R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d ic i n a T r o p i c a l 2 4 ( 4 ) : 2 5 1 - 2 5 2 , o u t - d e z , 1 9 9 1
D O N O V A N O S E N O P A R Á .
D o m in g o s S ilv a , U b ir^ jara S alg ad o , C é lia M acêd o e C láu d io N ev es.
F o r a m e s tu d a d o s 2 5 9 c a s o s d e d o n o v a n o s e r e g is tr a d o s n o S e r v iç o d e D e r m a to lo g ia
d o D e p a r ta m e n to d e M e d ic in a T r o p ic a l/U F P A e n tr e 1 9 5 4 - 1 9 9 0 . O b s e r v a - s e q u e n o p e r í o d o
1 9 5 4 - 1 9 7 4 e x is tia m n o s a r q u i v o s a p e n a s 5 6 p r o n t u á r i o s d a d o e n ç a , e n q u a n to q u e n o ú ltim o
q u in q u é n io e s t u d a d o ( 1 9 8 6 - 1 9 9 0 ) f o r a m id e n tif ic a d o s 1 3 3 c a s o s . P a r a o s a u t o r e s e s s e c r e s c im e n t o e s t á lig a d o a e x c e s s iv a lib e r a li d a d e s e x u a l, a o h o m o s s e x u a lis m o e a s p r e c á r i a s
c o n d iç õ e s s ó c io - e c o n ô m ic a s , a c e n tu a d a n o s ú ltim o s te m p o s .
P a la v r a s - c h a v e s : D o n o v a n o s e . G r a n u lo m a v e n é r e o .
Analisando a frequência do granuloma venéreo (donovanose) no Estado do Pará, verificamos o crescimento inusitado de casos nos últimos anos, possível comprovar no prontuário do Serviço de Derm atologia do Departamento de Patologia Tropical/U FPA o mesmo acontecendo aliás, com outras doenças sexualmente transmissíveis, tais como a sífilis e o condilom a acum inado. Provavelmente este fato está ligado a fatores diversos, tais como a liberalidade sexual, a promiscuidade, o homossexualismo e as precárias condições sociais que afligem grande parte da população.
Em bora seja considerada como uma doença ubiquitária, é mais frequente nas áreas tropicais, fato bem acentuado por B ertin '. A escola d erta m o ló g ica b ra sile ira vem aceitando a c la s s ific a ç ã o d e d o e n ç a s se x u a lm e n te transmissíveis proposta por Serruya & Pereira* que, apoiados nos trabalhos de G oldberg2, atribuem ao agente etiológico no reservatório intestinal, a m aior frequência dos casos entre os homossexuais; por isso, situam o granuloma venéreo (donovanose) no 2 o grupo, da referida classificação, com o d o e n ç a f r e q u e n t e m e n t e t r a n s m i t i d a p elo ato se x u a l, p o ré m não
o b r i g a t o r i a m e n t e .
Entretanto, não é essa a opinião dos autores
Serviço de Dermatologia, Departamento de Patologia Tropical, Universidade Federal do Pará, Belém, PA. E n d e re ço p a r a c o r r es p o n d ê n cia : Prof. Domingos Silva. Rua Benjamin Constant 1535, 66040 Belém, PA. Recebido para publicação em 26/08/91.
que se apoiam não somente numa vasta casuística, com predom inância da localização anal, em homossexuais declarados, e entre mulheres que praticam habitualmente o coito anal, como se respaldam nos estudos de Lal & Nicholas3 que apresentam diversos e ponderáveis argumentos a respeito.
DISCUSSÃO
Consultando 52.781 prontuários do Serviço de D erm atologia do D epartam ento de P atologia T ropical da U F P A , no p e río d o 1954-1990 registram os 259 casos de granulom a venéreo (donovanose) o que comprova a im portância da doença no Estado do Pará, particularmente porque a frequência da mesma vem crescendo nestes últimos anos. Entre 1954-1974, portanto em 20 anos, foram identificados apenas 56 casos, enquanto que no último quinquénio (1986-1990), observamos 133 casos comprovados. Esse aumento vem se acentuando a partir de 1980, eatendência foi sempre ascencional como se verifica na Tabela 1.
Em contrapartida, no quinquénio 1984-1990 o Serviço de Dermatologia Sanitária da Faculdade de Saúde Pública de São Paulo não registrou um só caso de donovanose, segundo Tabela publicada no Boletin Informativo de la Union Latino Americana contra las enfermedades venereas de transmission sexual4.
P elo exp o sto , o E stad o do P a rá é um foco im p o r ta n te do G ra n u lo m a (d o n o v a n o s e ) venéreo, devendo m erecer cuidados dos serviços de saúde pública.
S i l v a D , S a l g a d o U , M a c ê d o C , N e v e s C . D o n o v a n o s e n o P a r á . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 4 : 2 5 1 - 2 5 2 , o u t - d e z , 1 9 9 1
T a b e l a 1 - R e l a ç ã o e n t r e a s p r i n c i p a i s d o e n ç a s s e x u a l m e n t e t r a n s m i s s í v e i s n o p e r í o d o d e 1 9 8 2 a 1 9 9 0 e. •
B e l é m , P a r á .
Diagnóstico 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 Total
D o n o v a n o s e 14 16 9 13 25 24 29 27 28 185
Sífilis 24 12 21 28 21 28 10 293 315 752
Cancro mole 4 4 10 11 6 12 5 18 3 71
Gonorréia 5 4 1 8 5 8 7 22 24 84
Linfogranuloma 4 1 5 3 4 3 1 5 8 33
Condiloma acuminado 27 26 14 24 31 87 134 91 74 508
SUMMARY
F r o m 1 9 5 4 to 1 9 9 0 g r a n u lo m a in g u in a le w a s
d i a g n o s e d in 2 5 9 p a t i e n t s a l th e d e r m a to lo g y s e r v ic e o f
th e U n iv e r s id a d e F e d e r a l d o P a r á in B e lé m , B r a z il.
A m o n g th e m , 5 6 c a s e s h a d o c u r r e d in th e tw e n ty - y e a r
p e r i o d 1 9 5 4 - 1 9 7 4 a n d a s m a n y a s 1 3 3 c a s e s w e r e s e e n
d u r in g th e l a s t f i v e y e a r s o n ly . G r e a te r s e x u a l li b e r t y ,
p o o r s o c i a l a n d e c o n o m ic c o n d iti o n s , a n d e s p e c ia lly
in c r e a s in g h o m o s e x u a l b e h a v io r w e r e im p li c a te d b y
th e a u th o r s a s c h i e f d e te r m i n a n ts f o r th i s a u g m e n te d
in c id e n c e o f th e d is e a s e .
K e y - w o r k s : D o n o v a n o s is . G r a n u lo m a in g u in a le .
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Berlin C. La Donovanose. Tese de doutorado, Université de Bordeaux, France, 1977.
2. Goldberg J. Studies on granuloma inguinale. Growth requirements of Donovania granulomatis and its relationship to the natural habitats of the organism. British Journal of Venereal Disease 35:266-268, 1959.
3. Lai S, Nicholas C. Epidemiological and clinical
features in 165 cases of granuloma inguinale. British Journal of Venereal Disease 46:461-463, 1970. 4. Notas epidemiológicas. Boletin Informativo de la
Union Latino Americano contra las enfermidades de la transmission sexual 13:6, 1988.
5. Serruya J, Pereira JR. Profilaxia das doenças sexualmente transmitidas. Medicina Hoje 70:74- 75, 1981.