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A volta da CPMF - Marcos Cintra
Revista Siderurgia Brasil
Outubro de 2011
A
VOLTA
DA CPMF
Se o governo revisasse suas prioridades orçamentárias e se as ma1·acutaias
fossem
evitadas,
a saúde pública poderia contar com mais verbas.
Marcos Cíntra'
regulamentação da Emenda Constltucio nal n• 29, que define limites mfnlmos para os gastos na saúde pública para a união, estados e munlcfplos. demandará um acordo entre o congresso e o governo visando a aumentar os re-cursos para o setor. As fontes alternativas que vêm
sendo aventadas se referem à elevação de algum
tributo já existente ou, o que
é
mais provável,à
re-criação da CPMF, agora denominada CSS (Contri-buição Social para a Saúde).
Cumpre dizer que a expectativa de criar mais um imposto ou, caso não se viabilize a CPMF, a pos-sibilidade de aumentar algum tributo já existente representam uma afronta ao contribuinte. A possf-vel elevação da atual carga de impostos é revol-tante em um pafs que já castiga impiedosamente a classe média, sendo que esse sentimento se torna mais agudo quando se vê que recursos são
des-perdiçados com gastos desnecessários como, por exemplo, o trem-bala, e que a corrupção endêmica
abocanhe parte expressiva do dinheiro público. Ou
seja. se o governo brasileiro se dispusesse a rever suas priondades orçamentárias e se as maracutaias tossem 9V1t8das, a saú<le pública podena contar com mais verbas orçamentárias.
Um aspecto importante na volta da CPMF é que,
toda vez que esse tributo
é
citado. geram-seco-mentários preconceituosos contra ele, mas do que poucos se dão conta é que esse imposto vom
em-Vlto Tanzi, um dos tributaristas mais renomados do mundo e ex-diretor do FMI, classificou o "imposto do cheque" com uma das mais Importantes inova-ções tributárias dos últimos anos.
A discussão sobre a CPMF deve envolver outros aspectos além da simples aferição de seus efeitos no setor de saúde. Durante sua vigência no Brasil, esse tributo não ampliou as distorções alocativas que impostos de qualquer natureza introduzem no sistema econômico. Pelo contrário, mesmo sendo cumulativo, ele gera menos distorção do que im-postos não-cumulativos. como o PIS/Colins, ICMS e IPI. Isso porque ele minimiza a evasão e, portan-to, exige alíquotas significativamente mais baixas para arrecadar. Além disso, a corrupção e os cus-tos operacionais são menores do que nos sistemas tributários convencionais, que são declaratórios e altamente burocratizados. O Banco Mundial vem
mostrando isso
à
exaustão.Infelizmente, a CPMF virá para se sobrepor ao ca-ótico e abusivo sistema tributário brasileiro. em vez de se tornar uma opção capaz de substituir outros
tributos. Trata-M c1A um hom imposto. só que em
má hora. O bom senso ind1ca que ele deveria ser rejeitado. Sempre combati sua recriação, não por suas características intrínsecas, que são altamente positivas, mas sim pela forma como foi utilizado e por ser visto apenas como mais um reforço para
polgando economistas e políticos ao redor do mun-do. Um exemplo recente do interesse pela tributa· ção sobre a movimentação financeira, chamada de
Tobin Tax, foi a carta assinada por um grupo de mil
econom1stas de 53 países indicando-o aos
m1n1s-tros das finanças do G-20. Já no Brasil o debate
envereda por interesses políticos menores, deixan-do de ladeixan-do questões centrais sobre essa revolucio-nária forma de exação tributária. Cumpre dizer que
ッイ。ウオ・セイ。N@
' Marcos Cintra
é
doutor emEconomia pela Universidade Harvard (EUA), professor titu-lar