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A evolução das condições de vida das famílias do setor sucroalcooleiro em Pernambuco: uma análise para o período de 1995 a 2009

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FACULDADE BOA VIAGEM

CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO

EMPRESARIAL

LARISSA MARTINS MAIA

A EVOLUÇÃO DAS CONDIÇÕES DE VIDA DAS FAMÍLIAS

DO SETOR SUCROALCOOLEIRO EM PERNAMBUCO: UMA

ANÁLISE PARA O PERÍODO DE

1995 A 2009

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LARISSA MARTINS MAIA

A EVOLUÇÃO DAS CONDIÇÕES DE VIDA DAS FAMÍLIAS

DO SETOR SUCROALCOOLEIRO EM PERNAMBUCO: UMA

ANÁLISE PARA O PERÍODO DE

1995 A 2009

Dissertação apresentada ao Centro de

Pesquisa e Pós-Graduação em

Administração da Faculdade Boa Viagem para qualificação do Mestrado Profissional em Gestão Empresarial.

Orientador: Profº. Dr. Augusto César de Oliveira

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus pela Misericórdia e ajuda. Nos momentos mais difíceis Ele sempre esteve presente, dando força, coragem e esperança para prosseguir a caminhada.

Ao professor e orientador, Augusto César de Oliveira, por acreditar no meu projeto, pela paciência, conhecimento e presteza na condução das pesquisas e trabalhos, pela perseverança e apoio, um agradecimento especial. Á Albina Simões, da Faculdade Boa Viagem, também pela ajuda e paciência. Ao professor Ary Júnior, um agradecimento também muito especial.

Ao meu filho Matheus, que tanto amo, pela compreensão durante minha ausência. Ele é quase sempre o estímulo que me leva à luta. Á minha querida mãe (in memorian) e ao meu pai, pelo imenso carinho e dedicação. Aos meus tios, Christina e Osório Abath, onde passei boa parte da minha adolescência e pude receber toda a base educacional e moral, pelo amor e dedicação a mim dedicados.

A Wilson Correia, pessoa muito especial, que me ajudou nos momentos mais difíceis desta trajetória. Pela imensa ajuda e orientações da amiga de todas as horas e doutoranda da Universidade Federal de Pernambuco, Lucilena Castanheira. Á Pollyana Jucá, também doutoranda PIMES-UFPE, pela grande ajuda na coleta dos microdados. Á minha grande amiga Alda Mello, pela força e estímulo. Aos meus grandes amigos Pedro Motta e Elyseu Rio Filho, pelo estímulo. Ao meu especial amigo Ivaldo Moraes. Ao amigo e professor Maurício Assuero da UFPE, pelas orientações.

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RESUMO

O assunto principal deste trabalho é a identificação e a análise da situação dos trabalhadores no setor sucroalcooleiro do Estado de Pernambuco, entre 1995 e 2009. O presente trabalho analisa, por meio de algumas variáveis selecionadas e pela utilização de Índices Parciais e Índices de Condições de Vida, a evolução das condições de vida desses trabalhadores. Os Índices Parciais são compostos por algumas variáveis que conseguem compor um aspecto da vida desses trabalhadores.

Como ponto de partida para esta análise, foi realizada uma revisão bibliográfica sobre o tema, em que o trabalho de BALSADI (2006) foi o marco inicial e teórico para o desenvolvimento das pesquisas. As informações criteriosamente tratadas foram elaboradas através dos microdados da PNAD – Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar, IBGE.

Foi utilizado o mesmo método e ponderações que o BALSADI (2006) usou, adaptado aos trabalhadores do setor sucroalcooleiro de Pernambuco. A abordagem desse setor dinâmico do estado foi feita e algumas questões interessantes sobre o contexto surgiram. Os dados foram tratados e, na medida do possível, realizadas análises para o levantamento das condições de vida dos trabalhadores das três sub-atividades que compõem o setor sucroalcooleiro. Dos microdados da PNAD, foram coletados a situação de domicílio, os serviços públicos básicos recebidos, os bens de consumo adquiridos e renda das famílias que trabalham com o cultivo da cana-de-açúcar, a fabricação do açúcar e a fabricação do álcool, sub-atividades estas que fazem parte do setor sucroalcooleiro. Desta forma, este trabalho é apresentado como forma de se entender um pouco mais sobre os trabalhadores desse setor, levantando algumas questões importantes, e deixando sugestões para que os órgãos e entidades possam melhor planejar e implementar novos projetos e novas políticas públicas.

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ABSTRACT

The main subject of this paper is the identification and analysis of the situation of workers in the alcohol sector in the State of Pernambuco. The period extends from 1995 to 2009. This work analyzes the sector, by means of some selected variables and by the use of Partial Indices and indices of living conditions, and the evolution of the living conditions of these workers. Partial indexes are comprised of some variables that can compose an aspect of the life of these workers, excluding education and health.

As a starting point for this analysis, a review of literature on the subject was carried out, in which the work of Balsadi (2006) was the first milestone and theoretical base for the development of research. The data were extracted from the micro-data PNAD – National Survey of Household Sampling, IBGE, and later treaties.

The same method and considerations that Balsadi (2006) used were employed, and adapted to workers in the sugar alcohol sector of Pernambuco. An analysis of this dynamic sector of the State was undertaken and some interesting questions about the context emerged. As far as possible, analyses were performed on living conditions of workers in three sub-activities that make up the alcohol sector. From micro-data from PNAD, were collected the situation of residence, access to basic public services, the access of these families for consumer goods and income of the families that work with the cultivation of sugar cane, sugar and manufacturing of alcohol, these sub-activities that are part of the sugar/alcohol sector. Thus, this work is presented as a way to understand more about the workers in that sector in Pernambuco, raising some relevant issues, and leaving suggestions to Federal, State and municipal entities, so that they can better plan and implement new projects and new public policies.

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SUMÁRIO

Pág

CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO ... 11

1.1 Objetivos ... 16

1.1.1 Objetivo geral ... 16

1.1.2 Objetivos específicos ... 16

CAPITULO 2 DESCRIÇÃO DO SETOR SUCROALCOOLEIRO ... 17

2.1 Setor sucroalcooleiro no Brasil ... 18

2.2 A agroindústria da cana-de-açúcar ... 23

2.3 Conjuntura atual do etanol no Brasil ... 33

2.4 Mecanização nacional da cana-de-açúcar ... 34

2.5 Setor sucroalcooleiro no Nordeste ... 37

2.6 Setor sucroalcooleiro em Pernambuco ... 40

2.7 Exportações do setor sucroalcooleiro ... 52

CAPITULO 3 O MERCADO DE TRABALHO DO SETOR SUCROALCOLEIRO ... 59

CAPITULO 4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 70

CAPITULO 5 METODOLOGIA ... 79

5.1 Limite e limitações ... 87

CAPITULO 6 ANÁLISE DOS DADOS ... 90

6.1 Análise dos indicadores dos domicílios no cultivo da cana-de-açúcar ... 92

6.1.1 Famílias rurais do cultivo da cana (trabalho permanente e temporário) ... 92

6.1.2 Famílias urbanas do cultivo de cana (trabalho permanente e temporário) 97 6.2 Análise dos domicílios na fabricação de açúcar (áreas rurais e urbanas) ... 104

6.3 Análise dos domicílios na fabricação do álcool ... 108

6.4 Análise dos domicílios do setor sucroalcooleiro ... 109

CAPITULO 7 CONCLUSÕES E SUGESTÕES ... 126

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LISTA DE TABELAS

Pág

Tabela 1 Produção de cana-de-açúcar por estado – 2009... 19

Tabela 2 Ranking dos países produtores de cana-de-açúcar – 2008 ... 21

Tabela 3 Produção Mundial de Alimentos – 2008... 21

Tabela 4 Trabalhadores por setor – Brasil... 24

Tabela 5 Trabalhadores da Indústria – 1995 a 2010... 26

Tabela 6 Participação das atividades industriais – Brasil... 27

Tabela 7 Área plantada de cana-de-açúcar (Hectares)... 29

Tabela 8 Rendimento médio da produção de cana-de-açúcar (ton/ha)... 29

Tabela 9 Quantidade produzida de cana-de-açúcar (ton)... 30

Tabela 10 Valor da produção (R$ 1.000) total das lavouras – Brasil e Regiões 32 Tabela 11 Valor da produção (R$ 1.000) de cana – Brasil e Regiões... 32

Tabela 12 Área plantada por Mesorregiões... 41

Tabela 13 População da Mata Pernambucana - 2010... 43

Tabela 14 Trabalhadores das Mesorregiões Pernambucanas ... 45

Tabela 15 Trabalhadores Setor Sucroalcooleiro Mata Pernambucana... 45

Tabela 16 Os 10 estados com a maior quantidade de estabelecimentos ... 49

Tabela 17 Estabelecimentos das Mesorregiões Pernambucanas... 49

Tabela 18 Estabelecimentos da Zona da Mata Pernambucana ... 50

Tabela 19 Produção de açúcar e álcool safra 2010/2011 – Usinas de PE... 51

Tabela 20 Exportações do Açúcar em valor (US$) quantidade (ton) - Brasil, Nordeste e Pernambuco... 56

Tabela 21 Exportações do Álcool em valor (US$) quantidade (m3) – Brasil, Nordeste e Pernambuco... 57

Tabela 22 Participação (%) do Açúcar e do Álcool no total das exportações do Brasil... 58

Tabela 23 Participação (%) do Açúcar e do Álcool nas Exportações de Pernambuco - 1995 a 2011... 59

Tabela 24 Remuneração média do Setor Sucroalcooleiro por Região... 62

Tabela 25 Remuneração média de algumas atividades da Indústria, por Região – 2009... 63

Tabela 26 Rendimento médio da produção (ton/ha)... 64

Tabela 27 Número de trabalhadores no setor sucroalcooleiro por Regiões brasileiras e por atividade ... 65

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Tabela 30 Trabalhadores do setor sucroalcooleiro da Zona da Mata

Pernambucana 1995/2010... 69

Tabela 31 Participação (%) da área colhida de cana nas mesorregiões pernambucana 2009... 70

Tabela 32 Número de observações da PNAD para as famílias na atividades da cana... 87

Tabela 33 Número de observações da PNAD para as famílias nas atividades do açúcar e do álcool... 88

Tabela 34 Índice Parcial de Bens (INDBENS)... 96

Tabela 35 Resultado dos Índices Parciais e do ICV – 2009... 97

Tabela 36 Índices do trabalho permanente Rural e Urbano... 98

Tabela 37 Melhoria do INDBENS das Famílias Urbanas... 100

Tabela 38 Participação (%) das Exportações do Açúcar e do Álcool sobre as exportações totais de Pernambuco... 105

Tabela 39 Famílias rurais e urbanas do açúcar... 106

Tabela 40 INDBENS e Índice Parcial do Setor Sucroalcooleiro ... 111

Tabela 41 Remunerações mínima e máxima do setor... 113

Tabela 42 Resultados de Balsadi – ranking dos melhores ICVs... 116

Tabela 43 Resultados de Balsadi – ranking dos piores ICVs... 116

Tabela 44 Comparação: ICV Pernambuco / ICV Nordeste ... 117

Tabela 45 Índice de Condições de Vida (ICV) das Famílias Rurais dos Empregados Permanentes do cultivo da cana... 118

Tabela 46 Índice de Condições de Vida (ICV) das Famílias Rurais dos Empregados Temporários do cultivo da cana... 119

Tabela 47 Índice de Condições de Vida (ICV) das Famílias Urbanas dos Empregados Permanentes do cultivo da cana... 120

Tabela 48 Índice de Condições de Vida (ICV) das Famílias Urbanas dos Empregados Temporários do cultivo da cana... 121

Tabela 49 Índice de Condições de Vida (ICV) das Famílias Urbanas na Fabricação de Açúcar... 122

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Tabela 51 Índice de Condições de Vida (ICV) das Famílias na Fabricação do

Álcool... 124

Tabela 52 Índice de Condições de Vida (ICV) das Famílias no Setor Sucroalcooleiro... 125

Tabela 53 Índices de Condições de Vida (ICV) de todas as atividades e Setor Sucroalcooleiro... 131

LISTA DE FIGURAS E GRÁFICOS Pág Figura 1 Áreas de produção de cana-de-açúcar... 38

Gráfico 1 Evolução do emprego total no Brasil na Indústria de Transformação.. 23

Gráfico 2 Evolução da área colhida de cana-de-açúcar (Hectares)... 28

Gráfico 3 Participação (%) das Regiões sobre a quantidade de área plantada de cana-de-açúcar ... 31

Gráfico 4 Evolução do número de trabalhadores dos sub-setores da Zona da Mata... 47

Gráfico 5 Últimas safras pernambucanas do Setor Sucroalcooleiro... 51

Gráfico 6 Evolução das Exportações do Açúcar (ton)... 54

Gráfico 7 Saldo do emprego da Agropecuária... 59

Gráfico 8 Evolução do número de trabalhadores do Setor Sucroalcooleiro brasileiro... 66

Gráfico 9 Produção de cana-de-açúcar em Pernambuco – 1995 a 2009 ... Gráfico 10 Participação (%) da área colhida de cana nas mesorregiões pernambucanas – 2009... 70

Gráfico 11 Evolução dos itens do INDDOM... 93

Gráfico 12 Evolução (%) da quantidade de famílias no trabalho temporário de posse dos serviços públicos... 94

Gráfico 13 Evolução percentual da quantidade de famílias no trabalho permanente de posse dos serviços públicos... 94

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Gráfico 15 INDRENDA das famílias rurais em trabalho permanente e

temporário... 97 Gráfico 16 Evolução dos Índices Parciais de Serviços Públicos – Rural e

Urbano... 99 Gráfico 17 Evolução do INDRENDA para as Famílias Urbanas e Rurais do

Trabalho Permanente... 101 Gráfico 18 Evolução da quantidade de domicílios com telefone - emprego

temporário urbano e rural... 103 Gráfico 19 Evolução do INDRENDA das famílias urbanas e rurais do trabalho

temporário... 103 Gráfico 20 INDDOM: Evolução das Famílias com domicílio próprio... 106 Gráfico 21 Evolução das Condições dos Serviços Públicos para as Famílias

Rurais... 107 Gráfico 22 Evolução do INDBENS dos domicílios das sub-atividades do setor

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CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO

A manutenção da atividade canavieira no Estado de Pernambuco é muito importante por absorver um grande contingente de mão-de-obra na região dos canaviais, diminuindo assim, significativamente, o êxodo rural para as cidades e evitando, desta forma, o agravamento dos problemas sociais relativos à elevada densidade demográfica dos centros urbanos (MORAES, 2007a).

A importância desse setor também é justificada pela influência do mesmo em outros setores da economia, tais como: indústria extrativa, indústria de transformação, energia elétrica, construção civil, comércio, transporte, armazenamento e telecomunicações, atividades financeiras, imóveis e serviços às empresas etc.

Pela importância que exerce sobre a economia de Pernambuco, qualquer acontecimento que afete o setor sucroalcooleiro torna-se relevante para o desempenho da produção global do Estado. Pode-se observar que o setor agroindustrial canavieiro pernambucano apresenta um comportamento instável nas últimas décadas.

Segundo Andrade (2001), iniciou-se por volta de 1875, um lento processo de extinção dos engenhos banguês, engenho estes que incluíam a moenda, a casa das caldeiras e a casa de purgar. Foram substituídos por usinas e engenhos centrais1.

De acordo com o mesmo autor, chamavam-se usinas as que tinham propriedade particular, e quando de empresas comerciais, geralmente estrangeiras, denominavam-se engenhos centrais. Os engenhos centrais foram fechados ou transformados em usinas após a proclamação da República. Apesar da crise dos anos 1920 houve elevação do número de usinas, isto apontava um certo dinamismo no processo usineiro. Contudo acentuaram-se as disputas entre os donos de usinas, fornecedores de cana e lavradores, levando o governo a criar o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA).

Outrossim, as destilarias governamentais também foram desativadas a fim de fortalecer as atividades de grupos econômicos privados.

1Os engenhos centrais não tinham diferença do ponto de vista técnico das usinas, mas sim do ponto

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O apelo à produção de energia renovável e menos poluente cresceu bastante no início deste século. Uma das grandes razões foi o constante aumento do preço do petróleo. Além disso, frente às evidências do aquecimento global, reconhecidas oficialmente pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas, a sociedade e vários governos reforçaram os estímulos a programas de substituição das fontes tradicionais e não renováveis de energia, como o petróleo e o carvão mineral (BACCARIN, 2009).

De acordo com o Relatório Renewables 2010 Global Status Report2, outras tecnologias, incluindo a energia hídrica, a energia de biomassa e a energia geotérmica estão crescendo a taxas de 3% a 6% anuais entre os anos de 2004 e 2005. Em vários países, no entanto, a taxa de crescimento das tecnologias de energias renováveis, é muito superior à média global. Os biocombustíveis também cresceram rapidamente. Para um período de cinco anos, o etanol e o biodiesel tiveram um crescimento médio anual de 20% e 51%, respectivamente. Os últimos dados do Relatório Renewables 2010 Global Status Report revelou que, em 2010, a taxa de crescimento médio do etanol foi de 10%.

De acordo com o relatório acima citado e outros referentes ao mesmo tema, a alternativa para o mundo será mesmo a produção de energia a partir de matérias-primas agrícolas (agroenergia), que são renováveis e absorvem dióxido de carbono no processo de fotossíntese. Neste caso, o Brasil já possui situação diferenciada, com a energia de biomassa, isto é, energia oriunda de materiais orgânicos, ocupando 29,7% da sua matriz energética, contra apenas 11% no mundo todo (MME3, 2006). Dos 29,7%, 13,8% são provenientes do etanol e do bagaço de cana, resíduo fibroso da moagem da cana-de-açúcar.

Quando da criação do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), em 1975, os produtos da cana-de-açúcar representavam apenas 4,6% da matriz energética nacional. De lá para cá, vários incentivos públicos, entre outros fatores, contribuíram para a ampliação do parque produtivo sucroalcooleiro e do consumo de álcool combustível, bem como do uso do bagaço de cana como fonte de energia elétrica.

2 A Rede de Políticas de Energia Renovável para o século 21 (REN21) foi concebida para

complementar a matriz dos esforços em andamento em todo o mundo para acelerar o uso adequado de energia renovável. A rede ajuda a criar um ambiente no qual as idéias e as informações são compartilhadas, e ações para promover a energia renovável são incentivadas, dado o reconhecimento positivo. Ao trabalhar em conjunto, os participantes da REN21 irão alavancar seus sucessos e reforçar a sua influência. REN21 é uma ação de follow-up chave para a Conferência Internacional sobre Energias Renováveis que teve lugar em Bonn, na Alemanha, em junho de 2004.

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Recentemente, o já citado aumento do preço do petróleo e o lançamento dos carros “flex fuel”, associados ao mercado favorável do açúcar, resultaram em grande expansão da produção setorial.

Falando um pouco mais sobre o Proálcool, a sua criação ocorreu em 1975, quando havia uma grave crise do petróleo. Já em 1973, os preços do petróleo no mercado internacional, eram equivalentes a US$ 2,91 por barril. Com a guerra do Yom Kippur4, graves crises foram geradas no Oriente Médio, com sérias perturbações de âmbito internacional, que levou à quadruplicação dos preços do petróleo (SHIKIDA; BACHA, 1999, p. 2).

O crescimento da demanda por petróleo, matéria-prima fundamental para o mundo industrializado, e os baixos investimentos realizados nessa área se refletiriam em breve na alta dos preços. Logo, o conflito árabe-israelense contribuiu para a crise do petróleo, mas não foi seu fator exclusivo.

Nesse período, de grande elevação dos preços do barril de petróleo, o Brasil dependia em 80% do petróleo oriundo do exterior. Por conseguinte, o ocorrido refletiu na importação do produto, pois correspondeu ao dispêndio de US$8,6 bilhões para a importação de petróleo referente ao triênio 1974-1976. Para efeito de cotejo, no triênio anterior o dispêndio com a importação de petróleo chegou a US$1,4 bilhão. Com o desequilíbrio das contas externas brasileiras, causado, em parte, pela crise do petróleo, as autoridades governamentais e fração do empresariado manifestaram interesse nas fontes alternativas para a substituição de alguns derivados do petróleo. Assim, foram propostos programas, como o Proóleo, o Procarvão e o Proálcool, mas apenas este último teve maior apoio e resultados (SHIKIDA; BACHA, 1999).

Em 1990, foi instituída a nova Política Industrial e de Comércio Exterior, que extinguiu a maior parte das barreiras não-tarifárias herdadas do período de substituição de importações e definiu um cronograma de redução das tarifas de importação.

O mercado de álcool, em especial, tem sido muito promissor devido à demanda elevada do álcool industrial (voltado ao segmento de bebidas, de cosméticos, farmacêuticas e de tintas e solventes) e do etanol (álcool combustível).

4 Guerra ocorrida em 1973 e envolveu o Egito e a Síria contra Israel. Como os judeus mantiveram as

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Existe uma tendência crescente da utilização de energias limpas com o objetivo de reduzir a emissão de CO2 no âmbito internacional e isso aumenta as perspectivas

favoráveis à expansão do mercado de etanol. Os carros bicombustíveis tornam-se cada vez mais populares, e o consumidor pode arbitrar entre o consumo de gasolina ou do álcool, de acordo com a relação dos preços desses combustíveis no mercado. O crescimento da produção de açúcar e álcool, devido ao aumento do uso de álcool combustível, tanto no Brasil quanto para atender a demanda externa, bem como por causa do crescimento das exportações de açúcar, traz ótimas perspectivas para o setor.

Uma das causas da aceleração da mecanização da colheita, foi a proibição da queima da cana-de-açúcar como método de despalha5, com impactos negativos sobre o número de empregados da lavoura canavieira, visto que serão criados empregos na indústria do açúcar e do álcool, mas haverá redução dos mesmos na área agrícola. Ademais, haverá mudança no perfil requerido do trabalhador agrícola, atualmente de baixa escolaridade (MORAES, 2007b).

O presente trabalho parte do estudo realizado por Balsadi (2006), em que são construídos e analisados, a partir dos dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), dois índices sintéticos calculados para os empregados permanentes e temporários, e respectivas famílias, residentes nas áreas rurais e urbanas das Grandes Regiões do Brasil, no período 1992-2004. São eles o Índice de Qualidade do Emprego (IQE) e o Índice de Condições de Vida (ICV).

Seguindo essa linha de raciocínio, a pesquisa propõe utilizar o mesmo método do autor supra citado, para desenvolver o ICV dos trabalhadores do Setor Sucroalcooleiro do Estado de Pernambuco. O autor utilizou os dois Índices citados no parágrafo acima para analisar a agricultura brasileira como um todo. A pesquisa em questão construirá apenas o ICV (Índice de Condições de Vida) excluindo o IQE (Índice de Qualidade do Emprego), que poderá também ser desenvolvido para o setor Sucroalcooleiro de Pernambuco a posteriori.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) disponibiliza a usuários interessados os microdados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de

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Domicílios)6. O período utilizado para o atual estudo vai desde o ano de 1995, quando o Brasil já possuía a sua atual medida monetária7, o Real, em 2009, ano da última PNAD realizada. Os dados foram extraídos e analisados ano a ano, para a elaboração do ICV, Índice de Condições de Vida (ICV). O Índice elaborado por Balsadi partiu de 17 indicadores selecionados, de forma a mensurar quatro dimensões de grande relevância no cotidiano das famílias: as características do domicílio; o acesso aos serviços públicos; o acesso aos bens duráveis; e a renda média familiar. Os resultados evidenciaram um quadro de importantes melhorias que, obviamente, não foram homogêneas para todas as regiões, culturas selecionadas, categorias de trabalhadores e tipos de famílias analisadas.

Vale ressaltar que as condições de trabalho em todo o Brasil são bem diversas, com notável desigualdade regional. Balsadi (2006) analisa a agricultura como um todo, o nosso trabalho se restringe à produção da cana-de-açúcar e fabricação de açúcar e álcool, o que representa o Setor Sucroalcooleiro, para um período de 15 anos (1995 a 2009).

6 Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD investiga anualmente, de forma permanente,

características gerais da população, de educação, trabalho, rendimento, habitação e outras, com periodicidade variável, de acordo com as necessidades de informação para o País, como as características sobre migração, fecundidade, nupcialidade, saúde, segurança alimentar, entre outros temas. O levantamento dessas estatísticas constitui, ao longo dos 42 anos de realização da pesquisa, um importante instrumento para formulação, validação e avaliação de políticas orientadas para o desenvolvimento socioeconômico e a melhoria das condições de vida no Brasil. Acesso <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/PNAD2009/default.shtm>

7 Após sucessivas trocas monetárias (réis, cruzeiro, cruzeiro novo, cruzado, cruzado novo,

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1.1 – Objetivos

1.1.1 – Objetivo Geral

Estudar a evolução das condições de vida das famílias que trabalham no setor sucroalcooleiro pernambucano, no período que se estende de 1995 a 2009.

1.1.2 – Objetivos Específicos

A análise parte da verificação de que as áreas colhidas de cana-de-açúcar, a quantidade produzida e o valor da produção vêm aumentando, a exportação do açúcar bruto continua sendo o principal produto na pauta de exportação pernambucana, mas as condições de vida do trabalhador do setor sucroalcooleiro, provavelmente não acompanham esse crescimento do setor.

Para se chegar aos resultados, torna-se necessário:

a) verificar a evolução do acesso dessas famílias aos serviços públicos b) verificar a evolução das características dos domicílios

c) verificar a evolução do acesso aos bens duráveis d) verificar a evolução da renda média

e) construir os Índices Parciais

f) construir o Índice de Condições de Vida (ICV)

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CAPÍTULO 2- DESCRIÇÃO DO SETOR SUCROALCOOLEIRO

De acordo com Bressan (2010), quando se examina a composição das fontes primárias de energia que formam a composição da matriz energética do Brasil, a necessidade de investimentos em energias renováveis fica ainda mais evidente. Dados do Ministério de Minas e Energia mostraram os seguintes percentuais de participação no ano de 2007: i) 37,4% de Petróleo; ii) 9,3% de Gás natural; iii) 6,0% de Carvão mineral; iv) 1,4% de Urânio; v) 14,9% Hidroelétrica; vi) 3,2% de Outras energias renováveis; vii) 12,0% de Madeira (lenha e carvão vegetal) e viii) 15,7% de cana-de-açúcar.

Além do mais, o Brasil tem para a geração de energia elétrica, um arcabouço legal amplo e disciplinado. De acordo com o autor, o volume de investimentos para a expansão da matriz energética brasileira deve, até o ano de 2030, chegar a US$ 804 bilhões, sendo 4% do total proveniente do setor sucroalcooleiro, ou seja, aproximadamente, US$ 32,1 bilhões.

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2.1 – Setor Sucroalcooleiro no Brasil

A cana-de-açúcar é originária do sudeste da Ásia e cultivada em uma extensa área territorial, compreendida entre os paralelos 35º de latitudes Norte e Sul, apresentando melhor rendimento em climas tropicais.

Ela foi trazida ao Brasil em 1532 por Martim Afonso de Sousa e passou a ter grande importância para o País8. Inicialmente, seu principal pólo de produção era a Zona da Mata nordestina, tendo depois se expandido pela região Sudeste, notadamente no Estado de São Paulo. Hoje, quase todos os estados brasileiros produzem cana, mas o maior estado produtor ainda é São Paulo, com quase 58% da produção nacional. Na Tabela 1, dados da PAM9/IBGE mostram que Pernambuco encontra-se na sétima posição quando se fala na produção de cana-de-açúcar em toneladas. O estado de Alagoas é o primeiro estado nordestino em produção, com uma participação de 4% do valor total da produção de cana-de-açúcar no Brasil.

O clima ideal para a produção da cana-de-açúcar é aquele que apresenta duas estações distintas: uma quente e úmida para proporcionar a germinação, perfilhamento e desenvolvimento vegetativo; seguida de outra fria e seca, para promover a maturação e conseqüente acumulo de sacarose.

A época de plantio ideal para a região Centro-Sul é de janeiro a março, enquanto na Região Norte-Nordeste vai de maio a julho. A importância da cana de açúcar pode ser atribuída à sua múltipla utilização, podendo ser empregada sob a forma de forragem, para alimentação animal, ou como matéria prima para a fabricação de açúcar, álcool, rapadura, melado e aguardente.

8 Segundo Bertotti, Ness e Massuquetti (2009) o Setor Sucroalcooleiro é considerado a mais antiga

atividade econômica do Brasil. Foi o primeiro produto exportado a partir do final do século XVI, de acordo com os autores, o cultivo da cana-de-açúcar e a fabricação do açúcar, foram, no período mencionado, as atividades econômicas mais tradicionais no Brasil Colônia.

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Tabela 1 – Produção de cana-de-açúcar por estado – 2009

Unidade da Federação Quantidade (ton) Participação (%)

São Paulo 408.451.088 59,1

Minas Gerais 58.384.105 8,4

Paraná 53.831.791 7,8

Goiás 43.666.585 6,3

Alagoas 26.804.130 3,9

Mato Grosso do Sul 25.228.392 3,6

Pernambuco 19.445.241 2,8

Mato Grosso 16.209.589 2,3

Rio de Janeiro 6.481.715 0,9

Paraíba 6.302.570 0,9

Espírito Santo 5.249.775 0,8

Bahia 4.630.196 0,7

Rio Grande do Norte 4.259.996 0,6

Maranhão 2.824.701 0,4

Sergipe 2.607.155 0,4

Ceará 2.323.937 0,3

Rio Grande do Sul 1.254.475 0,2

Piauí 859.513 0,1

Santa Catarina 699.068 0,1

Pará 698.845 0,1

Tocantins 664.284 0,1

Amazonas 368.050 0,1

Rondônia 253.277 0,0

Total 691.606.147

Fonte: Elaboração da autora. PAM/IBGE, 2009

Nota: A participação percentual do Distrito Federal, Acre, Amapá e Roraima é quase 0 (zero)

Atualmente, a principal destinação da cana-de-açúcar cultivada no Brasil é a fabricação de açúcar e álcool. O setor sucroalcooleiro é parte importante do agronegócio brasileiro, além de ser referência para os demais países produtores de açúcar e álcool.

A cana-de-açúcar é a matéria-prima que permite os menores custos de produção de açúcar e álcool, em especial porque a energia consumida no processo é produzida a partir dos seus próprios resíduos (Balanço Nacional da Cana-de-açúcar e Agroenergia10, 2007).

Em documento do IPEA11 (1998) chamado Relatório de Competitividade do Agribusiness Brasileiro, é mencionado que a partir dos anos 1970, o Sistema

10 Relatório extraído do MAPA (Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Disponível em:

http://www.agricultura.gov.br. Acesso em: 03/10/2010.

11 Documento do IPEA (Instituto de Pesquisa de Econômica Aplicada), utiliza a abordagem sistêmica

(20)

20

Agroindustrial da cana passou por importante transformação, deixando de ser exclusivamente voltado para o setor de alimentos, para destinar-se ao setor energético, através do Proálcool. Fomentou o destino da cana para produção de combustível, tendo efeito positivo no aumento da competitividade do sistema como um todo. As escalas de produção e moagem de cana cresceram assim como ganhos importantes em produtividade foram atingidos. Em pouco tempo, o país criou uma ampla rede de distribuição de álcool hidratado, adaptou pioneiramente veículos, desenvolveu tecnologias para uso do álcool anidro como aditivo para combustíveis e, tão rapidamente quanto produziu inovações institucionais e organizacionais, viveu o aparente declínio e descrédito da sociedade brasileira no uso energético da cana, justamente quando as preocupações mundiais passaram a ser as questões da sustentabilidade e emprego.

A produção de cana-de-açúcar no Brasil tem uma importância econômica para o país desde o período colonial até os dias atuais. Desde muito cedo, percebeu-se a aptidão brasileira no cultivo desse produto agrícola, devido às condições climáticas favoráveis e à adequação da terra na produção da cultura. O Brasil apresenta vantagens comparativas na produção de cana-de-açúcar que proporcionam uma maior competitividade do açúcar brasileiro e, mais recentemente, do álcool, no mercado internacional. De acordo com os dados da FAO12 em 2008 o Brasil lidera o ranking na produção de cana-de-açúcar, com 645.300.000 toneladas métricas, seguido da Índia, com 348.188.000 MT, e da China, com 124.917.502 MT. Em termos de valor da produção, o Brasil alcança US$ 13,3 bilhões (FAO, 2008), acima da Índia, China, Tailândia e Paquistão (ver quadro abaixo). A tabela 2 abaixo mostra que a cana-de-açúcar é a segunda commodity13 mais produzida no ranking, perdendo apenas para a carne bovina, vindo depois a soja em terceiro lugar e a carne de frango, em quarta posição (FAO, 2008).

este sistema são o açúcar, o álcool e outros subprodutos (bagaço de cana, vinhaça e levedura). Acesso em: 06/01/2011.

12 Dados extraídos FAO (Food And Agriculture Organization of The United Nations) Disponível em:

<http://faostat.fao.org/desktopdefault.aspx?pageid=339&lang=en&country=21> Acesso em: 24/10/2010.

13 Mercadoria em estado bruto ou produto básico de importância comercial, como café, cereais,

(21)

21

Tabela 2 – Ranking dos países produtores de cana-de-açúcar – 2008

Ranking Área Produção (US$ 1.000) Produção (ton)

1 Brasil 13.299.034 645.300.182

2 Índia 6.725.632 348.187.900

3 China 2.482.336 124.917.502

4 Tailândia 1.526.628 73.501.610

5 Paquistão 1.194.856 63.920.000

6 México 1.061.490 51.106.900

7 Colômbia 738.608 38.500.000

8 Austrália 677.540 32.621.113

9 Argentina 622.061 29.950.000

10 Indonésia 540.020 26.000.000

Fonte: Elaboração da autora. FAO, 2008

Tabela 3 - Produção mundial de alimentos – 2008

Ranking Commodity Produção

($1.000)

Quantidade (ton)

1 Carne bovina 18.727.175 9.054.468

2 Cana-de-Açúcar 13.299.034 645.300.182

3 Soja 12.360.728 59.242.480

4 Carne de frango 11.948.791 10.243.987

5 Leite 7.261.109 27.579.383

6 Laranja 3.257.882 18.538.084

7 Carne suína 3.053.255 3.015.114

8 Arroz 2.522.762 12.061.465

9 Café 2.286.655 2.796.927

10 Algodão 1.953.551 1.315.984

11 Milho 1.925.338 58.933.347

12 Tabaco 1.551.665 851.058

13 Feijão 1.438.764 3.461.194

14 Ovos de galinha 1.302.133 1.844.670

15 Bananas 997.306 6.998.150

16 Mandioca 962.110 26.703.039

17 Tomate 916.363 3.867.655

18 Trigo 877.289 6.027.131

19 Uva 659.401 1.421.431

Fonte: Elaboração da autora. FAO, 2008

(22)

22

tendência de crescimento do preço mundial do petróleo, aliada à necessidade de redução de emissão de poluentes na atmosfera e ao grande volume de vendas dos veículos biocombustíveis deverá impulsionar, de forma crescente, as demandas interna e externa por álcool, sendo necessário grande volume de investimento. Com relação ao açúcar, a perspectiva também é de demanda mundial crescente, influenciada diretamente pelo crescimento do consumo mundial de açúcar em nível de 2% ao ano e pelas perspectivas de redução do produto em países que estão investindo na produção de álcool combustível em detrimento de incrementos na produção de alimentos (VIDAL; SANTOS J.; SANTOS M., 2006).

Segundo Zanão (2009) as projeções do setor sucroalcooleiro no Brasil indicam que, nos próximos 13 anos, a produção será de cerca de 1 bilhão de toneladas de cana-de-açúcar, cerca de 45 milhões de toneladas de açúcar e 65,3 bilhões de litros de álcool.

Conforme a autora, os números apontados, no entanto, estão ameaçados pela inadequação de portos, rodovias e ferrovias brasileiras. O impacto do entrave logístico sobre o setor é enorme, a infraestrutura rodoviária existente no Brasil não oferece condições para uma expansão significativa do mercado, o modal ferroviário não se apresenta competitivo para atender toda a demanda e os modais fluvial e dutoviário ainda são pouco representativos para o setor. As empresas do setor sucroalcooleiro, objetivando buscar a integração da cadeia de transportes, independente do produto ou do modal que é utilizado, buscam estratégias inovadoras com uma infraestrutura que garanta eficiência e competitividade nos custos logísticos. O setor tem investido em aumento na capacidade de tancagem das usinas, em terminais portuários modernos com grande capacidade de estocagem e altos índices de produtividade, e vem estudando alternativas intermodais para o escoamento da safra de açúcar e de álcool.

(23)

23

2.2 – A agroindústria da cana-de-açúcar

Em termos setoriais destaca-se a perda de participação da Indústria de Transformação no Brasil, cujo emprego caiu entre 1995 e 2000. No primeiro ano mencionado eram 4.897 mil e em 2000, 4.885 mil trabalhadores (Tabela 4). Após leve queda, o setor volta a se recuperar, e houve novo crescimento em 2010, empregando 7.885 mil trabalhadores na indústria de transformação.

Gráfico 01– Evolução do emprego total no Brasil na Indústria de Transformação

0 5.000.000 10.000.000 15.000.000 20.000.000 25.000.000 30.000.000 35.000.000 40.000.000 45.000.000 50.000.000

1995 2000 2005 2010

Ano

T

ra

b

al

h

ad

o

re

s

Indústria de Transformação Total

Fonte: Elaboração da autora. RAIS/MTE, 2010

(24)

24

Tabela 4 – Trabalhadores por setor – Brasil

Setores 1995 2000 2005 2010

Extrativa mineral 109.095 109.608 147.560 211.216

Indústria de Transformação 4.897.517 4.885.361 6.133.461 7.885.702 Serviços Industriais de Utilidade

Pública 378.208 290.352 341.991 402.284

Construção Civil 1.077.735 1.094.528 1.245.395 2.508.922

Comércio 3.340.398 4.251.762 6.005.189 8.382.239

Serviços 7.230.086 8.640.455 10.510.762 14.345.015

Administração Pública 5.458.022 5.882.565 7.543.939 8.923.380 Agropecuária, Extração Vegetal,

Caça e Pesca 1.007.480 1.072.271 1.310.320 1.409.597

Total 23.755.736 26.228.629 33.238.617 44.068.355

Fonte: Elaboração da autora. RAIS/MTE, 2010

A quantidade de trabalhador da Indústria de produtos alimentícios e bebidas e álcool etílico (usinas) possui a maior representatividade na Indústria de Transformação como um todo, com uma participação em 2010 de 22,3%, ou seja, eram 1.755 mil trabalhadores (Tabela 6); em segundo lugar, vem a indústria têxtil do vestuário e artefatos de tecidos, com uma participação percentual de 13,1%; em terceiro a indústria química de produtos farmacêuticos, veterinários, perfumaria etc, com a participação de 11,4%. Destaca-se também o emprego na indústria metalúrgica e material de transporte, com as participações de 7,2% e 7,4%, respectivamente, de todo o emprego na Indústria Brasileira. Destaca-se ainda que estes indicadores podem refletir tanto uma expansão do emprego total dos setores como um processo de maior formalização das relações trabalhistas, uma vez que a RAIS14 considera apenas o emprego formal. O setor de açúcar e álcool nacional tem passado por profundas alterações nos anos recentes, com impactos importantes sobre a organização setorial, estratégias empresariais e sobre o mercado de trabalho. Dentre as principais mudanças ocorridas citam-se a desregulamentação do

14 RAIS é a Relação Anual de Informações Sociais, um importante instrumento de coleta de dados,

(25)

25

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26

Tabela 5 - Trabalhadores da Indústria – 1995 a 2010

Indústria 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Produtos de minerais não

metálicos 239.752 242.181 259.608 261.376 266.091 273.819 273.234 282.486 278.549 293.209 308.861 321.177 340.850 358.869 369.736 410.734

Metalúrgica 514.985 491.064 502.694 460.610 473.929 481.943 500.317 511.911 529.627 588.738 603.961 647.335 712.045 746.994 720.968 796.617

Mecânica 298.290 280.129 269.842 251.172 254.208 278.480 290.405 302.876 313.297 350.640 366.600 415.775 482.620 515.379 502.063 566.490

Material elétrico e de

comunicaçoes 213.875 207.017 185.149 173.701 171.911 191.978 184.660 182.065 185.896 210.559 225.437 243.071 267.294 269.401 261.793 281.779

Material de transporte 316.605 308.628 313.816 278.609 276.994 296.823 300.724 316.414 331.629 385.305 411.394 437.293 495.278 524.544 513.326 583.777

Madeira e mobiliário 332.109 338.843 363.573 345.799 374.400 396.501 390.308 415.004 412.757 450.011 429.044 443.034 451.969 439.846 432.645 468.744

Papel, papelão, editorial e

gráfica 318.206 314.129 307.033 299.009 297.850 308.626 306.476 307.540 307.829 324.878 338.155 360.367 372.058 385.555 386.324 406.074

Borracha, fumo, couros,

peles, similares e diversas 237.741 226.201 219.999 210.155 207.496 220.775 228.113 239.222 247.935 275.326 277.578 298.529 305.925 306.841 300.763 327.271

Química, produtos farmacêuticos, veterinários

e perfumaria 487.155 478.343 483.532 459.368 475.718 509.646 523.639 547.399 563.697 610.457 635.730 673.587 689.686 715.515 730.106 902.703

Têxtil 688.275 662.441 620.544 605.307 641.519 702.094 704.751 732.559 729.697 796.482 833.365 874.488 929.387 955.408 966.764 1.036.949

Calçados 196.462 202.768 182.687 184.725 211.582 240.392 248.829 262.537 272.124 312.579 298.659 306.791 316.508 306.584 319.174 348.691

Produtos alimentícios,

bebidas e álcool etílico 1.054.062 1.045.641 995.279 947.162 952.195 984.284 1.025.006 1.109.761 1.183.122 1.328.673 1.404.677 1.573.336 1.718.547 1.785.904 1.857.422 1.755.873 Total 4.897.517 4.797.385 4.703.756 4.476.993 4.603.893 4.885.361 4.976.462 5.209.774 5.356.159 5.926.857 6.133.461 6.594.783 7.082.167 7.310.840 7.361.084 7.885.702

(27)

27

Indústria Participação (%)

Produtos minerais não metálicos 5,2%

Metalúrgica 10,1%

Mecânica 7,2%

Material elétrico e de comunicações 3,6%

Material de transporte 7,4%

Madeira e mobiliário 5,9%

Papel, papelão, editorial e gráfica 5,2% Borracha, fumo, couros, peles, similares,

diversas 4,2%

Química, produtos farmacêuticos,

veterinários, perfumaria 11,4%

Têxtil 13,1%

Calçados 4,4%

Produtos alimentícios, bebidas e álcool

etílico 22,3%

Tabela 6 – Participação das atividades industriais - Brasil

Fonte: Elaboração da autora.RAIS/MTE, 2010

De acordo com a Pesquisa Agrícola Municipal (PAM/2009), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cultura da cana-de-açúcar é a terceira mais importante na agricultura brasileira em termos de área colhida, ficando atrás apenas da soja (21,7 milhões de hectares) e do milho (13,7 milhões de hectares). Em 2009, foram colhidos 8,5 milhões de hectares de cana-de-açúcar no Brasil, o que representa 14,6% da lavoura temporária do país e 13,2% de toda a lavoura brasileira. Em termos de valor bruto da produção agrícola, no entanto, a cana-de-açúcar salta para o segundo lugar, no mesmo ano, superando a cultura do milho. De acordo com a PAM, em 2009 a produção da cana-de-açúcar alcançou, sozinha, o valor de R$ 24 bilhões, contra R$ 38 bilhões da soja e R$ 15 bilhões do milho.

A dimensão da fronteira agrícola da cana-de-açúcar é uma importante variável para se verificar a evolução do seu cultivo. Todavia, um indicador mais robusto é referente à quantidade da produção colhida. O gráfico abaixo apresenta a evolução da área colhida no Brasil, em hectare. A Tabela 7, na sequência, registra a expansão15 da área plantada de cana-de-açúcar no Brasil, que cresceu de 4.638 mil

15 Não há intenção de tratar os principais determinantes dessa expansão, no entanto há uma farta

(28)

28

hectares em 1995 para 8.756 mil hectares em 2009, principalmente no Sudeste, em relação do Nordeste. De acordo com a Tabela 8, a região Nordeste registrou uma queda de 8,4%, na análise desse mesmo período. Em relação aos aumentos ocorridos no Brasil e no Sudeste, que foram de 88,8% e 113,2%, respectivamente, essa queda registrada pelo Nordeste foi pouco significativa. Esse aumento ao longo dos anos analisados, mostra que a atividade agrícola se movimenta para atender à forte demanda do setor sucroalcooleiro no Brasil.

Gáfico 2 – Evolução da área colhida de cana-de-açúcar (Hectares)

0 1.000.000 2.000.000 3.000.000 4.000.000 5.000.000 6.000.000 7.000.000 8.000.000 9.000.000 10.000.000

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 20042005 2006 2007 2008 2009

Brasil Nordeste Sudeste

Fonte: Elaboração da autora. PAM/IBGE, 2009

(29)

29

Brasil e Região

Geográfica 1995 200 9 Varia ção (%)

No rte 51.296 67.673 31,9

No rdeste 48.662 58.266 19,7

Brasil 66.614 78.860 18,4

Ce ntro-Oeste 70.295 83.195 18,3

Sul 74.417 85.940 15,5

Sudeste 73.685 81.719 10,9

Tabela 7 – Área plantada de cana-de-açúcar (Hectares)

Fonte: Elaboração da autora. PAM/IBGE, 2009

Em relação ao valor da produção, a cana-de-açúcar também registra forte crescimento quando se compara os anos analisados no projeto em questão, 1995 a 2009, com valores de R$ 4,1 bi e R$ 24 bi, respectivamente. O rendimento médio da produção de cana (quilogramas por hectare), em nível Brasil, também aumentou significativamente entre 1995 e 2009, passando de 66.614 kg/ha, em 1995, para 78.860 kg/ha em 2009; no entanto, foi na Região Norte o maior aumento relativo (31,9%), como mostra a tabela abaixo.

Tabela 8 – Rendimento médio da produção de cana-de-açúcar (ton/ha)

Fonte: PAM/IBGE, 2009

Quando se observam as diferenças regionais, é possível perceber que, em termos de participação, tanto na área total plantada como colhida, o Sudeste

Ano Brasil Nordeste Sudeste

1995 4.638.281 1.312.088 2.728.516

1996 4.830.538 1.208.454 2.954.922

1997 4.881.648 1.256.733 2.937.248

1998 5.049.953 1.251.348 3.059.432

1999 4.975.189 1.134.437 3.051.546

2000 4.879.841 1.132.965 2.980.099

2001 5.022.490 1.148.869 3.071.134

2002 5.206.656 1.140.685 3.147.560

2003 5.377.216 1.112.473 3.340.536

2004 5.633.700 1.137.706 3.517.384

2005 5.815.151 1.130.925 3.666.516

2006 6.390.474 1.134.645 4.155.564

2007 7.086.851 1.190.500 4.588.667

2008 8.210.877 1.277.481 5.367.621

(30)

30

ainda continua como a maior Região produtora. Em 2009, foi responsável por 66,4% da área plantada com cana-de-açúcar no Brasil. O Sudeste aumentou sua participação no período em questão, em 1995 ela respondia por 58,8% da área total plantada. Quando analisado a área colhida percebe-se um percentual de participação de 59,8% e de 66%, nos anos de 1995 e 2009, respectivamente. Em se tratando do valor da produção, o Estado com maior valor no Brasil está localizado na Região Sudeste: trata-se de São Paulo que, em 2009, respondeu por 53,5% do valor total produzido. Com o avanço deste estado, a Região Nordeste, que foi a terceira maior produtora nacional de cana-de-açúcar em 2009 (PAM/IBGE), vem perdendo espaço para regiões Sudeste e Centro-Oeste, no tocante à quantidade produzida em toneladas. Em 2008 e 2009, as participações percentuais da quantidade produzida de cana no Nordeste, em relação à produção nacional, foram de 11,5% e 10,4%, respectivamente, contra uma participação de 20% registrada em 1995. Essa queda deve-se à expansão da região Centro-Oeste, que vem aumentando sua participação percentual em relação à produção nacional, a cada ano (PAM/IBGE, 2009).

Tabela 9 - Quantidade produzida de cana-de-açúcar (ton)

Ano Brasil Norte Part. % Nordeste Part. % Sudeste Part. % Sul Part. % Centro-Oeste Part. %

1995 303.699.497 724.865 0,2 60.658.799 20 201.051.837 66,2 21.687.348 7,1 19.576.648 6,4 1996 317.105.981 472.591 0,1 53.778.920 17 215.644.015 68 24.645.355 7,8 22.565.100 7,1 1997 331.612.687 597.909 0,2 61.373.531 18,5 220.029.186 66,4 25.806.370 7,8 23.805.691 7,2 1998 345.254.972 795.818 0,2 63.286.467 18,3 226.642.135 65,6 28.074.824 8,1 26.455.728 7,7 1999 333.847.720 581.194 0,2 53.395.858 16 224.606.958 67,3 28.627.229 8,6 26.636.481 8 2000 326.121.011 915.508 0,3 58.856.060 18 217.208.153 66,6 24.659.973 7,6 24.481.317 7,5 2001 344.292.922 873.597 0,3 59.895.333 17,4 225.479.366 65,5 29.102.672 8,5 28.941.954 8,4 2002 364.389.416 794.672 0,2 59.725.897 16,4 241.149.595 66,2 29.814.531 8,2 32.904.721 9 2003 396.012.158 798.437 0,2 65.093.080 16,4 259.788.712 65,6 33.710.908 8,5 36.621.021 9,2 2004 415.205.835 955.837 0,2 65.499.357 15,8 276.593.030 66,6 34.271.981 8,3 37.885.630 9,1 2005 422.956.646 1.085.211 0,3 60.874.754 14,4 291.991.211 69 31.227.899 7,4 37.777.571 8,9 2006 477.410.655 1.287.166 0,3 63.182.425 13,2 332.553.607 69,7 35.744.385 7,5 44.643.072 9,4 2007 549.707.314 1.319.926 0,2 68.841.282 12,5 378.238.530 68,8 48.049.088 8,7 53.258.488 9,7 2008 645.300.182 1.597.337 0,2 74.155.804 11,5 445.735.240 69,1 53.432.111 8,3 70.379.690 10,9 2009 671.394.957 2.025.877 0,3 70.057.439 10,4 459.049.493 68,4 55.785.334 8,3 84.476.814 12,6

(31)

31

Gráfico 3 - Participação (%) das Regiões sobre a quantidade de área plantada de cana-de-açúcar

28,3% 58,8%

6,3% 6,2%

13,7% 66,4%

7,4% 12,0%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

1995 2009

Centro-Oeste Sul Sudeste Nordeste Norte

Fonte: Elaboração da autora. Dados do IBGE.

(32)

32

Tabela 10 – Valor da produção (R$ 1.000) total das lavouras – Brasil e Regiões

Ano 1995 2009 Ano 1995 2009

Brasil 21.395.160,00 114.096.359,00 Brasil 7.380.555,00 26.706.031,00 Norte 1.164.746,00 4.322.057,00 Norte 705.523,00 1.650.752,00 Nordeste 3.987.235,00 14.707.423,00 Nordeste 1.656.340,00 6.804.256,00 Sudeste 5.842.425,00 27.802.144,00 Sudeste 3.744.510,00 14.334.042,00 Sul 7.652.425,00 37.528.316,00 Sul 1.059.195,00 3.373.889,00 Centro-Oeste 2.748.330,00 29.736.423,00 Centro-Oeste 214.985,00 543.096,00

L a vo u ra P er m a n en te L av o u ra T em p o ri a

Fonte: Elaboração própria. Dados PAM/IBGE.

Tabela 11 – Valor da produção (R$ 1.000) de cana – Brasil e Regiões

Cana-de-açúcar 1995 2009

Brasil 4.127.665,00 23.990.924,00

Norte 25.685,00 199.654,00

Nordeste 1.217.807,00 3.689.073,00

Sudeste 2.264.470,00 15.093.814,00

Sul 292.641,00 1.941.302,00

Centro-Oeste 327.061,00 3.067.080,00

Fonte: Elaboração própria. Dados PAM/IBGE.

Deu-se, nos primeiros anos da década de 1990, o início ao processo de desregulamentação16 dos preços dos produtos do setor sucroalcooleiro. Tradicionalmente, as usinas e destilarias desse setor eram subsidiadas e protegidas pelo Estado, desde os tempos do Brasil colonial. Com a liberação do preço do açúcar, a qual estendeu-se para o preço do álcool anidro e depois para a cana e o álcool hidratado, os preços do setor sucroalcooleiro passaram a ser determinados pela lei de livre mercado e, desde então, o setor açucareiro tem passado por profundas transformações em um período relativamente curto de tempo. Bertotti; Ness e Massuquetti (2009 apud CARUSO, 2002) compartilham deste ponto de vista ao afirmar que

“os preços do açúcar brasileiro passaram a apresentar maior inter-relação com os preços do mercado internacional, mediante a desregulamentação das exportações (mantidas até 1994 sob um sistema de quotas tarifárias) e o aumento acentuado das exportações brasileiras de açúcar. Esses fatores têm indicado o

16 Com o governo Collor, a análise sobre a desregulamentação feita abrange o período entre março

(33)

33 estabelecimento de mecanismos de arbitragem entre os preços domésticos e externos de açúcar”

2.3 - Conjuntura atual do etanol no Brasil

O uso do etanol em escala no transporte nacional inicia-se com a implantação do Programa Nacional do Álcool, Proálcool, em 14 de novembro de 1975. De acordo com Rodrigues (2007) a produção de álcool passou, nessa época, na safra de 1975/1976, de 556 milhões de litros (UDOP, 2011)17, para os atuais 27,7 bilhões de litros (safra 2008/2009). Conforme a União da Indústria de cana-de-açúcar – UNICA (2011), o estado de São Paulo produziu 60,3% desse total, 16,7 bilhões de litros.

O etanol está sendo bastante demandado no Brasil e no Mundo. Em razão disto, o Governo Federal tem realizado esforços para garantir o equilíbrio de oferta e demanda de combustível, monitorando o abastecimento por meio de avaliações quinzenais dos estoques e dos preços. Diversos órgãos do Governo e entidades do setor produtivo e de abastecimento estão em reuniões permanentes com a missão de garantir o suprimento de produto em todo o território nacional.

De acordo com o mais recente Boletim Mensal dos Combustíveis Renováveis, do Ministério de Minas e Energia, de março/2011, desde 2003, o Governo Federal vem, sistematicamente, aumentando a oferta de recursos para o financiamento do setor, via BNDES, para a construção de usinas de etanol com o objetivo de aumentar a produção de etanol. Outra medida importante é a manutenção da diferenciação tributária, no plano federal, entre o etanol hidratado e a gasolina tipo C, privilegiando o combustível renovável.

O Boletim mencionado explicita alguns fatores que contribuíram para que os preços do etanol, neste começo de ano (2011), estivessem em patamares superiores aos verificados historicamente no período de entressafra da cana-de-açúcar (dezembro a abril) na região Centro-Sul, como:

i) Aumento do preço do petróleo no mercado internacional, que contribuiu para o aumento dos custos do plantio da cana-de-açúcar (combustíveis, fertilizantes etc);

17 União dos Produtores de Bionergia UDOP. Acesso:

(34)

34

ii) Aumento do preço do açúcar no mercado internacional, que gerou forte atrativo para se produzir açúcar (atingindo quase o limite da capacidade de produção), em detrimento do etanol, que remunerou menos durante a safra;

iii) Aumento expressivo da demanda por etanol no mercado interno devido ao incremento de quase 3 milhões de veículos flex-fuel na frota nacional de veículos leves;

iv) Fenômenos climáticos que proporcionaram uma quebra das duas últimas safras da cana-de-açúcar, quebra esta que prejudicou tanto a renovação quanto a expansão dos canaviais que garantiriam o aumento da produção de etanol;

v) E, finalmente, aumento da demanda da indústria química por etanol. O etanol de cana-de-açúcar produzido no Brasil apresenta custo de produção relativamente baixo, menor que o do etanol de milho dos EUA, por exemplo. Mostra-se também competitivo com a gasolina, se os preços de petróleo mantiverem-se acima de US$ 35/barril ou até menos (MACEDO, 2007).

Segundo Baccarin (2009), as condições favoráveis têm atraído novos investimentos ao setor sucroalcooleiro, chegando a se projetar a instalação no Brasil de 100 novas agroindústrias sucroalcooleiras. Tal euforia não deve impedir, ao contrário, que se realizem análises e questionamentos sobre a sustentabilidade da produção brasileira de álcool, mesmo por que há sérias controvérsias sobre seus pilares ambiental e social.

2.4 – Mecanização nacional da cana-de-açúcar

(35)

35

ineficiência na assistência técnica, com sérios reflexos na capacidade que ela tem de extrair a sacarose. Uma usina de São Paulo fez a primeira experiência importando uma máquina cortadora da Louisiana (EUA). Essa máquina importada deixava as canas cortadas no solo, e provocavam um carregamento com uma grande quantidade de raízes. Por outro lado, sua utilização permitiu que fossem detectadas algumas necessidades locais mais visíveis, como a de ter um equipamento que operasse em terrenos com forte declividade (VEIGA FILHO 1998b).

Entre 1980 e 1993, das pesquisas dirigidas às inovações, 40% delas estiveram centradas em pragas e doenças, 17% em mecanização agrícola e 15% em melhoramento genético e pesquisa biológica básica. Com a constatação de um número significativo e crescente também de projetos e/ou trabalhos em mecanização, houve uma demanda mais intensiva, por parte dos produtores, pela mecanização. Os pesquisadores estimaram as fontes de crescimento da produção de cana e da produtividade da força de trabalho e concluíram que o aumento da produção no período 1963-1990 podia ser explicado pelo aumento da produtividade da terra em 16%, pelo aumento da relação área/trabalhador em 34%, associada a tecnologias mecânicas, e em 50% pelo aumento da mão-de-obra empregada, associada ao aumento da área da cultura; e que o crescimento da produtividade da força de trabalho, era explicado em 32% pelo aumento da produtividade da terra e em 68% pela mecanização do processo produtivo.

Veiga Filho (1998a) aborda ainda que os últimos trabalhos realizados sugeriram um grande dinamismo tecnológico da cana-de-açúcar em São Paulo. Iniciaram-se em 1970 as primeiras introduções comerciais de colhedoras nesse Estado, mas devido a vários fenômenos pertinentes ao processo econômico do desenvolvimento da economia brasileira, e por outros fatores mais, sua utilização não foi crescente, permanecendo baixa, principalmente se comparada aos 100% de mecanização encontrada em outros países ou regiões canavieiras do mundo.

(36)

36

Escreveram Gonçalves e Souza (1998), sobre as pressões ambientalistas, que elas crescem também no seio da sociedade brasileira, como reflexo do desenvolvimento de um capitalismo nacional, onde parte da classe média, já internacionaliza hábitos de consumo e valores sociais, em decorrência do maior conhecimento sobre os efeitos no meio ambiente das explorações econômicas. O complexo sucroalcooleiro vem enfrentando esse desafio há várias décadas, num processo iniciado com o destino dos resíduos agroindustriais, passando pela própria lógica monocultora e, no momento atual, pela insistência na proibição da queima de cana. Segmentos organizados da sociedade da região canavieira paulista vêm pleiteando medidas governamentais restritivas da queima de cana, centrando a justificativa nos efeitos sobre a qualidade de vida em geral, seja no plano da saúde humana, seja sobre solo e clima, além da persistente condenação das condições de trabalho no corte de cana.

A proibição da despalha de cana por queima foi aplicada pelo Decreto de n° 42.056, de 06/08/1997, que, entre outras coisas, fixa um período de transição para que essa queima seja totalmente erradicada. Por meio desse instrumento legal, a redução da queima de cana na área mecanizável será efetuada no ritmo de 25% da área a cada dois anos, exigindo-se um mínimo de 10% de redução no primeiro ano, com o que a eliminação total demandaria oito anos. Já nas áreas não mecanizáveis, a redução bianual será 13,35%, mas em queda gradativa por quinze anos. Numa tentativa de proteger os fornecedores de cana que representam mais de 11 mil produtores no Estado de São Paulo, aqueles com área menor que 125 hectares, terão o mesmo tratamento dado à área não mecanizável.

(37)

37

vida dos habitantes. A produção por trabalhador tinha de ser suficientemente elevada para poder compensar o alto nível dos salários, e foi a mecanização quem conseguiu compensar, porque elevou a produtividade por trabalhador.

Nos últimos anos, uma profunda expansão do setor sucroalcooleiro, com o crescimento contínuo na produção de álcool, açúcar e da cana-de-açúcar, matéria-prima para esses produtos, tem sido observada nos resultados dos indicadores agrícolas e industriais. Este processo tem se dado em função de alguns fatores, tais como: elevado preço do petróleo, preocupações ambientais com a questão do aquecimento global, a necessidade de se buscar fontes de energia limpa e o surgimento do carro com motor flex-fuel.

O Brasil encontra-se na vanguarda do processo de busca de energia limpa. Além da forte presença das fontes hidrelétricas, o país é o único que possui um programa de larga escala de veículos com motores que utilizam fontes energéticas limpas e renováveis. A competitividade do etanol produzido de cana no Brasil é significativamente maior do que a dos demais produtores, destacando-se em relação ao etanol de milho dos EUA, tanto na questão do custo como do balanço energético. Salienta-se apenas que esta situação de vantagem pode ser contestável no futuro por avanços tecnológicos em outros países, com o desenvolvimento do etanol celulósico, por exemplo, ou ainda com o surgimento de outras fontes energéticas que se tornem competitivas como a célula de hidrogênio, entre outras. Em função dos fatos acima mencionados, a expansão do setor sucroalcooleiro deve permanecer expressiva nos próximos anos.

2.5 – Setor Sucroalcooleiro no Nordeste

(38)

38

Gerais, tem uma participação percentual bem menor, de 8,7% (58 milhões de toneladas de um total de 672 milhões toneladas). A Figura 1 mostra, nas regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste, as áreas de produção de cana, que visivelmente é muito concentrada em São Paulo e Zona da Mata de alguns estados do Nordeste.

Figura 1 – Áreas de produção de cana-de-açúcar

Fonte: UNICA (2011)

De acordo com o Sindaçúcar18 de Pernambuco (2010), desde a época do Proálcool19, o segmento sucroenergético no Nordeste teve expansão, porém limitada; cresceu mais nas terras alagoanas, especificamente na área norte, que são mais planas. Na Paraíba e Rio Grande do Norte, que possui áreas mais arenosas, também houve expansão. As áreas mais tradicionais da região Nordeste, que são tidas como áreas de relevo acidentado, conseguem crescer verticalmente, com alguns incrementos de produtividade, paulatinamente.

18 (Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco) Entrevista concedida pelo

diretor David Bezerra Filho

19 Vários programas foram criados, dentre eles o Programa de Racionalização da Agroindústria

(39)

39

A Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), mantém em Carpina, estado de Pernambuco a Estação Experimental de cana-de-Açúcar (EECAC), onde foi firmada, desde 1998, uma parceria público-privada entre Universidades integrantes da Rede Ridesa20 e os associados do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco – Sindaçúcar. Este convênio de pesquisa canavieira tem destaque para o melhoramento genético. O fruto dessa parceria foi o lançamento de dezoito novas culturas desenvolvidas para o Nordeste. Este novo cultivar foi chamado de “RB” e segundo a pesquisa já tem uma participação de 60% na região e que elevou a produtividade média do estado de Pernambuco em média 15 toneladas por hectare (CUNHA, 2010).

Ainda segundo Cunha (2010), a logística tem sido uma grande forma de minimizar e neutralizar parte dos custos mais altos da região Nordeste, onde prevalecem atividades agrícolas manuais e fortemente sociais, versus aquelas predominantes no centro-sul, onde existe mais estabilidade climática e consequentes reduções de gastos agrícolas nos “CCT’s” - Corte, Carregamento e Transporte (mecanização). Esta comparação entre essas duas regiões, a Nordeste e Centro-Sul, onde na primeira região em relação às condições de escoamento do produto ao exterior, a vantagem é a distância das usinas aos portos, em média apenas sessenta quilômetros até os terminais portuários.

De acordo com o Sindaçúcar, os portos de Natal/RN, Cabedelo/PB, Suape/Recife e Maceió/AL, apresentam, sobremaneira, menos gargalos do que os existentes nos portos do centro-sul. O Porto de Suape possui um eficiente processo de desembaraço de cargas, é considerado o mais novo do Nordeste, com investimentos para moderno terminal de açúcar refinado a granel, possibilitando-se maior valor agregado ao açúcar com destino ao norte da África e Mediterrâneo.

O terminal TAS (Terminal Açucareiro de SUAPE), com capacidade estática de 160 mil tons e cadência-hora de embarque de 750 toneladas, escoará o

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Tabela 6 – Participação das atividades industriais - Brasil
Tabela 7 – Área plantada de cana-de-açúcar (Hectares)
Gráfico 4 – Evolução do número de trabalhadores dos sub-setores da Zona da Mata
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