O QUE ESCONDE A
BATALHA DA CPMF
O voto a favor ou contra a CPMF depende apenas de
estar no governo ou na oposição.
A
CPMF foi criada em 1996, sob a liderança do PFL, atual Partido Democrata, que hoje defende sua extinção. Na época, seu líder na Câmara afirmou que o partido "vota 'sim' com o Brasil pela CPMF"; o líder do governo, também desse partido, recomendou "o voto 'sim' para esse projeto de maior importância para o Brasil" e o líder no Senado elogiou "o bom senso dos deputados federais que aprovaram a CPMF".Na primeira prorrogação, em 1997, na Câmara, o líder desse partido, que compunha a base governista, pediu urgência para o projeto e 93% dos deputados da bancada votaram pela prorrogação.
Na segunda prorrogação, em 1999, o autor e um dos relatores do projeto de prorrogação e de elevação da alíquota da CPMF (de 0,20% para 0,38%) no
Senado foram desse partido; na Câmara, o relator era desse mesmo partido e declarou que "a instituição da CPMF não trouxe conseqüências negativas à vida econômica nacional, não causou inflação, não acarretou desintermediação financeira, não ocasionou verticalização do sistema de produção, não afugentou o capital estrangeiro, não assustou as Bolsas de Valores( ... ); a experiência brasileira com a CPMF foi positiva ( ... )". Nessa ocasião, 100% da bancada daquele partido votou "sim".
Na terceira prorrogação, em 2001, a liderança do partido, que compunha o governo, recomendou votar "sim" pela prorrogação, e 97% da bancada acompanhou o líder. Na quarta prorrogação, em 2003, já na oposição, o PFL recomendou "não" e, na quinta prorrogação, em 2007, na oposição, os
do governo federal, que deseja incluí-lo em seu projeto de
criação de um IVA estadual.
O que mais intriga, no entanto, é saber por que o governo luta por um tributo como a CPMF, que alega ser ruim, como
afirmou recentemente o ministro Paulo Bernardo? Por que não a eliminam e compensam a arrecadação com aumento de tributos "bons" como o Imposto de Renda, o ICMS e a
Cofins não cumulativa?
A CPMF é um tributo eficaz, de baixo custo, transparente e, sobretudo, insonegável. Mas o governo não tem coragem de dizer isso, como fez a Receita Federal em 2001, quando
afirmou que o tributo é altamente produtivo, tem excelente relação custo-benefício, é o único a alcançar plenamente a economia informal ou ilegal e é moderno, pois alcança operações que estão se tornando comuns, como o comércio
eletrônico.
Acredito que a rejeição
à
CPMF se deva mais ao seu efeito "dedo-duro" do que a sua alegada cascata. Quando foiinstituída em 1996, a legislação da CPMF proibia, em nome do sigilo bancário, o cruzamento da movimentação financeira com o Imposto de Renda. Dizia o artigo 11 da lei
9.311/96, que "a Secretaria da Receita Federal resguardará ( ... )o sigilo das informações prestadas, vedada sua utilização para constituição de crédito tributário relativo a outras contribuições e impostos". Essa proibição foi extinta
com a lei 1 0.1 7 4/ 2001, e "o leão" passou a atemoriza r os contribuintes. A partir de então a oposição
à
CPMF seagigantou. •
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor
titular e vice-presidente da Fundação Getúlio Vargas. Internet: www.marcoscintra.org