessa cidade a capital brasileira do mergulho (SILVA; DOURADO; CANDELLA, 2006).

A partir de 1990, o turismo do segmento sol e mar, característico de áreas costeiras com alto índice de insolação anual e curtos períodos de chuva, e de se- gunda residência (moradores de cidades próximas que adquirem ou alugam pro- priedades e as frequentam apenas no verão ou no período de férias e feriados), foi intensificado, e a região se transformou oficialmente um destino turístico, sendo, atualmente, a maior fonte de economia de Arraial do Cabo e das cidades vizinhas. O turismo que se estabeleceu na cidade é de “massa”, caracterizado por grupos de turistas que usufruem do local e se afastam, sem se importar, na maio- ria das vezes, com as consequências de suas ações. As atividades turísticas estão relacionadas a passeios de barco e mergulho recreativo, e a procura de turistas por esses serviços chega a 90 mil pessoas no período do verão (FONSECA 2011; JULIÃO; BARRETO 2011).

O grande fluxo de turistas e a gestão pública inadequada quanto ao turis- mo, ao saneamento básico e à educação no município resultaram, entre outros

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impactos, na poluição das praias. Poluição essa que pode ser observada pela presença de resíduos sólidos na areia das praias, que atraem vetores de doenças, como ratos e pombos, geram aumentos nos gastos com limpeza pública, provo- cam a perda de beleza cênica que afeta o turismo, além de interferir na quantida- de e na qualidade do pescado (SILVA et al., 2018).

As atividades econômicas de Arraial do Cabo estão estreitamente ligadas à área costeira. Apesar de explorarem esse ambiente e necessitarem de uma boa qualidade dele, as próprias atividades são potenciais poluidoras. Esse problema precisa ser combatido com um esforço coletivo da sociedade e dos órgãos públi- cos, por meio de programas e projetos que incluam os cidadãos desde a infância, para que o bom comportamento quanto ao meio ambiente seja habitual. A sen- sibilização das crianças e dos adolescentes em ambiente escolar por intermédio da educação ambiental (EA) é fundamental, visto que eles serão os responsáveis por desenvolver suas atividades laborais na região no futuro e poderão exercer os papéis de multiplicadores de conhecimento e guardiões do ambiente.

De acordo com Loureiro, Azaziel e Franca (2003) e Reigota (2014), a EA pode ser vista como uma prática educativa e social que tem como objetivo for- mar cidadãos críticos, com valores e diferentes habilidades, capazes de com- preender o que acontece no ambiente, de se verem e se sentirem inseridos na natureza. Quando esse conhecimento é construído de forma crítica e emancipa- tória, ele se mostra um instrumento de empoderamento, de formação de sujeitos responsáveis pelas suas atitudes, além de ser fundamental para a sensibilização da sociedade quanto aos assuntos relacionados ao meio ambiente. Por meio de medidas que instruam os cidadãos no que se refere à forma de se relacionarem com os resíduos e estimulem o consumo racional, a participação ativa na política e o questionamento de problemas ambientais, as consequências decorrentes da má gestão dos resíduos podem ser minimizadas (LIMA, 2002).

Diante da poluição por resíduos sólidos constatada nas praias de Arraial do Cabo e do reconhecimento das principais atividades geradoras de resíduos, o presente trabalho objetivou desenvolver ações de EA por meio do projeto

“Praia limpa é a minha praia” em duas escolas do município, com a finalidade de sensibilizar os alunos quanto a essa problemática e apresentar conhecimentos que possibilitassem despertar o senso crítico das crianças que no futuro serão os responsáveis por gerir as atividades econômicas na cidade.

Metodologia

Este estudo é do tipo qualitativo, construído por meio de um relato de ex- periência (LÜDKE; ANDRÉ, 1986), feito com dados coletados por observação e relacionados com as referências escolhidas. A partir da observação e descrição, buscou-se compreender o significado do objeto de análise.

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Escolha das escolas

Foram estabelecidas parcerias com duas escolas do município de Arraial do Cabo, uma escola municipal (que será citada como escola 1) e uma escola da rede privada (citada como escola 2), para que fossem desenvolvidas atividades de EA junto aos alunos e professores das turmas. A escolha das escolas se deu pela receptividade da equipe pedagógica durante a busca por instituições de ensino na cidade para a realização do trabalho (Quadro 1).

Quadro 1 – Perfil das escolas (descrição do ambiente físico).

Escola 1 Escola 2

- Sala de aula ampla, arejada, com boa ilumi- nação natural e basculantes voltados para uma rua tranquila, sem barulho.

- Ambiente limpo e organizado em todas as visitas.

- Mobiliário composto por carteiras para os alunos, mesa e cadeira para a professora, li- xeira, ventiladores nas paredes, armário para guardar livros, quadro branco com canetas e apagador, e murais nas paredes com trabalhos realizados pelos alunos.

- O datashow, quando utilizado, e o computador eram retirados na sala da coordenação e co- locados em cima da mesa de professora, com projeção no quadro branco.

- Sala de aula pequena, com pouco espaço para circula- ção entre as carteiras.

- O ambiente sempre possuía muitos materiais escolares no chão, além de papéis de bala, biscoito e recortes de revistas e jornais deixados no chão após as aulas de artes.

- A sala possuía ar-condicionado, por isso as janelas, que eram voltadas para o corredor, sempre permane- ciam fechadas, necessitando de iluminação artificial a qualquer hora do dia.

- Mobiliário composto por carteiras para os alunos, mesa e cadeira para a professora, lixeira, armário para guardar livros, quadro branco e caneta, e murais nas paredes com trabalhos realizados pelos alunos.

- Para o uso do datashow, ia-se a uma sala multimídia com computador e datashow em instalação fixa. Essa sala era um pouco mais ampla, mas também não pos- suía iluminação natural por causa das persianas, e, após saírem, os alunos também deixavam materiais e lixo pelo chão.

Fonte: elaborada pelos autores.

Em março de 2015, foram iniciadas visitas mensais a uma turma de cada escola. Na escola 1, a turma cursava o 6º ano do Ensino Fundamental e era com- posta por 28 alunos, e a professora de Ciências cedeu dois tempos semanais para a realização das atividades. Na escola 2, a turma cursava o 7º ano e era composta por 18 alunos, sendo cedido um tempo semanal da disciplina “Projeto”, na qual os alunos desenvolviam atividades relacionadas a temas do cotidiano. Essa dis- ciplina era lecionada pela coordenadora pedagógica da escola que era professora de Geografia.

Em cada uma das visitas, foram realizadas diferentes atividades com as crianças em espaço formal e não formal. Todas as atividades foram desenvolvi- das igualmente em ambas as escolas.

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Metodologia em educação ambiental

O projeto utilizado como um instrumento para a EA no presente trabalho se chama “Praia limpa é a minha praia”, projeto de extensão da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) que aborda a questão dos resíduos sólidos em ambientes costeiros e a preservação destes por meio de atividades de EA reali- zadas em espaços formais e não formais de ensino, com diferentes atores, como alunos, professores e funcionários de escolas públicas e privadas, bem como pescadores, comerciantes, donos de embarcações e frequentadores das praias (ARAÚJO et al., 2014).

O tipo de EA adotada para o desenvolvimento das atividades nas escolas foi emancipatório e participativo, caracterizado pela politização e pelo debate das questões ambientais, inclusão da sociedade na tomada de decisões e visão multidimensional das questões ambientais (LIMA, 2002). A metodologia empre- gada foi a “história de vida”, que consiste no levantamento de vivências que um grupo, no caso os alunos, possuem com determinado tema ambiental em dado momento histórico (REIGOTA, 2014). Os meios utilizados para alcançar essas histórias foram o visual, por intermédio de desenhos realizados pelos alunos, e o oral, mediante os discursos dos alunos durante os encontros. A partir da aná- lise das “histórias de vida”, foi desenvolvida, ao longo de oito encontros com as turmas, uma série de atividades em forma de palestras, debates, leitura de um livro infantil sobre o tema, jogos e visita ao museu (Quadro 2), com o objetivo de acrescentar novos conceitos sobre o tema e desfazer alguns conceitos diver- gentes aos aceitos atualmente pela biologia. Em algumas palestras, foram colo- cados nos slides os desenhos feitos pelos alunos, sem identificá-los, objetivando inseri-los como sujeitos naquela temática. Segundo Reigota (2014, p. 70), por causa de as histórias fazerem parte do cotidiano dos alunos, durante a exposi- ção e o debate, eles se sentem representados, podendo compreender melhor os conceitos científicos e buscar soluções e respostas para as questões ambientais de forma coletiva.

Os recursos utilizados para avaliar o resultado da sensibilização foram as seguintes atividades desenvolvidas pelos alunos: desenhos; proposta de solu- ções de problemas ambientais do município; redação feita no último encontro; e questionários fechados contendo seis perguntas sobre as causas e consequências dos resíduos sólidos na praia. Estes últimos continham algumas questões com mais de uma resposta correta, com o intuito de inferir quais elementos desperta- vam mais a sensibilidade dos alunos quanto à preservação. O número de questio- nários foi inferior ao número total de alunos em cada turma, pois essa tarefa foi realizada nas últimas semanas do ano letivo e muitos alunos não estavam mais frequentando a escola.

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Quadro 2 – Atividades desenvolvidas durante as visitas às escolas.

Data da

atividade Atividade realizada

pela educadora Objetivo da

atividade Tarefa proposta aos alunos 1) Março

de 2015 Apresentação do projeto “Praia limpa é a minha praia”.

Pré-diagnóstico quanto ao conhecimento dos alunos sobre praias e o meio ambiente.

Confecção de desenhos em grupo, em cartolinas, represen- tando uma praia com todos os elementos que ela possui.

2) Abril

de 2015 Palestra sobre poluição no ambiente marinho e suas causas, conse- quências e possíveis soluções.

Apresentar conceitos novos quanto ao tema e corrigir alguns conceitos divergentes aos aceitos cientificamente identifi- cados durante a avaliação dos desenhos.

Realização de atividades como:

caça-palavras; complete a frase seguido de uma cruzadinha;

e jogo dos 7 erros presentes na Cartilha desenvolvida pela equipe do projeto “Praia limpa é a minha praia”.

3) Maio

de 2015 Palestra com o tema: os diferentes tipos de am- bientes costeiros e suas características físicas e biológicas.

Esclarecer dúvidas expostas pelos alunos no encontro anterior, já que eles relataram não saber a definição e a diferença dos diferentes ambientes costeiros.

Realização de um jogo em que os alunos foram divididos em grupos, e cada grupo recebeu elementos da fauna e da flora e tinha que apontar a que tipo de ambiente pertenciam.

4) Junho

de 2015 Leitura do livro infantil

“Praia limpa é a minha praia” (Autor Fábio Vieira de Araújo. Edito- ra Vieira & Lent, 2015)

Ferramenta para expor as consequências da poluição em ambientes marinhos e costeiros. Foi utilizado como recurso o datashow para projetar as figuras existentes no livro enquanto era feita a leitura.

Realização de atividade em grupo: escolha de uma das problemáticas ambientais do município e proposta de soluções.

5) Agosto

de 2015 Visita a um espaço não formal, o Museu do Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira, onde realiza- mos uma visita guiada.

A ciência dos alunos sobre as pesquisas marinhas realizadas em Arraial do Cabo e a aquisição de novos conhecimentos sobre o município.

Não houve.

6) Setembro

de 2015 Palestra com o tema:

reserva extrativista.

Apresentação em vídeo de entrevistas recentes sobre os con- flitos socioambientais da região, reporta- gens sobre animais marinhos, notícias de jornais eletrônicos so- bre a atuação ilegal de empresas pesqueiras da cidade.

Exposição dos conhe- cimentos adquiridos no museu pelos alunos e interação com as notícias atuais da cidade relacio- nadas ao meio ambiente.

Debate: relato de experiência dos alunos no museu.

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Data da

atividade Atividade realizada

pela educadora Objetivo da

atividade Tarefa proposta aos alunos 7) Novembro

de 2015 Participação do projeto Aruanã (laboratório de Biologia do Nécton e Ecologia Pesqueira – UFF) que atua na região da Baía de Guanabara e adjacências desde 2010, monitorando a ocorrência de tartarugas marinhas.

Transmitir aos alunos o trabalho de conser- vação de tartarugas realizado pelo projeto.

Jogos didáticos, manuseio de ovos de tartaruga, tartarugas conservadas em formol e um casco de tartaruga.

8) Dezembro

de 2015 Atividades (desenho, redação e questionário) para avaliação dos resul- tados obtidos após as atividades de EA e festa de confraternização.

Os desenhos solicitados no primeiro e no último encontro tiveram como finalidade avaliar os elementos que os alu- nos foram capazes de incluir ou excluir após os encontros.

Realização de um novo dese- nho; redação de um texto ex- pondo a importância do projeto

“Praia limpa é a minha praia”

em sua formação; realização de um questionário de perguntas relacionadas aos temas aborda- dos nas palestras.

Fonte: elaborado pelos autores.

Resultados e discussão

Os trabalhos que relatam as experiências de EA costumam focalizar as práticas desenvolvidas, as diferentes concepções de EA, mas sem um aprofun- damento da avaliação do impacto das atividades na absorção do aprendizado e na mudança de comportamento dos alunos. Além disso, comparar trabalhos de EA de forma quantitativa e qualitativa é um desafio, visto a falta de consenso nas metodologias e perspectivas (VIEGAS; NEIMAN, 2015).

A presente pesquisa foi desenvolvida em uma escola pública e uma par- ticular a fim de comparar o conhecimento prévio dos alunos e a participação destes e também dos professores no projeto. Viegas e Neiman (2015) realizaram uma pesquisa bibliográfica em três revistas acadêmicas direcionadas à EA e uma pesquisa descritiva-explicativa, após a análise de 317 artigos, e observaram que 81,5% das atividades de EA eram realizadas em instituições de ensino públicas.

Apenas 4,9% dos trabalhos investigados pelos autores ocorreram em institui- ções públicas e particulares, sendo a baixa incidência de pesquisas realizadas em escolas particulares explicada pelas maiores dificuldades de execução das atividades de EA, consequência de uma maior burocracia por parte da direção das escolas. Em contrapartida, as instituições escolares públicas possuem maior facilidade de desenvolvimento de trabalhos e pesquisas, além dos envolvimentos em parceria com programas do governo, como o “Mais Educação”, que está li- gado ao projeto político-pedagógico dessas escolas (BARROS NETA; FONSE-

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CA, 2012; VIEGAS; NEIMAN, 2015). Tal fato dificulta a comparação entre as metodologias de EA utilizadas em instituições de ensino públicas e particulares.

Sobre o método de ensino, os projetos têm sido destaque nas pesquisas sobre EA, mas essa denominação costuma estar distante das ações realizadas, já que, segundo Segura (2001), os projetos precisam agir não só de forma pontual em eventos-chave, como “Dia do meio ambiente”, “Dia da árvore” ou “Dia do oceano”, em que ocorre apenas a comemoração da data, mas também dar continuidade ao trabalho de sensibilização durante o resto do ano letivo, mas geralmente isso não acontece.

No presente trabalho, foram utilizados mecanismos afetivos, como de- senhos, jogos, leitura de livro, dinâmicas e ida ao museu, e cognitivos, como palestra e questionário. Segundo Wallon (2007), cada indivíduo conta com re- cursos emocionais específicos (afetivos) para a incorporação de aprendizados (cognitivos). Essa variedade de métodos permitiu uma análise mais completa e uma maior riqueza de dados, uma vez que a alternância entre as esferas cog- nitiva e afetiva possibilita a consolidação do aprendizado (WALLON, 2007).

De acordo com as classificações utilizadas por Viegas e Neiman (2015) para caracterizar as atividades de EA, o projeto “Praia limpa é a minha praia”, rea- lizado nas escolas do município de Arraial do Cabo até o presente momento, enquadra-se na classificação de baixíssima abrangência, pois envolve entre 1 e 50 participantes, e as práticas ocorreram a médio prazo, com encontros se es- tendendo entre um semestre e um ano. Durante os debates e as atividades em sala de aula, as carteiras escolares foram retiradas das fileiras e postas em gru- pos ou círculo, permitindo igualdade de condições de espaço, visão, audição e comunicação, o que trouxe motivação e maior interesse ao que foi abordado durante essas atividades. Crivellaro, Martinez Neto e Rache (2001) sugerem que esse é um recurso pedagógico que apresenta resultados satisfatórios e es- timula os alunos a participar das atividades propostas.

Quanto ao entrosamento entre os alunos e à adesão deles às atividades pro- postas, foram observados maior participação e melhor comportamento nos alu- nos da escola 1. Esse fato pode ter sofrido influência da professora da turma que esteve presente em sala de aula em todos os momentos das atividades realizadas com as crianças, apoiando, acrescentando informações e estimulando os alunos o tempo todo. Na escola 2, o trabalho foi realizado pelo projeto sem a participação de um professor, o que dificultou a realização de atividades, já que os alunos leva- ram um período de tempo até se habituarem à presença de outros educadores e a uma forma de aprendizado diferente da que estavam habituados, dando a ideia no primeiro momento que aqueles encontros não eram aulas. De acordo com Santana Neto et al. (2011), é fundamental que ocorra a participação de toda a comunidade escolar, principalmente a adesão do professor que tem contato direto com os alu- nos e é responsável pelo conteúdo que é ensinado naquele ambiente.

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Outro fato que merece destaque foram a limpeza e a organização das salas de aula. Na escola 1, do primeiro ao último encontro, a sala de aula se encontra- va limpa e arrumada. Na escola 2, os alunos não mantinham uma boa limpeza da sala e, quando solicitados a recolher o lixo do chão, relutavam e tentavam argumentar dizendo que pertencia a algum outro colega de classe. Foi preciso argumentação de nossa parte e diversos pedidos até que melhorassem o com- portamento neste aspecto.

Pôde-se observar, pelos elementos presentes nos desenhos feitos pelos alunos e por meio de perguntas feitas durantes as palestras e debates, que os alu- nos de ambas as escolas possuíam conhecimentos prévios semelhantes no que se refere aos temas ambientais apresentados.

Desenhos

Os elementos predominantes em todos os desenhos realizados no primei- ro e no último encontro estavam relacionados ao ambiente natural (sol, nuvens, areia da praia, mar e vegetação), mostrando uma visão romântica e naturalista da natureza (REIGOTA, 1991; TAMAIO, 2002), e isso foi semelhante em ambas as escolas. O fato mais relevante foi que, inicialmente, os desenhos (Figura 1) repre- sentaram um ambiente natural sem pessoas, o que é uma característica comum encontrada em investigações em EA, em que o ser humano não se vê como parte da natureza (LOUREIRO; AZAZIEL; FRANCA, 2003). Para trabalhar o tema meio ambiente com as crianças, é necessário que eles se reconheçam como seres vivos integrantes do ambiente, o que pode ser feito por meio de atividades experimentais e da observação sensorial, passando a formar conceitos próprios embasados em experiências científicas do meio, adquirindo conhecimento e do- mínio do ambiente ao seu redor (HENN; BASTOS, 2008; FRANTZ; MAYER, 2014). Sauvé (2005, p. 317) afirma que:

É preciso reconstruir nosso sentimento de pertencer à natureza, a esse fluxo de vida de que participamos. A educação ambiental leva- -nos também a explorar os estreitos vínculos existentes entre identi- dade, cultura e natureza, e a tomar consciência de que, por meio da natureza, reencontramos parte de nossa própria identidade humana, de nossa identidade de ser vivo entre os demais seres vivos.

No último encontro, nove meses após esse encontro inicial e após terem sido realizadas as atividades do projeto, os novos desenhos (Figura 2), além de incluírem pessoas no cenário, promoveram a inserção de medidas remediadoras, como lixei- ras, expressando sucesso em um dos objetivos da EA, que é a mudança de atitude e comportamento. Santana Neto et al. (2011) obtiveram os mesmos resultados em seu trabalho, uma vez que, após as atividades realizadas por esses autores, os alunos incluíram medidas remediadoras em seus desenhos, mostrando que houve a sensi- bilização dos alunos, concluindo que o objetivo do trabalho fora alcançado.

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Figura 1 – Fotografias de quatro desenhos realizados no primeiro encontro pelos alunos das escolas.

Fonte: desenhos elaborados pelos alunos das escolas.

Figura 2 – Fotografias de quatro desenhos realizados no último encontro pelos alunos das escolas.

Fonte: desenhos elaborados pelos alunos das escolas.

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3.2 Palestras

Segundo Gonçalves e Sá, Pereira e Moura (2012), a ação do educador deve ser construída como uma resposta às diferentes necessidades intrínsecas à realidade dos alunos, para que se formem cidadãos críticos e responsáveis. Ao tratar das questões ambientais sem relacioná-las aos contextos sociais nos quais os alunos estão inseridos, isso é caracterizado como prática de adestramento, e não de EA (FALCÃO; ROQUETE, 2007). Nesse contexto, foram pensadas e preparadas as palestras a partir da “história de vida” dos alunos e tratando de assuntos relacionados ao seu cotidiano: as características físicas, biológicas e socioeconômicas de seu município; os impactos sofridos pelo ambiente, pela população e pela economia; as formas de minimizar esses impactos; as medidas de proteção existentes, entre outras informações relevantes para facilitar a comu- nicação e possibilitar a discussão dos temas.

A utilização de termos científicos nas palestras e nos debates também foi valorizada, a fim de enriquecer o vocabulário dos alunos, sempre mostrando- -lhes o significado das palavras, pois, segundo Henn e Bastos (2008), as crianças têm o direito de desfrutar de uma EA dotada de conhecimentos elaborados, mesmo quando ainda não possuem uma grande bagagem sobre o assunto, pois, dessa forma, torna-se possível a formação de um cidadão crítico capaz de inter- ferir na realidade que vivencia. Os alunos interagiam durante as palestras quando mostradas fotos de lugares que costumavam frequentar e quando abordados fatos ocorridos na região de que tinham conhecimento. Sempre entusiasmados, os alunos faziam questão de expor suas experiências relacionadas à poluição nas praias, seus comportamentos e suas relações com os animais ali presentes.

Atividades e jogos

Os jogos e as atividades interativas propostos aos alunos despertaram o interesse, a adesão e o entrosamento de toda turma na escola 1. Na escola 2, alguns alunos se mostraram resistentes quando a atividade foi proposta, mas, ao verem a adesão dos colegas de classe, dispuseram-se a participar. A ludicidade permitiu um maior entrosamento entre os alunos de grupos que até então não realizavam trabalhos juntos na escola 2. Em ambas as escolas, os alunos reavi- varam temas tratados nos encontros prévios em sala de aula, possibilitando o reforço do aprendizado e esclarecendo dúvidas ainda existentes.

De acordo com Vygotsky (1998), os jogos são atividades da infância, nos quais é possível a recriação da realidade usando sistemas simbólicos. Manzini et al. (2014) relatam ainda que o lúdico é necessário tanto à instituição de ensino quanto às crianças e que esses momentos informais devem ser valorizados, pois fazem parte do desenvolvimento cognitivo, psicomotor, da concentração, do interesse, da iniciativa e do desenvolvimento socioafetivo.

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Leitura do livro

A leitura do livro paradidático “Praia limpa é a minha praia”, de Fábio Araújo, com ilustrações de Samara Silva (2015), recebeu a atenção dos alunos, que, ao final, fizeram perguntas e questionamentos sobre a história. Os alunos reconheceram três dos animais personagens do livro como pertencentes ao am- biente marinho: o tatuí, do qual todos possuíam uma história pessoal com o ani- mal quando iam à praia e o pegavam para colocar em garrafas e levar para suas casas; com a maria-farinha, caranguejo presente nas praias que frequentavam; e com o molusco, que também é abundante nas fazendas de cultivo e costões da região, mostrando que as situações que vivenciavam reforçam o aprendizado.

Outros animais presentes na história, como a joaninha, a minhoca da praia (larva da joaninha) e a pulguinha da praia (um crustáceo), foram associados pelos alu- nos com poluição na praia, como bichos que podiam fazer mal à saúde humana, concepção que foi discutida por meio da explicação quanto à importância e fun- ção desses animais nos ambientes costeiros, possibilitando a construção de um novo conhecimento pelos alunos.

A leitura é uma prática que não se restringe somente ao aspecto cognitivo, visto que é retratado como uma maneira de estabelecer vínculos de afetividade entre as pessoas, contribuindo, assim, para uma aproximação entre os membros do projeto e os alunos (PLATZER, 2009; PLATZER; MARIZ, 2012). Caretti e Zuin (2010, p. 142) defendem em seu trabalho que a leitura deve fazer parte do cotidiano escolar, pois é “por meio da leitura [que] entramos em contato com o mundo do outro e a partir dessa experiência geramos importantes ferramentas para a formação de nosso próprio mundo”.

Visita ao museu

A visita a instituições não formais, como os museus de ciências, é uma fer- ramenta enriquecedora para os alunos, pois, além de tirá-los do espaço formal do seu cotidiano, proporciona o conhecimento da história da ciência, de princípios científicos e tecnológicos, e desperta a curiosidade e o senso crítico (VALENTE;

CAZELLI; ALVES, 2005; KIMBLE, 2014). Na visita ao Museu IEAPM (Ins- tituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira), pudemos observar o entu- siasmo e a ansiedade dos alunos durante a visita. Os alunos de ambas as escolas ficaram atentos às explicações do guia e participaram das atividades interativas do museu, tais como um simulador de direção de navio, mídias audiovisuais sobre animais marinhos, exposição de animais conservados em formol e de es- queletos de animais marinhos.

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Durante a visita ao museu, o guia mostrou a área da Reserva Extrativista de Arraial do Cabo e explicou brevemente do que se tratava. Pudemos perceber que a maioria dos alunos desconhecia o assunto, então registramos a necessidade de maior esclarecimento sobre o tema, principalmente por ser uma questão de polí- ticas públicas que envolve interesses políticos, econômicos e conflitos sociais pelo uso da área. Por esse motivo, esse foi o assunto principal do encontro seguinte.

Estava programada mais uma visita a um espaço não formal, a praia, no entanto, por causa da falta de tempo no calendário escolar para saídas de campo, não ocorreu essa atividade.

Questionários

A maioria dos alunos de ambas as escolas escolheu opções semelhantes ao responderem às perguntas do questionário (Tabela 1). Somente a pergunta 5, que questionava quanto ao resíduo que mais demora para se decompor no ambiente, apresentou diferença entre as escolas. Os alunos da escola 1 opta- ram pela letra D (borracha) e da escola 2 optaram pela letra B (plástico). Fo- ram aplicados 28 questionários (sendo 14 em cada uma das escolas), número inferior ao total de alunos por causa de alguns alunos terem faltado no dia da aplicação do questionário.

O uso do questionário é uma técnica comum nas formas de avaliação em EA, e Viegas e Neiman (2015) apontam que isso ocorre por se tratar de uma fer- ramenta rápida e barata para obter informações e por não exigir treinamento do aplicador. O questionário e as redações foram ferramentas utilizadas para avaliar a eficácia do projeto junto às turmas. A análise das respostas mais indicadas pelos alunos nos questionários mostrou que conseguiram compreender os con- teúdos transmitidos durante os encontros, pois as respostas estavam de acordo com os conteúdos que foram transmitidos durante as atividades.

A primeira pergunta tratava da forma mais eficaz para diminuir a quantida- de de resíduos no ambiente. A ideia reforçada durante os encontros foi a de que a diminuição do consumo é mais importante que a reciclagem e a reutilização dos materiais, pois assim há economia de recursos naturais e até mesmo verba no processo de produção, logística, compra, descarte e posterior reciclagem ou outra forma de aproveitamento. Antes da preocupação com a destinação correta dos resíduos, os maiores esforços deveriam estar nas ações visando à não gera- ção de resíduos (GODECKE; NAIME; FIGUEIREDO, 2012).

A segunda pergunta foi sobre a atribuição de responsabilidades dos re- síduos, que deve ser compartilhada entre todos os cidadãos, e não ficar a car- go somente da prefeitura e outras pessoas que trabalham em áreas costeiras. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010) estabelece que o poder público, o setor empresarial e as coletividades são responsáveis pelos resíduos gerados. A lei institui também a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de

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vida dos produtos, que deve abranger fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e responsáveis pelos serviços de limpeza pública e pelo manejo dos resíduos sólidos.

Tabela 1 – Porcentagem obtida para cada opção das perguntas nas duas escolas e número total de alunos entre parênteses.

Perguntas Escola 1 Escola 2

1- Qual a melhor forma de diminuirmos a quantidade de lixo no ambiente?

a. Jogar o lixo na lixeira 14% (2) 7% (1)

b. Queimar o lixo - -

c. Reduzir a quantidade de lixo que produzimos 43% (12) 57% (8)

d. Reciclar o lixo 43% (12) 36% (5)

2- A presença de resíduos na areia das praias e oceanos é culpa...

a. Do poder público - -

b. Do gari (lixeiro) - -

c. Das pessoas que realizam atividades nas praias e oceanos 21% (3) 36% (5)

d. Da população em geral 79% (11) 64% (9)

3- Qual o tipo de resíduo sólido mais encontrado nos oceanos e praias?

a. Papel 7% (1) -

b. Vidro - 7% (1)

c. Metal - 7% (1)

d. Plástico 93% (13) 86% (12)

4- Um dos maiores prejuízos causado pelo descarte inadequado dos resíduos nas praias e oceanos é....

a. Degradação da paisagem 29% (4) -

b. Morte de organismos marinhos 64% (9) 93% (13)

c. Prejuízo econômico para a população - -

d. Transmissão de doenças aos humanos 7% (1) 7% (1)

5- Qual resíduo demora mais tempo para se decompor no ambiente?

a. Papel 7% (1) -

b. Plástico 14% (2) 64% (9)

c. Vidro 14% (2) 14% (2)

d. Borracha 64% (9) 21% (3)

6- Qual destes bichos você relaciona com a presença de lixo nas praias?

a. Pombo e tatuí 7% (1) 21% (3)

b. Tatuí e caranguejo 7% (1) 21% (3)

c. Pombo e cachorro 86% (12) 57% (8)

d. Caranguejo e cachorro - -

Fonte: elaborada pelos autores.

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A terceira pergunta objetivava verificar se eles tinham ideia sobre qual o resíduo é mais encontrado nas praias. O assunto foi amplamente tratado nos en- contros com base nos trabalhos de Mascarenhas et al. (2008) e Silva et al. (2015), além da experiência prévia e percepção sensorial dos alunos com o ambiente costeiro, que permitiu corroborar a informação de que o plástico é o material mais abundante. Resultado disso pode ser explicado por causa da utilização in- tensa e, principalmente, da forma descartável desse material e suas característi- cas, como flutuabilidade e longo tempo de decomposição.

A quarta pergunta abordava sobre a principal consequência da polui- ção. Todas as opções de respostas estavam corretas, no entanto o intuito foi identificar qual delas seria a mais relevante para os alunos. O fato de a morte de organismos marinhos ter sido escolhida como a principal pode ter sido creditado ao apelo sentimental por animais, à visita do projeto Aruanã, que atua com preservação de tartarugas, e a fotos de animais ingerindo plásticos, mostradas em outras atividades.

A penúltima pergunta foi relacionada ao tempo de decomposição de al- guns tipos de resíduos no ambiente. Cada tipo de resíduo possui um tempo de decomposição diferente; além disso, fatores como clima, forma e local onde são acondicionados influenciam o tempo de decomposição (ALENCAR, 2005).

Tendo esse conhecimento, os alunos podem fazer melhores escolhas quando forem adquirir novos produtos, optando por aqueles que possuem maior dura- bilidade e que terão menor impacto no ambiente quando descartados.

A última pergunta tratou da questão dos animais que estão associados ao lixo nas praias. Alguns dos animais apresentados como opção de resposta são vetores de doenças, como o pombo. Sua presença nas praias pode ter como con- sequência a contaminação da areia com fungos nocivos, os quais, associados ao lixo, fazem desse ambiente um propício meio de cultura para esses microrganis- mos (MAIER et al., 2003). Algumas praias da região possuem essa ave em abun- dância; logo, é importante que tenham conhecimento desse tipo de informação para que escolham melhor as praias que frequentam.

Propostas de soluções, redações e sensibilização dos alunos

Nas atividades realizadas pelos alunos no quarto encontro, no qual esco- lheram uma problemática ambiental do município e propuseram soluções, e no último encontro, em que escreveram um pequeno texto relatando o que apren- deram com as atividades de EA realizadas nas escolas, pôde-se verificar a visão globalizante e a antropocêntrica da natureza (Quadro 3), segundo a definição de Reigota (1991). O autor classifica as visões do ambiente em três categorias:

naturalista, vendo a natureza de forma intocada com o ser humano externo a ela;

antropocêntrica, natureza a serviço do homem, tendo uma visão utilitarista dos

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recursos; e globalizante, que representa um avanço no entendimento do ambien- te, uma vez que demonstra que compreendem a relação entre os seres humanos e a natureza como recíproca.

Durante as atividades, observamos a sensibilização por grande parte dos alunos, algumas mudanças de atitudes e a formação do pensamento crítico dian- te de algumas questões e até mesmo a sugestão de soluções para a manutenção dos ambientes, que são os principais objetivos da EA (LOUREIRO; AZAZIEL;

FRANCA, 2003). Todos os alunos agradeceram à participação do projeto em suas escolas, expressaram que a aula sobre tartarugas e outros momentos que tratamos sobre a fauna local foram os que mais lhes agradaram e sugeriram for- mas de melhorar a qualidade ambiental das praias com ações como: redução do consumo, consumo consciente por meio do conhecimento dos tipos de resíduos mais encontrados no ambiente, coleta do seu lixo e do espaço ao redor quan- do estiverem nas praias, não jogar lixo na rua, entre outras. Relataram também não ter conhecimento que certos resíduos eram poluentes por serem orgânicos, como as cascas de fruta e o coco verde consumido nas praias. Os alunos toma- ram ciência de que a presença desses resíduos na areia das praias acabam por atrair pombos e ratos, vetores de doenças, além de causar prejuízo estético.

Quadro 3 – Trechos das redações elaboradas pelos alunos sobre as problemáti- cas do município e soluções.

Problemáticas do município e soluções Trechos das redações

“Problema: cigarro (causa a fumaça que polui o meio ham- biente e as pessoas; lixo (causa poluição nas plantas (árvores), no mar, algumas espécies confundi sacolas com água-viva.

Solução: Formar uma campanha nas escolas para as crianças pedirem par seus pais não jogarem lixo no mar e seus fami- liares que fumam pararem de fumar e seus amigos também e assim repetidamente. Assim poderemos diminuir a quantidade de poluição no mar e no ar.” (Globalizante)

“Eu aprendi que não se deve poluir, aprendi que se poluir, os animais das praias podem comer ou ficar presos no lixo.” (Globalizante)

“Extinção marítima: O problema da extinção marítima afe- ta os animais por que em quanto está em defeso eles pegam peixe, os que estão em extinção, aí acaba o peixe. Aí se os peixes acabarem, os tubarões não vão se alimentar e vão começar a atacar os humanos. Nós podemos aumentar a fiscalização e ter uma punição maior.” (Antropocêntrica)

“Aprendi que se a gente evitar (não jogar) sujeira na praia vamos fazer o bem a todos, pessoas, animais, meio ambiente etc. Tam- bém aprendi que devemos levar suas pró- prias garrafas de água para que não usamos descartáveis por que retribui a não poluir o lugar.” (Globalizante)

“Agente deve melhorar a poluição por que a água do mundo está acabando e os peixes, golfinhos, tubarões, etc estão mor- rendo. Meu projeto é não jogar lixo na rua.” (Globalizante)

“Eu aprendi que deixar a praia suja é um erro, que não devemos sujar e aprendi que se tiver uma sacola perto pegue e tire os lixos mais próximos.” (Globalizante)

“Pesca ilegal: Afeta os animais o desequilíbrio da cadeia ali- mentar, o círculo de reprodução dos peixes que estão em ex- tinção, os pescadores não devem pescar os peixes proibidos.”

(Globalizante)

“Eu gostei de aprender sobre as tartarugas e sobre a poluição na praia. Aprendi quem são os maiores poluentes das praias e como combater esse problema.” (Globalizante) Fonte: elaborado pelos autores.

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Manzini et al. (2014) realizaram um projeto em uma escola de Educação Infantil em São Paulo com o intuito de conhecer as concepções das crianças sobre lixo, desperdício, reaproveitamento e reciclagem. Os autores constataram que, com o passar do tempo, a assimilação do conteúdo e o diálogo passaram a ser mais produtivos e enriquecedores. A mesma coisa foi observada no presente trabalho. A cada encontro, os alunos estavam mais íntimos e entrosados com o assunto trata- do, dispondo-se a responder perguntas em voz alta e acrescentar informações e vi- vências no momento de exposição de palestras e debates. O desenvolvimento das atividades foi um processo relevante para a aquisição de alguns conceitos novos e para a reconstrução de conceitos aprendidos anteriormente, mas que estavam divergindo dos aceitos atualmente pela biologia, uma vez que as falas dos alunos foram se aperfeiçoando, ficando mais específicas e conceituais.

Considerações finais

A resposta dos alunos às atividades propostas foi extremamente satisfa- tória. A aplicação de atividades práticas e lúdicas (palestras, desenhos, redação de texto, leitura de livro, questionários e visita ao museu) mostrou envolvimento dos alunos, criando expectativa e interesse neles. Foi possível notar envolvimen- to, cooperação, mudanças de atitudes, respeito e socialização das crianças diante das atividades propostas. Após a realização das atividades de EA por meio do projeto “Praia limpa é a minha praia”, notou-se que as crianças conseguiram en- tender os conceitos que foram trabalhados por suas falas durantes os encontros, relatos expostos nos textos e respostas dadas no questionário, possibilitando uma mudança de atitude e até mesmo disseminação do que foi aprendido por intermédio da sensibilização.

A EA crítica e emancipatória é um instrumento de empoderamento, for- mação de sujeitos críticos e responsáveis pelas suas atitudes, além de uma ferra- menta fundamental para a sensibilização da sociedade com os resíduos sólidos.

Por meio de projetos que instruam os alunos quanto à forma de se relacionarem com os resíduos e estimulem o consumo racional, a participação ativa e questio- nadora dos problemas ambientais, os problemas frequentemente observados em consequência da má gestão dos resíduos podem ser minimizados.

Submissão: 06/10/2021 Aprovação: 15/12/2021 Notas

1 Bióloga no Ecomuseu Ilha Grande da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e no Laboratório de Ecologia Bêntica da UERJ. Colaboradora do projeto “Praia limpa é a minha

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praia”. Educadora no Projeto Sementes. Doutora em Biologia Marinha e Ambientes Costeiros pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Mestra em Biologia Marinha pela UFF. Licenciada em Ciências Biológicas pela UERJ. E-mail: melaniels_1@hotmail.com.

2 Professor associado de Microbiologia Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Coordenador do projeto “Praia limpa é a minha praia”. Doutor em Microbiologia. E-mail:

fvaraujo@uol.com.

3 Professora de Ciências da Rede Municipal de Magé. Colaboradora do projeto “Praia limpa é a minha praia”. Doutora em Biologia Marinha e Ambientes Costeiros pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). E-mail: oc.rarebeca@gmail.com.

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