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Fios e fibras: vivendo a privatização das telecomunicações do Rio de Janeiro

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Academic year: 2017

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL-CPDOC

CURSO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS

Fios e Fibras

Vivendo a privatização das Telecomunicações do Rio de Janeiro

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil - CPDOC Para obtenção do grau de Mestre em Bens Culturais e Projetos Sociais

Ana Christina Saraiva Iachan

Rio de Janeiro

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Ficha Catalográfica

Iachan, Ana Christina Saraiva

Fios e Fibras – Vivendo a privatização das Telecomunicações do Rio de Janeiro. Rio de

Janeiro: FGV / CPDOC/ Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais, 2006, 271 folhas.

Dissertação (Mestrado Profissionalizante em História Política, Bens Culturais e Projetos Sociais) – Fundação Getúlio Vargas - Rio de Janeiro. Pós-Graduação em História Política, Bens Culturais e Projetos Sociais – CPDOC, 2006.

1. Trabalhadores em Telecomunicações 2. Privatização 3. Trabalho 4. Telecomunicações do Rio de Janeiro

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL-CPDOC

CURSO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS

Fios e Fibras

Vivendo a privatização das Telecomunicações do Rio de Janeiro

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO APRESENTADO POR:

ANA CHRISTINA SARAIVA IACHAN

E APROVADO EM 03/08/2006 PELA BANCA EXAMINADORA

_________________________________________ Prof. Dr. Sérgio Tadeu de Niemeyer Lamarão (orientador)

_________________________________________ Profa. Dra. Marieta de Moraes Ferreira (CPDOC)

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AGRADECIMENTOS

Muitos foram os que colaboraram durante a caminhada para a realização deste trabalho. Essas contribuições vieram de diferentes formas e pessoas: agradeço a todos que se reconhecerem como parte dele.

Ao professor Sérgio Lamarão pelas orientações, incentivo e apoio, especialmente pela compreensão das dificuldades e desafios que encontrei.

Aos profs. Marieta de Moraes Ferreira e Rogério Valle, pelas observações e sugestões quando da realização do trabalho de qualificação.

A todos os professores do CPDOC-FGV com quem convivi e que me abriram novos horizontes de conhecimento.

Aos amigos, companheiros dessa jornada acadêmica, pelo estímulo e amizade em especial a Tatiana, Ivone, Giorgy e Silvana, pela parceria em alguns trabalhos, pela amizade e atenção.

A Ignês Cordeiro de Farias por ter-me proporcionado o conhecimento de campo da metodologia de História Oral e possibilitado a participação na entrevista do ministro Euclides Quandt de Oliveira que deu sustentação à pesquisa.

Às bibliotecárias Lígia e Denise , da biblioteca Mario Henrique Simonsen da FGV pela gentileza, atenção e presteza no atendimento às minhas inúmeras demandas. A todos os empregados da CTB/TELERJ/TELEMAR, que colaboraram com seus valiosos depoimentos, meu respeito e gratidão por toda a emoção que imprimiram a este trabalho. A Beatriz, Murilo, Marília, Pais, Ailton, D’Ajuz, Carlos Frederico, Sílvio, Sílvia, Glória, Suzana, Margareth e Regina, meu carinho.

Meu agradecimento a Fred Padilha, Ângela Nogueira e Paulo Rosário que enriqueceram com dados questões relevantes sobre a história da empresa.

Minha homenagem especial a Humberto D’Ângelo uma verdadeira personificação da história recente das comunicações, tendo participado desde 1955, perfazendo assim o próprio ciclo da empresa: privada estrangeira, estatal, privada brasileira. Humberto, além de disponibilizar seu tempo, forneceu documentação valiosa que deu sustentação à pesquisa.

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Ao Garrone companheiro de jornada, meu antigo mestre na arte da modelagem de dados, pela disponibilidade para ler e fazer observações sobre partes deste trabalho, meu carinho.

Ao Roberto, meu marido, Felipe e Alexandre, meus filhos, pelo apoio e amor e por acreditarem e me fazerem crer na possibilidade dessa conquista.

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Resumo

Esta dissertação analisa um evento da história recente do país - o processo de privatização do sistema TELEBRÁS - através do resgate da memória de alguns dos seus atores, os empregados das operadoras de telefonia. Para tanto, privilegiou-se o estudo de caso de uma empresa privatizada em julho de 1998 – a Telecomunicações do Rio de Janeiro S.A. (TELERJ).

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Abstract

This dissertation analyzes a recent event in the history of Brazil, the privatization process of the TELEBRÁS system, bringing to the forefront the memories of some of its actors, the telephone companies’ employees. This work specifically privileges the case of one company, which was privatized in July of 1998 – Telecomunicações do Rio de Janeiro S.A. (TELERJ).

(8)

INDICE

Introdução... 10

Capítulo 1 – O contexto histórico ... 19

1.1 - O estabelecimento das comunicações por fio no Brasil ... 19

1.2 - A montagem do negócio da telefonia no Brasil ... 20

1.2.1 - As regras de concessão... 22

1.2.2 - O debate sobre a propriedade da exploração... 24

1.3 - A estabilização e a expansão do serviço no Rio de Janeiro ... 25

1. 4 - O amadurecimento do setor... 28

1.5 - A deterioração da rede e a falta de expansão ... 30

1.6 - Os planos de desenvolvimento ... 31

1.7 - A crise na cidade do Rio de Janeiro ... 33

1.8 - As telecomunicações nacionais: regulamentação e novo direcionamento ... 41

1.8.1 - A criação do Sistema TELEBRÁS ... 44

1.8.2 - As operadoras na Guanabara e no Rio de Janeiro - TELERJ e CETEL.. 45

1.9 – Crise e planos econômicos ... 48

1.9.1 - Desaceleração: crise e FMI ... 52

1.9.2 - A desaceleração nas telecomunicações... 54

1.9.3 – A democracia e a onda dos planos de estabilização ... 57

1.9.4 - A longa Constituinte: o porto do monopólio ... 61

1.9.5 - A crise... 67

1.10 – O furacão Collor... 69

1.11 - O governo Itamar Franco ... 76

1.12 - A estabilização com o Real ... 77

Capítulo 2 – O processo de reestruturação das telecomunicações... 82

2.1 - Reformas no mundo - privatização, desregulamentação e flexibilização ... 85

2.2 - A operacionalização da reforma das telecomunicações ... 87

2.2.1 - A Emenda Constitucional nº. 8 ... 88

2.2.2 - A Lei Mínima e a Lei Geral das Telecomunicações... 93

2. 3 - A regulação ... 97

2. 4 - Preparação para a privatização... 98

2. 4. 1 - Recuperação das tarifas ... 99

2.5 - Investimentos... 102

2.6 - Metas e controles... 104

2.7 - O modelo de concorrência... 108

2.8 - A venda ... 108

2.8.1 - A questão do valor de venda ... 110

2.8.2 - A formatação ... 114

2.8.3 - A preparação para o leilão - ações e reações ... 115

2.9 - O espetáculo do leilão ... 116

2.10 - Pós-leilão: os resultados... 118

2.11 – TELERJ: a empresa e a situação pré-privatização... 120

2.11.1 - Indicadores de desempenho ... 121

2.11.2 - As críticas ao desempenho ... 125

2.11.3 - Transformação TELERJ ... 127

(9)

Capítulo 3 – Narrativas do velho e do novo mundo do trabalho ... 134

3. 1 - As transformações no mundo do trabalho ... 134

3.2 - Da estabilidade à desfiliação ... 139

3.3 - O fim do emprego... 141

3.4 - A corrosão do caráter ... 142

3.5 - Liofilização ... ... ... ... 144

3.6 – Referências complementares... 147

3.7 - Fontes utilizadas... 150

3.8 – Seleção dos depoentes e preparação das entrevistas ... 152

3.9 - Anos de chumbo - Idade de ouro ... 157

3.10 - Uma relação de longo prazo... 168

3.11 – Uma longa década que foi se perdendo ... 176

3.11. 1 - A interferências políticas... 181

3.11.2 - O sindicato ... 185

3.11.3 - A incorporação da CETEL ... 187

3.11.4 - Afundando de vez com Collor... 189

3.12 - Preparando a privatização ... 192

3. 13 - A consolidação- 16 em 1 ... 203

4- Trajetórias pessoais ... 227

4.1 - As classificações... 228

4.1.1 - Continuando ... 229

4.1.2 - Uma estrada lateral... 235

4.1.3 - Os aposentados precoces ... 236

4.1.4 - Os aposentados ... 239

4.1.5 - Reinventando a si mesmo ... 239

4.1. 6 - Na passagem ... 242

4.1.7 - O olhar do novo... 244

4.2 - O novo mundo do trabalho e o perfil do trabalhador ... 246

Considerações finais... 250

Referências Bibliográficas ... 254

Lista de Tabelas, Quadros, Gráficos e Mapas ... 262

Anexo I -Roteiro de entrevista ... 263

(10)

Introdução

O objetivo desta dissertação é analisar um evento da história recente do país, o processo de privatização do sistema Telebrás, privilegiando-se o estudo de caso de uma empresa – a Telecomunicações do Rio de Janeiro S.A. – TELERJ, através do resgate da memória de alguns dos seus atores, os então empregados das operadoras de telefonia.

De todos os setores da economia afetados pelas mudanças trazidas pelo processo de globalização, as telecomunicações chamam atenção pelo seu caráter estratégico, por suas características de alta tecnologia e pelo número de pessoas envolvidas. A categoria dos trabalhadores em telecomunicações constitui um instigante universo de pesquisa sobre as relações de trabalho.

Historicamente, a atividade foi marcada pelas relações formais de trabalho. Os trabalhadores em telecomunicações, no passado denominados “telefônicos”, foram empregados, no caso da TELERJ, de um grupo canadense que atuou por mais de 40 anos no segmento. Eles estavam organizados desde 1926 no Centro Operário dos Empregados da Light e Companhias Associadas que viria, mais tarde, a transformar-se em sindicato da categoria. Posteriormente, na condição de empregados de empresas estatais federais, mas com âmbito de atuação estadual, a categoria obteve um número significativo de direitos sociais vinculados ao trabalho, sobretudo o da previdência privada.

Tanto no tempo da propriedade privada estrangeira quanto no de empresa estatal, no âmbito do Sistema Telebrás, o paradigma da empresa era a AT&T americana, maior empregadora mundial até a sua divisão em 1984. A AT&T foi, ao longo de oito décadas, um modelo de grande empresa da era industrial, na qual o saber técnico e a experiência eram valorizados, estabilidade e benefícios eram concedidos para manter o empregado na empresa.

Das empresas do antigo sistema Telebrás, a TELERJ destaca-se por estar ligada à própria história do invento. Em 1876, Dom Pedro II, em visita a uma exposição, na Filadélfia, EUA, assistiu a uma apresentação feita pelo inventor do telefone, Alexander Graham Bell. Já no

ano seguinte, um telefone era instalado no Rio de Janeiro, quase ao mesmo tempo em Bell

(11)

de Janeiro foi uma das primeiras metrópoles mundiais a ter acesso a este meio de comunicação.

Em 1878, várias outras conexões particulares já eram colocadas em funcionamento. Em1880, foi

criada em Boston, EUA, a Companhia Telefônica do Brasil, subsidiária da Continental Telephone

Company, que no ano seguinte seria autorizada a atuar no Brasil. Assim, o serviço foi introduzido

no Brasil sob a administração de uma empresa estrangeira e a posse do governo central.

Até a década de 1920, o serviço telefônico no Brasil passou por profundas e freqüentes

alterações, com a criação de numerosas empresas, na sua quase totalidade de origem estrangeira,

sucessivas fusões, trocas de nomes e de proprietários.

O serviço telefônico no Distrito Federal e nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo,

Minas Gerais e Espírito Santo eram operados pela Rio de Janeiro and São Paulo Company. A

empresa tinha sede em Toronto no Canadá e pertencia ao grupo canadense Brazilian Traction

Light and Power, que operava diversos serviços públicos nas cidades de São Paulo e Rio de

Janeiro, como bondes, energia elétrica e gás. Em 1923, a empresa mudou sua razão social para

Brazilian Telephone Company, com a opção de usar a denominação em português de Companhia

Telephônica Brasileira - CTB. O governo federal concedeu-lhe autorização para continuar

operando na área onde nove empresas haviam-lhe antecedido desde 1881.

A CTB se consolidou daí em diante sob a rígida administração estrangeira, usando materiais, métodos e normas próprios (Vergara e Pinto, 1998: 71). Em 1956, transferiu sua sede de Toronto, no Canadá, para o Rio de Janeiro em razão da nacionalização imposta no governo Juscelino Kubitschek (1956-1961) e alterou sua ortografia para Companhia Telefônica Brasileira.

Na década de 1950 estendendo-se até a década de 1960, o sistema telefônico se deteriorou em função do aumento do tráfego, resultado do surto de crescimento industrial que ocorria no país. No entanto, a CTB não efetuava as expansões necessárias para atendimento da demanda por estas requererem vultosos investimentos. A direção da empresa argumentava que não contava com a boa vontade do poder concedente (o Estado) para fixar tarifas justas que pudessem garantir parte do capital necessário à expansão. A CTB tinha sua imagem bastante desgastada por críticas, muitas das quais atribuídas à sua condição de empresa estrangeira.

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estadual, a CETEL, para operar em áreas onde a CTB oferecia um serviço precário. Em 1966 a empresa foi adquirida pelo governo federal e em 1972 incorporada ao sistema Telebrás.

Em relação aos empregados, a mudança de controle acionário não teve um impacto imediato. A CTB operava dentro dos padrões do grupo Light, que praticava uma política de pessoal de valorização das relações de longo prazo1, não sendo comum a prática da demissão de um grande número de empregados2.

Em 1971, a Companhia Telefônica de Minas Gerais, futura TELEMIG, e a Companhia Telefônica do Espírito Santo, futura TELEST, ganharam autonomia e desligaram-se da CTB. Semelhante situação ocorreu em 1973, quando a Diretoria de Operações São Paulo foi separada, sendo criada a Telesp. Assim a CTB perdeu sua função de cabeça do sistema telefônico nacional e limitou-se, juntamente com a CETEL, à prestação de serviços nos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro.

A CTB estatal manteve o padrão de estabilidade3 e somente aos poucos, através da criação de incentivos à aposentadoria, promoveu uma renovação de seus quadros. O modelo estatal de empresa, sob a forte influência do regime militar, particularmente presente no setor, imprimiu uma lógica de maior controle burocrático e de estabilidade para os empregados. A progressão de carreira adotada baseava-se na equação habilidade mais esforço, embora não fossem desprezíveis os atributos do capital social dos grupos formados internamente.

Como empresa estatal, a TELERJ refletiu as mudanças políticas e econômicas que ocorreram no país, no estado do Rio de Janeiro e mais especificamente na cidade do Rio de Janeiro, as quais possibilitaram sua expansão, mas que também foram responsáveis por muitos períodos de grave crise.

1

A revista Sino Azul das décadas de 1940, 50 e 60 dedica uma seção aos prêmios por tempo de serviço, que correspondiam a sinos (símbolo da companhia) de bronze(10 anos) de prata (20 anos) e ouro ( 30 anos).

2

Gomes(2002) assinala que no período canadense não era comum a demissão na Light. A empresa incentivava a contratação de familiares dos empregados sendo comum a perpetuação de famílias por gerações no interior da empresa. (147-149)

3

Estabilidade decenal – como a empresa incentivava a permanência do empregado e a CLT, em seu artigo art. 492, provia estabilidade decenal, isto é, estabilidade após de 10 anos de serviços prestados à mesma empresa. Vários empregados quando da compra da empresa pelo governo já eram estáveis. Com a criação

(13)

As relações sociais que se estabeleceram no interior da empresa, entre seus empregados, e com a sociedade propiciaram a construção de uma identidade própria, extremamente moldada pelos valores dos dirigentes militares: integração e segurança nacionais com qualidade técnica. Dessa forma, trabalhar na TELERJ ou na CETEL significava fazer parte de um quadro de empregados de uma empresa estatal de serviços públicos e, assim, estas pessoas se viam como trabalhando para a sociedade, com o objetivo de prover serviços de comunicação, “ligar pessoas”. Além disso, significava ter um emprego estável, carreira, e receber salário regular, ter benefícios. E assim com fios rígidos e fibras flexíveis foram os empregados da TELERJ construindo suas trajetórias profissionais.

O estatuto da condição de assalariado, bem como o lugar ocupado na divisão social do trabalho, se tornou suporte de uma identidade social e de integração comunitária (Castel, 1998). O orgulho técnico, a perícia, no sentido usado por Sennet (2005) de conhecimento do trabalho, era adquirida a partir de formação técnica específica e pela experiência obtida após anos de trabalho.

A partir do final da década de 1980, a crise provocada no setor devida, sobretudo, à falta de investimentos em expansão, serviu de argumento para justificar a necessidade de privatização. No período que antecedeu a privatização, a TELERJ voltou a gozar de péssima reputação junto à população, novamente por não atender à demanda por instalações e pela sobrecarga no sistema, que deteriorava a qualidade dos serviços.

Com a preparação para a privatização, além dos recursos para atualização da rede, observou-se um movimento de “enxugamento” dos quadros da empresa, já muito sobrecarregados, sobretudo após a incorporação da CETEL em 1989. Assim ocorreram, no período 1991-1996, três grandes ondas de demissão, sendo duas por iniciativa da empresa e uma devida a circunstâncias de caráter nacional, envolvendo o pagamento de multas rescisórias relacionadas ao FGTS. A grande demissão de 1996 fez uso do mecanismo conhecido pelos trabalhadores como Plano de Demissão Incentivada ou Voluntária – PDI ou PDV.

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empresas. Nos primeiros 120 dias após a privatização, foi efetuado um diagnóstico da situação das empresas da holding e os controladores decidiram demitir, no caso da TELERJ, cerca de 30% dos empregados. As demissões foram processadas em apenas um dia. Este processo em nada difere de outros que envolvem fusões, incorporações, onde também são comuns as reduções em massa, estando a distinção na velocidade e no volume das demissões. Posteriormente, novas políticas foram instauradas pelo novo controlador, sob alegação de modernização e reestruturação. Esse conjunto de ações enfraqueceu as relações internas e as dos trabalhadores com o sindicato, em função da ameaça de perda de emprego. Os mecanismos utilizados e as suas conseqüências nas relações de trabalho estão presentes nos depoimentos dos trabalhadores analisados neste trabalho.

Desse modo, tem-se como argumento que o processo de privatização viabilizou a precarização e a deterioração das condições de trabalho, a partir da adoção de políticas de caráter neoliberal e de modelos de administração apoiados no conceito de flexibilização do trabalho e, conseqüentemente, das relações com o trabalhador.

Neste trabalho, privilegiou-se a abordagem qualitativa de análise da pesquisa. Assim, os critérios de quantidade e de representatividade estatística não foram considerados. A amostragem qualitativa privilegia os sujeitos sociais que detêm os atributos que o pesquisador deseja conhecer, sendo, portanto, sua escolha proposital e não aleatória.

Foi utilizada a metodologia de história oral por esta utilizar com instrumento a realização de entrevistas com pessoas que participaram de – ou testemunharam – os acontecimentos. Para elaboração de um roteiro que permitisse estruturar as entrevistas, foi feito um estudo da empresa e das transformações pelas quais passou e as contingências a que esteve submetida nos últimos trinta anos. No entanto, para compreender as contingências e a empresa nos últimos anos, foi necessário estender o período de estudo até a criação da empresa e de suas origens.

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revistas especializadas, documentos institucionais, documentos para investidores, revistas de circulação interna etc.

Os depoimentos foram interpretados a partir do referencial teórico com que o estudo foi estruturado e balizado pela cronologia dos acontecimentos históricos tanto no nível do país quanto no da empresa. Uma das etapas da construção do trabalho de campo consistiu em efetuar os contatos e conversar previamente com os possíveis entrevistados. Esta foi uma estratégia importante para delimitar o universo da pesquisa.

Dois fatos provocaram uma maior delimitação da pesquisa. Ao estudar o processo de transformação em dois segmentos de trabalhadores, as antigas telefonistas e atendentes e os antigos IRLA (instalador reparador linha de assinante), surgiram questões que iam muito além dos objetivos deste trabalho4. A inclusão destes trabalhadores na amostra, além de aumentar sobremaneira o número de entrevistados e ampliar a questão relativa à requalificação profissional, introduziria a necessidade de análise de novas atividades, como trabalho nos chamados call centers, ou como a instalação e manutenção de serviços destinados ao uso de Internet, além de outras questões, como doenças ocupacionais e trabalho degradante. Nem o referencial teórico aqui utilizado, nem a metodologia qualitativa sozinha dariam conta da multiplicidade de configurações de novas formas de trabalho, de inserção e mesmo de doenças ocupacionais. Cada um dos itens mencionados, pela sua complexidade, merece um estudo particular.

Assim, foi efetuado um recorte no universo a ser trabalhado, representado pelo segmento médio da empresa, formado por técnicos e profissionais de nível superior. Foram priorizadas as áreas de Planejamento de Redes e de Tecnologia da Informação. No entanto, como os profissionais entrevistados tinham vários anos de empresa e esta possibilitava, a um conjunto expressivo de empregados, a mobilidade entre setores, os entrevistados, em sua maioria, transitaram por diferentes áreas da companhia.

A seleção dos entrevistados procurou abranger homens e mulheres, empregados que entraram na empresa em períodos distintos e por critérios recrutamento e seleção também distintos, de diferentes departamentos, das duas empresas (TELERJ e CETEL) e de níveis hierárquicos diversos, desde técnico até ex-presidente. Profissionais que

4

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deixaram a empresa espontaneamente, migraram para empresas do sistema ou foram demitidos, entre 1996 até 2005. Foram contatados também empregados ativos, mas com estes, no entanto, não foram gravadas entrevistas.

Para estabelecimento da amostra foram utilizados os seguintes critérios baseados no período de saída da empresa: 1) saída no período pré-privatização (1996-1997); 2) saída incentivada pós-privatização (novembro de 1998); 3) saída no período de transformação “16 em 1” (1999-2000); 4) saída no período de antecipação de metas (2000-2001); 5) saídas após a antecipação de metas e a criação da OI (2001-2002); 6) saídas após a consolidação(2003-2005). Outro critério utilizado para seleção da amostra foram as trajetórias profissionais após a saída da empresa (ativos e inativos).

Foi efetuada uma entrevista com um ex-líder sindical, que atualmente exerce mandato legislativo na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, tendo este fornecido um panorama da situação dos trabalhadores no setor. Foi incluída, entre os entrevistados, uma ex-empregada que entrou após a transformação de 16 em 1, em 2000, não tendo, portanto, vivido o ambiente anterior de empresa estatal e de 16 empresas diferentes. Esta profissional foi escolhida por tratar-se de alguém mais jovem, o que permitiu uma análise da influência de geração na percepção e na adaptação ao ambiente da empresa. Além desta questão da idade, a entrevistada atuava em um segmento novo de atividade, o de Inteligência de Mercado. Este tipo de atividade não existia anteriormente, dado que a empresa trabalhava em regime de monopólio estatal.

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Antes de descrever a estruturação do trabalho, sinto-me no dever metodológico de informar ao leitor que minha ligação com o objeto pesquisado antecede ao evento privatização que possibilitou a construção do objetivo desta pesquisa. Fui empregada da TELERJ por 23 anos, tendo saído em dezembro de 2002. Como pesquisadora consciente de ter sido sujeito do objeto pesquisado, procurei manter um distanciamento que permitisse construir a pesquisa com a maior objetividade possível e desejável. Por outro lado, minha experiência pessoal foi relevante para o desenvolvimento desta pesquisa, pois facilitou o contato com os entrevistados e o entendimento de seu linguajar, que por vezes envolvia palavras e códigos usados internamente, bem como termos técnicos. O conhecimento do objeto também facilitou o enquadramento temporal e as classificações efetuadas.

O trabalho ficou estruturado da seguinte forma:

No Capítulo I, é apresentado o contexto histórico e traçado um panorama do setor de telecomunicações desde a instalação do primeiro telefone na capital do Império, passando pelas várias concessões, até chegar ao estabelecimento da Companhia Telephonica Brasileira em 1923. A história da empresa é contada a partir deste momento até o período que precede o processo de privatização, ou seja, até 1994. Ao mesmo tempo são revistos alguns eventos que constrangeram o ambiente da empresa, como controles externos, contenção de tarifas, planos econômicos, crises as mais diversas e até mesmo disputas políticas, com o objetivo de contextualizar as culturas das empresas CTB, TELERJ e TELEMAR.

O processo de privatização é mostrado no Capítulo II. São apresentados desde os antecedentes, passando pela quebra do monopólio, através da EC nº. 8 de 1995, a criação da Lei Mínima que permitiu a venda da Banda B da telefonia celular, seguida pela criação da Lei Geral das Telecomunicações que criou todo o novo arcabouço legal para o setor, incluindo aí novo papel do Estado de regulador através da ANATEL, culminando com o leilão de venda das empresas do Sistema Telebrás, em 29 de julho de 1998.

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e da empresa. Confrontam-se aqui as informações coletadas para o capítulo I com as interpretações dadas pelos atores, os empregados.

O Capítulo IV apresenta as narrativas das trajetórias pessoais após a saída da empresa. Neste capítulo é utilizada a classificação de Castel (1998) de ativos e inativos.

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Capítulo 1 – O contexto histórico

1.1 - O estabelecimento das comunicações por fio no Brasil

Na segunda metade do século XIX o Brasil ingressou na era das comunicações instantâneas, inicialmente através da implantação do telégrafo elétrico, na década de 1850, e, posteriormente do telefone, no final da década de 1870.5 Telegrafia e telefonia eram consideradas comunicações de mesma natureza, por serem ambas as transmissões feitas via fio metálico.

Por determinação do imperador Pedro II, em maio de 1852, sob a responsabilidade técnica do engenheiro e professor Guilherme Süch Capanema, foi introduzido o telégrafo elétrico no Brasil. A primeira ligação foi estabelecida, no Rio de Janeiro, entre o Quartel General do Exército e a Quinta da Boa Vista, por intermédio de uma linha subterrânea de 4.300m de comprimento. A motivação inicial do Ministério da Justiça para a instalação dessa linha parece ter sido o combate ao tráfico de escravos.6 O tráfico negreiro fora abolido em setembro de 1850, mas o controle da costa era muito difícil. Com o telégrafo, a Corte passou a dispor de um eficiente meio de comunicação para transmitir às províncias instruções referentes aos procedimentos de fiscalização.

Na prática, porém, a expansão do telégrafo nos primeiros anos limitou-se às repartições existentes na Corte e cidades próximas, como Petrópolis e Niterói. Em 1866, a expansão se deu para o sul do país, sendo feita a conexão entre as cidades do Rio de Janeiro e Porto Alegre, possibilitando comunicações mais rápidas entre a Corte e as tropas que lutavam na Guerra do Paraguai. A partir de 1870, os serviços telegráficos passaram a expandir-se com base em uma política de concessões à iniciativa privada, tanto nacional quanto estrangeira, sendo a grande maioria constituída por empresas internacionais. Como as ferrovias utilizavam o telégrafo para comunicação entre as estações e controle de tráfego, os decretos de concessão para construção e exploração das mesmas também incluíam itens relativos à exploração dos serviços telegráficos, inclusive estabelecendo tarifas.

5

Correios Brasil, Historia dos Correios, disponível em www.correios.com.br acesso em 03/09/05

6

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Em 1872, o visconde de Mauá tentou estabelecer a primeira ligação internacional entre Recife e Lisboa por cabo submarino, mas devido a dificuldades financeiras transferiu os direitos à Telegraph Construction and Maintenance Company, empresa inglesa que já estava estabelecida em Portugal e que tinha a preferência dos portugueses para a implantação da ligação telegráfica com o Brasil. Foi então constituída a Brazilian Submarine Telegraph Company, que lançou os cabos e operou os serviços desta ligação do Brasil com a Europa. Em 1874, a norte-americana Western Telegraph Co. Ltda. começou a operar uma linha telegráfica por cabo submarino entre o Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Pará.

O ano de 1877 é o marco inicial da telefonia no Brasil. Poucos meses após a visita de D. Pedro II, em 1876, à Exposição Universal de Filadélfia, comemorativa do centenário da Independência Americana, onde a invenção estava sendo demonstrada por Alexander Graham Bell, foi instalada a primeira infra-estrutura de telefonia, no Rio de Janeiro. Foi então estabelecida uma ligação entre a residência imperial, o Palácio da Quinta da Boa Vista, e as residências dos ministros, utilizando equipamentos montados pela Western and Brazilian Telegraph Company. Ainda em 1877 foi instalada a primeira ligação comercial, que consistia de uma linha conectando a loja "O Grande Mágico", estabelecida na atual Rua do Ouvidor, ao Quartel do Corpo de Bombeiros. A expansão da rede foi determinada, posteriormente, pelo ministro e secretário de Estado de Negócios da Agricultura, João Lins Vieira Cansanção Sinimbu, com o objetivo de ligar a sede do ministério às repartições da Corte.

O Decreto nº. 7461, de 6 de setembro de 1879, representa a primeira legislação relacionada à telefonia. Através desse decreto, o Imperador concedeu a Frederico Allen Grower o privilégio, por dez anos, de introduzir o “telephono cronometro” de sua invenção no Império.

1.2 - A montagem do negócio da telefonia no Brasil

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por cabo submarino Brasil, (Leis do Império, 1879). O decreto determinava que as linhas da companhia não fossem instaladas sem a prévia aprovação da Repartição Geral de Telégrafos, a fim de não prejudicar as linhas telefônicas já existentes na Corte e na cidade de Niterói, especialmente as linhas da Polícia e do Corpo de Bombeiros, que eram operadas pelos Telégrafos. Caso fosse necessária a expansão de novas linhas do Estado, a empresa deveria remover as linhas que pudessem causar-lhes interferência. Ficou estabelecido que os aparelhos instalados fossem fornecidos gratuitamente pela empresa, que cobraria apenas uma taxa mensal ou anual estabelecida com a aprovação do Governo Imperial. Foram estipuladas multas pelas faltas que a empresa viesse a cometer na execução do serviço. O decreto firmava um monopólio por cinco anos e a concessão era válida por dez anos. A Repartição dos Correios, subordinada ao Ministério da Justiça, era o órgão responsável pela fiscalização dos serviços, além de operar algumas linhas especiais para conexão entre gabinetes de ministros no Rio de Janeiro.

Em 1880 foi criada, no estado de Nova Iorque, uma sociedade por ações (3.000 ações) que constituiu a Telephone Company of Brazil7, primeira empresa a explorar comercialmente o serviço telefônico no Brasil. Segundo seus estatutos, parte integrante do Decreto nº. 8065, de 17 de abril de 1881, que a autorizava a funcionar no Império, a companhia tinha por objetivo construir e operar serviços de telefonia.

(...) linhas telefônicas na cidade do Rio de Janeiro e seus subúrbios e na cidade de Niterói, no Império do Brasil, que serão postas em comunicação com a dita capital por um cabo submarino de conformidade com os termos do Decreto de 15 de novembro de 1879, nº. 7539, e também construir e fazer trabalhar quaisquer outras linhas telefônicas e tratar quaisquer outros negócios relativos a isto, que possam ser permitidos ou concedidos pelo Governo do Brasil (Brasil, Leis do Império, 1881, 329:330).

De acordo com o Guia do viajante no Rio de Janeiro, publicação de 1882, os serviços telefônicos disponíveis para a população da cidade eram divididos em cinco classes: serviço comercial (comunicação dos estabelecimentos comerciais); serviço doméstico (comunicação entre residências e com demais assinantes); linhas particulares

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(ligações entre dois pontos); telefone nas fazendas (comunicação interna) e serviço de recados avulsos (conversações pré-pagas entre os postos de serviço e serviço de mensageiros para pequenas encomendas).

1.2.1 - As regras de concessão

O decreto de concessão à Telephone Company of Brazil criou jurisprudência caracterizando o Estado como poder concedente, em moldes semelhantes ao ocorrido na Europa. Tomando-se por base o modelo inglês, as linhas telefônicas foram consideradas equivalentes às telegráficas e, como estas, vistas como pertencentes ao domínio exclusivo do Estado.

Sua majestade o Imperador, conformando-se por sua imperial e imediata resolução de 2 do corrente com o parecer da seção dos Negócios do Império do conselho de estado, exarado em consulta de 10 de fevereiro último, manda declarar a V. Ex para seu conhecimento e devidos efeitos, que achando-se as linhas telefônicas em iguais condições às telegráficas pertencem, como estas ao domínio do Estado, e cabe ao governo o direito de as conceder, ainda que para uso particular das localidades. (Diário Oficial, 15/5/1881, apud Brito, 1976: 34).

Assim, cabia ao Governo Imperial o direito de conceder ou explorar diretamente os serviços telegráficos e telefônicos. Através de uma sucessão de decretos o Governo Imperial procurou regular o negócio nascente de telefonia. O Decreto nº. 8453 A, de 11 de março de 1882, estabeleceu as bases para concessão das linhas telefônicas. O serviço era submetido à fiscalização do Estado, representado pela Secretaria de Estado de Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas8, mais precisamente pela Repartição Geral dos Telégrafos9. O decreto estipulava que as concessões e o monopólio por área tinham validade por 15 anos. As sanções pelo não cumprimento das regras estabelecidas eram rígidas, implicando inclusive em cassação das concessões.

O Decreto nº. 8935, de 21 de abril de 1883, estabeleceu um novo modelo para a concessão e colocação de linhas telefônicas. Por esta nova regra o concessionário deveria

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Em 1861, foi criada a Secretaria do Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, à qual se vinculavam os correios terrestres marítimos e os telégrafos.

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depositar a caução de 2.000 mil réis, da qual seriam deduzidas todas as multas a que viessem a incorrer. A infra-estrutura de conexão deveria seguir o disposto no Regulamento dos Telégrafos de 24 de dezembro de 1881, observadas as conveniências do serviço público. A rede telefônica para o atendimento dos serviços públicos deveria ser separada da comercial.

Com o novo decreto, o período de concessão e a garantia de monopólio por área de exploração foram estendidos para 25 anos, mas o governo tinha o direito de resgatar as linhas e todo o ativo operacional a partir do décimo ano, desde que emitisse um comunicado com um ano de antecedência. Como preço do resgate a empresa concessionária receberia, até expirar o prazo de concessão, uma anuidade equivalente à renda líquida média dos três últimos anos acrescida de 15% . Ficou determinado que, ao término do prazo da concessão, seria efetuada uma avaliação do ativo operacional da companhia, por avaliadores nomeados pelo Governo, e seria feito um leilão público destes ativos.

Foi estabelecido que as concessões devessem ser dadas por área e que a exploração dos serviços se restringisse aos limites da cidade e seus arrabaldes. O concessionário era obrigado a oferecer gratuidade às principais repartições públicas das capitais das províncias cobertas pela concessão. Mantiveram-se inalteradas as sanções relativas ao não cumprimento nas regras estabelecidas nos atos de concessão10, sendo igualmente mantida a competência da Repartição dos Telégrafos, que era a operadora dos serviços telegráficos, de fiscalizar os serviços, eliminar ou vetar qualquer linha telefônica particular que prejudicasse as federais.

A competência privativa do Governo Imperial para conceder o direito à exploração de linhas telefônicas, ainda que para uso particular das localidades, foi reafirmada através do Decreto nº. 8354, de 24 de dezembro de 1884. As sanções estipuladas eram efetivamente aplicadas como atestam o Decreto nº. 9664 de 1886, que torna caduca as concessões feitas à Companhia Telefônica do Brasil em diversas cidades

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do Império; e o ofício da Diretoria de Obras Públicas do Ministério dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas sobre os abusos cometidos pela mesma empresa11.

1.2.2 - O debate sobre a propriedade da exploração

A título de experiência, numa iniciativa governamental de operação de serviços, a Repartição dos Telégrafos fez uma instalação em Maceió em 1884. O serviço funcionou regularmente por oito anos, sendo suspenso para manutenção de linhas e aparelhos. As linhas eram utilizadas também para envio e recepção de telegramas. 12 Efetuada a manutenção, o sistema voltou a operar até 1º de dezembro de 1896, quando houve uma tentativa de leilão público, mas as ofertas apresentadas foram consideradas inaceitáveis e os equipamentos foram doados ao Estado.

O debate sobre a propriedade e a exploração dos serviços telefônicos surgiu logo depois do estabelecimento do negócio de telefonia. Relatórios do Departamento de Telégrafos afirmam que os serviços prestados pelas primeiras concessionárias eram irregulares e a exploração não fora devidamente regulamentada. O sistema de concessões isoladas impedia que o uso do telefone se expandisse, pois não havia conexão entre as redes das diferentes concessionárias, o que acabava por onerar o usuário, obrigado a possuir aparelhos de diferentes empresas. Eram usados argumentos em prol da exploração pelo Estado, tomando-se como base os diversos modelos utilizados na Europa. Relatório do Departamento de Telégrafos brasileiro trazia informações sobre as várias formas de exploração do serviço adotadas em países europeus no final do século XIX.

A Alemanha desde o princípio serviu o público sem fazer concessões a particulares.

A Inglaterra impôs às companhias condições que são contínuo motivo de queixa.

A França fez concessões por curto prazo a título de ensaio, criando logo um imposto de 10% sobre a renda, ao mesmo tempo estabeleceu linhas telefônicas por conta do Estado; passados cinco anos verificou-se que o resultado era muito satisfatório e trata-se de ampliar o sistema, continuando a

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Relatório de 1884, Repartição Geral dos Telégrafos, apud Brito, 1976, 189:190

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empresa particular por igual período, e onerada do mesmo modo. A administração francesa vai assim adquirindo experiência por conta própria e comparando-as com o que obtêm os particulares, para depois chamar a si todo o sistema.

O Governo central da Suíça principiou a fazer concessões, mas as municipalidades opuseram-se e exigiram que as linhas fossem estabelecidas pelo Governo. Este formulou regras para ir servindo os municípios, logo que em cada localidade se apresente um número determinado de pedidos, garantindo renda igualmente marcada. Este meio é talvez o que se deva adotar, porque a ninguém faz imposições, nem sobrecarrega os cofres públicos. É questão ainda em estudo, e brevemente poderá haver dados suficientes para que seja convenientemente resolvida (Relatório 1899, apud Brito, 1976: 189-190).

1.3 - A estabilização e a expansão do serviço no Rio de Janeiro

Com a República começaram a ser alteradas as regras que regiam a exploração dos serviços públicos. O Decreto nº. 199, de 6 de fevereiro de 1890, transferiu para a administração da Capital Federal os serviços relativos às linhas de bonde e telefônicas compreendidas na área do município.

O primeiro contrato de concessão elaborado na República, através do Decreto nº. 889, de 18 de outubro de 1896, introduzia alterações na forma de remuneração e de exploração dos serviços. O prazo de concessão foi alterado para 15 anos, sendo incluída uma cláusula obrigando o concessionário a pagar ao Estado 10% da renda bruta da empresa. O Governo Federal poderia a qualquer tempo, dentro do prazo da concessão, proceder ao resgate da empresa, sendo a importância relativa ao resgate paga em apólices da dívida pública, que produziriam juros equivalentes à receita média anual nos cinco anos anteriores. O concessionário permanecia sujeito ao regulamento do Decreto nº. 8.935, de 1883.

A Constituição republicana de 1891 rompeu o modelo vigente no Império de centralização do poder de concessão, repassando a atribuição dos serviços públicos para cada estado da federação13. Vários destes estados em suas Constituições reproduziram esse preceito de descentralização. Muitas das antigas concessões de telefonia local, iniciadas ainda no período imperial, foram caducando; as novas concessões já foram sendo elaboradas tendo os estados e os municípios como poder

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concedente. A competência do governo central foi mantida na exploração, direta ou por concessões, das comunicações interurbanas e internacionais.

Em 23 de novembro de 1897, por meio de concorrência, a municipalidade da Capital firmou contrato com a Siemens & Halske relativo aos serviços de telefonia. Posteriormente, esta concessão foi transferida para a empresa alemã Brasilianische Elektricitäts Gesellschaft. Os preços das assinaturas anuais variavam conforme o câmbio, sendo cotados segundo zonas, variando de 250 mil réis a 500 mil réis na área urbana. Fora da área urbana, o valor era de 60 mil réis nos primeiros 2 km e de 60 mil réis por ano e por km acrescido.

Em 1899, a Brasilianische Elektricitäts Gesellschaft recebeu autorização, através do Decreto nº. 3250 para operar no território nacional, o que possibilitou a implantação da primeira linha telefônica interurbana no país, entre Rio de Janeiro e São Paulo. A concessionária foi autorizada a instalar centrais telefônicas nestas duas cidades e a explorar o serviço por 30 anos.

A Repartição dos Telégrafos manteve sob sua responsabilidade algumas linhas no Rio de Janeiro para ligações entre órgãos de governo. Em 1906, essa repartição empreendeu um esforço de modernização dessas linhas, porém em 1907 interrompeu os trabalhos e contratou a Brasilianische para operar o serviço telefônico público.

A concessão dos serviços interurbanos permanecia sendo uma atribuição do Governo Federal. Em março 17 de março de 1910 o Decreto nº. 7.908 autorizava a funcionar no Brasil a Interurban Telephone Company of Brazil. A empresa criada no ano anterior e com sede na cidade de Detroit, nos Estados Unidos, nomeou seu representante no Brasil Edward D. Trowbridge. A área de operação incluía, além da Capital Federal, os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Trowbridge repassou para a empresa as concessões anteriormente obtidas em seu nome.

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existentes e das negociações para adquiri-las. A compra da Rio de Janeiro Telephone Company foi acertada como complemento da aquisição da Companhia Vila Isabel, uma vez que ambas eram controladas pela holding alemã Siemens & Halske Aktien Gesellschaft, que condicionou o fechamento do negócio à compra da empresa telefônica (Lamarão,1997:74). A telefonia não estava nos projetos originais dos empresários da Light, mas a sua entrada no negócio foi resultado da necessidade de absorver outros segmentos de serviços para poder exercer o monopólio nas suas áreas de interesse.

Os principais acionistas das empresas Light and Power decidiram reunir em 1912 os investimentos no Brasil em uma grande holding. O grupo, que tinha capital anglo-americano-canadense, constituiu a Brazilian Traction Light and Power com sede em Toronto, no Canadá. Neste mesmo ano, foi incorporada a Interurban Telephone Company of Brazil. Posteriormente, entre 1912-1913, foram adquiridas diversas empresas no estado de São Paulo e empresas interestaduais. Estas empresas tinham o controle das redes de diversos municípios, cada qual com sua concessão específica e mais as concessões de serviços interurbanos entre os municípios de sua jurisdição. Dando prosseguimento ao seu projeto de expansão, a Interurban Telephone Company of Brazil passou a expandir a rede nos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro e instalou linhas interurbanas nestes três estados. Ao longo dos anos seguintes foram sendo compradas as empresas municipais nos estados do Rio e Minas, consolidando o monopólio na região.

Com a eclosão da Primeira Guerra e a conseqüente dificuldade de importação de equipamentos, o sistema ficou praticamente estagnado. Em dezembro de 1915, estavam em operação no Rio de Janeiro 11.811 telefones, 1.151 em Niterói, 727 em Petrópolis. A partir daí o número de assinantes evoluiu lentamente. Em 1916 foi criada a Rio de Janeiro and São Paulo Telephone Company.

A Rio de Janeiro and Sao Paulo Telephone Company mudou em 1923 sua denominação para Brazilian Telephone Company,14 mantendo a sede no Canadá e operando na capital federal e em algumas cidades dos estados de São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. A Brazilian Telephone Company ficou

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conhecida pela sua denominação em português: Companhia Telefônica Brasileira - CTB.

1. 4 - O amadurecimento do setor

Vitoriosa a Revolução de 1930, houve um fortalecimento do Executivo e a transferência para o governo federal de funções antes desempenhadas pelos governos estaduais. A nova concepção do papel do Estado como propulsor do desenvolvimento determinava a sua intervenção na economia.

A exploração dos serviços telefônicos passa a sofrer nova regulamentação, mas o regime de concessões não foi basicamente alterado. Foi mantida como atribuição do Governo Federal, pelo Decreto nº. 19.883 de 17 de abril de 1931, a concessão para exploração dos serviços telefônicos interestaduais e internacionais. Paralelamente, começaram a surgir pressões de cunho nacionalista no sentido de ampliar a participação estatal na expansão dos serviços públicos; nas telecomunicações, porém, não houve nenhuma ação concreta. Foi mantida a descentralização do regime de concessões e não houve nenhum investimento estatal nesta área. O grupo Light, através da Brazilian Telephone Company- Companhia Telefônica Brasileira, permaneceu exercendo seu monopólio na capital federal.

O Decreto nº. 20.047, de 27 de maio de 1931, e o Decreto nº. 21.111, de 1º de março de 1932, foram os únicos instrumentos a dispor sobre comunicações até a criação do Código Brasileiro de Telecomunicações, muito mais tarde. O foco principal da regulamentação eram as atividades de radiodifusão, garantindo ao governo o controle sobre as emissões de ondas.

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A Constituição de 1934, em seu Artigo 5º, determinou que fosse de competência da União a manutenção dos serviços de correios e a exploração ou concessão dos serviços de telégrafos e radiocomunicação, mas não fazia referência aos serviços telefônicos.

Na primeira metade da década de 1930, os serviços telefônicos ainda eram usados por uma parcela pequena da população. Somente em 1935, entrou em atividade no Rio de Janeiro, o primeiro posto telefônico público, instalado na antiga galeria Cruzeiro (atual Edifício Avenida Central, na Avenida Rio Branco). Os telefones de uso público foram aos poucos sendo instalados em estabelecimentos comerciais, como farmácias, mercearias e bares, ampliando assim a oferta de serviços telefônicos à população.

A defasagem entre o número de telefones instalados no Rio de Janeiro e nos grandes centros internacionais já era grande. Em 1939 o Rio de Janeiro contava com 100 mil telefones e uma densidade telefônica (número de telefones por mil habitantes) de 5,8; o Brasil como um todo possuía 300 mil telefones e uma densidade que não chegava a 1. No mundo já existiam 41 milhões, dos quais cerca de 50 % instalados nos Estados Unidos. Cidades como Nova Iorque com 1.630 mil, Chicago com 962 mil e Los Angeles com 440 mil contavam com mais telefones que todo o país. O Brasil buscava integrar-se ao contexto mundial do setor, tendo ao longo da década de 1930 assinando diversos acordos internacionais.

Em novembro de 1937, foi instaurado por um golpe o Estado Novo, que estabeleceu um poder forte, autoritário e reforçou o intervencionismo estatal na economia e na vida social iniciado em 1930. A grande meta do Estado Novo era o desenvolvimento econômico através da industrialização e para tal foram criados vários órgãos de apoio em áreas consideradas estratégicas. Embora a telefonia não tenha sido afetada pelas reformas introduzidas, mesmo assim a expansão e a qualidade dos serviços passaram a ser alvo de crescentes preocupações governamentais. O setor público, tanto a nível federal quanto nos estados, passou a reconhecer cada vez mais o interesse público e importância política da telefonia.

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como atribuição dos estados, porém em 1942, o governo federal, fazendo uso do artigo 16º. , estabeleceu normas para o exercício pelos estados do poder de legislar sobre comunicações. O Decreto nº. 5.144 determinava que nenhuma concessão de serviço devesse ser outorgada sem que fossem seguidas normas que garantissem a qualidade e a continuidade dos serviços. A questão da remuneração da exploração através das tarifas foi pela primeira vez tratada como sendo a garantia para conservação e expansão da rede. O texto do decreto era explícito sobre a necessidade de estabelecimento de uma tarifa que garantisse não só a conservação, mas também a expansão dos serviços:

Nenhuma concessão de serviço telefônico poderá ser outorgada: a) sem que se estabeleça seguro processo de verificação do capital efetivamente empregado na sua montagem e custeio;

b) sem que por via de tarifa se assegure a sua conservação e renovação, bem como a amortização do seu capital, para efeito de resgate ou reversão;

c) sem que se regulem os casos de revisão de tarifas, a fiscalização da sua execução e sua contabilidade.

1.5 - A deterioração da rede e a falta de expansão

Até a eclosão do conflito mundial em 1939, a CTB operava em condições satisfatórias, oferecendo serviços de boa qualidade. 15 Contudo, com a restrição às importações em decorrência da Segunda Guerra Mundial, teve início um período de deterioração dos serviços telefônicos em todo o país. Em 31 de maio de 1944, num esforço voltado para a melhoria das ligações interurbanas, a Radional, empresa do grupo ITT, foi autorizada a instalar e operar estações radiotelefônicas de serviço telefônico para o interior do Rio de Janeiro, em vinte capitais estaduais e nas capitais dos territórios federais.

O número de telefones na cidade do Rio de Janeiro na década de 1940 cresceu mais de 87,6%, passando de 113 para 212 mil (Kestelman, 2002: 230). Essa taxa era bem superior à do crescimento de domicílios, que fora de 29,8%. No entanto, o incremento da demanda por telefones superava em muito o crescimento da população.

15

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Como conseqüência, em 1943 a procura por assinaturas já não estava sendo atendida, desenhando-se uma longa fila de espera pela instalação de telefones. 16

No caso brasileiro, as razões do atraso dos serviços telefônicos, gerados a partir da Segunda Guerra, deveram-se prioritariamente à falta de equipamentos, causada pela dificuldade de importação, já que estes não eram fabricados localmente, à desvalorização da moeda e ,sobretudo, à insuficiência de tarifas.

1.6 - Os planos de desenvolvimento

A Assembléia Nacional Constituinte de 1946 foi aberta em 2 de fevereiro sob o

impacto do fim da guerra na Europa, com a derrota do nazi-fascismo, e da queda do Estado Novo no Brasil. Os trabalhos da Constituinte de 1946 foram marcados pela heterogeneidade ideológica dos seus integrantes, que incluíam deputados e senadores representativos de todo o espectro político. Os constituintes produziram um texto preocupado fundamentalmente em delimitar o raio de ação dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, para evitar uma nova experiência política baseada no poder discricionário do Executivo. O texto restaurou o princípio federalista, estabelecendo-se a divisão de atribuições entre a União, os estados e os municípios. 17

A nova Constituição, promulgada em setembro, determinava em seu artigo 5º, que competia à União regular e explorar, diretamente ou mediante concessão ou autorização, os serviços de telégrafos, radiocomunicação, radiodifusão e de telefones interestaduais e internacionais. Por exclusão, a regulação e exploração, direta ou através de concessões, dos serviços locais permanecia sob a responsabilidade dos estados que poderiam, de acordo com suas respectivas constituições, repassá-las para os seus municípios. 18 A Constituição, em seu artigo 151, dispunha sobre o estabelecimento de tarifas e de seus

16

Os serviços de telecomunicações para atendimento às atividades civis (residências, comércio, indústrias e propriedades rurais), em função da guerra na Europa, sofreram deterioração em todo o mundo. Na Inglaterra e nos Estados Unidos todo o esforço foi voltado para o atendimento às necessidades militares, fossem elas de equipamentos e instalações, assim como pesquisas. O Bell Labs (laboratório do sistema AT&T) participou de mais de 1.000 projetos governamentais, fornecendo inclusive treinamento em comunicações para o pessoal militar.. Para ter-se uma medida da situação ao final da II ª Guerra nos Estados Unidos havia uma demanda reprimida responsável por uma fila de dois milhões de ordens de

serviço (instalações, consertos, transferências) não atendidas. Disponível em

http://www.bellsystemmemorial.com/bellsystem_history acesso em 13/01/2006

17

DHBB, verbete Constituição 1946, 2001, vol II: 1571

18

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reajustes, fazendo referência de que o valor destas deveria permitir melhorias e expansão necessárias à adequada prestação dos serviços.

O Governo Dutra (1946-1951) lançou em 1947 uma iniciativa de intervenção planejada do Estado para o desenvolvimento econômico. O plano SALTE, como ficou conhecida esta intervenção, representava a soma das sugestões dos vários ministérios para o planejamento econômico do Brasil. Quatro áreas eram priorizadas: saúde, alimentação, transporte e energia. Os recursos para sua execução seriam provenientes da receita federal e de empréstimos externos. Foi justamente a inexistência de definições claras de financiamento que dificultou sua implementação. Este plano não tratou de telecomunicações, embora visasse o desenvolvimento do país. De acordo com o ex-ministro das Comunicações Euclides Quandt de Oliveira, na administração Dutra e durante grande parte das décadas seguintes os governos não tinham planos formais para a recuperação da telefonia e a expansão das telecomunicações. Esta responsabilidade era tida como exclusiva das concessionárias , não cabendo ao Estado intervir.

O Plano Salte não entrou em telecomunicações. Por quê? Porque o governo, até então, considerava primeiro que telecomunicações era telefonia, que a telefonia era uma responsabilidade dos concessionários e que esses concessionários eram todos estrangeiros. 19 (Oliveira,2005)

No segundo governo Vargas (1951-1954), o discurso de defesa dos interesses nacionais e de combate à participação estrangeira na esfera econômica, principalmente nos serviços públicos, tornou-se dominante entre as lideranças populares e os políticos populistas. Os apagões sacrificavam a população e causavam prejuízos à indústria. A degradação dos serviços telefônicos, por sua vez, atingira um ponto tal, que passara ser considerado um gargalo ao desenvolvimento econômico do país.

Como decorrência de uma política de “abrasileiramento” das empresas estrangeiras, a Lei Nº. 2.354, de 29 de dezembro de 1954, obrigou as empresas estrangeiras a converterem seus balanços para cruzeiros, porém não estipulou câmbio para essa conversão. Quandt de Oliveira (1992) atribui a esse fato e às constantes mudanças nas políticas cambiais a discussão que se estendeu por longo tempo sobre o valor da Companhia Telefônica Brasileira e a sua disponibilidade financeira para

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investimento em expansão. O Decreto nº. 40.439, de 28 de novembro de 1956 concedeu nacionalização à Sociedade Anônima Brazilian Telephone Company, sob a denominação de Companhia Telefônica Brasileira. A empresa, apesar de nacionalizada, continuou sob o controle acionário da canadense Brazilian Traction and Light Power.

Nas principais cidades brasileiras, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, devido à aceleração da industrialização e a conseqüente urbanização, estava ocorrendo uma enorme defasagem entre a oferta e a demanda de serviços públicos de um modo geral. Segundo dados do Banco Mundial (Banco Mundial, apud Oliveira,1992: 75), na década de 1950, a CTB operava aproximadamente 75% dos telefones no Brasil. Suas concessões eram contíguas (DF, RJ, SP, MG e ES) e cobriam a área de maior concentração populacional do país. A operação dos 25% de telefones restantes estava a cargo de mais de 800 entidades, incluindo prefeituras, pequenas e médias empresas e cooperativas. Assim qualquer processo de expansão do serviço telefônico envolvia a CTB. Ainda segundo Quandt de Oliveira (1992), o serviço no Rio de Janeiro apresentava falhas, era insuficiente para atender a demanda, mas ainda assim era o melhor do Brasil. Por ser sede do governo federal, a cidade do Rio de Janeiro era naturalmente o alvo prioritário das reclamações, embora, na prática, a situação em São Paulo fosse ainda pior.

1.7 - A crise na cidade do Rio de Janeiro

Um novo contrato de concessão entre a Prefeitura do Distrito Federal e a Companhia Telefônica fora assinado em 26 de setembro de 1953 (Oliveira, E.Q., 1992: 267), já dentro de uma doutrina moderna de concessões de serviços públicos. Esse contrato estipulava o número de terminais telefônicos a serem instalados, as tarifas a serem cobradas e um cronograma de expansão, mas não foram incluídas as garantias para uma boa execução da expansão. (Oliveira, E.Q. 1992: 226). Diante do volume de reclamações sobre o serviço telefônico prestado pela CTB, principalmente por parte do comércio e da indústria, o prefeito Francisco Negrão de Lima decidiu ainda em 1956 pelo estabelecimento da comissão de Fiscalização prevista no contrato.

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do poder aquisitivo da população e às tarifas em geral cobradas para os serviços públicos, e tinha ocorrido num momento em que as empresas não estavam nem financeira nem tecnicamente preparadas para proporcionar uma oferta que diminuísse a fila de pedidos. Pela previsão do relatório, a CTB levaria mais de vinte anos para atender à demanda, mesmo se reinvestisse integralmente os lucros e as reservas. O relatório afirmava também que a concessionária vinha se mostrando desinteressada em obter novos recursos, fosse por aumento de capital social, fosse pela obtenção de novos empréstimos, alegando que os lucros contratuais permitidos não atraíam novos acionistas e que não desejava submeter os títulos existentes a uma baixa cotação na Bolsa de Valores. Para a segunda alternativa, havia dificuldade de obtenção de empréstimos no mercado internacional.

Ao analisar o crescimento do número de terminais instalados desde 1910, o relatório demonstrava que sempre ocorreram irregularidades no atendimento à demanda e mencionava como possíveis causas das dificuldades entre o poder concedente e a concessionária na interpretação de questões de ordem jurídica de cláusulas contratuais. As dificuldades de serem estabelecidas regras de longo prazo eram atribuídas à instabilidade do cenário brasileiro.

A dificuldade de se estabelecer normas e princípios para vigorar em um largo período, principalmente em nosso país, onde as condições sociais e econômicas sofrem evoluções turbilhonares, acarretam sempre a caducidade, de fato de dispositivos contratuais, estribadas em argumentos sibilinos de interpretação jurídica, com graves prejuízos para a indispensável expansão dos serviços (Comissão de Fiscalização, Relatório 2,1957, apud Oliveira, 1992: 363).

A Comissão elaborou, em conjunto com a CTB, um plano para a instalação dos novos telefones, com o respectivo cronograma econômico-financeiro, levando em consideração inclusive os custos de importação, já que praticamente inexistia uma indústria de equipamentos no Brasil.20 No relatório constava como premissa que no regime de concessão vigente as concessionárias eram obrigadas a expandir o serviço de modo a atender a todos os novos assinantes. A comissão ainda salientou que os quadros técnicos da companhia estavam dimensionados para uma situação de rede estagnada e não poderiam atender ao ritmo de expansão, previsto em 12%, necessário ao

20

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cumprimento do plano estabelecido. Partindo desse quadro de definições e concluindo que a companhia sozinha não tinha como proceder à expansão e que a encampação não era possível naquele momento, a comissão elaborou uma proposta para distribuição dos custos do investimento. Os custos de expansão seriam cobertos pelo re-investimento total dos lucros decorrentes da operação no Rio de Janeiro, o Fundo de Encampação21 seria elevado para 20% do valor das contas dos assinantes; adicionalmente, os futuros assinantes deveriam pagar o custo da instalação dos telefones, mas este valor seria considerado um empréstimo a ser devolvido pela CTB.22

O problema da CTB, no Rio de Janeiro nada tinha de original, repetindo-se em todos os estados e cidades do Brasil, não só para telecomunicações, mas para diversos serviços públicos. A impossibilidade de obtenção de recursos para expansão e incapacidade técnica para atendimento da demanda na velocidade demandada eram os principais entraves à solução do problema. 23

O Governo Kubitscheck acompanhou a ação da Prefeitura do Distrito Federal, mas a sua preocupação não se limitava à capital. O problema se estendia a outras localidades24, conforme salientado no próprio relatório da Prefeitura.

Para JK, as dificuldades nas comunicações telefônicas dificultavam o desenvolvimento almejado pelo seu Plano de Metas. Deste modo, foi criada em 1957, pelo Decreto nº. 41.800, uma comissão responsável pelo estudo da expansão dos serviços telefônicos em todo o país. Os estudos não se transformaram em projeto de lei, mas foram encaminhados ao Estado Maior das Forças Armadas, como subsídio para a implantação das comunicações na nova capital (Oliveira, 1992:39). Foi formada uma

21

O Fundo de Encampação era previsto em contrato e visava cobrir, mesmo que parcialmente, os custos com uma possível encampação

22

Oliveira, E. Q. idem , p 229

23

Comissão de Fiscalização idem p 361

24

O longo tempo de espera para instalação para diversas localidades é confirmado pelo relatório da TELEBRASil de 1966 e pelo depoimento de um ex-empregado da CTB em Minas.

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comissão mista (civis e militares) para elaborar planos de modo a garantir a comunicação a partir de Brasília com todo o resto do país.

Esses estudos, embora tenham servido de subsídios para o que veio mais tarde a ser Código Brasileiro de Telecomunicações, não tiveram influência imediata na melhoria dos serviços. Também não foram estabelecidas propostas que possibilitassem o aporte financeiro necessário à expansão e à modernização dos serviços. A inflação em níveis mais elevados, embora fosse recente, já afetava as empresas, pois não estava previsto nenhum reajuste de tarifas fora do período de renovação do contrato. As concessionárias eram estrangeiras e o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDE) não possuía linha de crédito destinada à telefonia. O aumento previsto do Fundo de Encampação de 4% para 20% sobre a conta mensal dos assinantes também não foi efetuado. Desse modo, a primeira reação das concessionárias locais à deterioração do valor das tarifas foi estancar o processo de expansão, deixando assim de atender a novos clientes e aumentar a capacidade da rede existente.

O governo brasileiro, com o objetivo de incentivar o desenvolvimento industrial, decidiu conceder benefícios a fim de incentivar a produção no país de equipamentos de telecomunicações. A Lei nº. 3.683, de 9 de dezembro de 1959, representou a primeira iniciativa para modernização dos equipamentos e um esforço no sentido do estabelecimento de uma indústria de equipamentos de telecomunicações. Ela concedia isenção de direitos para importação de peças e materiais destinados à fabricação, no país, de centrais telefônicas automáticas para serviços públicos.

Até o início da década de 1960, a CTB ainda conseguiu fazer instalações de novos terminais, sobretudo na cidade do Rio de Janeiro. No entanto, a pressão gerada não só pela demanda reprimida como pelo surto de crescimento industrial que ocorria no país causaram impacto na qualidade dos serviços, a ponto de serem observadas demoras para a obtenção do tom de discar de até 30 minutos no centro da cidade do Rio de Janeiro.25

A resolução dos problemas que afetavam a capital era um forte instrumento para demonstrar a eficiência de uma administração e a possibilidade de ser esta administração capaz de resolver os problemas do país. Em 5 de dezembro de 1960, Carlos Lacerda foi empossado como primeiro governador do recém-criado estado. Logo após a posse,

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Tabela II
Tabela III
Tabela IV – TELEBRÁS -Informações Financeiras- Consolidado- US$milhões
Gráfico I – Valores anuais apurados com as privatizações no Brasil
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Referências

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