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Balaão – O que as palavras de El, tem o conhecimento de Elyon e vê de Shaddai: Um estudo de Números 22-24

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

ESCOLA DE EDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E HUMANIDADES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA

RELIGIÃO

GERALDO DE OLIVEIRA SOUZA

BALAÃO

O QUE OUVE AS PALAVRAS DE EL, TEM O

CONHECIMENTO DE ELYON E VÊ A VISÃO DE SHADDAI: UM

ESTUDO DE NÚMEROS 22-24

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

ESCOLA DE EDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E HUMANIDADES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA

RELIGIÃO

GERALDO DE OLIVEIRA SOUZA

BALAÃO - O QUE OUVE AS PALAVRAS DE EL, TEM O

CONHECIMENTO DE ELYON E VÊ A VISÃO DE SHADDAI: UM

ESTUDO DE NÚMEROS 22-24

Tese de doutorado apresentada em cumprimento às exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, para obtenção do grau de Doutor. Área de concentração: Linguagens da Religião. Linha de Pesquisa: Literatura e Religião no Mundo Bíblico.

Orientador: Prof. Dr. José Ademar Kaefer

SÃO BERNARDO DO CAMPO

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FICHA CATALOGRÁFICA

So89b

Geraldo de Oliveira Souza

Balaão – o que ouve as palavras de EL, tem o conhecimento de Elyon e vê a visão de Shaddai: um estudo de número 22-24 / Geraldo de

Oliveira Souza -- São Bernardo do Campo, 2016. 283fl.

Tese (Doutorado em Ciências da Religião) – Escola de comunicação, Educação e Humanidades Programa de Pós Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo

Bibliografia

Orientação de: José Ademar Kaefer

1. Bíblia – A.T. – Números - Crítica e interpretação 2. Maldição I. Título

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A tese de doutorado sob o título “Balaão – O que ouve as palavras de El tem o conhecimento de Elyon e vê a visão de Shaddai: Um estudo de Números 22-24.”,

elaborada por Geraldo de Oliveira Souza foi defendida e aprovada em 22 de março de 2016 perante banca examinadora composta por José Ademar Kaefer (Presidente/UMESP), Edson de Faria Francisco (Titular/UMESP), Tercio Machado Siqueira (Titular/UMESP), Jorge Luís Rodrigues Gutiérrez (Titular/MACKENZIE), Paulo Sérgio Proença (Titular/UNILAB).

__________________________________________ Prof. Dr. José Ademar Kaefer

Orientador e Presidente da Banca Examinadora

__________________________________________ Prof. Dr. Helmut Renders

Coordenador do Programa de Pós-Graduação

Programa: Ciências da Religião

Área de Concentração: Linguagens da Religião

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AGRADECIMENTOS

Estendo minha humilde gratidão a todos quantos contribuíram direta ou indiretamente para que eu chegasse a essa etapa de minha jornada acadêmica. Agradeço, sobretudo, a YHWH, o Deus todo-poderoso, que até aqui tem me ajudado com seu poder, graça, misericórdia e amor infinito. A ele a glória e o louvor!

Agradeço também minha amada esposa Suzana, fiel auxiliadora e companheira em minha peregrinação e aos meus filhos Daniel, Debora, David e Nathan. Não poderia deixar de expressar meu reconhecimento póstumo ao Prof. Dr. Milton Schwantes por sua valiosa contribuição a minha vida acadêmica, bem como pelo legado deixado, não somente a mim, mas a todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo. Minha gratidão se estende ao Prof. Dr. Claudio de Oliveira Ribeiro, por sua dedicação e interesse na orientação temporária desta pesquisa, assumindo por um tempo a ausência do Prof. Schwantes, ao Prof. Dr. Paulo Augusto de Souza Nogueira pela amizade. Gostaria, também, de agradecer ao Prof. Dr. Edson de Faria Francisco pela ajuda com o hebraico. Sou grato, ainda, a todos os professores do Programa de Pós-Graduação da Universidade Metodista de São Paulo pelo empenho e dedicação ao ensino, assim como aos funcionários, representados nas pessoas de Camila e Ana.

Reconheço o grande e imprescindível auxílio que me foi concedido pelo Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Ciências da Religião (IEPG) e a CAPES, os quais financiaram parcialmente os meus estudos.

Finalmente, expresso todo meu carinho e afeto ao meu orientador, Prof. Dr. José Ademar Kaefer que com seu interesse e paciência me ajudou a encontrar o norte nessa pesquisa. Meu orientador é uma expressão viva dos ensinos do Prof. Schwantes e, por fim, aos meus amigos Helder Kanashiro e Henrique Oliveira estimuladores nas horas difíceis.

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SOUZA, Geraldo de Oliveira, Balaão - o que ouve as palavras de El, tem o conhecimento de Elyon e vê a visão de Shaddai: Um estudo de Números 22-24. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2016.

RESUMO

A presente pesquisa busca avaliar exegeticamente o texto que se encontra na Bíblia, especificamente no livro de Números capítulos 22-24 que relata sobre um personagem conhecido como Balaão. A pesquisa tem também como objeto o estudo sobre o panteão de divindades relatado no mesmo texto, assim como também o estudo dos textos descobertos em Deir Alla, na Jordânia, que apresentam um personagem designado como Balaão, possivelmente o mesmo personagem de Nm 22-24. A motivação que levou ao desenvolvimento dessa pesquisa foi o fato de se ter deparado com os conceitos dos diversos nomes divinos exibidos no texto, além da questão do profetismo fora de Israel, assim como as possibilidades hermenêuticas que se abrem para a leitura desse texto bíblico. O conceito geral sempre foi o de que Israel era a única nação onde existiam

“verdadeiros” profetas e uma adoração a um único Deus, o “monoteísmo”. O que

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inimigos desse mesmo Israel. Percebemos que, parte do texto pesquisado é apresentado sob a ótica de Israel sobre as outras nações. A pesquisa defende, portanto, que o texto de Nm 22-24, além de nos apresentar um profeta fora de Israel igual aos profetas da Bíblia, defende que, o panteão de divindades também era adorado por Israel e que tais nomes são epítetos de uma mesma divindade, no caso YHWH. Defende, também, um delineamento de um projeto de domínio político e militar de Israel sobre as nações circunvizinhas.

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SOUZA, Geraldo de Oliveira, Balaam - the man who hears the words of El, have the knowledge of Elyon and sees the vision of Shaddai: A study Numbers 22-24. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2016.

ABSTRACT

The present research aims to assess exegetically the text found in the Bible, notably in the Book of Numbers chapters 22-24 which describes a character known as Balaam. The research also aims to study the Pantheon of Divinities reported in the same text, as well as the texts discovered in Deir Alla, in Jordan, which also mention a character called Balaam, probably the same character appearing in the Book of Numbers 22-24. The development of this research has been motivated by the finding of concepts related to different divine names in the text and by the existing prophetism outside Israel. Moreover, the view of hermeneutic possibilities opening from the reading of that biblical text was important to the decision making. Until then, according to the general

concept, Israel was the only country where the “true” prophets existed and where the

veneration for a single God prevailed (monotheism). So, it has been interesting to realize, mainly through the reading of biblic books, that the prophetism was not restricted to Israel. The prophetism precedes the formation of ancient Israel and it already existed in the Middle East lands. Furthermore, the ancient Israel, when formed, took much time to become monotheist. After all, who is Balaam, son of Beor? We will study his personal characteristics and his mission. We will analyse Deir Alla texts about Balaam and his mediator character nature that stays between the divine and the human. He was presented as a great prophet, famous in the role of divine presages interpreter. We will also analyse the important issue related to Pantheon of Gods appearing in

Balaan‟s narrative, such as El, Elyon Elohim and Shaddai, beyond Yahweh. At first, we understand that the text got a connection with the society in which it was written. Using the exegetical methodology, we will proceed with the text analysis, trying to understand

its contents in depth, but always considering its historical and social setting. It‟s worth

remembering here that the scenario was presented by a prophet who is not Israeli, but is

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enemies. We realize that part of the text under study is presented from the perspective of Israel in relation to the other countries. Therefore, the research confirms that the chapters 22-24 of the Book of Numbers, besides showing us a non-Israeli prophet equal

to the Bible‟s prophets, it also evidences that the Pantheon of Divinities was worshiped

by Israel. Moreover, their names were, in fact, epithets of the same divinity, in this case YHWH. The research still advocates the existence of a project of political and military domination of Israel over the surrounding nations.

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SOUZA, Geraldo de Oliveira, Balaam - el hombre que oye las palabras de El, tiene el conocimiento de Elyon y ve la visión de Shaddai: Un estudio del libro de Numeros 22-24. São Bernardo do Campo, Universidade Metodista de São Paulo, 2016.

RESUMEN

Esta investigación tiene como objetivo evaluar exegéticamente el texto que está en la Biblia, específicamente el libro de Números capítulos 22-24 de informes acerca de un personaje conocido como Balaam. La investigación también tiene por objeto el estudio del panteón de divinidades relatado en el mismo texto, así como también el estudio de los textos descubiertos en Deir Alla, en Jordania, que presenta un personaje designado como Balaam, posiblemente el mismo personaje de Nm 22-24. La motivación que llevó al desarrollo de esta investigación fue el hecho de que se han encontrado con los conceptos de los diferentes nombres divinos exhibidos en el texto, más allá de la cuestión del profetismo fuera de Israel, así como las posibilidades hermenéuticas que se abren para la lectura de ese texto bíblico. El concepto general siempre fue el de que

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un delineamiento de un proyecto de dominio político y militar de Israel sobre las naciones alrededor.

(14)

Sumário

INTRODUÇÃO ...6

CAPÍTULO 1 ...10

PANORAMA DO LIVRO DE NÚMEROS ...10

1.1 Introdução ...10

1.2. Data e autoria ...12

1.3 A geração que saiu do Egito - o censo - Números 1- 4...14

1.3.1 Os encarregados do censo - Números 1.5-19 ...14

1.3.2 A recontagem - Números 1.20-47 ...15

1.3.3 Disposição das tribos no acampamento - Números 2.1-34 ...16

1.3.4 A tribo de Levi – Números 3.1-51 ...16

1.3.5 Os filhos de Coate - Números 4.1-20 ...17

1.3.6 Os gersonitas - Números 4.21-28 ...17

1.3.7 Os meraritas – Números 4.29-33 ...17

1.4 Leis diversas - Números 5-6 ...18

1.4.1 O nazireu – Números 6.1-21 ...19

1.5 Oferendas dos chefes, consagração dos levitas e celebração da Páscoa - Números 7.1-10.10 ...20

1.5.1 Ofertas dos carros - Números 7.1-9 ...20

1.5.2 Oferta da dedicação - Números 7.10-88 ...20

1.5.3 Moisés na tenda do encontro – Números 7.89 ...21

1.5.4 As lâmpadas do candelabro - Números 8.1-4 ...21

1.5.5 Os levitas são oferecidos a YHWH – Números 8.5-22 ...21

1.5.6 Tempo de serviço – Números 8.23-26 ...21

1.5.7 Festa da páscoa – Números 9.1-5 ...21

1.5.8 A nuvem – Números 9.15-23 ...22

1.5.9 As trombetas - Números 10.1-10 ...22

1.6 Israel marchando pelo deserto – Números 10.11-14.45 ...22

1.6.1 Ordem de marcha – Números 10.11-11.28 ...23

1.6.2 Proposta de Moisés a Hobabe – Números 10.29-32 ...23

1.6.3 Taberá - Números 11.1-3 ...24

1.6.4 Intercessão de Moisés - Números 11.10-15 ...25

1.6.5 Resposta de YHWH - Números 11.16-23 ...25

(15)

1.6.7 O reconhecimento da terra e o relato dos espias – Números 13.1-14.45 ...26

1.7 Ordens sobre os sacrifícios, poderes dos sacerdotes e dos levitas – Números capítulos 15-19 ...27

1.7.1 Leis variadas – Números 15.1 – 41 ...27

1.7.2 A rebelião de Coré - Números 16.1-50 ...27

1.7.3 A validação do sacerdócio arônico - Números 17.1-13 ...28

1.7.4 Os deveres dos levitas – Números 18.1-32 ...28

1.7.5 O sacrifício da novilha vermelha – Números 19.1-22 ...28

1.8 Israel marcha em direção a Moabe – Números 20.1 – 25.18 ...28

1.8.1 O pecado de Moisés - Números 20.1-13 ...29

1.8.2 O desafio de Edom – Números 20.14-21 ...29

1.8.3 A morte de Arão – Números 20.22-29 ...29

1.8.4 A derrota de Arade, a serpente de bronze e a derrota de Seom e de Ogue – Números 21.1-35 ...29

1.8.5 Israel adora Baal Peor - Números 25.1-18 ...31

1.8.6 O segundo censo – Números 26.1-65 ...31

1.8.7 A lei da herança – Números 27.1-11...31

1.8.8 Moisés vê Canaã, a indicação de Josué – Números 27.12-23 ...32

1.8.9 A ordem das ofertas, das festas e os votos – Números 28.1-30.16 ...32

1.8.10 Guerra Santa – Números 31-36 ...32

1.9 A unidade de Números 22.1-24.25 ...33

1.10 Conclusão ...35

CAPÍTULO 2 ...36

EXEGESE DA NARRATIVA DE BALAÃO ...36

2.1 Texto e Tradução Interlinear ...36

2.1.1 Números 22.2-41 ...36

2.1.2 Números 23.1-30 ...47

2.1.3 Números 24. 1-25 ...53

2.2 Tradução ...59

2.2.1 Números 22.2-41 ...59

2.2.2 Números 23.1-30 ...62

2.2.3 Números 24. 1-25 ...64

2.3 Critica Textual ...66

2.4 Aparato crítico da BHS ...66

(16)

2.4.2 Aparato crítico - Números capítulo 23 ...71

2.4.3 Aparato crítico Números capítulo 24 ...76

2.5 Delimitação do texto ...82

2.6 Forma ...84

2.6.1 Estrutura do texto ...84

2.6.2 Números capítulos 22-24 ...87

2.6.3 Coesão do Texto ...104

2.6.4 Estilo Literário...105

2.6.5 Gênero Literário ...109

2.6.6 A origem da Narrativa e sua autoria ...111

2.6.7 Conclusão ...115

2.7 Análise do conteúdo -Números 22.2-24.25 ...115

2.7.1 Números 22.2-4 - O medo de Balaque rei de Moabe ...115

2.7.2 Números 22.5-7 - Os mensageiros de Balaque encontram Balaão ...120

2.7.3 Números 22.8-13 – A recusa de Balaão ...130

2.7.4 Números 22.14-21 - Segundo convite de Balaque para Balaão ...133

2.7.5 Números 22.22-35 – A narrativa da jumenta de Balaão ...137

2.7.6 Números 22.36-41 – Encontro de Balaque com Balaão ...148

2.8 Números 23.1-30 - Balaão Abençoa Israel ...151

2.8.1 Números 23.1-6 - Preparativos ...151

2.8.2 O primeiro provérbio de Balaão - Números 23.7-10 ...155

2.8.3 Números 23: 11-17- A raiva de Balaque - uma segunda tentativa ...162

2.8.4 Números 23. 18-24: O segundo provérbio de Balaão ...165

2.8.5 Números 23.25-30 - Outra mudança de local e uma terceira tentativa ...173

2.9 Números 24.1-25 ...175

2.9.1 Números 24.1-2 - Balaão discursa presságios...176

2.9.2 Números 24: 3-9 - Terceiro provérbio de Balaão ...177

2.9.3 Números 24.10-13 - Balaque expulsa Balaão ...184

2.9.4 Números 24.14 Balaão profetiza ...186

2.9.5 Números 24.15-19 - As últimas profecias de Balaão ...186

2.9.6 Números 24.20-24 - Balaão como um profeta internacional ...195

2.9.7 Números 24.25 Post-scriptum ...199

2.10 Conclusão ...200

(17)

O PERSONAGEM BALAÃO...202

3.1 Introdução ...202

3.2 Balaão no Tell Deir Alla ...203

3.2.1 Introdução ...203

3.2.2 Aportes arqueológicos ...205

3.2.3 Tradução do texto I encontrado no TDA ...211

3.2.4 Deir Alla: Possíveis conclusões ...222

3.3 Balaão em outros textos extrabíblicos ...225

3.3.1 Balaão nos pergaminhos de Qumran ...225

3.3.2 4Q Testimonia (4Q175) ...225

3.3.3 O Documento de Damasco (CD) ...225

3.3.4 Regra da Guerra (IQM) ...226

3.3.5 Balaão e Bar Kochba ...227

3.3.6 Balaão e Flávio Josefo ...228

3.3.7 Balaão e os Padres da Igreja ...229

3.3.8 Balaão e o Talmude ...230

3.3.9 Balaão no Alcorão ...236

3.4 Conclusão ...237

CAPÍTULO 4 ...239

O QUE OUVE AS PALAVRAS DE EL, TEM O CONHECIMENTO DE ELYON E VÊ A VISÃO DE SHADDAI...239

4.1 Introdução ...239

4.2 O profetismo fora de Israel ...240

4.3 ha,_roRoeh o vidente, hzEïxoHozeh o visionário aybiän"Nabi o profeta ...243

4.3.1 ha,_roRoeh o vidente ...243

4.3.2 hzEïxoHozeh o visionário ...243

4.3.3 aybiän"Nabi o profeta ...244

4.4 Empregos dos títulos dos nomes de Deus na Narrativa de Balaão ...245

4.4.1 hw"ßhy - YHWH - Iavé, Senhor. Hy -yah- Iavé, Senhor. ...246

4.4.2 hwhy YHWH na Narrativa de Balaão ...248

4.4.4 lae (El) deus, Deus ...249

4.4.5 ~yhi²l{a/ Elohim, Deus ...252

4.4.6 ‘yD:v Shaddai, o Todo-poderoso ...254

(18)

4.8 Qual Deus abençoou Israel? ...262

4.9 Um pequeno panorama sobre a história do monoteísmo israelita ...264

4.10 A quem Balaão foi submisso? ...266

4.11 Conclusão ...267

CONCLUSÃO ...269

BÍBLIAS ...271

ATLAS ...271

ARTIGOS E LIVROS ...271

(19)

6 INTRODUÇÃO

Na Jordânia, em 17 de março de 1967, uma expedição holandesa descobriu no sítio em Tell Deir Alla1, uma parede destruída que continha fragmentos de inscrições composta em uma linguagem semelhante ao hebraico bíblico, e datada, aparentemente, no final do século IX a.C. e início do século VIII a.C.. Muitos dos fragmentos de gesso foram restaurados na forma de um quebra-cabeça. As inscrições atestavam o nome de um homem que tinha a visão dos deuses, “Balaão, filho de Beor”. Balaão só era conhecido nos escritos da Bíblia, principalmente no livro de Números capítulos 22-24, e de outras fontes de textos menores encontrados nos Antigo e Novo Testamentos. Agora, pela primeira vez, uma fonte extrabíblica relata sobre esse personagem, um profeta não israelita.

Quem era Balaão? A presente pesquisa tem como tema o profetismo não israelita, na figura do profeta Balaão em Nm 22-24. Essa perícope é uma composição de várias camadas literárias que se resumem na chamada “narrativa de Balaão”, texto esse, com denominações de vários deuses e ditos proféticos, contendo maldições e promessas de bênçãos direcionadas a Israel.

A motivação que levou o desenvolvimento desse tema foi o fato de se ter deparado com o conceito de profetismo fora de Israel, no Antigo Testamento, e com as possibilidades hermenêuticas que se abrem para a leitura dos textos bíblicos e para a história em geral. O conceito geral sempre foi o de que Israel era a única nação onde existiam “verdadeiros” profetas. O que despertou interesse foi perceber, especialmente por meio das leituras dos livros bíblicos, que o profetismo não se restringiu somente a Israel. O fato é que ele antecede à formação do antigo Israel e que ele já existia no âmbito das terras do Oriente Médio. Observando a Bíblia, percebemos que grande parte da literatura do Antigo Testamento, apresenta a ótica do domínio de Israel sobre as outras nações. Nessa perspectiva, o texto de Nm 22-24 esboça um projeto de domínio político e militar de Israel sobre as nações circunvizinhas.

(20)

7 Desse modo, percebe-se que o conceito de profetismo não israelita pode se tornar uma chave de leitura para interpretação de muitos dos textos proféticos do Antigo Testamento. Isso porque, se os textos de Nm 22-24 estiverem vinculados a um projeto de poder, então, as bênçãos anunciadas por eles, poderiam ser interpretadas como um projeto de conquista e de opressão de Israel sobre as nações vizinhas.

Na busca dessa resposta, deparamos com Nm 22-24 e a grande questão: Por que o escritor de Números inseriu nesse trecho literário um personagem que não fazia parte da congregação de Israel? E, se tal figura está registrada nesses textos, ele seria realmente um personagem histórico? O objetivo da presente pesquisa é responder a essa questão.

A narrativa de Balaão relata a tentativa do rei de Moabe, chamado de Balaque, de querer amaldiçoar Israel por meio de um adivinho mesopotâmico chamado Balaão. Apresenta, também, uma ênfase forte de que os deuses, não somente YHWH, o Deus de Israel, mas também El, Elohim, Elyon e Shaddai estão do lado de Israel, não permitindo que haja maldições sobre tal povo. Daí a suposição de que Nm 22-24 tratar-se-ia de uma pequena narrativa que propõe que Israel era protegido por YHWH e que ele era maior do que os deuses dos povos vizinhos.

Inicialmente, a pesquisa supõe que grande parte da narrativa de Balaão seja escrita entre o século VII e V a.C., por um narrador que não sabemos quem é, e que algumas unidades literárias de Nm 22-24 emergem, provavelmente, do contexto da experiência pós-exílica de Israel.

A presente pesquisa almeja contribuir com a pesquisa acadêmica em torno da narrativa de Balaão e a preocupação central desse trabalho é a identificação do processo de composição da narrativa e, notadamente, considerar as questões relativas ao profeta e aos deuses, que certamente contribuíram para a constituição do texto. A partir dessa problematização, a presente pesquisa procurará responder algumas questões específicas:

1. Balaão, o não israelita, pode ser considerado um profeta como os profetas de Israel?

(21)

8 3. O personagem Balaão mencionado nos textos de Deir Alla é o mesmo Balaão de Números 22-24?

Metodologia

O instrumento de análise da presente pesquisa é o que foi proposto pelo Prof. Milton Schwantes2 que sugere alguns passos metodológicos para se analisar exegeticamente o texto hebraico: A tradução, a crítica textual e a forma. Na análise da forma, serão observados os seguintes elementos: a delimitação, a estrutura a coesão interna, o estilo e o gênero literário.

A delimitação é a fixação da unidade literária. Trata-se de perceber as fórmulas introdutórias e conclusivas que demarcam uma unidade de sentido. A coesão interna é a análise das conexões internas da perícope. O estilo é a definição da qualidade literária do texto, que pode ser poético ou narrativo. Para a observação do estilo poético ou narrativo do texto, é necessário acompanhar a disposição literária do texto.

Finalmente, o último passo na análise da forma é identificação do gênero literário. O gênero é um padrão formal encontrado num conjunto de textos. Alguns gêneros são encontrados na narrativa de Balaão: A narrativa, a poesia, o dito profético, apólogo além de oráculos. De fundamental interesse para a presente pesquisa são as palavras relativas às bênçãos e maldições os nomes relativos aos deuses, os oráculos anunciando a intervenção de YHWH em favor de Israel e os textos de DA.

Essa pesquisa procurará fornecer contribuições de perceptibilidade tanto para estudantes afins quanto para leitores em geral que procurem interpretar e alargar seu conhecimento acerca dos tópicos que se encontram na unidade de Números 22-24.

Estrutura da pequisa

A presente tese está dividida em quatro capítulos. O primeiro descreve panoramicamente o livro de Números. O segundo analisará exegéticamente a narrativa, de Balaão sob a pressuposição hermenêutica de que a compreensão da estrutura literária e da época de sua escrita incide diretamente na interpretação do texto da narrativa. O terceiro focalizará os conteúdos das relações da narrativa de Balaão em Nm 22-24, com

2 SCHWANTES, Milton. Da Vocação à provocação: Estudos Exegéticos em Isaías 1-12. São Leopoldo,

(22)

9 os textos extrabíblicos notadamente sobre a descoberta dos textos de Deir Alla na Jordânia. O quarto capítulo buscará analisar as denominações relativas aos nomes roeh,

(23)

10

CAPÍTULO 1

PANORAMA DO LIVRO DE NÚMEROS

1.1 Introdução

Nesse capítulo, procuraremos fazer um panorama geral do livro de Números, buscando olhar algumas questões relevantes que permitam dar, ao final, uma imagem ampla do livro. Assim, destacaremos alguns fatos que ajudarão entender o contexto onde a narrativa de Balaão se insere. Deixaremos de analisar os capítulos 22-24 sobre a narrativa de Balaão, que será estudada com maior detalhe nos capítulos seguintes, por se tratar do objeto de estudo desse trabalho.

O nome do livro de Números3 provém da tradução grega da Septuaginta, os

Setentas”4, que o intitulava Arithmoi5 (números) relativo aos censos do povo que

3

Gallazzi escreve: Todos os comentaristas concordam em dividir o livro dos Números em duas partes: Nm 1,1-10,10 de redação completamente sacerdotal e Nm 10,11-36,13 produto de diversas fontes reelaboradas por mãos sacerdotais. A concordância entre os exegetas termina aqui. Pelo resto temos opiniões diversificadas e, muitas vezes, contrárias. Podemos resumir estas posições pelos seus porta-vozes mais importantes: temos os defensores da teoria documentária que, a começar de Wellhausen e passando, com pequenas variantes, por Eissfeldt, Robert-Fueillet, Fohrer, Rudolph, sustentam que o livro dos Nm 10,10-36,13 seria o produto da fusão de três documentos principais precedentes: J, E, P. Por sua vez, o escandinavo Mowinckel, contestou a teoria documentária e pôs em evidência a presença de narrativas do tipo da saga popular ligada a heróis ou lugares especiais. A discussão maior, entre os exegetas, refere-se, especialmente, às seções legislativas contidas ao longo da narração e que, segundo Wellhausen, seriam todas de origem pós-exílicas, mas que a escola sociológica escandinava considerava de origem bem mais antiga e expressão da memória do deserto. Outra polêmica que incide diretamente no livro dos Números é aquela mantida por M. Noth, que defende a teoria do tetrateuco, pelo qual Números seria um livro conclusivo e Von Rad que, por sua vez, defende a teoria do hexateuco, a partir da qual o livro dos Números seria mais uma etapa na caminhada rumo à conquista da terra prometida. GALLAZI, Sandro. Ensaios sobre o pós-exílio v.1: os mecanismos de opressão. Macapá, Biblioteca de estudos bíblicos. 2003.p.10.

4 Normalmente, designada pelo algarismo romano LXX. Versão grega do texto bíblico hebraico que

surgiu a partir do século III a.C., em Alexandria, no Egito, sendo produzida, principalmente, pela comunidade judaica da própria cidade. Serviu de base para várias versões antigas: Vetus Latina, Copta, Etíope, Armênia, entre outras. Influenciou o vocabulário e as concepções teológicas do cristianismo em seus primeiros séculos de existência e tornou-se a Escritura Sagrada por excelência da Igreja Cristã durante vários séculos. Foi utilizada até pelas versões gregas de Áquila, Símaco e Teodição. Segundo os estudiosos, a fonte original hebraica que serviu de base para a LXX era um tipo textual diferente do TM. Fazia parte da Héxapla, sendo a quinta coluna desta obra. FRANCISCO, Edson de Faria. Manual da Bíblia Hebraica: Introdução ao Texto Massorético — Guia Introdutório para a Bíblia Hebraica Sttutgartensia. 2ª ed. revisada e ampliada. São Paulo: Vida Nova, 2005. p.528.

5 BROWN. Raymond E. Novo Comentário Bíblico São Jerônimo: Antigo Testamento. São Paulo: Paulus.

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11 aparecem: primeiro no início do livro e depois no capítulo 266. Entre os escritores hebreus, o livro recebe o nome de Bemidbar7 (no deserto de), já que esta é uma das primeiras palavras (a quinta) do versículo com a qual começa e constitui uma boa síntese do conteúdo peculiar desta obra: a estadia e peregrinação do povo de Israel no deserto, onde YHWH se manifestou.

O livro de Números trata, com efeito, sobre a longa marcha dos israelitas pelo deserto, desde o Sinai até as campinas de Moabe. Consta de duas partes de notável extensão. Cada uma delas começa com um censo do povo saído do Egito. A primeira parte está em Nm 1-25. A segunda, começa em Nm 26.1 e chegará ate o final do livro, no capítulo 36. Ambos os censos correspondem a duas gerações distintas.

A primeira delas é a que saiu do Egito e experimentou a proximidade e proteção de YHWH nos acontecimentos do Êxodo. Entretanto, durante sua marcha para a Terra Prometida, cada vez que tinham problemas, murmuravam contra YHWH, pelo que chegou um momento em que foram condenados a não alcançar sua meta (Nm 14.27-35). A primeira parte tem muitos relatos destas murmurações e rebeliões (Nm 11-14; 16-17; 20.1-13; 21.4-9) onde se explica o trágico final dessa geração.

A nova geração, cujo censo abre a segunda parte do livro, é constituída por quem tinha sido criado no deserto. Embora quem a integrava não tivesse sido testemunha direta das manifestações de YHWH, como as que ouviam contar seus pais. Nenhuma dessas se perderia, nem sequer nas batalhas que tiveram que enfrentar, conforme Nm 31.49, pelo que todos eles entrariam na Terra Prometida.

A redação final do livro teve lugar, provavelmente, depois do desterro da Babilônia, quando o judaísmo estava nascendo na província persa de Judá, em torno do porcentagem relativamente pequena de uma obra que contém extensos materiais narrativos, poéticos e legais.

6 As passagens Bíblicas citadas nesse trabalho serão provenientes das seguintes fontes: A Bíblia Sagrada:

Antigo e Novo Testamento (tradução de João Ferreira de Almeida), 2ª edição revista e atualizada. São Paulo, Sociedade Bíblica do Brasil, 1993. Doravante nomeada ARA e Francisco, Edson de Faria. Antigo Testamento Interlinear Hebarico-Português – Volume I - Pentateuco. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. Doravante nomedo de ATI-1 e Francisco, Edson de Faria. Antigo Testamento Interlinear Hebarico-Português – Volume 2 – Profetas Anteriores. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2014.Doravante nomeado de ATI-2. Outras citações serão indicadas na referência.

7Ta à o he idoàpelosàjudeusà o oàChu ashà ueàe àhe ai oàsig ifi aà ui to .àOàPe tateu o,à

(25)

12 templo reconstruído, sob o contexto de uma sociedade que se reorganizava, recuperando suas origens. Nesse tempo, já existiam muitos judeus que viviam na diáspora8, porém, seguiam olhando com atenção tudo quanto sucedia em Jerusalém. As antigas tradições relatam sobre a constituição do povo no Sinai e sua peregrinação no caminho para a Terra Prometida, contando com a permanente presença e proteção de YHWH, apesar das dificuldades externas e as infidelidades do povo, o que contribuiu muito para que essa narrativa acontecesse. Assim, convidavam a uma reflexão sobre as novas circunstâncias, nas quais se encontravam à luz desses feitos para adquirir experiência sobre os erros passados e suportar as dificuldades do momento, com esperança no auxílio de YHWH.

Diante do leitor, tanto da época que foi redigida a narrativa, quanto a de hoje, se apresentam duas gerações, dois modos de enfrentar a vida, duas maneiras de reagir e de comportar-se diante de YHWH, convidando-os a fazerem uma reflexão e tomar suas próprias decisões pessoais. Conforme Brown: “Estudiosos mais antigos descrevem

Números como uma coleção de partes desconexas, carente de ordem lógica”.9 O que

discordamos, pois é possível encontrar princípios importantes de organização na narrativa do livro de Números.

1.2. Data e autoria

Tradicionalmente asseverava-se que Moisés tivesse sido o autor de todo o Pentateuco, menos a narrativa de sua morte em Dt 34. Isto significaria que teria sido escrito em meados do século XIII a.C., ou no fim do século XV a.C. Os principais argumentos a favor deste ponto de vista são declarações constantes do Pentateuco, afirmando que foi Moisés quem escreveu pessoalmente algumas partes dele: Êx 24.4; Nm 33.2; Dt 31.9, 22. A reivindicação constante de que as leis lhe foram reveladas Êx 25.1; Lv 1.1 e a suposição da autoria mosaica expressa pelo Novo Testamento Mt 8.4; 19.7; Lc 24.44; Jo 1.45.

8 Diáspora: termo usado para referir-seàa:à dispe s oàdeàu àpo oàe à o se u iaàdeàp e o eitoàouà

perseguição política, religiosa ou étnica. Conforme: HOUAISS, Antonio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p.1033.

9 BROWN. Raymond E. Novo Comentário Bíblico São Jerônimo: Antigo Testamento. São Paulo: Paulus,

(26)

13 Quem era esse personagem chamado Moisés? Buis10 assim o descreve: Reunindo todos os dados do texto de Números, podemos fazer o retrato de Moisés, tão rico quanto

contraditório. “Moisés é, antes de tudo, o porta-voz do Senhor.”

Ao término do século XIX, um ponto de vista completamente diferente a respeito da composição do Pentateuco, veio à tona. Segundo Wenhan:

A análise do material, colocando nas fontes J, E, D e P coincidiu com a datação dele em época bem posterior a Moisés. Hoje em dia, J geralmente é datado no século X a.C., e no IX, P no VI e Ps ainda mais tarde. Desta forma,

existe uma imensa lacuna entre essas fontes e a época de Moisés. Admite-se que JE pode conter algumas tradições antigas que remontem ao tempo de Moisés, mas P é considerada em grande parte com uma idealização do passado e não um registro histórico confiável. As suas leis e instituições são consideradas como reflexo de um período muito posterior em que foram escritas, mas não do período mosaico. Portanto, Números, em particular, é considerado como uma mistura das fontes J e E, relativamente primitivas e das fontes P e Ps, muito posteriores. Essas várias fontes foram combinadas

por uma sucessão de editores, dos quais os últimos trabalharam em meados do século V a.C.11

Atualmente, existe uma gama muito grande de interpretações sobre a época e autoria do Pentateuco. Isso, no caso, inclui o próprio livro de Números. De modo geral, prevalece a teoria de que há várias redações no livro de Números, cuja composição começou por volta do século VIII ou VII, em Jerusalém, e se extendeu até o período pós-exílico, onde houve a maior parte da composição do livro. Para Zenger12:

É consenso amplamente predominante na pesquisa que a composição final do Pentateuco não pode ser mero produto do acaso, mas remonta a um trabalho literário planejado. Obviamente, pode-se descrever apenas de forma aproximada quando, como e por meio de quem essa composição final foi realizada. No atual estágio da pesquisa, talvez seja mais convincente a ideia de que a etapa decisiva esteja ligada à figura de Esdras, “comissário imperial” persa e “sacerdote” judeu, que por volta de 400 a.C., promulgou em

Jerusalém um código de leis, aprovado pelos persas, e que constitui o documento básico da identidade judaica (“autorização imperial”).

Pury13, concorda com tal posição, assinala ele:

Em outras palavras, a Torá da Bíblia Hebraica, tal qual a conhecemos, deve ter sido concluída o mais tardar no fim do século IV ou início do século III a.C.. Ela também poderia ter sido acabada cem anos antes, por volta do século V, se o papel do personagem Esdras foi bem exatamente aquele que a tradição judaica lhe atribui. Sem dúvida, a conclusão da Torá de ser posta em relação com sua canonização.

10 BUIS. Pierre. O livro dos Números. São Paulo: Paulus, 1994. p.p. 19-20. 11

WENHAN, Gordon. Números introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2008. p.p. 24-25

12 ZENGER, Erich. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Loyola,2003. p.51.

13 PURY, Albert de. O Cânon do Antigo Testamento. In Antigo Testamento: história, escritura e teologia.

(27)

14 1.3 A geração que saiu do Egito - o censo - Números 1- 4

A primeira cena do livro de Números diz respeito à saída do Egito. É informado, pois, a quem inicia sua leitura, de que não se contará uma história desde seu começo, senão somente o desenvolvimento de um grande relato iniciado antes. Com efeito, a narrativa da saída do Egito e das primeiras etapas significativas do caminho do povo pelo deserto, se encontram no livro do Êxodo.

Acampados no deserto do Sinai, Moisés erigiu o tabernáculo como YHWH lhe havia ordenado (Êx 40.16-17). Segundo Brown e Coenen14, “tenda e habitação são palavras sinônimas. Por vezes, se traduz como tabernáculo, habitação, morada, tenda do encontro, tenda da congregação, o lugar onde Deus reside, etc.”

É realizado, no mesmo cenário que agora é narrado (Nm 1.1) um censo de todo o povo. Começa assim, a preparação imediata para retomar a marcha, depois de mais de 10 meses acampados no Sinai. O caminho só é retomado vinte dias depois (Nm 10.11).

O texto, como as quatro primeiras seções do livro até o capítulo 10 de Números, mostra o povo como uma comunidade, definida e ordenada. A posição assinalada aos levitas no acampamento, assim como as funções que lhes foram encomendadas, os apresenta no coração da comunidade, a qual gira em torno do Santuário.

Uma vez fixado o marco cronológico, o livro se inicia com um mandamento de YHWH: realizar um censo de toda a comunidade. E, imediatamente, essa ordem é obedecida. A ordem de realizar o censo, o primeiro que aparece no livro, que procede de YHWH, é para mostrar, deste modo, que todo o povo lhe pertence. A contagem é de caráter militar, os varões úteis para a guerra: “Estes são divididos em quatro regimentos, cada um consistindo em três tribos.”15

1.3.1 Os encarregados do censo - Números 1.5-19

Nada fica na improvisação, nem na preparação, nem na realização do censo. YHWH mesmo especifica a Moisés que um homem de cada tribo seria designado para acompanhar ele e Arão nas tarefas da contagem. Os “milhares” (Nm 1.16) “...é um

14

BROWN, Colin; COENEN, Lothar. Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento. Vol. II. São Paulo: Vida Nova,2000. p.2476.

15 BROWN. Raymond E. Novo Comentário Bíblico São Jerônimo: Antigo Testamento. São Paulo: Paulus,

(28)

15 termo antigo para designar um clã (Jz 6.15) que se utiliza com conotações militares.”.16

O registro é ordenado: cada tribo está composta de vários clãs e cada clã de numerosas famílias.

1.3.2 A recontagem - Números 1.20-47

Segundo Êx 12.37, haviam saído do Egito uns seiscentos mil homens a pé, sem contar as crianças. Uma cifra análoga a que agora se formula com maior precisão, como é razoável em uma cena em que o relato situa somente treze meses depois (Nm 1.1). As cifras parecem muito altas, se pensarmos em um grupo de fugitivos em marcha pelo deserto, já que se aos homens aptos para a guerra se lhe adicionam mulheres, jovens e crianças. Estima-se uma multidão de quase dois milhões de pessoas.

Entre as instruções que YHWH dá para o censo, está que, quem pertence à tribo de Levi, não deve ser incluído com as demais tribos. O censo que está se realizando, tem um caráter militar e os levitas não podiam executar esse tipo de tarefa. Por isso, não estão incluídos no censo. Essa tribo estava reservada para o serviço da Morada do Testemunho, salvaguardando a santidade de YHWH e a eles somente são atribuídas funções cultuais.

É importante o lugar que lhes é atribuído quando vão acampar: ao redor do Morada do Testemunho, entre esta e o acampamento dos israelitas, pois o lugar assinalado aponta a função que tem de desempenhar diante do povo. “Ao redor da

tenda será mantido um cinturão sagrado que ninguém poderá ultrapassar: desde o

começo, esta será a primeira função dos levitas.”17 Os levitas são, pois, como uma

barreira protetora para o povo, para evitar as desgraças que se seguiriam se algum intruso se aproximasse indevidamente da Morada do Testemunho (Nm 1.53). Para Brown:

A habitação do Testemunho: esta rara expressão ocorre três vezes aqui (verso 50) também em Êxodo 38.21 e Números 10.11. A palavra Hebraica, miskan,

focaliza a função do tabernáculo como “lugar da habitação” do Senhor, edut,

“testemunho”, refere-se às tábuas da lei.18

16 VARO, Francisco. Números. Bilbao: Desclée De Brouwe, 2008, p. 40. 17

GALLAZZI. Sandro. Ensaios sobre o pós-exílio v.1: os mecanismos de opressão. Macapá: Biblioteca de estudos bíblicos, 2003.p.14.

18 BROWN. Raymond E. Novo Comentário Bíblico São Jerônimo: Antigo Testamento. São Paulo: Paulus,

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16 1.3.3 Disposição das tribos no acampamento - Números 2.1-34

Os libertos do Egito eram como uma comunidade com uma hierarquia perfeitamente estruturada. Agora, se dá um novo passo nessa concepção, ao concretizar-se que essa organização não responde somente a uma hierarquia pessoal nas tribos e famílias, senão também deveriam refletir, inclusive, no modo de situar-se sobre o terreno que acampavam, ocupando cada um o lugar que lhe tinha sido designado. O povo descrito está em formação ao redor da tenda da congregação, em perfeita ordem, tanto acampado, como avançando através do deserto, unido a YHWH.

A disposição das tribos em torno da tenda é significativa, não somente pela posição destinada a cada tribo, mas também pelo fato de que, todas juntas ao redor da tenda, fazem um quadrado.

Wenhan19, explica que:

Havia um espaço entre os acampamentos tribais e a tenda da congregação. A tradução da AV (inglesa) para minneged como longe (cf, NIV, “a alguma distância de”) parece preferível à da ARA, “de frente” (cf. IISm 18:13; IIRe 4:25). Josué 3.4 estipula que uma distância de 2.000 côvados (1.000 jardas) devia separar a arca das tribos seculares. Este princípio pode ser aplicável aqui também. De 1:52ss; 2:17 e do capítulo 3, aprendemos que os levitas deviam acampar entre as tribos seculares e a tenda da congregação.

Neste capítulo de Números, se estabelece que a disposição das doze tribos quando estão acampadas, tem a figura de um quadrado. Cada um de seus lados é formado por três tribos e, no centro, situam-se os levitas em torno da Tenda.

1.3.4 A tribo de Levi – Números 3.1-51

Ao discorrer sobre as tarefas dirigidas aos membros da tribo de Levi, as primeiras ordens são para os sacerdotes. Quando isso ocorria, realizava-se uma simples cerimônia na qual, pela primeira vez, era deixada ao novo sacerdote, a tarefa de participar no oferecimento dos sacrifícios, colocando suas mãos sobre as vítimas.

Depois de mencionar quem eram os sacerdotes (Nm 3.1-4) o texto diz que os

levitas tinham função e serviço distintos dos sacerdotes. Aqui, o “serviço”, o mesmo

que em outros lugares do Pentateuco, designa um trabalho manual no cuidado dos bens e utensílios da Morada divina, que era próprio dos levitas (Nm 3.8).

(30)

17 Ao longo do capítulo 3, em várias ocasiões, são mencionados detalhes que mostram as graves consequências que seguiriam em caso de violação das estritas normas requeridas pela santidade e pureza da Morada. Pouco antes, há a lembrança de que Nadabe e Abiú, filhos de Arão, haviam sido consumidos por terem oferecido fogo profano (Nm 3.4). Agora, há a advertência de que ninguém que não fosse dos filhos de Arão, embora pertencesse à tribo de Levi, devia se aproximar do que era competência exclusiva dos sacerdotes, sob pena de morte (Nm 3.10).

Este é o primeiro dos censos dos levitas que é mencionado em Números. Como se fosse um censo preliminar, designado a calcular se o número dos membros da tribo de Levi seria mais ou menos equivalente ao de todos os primogênitos das tribos, justificando, assim, a sua eleição para substituí-los no serviço de YHWH, conforme 3.11-13. No capítulo seguinte, outro censo reduzido é feito. Este, pensando mais no trabalho a ser desenvolvido no serviço da Morada e seus acessórios. Neste caso, são contados somente os varões entre trinta e cinquenta anos, conforme 4.3.

1.3.5 Os filhos de Coate - Números 4.1-20

YHWH ordena fazer o censo dos filhos de Coate (4.1-3) e, imediatamente, especifica, com todo o detalhe, as tarefas que lhes corresponde realizar no serviço da Tenda do Encontro (4.4-20). O mesmo esquema se repete para os filhos de Gerson e os de Merari.

1.3.6 Os gersonitas - Números 4.21-28

Em um santuário portátil como era a Tenda do Encontro, as lonas, peles e lenços em geral, que eram imprescindíveis para delimitar os recintos, estavam sob cuidados dos gersonitas.

1.3.7 Os meraritas – Números 4.29-33

A estrutura que sustentava a Tenda do Encontro era de madeira: a base de vigas, postes, travessões e tábuas. Também havia necessidade de estacas e cordas para esticar as lonas e dar estabilidade à estrutura. De todos estes elementos, se encarregavam o clã dos meraritas, debaixo da supervisão do sacerdote Itamar (4.33) o mesmo que também supervisionava o que era relativo às lonas e peles com as que se cobria a Tenda.

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18 incenso, a mesa dos pães e todo o necessário para os sacrifícios (4.15-20). Em seguida, vinham os gersonitas carregando as lonas, cortinas, cordas e demais equipamentos (4.24-28). E, por último, os meraritas se encarregavam de desmontar e transportar os postes e travessões da estrutura que sustentava o tabernáculo (4.31-33).

1.4 Leis diversas - Números 5-6

Desde o começo do livro de Números, o leitor estava assistindo à organização de uma comunidade em torno do Tabernáculo. A cada um foi assinalado seu posto e, com particular detalhe, a todos os responsáveis pelo cuidado, serviço e transporte da Tenda, capítulos 1-4. Antes de iniciar a marcha, o santuário será consagrado e alguns carros para seu transporte são postos em disposição, capítulos 7-8. Porém, o relato desse trabalho de preparação é interrompido por um elenco de textos legais, segundo Varo:

“No Pentateuco, o marco narrativo em que se inserta as normas jurídicas, serve para interpretar o sentido que se dá a essas normas. Neste caso, a situação dessas normas neste lugar, indica que estão dirigidas a salvaguardar a pureza e santidade do povo.”.20

Tanto no caso das pessoas, como dos objetos que ficaram “impuros”, se requer

um processo de purificação para devolvê-los a sua realidade original. Nos extremos

dessa estruturação de pessoas e coisas está a “santidade” e a “impureza”, que são

absolutamente incompatíveis.

Para Eichrodt:

Número imenso de prescrições contidas no Antigo Testamento sobre o puro e o impuro e sobre ritos para recuperar a pureza perdida ou para alcançar uma especial santidade, encontram na história das religiões consideráveis materiais de comparação, que têm sido utilizados com êxito para situar as origens últimas de tais usos nas crenças tabu primitivas.21

Onde YHWH se encontra, tudo tem que ser puro e como sua Morada está no meio do acampamento, todos têm que velar por sua pureza e santidade. Portanto, qualquer pecado ou impureza – ainda que seja somente externa – deve desaparecer.

O acampamento no meio do qual Deus habita não pode ser contaminado. É interessante notar a inclusão da impureza produzida pelo contato com um morto, que é ausente no Levítico e na legislação precedente, mostrando que

20 VARO, Francisco. Números. Bilbao: Desclée De Brouwer, 2008, p. 63. 21

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19 um dispositivo relativo aos sadocitas foi ampliado a todos os filhos de Israel.22

1.4.1 O nazireu – Números 6.1-21

O voto de nazireu23 supõe uma dedicação a YHWH, que implica em compromissos sérios cuja ruptura poderia trazer males para todos.

A lei do nazireu se aplica por igual a homens e mulheres. Denota ser uma singular propriedade de YHWH, de pessoas do povo, que não são nem levitas e nem sacerdotes. Na tradição de Israel, existem registros de alguns casos de nazirato permanente, como o de Samuel e Sansão, porém, aqui no texto de Números se trata somente de uma dedicação temporal.

Após a explicação da lei do nazirato e antes das ofertas dos príncipes, está a bênção araônica (6.22-27). Esta oração está vinculada aos regulamentos designados à purificação do acampamento. A bênção invoca a proteção de YHWH sobre o povo que está caminhando no deserto. Essa serve para mostrar que o objetivo permanente de YHWH é o de abençoar seu povo e não somente àquele que se dedicou a fazer o voto de nazireu. Essa bênção, ministrada pelo sacerdote, era um tipo de garantia de que YHWH iria verdadeiramente colocar Seu nome sobre a congregação, conforme o verso 27. “O sacerdote não é, ele mesmo, a verdadeira fonte de bênçãos. Ele apenas as dirige a congregação, pois é o Senhor quem lhe pede que ponha o Seu nome sobre os filhos de

Israel”24

Para Buis, a bênção não era uma atividade propriamente sacerdotal:

Todos que detêm alguma autoridade estão habilitados a abençoar seus subordinados: o pai abençoa seus filhos (Gn 27), os irmãos abençoam sua irmã (Gn 24,60), o rei abençoa seus súditos (2Sm 6,18; 1Rs 8,55). O sacerdote tinha tal importância na tradição sacerdotal que era normal que abençoasse o povo (Lc 9,22). Todavia, não se determina em que circunstâncias devia fazê-lo: sem dúvida por ocasião de grandes agrupamentos de pessoas no santuário (cf. Sl 1115,12-15 e 118,26); talvez também quando um particular oferecesse um sacrifício.25

22 GALLAZZI, Sandro. Ensaios sobre o pós-exílio v.1: os mecanismos de opressão. Macapá: Biblioteca de

estudos bíblicos, 2003.p.15.

23

WENHAN, Gordon. Números introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2008. p.92. Segundo Wenhan, a palavra portuguesa nazireu e transliteração do vocábulo hebraico nãzîr, que significa separado.

24

UNTERMAN, Alan. Dicionário judaico de lendas e tradições. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992, p.46.

(33)

20 1.5 Oferendas dos chefes, consagração dos levitas e celebração da Páscoa - Números 7.1-10.10

Uma vez terminado o parêntesis de textos legais expostos para se manter a pureza do acampamento, capítulos 5-6, que tinham sido organizados como convém a uma comunidade santa, capítulos 1-4, tudo pareceria pronto para a caminhada. Porém, antes de partir do Sinai, o redator convida a lançar um olhar para trás.

No capítulo 7, situa-se a ação no dia em que teve lugar a consagração do santuário, conforme 7.1, é o primeiro mês do segundo ano da saída do Egito, conforme Êx 40.17, portanto, se retrocede um mês antes da data assinalada no começo do livro de Números. Essa mesma indicação temporal segue marcando os capítulos seguintes até 10.11 quando, com efeito, se dá um novo salto adiante no tempo e se volta ao segundo mês do segundo ano da saída do Egito, conforme 1.1, embora desta vez, no dia vinte.

1.5.1 Ofertas dos carros - Números 7.1-9

A partilha entre os clãs levitas das carretas e dos bois que os príncipes do povo haviam oferecido para o transporte dos equipamentos do santuário, se faz proporcionalmente às necessidades de cada clã levita. Aos filhos de Gerson, lhes correspondiam encarregar-se das peles, lonas e as cordas empregadas no santuário e a eles se lhes dão dois carros e quatro bois. A responsabilidade dos filhos de Merari recai sobre as tábuas, vigas, postes e todos os aparelhos necessários para a estrutura do santuário e a eles se lhes entregaram quatro carretas e oito bois. Os filhos de Coate eram encarregados de transportar a arca, a mesa, o candelabro, os altares e os utensílios. Todos são transportados com seus varais ou sobre um tipo de maca, portanto, nos ombros, pelo que não receberam nem carros, nem bois.

1.5.2 Oferta da dedicação - Números 7.10-88

(34)

21

1.5.3 Moisés na tenda do encontro – Números 7.89

O capítulo começa indicando que se trataria da consagração da Morada, conforme 7.1. Entretanto, agora, neste breve parágrafo final, não se fala da Morada, mas sim da Tenda do Encontro e se alude à sua função oracular. Na redação final, ao situar aqui essa anotação mais antiga, combinam-se as tradições acerca de ambas as tendas.

1.5.4 As lâmpadas do candelabro - Números 8.1-4

Uma das tarefas a serem realizadas na consagração da Morada era a colocação de lâmpadas no candelabro. Segundo Varo: “A forma do candelabro sugere uma árvore, símbolo da fertilidade e da vida no Oriente Antigo. As lâmpadas acesas são sinais da presença do Deus invisível em meio a seu povo e sua capacidade vivificadora.”26 E,

conforme Êx 30.7-8 e Lv 21.1-4, as lâmpadas deveriam arder continuamente.

1.5.5 Os levitas são oferecidos a YHWH – Números 8.5-22

Agora há o relato da purificação dos levitas e a cerimônia pela qual tomam posse de suas tarefas no santuário.

A cerimônia de dedicação dos levitas tem muitos pontos de contato com as dos sacerdotes (Lv 8), embora, no caso dos levitas, havia apenas um único rito de purificação (8.5-7). Era usada literalmente “águas de expiação”, (8.7) (ATI-1). Uma vez purificados, têm lugar sua apresentação diante de YHWH (8.8-19).

1.5.6 Tempo de serviço – Números 8.23-26

Antes de terminar com as instruções sobre os levitas, é fixado o tempo em que deveriam prestar serviço no santuário: desde os vinte e cinco anos até os cinquenta anos.

1.5.7 Festa da páscoa – Números 9.1-5

A primeira Páscoa havia sido celebrada no Egito, coincidindo com a décima praga, na qual morreram os primogênitos dos egípcios, embora ficassem a salvo os que estavam celebrando-a nas casas dos israelitas (Êx 12).

Esta, que agora está sendo narrada, seria, segundo a ordem do relato, a segunda Páscoa que celebrariam. Faz-se notar que em tudo se cumpririam as prescrições de YHWH. A data seria, pois, justamente um ano depois da saída do Egito.

26

(35)

22

1.5.8 A nuvem – Números 9.15-23

A nuvem que acompanha os filhos dos israelitas e que, de noite era parecida com uma coluna de fogo, é mencionada no livro de Êxodo, depois da celebração da Páscoa, no início da caminhada, na saída do Egito (Êx 13.21-22). Nessa primeira menção, se diz que a nuvem marchava adiante deles. Mais adiante, quando se constrói a Tenda da Congregação fora do acampamento, se diz que ao entrar Moisés na Tenda, a nuvem baixava e se fixava à porta da tenda (Êx 33.7-11). Agora, entre os preparativos para a marcha, volta-se a mencionar a presença da nuvem, nesta ocasião sobre o Tabernáculo do Testemunho.

Por três vezes se assinala que corresponde a YHWH guiar o povo, já que, usando a nuvem, indicava quando deviam acampar e quando era chegado o momento de partir (9.18,20-21).

1.5.9 As trombetas27 - Números 10.1-10

É YHWH quem guia seu povo na marcha do deserto, assinalando com a nuvem o momento de partir e de acampar, conforme 9.15-23. Entretanto, para avisar sobre a execução concreta do que YHWH indica com a nuvem, Ele pede a Moisés e Arão que façam trombetas, com as quais se transmitiria ao povo as ordens, seja para se reunir ou para organizar o traslado do acampamento (10.1-10). Na ordem, é especificado o que significa cada sinal e o modo de se tocar, distinguindo-se se está convocando todo o povo ou somente os príncipes se era para tarefas comuns, ou para chamar com urgência para guerra. Essas trombetas, também, eram utilizadas no culto e nas solenidades.

1.6 Israel marchando pelo deserto – Números 10.11-14.45

O livro de Números havia começado no primeiro dia do segundo mês do segundo ano da saída do Egito, com o mandato divino de se fazer um recenseamento no deserto de toda comunidade, conforme 1.1. Uma vez realizado e estruturado adequadamente o povo, tudo parecia pronto para a marcha. Porém, antes de fazê-la, abriu-se um parêntesis em que se incluíram alguns textos legais. Esses textos orientavam a manter a pureza do acampamento, conforme capítulos 5-6, e depois tinha se lançado uma olhar para trás, voltando um mês antes, quando teve lugar a consagração

27 WENHAN, Gordon. Números introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2008. p.109. Wenhan

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23 do santuário, para deixar claro de que tudo estava pronto, tal como YHWH tinha ordenado a Moisés, conforme, 7.1-10. Agora, vinte dias depois da ordem de levar a cabo o censo e uma vez realizado, o povo se põe em marcha.

Enquanto se inicia o caminho para a Terra Prometida, após a longa jornada do Sinai, onde tinham visto a manifestação de YHWH, haviam recebido sua lei e onde tinham se organizado como uma comunidade santa em torno do santuário, começam as rebeliões que iriam marcar a peregrinação pelo deserto.

Começa-se a narrativa de uma série de conflitos que se sucedem, um atrás do outro. O primeiro põe à prova a liderança de Moisés, capítulos 11-12; o seguinte está centrado em torno da rejeição do dom da Terra Prometida, ante às dificuldades que se poderiam encontrar para tomar posse dela, capítulos 13-15. Nas continuações, em seções subsequentes, seguiram-se novas rebeliões. Finalmente, toda a geração, menos Josué e Calebe que haviam saído do Egito, pereceria no deserto antes da chegada à Terra Prometida.

1.6.1 Ordem de marcha – Números 10.11-11.28

Seguindo as instruções de YHWH, o povo se põe em marcha. A nuvem se levanta do Sinai, onde estavam acampados os israelitas. Faltava apenas dez dias para que se completasse um ano (Êx 19.1). Agora, sem demora, o acampamento inicia sua marcha até que a nuvem se detem no deserto de Parã, que está situado aproximadamente na zona central ao norte da península do Sinai, ao sul do Negueve. Era o próprio YHWH quem os guiava para o lugar aonde deveriam ir.

1.6.2 Proposta de Moisés a Hobabe – Números 10.29-32

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24 Inicia-se, por fim, a marcha pelo deserto. A arca28 estava situada na Tenda da Reunião, no meio do acampamento e se previa que sucederia o mesmo, inclusive na marcha, conforme 2.17; 10.21. Porém, agora se diz que “ia adiante deles” (10.33) e, nos episódios seguintes, se sugerirá que ela estava situada fora do acampamento, conforme 11.26; 12.4. Nos textos anteriores, Moisés entrava na Tenda, pois ali escutava a voz que lhe falava desde o alto do propiciatório situado sobre a arca, conforme 7.89, embora, nos textos seguintes,YHWH fala a Moisés na entrada da Tenda, conforme Nm 15.5; e Êx 33.9.

Neste texto, se fala da “arca de a aliança de YHWH” (10.33) (ATI-1) denominação que não se tinha utilizado até agora no Pentateuco, porém, que será frequente em Deuteronômio, nos textos da história deuteronomista e nas passagens paralelas de Crônicas, assim como em Jeremias, conforme Jr 3.16.

O texto finaliza com duas peças poéticas muito primitivas (10.35-36) nelas se alude à chegada ou ao regresso da arca, em um contexto bélico, como símbolo de proteção de YHWH para com seu povo nas batalhas que se apresentam. Essas peças poéticas são aclamações de caráter guerreiro, que formam parte do ritual da arca.

1.6.3 Taberá29 - Números 11.1-3

Esse capítulo e o seguinte estão situados aqui na composição de Números para marcar uma mudança significativa na perspectiva com a qual se vinha falando do povo desde o começo. Até agora, havia se mostrado como uma comunidade bem organizada, em torno do santuário. Por isso, o leitor pode ficar surpreendido com a queixa excessiva de um povo que, até o momento, havia sido descrito em perfeita harmonia consigo mesmo e com YHWH. Agora, começam a desenhar-se contínuas desobediências e rebeliões contra YHWH, conforme capítulos 11-20. Todos os casos são seguidos por

28 EICHRODT, Walther. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2004. p.90. Eichrodt expõe

seu pensamento a respeito da Arca daàsegui teàfo a:à Maisàdeàu aà ezàseàte àdis utidoà ueàaàa aàdeà YHWH represente um santuário da época mosaica, e se tem desejado ver em sua feitura uma imitação de modelos cananeus. Constitui certa dificuldade o fato de que as fontes antigas nada mencionem de sua feitura. De outro lado, o relato tão antigo de Números 10.35s e a indubitável disposição da arca pa aàse àu àsa tu ioàa ula teà osàle a àaàsupo àsuaàexist iaà aà po aàdoàdese to .à

29 BROWN. Raymond E. Novo Comentário Bíblico São Jerônimo: Antigo Testamento. São Paulo: Paulus,

2007. p.205. Pa aàB o àa uià ...te osàu à o toàetiol gi oà ueàexpli aàoà o eàTa e à uei a àaoà contar da ira ardente do YHWH que irrompeu aqui. Quanto ao conteúdo, a história pertence a uma série de narrativas que relatam deslealdade ou rebelião contra Deus e Moisés, que ocorreram durante a

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25 um castigo, mas logo após, YHWH se compadece e perdoa. Porém, em seguida, o povo volta a cair em suas infidelidades.

1.6.4 Intercessão de Moisés - Números 11.10-15

Diante da murmuração do povo pela comida, tanto YHWH quanto Moisés se desgostaram muito. Moisés lamenta, com pesar, a carga de responsabilidade que YHWH tinha posto sobre seus ombros. O relato acerca das queixas pelo alimento se entrelaça com as questões relativas à função de Moisés. Segue-se o esquema dos relatos de murmurações marcado pelo relato anterior (11.1-3). Depois das queixas do povo e do castigo divino, agora deveria vir a intercessão de Moisés. Porém, a situação é tão penosa, que Moisés, ao invés de interceder por eles, se lamenta da carga que ele deve suportar. O diálogo é narrado de um modo extraordinariamente vivo e forte.

Desse ponto de vista da estruturação literária do relato, a queixa de Moisés diante de YHWH, serve como ponto de união entre a narrativa das rebeliões surgidas pelo alimento e a necessidade que tem Moisés de alguém que lhe ajude na tarefa de carregar o povo.

1.6.5 Resposta de YHWH - Números 11.16-23

YHWH diz a Moisés que o povo deveria se santificar, pois Ele enviaria comida para o povo e eles comeriam carne por um mês inteiro, coisa que Moisés duvidou que pudesse acontecer, conforme 11.18,23.

E, depois dessa narrativa, YHWH envia sobre o acampamento codornizes para que o povo coma, conforme 11.30-32. Brown diz que: “Na tradição mais antiga, a

história das cordonizes, baseada em um fenômeno natural visível, na Península do Sinai, era lembrada positivamente, como ilustração da graça de YHWH a favor do seu

povo.”30 Completando o capítulo, YHWH pede que Moisés separe setenta anciãos do

meio do povo, que Ele iria repartir sobre esses uma parte do Espírito que se achava em Moisés, conforme 11.16,25.

30 BROWN. Raymond E. Novo Comentário Bíblico São Jerônimo: Antigo Testamento. São Paulo: Paulus,

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26

1.6.6 Queixa de Miriam e Arão – Números 12.1-16

Agora, a murmuração não procede do povo, mas sim, de dentro da família de Moisés: Miriam, sua irmã, e Arão, seu irmão, conforme Êx 4.14. A causa foi a mulher cusita, que Moisés havia tomado por esposa.

1.6.7 O reconhecimento da terra e o relato dos espias – Números 13.1-14.45

No capítulo 13, é narrada a exploração de Canaã pelos doze espias e a murmuração do povo. Estamos nos aproximando do núcleo central da estrutura narrativa de Números, aonde se explicará o porquê da geração que saiu do Egito ter sido privada de entrar na Terra Prometida. Não seriam eles, mas sim seus filhos quem lograriam, finalmente, tomar posse dela.

Em 14.1-9, narra-se a rebelião que culmina com a pretensão de se eleger outro chefe, ao invés de Moisés, e voltar para o Egito. Aqui, não se trata somente de um levante contra Moisés e Arão, mas é, sobretudo, uma rejeição a YHWH. A reação de

Moisés e Arão, que “caíram com rosto em terra” (14.5) não pode ser interpretada como uma rendição devida àquelas queixas do povo, senão uma provável intercessão diante de YHWH, ou mesmo a expressão do terror que sentiram diante da blasfêmia do povo. Conforme Wenhan, “Cair sobre o rosto, no Antigo Testamento, é a expressão mais

cabal de adoração e temor religioso”.31

Assim, a cólera de YHWH se manifesta (14.10-19) e Ele deseja exterminar o povo e criar um povo novo por meio de Moisés (14.11-12). E, como antes, Moisés toma a palavra diante de YHWH para interceder em favor do povo (14.13-19). Moisés apresenta argumentos extremamente efetivos, como a defesa da honra de YHWH diante dos demais povos e por Ele ser clemente e misericordioso, como Ele mesmo havia se definido em outras ocasiões, conforme Êx 34.6-7.

Assim, Moisés consegue o perdão e YHWH não extermina todo o povo, mas Moisés não consegue evitar o castigo de YHWH em 14.20-38. YHWH perdoa o povo uma vez mais e não o destrói. Porém, define a diferença entre os que confiam nele, como Calebe e os que, ao contrário, se rebelaram contra Ele até “dez vezes” (14.22) quer dizer completamente e com plena consciência.

31

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27 Como resposta diante da murmuração e desânimo do povo, se anuncia o castigo que receberiam, do qual não escaparia ninguém maior de vinte anos. Todos os que foram recenseados no começo do livro, pereceriam no deserto, exceto Calebe e Josué, (14.30).

Os quarenta anos de peregrinação começam a contar desde esse momento e correspondem aos quarenta dias que se levou para explorar a Terra Prometida, dando assim a entender a severidade e, ao mesmo tempo, a proporção do castigo divino (14.32-35). Os primeiros a receberem aquele castigo foram os que, havendo podido contemplar a Terra Prometida dada por YHWH, causaram o desânimo e os protestos do povo, quer dizer, os que havendo experimentado de algum modo o dom de YHWH, não souberam apreciá-lo, senão que o depreciaram e o desacreditou ante o povo (14.36-37).

O povo se arrependeu (14.39-45) mas era demasiadamente tarde. Uma vez mais, desobedeceram a YHWH, desobedecendo também a palavra que Moisés havia dito que ficariam quarenta anos no deserto, até que aquela geração desaparecesse como castigo por sua infidelidade e eles não entrariam na terra. Não se resignaram a essa situação. Sem o aval de YHWH e de Moisés, tentaram invadir a terra de assalto, confiando em suas próprias forças e o resultado veio a confirmar seu grande erro (14.44-45). A geração rebelde que saiu do Egito não entraria na Terra Prometida. Porém, YHWH levaria até lá seus filhos pequenos, aqueles que seus pais temiam perder se tentassem conquistar a terra (14.31).

1.7 Ordens sobre os sacrifícios, poderes dos sacerdotes e dos levitas – Números capítulos 15-19

1.7.1 Leis variadas – Números 15.1 – 41

O capítulo 15, em sua formulação, tem algo em comum que é, precisamente o olhar para o momento em que os filhos dos israelitas entrariam na terra que YHWH lhes daria por morada. Essas leis se completam com alguns relatos e normas sobre as prerrogativas dos sacerdotes e dos levitas, derivadas da escolha que YHWH tinha feito deles e das tarefas que lhes tinham sido designadas, conforme capítulos 16-19.

1.7.2 A rebelião de Coré - Números 16.1-50

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