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ARTIGO
ORIGINAL
Age
at
menarche
in
schoolgirls
with
and
without
excess
weight
夽
,
夽夽
Silvia
D.
Castilho
∗e
Luciana
B.
Nucci
FaculdadedeMedicina,PontifíciaUniversidadeCatólicadeCampinas(PUC-Campinas),Campinas,SP,Brasil
Recebidoem30dejaneirode2014;aceitoem14demaiode2014
KEYWORDS Menarche; Adolescent; Bodymassindex
Abstract
Objective: Toevaluatetheageatmenarcheofgirls,withorwithoutweightexcess,attending
privateandpublicschoolsinacityinSoutheasternBrazil.
Methods: Thiswasacross-sectionalstudycomparingtheageatmenarcheof750girlsfrom
pri-vateschoolswith921studentsfrompublicschools,agedbetween7and18years.Themenarche
wasreportedbythestatusquomethodandageatmenarchewasestimatedbylogarithmic
trans-formation.Thegirlsweregroupedaccordingtobodymassindex(BMI)cut-offpoints:(thin+
normal)and(overweight+obesity).Inordertoensurethattheybelongedtodifferentstrata,
328 parentsoftheseschoolsanswered aquestionnairetoratethestudent’ssocioeconomic
level.
Results: Menarche was reported by 883 girls. Although they belonged to different classes
(p<0.001),therewasnodifferenceinthenutritionaldiagnosis(p=0.104)betweenthem.There
wasalsonodifferenceinageatmenarchebetweenthegirlsstudyinginprivate(12.1years,95%
CI:12.0-12.2)andpublicschools(12.2years,95%CI:12.1-12.3;p=0.383).Whenevaluatedby
nutritionalstatus,therewasdifferenceonlyintheageatmenarchebetweengirlsfromprivate
schoolswithexcessweightandwithoutexcessweight(11.6and12.3years;p<0.001).Thegirls
withexcessweightattendingprivateschoolsalsohadearlieranmenarchethanthoseattending
publicschools(respectively,11.6and12.1years;p=0.016).
Conclusions: Althoughthestudentsfromprivateschoolsbelongedtoahighersocioeconomic
status,thereiscurrentlynolongeralargegap betweenthem andgirlsfrom publicschools
regardingnutritionalandsocioeconomicfactorsthatmayinfluencetheageatmenarche.
©2014SociedadeBrasileiradePediatria.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Allrightsreserved.
DOIserefereaoartigo:http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2014.05.008
夽 Comocitar esteartigo: CastilhoSD, Nucci LB. Ageat menarchein schoolgirlswithand withoutexcess weight. JPediatr (Rio J).
2015;91:75---80.
夽夽TrabalhovinculadoàPontifíciaUniversidadeCatólicadeCampinas,Campinas,SP,Brasil.
∗Autorparacorrespondência.
E-mails:sdiezcast@puc-campinas.edu.br,sdiezcast@gmail.com,sdiezcast@hotmail.com(S.D.Castilho).
PALAVRAS-CHAVE Menarca;
Adolescente; Índicedemassa corporal
Idadedamenarcaemescolarescomesemexcessodepeso
Resumo
Objetivo: Avaliaraidadedamenarcaemmeninas,comesemexcessodepeso,quefrequentam
escolasparticularesepúblicasdeumacidadedosudestedoBrasil.
Métodos: Estudo transversal quecomparou aidade damenarcade 750meninas deescolas
particularescom921alunasdeescolaspúblicas,comidadesentresetee18anos.Amenarca
foirelatadapelométodostatusquoeaidadedamesmaestimadapelologito.Asmeninasforam
agrupadaspelospontosdecortedoIMCem(magreza+eutrofia)e(sobrepeso+obesidade).
Comointuitodecertificarqueelaspertenciamaclassesdiferentes,328paisresponderama
umquestionárioparaclassificaroníveleconômicodosalunos.
Resultados: Amenarcafoireferidapor883meninas.Emboraelaspertenc¸amaclasses
econô-micasdistintas(p<0,001),nãohouvediferenc¸aquantoaodiagnósticonutricional(p=0,104).
Tambémnãohouvediferenc¸anaidadedamenarcaentreasqueestudamemescolas
particula-res(12,1anos;IC95%%:12,0-12,2)epúblicas(12,2anos;IC95%%:12,1-12,3);p=0,383.Quando
avaliadas pelodiagnóstico nutricionalsóhouvediferenc¸anaidadedamenarcadasmeninas
comesemexcessodepesodeescolasparticulares(11,6e12,3anos;p<0,001).Asmeninas
comexcessodepesodasescolasparticularestambémmenstruarammaiscedodoqueasdas
escolaspúblicas(respectivamente,11,6e12,1anos;p=0,016).
Conclusões: Emboraasalunasdasescolasparticularesaindapertenc¸amaclassesmaisaltas,
atualmente,não existemaisumabismonutricionalesocioeconômicotãograndeentreelas
quantoafatoresquepodeminfluenciarnaidadedamenarca.
©2014SociedadeBrasileiradePediatria.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todososdireitos
reservados.
Introduc
¸ão
Aidadeemqueamenarcaocorreserevestedeinteresse, pois esse evento marca o fim do processo maturacional damenina,sinalizando que elaestá apta aprocriar.1 Isso
implicaemsuaintroduc¸ãonomundoadultoe, consequen-temente,noiníciodaatividadesexual,expondo-atantoao riscodedoenc¸assexualmentetransmissíveiscomode gravi-dez,que,ocorrendoprecocemente,trazconsigoumasérie deinconvenientes.2,3
Inúmerosfatorestêmsidorelacionadoscomamaturac¸ão sexual, exercendo influência sobre a idade da menarca. SegundoTanner, meninasdeclassessociaismaisaltaseas maisbem nutridasmenstruam maiscedo.1 Outrosestudos
mostramqueaobesidadetambémantecipaamenarca.4,5
Nas últimas décadas, o Brasil, assim como outros países em desenvolvimento, vem enfrentando problemas relacionados à mudanc¸a do perfil nutricional de sua populac¸ão.6---8 Se anteriormente preocupava a alta
preva-lênciadedesnutric¸ão,hojeasquestõesquemaischamam a atenc¸ão estão relacionadas aos índices de sobrepeso e obesidade.9 Naprimeira década doséculo XXIocorreram,
também, importantes alterac¸ões na distribuic¸ão socioe-conômicadosbrasileiros,reflexodamobilidadesocialque teveinícionadécadade1970.10,11Comaindustrializac¸ão,
lentamente,abasedapirâmidesocialcomec¸ouase estrei-tar, mas foi só a partir de 2005 que essas mudanc¸as determinaramumanovaformadedistribuic¸ão socioeconô-micadapopulac¸ão.Compessoas migrandodos níveismais baixos para níveis superiores, a antiga distribuic¸ão das classes sociaisem formade pirâmide foi substituídapela representac¸ãoemformadelosango,naqualamaiorparte
dapopulac¸ão pertenceaumacamada depoderaquisitivo intermediário.10
As recentes mudanc¸as no perfil nutricional e socioe-conômico dos brasileiros trazem à tona a pergunta sobre a influência que esses fatores têm exercido na idade da ocorrênciadamenarca.Diantedestanovarealidade,esse estudo tevecomo objetivoavaliare comparar a idadeda menarcaemmeninascomesemexcessodepesoque fre-quentamescolasparticularesepúblicasdeumacidadeda regiãosudestedoBrasil.
Métodos
Este estudodescreve e comparadados de1.671meninas, com idades entre 7-18 anos, avaliadas em escolas parti-culares (em 2010; n=750) e públicas (em 2012; n=921), de Campinas-SP,Brasil.As escolas foramselecionadas por sorteioentretodasasescolasparticularesepúblicas (esta-duais) do município e participaram as meninasque, com o consentimento dos diretores e dos responsáveis, assen-tiramnomomentodacoletadedados.Dasavaliadas,foram excluídasasquereferiramgravidez,doenc¸asnãocorrigidas quepudesseminterferirnocrescimentoouganhodepeso,e asqueapresentavamnaocasiãocondic¸ãoqueprejudicasse aobtenc¸ãodasmedidas,taiscomo:sercadeiranteouestar usandotalagessada.
Otamanhodaamostrafoicalculadodemodoqueas ado-lescentessedistribuíssemuniformementedeacordocomos estágiosmaturacionaisdeTannerparamamas(M),tomando por base estudos brasileiros que estabeleceram a idade médiaparacadaestágio,12eparaessaidadeavariabilidade
dotamanhoamostral paraamédiadeumavariável quan-titativa (IMC) de umestudo descritivo, considerando-se o menorerroamostral(d=0,7kg/m2),amaiorestimativade
desvio-padrão (S=2,9kg/m2)e o nível designificância de
1%,ficou estabelecido queseriam necessárias pelomenos 114meninasparacadaestágiomaturacional,emcada amos-tra(mínimode1.140meninas).
O peso e a estatura forammedidos de acordo com as normasinternacionais,14utilizandoabalanc¸aTanitaSC331S
(Tanita,Illinois,EstadosUnidos)eoantropômetrodeparede WISO(WISO,Rio GrandedoSul,Brasil), respectivamente, e as meninas questionadas a respeito da ocorrência da menarca pelo método statusquo (menarca: sim ounão). Como a maturac¸ão obtida por autoavaliac¸ão comparativa compranchasilustrativasdodesenvolvimentopuberal (está-gios de Tanner) teve alta correlac¸ão com a determinada pelapesquisadora na primeira amostra(escolas particula-res),conformedadosjápublicados,5,7nasescolaspúblicasa
maturac¸ãofoiobtidaporautoavaliac¸ão.ApartirdoZ-escore doIMC/idade,avaliadopelospontosdecortedascurvasda OMS2007,asmeninasforamdivididasemdoisgrupos:com excessodepeso(sobrepeso+obesidade)esemexcessode peso(magreza+eutrofia).
Osdadosforamcolhidosemescolaspúblicaseprivadas comointuitoderepresentarclassessocioeconômicas distin-tas.Pararatificaressaescolha,em2012,328paisdealunos (avaliadosproporcionalmenteemcadaescola)responderam aoquestionáriodoCritériodeClassificac¸ãoEconômicaBrasil (CCEB)daAssociac¸ãoBrasileiradeEmpresasdePesquisa.15
As análises foram feitas no programa SPSS Statistics for Windows v.17.0 (SPSS Inc., Chicago, Estados Unidos), tendosidoutilizadosostestes Qui-quadrado,para compa-rarproporc¸ões,oMann-Whitney,paracompararasmédias numéricas e a regressão logística para comparar a idade da menarca por escola (particular e pública) e diagnós-tico nutricional (com e sem excesso de peso). O método logito (transformac¸ão logarítmica) foi empregado para o cálculodaidade mediana damenarca(idade em que50% afirmaramjátermenstruado).Oníveldesignificância ado-tadofoide5%.
EstapesquisarespeitaospreceitoséticosdaDeclarac¸ão deHelsinquee foiaprovadapeloComitêdeÉticada PUC--Campinas(protocolos693/09e574/11).
Resultados
Atabela1contempladadosdescritivosdaamostranoque dizrespeitoàdistribuic¸ãodasmeninas,avaliadasnas esco-las particulares e públicas, por diagnóstico nutricional e estágiomaturacional.Observa-sequenãohouvediferenc¸a significativaquantoaodiagnósticonutricionalnasmeninas que frequentamasdiferentesredesde ensino(p=0,104). Apresentaramexcesso depeso 32,5%dasalunas das esco-las particulares avaliadas e 32,9% das alunas das escolas públicas.
Aaplicac¸ãodoCCEBmostroudiferenc¸aestatística signifi-cativanaclasseeconômicadascrianc¸asquefrequentamas escolas avaliadasda rede particular e pública (p<0,001). Enquanto nas particulares 90% dos alunos pertencem às classes A e B(com predomíniode A2 e B1)e apenas10% pertencemàclasseC,naspúblicas,53%pertencemàclasse
Tabela 1 Distribuic¸ão das 1.671 meninas avaliadas em
escolasparticularesepúblicasdeCampinas-SP,Brasil,entre
2010e2012,deacordocomospontosdecortedoIMC/idade
dascurvasdaOMS2007eporestágiomaturacional(Tanner)
Variável Escolaparticular
n(%)
Escolapública
n(%)
p-valora
Diagnósticonutricional
Obesidade 79(10,5) 117(12,7) 0,104
Sobrepeso 165(22,0) 186(20,2)
Eutrofia 503(67,1) 606(65,8)
Magreza 3(0,4) 12(1,3)
Estágiomaturacionalb
M1 138(18,4) 186(20,2) <0,001 M2 135(18,0) 118(12,8)
M3 145(19,3) 138(15,0) M4 193(25,7) 240(26,1) M5 139(18,5) 239(26,0)
Total 750(44,9) 921(55,1)
a Qui-quadrado.
b estágiomaturacionaldeTannerparamama.
B(com predomíniodeB2),nenhum pertenceàclasse Ae 47%pertencemàsclassesmaisbaixas(CeD).
Não houve diferenc¸a entre o número de meninas das escolas particulares e públicas que referiram menarca (p=0,717); respectivamente 400 (53,3%) e 483 (52,4%). A tabela 2 mostra como elas se distribuíram por estágio maturacional.
Entreasmeninasincluídas,apenas16foramclassificadas como tendo menarca precoce outardia. Seis meninasde escolasparticulareseduasdeescolaspúblicasapresentaram amenarcaantesdos noveanos,enquanto apenasduasde escolasparticulareseseisdepúblicasmenstruaramapósos 15anos.Amaisnovatinha8,4anoseamaisvelha15,9anos. A idade mediana da menarca nas meninas de escolas particularesfoide12,1anos(IC95%:12,0-12,2),enas meni-nas de escolas públicas de 12,2 anos (IC95%: 12,1-12,3). Emboraaidadedamenarcatenhasidomenornasmeninas avaliadasemescolasparticulares,nãohouvediferenc¸a esta-tisticamentesignificativaemrelac¸ãoàsavaliadasemescolas públicas(p=0,383).Quandoavaliadasdeacordocomo diag-nósticonutricional,observa-sequeasmeninascomexcesso depeso das escolasparticulares apresentaram amenarca maiscedo(tabela3).
Discussão
Tabela2 Proporc¸ãodemeninas(avaliadasemescolasparticularesepúblicasdeCampinas-SP,em2010-2012)quereferiram
menarca,porestágiomaturacional
Estágiomaturacional Escolasparticulares Escolaspúblicas
Menarca Menarca
Sim
n(%)a
Não n
Total N
Sim n(%)a
Não n
Total N
M1 0 138 138 0 186 186
M2 2(1,5%) 133 135 0 118 118
M3 70(48,3%) 75 145 35(25,3%) 103 138
M4 189(97,9%) 4 193 209(87,1%) 31 240
M5 139(100%) 0 139 239(100%) 0 239
400 350 750 483 438 921
a%dototalporestágiomaturacionaldeTannerparamama(M).
Tabela3 Comparac¸ãodaidade damenarca deacordocom olocal ondeforamavaliadas (escola particularoupública) e
diagnósticonutricional(comesemexcessodepeso);Campinas-SP,Brasil(2010-2012)
Escola Diagnósticonutricional N Idademedianadamenarca(anos) p-valor
Particular Magreza+Eutrofia 506 12,3a <0,001
Sobrepeso+Obesidade 244 11,6b
Pública Magreza+Eutrofia 618 12,3a 0,271
Sobrepeso+Obesidade 303 12,1b
Regressãologística.
ap=0,5436. b p=0,0166.
menarcademeninassemexcessodepesodasescolas parti-cularesepúblicas(respectivamente,12,3e12,3anos),mas ascomexcessodepesodasescolasparticularesmenstruam maiscedo(respectivamente,11,6e12,1).
Estudos sobre as desigualdades, ensino e desempenho escolarnoBrasilapontamparaumarealidadenaqual variá-veissocioeconômicas,taiscomorendafamiliareeducac¸ão materna,determinamaescolhadaescolaemqueascrianc¸as sãomatriculadas.16---19Asfamíliasdasclassesmaisaltas,
bus-candogarantir melhoraprendizado e umavaga no ensino superior,frequentementeoptamporcolocaremseusfilhos nas escolas particulares. Assim, pressupondo avaliar dois níveis socioeconômicos distintos,foramcolhidos dadosde alunas das redes pública e privada. No entanto, diante dasrecentesmudanc¸as socioeconômicas ocorridas no Bra-sil,optou-setambémporaplicar osCCEBparaverificarse amobilidade social havia alteradoessepressuposto. Para tanto,umasubamostradepaisdealunosdessasescolas res-ponderamestequestionário,quedefineaclassecombase nopoder de compra dos entrevistados e escolaridade do chefedafamília.Nota-seque,emboraasalunasque estu-damnasescolasparticularesaindapertenc¸amaclassesmais altas, atualmente não existe mais um abismo econômico tãogrande entreelase asqueestudamem escolas públi-cas,noquedizrespeitoafatoresquepodeminfluenciarna idadedaprimeiramenstruac¸ão.Háalgumasdécadas(1978), estudo que avaliou amaturac¸ão sexual de 3.368 meninas (10-19anos)nomunicípiodeSantoAndré-SPmostravaque amenarcaocorriaaos12,6anos.12Quandoasmeninasforam
subdivididas de acordo com o gasto médio mensal fami-liarpercapita,observou-sequeasquepertenciamaosdois
níveissocioeconômicosmaisbaixosmenstruavammaistarde (12,8anos),secomparadascomasdonível3(12,4anos), e queasdonívelmaisaltomenstruavamaindamaiscedo (12,2anos).
A mobilidade social registrada na última década, com ascensão das classes mais baixas para uma camada intermediária,10,11propiciou,comamelhoradopoder
aqui-sitivo, aadoc¸ãode hábitospoucos saudáveispelaparcela da populac¸ão que ascendeu de extrato social. Aingestão deumadietaaltamentecalóricaedemenorvalor nutrici-onal(pobreemfibrasericaemgorduras,ac¸úcares),antes acessívelsó àclasse demaiorpoderaquisitivo, temfeito aumentar exageradamenteo ganho depeso em uma par-celadapopulac¸ãoantesvulnerávelàmánutric¸ãodevidaà escassezdealimentos.9,20Infelizmente,essatransic¸ão
nutri-cionaltemsidomaisrápidanoBrasildoqueemoutrospaíses que estão passandopelo mesmo processo, provavelmente pelofatodeoshábitosalimentaresestaremalicerc¸adosem determinantes socioculturais.6 O aumento da prevalência
de sobrepeso e obesidade entre os chineses (respectiva-mente, 14,7% e 2,6%) tem preocupado os governantes, mesmocomseusvaloresestandobemabaixodosdetectados napopulac¸ãobrasileira.21
Sabe-seque o excessode peso resultadeumarelac¸ão inadequadaentreoganhoe ogastodeenergia,deforma que osedentarismo tambémcontribui parao aumentoda prevalênciadesobrepeso eobesidade.22,23 NoBrasil,a lei
horas-aulasemanais.24 Estudorecenterealizadona cidade
de Recife-PE, Brasil, constatou que, enquanto 63,6% das escolas públicas regularesoferecem apenasumaaula por semana, a maioria das escolas de públicas de referência (88,5%) oferece duas aulas semanais, embora especialis-tasrecomendemomínimode3horas.Quanto àofertade atividades extracurriculares, observou-seque quasetodas asescolasdereferência(96%)organizam torneios esporti-vos,enquanto apenas7,7%dasescolas regulareso fazem. Osautoresentendemque aausênciae apouca qualidade das instalac¸ões nasescolas públicas apontampara o des-casodasautoridadeseanãovalorizac¸ãosocialdadisciplina (Educac¸ãoFísica).25
APesquisaNacionaldeSaúdeEscolar(PeNSE),realizada em 2009 comalunos do 9◦ ano doensinofundamental de escolaspúblicaseprivadasdetodoopaís,teveopropósito de avaliar a exposic¸ão a fatores de risco (comportamen-tais) que podem comprometer a saúde desses jovens no quedizrespeitoaodesenvolvimentodedoenc¸ascrônicas.26
Essapesquisa,queincluiu,entreoutrosassuntos,questões sobrealimentac¸ão,atividadefísicaesedentarismomostrou quemaisdametadedosadolescentesnãopraticaatividade física,comvariac¸õesde65,8%a49%.Tantonasescolas parti-cularesquantonaspúblicaspredominaonúmerodealunos inativos(respectivamente,54,9% e 57,4%).Em relac¸ãoao sexo,apesquisaconstatouqueasmeninassãomais sedentá-rias(68,7%),secomparadasaosmeninos(43,8%).Observou tambémqueoconsumodeguloseimas(50,9%)superaode frutas e hortalic¸as em quase 20%. Oitenta por cento dos alunosreferiram assistirTVporduashorasoumais diaria-mente,oqueexcedeomáximodehorasrecomendadopela Organizac¸ãoMundialdaSaúde.
OBrasiltemadotadoháváriosanosac¸õesnosentidode melhoraro estadonutricional da populac¸ão.27 Nesse
sen-tido,amerendaescolar,oferecidainicialmenteapenasem estabelecimentosdaregiãoNordestedopaís,comoobjetivo decombateramánutric¸ão,foiaospoucosganhando abran-gência nacional, passando a serum direito constitucional a partir dofinal dadécada de 1980. Assim,todos os alu-nosquefrequentamescolaspúblicasrecebemalimentac¸ão na escola, com o intuito de garantir um aporte nutricio-nal diáriomínimo. Em Campinas-SP,onde asmeninasque participaramdesteestudoforamavaliadas,ocardápio des-sas refeic¸ões é elaborado por nutricionistas desde 2002 (PNAE2013-ProgramaNacionaldeAlimentac¸ãoEscolar).28
Com a melhora das condic¸ões socioeconômica, muitas dasfamíliascomfilhosmatriculadosemescolaspúblicasnão sofremmaiscomafaltadealimentos,eestarefeic¸ãoacaba porrepresentarumaalimentac¸ãoextraquepodeestar cola-borandoparaoaumentodaprevalênciadeexcessodepeso nessapopulac¸ão.Contribuiaindaparaestequadroofatode quemuitosdosalunosnãoconsomemessamerenda, prefe-rindo olanchelevado decasa ouadquiridona cantinada própriaescola,aonde,emgeral,tantoemescolaspúblicas como particulares, sãovendidosalimentos nãosaudáveis, taiscomosalgadosfritosoupetiscosindustrializados,doces erefrigerantes.Diantedessarealidade,pode-se compreen-der a alta prevalênciade excesso de peso observada nas meninasavaliadasnesteestudo.
Vários autores têm apontado que, por questões hor-monais, a obesidade antecipa a maturac¸ão das meninas, fazendo com que elas menstruem mais cedo.4,29 Como o
excesso de peso atualmente atingetanto as meninasdas classesmaisaltasquantoasdasintermediárias,nãoédese estranharqueambasestejammenstruandonamesmaidade. Adivisãodasalunasdeacordocomodiagnóstico nutri-cional nos dois grupos permitiu observar que as meninas com excesso de peso das escolas particulares menstruam mais cedo do que as das escolas públicas, mesmo não havendodiferenc¸anaprevalênciadeobesidadeentreelas. No entanto, é de se estranhar que não tenha havido diferenc¸anaidadedamenarcaentreasalunassemecom excessodepesodasescolaspúblicas.Provavelmente,outros fatoresquesabidamenteinfluenciamamenarcaenão avali-adosnesseestudo,taiscomosedentarismo,númerodefilhos nafamília,característicasdashabitac¸ões,empregabilidade e características das áreas da cidadehabitadas poressas meninas,podemestarinfluenciandonesteresultado,sendo necessáriosnovosestudosparaesclareceressesachados.30
Assim, reconhece-se que este estudo apresenta limitac¸ões por não ter avaliado outras variáveis além dotipodeescolaediagnósticonutricional,bemcomopor nãoteraplicadoumquestionárioadequadoparaaavaliac¸ão doperfilsocioeconômicodaamostra,esimavaliadoapenas oacesso abensde consumo.Por outro lado,nãoexistem outras pesquisas que tenham abordado esse tema após asdrásticas mudanc¸as no cenário brasileiro,ocorridas na última década. Assim, recomenda-se que o assunto con-tinue a ser investigado, para melhor compreensão desses resultados.
Financiamento
PUC-Campinas.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
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