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Isso é o nome das coisas: a palavra-canção em Arnaldo Antunes

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM DEPARTAMENTO DE LETRAS

Isso é o Nome das Coisas?

A Palavra-Canção em Arnaldo Antunes.

JORGE NORMANDO DOS SANTOS FILGUEIRA

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JORGE NORMANDO DOS SANTOS FILGUEIRA

Isso é o Nome das Coisas?

A Palavra-Canção em Arnaldo Antunes.

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Estudos da Linguagem.

Área de Concentração: Literatura Comparada

Orientadora: Professora Doutora Tânia Maria de Araújo Lima

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UFRN. Biblioteca Central Zila Mamede. Catalogação da Publicação na Fonte.

Filgueira, Jorge Normando dos Santos.

Isso é o nome das coisas : a palavra-canção em Arnaldo Antunes / Jorge Normando dos Santos Filgueira. – Natal, RN, 2015.

323 f. : il.

Orientadora: Profª Drª Tânia Maria de Araújo Lima.

Tese (Doutorado) Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem.

1.Antunes, Arnaldo, 1960 Crítica e interpretação Tese. 2. Poesia brasileira – Tese. 3. Semiótica – Tese. 4. Vídeo-poesia – Tese. 5. Música

– Tese. I. Lima, Tânia Maria de Araújo. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

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DEDICATÓRIA

Este trabalho é dedicado

aos meus pais, José Filgueira Filho (in memoriam) e Francisca dos Santos Filgueira, por todo empenho, dedicação e sacrifícios para que eu pudesse chegar até aqui;

aos meus irmãos, Péricles e Franklin por sempre estarem presentes na minha vida, mantendo vivo em mim a noção de família, muito importante para a minha formação como pessoa;

a Isabelle, por todo o incentivo, apoio, amor e carinho que tem por mim e por nunca deixar de acreditar em mim.

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AGRADECIMENTOS

À coordenação, aos professores e aos amigos da secretaria Elisabete Maria Dantas e João Gabriel pela presteza em ajudar sempre que necessitava de algo no programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem (PPGEL) da UFRN.

Ao professor Derivaldo dos Santos, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem (PPGEL) da UFRN, pela compreensão e auxílio na resolução de pendências administrativas de forma bastante tranquila.

Ao professores Doutores Andrey Pereira dos Santos, Fábio Vieira e Henrique Eduardo, pela participação em minha banca de qualificação e pelos conselhos valiosos.

Aos Professores Doutores Francisco Fábio Vieira Marcolino, Henrique Eduardo de Sousa, Amador Ribeiro Neto e Marcel Lúcio Matias Ribeiro, por terem aceitado o convite para compor a banca de defesa.

Aos meus amigos do trabalho, pelo incentivo dado a mim pela continuidade da pesquisa e pelo apoio em momentos de desânimo.

Ao meu amigo de longa data Sérgio Santos da Silva, pela paciente leitura coletiva da tese e pelas discussões geradas oriundas dos temas abordados no texto.

A Arnaldo Antunes, pela gentileza de ter me enviado o livro Nome (já esgotado nas livrarias) e algumas de suas entrevistas que muito contribuíram para o desenvolvimento da Tese.

Em Especial,

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Para o meu pai...

Ai, andar andei! Ai, como eu andei! E aprendi a nova lei: Alegria em nome da rainha E folia em nome de rei! Alegria em nome da rainha

E folia em nome de rei!

Ai, mar marujei! Ai, eu naveguei! E aprendi a nova lei: Se é de terra que fique na areia O mar bravo só respeita rei! Se é de terra que fique na areia

O mar bravo só respeita rei!

Ai, voar voei! Ai, como eu voei! E aprendi a nova lei: Alegria em nome das estrelas E folia em nome de rei! Alegria em nome das estrelas

E folia em nome de rei!

Ai, eu partirei! Ai, eu voltarei! Vou confirmar a nova lei: Alegria em nome de Cristo Porque Cristo foi o Rei dos reis!

Alegria em nome de Cristo Porque Cristo foi o Rei dos reis!

Alegria em nome de Cristo Porque Cristo foi o Rei dos reis!

Alegria em nome de Cristo Porque Cristo foi o Rei dos reis!

Folia de Reis

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RESUMO

Esta tese pretende analisar um corpus contendo alguns poemas híbridos e algumas imagens relacionadas a esses poemas, devido à onipresença de alguns deles em sistemas semióticos diferentes e até em livros diferentes de Arnaldo Antunes. Os poemas em análise serão retirados de dois de seus livros:

As coisas e Nome. Analisaremos também alguns trechos de canções, que estão presentes nos discos de carreira do mesmo autor; além de observarmos a corporificação do vídeo-poema que sai do suporte do papel e adentra na tela da TV através do VHS/DVD do projeto Nome. Nosso trabalho se debruça sobre esse corpus, observando principalmente um aspecto recorrente já observado em nível de mestrado, que é a marca da primeiridade, categoria teórica desenvolvida por Charles Sanders Peirce. Além de observamos o aspecto semiótico, também faremos uma discussão sobre a relação dos textos verbais com os visuais e suas nuances com a mudança de suportes. A teoria Semiótica será ancorada basicamente na visão peirceana estudada por Lúcia Santaella sobre as matrizes da linguagem e do pensamento (a sonora, a verbal e a visual). E no que se refere ao estudo das canções, utilizaremos a teoria de Luiz Tatit, que discute a entoação verbal e índices musicais como parte responsável pela compreensão global da Canção.

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RÉSUMÉ

Cette thèse vise à analyser un corpus contenant des poèmes hybrides et quelques images liées à ces poèmes parce que l'omniprésence de certains d'entre eux dans les différents systèmes sémiotiques et même différents livres de Arnaldo Antunes. Les poèmes en question seront tirées de deux de ses livres: Les choses et Nom; Nous examinerons également des extraits de chansons, qui sont présents dans les disques de carrière de même auteur; ainsi que d'observer la forme de réalisation de la vidéo poème sortant du support papier et de pénétration sur l'écran de télévision à travers du VHS / DVD du projet Nom. Notre travail se concentre sur ce corpus, en observant principalement une caractéristique récurrente déjà observé au niveau de la maîtrise qui est la marque de priméité, catégorie théorique développé par Charles Sanders Peirce. En plus d'observer l'aspect sémiotique, nous serons également une discussion sur la relation des textes verbaux avec visuelle et ses nuances changeantes avec les médias. La théorie sémiotique est essentiellement ancrée dans la vision de Peirce étudié par Lucie Santaella sur le siège de la langue et de la pensée (bruit, verbale et visuelle). Et en ce qui concerne l'étude des chansons, nous utilisons la théorie de Luiz Tatit, qui traite de l'intonation verbale et indices de musique que la partie responsable de la compréhension globale de la chanson.

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ABSTRACT

This thesis aims to analyze a corpus containing some hybrid poems and some images related to these poems because the omnipresence of some of them in different semiotic systems and even different books of Arnaldo Antunes. The poems in question will be drawn from two of his books: Things and Name; We will also consider some excerpts from songs, which are present in the same author career discs; as well as observe the embodiment of the poem video coming out of the paper support and enters on the TV screen through the VHS / DVD project Name. Our work focuses on this corpus, mainly observing a recurrent feature already observed at Masters level that is the hallmark of firstness, theoretical category developed by Charles Sanders Peirce. In addition to observe the semiotic aspect, we will also be a discussion of the relationship of verbal texts with visual and its nuances with changing media. The semiotic theory is basically anchored in Peirce vision studied by Lucia Santaella on the headquarters of language and thought (noise, verbal and visual). And with regard to the study of the songs, we use the theory of Luiz Tatit, which discusses the verbal intonation and musical indices as the party responsible for global understanding of Song.

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LISTA DE IMAGENS

IMAGEM 1: POEMA SE NÃO SE (AS COISAS,1992)...36

IMAGEM 2: POEMA SE NÃO SE (NOME,1993)...37

IMAGEM 3: DESENHO QUE ACOMPANHA O POEMA SE NÃO SE (AS COISAS,1992)...38

IMAGEM 4: IMAGEM QUE ACOMPANHA O POEMA SE NÃO SE (NOME,1993)...38

IMAGEM 5: POEMA O QUE (PSIA, 1986)...43

IMAGEM 6: POEMA NOME (NOME,1993)...58

IMAGEM 7: POEMA SEM TÍTULO (PSIA,1986)...61

IMAGEM 8: POEMA NOME NÃO (NOME,1993)...64

IMAGEM 9: POEMA NÃO TEM QUE (NOME,1993)...75

IMAGEM 10: POEMA IMAGEM (NOME, 1993)...76

IMAGEM 11: FRAME DO VIDEOCLIPE IMAGEM (NOME, 1993)...78

IMAGEM 12: POEMA O MACACO (NOME, 1993)...79

IMAGEM 13: POEMA ABC (NOME, 1993)...81

IMAGEM 14: DESENHO QUE ACOMPANHA O POEMA A ÁGUA (ASCOISAS, 1992)...84

IMAGEM 15: DESENHO QUE ACOMPANHA O POEMA A ÁGUA (ASCOISAS, 1992)...84

IMAGEM 16: POEMA A ÁGUA (AS COISAS, 1992)...85

IMAGEM 17: POEMA A ÁGUA (AS COISAS, 1992)...85

IMAGEM 18: POEMA DIREITINHO (NOME, 1993)...87

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IMAGEM 20: POEMA ÁGUA (NOME, 1993)...90

IMAGEM 21: POEMA ÁGUA (PSIA, 1986)...92

IMAGEM 22: POEMA TATO (NOME, 1993)...95

IMAGEM 23: POEMA TATO (NOME, 1993)...96

IMAGEM 24: IMAGEM DA CENA DO FILME O ÚLTIMO TANGO EM PARIS (1972)...103

IMAGEM 25: POEMA CULTURA (NOME, 1992)...117

IMAGEM 26: POEMA CULTURA (NOME, 1992)...118

IMAGEM 27: POEMA A CULTURA (ASCOISAS, 1992)...120

(13)

LISTA DE DIAGRAMAS

DIAGRAMA 01- O DINHEIRO...52

DIAGRAMA 02- CULTURA- SEQUÊNCIA 01...126

DIAGRAMA 03- CULTURA- SEQUÊNCIA 02...126

DIAGRAMA 04- CULTURA- SEQUÊNCIA 03...126

DIAGRAMA 05- CULTURA- SEQUÊNCIA 04...131

DIAGRAMA 06- CULTURA- SEQUÊNCIA 05...131

DIAGRAMA 07- CULTURA- SEQUÊNCIA 06...131

DIAGRAMA 08- INVEJOSO- SEQUÊNCIA 01...139

DIAGRAMA 09- INVEJOSO- SEQUÊNCIA 02...139

DIAGRAMA 10- INVEJOSO- SEQUÊNCIA 03...140

DIAGRAMA 11- INVEJOSO- SEQUÊNCIA 04...142

DIAGRAMA 12- INVEJOSO- SEQUÊNCIA 05...142

DIAGRAMA 13- INVEJOSO- SEQUÊNCIA 06...143

DIAGRAMA 14- INVEJOSO- SEQUÊNCIA 07...144

DIAGRAMA 15- INVEJOSO- SEQUÊNCIA 08...145

DIAGRAMA 16- INVEJOSO- SEQUÊNCIA 09...146

DIAGRAMA 17- INVEJOSO- SEQUÊNCIA 10...147

DIAGRAMA 18- INVEJOSO- SEQUÊNCIA 11...147

DIAGRAMA 19- INVEJOSO- SEQUÊNCIA 12...150

DIAGRAMA 20- INVEJOSO- SEQUÊNCIA 13...151

(14)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...13

CAPÍTULO I: O QUE EU FAÇO COM ESSA LENTE DE CONTATO SE EU ENXERGO BEM? 1.1 OS SUPORTES...35

1.2 NEM TUDO QUE SE TEM SE USA?...46

1.3 ISSO É O NOME DA COISA?...58

CAPÍTULO II: AS PALAVRAS SE DESAPEGARAM DAS COISAS 2.1 A POESIA VISUAL...72

2.2 A ÁGUA MOLHA PORQUE NÃO SABE CUSPIR...84

2.3 TATO...94

CAPÍTULO III: A CANÇÃO É UMA POESIA AJUDADA? 3.1 A PALAVRA CANTADA...108

3.2 CULTURA...117

3.3 INVEJOSO...134

CONSIDERAÇÕES FINAIS...153

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...158

ANEXOS: ENTREVISTAS COM ARNALDO ANTUNES (1987-2014)...165

(15)

13 INTRODUÇÃO

Arnaldo Antunes,

Homem é o nome do cara ou Isso é o nome da coisa?1

Eu fico achando de que essa pressa em querer dar um nome para as coisas acaba sendo uma generalização muito redutora, que é uma coisa que a imprensa, que a mídia em geral tenta fazer muitas vezes, até pra facilitar, talvez, a compreensão daquela manifestação artística para um público maior, ou por preguiça de ter uma reflexão mais aberta em relação à manifestação que está acontecendo. Você chegar com olhos livres, como disse Oswald de Andrade, para avaliar uma produção artística. Você já chega querendo enquadrar aquilo, ou seja, eu, por exemplo, já me chamaram de roqueiro, ou MPB, ou concretista, ou multimídia. Quer dizer: são vários rótulos que as pessoas aplicam ao meu trabalho, como se aquilo fosse explicar, mas não explica nada. Na verdade, me sinto livre de qualquer rótulo. Fiz aquela canção

Inclassificáveis, um pouco falando sobre a questão racial da mistura do Brasil, mas pensando também que isso serve como um manifesto de defesa de uma liberdade estética. Se tem algum nome a ser dado, eu quero ser chamado de inclassificável.2

Somos o que somos: inclassificáveis...3

Não importa se homem é o nome do cara ou se isso é o nome da coisa,

pois todas as tentativas tradicionais que tentam enquadrar o fazer artístico de

Arnaldo Antunes não devem mais ser utilizado sob a pena de quem assim o

1 ANTUNES, Arnaldo. Nome. Livro, disco e vídeo (Realizado por: Arnaldo Antunes, Celia

Catunda, Kiko Mistrotigo e Zaba Moreau). São Paulo: BMG Brasil, 1993. Trecho retirado do poema, Nome cujo título é homônimo ao título de uma das obras escolhidas como corpus desta tese.

2 Trecho da participação na mesa literária do FLIN 2014. Tema: "Modernismo, Poesia

Concreta, Tropicália: o pós-tudo". Disponível em: https://soundcloud.com/jorge-normando/arnaldo-antunes_festival-literario-de-natal-flin-2014

3 ANTUNES, Arnaldo. Inclassificáveis. IN: O Silêncio. São Paulo, BMG, 1996. Trecho retirado

(16)

14

fizer, incorra no equívoco de rotular o modo como ele enxerga seu próprio fazer

artístico.

Se o considerarmos apenas como um cantor, estaremos esquecendo

seu lado poeta. Se apenas olharmos para o poeta, esqueceremos seu flerte

com as artes visuais. Se só observarmos sua relação com a pintura,

deixaremos de vê-lo como uma pessoa que possui um olhar cinemático em

quase tudo que produz. E, ao tentarmos enxergar tudo isso de forma

dissociada, privamo-nos de realmente perceber que tudo isso existe em

Antunes. Cada uma dessas facetas está intrinsecamente ligada uma na outra,

permeada de pequenas nuances que faz com que quando ele produz algo uno,

na verdade, produza uma coisa múltiplae plurissignificativa.

Por respeito ao seu próprio desejo, começamos dizendo que o

"inclassificável" Arnaldo Augusto Nora Antunes Filho nasceu em São Paulo, em

1960, onde cursou incompletamente a Faculdade de Letras da USP. Ele

ingressou no curso de Linguística, mas, devido a sua participação na banda

Titãs, não terminou a faculdade. No início da década de 90, parte para a

carreira solo e passa a dividir seu tempo entre shows e a produção de livros de

poemas.

Os trabalhos de Antunes passeiam por diferentes universos que vão

desde as suas letras engajadas feitas junto aos Titãs e dos traços

performáticos dos concretistas nos poemas até a pluralidade de misturas de

(17)

15

Por possuir esse caráter amplo em sua produção, Arnaldo Antunes

transita entre lugares, vai e volta sem ter ido e com sua forma de produzir por

meio de analogias sobre coisas banais do cotidiano, consegue misturar tudo e

ser complexo falando o trivial. Misturar nunca é fácil, pois nem toda mistura

consegue destacar as individualidades das coisas que foram amalgamadas.

Podemos salientar também que a sonoridade da música de Arnaldo Antunes

provoca reações sensório-motoras em cada ser humano por ser algo diferente

daquilo que costumamos ouvir. Quebrar com esse paradigma faz com que o

disco Nome (1993) cause estranhamento em quem o ouve pela primeira vez,

por trazer como principal som não aqueles tradicionalmente encontrados no

trabalho de outros artistas, e sim sons de nosso cotidiano como a respiração de

um homem ou o barulho de água.

Fundir letra, som e imagem pode desvirtuar em algum dos suportes a

proposta primeva, aquela que nos transporta para a sensação do primeiro, da

primeiridade, do inédito, aquilo que talvez só tenha apenas uma chance de nos

tocar, de nos emocionar ou fazer refletir sobre algo. Ao longo de sua carreira

como escritor, Arnaldo Antunes publicou as seguintes obras, elencadas em

ordem cronológica:

Ou/e4 (poemas visuais, edição do autor, 1983): Neste primeiro livro de

Arnaldo Antunes temos um conjunto de poemas visuais editado

artesanalmente. A partir dele, as características dos poemas de Antunes nos

demais livros receberão as marcas visuais como parte do processo de

significação.

(18)

16 Psia5 (Expressão, 1986 e Iluminuras, 1991): Neste livro, existe

experiências estéticas próximas da pictografia, voltando ao início da escrita,

quando letra e imagem se mesclam, ainda sem uma constituição totalmente

independente, como aconteceria mais tarde, até mesmo para os sistemas de

escrita baseados em ideogramas.

Tudos6 (Iluminuras, 1990): Livro de poemas onde há a expressão da

tensão entre a reconciliação com cada coisa do mundo versus a relação de

cada coisa com o tempo e o espaço.

As Coisas7 (Iluminuras, 1992): Temos, aqui, uma retomada, proveniente

do livro anterior, das relações entre as coisas, como signos, e os conceitos

representativos, colocando o “eu lírico” infantil ou aprendiz perante um estado

de linguagem que é anterior aos conceitos já estabelecidos.

Nome8 (CD/ livro/vídeo, BMG Brasil, 1993, relançado em DVD em 2006):

Neste quinto livro, a produção da obra Nome, por se concretizar em três

diferentes suportes (livro/VHS/CD), possui uma poética de simultaneidade de

sentido, marcada por movimentos entre cores e sons, tragando o todo e

mantendo, com isso, a origem primeira de uma identidade.

2 ou + Corpos no Mesmo Espaço9 (CD/livro, Perspectiva, 1997): O livro

vem acompanhado de um CD com sonorização de alguns poemas em vários

5 ANTUNES, Arnaldo. Psia. São Paulo: Expressão, 1986. 6 ANTUNES, Arnaldo. Tudos. São Paulo. Iluminuras, 1990. 7 ANTUNES, Arnaldo. AsCoisas. São Paulo. Iluminuras, 1992.

8 ANTUNES, Arnaldo. Nome. Livro, disco e vídeo (Realizado por: Arnaldo Antunes, Celia

Catunda, Kiko Mistrotigo e Zaba Moreau) São Paulo: BMG Brasil, 1993.

(19)

17

canais de vozes simultâneas, gravado especialmente por Antunes e produzido

por Alê Siqueira.

Doble Duplo10 (Zona de Obras/Tangará, 2000): Esta antologia de

poemas foi lançada na Espanha e teve tradução e organização de Iván

Larraguibel, com prefácios de David Byrne e Arto Lindsay.

40 Escritos11 (Iluminuras, 2000): Há uma coleção de textos reunidos

neste livro que Antunes escreveu para revistas e jornais, dentre os quais

podemos citar a Folha de São Paulo, jornal em que ele trabalhou por um

tempo. Há poesia sem ser um livro de poemas, há ficção sem ser um livro de

ficção, há crítica sem ser um livro de crítica literária. Neste livro trata-se de um

artista pensando e refletindo sobre outros artistas.

Outro12 (Fundação Cultural de Curitiba, 2001): Reúne trabalhos visuais

da artista Maria Angela Biscaia sobre um poema conjunto de Arnaldo Antunes

e Josely Vianna Baptista.

Palavra Desordem13 (Iluminuras, 2002): Neste trabalho de Antunes,

vemos que a síntese, a concentração e o gosto pelo lúdico dão o tom de seu

discurso. Suas páginas foram desenhadas por ele como se fossem cartazes,

que podem ser lidos em várias direções.

10 ANTUNES, Arnaldo. Doble Duplo. Seleção, tradução e arte por Iván Larraguibel. Zaragoza/

Barcelona (Espanha): Zona de Obras/Tangará, 2000.

11 ANTUNES, Arnaldo. Outro. Poema de Arnaldo Antunes e Josely Vianna Baptista, arte de

Maria Angela Biscaia. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, 2001.

12ANTUNES, Arnaldo. 40 Escritos. Coletânea de Ensaios, organizada por João Bandeira. São

Paulo: Iluminuras, 2000.

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18 Et Eu Tu14 (Cosac & Naify, 2003), com fotos de Marcia Xavier, Antologia

(ed. Quasi, Portugal, 2006): Livro e poemas mais verbais, que, agregados às

imagens da fotógrafa Marcia Xavier, ganham uma característica imagética. Os

dois artistas se conheceram em Cuba, na Bienal de Havana. Xavier propôs a

Antunes fazerem algo juntos e a partir daí começaram a trocar e-mails. Ela

mandava fotos e ele, a partir delas, fazia os poemas. O objetivo de Xavier, ao

propor esse trabalho ao poeta, era o de explorar a relação entre palavra e

imagem.

Antologia15 (Vila Nova de Famalicão, Portugal: Quasi, 2006): Neste livro,

organizado por Arnaldo Antunes, exclusivamente para uma edição portuguesa,

ele faz uma panorâmica de seus livros editados no Brasil e inclui vários

trabalhos inéditos e até letras de canções.

Frases do Tomé aos Três Anos16 (Alegoria, 2006): Antunes selecionou,

transcreveu, ilustrou e diagramou frases de seu filho Tomé, quando este tinha

apenas três anos de idade, expressando a surpresa de seus primeiros contatos

com o mundo que o cerca. Ele reúne neste livro a sua sensibilidade de artista e

de pai. O resultado é um livro encantador que poderá ser apreciado por todas

as idades.

Como É que Chama o Nome Disso – Antologia17 (Publifolha, 2006): Este

livro reúne os melhores poemas, ensaios, letras de música e caligrafias,

selecionados pelo próprio Arnaldo Antunes, acrescidos de um livro inédito de

14 ANTUNES, Arnaldo. ET Eu Tu. Poemas de Arnaldo Antunes, fotografia de Marcia Xavier.

São Paulo: Cosac Naify, 2003.

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19

poemas (Nada de DNA) e de uma longa entrevista (com Arthur Nestrovski,

Francisco Bosco e José Miguel Wisnik), além de um ensaio introdutório (de

Antonio Medina Rodrigues).

Saiba / A Nossa Casa18 (DBA editora, 2009): Dois livros com canções de

Arnaldo Antunes e desenhos de Dulce Horta. Valeu a parceria, pois, com os

desenhos, as canções Saiba – todo mundo foi neném, de Arnaldo, e A nossa

casa é onde a gente está, dele e seis parceiros, ganham uma leitura paralela,

com traços que, além de ilustrar, chegam mesmo a subverter, com notável

criatividade, o sentido linear dos versos do letrista. O formato também

surpreende: são dois livros em um único suporte vindo também acoplado um

cd com as gravações das duas canções.

Melhores Poemas19 (Global Editora, 2010): Livro organizado por Noemi

Jaffe, Antologia reúne os melhores poemas de Arnaldo Antunes, em mais de

20 anos de carreira como escritor.

N.D.A20 (Iluminuras, 2010): Neste livro, Antunes junta novamente

palavra e imagem. Através de fotos, ele cria novas formas de ver pequenas

coisas, retiradas das cidades por onde ele passou durante toda a sua vida.

Além de poemas inéditos, esta edição da editora Iluminuras traz uma seção de

cartões postais concretistas e o livro Nada de DNA, que foi publicada em 2006 como parte da antologia Como é que chama o nome disso, da Publifolha.

18 ANTUNES, Arnaldo. Saiba/A Nossa Casa. São Paulo: DBA, 2009.

19 ANTUNES, Arnaldo. Melhores Poemas. Seleção e prefácio de Noemi Jaffe. São Paulo:

Global Editora, 2010.

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20 Animais21 (Editora 34, 2011): Em Animais, cada página traz uma palavra

inventada que condensa uma multiplicidade de sentidos. Acompanhando a

brincadeira, os jovens artistas do Grupo Xiloceasa realizaram cerca de trinta

gravuras em madeira e combinaram letras de formas e tamanhos diferentes

para ilustrar poeticamente esse zoológico fantástico.

Cultura22 (Iluminuras, 2012): Cultura estimula a aprendizagem visual.

Sem radicalizar, Arnaldo Antunes interpreta e transforma palavras e rearranja

significados. Com ilustrações de Thiago Lopes, no livro há cores e formas

insinuando o que as palavras não dizem.

Las Cosas 23 (Yaugurú, 2013): Versão em língua espanhola do livro As

coisas (1992) feita pela editora uruguaia Yagurú.

Instanto24 (Kriller71 Ediciones, 2013): Antologia poética traduzida por

Ivana Vollaro e Reynaldo Jimenez para o espanhol, lançada em

Barcelona/Espanha. O livro ainda inclui o CD Deslímite.

Outros 4025 (Iluminuras, 2014): Há uma nova coleção de textos reunidos

neste livro, organizado por Pedro Bandeira em que Antunes mostra seu lado

mais crítico sobre as coisas que o rodeiam.

21 ANTUNES, Arnaldo. Animais. Com Zaba Moreau, ilustrações do grupo Xiloceasa. São Paulo:

Editora 34, 2011.

22 ANTUNES, Arnaldo. Cultura. Ilustrações de Thiago Lopes. São Paulo: Iluminuras, 2012. 23 ANTUNES, Arnaldo. Las Cosas. Montevideo (Uruguai): Yaugurú/Grua Livros, 2013.

24 ANTUNES, Arnaldo. Instanto. Seleção e tradução de Reinaldo Jiménez e Ivanna Vollaro.

Barcelona (Espanha): Kriller71 ediciones, 2013.

25 ANTUNES, Arnaldo. Outros 40. Coletânea de ensaios, organizada por João bandeira. São

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21

Na busca entre os estudos mais relevantes sobre Arnaldo Antunes,

merecem nosso destaque os seguintes trabalhos acadêmicos:

A obra poética de Arnaldo Antunes (1996), dissertação de Nielson

Ribeiro Modro, tem como objeto de pesquisa a obra lançada comercialmente

pelo poeta, músico e performer contemporâneo Arnaldo Antunes. Inicialmente

ele fez um estudo sobre os principais procedimentos adotados pelas

manifestações poéticas de Vanguarda e Pós-Vanguarda mais significativas

ocorridas no Brasil durante as últimas décadas. Ele dedica um capítulo a um

estudo sobre a obra Nome, uma proposta multimídia em que os poemas são

trabalhados a nível intersígnico ao serem registrados em livro/ vídeo/ CD/

show, assumindo possibilidades verbais, visuais e acústicas, extrapolando

assim a bidimensionalidade do papel. Ele procurou detectar como Arnaldo

Antunes consegue, nesta proposta poética, concretizar a possibilidade de dar

movimento à palavra, deslocando a poesia para campos mais amplos que

apenas o restrito espaço do papel.

Aparecida Berchior (2000), em sua dissertação de mestrado

Transcriação poética e materialidade do vazio: Wittgenstein – Arnaldo Antunes.

Ela estudou o processo evolutivo dos livros de poesia de Arnaldo Antunes

comparando-o às teorias filosóficas de Ludovic Wittgenstein.

Outra dissertação sobre Antunes é a de Rubens Vaz Cavalcanti (2004):

Arnaldo Antunes: a poética da simultaneidade, que trabalha com o conceito de

simultaneidade, tentando estabelecer uma aproximação de textos de criação

(24)

22

Antônio Fernandes Júnior, com a tese de doutorado Os entre lugares do

sujeito e da escritura em Arnaldo Antunes (2007), fez um trabalho que se

destina ao estudo dos procedimentos de escritura e autoria na produção

poética de Arnaldo Antunes, cuja poesia configura-se como um espaço de

confluência de diferentes linguagens (visual, sonora, verbal) e formas de

veiculação (livro, vídeo, CD, corpo), elementos desencadeadores de sua

linguagem poético-musical. O trabalho foi dividido em quatro etapas: análise

dos textos de Antunes com base na noção de devir-criança, concebida por

Gilles Deleuze; apresentação teórica do conceito de suporte, a partir de Roger

Chartier, e sua aplicabilidade para a leitura dos poemas e canções do referido

autor; discussão do conceito de subjetividade, desenvolvido por Michel

Foucault, com o objetivo de perceber as metamorfoses do sujeito na poesia de

Antunes; por último, ele trata das questões de autoria e escritura, que, de

alguma maneira, envolveram os tópicos anteriores, como tentativa de

empreender um outro gesto de leitura na poética de Antunes.

Palavra, voz e imagem: A poética de Arnaldo Antunes (2007),

dissertação de Márcia Plana de Souza Lopes, elabora uma reflexão sobre a

poética de Arnaldo Antunes, inscrita nos processos multimidiáticos.

Levantam-se questões na tentativa de apreender a construção de uma poética

contemporânea. A seleção dos poemas discute o contraponto entre a voz e o

silêncio, a simetria das linguagens na busca da outridade, a coisa como

material concreto e conciso em si mesmo, a revelação do entrecruzamento

entre o espaço e o tempo. A fundamentação teórica que orienta este trabalho

apoia-se em estudos de autores como Augusto de Campos, Décio Pignatari, E.

(25)

23

apreende-se uma poética constantemente em trânsito; uma poesia que se

apropria da hibridização cultural e das interartes, contribuindo para solidificar

uma nova forma de poesia no contexto contemporâneo.

Jorge Fernando Barbosa do Amaral, com a dissertação Arnaldo Antunes

- o corpo da palavra (2009) em que ele analisa os caminhos traçados por

Arnaldo Antunes no exercício de exploração da palavra em seus vários

aspectos. O trabalho aborda a discussão da relação signo-objeto, desenvolvida

a partir das ideias de Saussure, Bakhtin e Wittgenstein; tocam na poesia

concreta e seu projeto verbivocovisual; nos exercícios de caligrafia; atingem o

campo da canção popular enquanto cristalização dos recursos entoativos da

fala, questão que é levantada à luz dos escritos de Rousseau e Luiz Tatit;

chegando a discussão sobre o aproveitamento de modernos recursos

tecnológicos para o estabelecimento da chamada arte primitiva, baseada na

ideia de “aldeia global”, de McLuhan.

Patrícia Ferreira da Silva Martins, com a tese de doutorado O Ver

Poético: Arnaldo Antunes e Eduardo Kac (2010). Patrícia teve como objetivo

fazer uma leitura crítico-interpretativa da poesia experimental de Arnaldo

Antunes e Eduardo Kac, centrando-se, sobretudo, nas relações entre a

experimentação poética, a visualidade e a tecnologia. Desse modo, ela faz uma

reflexão que se desenvolve nas fronteiras entre a literatura, as artes plásticas e

a ciência. A tese também procura apresentar uma noção geral do que pode ser

denominado como poesia digital e ciberpoesia, enfatizando o que tem sido

produzido no Brasil e no mundo no âmbito dessas práticas. A entrada neste

(26)

24

abordagem da poesia que lança mão de procedimentos computacionais e,

consequentemente, sobre questões relacionadas à interatividade e à interface

e, também, sobre as mudanças no sistema autor-obra-recepção. Esta pesquisa

foi articulada, principalmente, em torno das reflexões de Jorge Luiz Antonio e

Christopher Funkhouser sobre a poesia eletrônica e digital. Ela ainda utilizou

como suporte as propostas estéticas das pesquisadoras Suzete Venturelli,

Anne Cauquelin e Claudia Giannetti.

Simone Silveira de Alcântara que estudou em sua tese de doutorado

Arnaldo Antunes, trovador multimídia. Simone analisou o projeto poético de

Arnaldo Antunes a partir dos estudos de intermedialidade e dos estudos de

cultura. Nessa perspectiva, ela explanou sobre a compreensão dos contextos

da Canção Popular Brasileira, uma vez que a obra do poeta e cancionista

requer um exame de sua inserção no contexto musical. Além disso,

percebe-se, sobretudo no DVD Ao vivo no estúdio - obra em análise nesta tese -, a

performance multimídia do poeta, por meio da qual se evidenciam os

cruzamentos entre as mídias que dão suporte às categorias artísticas utilizadas

pelo trovador multimídia. Simone utilizou as ideias de Hans Ulrich Gumbrecht

acerca da mídia literatura; de Siegfried J. Schmidt acerca do sistema literário;

de Vilém Flusser acerca das imagens técnicas; de Friedrich Kittler acerca dos

sistemas de informação; de Marshall McLuhan acerca dos meios como

extensões humanas; e, enfim, do medievalista Paul Zumthor acerca da

vocalidade e da performance.

Keila Mara de Souza Araujo Maciel defendeu em 2012 a dissertação de

(27)

25

Flusser. Nesta dissertação, Keila procurou estabelecer novos diálogos que

enriquecessem a análise da poesia visual de Arnaldo Antunes, promovendo

aproximações com a filosofia de Vilém Flusser, sobretudo com seus conceitos

de linguagem, imagens técnicas e comunicação. Em relação aos referenciais

teóricos, agenciam-se estudos sobre a linguagem da conversação diária e a

linguagem poética, estética contemporânea e meios eletrônicos; sobretudo as

teorias de Vilém Flusser, que levam em conta as intervenções que os recursos

eletrônicos promovem na vida humana e na produção de informação e arte.

Minha dissertação de mestrado: O poema e a canção em As coisas, de

Arnaldo Antunes: imagens da primeiridade (2010) que analisou um corpus

contendo seis textos híbridos, os quais denominamos

poema-canção/poema-cantado devida a dupla presença em dois sistemas semióticos diferentes. Um

deles, a literatura ou, mais especificamente, a poesia, tem como suporte o livro

As coisas de Arnaldo Antunes e o outro, a canção, está nos discos de carreira

do mesmo autor. Nosso trabalho lançou um olhar sobre esse corpus, tentando

observar um aspecto recorrente tanto no nosso recorte escolhido, quanto no

livro e quiçá na obra literária e musical de Arnaldo Antunes, que é a presença

da primeiridade, categoria desenvolvida por Charles Sanders Peirce. Além da

observação desse aspecto semiótico, fizemos uma discussão sobre a canção

popular, suas raízes e sua relação com a poesia e, por consequência, com a

Literatura. A teoria semiótica foi ancorada em duas frentes: no que diz respeito

ao estudo da primeiridade, trabalhamos com as teorias do próprio Peirce, mas

buscando apoio em teóricos como Lúcia Santaella, Winfried Nöth, Júlio Plaza e

(28)

26

canções, utilizamos a teoria de Luiz Tatit, que foi baseada na semiótica de

Algirdas Julien Greimas.

Após essa breve explanação sobre Arnaldo Antunes e o estado da arte

que o circunda podemos dizer que a palavra é o instrumento utilizado por todos

os seres humanos que desejam comunicar algo para outro, expressar

sentimentos, relatar um problema, deixar um recado. Ela é também um

instrumento de trabalho para poetas, escritores, compositores, artistas em

geral. Entretanto, vale salientar que existem duas formas de utilização da

palavra: a escrita e a canto-falada ou cantada.

Quando nos referimos a palavra escrita, levamos em consideração o

pensamento de Antônio Risério em seu livro Ensaio Sobre o Texto Poético em

Contexto Digital (1998) em que ele afirma que devemos considerar que o

grafismo é o ato de escrever e um procedimento gestual característico dos

seres humanos. Para Risério26 "é com o homo sapiens que o risco se converte

em símbolo." A palavra então se divide em signo inscrito e signo falado e no

que tange à poesia, essas duas formas de apresentação geram diferenças nos

significados do que está sendo escrito ou falado: "a reiteração paralelística, por

exemplo, é uma coisa no texto-canto e outra coisa, muito diversa, no texto

impresso."27

Confirmando essa ideia de que há diferenças de sentido entre a palavra

falada/escrita e a palavra cantada, Arnaldo Antunes em entrevista para o

jornalista Luiz Carlos Mansur, ao ser perguntado sobre o estatuto da palavra

26 RISÉRIO, Antônio. Ensaio Sobre o Texto Poético em Contexto Digital. Capa de Humberto

Vellane. Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado; COPENE, 1998, p. 51.

27 RISÉRIO, Antônio. Ensaio Sobre o Texto Poético em Contexto Digital. Capa de Humberto

(29)

27

cantada, a partir do trecho de um poema de Augusto de Campos sobre

Torquato Neto, nos diz que

No Brasil as pessoas, especialmente os críticos de música, ligam-se muito nas letras e não as pensam em sua dimensão musical. O que eu acho é que, dentro dessa coisa do rock, a letra está indissociada não só da melodia como também do arranjo e da execução. Antigamente, via-se o arranjo como a vestimenta da canção. Hoje isso não acontece, tanto que, na linguagem vulgar, ninguém diz "vamos interpretar uma canção", mas "vamos fazer um som". Isso mudou de certa forma o próprio conceito de canção, aquela coisa de uma letra e uma melodia unidas com uma cama harmônica sustentando tudo.28

Partindo da relação que a palavra escrita e cantada estabelece com a

poesia e com a canção tentaremos demonstrar algumas semelhanças entre

essas duas formas do signo a partir do estudo de como a palavra se porta

dentro da obra artística de Arnaldo Antunes, que é permeada pela diversidade

e pela multipluralidade com que ele monta seus pequenos grupos de

expressões artísticas (poesia, canção, videoclipes). Antunes, ao ser

questionado sobre a apreciação da letra isolada como uma das armas de quem

considera que a temática do rock é pobre, afirma que

no caso do rock, é essencial a leitura do aspecto geral, de espetáculo, comportamento, visualidade. Não é à toa que foi através do rock que surgiu o videoclipe. O rock tem essa modernidade, e uma soma de códigos, assim como o cinema, o vídeo, a arte ambiental, que são coisas do século XX. Eles colocam novamente os laços entre o olho, a boca, o nariz, os ouvidos. O intercódigo tem a ver com a simultaneidade do mundo moderno. E dentro disso o rock insere a crise da canção. A estrutura da canção foi fragmentada, colocada em questão por uma série de outros dados: então o canto se tornou mais falado, ou mais berrado, incorporou-se o ruído, a guitarra deixa de ser uma função só harmônica, teve o punk que colocou uma coisa mais suja na execução etc.29

28 A cabeça do dinossauro

Entrevista por Luiz Carlos Mansur, Jornal do Brasil: 24/05/1987. Disponível em: <http://www.4shared.com/office/4TBlKjZjce/1987_Jornal_do_Brasil.html>. Acesso em 19 jan. 2015.

29 A cabeça do dinossauro

(30)

28

É a partir dessa noção de intercódigo e de simultaneidade do mundo

moderno abordada por Antunes que sempre que nos referenciarmos aos

signos inscritos teremos como escopo teórico a Semiótica de Charles Sanders

Peirce. Já ao abordarmos o signo cantado, basear-nos-emos na Semiótica de

Algirdas Julien Greimas que está inserida nos estudos de Luiz Tatit sobre a

canção, que para Arnaldo teve sua estrutura fragmentada entre o canto falado

ou berrado, ao se referir ao Rock, e a palavra como elemento entoativo de

significação.

Tivemos como base para a estruturação desta tese o livro As coisas

(1992) e Nome (1993),de Arnaldo Antunes, que consta de um livro de poemas,

um LP de música e um vídeo (VHS). Escolhemos também algumas canções

para análise que estão presentes em discos de carreira do referido autor.

Assim sendo, fica estabelecido como objetivos na tese: pesquisar como são

abordadas a partir da Semiótica as relações entre os signos inscritos e os

signos cantados e tentar comprovar a presença da primeiridade como elemento

recorrente nos textos escolhidos de Arnaldo Antunes que se fundam a partir

das analogias aparentemente descompromissadas, mas que ganham um

caráter mais amplo ao ser observado de forma mais atenta.

Posto isso, podemos afirmar que a união entre palavra, imagem e som é

algo bastante recorrente em toda a obra poética de Antunes, pois mesmo

estando em suportes diferentes (papel, vídeo e som) não se pode dizer que

são imutáveis em si mesmos, e que um não possa interferir no significado do

(31)

29

outro. Os textos poéticos se assemelham propositalmente a relações primevas

que as crianças fazem ao associar a linguagem às coisas existentes no mundo,

ou seja, a sua primeira relação com o nome das coisas. O significado do signo

linguístico é algo que se torna irrelevante para uma criança que está adquirindo

seu primeiro contato com a linguagem, pois a sua preocupação é apenas com

o significante, isto é, com a fixação do nome das coisas que se apresentam

diante de seus olhos e cujo acesso se dá por via auditiva.

Reiteramos, portanto, que dois eixos nortearão a nossa pesquisa: o

primeiro diz respeito às coisas, os objetos que existem e sua relação com a

significação; e o segundo, à nomeação dessas coisas e sua relação com o

significante. Também observaremos, além dos aspectos que estarão presentes

nos textos escolhidos (a relação deles com a ideia dos nomes e das coisas),

como é para o receptor do texto poético e da canção a relação entre a palavra,

a música, ou a performance. Qual delas viria em primeiro plano?

Retomando a discussão sobre nosso objeto de estudo na tese, podemos

esclarecer que os recursos entoativos, no que tange às questões relacionadas

à música, ajudam de forma significativa na compreensão global do referido

poema, além de levantar pontos que se referem à conjunção harmônica entre

melodia e fala, definindo melhor, a canção. Para estabelecermos as relações

musicais, utilizamos os livros Musicando a Semiótica: ensaios (1997), O

Cancionista: composição de canções no Brasil (2002) e O Século da Canção

(2008), de Luiz Tatit. Nesses livros estão presentes os conceitos elaborados

por Tatit sobre canção, cancionista, além dos termos figurativização,

(32)

30

sempre nos remeteremos aos estudos greimasianos presentes nos livros

Sémiotique: Dictionnaire raisonné de la théorie du langage (1979) e Ensaios de

Semiótica Poética (1975).

As noções dos signos serão baseadas nos seguintes livros: Semiótica

(1983) e os The Collected Papers of Charles Sanders Peirce (1958) para que

possamos ter o auxílio de todos os conceitos concernentes à Semiótica

peirciana. A esses livros, juntar-se-ão algumas obras de Lúcia Santaella como,

por exemplo: Matrizes da Linguagem e Pensamento: sonora, visual, verbal

(2005), Imagem: cognição, semiótica e mídia (2008) e A Assinatura das Coisas:

Peirce e a Literatura (1992).

A partir da mistura intersemiótica que há em nosso corpus, percebe-se

pelo estudo de Lúcia Santaella que para cada uma das matrizes da Linguagem

e Pensamento (sonora, visual e verbal), existem tratamentos teóricos

diferentes, mas que dialogam com outros referenciais teóricos. É a partir dos

encaminhamentos teóricos dessas matrizes que encaminharemos as

discussões acerca dos suportes na obra de Arnaldo Antunes. Desse modo,

analisaremos em nossa tese alguns poemas e canções que deslizam por

caminhos que perpassam pela experimentação e pela mutabilidade dos

significantes a cada vez que o objeto é trocado de suporte.

Para Lúcia Santaella, a experiência em hipermídia30 é algo inerente ao

universo criativo de Arnaldo Antunes, pois determina uma característica

30 Termo utilizado por Lúcia Santaella em seu livro Matrizes da Linguagem e Pensamento

(33)

31

marcante em sua obra. Não há em sua produção artística uma restrição à

produção estética da poesia que é feita na folha do papel. O projeto Nome

(1993), segundo o próprio Arnaldo Antunes, é definido da seguinte forma:

O projeto começou com o vídeo, em janeiro de 92, e eu ainda estava nos Titãs, mas a parte musical foi crescendo e ganhou autonomia. Daí o CD, embora não tenha querido lançar um disco quando saí do conjunto. Eu queria juntar a leitura na tela, sair do papel, obter movimento na leitura. Isso concomitantemente à ocorrência do som, o que dá muitas camadas de simultaneidade. O trabalho foi feito desde o início por mim, a Zaba, o Kiko e a Célia. Eles detinham o know-how de animação. A gente trabalhava com computador há muito tempo, em produção gráfica.31

Essa aproximação com o computador citada por Antunes na entrevista

acima é algo relevante para o entendimento do projeto do Nome, porque em

1993, a informática era algo que ainda estava em processo de

desenvolvimento, logo podemos entender que a ideia de conceber esse projeto

hipermídia nasce junto a um desejo de experimentação das expressões

artísticas em suportes diferentes aos já utilizados por ele, ou até para encontrar

um modo de enxergar com outros olhos os suportes já conhecidos, gerando

com isso uma nova experiência “estético-artística”. Sobre essa questão do

texto poético em contexto digital, utilizaremos o livro de Antônio Risério citado

no início desta introdução.

Nesse mesmo ano (1992), em entrevista a aluna do curso de cinema da

USP, Clemie Blaud, o crítico literário Júlio Plaza, respondeu sobre como ele

enxergava o futuro da poesia com a chegada da informática. Ele disse o

seguinte:

31 Sobre Nome. Arnaldo Antunes em entrevista para Mariella Lazaretti, Jornal da Tarde,

20/09/1993

(34)

32

Toda extensão cultural se apoia em uma tecnologia, pode ser instrumento artesanal, uma técnica industrial; agora, a sociedade pós-industrial se apoia nestes equipamentos mais sofisticados com base na eletrônica. Eu acho que a arte, a poesia, e a Literatura estão sendo modificadas. A noção de multimídia, de hipertexto é muito interessante para as áreas interdisciplinares. A tecnologia tende a fazer uma síntese polifônica de várias linguagens como o som, a holografia, o desenho, a imagem de vídeo, de cinema, a palavra: todos os códigos da História são aglutinados e estão embutidos em memória.32

A esse fenômeno podemos atribuir uma ideia de diferentes linguagens

híbridas que mescla os três suportes, ou melhor, definindo a partir do estudo de

Lúcia Santaella, misturam as três matrizes do pensamento: a verbal, a visual e

a sonora. Nesse sentido, buscamos aqui estudar o próprio caráter de signo

inscrito no título do projeto, com referência à questão do “nome” e das "coisas",

enquanto signo linguístico e nas suas dimensões icônicas, ou identitárias,

indiciais, ou existenciais e simbólicas, ou de linguagem. Em relação à

linguagem verbal, temos a poesia como eixo principal. Embora ela reapareça

também sob a forma musical, e, apesar de todas essas constatações acerca do

uso da palavra, não podemos deixar de dizer que Antunes também a utiliza

como recurso visual.

Feitas essas considerações, o estudo, que ora se propõe, pretende

lançar olhar sobre a poesia e a canção de Arnaldo Antunes, focalizando

determinados procedimentos de escrita característicos de sua produção

poética, passando pela poesia, pela canção e pelas associações denotativas.

No capítulo I, observaremos como o poema de Arnaldo Antunes aparece

quanto a sua forma ao ser mudado de suporte e as nuances que se

apresentam nas reedições gráficas dos poemas. Também abordaremos a

(35)

33

temática das coisas e suas relações com o nome, observando-as quanto a sua

utilidade e o modo que elas se relacionam com a poesia.

No capítulo II, o foco será sobre a questão da imagem e como a poesia

se encaixa tanto no suporte da fotografia, quanto no suporte do vídeo.

Analisaremos também algumas intertextualidades com o cinema e com o jogo

das palavras presentes no poema com temas diversos como o erotismo e a

pornografia.

No capítulo III, iremos discutir sobre a relação da palavra em seus

suportes do poema e da letra de uma canção, de modo a esclarecer que

ambas possuem seu valor poético. Também nos deteremos a estudar a

influência do som propriamente dito no entendimento dos poemas e como os

recursos entoativos podem influenciar na compreensão global dos significantes

das palavras e da plurissignificação de alguns signos.

As teorias que utilizamos neste trabalho nortearam a análise sendo

constituída em método para que pudéssemos compreender de forma mais

clara a relação que perpassa o estudo dos signos, seus significantes, as

matrizes, a análise musical dentro das diferentes perspectivas semióticas,

visando chegar aos processos semióticos do nome e das coisas enquanto

signo relacional entre o interpretante, intérprete e seus elementos de

(36)

34 CAPÍTULO I

O QUE EU FAÇO COM ESSA LENTE DE CONTATO SE EU ENXERGO BEM?33

Para que estragar a simples existência das coisas com nomes arbitrários? Um gato não sabe que se chama gato E Deus não sabe que se chama Deus ("Eu sou quem sou" - diz Ele no livro do Gênesis) Eu sonho É com uma linguagem composta unicamente de adjetivos Como deve ser a linguagem das plantas e dos animais! Só de adjetivos, sem explicação alguma, Mas com muito mais poesia...

Mário Quintana34

33 ANTUNES, Arnaldo. Nem Tudo In: Ninguém. BMG, 1995. Trecho da canção Nem Tudo de

Arnaldo Antunes, presente no referido disco.

(37)

35

1.1 OS SUPORTES

A ideia de “experimentar” ou “testar coisas” não pode ser dissociada da

experiência individual de cada um, pois nenhum experimento está livre de

referências anteriores, ou de qualquer coisa, seja ela qual for, pois no momento

de sua criação ou execução, o experimento trará sempre junto a si, as

experiências de seu criador. Essa conglomeração de um mesmo tema feita em

suportes diferentes almeja alcançar um maior número de variações em seus

significados e a melhor maneira de se atingir esse resultado é tirando o referido

objeto de seu lugar de conforto.

Arnaldo Antunes nos propõe isso quando nos impõe o caminho de

observar a sua produção em lugares distintos e por mais que ostentem o

mesmo nome, ao mudar de lugar, se transformam em outra coisa, ocorre uma

mutação sígnica e estética. Aparentemente um poema que também é letra de

canção, pela lógica, não deveria possuir diferenças em sua interpretação pelo

simples fato de mudar de suporte, mas não é assim que funciona. Ao ser

transferido para suportes diferentes, o objeto do texto verbal se porta de

maneira completamente diferente devido a sua disposição gráfica ter sido

alterada. Um exemplo claro disso é a presença de alguns poemas que se

repetem nos livros do autor em análise. O poema Se não se, aparece de uma

forma no livro As Coisas e de outra no livro Nome. Observe abaixo, as imagens

que estão ligadas a este poema nos dois livros e a mudança gráfica que

ocorreu no próprio poema com a mudança de livro.

Como se pode confirmar nas imagens a seguir dos poemas e nos

(38)

36

uma função importante na compreensão global do texto verbal. A única

diferença da tipologia do poema entre os livros é gráfica. O poema presente na

imagem 1 segue um modelo prosaico, sem muita preocupação com a estrutura

dos versos. Na outra versão do poema, apesar da inserção de letras aleatórias

junto aos versos na edição do livro Nome (imagem 2), que acaba nos

instigando a querer procurar uma lógica nas letras soltas, mesmo em outros

idiomas, depois de muita leitura, percebemos que não há nenhuma lógica,

porque o foco central do poema é a ideia do jogo entre perder, pedir e achar e

a sua relação com a fotografia é a mesma que houve no livro As coisas.

IMAGEM 135

(39)

37 IMAGEM 236

A imagem que acompanha o poema presente no livro As Coisas traz um círculo que provavelmente esteja remetendo à noção de infinito (Imagem 3),

que corrobora com o entendimento do sentido da disposição gráfica do poema

tentando nos passar a ideia de infinitude. A ausência de pontuação proporciona

um ritmo ao poema como se estivesse subindo e descendo de uma gangorra.

36 ANTUNES, Arnaldo. Se Não Se. In: Nome. Livro, disco e vídeo (Realizado por: Arnaldo

(40)

38 IMAGEM 337

IMAGEM 438

37 ANTUNES, Arnaldo. Desenho de Rosa Moreau Antunes, que acompanha no livro As Coisas

o poema Se não se In: As Coisas. São Paulo. Iluminuras, 1992, p. 79.

38 ANTUNES, Arnaldo. Fotografia de Arnaldo Antunes, Celia Catunda, kiko Mistorigo e Zaba

(41)

39

No Brasil, há um fenômeno presente na poesia de Arnaldo Antunes que

é a influência sofrida pela Poesia Concreta, e que segundo Augusto de

Campos foi posta em prática pela primeira vez pelo poeta francês Stéphane

Mallarmé funcionando da seguinte forma:

Trata-se, pois, de uma utilização dinâmica dos recursos tipográficos, já impotentes em seu arranjo de rotina para servir a toda a gama de inflexões de que é capaz o pensamento liberto do agrilhoamento formal sintático-silogístico. A própria pontuação se torna aqui desnecessária, uma vez que o espaço gráfico se substantiva e passa a fazer funcionar com maior plasticidade as pausas e intervalos da dicção.39

Por causa dessa libertação “sintático-silogística” que permite a qualquer

poeta não se prender aos recursos formais, vemos que a ausência da

pontuação passa a ser utilizada como recurso, dando ênfase às pausas e à

dicção da fala, fazendo com que o poema ganhe contornos bem próximos ao

da produção oral. Essas características do poema em fazer com que a posição

gráfica do texto interfira no entendimento do poema são oriundas da

experiência de Arnaldo Antunes com a poesia concreta na qual ele bebeu na

fonte para produzir diversos de seus poemas.

A poesia concreta, ao buscar um instrumento que a traga para junto das coisas, uma linguagem que tenha, sobre a poesia de tipo verbal-discursivo, a superioridade de envolver, além de uma estrutura temporal, uma dimensão espacial (visual), ou, mais exatamente, que opere espaciotemporalmente, não pretende, com isso, uma descrição fiel dos objetos, não é seu escopo desenvolver um sistema de sinais estruturalmente apto pra veicular, sem deformações, uma visão de mundo retificada pelo conhecimento científico moderno.40

A partir do posicionamento de Haroldo de Campos na citação acima,

percebemos que tanto nesse, como nos outros poemas de Arnaldo Antunes

não há a pretensão de descrever fidedignamente os objetos. Há, na verdade, a

39 CAMPOS, Augusto; PIGNATARI, Décio; CAMPOS, Haroldo. Teoria da Poesia Concreta:

Textos Críticos e Manifestos 1950-1960. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2006, p. 33.

40 CAMPOS, Augusto; PIGNATARI, Décio; CAMPOS, Haroldo. Teoria da Poesia Concreta:

(42)

40

tentativa de ressignificá-los, de dar a esses objetos e aos seus nomes outro

ponto de vista que, em hipótese, ninguém havia pensado.

Na foto (Imagem 4), temos vários botões de costura. Essa imagem é

bastante significativa, pois o poema se concretiza em forma de texto e a

palavra texto, em sua origem latina, significa tecido. É interessante verificar que

os botões são artefatos criados justamente para dar unidade, para fechar uma

indumentária. No poema, alguns recursos icônicos funcionam como botões,

fechando o texto em si mesmo. A imagem do círculo no livro As coisas traduz a

mesma ideia, representando algo fechado. Tal fechamento não significa,

entretanto, que o texto deve ser visto como algo acabado, uma vez que há no

próprio botão a possibilidade da abertura. O botão fecha, mas também abre. A

esse respeito, podemos entender que

Esses constantes movimentos de escritura adotada por Antunes, em relação aos suportes e com ele os diferentes tipos de códigos acionados para os poemas e canções, podem sugerir outras formas de experimentações poéticas, envolvendo outras materialidades e possibilidades de circulação. Os poemas e canções não são produtos

“acabados”, mas processo em devir. Por isso, ao republicar um texto de um suporte para outro, o poeta altera a versão anterior (recorta, ilustra, etc.), oferecendo uma outra leitura para o texto que, também, torna-se outro.41

Antunes se utiliza dos malabarismos gráficos advindos das experiências

com os concretistas e da recriação de seus poemas, ao republicá-los em outra

obra ou ao transformá-los em canção. Assim, ele perpassa do universo de

produção de poesia tradicional, que é exclusivamente atrelada ao papel, e

migra para outras experiências, unindo em um só projeto, três linguagens

41 FERNANDES JÚNIOR, Antônio. Os Entre Lugares do Sujeito e da Escritura em Arnaldo

(43)

41

distintas em suportes diferentes e que versam sobre a mesma temática: as

diferentes relações entre os humanos, os sentimentos e os objetos.

Ao associarmos os possíveis significados da relação entre o poema e as

imagens que os acompanham, percebemos que há um elo que está presente

nas duas versões do poema que é o símbolo do círculo. Em nossa sociedade,

o círculo representa o infinito.

Sendo mais específico, temos como representante da infinitude do amor,

por exemplo, as alianças matrimoniais ou de compromissos. Segundo a

tradição, o objeto aliança é dado ao parceiro(a) como demonstração de que

seu amor é infinito, por não saber identificar nem onde começa, nem onde

termina o amor de um pelo outro. Observemos, pois, como a republicação

possibilitou ao poeta estabelecer um paradigma mais amplo. Na imagem 3, o

desenho de sua filha Rosa, possibilitou a Antunes explorar esse jogo que é se

relacionar de forma amorosa, em qualquer um dos níveis.

Contudo, na versão do livro As Coisas, essa percepção não é tão clara

e vai se confirmar apenas na republicação no livro Nome, em que agora os

círculos aparecem sob a forma já comentada de botões de roupa e de alianças,

confirmando-nos a ideia de que o poema aborda o tema da infinitude ligada ao

jogo da possível aparição da finitude a qualquer momento. Essa discussão já

fora abordada por outros poetas como Vinicius de Moraes em um de seus

(44)

42

Soneto de Fidelidade

42

De tudo ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure.

Para nossa comparação, os dois últimos versos são os que interessam

para nossa constatação. Vinicius afirma nesses versos que sabe que o amor

não é imortal, mas, como boa parte da sociedade, almeja que se torne infinito,

mesmo que seja por poucos segundos. É exatamente essa busca entre o

dilema de finito e infinito que Antunes traz para discussão no poema Se não

Se. Essa proposição ideológica já tinha sido feita por Antunes no livro Psia

(1986) com o Poema “O que”. A disposição gráfica do poema é absolutamente

idêntica ao desenho feito por sua filha.

Observe:

(45)

43 IMAGEM 543

(46)

44

Levando em conta a estrutura morfológica desse poema, temos a

seguinte ordem: advérbio de negação (não); verbo de ligação (é); artigo

definido masculino (o); conjunção integrante (que); advérbio de negação (não);

verbo no presente do indicativo (pode); verbo no infinitivo da segunda

conjugação (ser); conjunção integrante (que). A estrutura do poema é

estritamente visual e essa sensação nos remete à noção da primeiridade

peirceana, pois antes de qualquer tentativa de entendimento de qual

mensagem está querendo ser transmitida, deparamo-nos com a ideia circular e

a dúvida sobre onde se inicia e onde termina o poema.

Assim como o poema Se não Se, esse poema foi musicado e lançado no

disco Cabeça Dinossauro, de 1986, como última faixa do disco dos Titãs. Ao

ser transformado em música, ambos os poemas ao serem ouvidos transmitem

uma ideia mais atrelada ao ícone peirceano. Para o professor da Universidade

do Quebec em Montreal, Jean Fisette, um especialista nos estudos sobre a

obra de C. S. Peirce, a música é um caso exemplar do ícone.

A música não tem referente; seus atos sonoros também não estão ligados a um significado que seria uma classe fixa de referentes; mas ao contrário, o ato musical traz consigo uma imensa reserva de efeitos de sentido possíveis que são não limitados e não limitáveis; e, na medida em que esses efeitos de sentido transbordam o controle da razão, eles asseguram um lugar privilegiado para o despertar de emoções, igualmente variáveis, que serão relativas ao sujeito, ao lugar e até mesmo à hora do dia. Aliás, se não fosse assim, por que razão escutaríamos novamente uma mesma música? Por isso, seria mais justo imaginar é que essa música que escutamos e reescutamos assemelha-se ao rio, do qual falava Heráclito, no qual não nos banhamos nunca duas vezes.44

Por essa íntima relação da música com o lado da emoção, entramos em

um campo que ultrapassa os limites semióticos e que passa a ser parte

44 FISETTE, Jean. Falar do Virtual: a música como caso exemplar do ícone. In: Lógica do

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importante do processo poético musical, que é a performance. Os atos, gestos,

intensidades físicas do intérprete completa o sentido daquela peça poética e

musical de forma interligada e a sua dissociação pode alterar o entendimento

do que está sendo transmitido. A partir disso, a palavra ganha corpo e nas

obras de Arnaldo Antunes, além das relações com as associações denotativas,

tem uma espécie de corporificação da palavra onde ele tenta virtualizar no

papel, na tela da TV e nas faixas de músicas que a palavra é algo que se move

e pode ser modificada pelo poeta do mesmo modo que a argila pelo artesão.

Essa reflexão nos remete a uma divagação sobre o como Antunes tenta

nos demonstrar que às vezes não observamos todas as coisas por todos os

ângulos. As palavras que damos aos objetos não são apenas signos

linguísticos em que o nome carregará para sempre uma imutabilidade em que

aquilo não será visto de outro modo. Há aí, portanto, uma abertura para

reorganizarmos o pensamento para as coisas que nos cercam, suas utilidades,

os nomes que carregam e o quão diferente pode ser um simples objeto se nos

permitirmos observá-lo por outro prisma, inserindo-o dentro de nossos

contextos sociais.

Seguindo esse raciocínio, entraremos no próximo tópico na discussão

sobre a utilidade das coisas, dentre elas onde está enquadrada a poesia e a

música no sistema de mundo no qual habitamos no ocidente, que é o

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