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Caminhos para a proteção integral da criança e do adolescente: o caso de Franca

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CAMINHOS PARA A PROTEÇÃO INTEGRAL DA

CRIANÇA E DO ADOLESCENTE:

O CASO DE FRANCA

(2)

ADRIANA GIAQUETO

CAMINHOS PARA A PROTEÇÃO INTEGRAL DA CRIANÇA

E DO ADOLESCENTE:

O CASO DE FRANCA

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Serviço Social da Faculdade de História, Direito e

Serviço Social da Universidade Estadual Paulista “Dr.

Júlio de Mesquita Filho”, Campus de Franca, para a

obtenção do título de doutor em Serviço Social (Área

de Concentração – Serviço Social – Trabalho e

sociedade).

Orientadora

:

Prof

ª. Drª.

Ana Maria Ramos Estevão

(3)

Giaqueto, Adriana

Caminhos para a proteção integral da criança e do adolescente : o caso de Franca / Adriana Giaqueto. –Franca: UNESP, 2004

Tese – Doutorado – Serviço Social – Faculdade de História, Direito e Serviço Social – UNESP – Franca.

1. Políticas sociais – Crianças e adolescentes – Franca (SP). 2. Proteção integral – Crianças e adolescentes.

CDD – 362.76

(4)

ADRIANA GIAQUETO

CAMINHOS PARA A PROTEÇÃO INTEGRAL DA CRIANÇA

E DO ADOLESCENTE: O CASO DE FRANCA

TESE PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE DOUTOR

COMISSÃO EXAMINADORA:

Presidente e Orientador: ...

Examinador 2: ...

Examinador 3: ...

Examinador 4: ...

Examinador 5: ...

(5)

DEDICATÓRIA

À Mariana, minha filha.

A partir de você a vida passou a ter um novo sentido, novo sabor, novo

colorido... Te amo. Você inspira a pensar que toda criança devia ter um rostinho

alegre como o seu.

Ao Nô.

Mais que companheiro, você conquistou esta vitória junto comigo.

(6)

AGRADECIMENTOS

A Deus, que se revela em tudo e em todas as pessoas, mas de forma

intensificada naqueles que lutam corajosamente para viver, entre estes, aqueles

que cedo tiveram que aprender a lutar muito pela vida...

À professora orientadora Ana Maria Ramos Estevão, por ter respeitado

meus erros e acertos, minhas idas e vindas, como fazem os pais quando

observam os filhos aprendendo a andar... E apenas ajudam quando os filhos

caem. Respeitar o crescimento é uma arte.

(7)

GIAQUETO, Adriana. Caminhos para a proteção integral da criança e do adolescente: o caso de Franca. Franca, 2004. Tese (Doutorado em Serviço Social). Faculdade de História, Direito e Serviço Social – Universidade Estadual Paulista “Dr. Júlio de Mesquita Filho” – UNESP – Campus de Franca/ SP.

RESUMO

A situação das crianças e adolescentes ameaçados ou violados em seus direitos básicos, em Franca, não é diferente da maioria das cidades brasileiras. Há ainda um longo caminho a ser percorrido no sentido da proteção integral, no entanto, os passos que já foram dados servem de experiência acumulada para os próximos. O resgate histórico da construção da política voltada à criança e ao adolescente em Franca, mais do que um registro desta experiência – que traz características comuns a outros municípios, visto que faz parte de uma totalidade, mas que também contém traços particulares – pretendeu verificar e demonstrar como são percebidas as contradições no âmbito municipal e no cotidiano de quem lida com esta realidade de perto. Mais do que compreender este universo, o presente estudo procurou investigar se existem possibilidades de contribuir – por parte daqueles que têm a oportunidade de participarem da elaboração das políticas sociais – com a efetivação dos direitos e não, ao contrário, com a efetivação da dominação, atenuando os conflitos sociais decorrentes das precárias condições de vida a que se encontram submetidas as classes subalternas. Utilizamos metodologia qualitativa, entrevistando alguns dos sujeitos que participaram e/ou participam de alguma forma na elaboração da política voltada à criança e ao adolescente na cidade de Franca e realizamos observação participante no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e no programa “Rede Criança/Adolescente” (da prefeitura municipal). Juntando as vivências, as percepções, as interpretações, os conhecimentos, é que conseguimos identificar os desafios, mas principalmente, as possibilidades de atuação através da política social a favor, enfim, das crianças e adolescentes.

(8)

Giaqueto, Adriana. Ways to a child and adolescent total protection: the Franca case. Franca, 2004. Thesis (Social Service Doctor’s Degree) History, Laws and Social Service College – Paulista State University “Dr. Júlio de Mesquita Filho” – Franca Campus/SP.

ABSTRACT

The situation of children and adolescents threatened or violated in their basic rights in Franca is not different from the most of the brazilian cities. There is a long way to pass through in the path of total protection, however, the steps that have been given serve as accumulated experience for the next ones. The historic of the political construction turned to the child and adolescent in Franca, more than just a register of this experience – what brings common characteristics to other cities, seen as part of a totality, but even have particular lines – pretend to verify and demonstrate how the contradictions are understood in the municipal field and the daily of a person who nearly deals with this reality. More than to this universe, the present study tried to investigate if there are possibilities to contribute – for the ones who have the opportunity to participate at the social politics elaboration – with the effective rights of the domination, diminishing the social conflicts originated from the life contradictions in wich the subordinated from the life contradictions in wich the subordinated classes are submitted. We use qualitative methodology, interviewing some people who have participated or are still participating in any way children and adolescent in the city of Franca and we do participant observation at the Municipal Consil of the Children and Adolescent Rights and at the “Child/Adolescent Net” (from the Municipal Aty Hall) Adding the existences, the perceptions, the interpretations, the knowledge, we can identify the challenges, but mainly, the possibilities of acting through social politics in favor of, at last, the children an adolescents.

(9)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 08

I - CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA DE ATENDIMENTO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE EM FRANCA A PARTIR DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ...….... 1.1 A atual política de atendimento à criança e adolescente em Franca... 26

1.2 A história da atenção à infância e adolescência no Brasil: as políticas sociais e as legislações ...…. 1.3 O resgate histórico da construção da política de atendimento à criança e ao adolescente em Franca a partir do ECA ... II- REFORMA DO ESTADO E POLÍTICA SOCIAL... 91

2.1 O Estado... 91

2.2 Mudanças no mundo do trabalho, globalização, neoliberalismo... 106

2.3 Reforma do Estado e políticas sociais no Brasil... 118

III- DESAFIOS E POSSIBILIDADES À PROTEÇÃO INTEGRAL DA CRIANÇA E ADOLESCENTE EM FRANCA À LUZ DA TRAJETÓRIA PERCORRIDA ………...……… MAIS ALGUMAS CONSIDERAÇÕES... 181

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS……….… 190

APÊNDICE...198

ANEXOS ………. 200 26

42

54

(10)

INTRODUÇÃO

“...a crítica não arranca flores imaginárias dos grilhões para que os homens suportem os grilhões sem fantasia e consolo, mas para que se livrem deles e possam brotar as flores vivas”. (K. Marx, 1977)

A presente pesquisa está relacionada às questões com as quais temos trabalhado

enquanto assistente social, coordenando programas e projetos voltados ao atendimento à

criança e ao adolescente e também enquanto conselheira do Conselho Municipal dos Direitos

da Criança e do Adolescente.

O objeto deste estudo – a política de atendimento à criança e adolescente em Franca a

partir do Estatuto da Criança e do Adolescente – surgiu, portanto, das inquietações e reflexões

provenientes da atuação profissional, desde 1990 na prefeitura municipal de Franca, com a

política de atenção às crianças e adolescentes, especialmente aqueles ameaçados em seus

direitos básicos.

Optamos por não usar o termo “em situação de risco”. Tal restrição decorre do

entendimento de que este remete para a mensagem, preconceituosa, de que apenas os pobres

são vulneráveis, quando na verdade a sua maior sujeição à vulnerabilidade está na sua

condição de criança e adolescente amplamente potencializada pela situação de pobreza.

(11)

de evidente exclusão social (organizam-se serviços não para a cidadania em geral, mas para esses excluídos ou criam-se instituições para esses discriminados ou rotulados). Em resumo: Rotula-se, discriminando e excluindo. Discrimina-se, excluindo e rotulando. Exclui-se, rotulando e discriminando. (SEDA, 2002, p.304)

Com as eleições em Franca, em 1997, a administração petista assumia a prefeitura, e

neste mesmo ano passamos a atuar na Secretaria da Cidadania e Ação Social1 na área de

atendimento à criança e ao adolescente, experiência que nos proporcionou o contato direto

com questões relativas à política social de atendimento a este segmento.

Além disso, participamos do Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente;

colaboramos com a reestruturação da Casa do Aconchego2; com a elaboração e implantação

do projeto Educação de Rua3; do projeto CASA4; do projeto Família de Apoio 5; do projeto de

Liberdade Assistida 6; colaboramos com a descentralização e reestruturação do projeto

Educarte 7.

No ano de 2001 passamos a atuar na Secretaria Municipal de Governo, especialmente

com o programa “Rede Criança /Adolescente”, o qual objetivava “articular as ações, tanto

entre os órgãos públicos municipais, como entre estes e os órgãos não-governamentais,

favorecendo um atendimento com mais qualidade às crianças, adolescentes e famílias”

(conforme documentação interna do mesmo).

1 A Secretaria já teve várias denominações; era denominada em 1997 de Secretaria Municipal da Cidadania e

Ação Social e na época do início da pesquisa, em 2002, de Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social.

2 Equipamento criado para acolher crianças vitimizadas e impossibilitadas de retorno imediato ao convívio

familiar.

3 Projeto de atendimento a crianças e adolescentes em situação de rua.

4 Centro de Apoio Semi Aberto, para atendimento de adolescentes em medida de semiliberdade. 5 Atua com famílias que acolhem por tempo determinado, crianças e/ou adolescentes vitimizados) 6 Para adolescentes em medida sócio-educativa de Liberdade Assistida.

7 Atende crianças e adolescentes na faixa etária de 7 a 14 anos através de atividades sócio-educativas, culturais e

(12)

Em todos os trabalhos vivenciamos situações, como a destinação de parcos recursos

para o atendimento à população mais vulnerabilizada8; os serviços sociais reduzidos em

quantidade, qualidade e variabilidade; programas focalizados, isto é, contra o princípio

universalista, as políticas destinam-se apenas a uma população carente de determinado serviço

pontual; a desarticulação dos serviços; relações hierarquizadas, com concentração do poder

nas mãos de poucos, ou seja, existe apenas descentralização operacional, mantendo-se

centralização normativa, administrativa e econômica; a ausência dos usuários dos serviços

sociais na definição das políticas.

É evidente que não constituem situações isoladas, mas comum à realidade vivenciada

em outros municípios e conseqüência de um processo histórico, por sua vez, resultado de

fatores conjunturais e estruturais.

Por este motivo, temos claro que investigar sobre determinada política social implica

tratar de temas clássicos das teorias sociais, como a distribuição do poder, o papel do Estado,

conflitos sociais, os processos de decisão, a repartição de custos e benefícios sociais.

Costa define política social como “o conjunto das leis, instituições, políticas e

programas criados pelo poder público e voltados para a distribuição de bens e serviços

destinados a promover e garantir os direitos sociais dos cidadãos”. (1990, p.71).

Políticas sociais são também definidas, por Faleiros, como “formas de manutenção da

força de trabalho econômica e politicamente articuladas para não afetar o processo de

exploração capitalista e dentro do processo de hegemonia e contra-hegemonia da luta de

classes e da correlação de forças presentes na sociedade”. (1986, p. 80).

8 Estamos entendendo vulnerabilidade como a condição “desfavorável dada”; é a condição objetiva da situação

(13)

Não há dúvida de que este tema é complexo e muito discutido no âmbito das ciências

sociais, sendo que podemos encontrar, nos estudos referentes à política social, diferentes

concepções de Estado.

Lima (1982, p.31) destaca que um elemento fundamental na configuração destas

posições é a relação Estado/sociedade civil9. Uma das concepções, segundo a autora, é a

liberal do Estado de Bem-Estar, fundada no pensamento liberal – liberdade e propriedade –, a

teoria do Welfare State concebe o Estado como o árbitro que, acima dos interesses que estão na sociedade, garante a justiça e o bem-estar de todos e de cada um. Nessa perspectiva, a

liberdade é vista como bem maior que não pode ser afetado nem mesmo por nenhuma

melhoria na igualdade; o Estado não deve intervir – ou intervir o mínimo possível – na vida

econômica, concebendo-se o mercado como mecanismo automático e regulador da sociedade

que, na sua lógica, concede a cada um o que é devido, aos mais fortes, os lucros e os

benefícios e, aos mais fracos, o que lhes é possível conquistar. As desigualdades são

atribuídas aos indivíduos, concebendo-se a pobreza como resultado da incapacidade e da

acomodação.

Como “árbitro imparcial e justo”, teria o encargo de conceder uma ajuda mínima àqueles que tivessem se mostrado incapazes no jogo de mercado. É a política do bem-estar, visando a criação de direitos dentro do consenso social, para manutenção de um mínimo razoável para os menos favorecidos e abertura de oportunidades, o que aparece bem delimitado nos objetivos da política social viabilizada pelo Estado: “equalização de oportunidades para os diferentes estratos da população” e “otimização dos níveis de vida da população”. (LIMA, 1982, p.33).

A concepção liberal do Estado do Bem-Estar, enfim, é a visão assumida pelo

capitalismo e serve como legitimação e ocultação de uma sociedade desigual. O princípio do

9 “entende-se aqui sociedade civil como o conjunto das forças que estão na sociedade, configurando as relações

(14)

consenso oculta e mascara a divergência de interesses, sendo o consenso imposto, servindo

como instrumento de reprodução da exploração capitalista.

Uma outra concepção é a marxista do Estado instrumento, na qual ele é visto como

instrumento exclusivo da classe dominante, reduzido a um bloco monolítico que assume os

interesses imediatos e mediatos da classe dominante, não sendo permeado pelas contradições

e luta de classes que estão sociedade.

Essa concepção é assumida por uma corrente economicista do marxismo; para Lima

(1982), representa um avanço em relação à visão do Estado do Bem-Estar, ao evidenciar a

verdadeira natureza enquanto Estado de classe, no entanto, incorre numa interpretação

reducionista e economicista do mesmo, ao concebê-lo exclusivamente como instrumento da

classe dominante, colocando-o como instituição externa à sociedade – impermeável às

contradições que estão nessa sociedade. Nesse sentido, obstaculiza a compreensão da questão

na visão marxista, uma vez que o próprio Marx faz análises que indicam a existência de

variáveis sócio-políticas na configuração de sua natureza nas diferentes sociedades

capitalistas.

Uma terceira concepção é a marxista do Estado ampliado, a qual o concebe como uma

instituição constituída e atravessada pelas contradições de classe. Essa perspectiva funda-se

na tese de que o Estado capitalista apresenta invariantes – advindas de sua natureza de Estado

de classe – mas também possui variantes sócio-políticas.

O pensamento de Antônio Gramsci, referente à interpretação ampliada do Estado, vem

possibilitando grandes avanços na análise marxista, no sentido da superação dos limites das

interpretações economicistas e reducionistas.

Nessa concepção, o Estado defende os interesses da classe dominante, mas não o faz

reflexa e imediatamente, mantendo um relativo espaço em que, muitas vezes, contraria os

(15)

permeado pelas contradições que estão na sociedade, incorporando os interesses da classe

dominante. Uma das formas pela qual o mesmo incorpora esses interesses da classe dominada

é a política social, através do que é propiciado às classes trabalhadoras, o mínimo de direitos e

garantias em termos de benefícios e serviços.

Pastorini (1997, p. 80) também aborda a questão da política social compreendida

através de duas perspectivas: na primeira perspectiva, estão os autores que entendem as

políticas sociais como mecanismos de redistribuição de renda social, um conjunto de ações,

por parte do aparelho estatal, que tende a diminuir as desigualdades sociais.

As políticas sociais são entendidas, nesta perspectiva, como “concessões” por parte do

Estado e definidas como mecanismos tendentes a redistribuir os “escassos recursos sociais”,

com a finalidade de melhorar o bem-estar da população como um todo, especialmente

daqueles prejudicados pelo mercado. Nesta linha de raciocínio, a solução passaria pela

alternativa de uma melhor redistribuição de renda ou uma distribuição “menos desigual” dos

recursos sociais.

Teriam o objetivo de compensar aqueles que foram prejudicados na distribuição. Esta

redistribuição tem na tributação, o principal instrumento de arrecadação de recursos escassos,

que serão orientados às populações carenciadas, indiretamente, como serviços ou diretamente,

como ajudas econômicas, gerando, segundo os autores que aderem a esta corrente, o

reequilíbrio social.

Estes autores fazem alusão à “redistribuição” e não à “distribuição”, ou seja, as

políticas sociais teriam a finalidade de repartir os “recursos escassos” e cujos custos são

socializados (todos contribuem para produzi-los, não só aqueles que são mais favorecidos) por

meio da tributação.

Marshall caracteriza-se como um dos autores que expressam esta concepção de

(16)

Inglaterra, delineia a história a partir das últimas décadas do século XIX até os primórdios da

década de 60, tentando indicar as características gerais da situação nos países mais avançados

do mundo contemporâneo. (MARSHALL, 1967, p.7 apud PASTORINI, 1997, p.82). A

análise realizada por este autor encontra-se centrada na discussão da ajuda e da assistência do

Estado aos trabalhadores e aos indigentes, pensando as políticas sociais como meros

instrumentos de redistribuição da renda entre diferentes grupos ou classes sociais.

A outra perspectiva é a marxista, a qual transcende a análise das políticas sociais como

instrumentos “neutros” de redistribuição da renda e de reequilíbrio social, colocando-as como

espaço e conseqüência das lutas sociais e de classes, e como uma unidade

político-econômico-social, contemplando, assim, uma visão de totalidade.

A perspectiva marxista incorpora, então, na análise das políticas sociais dois

elementos: a questão da totalidade e a luta de classes.

Estudar as políticas sociais a partir desta perspectiva implica, por um lado, apreender

conjuntamente os momentos de produção e de distribuição como elementos constitutivos de

uma totalidade. Por outro lado, implica também considerar a economia e a política como

fazendo parte de uma unidade.

... a separação mecânica entre a economia e a política deve tornar impossível toda ação realmente eficaz que vise a totalidade da sociedade, que assenta numa interação ininterrupta destes dois momentos reciprocamente condicionados. Além disso, o fatalismo econômico impede qualquer ação energética no plano econômico, enquanto o utopismo estatal aponta para a expectativa do milagre ou para uma aventurosa política de ilusões. (LUCKÁCS, 1974:217).

Dentro da perspectiva marxista, só poderemos capturar a complexidade de um

fenômeno social se compreendermos os seus vínculos com a economia e a política, sem

(17)

Behring (1998, p.21) chama a atenção para o fato de que algumas abordagens

incorrem no paradoxo de recorrer a categorias da tradição marxista e, ao mesmo tempo,

trabalhar sob o enfoque distributivista-keynesiano, o que remete a um verdadeiro ecletismo.

Neste caso, o redistributivismo vem à tona com a aposta na política social como via de

solução da desigualdade, desconsiderando a natureza do modo de produção e reprodução

sociais, bem como a particularidade brasileira.

Para trabalhar a questão da totalidade, a referida autora recorre à categoria

“capitalismo tardio” de Ernest Mandel, enquanto totalidade do mundo do capital numa época

em que suas tendências de desenvolvimento alcançaram a maturidade e suas contradições

estão ainda mais latentes, promovendo, como nunca, efeitos regressivos. Segundo a mesma

(1998, p.112), Mandel, em “O Capitalismo Tardio”, resgata a categoria da totalidade e

posiciona-se contrariamente às interpretações monocausais do desenvolvimento capitalista,

entendendo que as formas concretas que esse modo de produção engendra em cada momento

histórico são resultantes da interação de uma série de variáveis parcialmente independentes

entre si. Essa relativa independência das variáveis é o que exige do esquema teórico a

flexibilidade necessária que permita incorporar mediações que, num mesmo momento

histórico, configuram realidades diferentes.

Além da questão da totalidade, um segundo elemento importante que a perspectiva

marxista incorpora às análises das políticas sociais é a necessidade de pensá-las tendo

presente a existência das lutas de classes que permeia a sociedade capitalista.

Partindo da idéia que as políticas sociais são um produto de uma relação não bipolar,

mas multipolar, que envolve diferentes sujeitos - o Estado, as classes hegemônicas e as

classes subalternas – esses mecanismos institucionais são produtos das lutas de classes e da

(18)

Nessa relação conflitiva, o Estado, que se apresenta como mediador de conflitos, deve

incorporar, para obter legitimação, algumas das reivindicações e demandas dos setores

subalternos; dessa forma, se estabelece um “pacto de dominação” (cf. KOWARICK, 1985,

p.7) implícito, onde o Estado inclui e dá resposta a alguns dos interesses e demandas das

classes subalternas em troca da sua legitimação.

A reflexão sobre o Estado e suas formas de regulação social remete-nos ao tema das

relações – recíprocas e antagônicas ao mesmo tempo – entre Estado e sociedade civil. Nestas

relações, ao longo da História, podemos perceber que o Estado não é um fenômeno dado,

neutro e pacífico, mas um conjunto de relações criado e recriado num processo histórico

conflituoso e contraditório, em que grupos, classes ou frações de classe se confrontam em

defesa de seus interesses particulares.

Segundo Bravo e Pereira:

... não se pode falar do Estado (e da sociedade) como um fenômeno genérico e estático. Sua dinâmica e particularidade recomendam qualificá-lo e situá-lo na história, pois não obstante todos os tipos de Estado estarem assentados na idéia de poder – configurando pactos institucionalizados de dominação -, existem diferenças marcantes entre eles. (2001, p. 26, grifo do autor)

Sobre este aspecto, Pastorini (1997) chama a atenção para o fato de que as análises

tradicionais referidas às políticas sociais não conseguem captar o que acontece do “outro lado

da moeda”, isto é, do lado do povo, da sociedade civil; dessa forma, essa relação não pode ser

pensada unilinearmente, já que não são as classes subalternas as que “conquistam” e o Estado

o que concede, mas que em todas e cada uma das políticas sociais existem aspectos de

conquistas, tanto das classes subalternas quanto do Estado e das classes hegemônicas. Por

outro lado, ao mesmo tempo em que o Estado e as classes dominantes “concedem”, os setores

(19)

É importante lembrar que a dominação de classe exercida pelo Estado é

constituída/atravessada pelas contradições que se expressam na sua relação com as classes

dominantes e com as classes dominadas. As classes dominantes não são homogêneas, mas são

compostas de distintas frações que expressam interesses particulares, nem sempre

coincidentes, relacionados com o setor do qual realizam a acumulação.

... a dominação exercida pelo Estado é contraditória: não apenas porque no seio do próprio Estado estabelecem-se lutas e oposições internas pela hegemonia e pela apropriação de maior parte do excedente econômico, mas também porque, embora o Estado capitalista exclua as classes dominadas, deve ser capaz de, simultaneamente, responder a algumas de suas demandas. (RAICHELIS, 1988, p.27).

Nesta linha de raciocínio, a política social é vista como um fenômeno contraditório,

não podendo ser analisada de forma linear, como uma função apenas das necessidades do

desenvolvimento capitalista ou como o resultado apenas das lutas políticas da classe

trabalhadora organizada.

É dentro da perspectiva marxista, do Estado ampliado, que pretendemos desenvolver a

análise que estamos propondo, ou seja, considerando a política social como um fenômeno

contraditório, uma vez que ao mesmo tempo em que atende os interesses dos representantes

do capital, preservando o potencial produtivo da mão-de-obra e, em alguns momentos,

desmobilizando a classe trabalhadora, também responde positivamente aos interesses desta

mesma classe, quando suas reivindicações são atendidas, o que representa ganhos na luta

contra o capital.

Pretendemos compreender quais os fatores conjunturais e estruturais que configuram a

realidade em estudo para apreendermos as possibilidades de transformação.

Consideramos que as políticas sociais por si só, não transformam – ainda mais

(20)

campo das políticas sociais, de forma a contribuir com a busca de instrumentos a favor das

classes dominadas.

A Política de Atenção à Infância e à Adolescência possui uma natureza

intrinsecamente diferente das políticas setoriais, pois se define por seu público alvo – crianças

e adolescentes – tendo por objetivo a garantia de todos os seus direitos fundamentais. Implica,

portanto, o envolvimento das demais políticas voltadas para esses beneficiários: educação,

saúde, esporte, cultura, lazer, trabalho e assistência social.

Essa política possui ainda uma outra especificidade: apresentar uma grande interface

do poder executivo com o judiciário, o qual confere o respaldo necessário nas questões que

envolvem sua função precípua de dirimir conflitos e que são rotineiras nessa área, como é o

caso das adoções, guarda, tutela e na aplicação de medidas pertinentes aos adolescentes

autores de ato infracional.

De todas as políticas públicas através das quais a política da infância e da adolescência

se viabiliza operacionalmente, a da assistência social assume dimensões especiais. Isto se dá

porque, embora por definição a política de atendimento às crianças e aos adolescentes seja

universal – voltada para toda à população infanto-juvenil – observa-se, em relação às

demandas de ações com essa clientela, uma forte concentração vinculada ao corte da pobreza

e da situação de vulnerabilidade social.

Muito já se escreveu sobre o impacto da mundialização da economia, do autoritarismo,

da precarização do trabalho, sobre as políticas sociais e sobre estas enquanto espaço

contraditório de luta pela contra-hegemonia, como também de estratégia de dominação.

Nós pretendemos, com este estudo, verificar e demonstrar como são percebidas estas

contradições no âmbito municipal e no cotidiano de quem lida com esta realidade de perto.

Mais do que resgatar este histórico em Franca procuramos identificar as dificuldades,

(21)

um campo aparentemente “árido” (poucos recursos, muitas dificuldades), conseguem atuar a

favor, enfim, das crianças e adolescentes.

Buscamos extrair dos depoimentos um conteúdo que, à primeira vista, talvez nem

esteja revelado para os próprios sujeitos: quais os fatores que os impulsionaram a continuar

buscando caminhos numa luta de grandes dificuldades, ou seja, a luta pela efetivação dos

direitos das crianças e adolescentes? Existem possibilidades de um trabalho - através das

políticas sociais e especificamente, por parte daqueles que têm a oportunidade de participarem

da elaboração das políticas - que contribua com a efetivação dos direitos e não, ao contrário,

com a legitimação da dominação, atenuando os conflitos sociais decorrentes das precárias

condições de vida a que se encontram submetidas as classes subalternas10?

Infelizmente, podemos constatar que não é grande o universo das pessoas que

participam da elaboração das políticas sociais. Geralmente são pessoas que ocupam cargos

estratégicos ou estão vinculadas a órgãos envolvidos com a elaboração da política de

atendimento, como o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente

(CMDCA), o Juizado da Infância e Juventude, a Promotoria da Infância e Juventude, além

dos encarregados pelo trabalho nos órgãos públicos municipais.

Em relação a estes últimos, por pretendermos enfocar o atendimento à população

usuária que mais necessita das políticas sociais básicas, uma vez que está sendo violada em

seus direitos, buscamos ouvir um representante da Secretaria que atua com a área da

assistência social no município.

Não se caracteriza nosso objetivo investigarmos as causas da não participação dos

usuários na elaboração das políticas públicas, mas empiricamente podemos constatar que

constituem exceções os casos em que os próprios usuários participam dos espaços de

10 Comungamos do pensamento de Yasbek (1993, p.17) ao optarmos pela categoria “subalterno”, legado

(22)

definição, como reuniões do CMDCA, Conferências dos Direitos da Criança e do

Adolescente, reuniões temáticas ampliadas e fóruns de discussão.

Assim sendo, buscamos sujeitos que vivenciaram a passagem do Código de Menores

para o ECA, que participaram e/ou estão envolvidos de alguma forma na elaboração desta

política.

Através das entrevistas foram registradas descrições e observações a respeito do

processo de construção da política de atendimento, isto é, como os sujeitos vivenciaram,

como participaram, como compreenderam as questões relacionadas à política de atendimento

à criança e ao adolescente.

Juntando estas diferentes vivências e compreensões, acreditamos poder desvelar as

contradições que permeiam este universo e através delas, identificar possibilidades de atuação

realmente a favor dos usuários das políticas sociais.

Para apreensão do objeto de nossa pesquisa (a política de atendimento à criança e ao

adolescente de Franca a partir do Estatuto da Criança e do Adolescente) optamos por trabalhar

na perspectiva histórico–crítica, com categorias históricas e não com concepções abstratas,

com temas históricos e não com cronologias, com a concepção de contradição presente na

dinâmica do processo em estudo, visualizando o social como processo e não como estrutura.

Considerando que a prática pode ser questionadora e produtora de conhecimento se

estiver dialeticamente unida à teoria, é que a presente pesquisa apresenta um estudo de caso: a

construção da política de atendimento à criança e ao adolescente a partir do ECA em Franca/

SP/ Brasil, utilizando três instrumentos básicos: a pesquisa bibliográfica, realizada através do

levantamento da produção acadêmico – científica (teses, dissertações) e livros (fontes

bibliográficas) sobre a temática; a pesquisa documental e de campo.

A pesquisa documental constou do levantamento e realização de pesquisa em

(23)

Direitos da Criança e do Adolescente e Conselho Tutelar) e da Secretaria Municipal de

Assistência e Desenvolvimento Social11. Investigamos também, a proposta política da

administração municipal, referente à gestão em 2002 (que teve início em 1997), através dos

planos de governo.

A realização da pesquisa documental teve como objetivo reconstruir o processo

histórico, contextualizando o objeto em estudo, não deixando de enfatizar a análise político/

ideológica da realidade nacional e local.

Quanto à pesquisa de campo, utilizamos a técnica de história oral, “técnica de coleta

de dados baseada no depoimento oral, gravado, obtido através da interação entre o especialista

e o entrevistado, ator social ou testemunha de acontecimentos relevantes para a compreensão

da sociedade”. (HAGUETTE, 2001, p.94).

Desta forma, realizamos entrevistas abertas, pautadas em roteiro orientador (Apêndice

A), com o secretário da Secretaria responsável pela área da Assistência Social, bem como

com dois representantes do Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente (um

da sociedade civil e outro do poder público), um conselheiro Tutelar, um profissional do

Fórum, com o Promotor da Infância e Juventude, enfim, com representantes dos órgãos

relacionados à construção e execução da política de atendimento às crianças e adolescentes de

Franca (um total de doze entrevistados).

Além destas, realizamos mais uma, em que o entrevistado inicialmente não permitiu a

gravação. Posteriormente, quando retornamos para que confirmasse o conteúdo registrado,

não autorizou que utilizássemos o mesmo, solicitando que excluíssemos seu depoimento,

apesar de confirmar o conteúdo transcrito.

Sabemos que não há uma sistematização histórica a respeito da construção da política

de atendimento à criança e ao adolescente em Franca, a partir do ECA, mas apenas registros

(24)

fragmentados, esparsos, reflexo talvez da própria realidade de atendimento a este segmento.

Desta forma, na tentativa de recuperar esta memória e realizar a análise proposta,

entrevistamos ainda, cinco informantes que participaram do processo de construção da

política de atendimento às crianças e aos adolescentes, além de terem vivenciado, atuando

nessa área, a passagem do Código de Menores para o ECA. Além destes, alguns dos sujeitos

já citados, representantes dos órgãos relacionados à construção e execução da política em

questão, também vivenciaram este histórico e puderam contribuir nesse sentido com seus

depoimentos.

A escolha dos entrevistados não foi aleatória; identificamos os primeiros informantes

através de conversas informais e documentos históricos, principalmente referentes à passagem

do Código de Menores para o ECA em Franca, e através das primeiras entrevistas, pudemos

identificar e escolher os outros informantes.

As entrevistas foram realizadas no ano de 2003 (totalizando 13 entrevistados), foram

gravadas e transcritas, com exceção de uma delas, a qual excluímos, conforme já exposto,

devido à solicitação do entrevistado.

Além das entrevistas, realizamos observação participante nas reuniões do CMDCA e

do programa municipal Rede Criança-Adolescente, nos anos de 2001, 2002 e 2003, para

verificarmos a questão da articulação dos projetos e programas na área, bem como de

organização interna do CMDCA e Conselho Tutelar (neste caso, quando o CMDCA

intervinha ou havia ações integradas entre os dois órgãos).

(25)

da estrutura social, ou ser simplesmente periférica com relação a ela. (SCHWARTZ & SCHWARTZ, 1969 apud HAGUETTE, 2000, p.71).

A referência cronológica de 1988 até 2002 justifica-se pelos marcos legais – a

Constituição em 1988 e o ECA em 1990. A data limite de 2002 justifica-se por podermos

imprimir um distanciamento que julgamos necessário enquanto pesquisadora, uma vez que

continuamos a atuar enquanto profissional de Serviço Social nesta mesma área e desta forma,

consideramos mais difícil realizar a análise da realidade presente, uma vez que esta é

dinâmica e sofre alterações bastante rápidas e complexas.

Inicialmente, um conjunto de indagações foi sendo levantado:

- Como se dá a articulação no nível dos representantes da sociedade civil e entre estes

e os representantes do governo?

- Quais as alternativas pensadas e criadas para enfrentamento das questões relativas à

exclusão social, especialmente do segmento criança / adolescente?

- Em que medida e quais as formas que o cumprimento dos direitos estabelecidos em

relação à criança / adolescente está sendo exigido?

- No período em estudo, o governo local configura-se como um elemento facilitador

ou dificultador em termos de intencionalidade e operacionalidade?

- De que forma são explicitadas as demandas?

- Como se dá a inclusão das demandas explicitadas?

- Quais os avanços e desafios da política de atendimento à criança/adolescente em

Franca?

- Quais os aspectos que contribuem com o isolamento ou com a articulação das ações

voltadas ao atendimento das crianças / adolescentes em Franca?

Nossa primeira hipótese é a de que, em Franca, não existe uma articulação dos

(26)

governamentais, como entre estes e os não-governamentais, contribuindo para a superposição

dos mesmos, fragmentação do atendimento, obrigando as famílias e suas crianças e

adolescentes a percorrerem diversos locais, sem encontrarem um atendimento global. As

ações encontram-se setorizadas e desarticuladas.

Partimos do pressuposto de que, a exemplo do que ocorre em nível macro, quanto às

políticas sociais, o município de Franca também carece de gestão planejada, participativa,

articuladora.

Outra hipótese é a de que governo local constitui elemento facilitador na construção de

uma política mais planejada, participativa e articuladora, em termos de intencionalidade, mas

não em termos de operacionalidade (estamos nos referindo ao período analisado,

especificamente a última gestão, com início em 1997).

Pretendemos identificar, portanto, os limites, os desafios quanto à operacionalização

de política articulada de atendimento à criança e adolescente em Franca.

Para tanto, iniciamos nossa trajetória a partir da realidade concreta, apresentando no

primeiro capítulo, a cidade de Franca e a situação das crianças e adolescentes, bem como a

atual configuração da política de atendimento a este segmento.

A apresentação do trabalho segue, portanto, a mesma trajetória vivenciada por nós

junto à política de atendimento à criança e ao adolescente em Franca: os trabalhos existentes,

a cidade, os interlocutores... Foi também a realidade concreta que nos remeteu à busca do

conhecimento teórico, para poder desvendá-la, interpretá-la, além do aparente e empírico.

O retorno ao passado (nos subcapítulos “A história da atenção à infância e

adolescência no Brasil: as políticas sociais e as legislações” e “O resgate histórico da

construção da política de atendimento à criança e ao adolescente em Franca a partir do ECA”)

teve a intenção de trazer elementos para a compreensão a respeito da origem de alguns dos

(27)

resgatar o processo de construção da política do ponto de vista de quem participou desta

história.

A investigação da realidade apresentada apenas foi possível através do resgate

histórico acompanhado do conteúdo teórico a respeito do Estado e as políticas sociais no

contexto das mudanças engendradas pela globalização da economia e pelo neoliberalismo, o

que vem explicitado no capítulo II.

Como já dissemos, muito se escreveu sobre o impacto da mundialização da economia,

do autoritarismo, da precarização do trabalho, sobre as políticas sociais e sobre estas enquanto

espaço contraditório de luta pela contra-hegemonia, como também de estratégia de

dominação.

Nossa intenção com este estudo foi verificar e demonstrar como são percebidas estas

contradições no âmbito municipal e no cotidiano de quem lida com esta realidade de perto.

Esta tentativa está mais presente no capítulo III: “Desafios e Possibilidades à Proteção

Integral da Criança e Adolescente em Franca à Luz da Trajetória Percorrida”.

Com o último capítulo pretendemos elaborar uma síntese, não no sentido de trazer

conclusões definitivas, mas de encontrar o ponto na trajetória em que fosse possível visualizar

novos caminhos...

Juntando as vivências, as percepções, as interpretações, os conhecimentos, é que

conseguimos identificar os desafios, mas principalmente, as possibilidades de atuação através

da política social a favor, enfim, das crianças e dos adolescentes.

(28)

CAPÍTULO I – A CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA DE ATENDIMENTO À

CRIANÇA E AO ADOLESCENTE EM FRANCA A PARTIR DO ECA.

“ O meu olhar é nítido como um girassol. Tenho o costume de andar pelas estradas... E o que vejo a cada momento

É aquilo que nunca antes eu tinha visto... Sinto-me nascido a cada momento Para a eterna novidade do mundo”. (Caeiro/Fernando Pessoa)

1.1 Franca e a política de atendimento à criança e ao adolescente

A cidade de Franca localiza-se na região nordeste do Estado de São Paulo, conta com

uma população de 287.400 habitantes, sendo 97,8% da área urbana e 2,20% da rural. (Fonte:

Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais - FACEF (Faculdade de Ciências Econômicas,

Administrativas e Contábeis de Franca)/ACIF (Associação do Comércio e Indústria de

Franca), 2000).12

54,52% da população da cidade de Franca é formada por crianças e jovens, segundo

dados do IBGE, 2000. São os filhos da explosão demográfica nos anos 70 e início dos anos 80

e da problemática do desemprego, cujas necessidades de inclusão não têm sido atendidas pela

dinâmica econômica e pelas políticas públicas nos últimos anos.

12 Estamos utilizando como referência, dados coletados em 2002, pelo fato de a presente pesquisa compreender o

(29)

O setor secundário é o pré-determinante na cidade, destacando-se a produção de

calçados masculinos em couro.

No Plano Municipal Plurianual (2002 – 2005) de Assistência Social, elaborado e

aprovado em 2001, podemos encontrar as informações que configuram a realidade de Franca,

possibilitando a contextualização histórica:

A partir da década de 50, no contexto da industrialização do país, Franca foi se

configurando como pólo industrial calçadista com todas as atividades necessárias para a

produção do calçado.

Da década de 70 até o final da década de 80, com o aumento das exportações, Franca

ofereceu considerável número de postos formais de trabalho nas indústrias calçadistas.

A partir do final dos anos 80, o município sofreu forte impacto com as mudanças

econômicas engendradas pela globalização do capital, que ocasionou uma reestruturação nas

empresas privadas e públicas.

Economistas da Universidade Estadual de Campinas realizaram um estudo mostrando

que, no período de 1990 a 1997, o Estado de São Paulo registrou a eliminação de 1.115.000

empregos com carteira assinada. Baseada neste estudo, a FIESP (Federação das Indústrias de

São Paulo) aponta que Franca foi a região que mais teve perda de postos de trabalho,

chegando ao índice de 47,09%. Alie-se aqui, o fato do calçado ser um produto semidurável e

de aquisição adiável, o que fez esse setor mais suscetível às crises.

Ainda devido ao processo de abertura econômica às importações, à estabilização da

moeda, bem como à diminuição de incentivos para exportação, as empresas francanas tiveram

que iniciar uma fase de reestruturação, gerando três processos: falência, fusão e deslocamento

regional.

O maior interesse das indústrias naquele momento era a redução de custos, por

(30)

terceirização de grande parte da produção, que deixou de ser realizada dentro das indústrias,

passando para as bancas13.

Outra estratégia utilizada pelos empresários calçadistas foi o deslocamento regional,

ou seja, a transferência de unidades das empresas para outras regiões, tais com o Nordeste e

Estado de Minas Gerais.

Essa alteração no sistema de produção gerou instabilidade generalizada para os

trabalhadores, isso porque o trabalhador que permaneceu empregado, embora mantendo a

garantia de seus direitos trabalhistas, não contava com a garantia de emprego e sofreu uma

intensificação do ritmo do trabalho, sobreposição de tarefas e ainda, o aviltamento salarial.

Por outro lado, o trabalhador do setor terceirizado, além de não ter garantia do emprego,

perdeu os direitos trabalhistas e a organização de horários e tempo para o trabalho, sendo que

muitas vezes, este passa a ser uma extensão de sua residência. Também perdeu a estabilidade

financeira por não haver uma freqüência na quantidade de serviços.

A gente sabe que à medida que toda uma política salarial é estabelecida e delimitada, a questão da globalização foi avançando e provocou toda uma mudança nas relações no mercado de trabalho, na medida em que com o avanço tecnológico conseguiu estar imprimindo uma maior qualidade dos produtos e ajudar a entrar na competitividade, até internacional, mas houve a seqüela da redução dos empregos, do mercado de trabalho. Então, as relações de trabalho são outras, aumentou a dificuldade de muitas famílias, muitas pessoas de conseguirem o dinheiro suficiente para o seu sustento. (Victalina)

O processo de terceirização acabou por facilitar o aumento do número de crianças e

adolescentes na produção de calçados, o que pode ser observado através de uma pesquisa

realizada em Franca, em 1993, pelo DIEESE – Departamento Intersindical e Estudos

Sócio-Econômicos e Sindicato dos Sapateiros dessa cidade. Foram apontados 1.561 crianças e

13 Na indústria calçadista assim é denominada a instância subcontratada pela fábrica para realizar frações do

(31)

adolescentes trabalhadores, com idade entre 07 a 14 anos, que estudavam em 16 escolas

públicas. Destes, 73 % prestavam serviços na área da produção de calçados, em atividades de

colagem e costura das partes do couro para compor o sapato.

Como a produção calçadista não pode prescindir de mão-de-obra humana, a

reestruturação tem se pautado pelo enxugamento do quadro de pessoal e pela terceirização de

parte crescente da produção, muito mais do que pela renovação de seu aparato tecnológico.

Os problemas de ordem econômica atingem, é óbvio, diretamente o social, por isso, as

condições de trabalho atualmente têm relação direta com a realidade de vida. Por este motivo,

não é difícil compreender que o contexto descrito anteriormente desencadeou uma questão

social com ampla dimensão.

O município sofre os reflexos da crise econômica e social brasileira dos últimos anos,

que enriqueceu a minoria, facilitando-lhe a acumulação de bens materiais e patrimoniais,

enquanto a maioria empobrecida ficou excluída dos benefícios do desenvolvimento

econômico e social do país.

A realidade de Franca apresenta contrastes: de um lado, um grande potencial

econômico destacado pela indústria de calçados, café, pecuária, pedras preciosas e de outro,

uma renda concentrada, já que 71,56% da população recebem de um a quatro salários

mínimos e torna-se potencialmente usuária dos serviços sociais. (Conforme Plano Municipal

Plurianual de Assistência Social de Franca: 2002 – 2005).

É evidente que do contingente de famílias que sobrevivem com baixa ou nenhuma

renda, excluídas, enfim, dos benefícios do desenvolvimento econômico e social do país,

(32)

Buscamos saber, através dos últimos Planos de Governo (um de 1996, para exercício

de 1997 a 2000 e outro de 2000, para o exercício de 2001 a 2004), qual a intencionalidade da

administração para com a infância e adolescência, ou o que o governo pensou em termos de

trabalho e pudemos observar que a única área que destaca o atendimento à criança e ao

adolescente, é a Assistência Social. Nas outras áreas, este segmento aparece, é claro, como na

Secretaria de Educação, mas porque o atendimento é voltado principalmente para este público

alvo.

A Secretaria Municipal encarregada da área de assistência, portanto, trazia no Plano de

1996, a criança e adolescente como uma das três prioridades, juntamente com a educação para

a cidadania e o atendimento à população empobrecida e/ou desempregada. Para cada

prioridade, foram destacadas três áreas de ação: participação comunitária, criança e

adolescente e atendimento social.

Em relação à criança e adolescente, o objetivo era “desenvolver programas para o

atendimento a crianças e adolescentes de famílias de baixa renda, visando a proteção social

através da educação, profissionalização e assistência” (conforme Plano de Governo de 1996).

O atendimento à criança e ao adolescente é trazido enquanto uma área de atuação, o

Plano não prevê a articulação das áreas, além de o atendimento à família não aparecer

explicitado em nenhuma área.

No Plano de 2000, a atenção ao segmento criança e adolescente já aparece enquanto

um dos eixos centrais:

- Buscar o Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável;

- Dar maior intenção ao Jovem, favorecendo sua participação e conscientização;

- combater a violência sob a ótica dos Direitos Humanos e com programas de ampliação da cidadania (saúde, educação e assistência social) e inclusão social;

- Promover a integração e articulação das diversas áreas das políticas públicas (planejamento urbano, políticas sociais, etc.);

(33)

- Otimizar a atenção à Criança e ao Adolescente através de uma Rede que integre todos os serviços governamentais e não governamentais voltados a esse segmento. (grifo nosso).

- Buscar a modernização administrativa para prestar um serviço cada vez melhor, com qualidade ao cidadão.

A secretaria responsável pela área de assistência, destaca, então, no atendimento à

criança e ao adolescente, as seguintes ações:

Medidas de proteção especial:

Continuidade das ações em andamento:

* Projeto Educação de rua para desenvolvimento de trabalho sócio-educativo com crianças e/ou adolescentes em situação de risco pessoal e social;

* Casa do Aconchego que abriga crianças vitimizadas em cumprimento aos artigos 98 e 101 do ECA;

* Família de Apoio que tem por finalidade oferecer à criança e ao adolescente em situação de risco social a convivência familiar.

Implantação de :

* Política de proteção e abrigamento provisório de adolescentes * Programa de atendimento ao adolescente vitimizado.

Medidas sócio-educativas

Municipalização das medidas sócio-educativas de Liberdade Assistida e Prestação de Serviços à Comunidade, previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Implantação de Projeto de Iniciação Profissional para adolescentes da faixa etária de 14 a 16 anos (integrado com Centro de Formação de Recursos Humanos. (Plano de governo 2000).

Assim é que se configura em linhas gerais, no período em estudo, a proposta de

trabalho voltada à infância e à adolescência. E a realidade, como se apresentava, de fato?

De acordo com dados referentes a 2001, da Secretaria Municipal de Governo

(Programa Rede Criança-Adolescente), para a faixa etária de 0 a 6 anos, o município contava

com atendimento realizado por 26 creches, sendo: 22 conveniadas (atendem 1351 crianças ao

todo), 01 municipal (atende 270 crianças), 02 para filhos de servidores estaduais (41

(34)

A Prefeitura mantinha, então, convênio com 22 creches filantrópicas, repassando

recursos financeiros, alimentação e assessoria técnica nas áreas da saúde e educação.

Franca apresentava (segundo dados do IBGE de 2000) uma população de 36.577

habitantes entre 0 a 6 anos, e 1.823 vagas para crianças de 4 meses a 6 anos nas creches

existentes. Não existia um dado formal sobre a demanda reprimida, o último Plano Municipal

de Assistência Social (2002 – 2005) apontava um número estimado de 6.534 crianças com

necessidade de creche14.

Na área da Educação, possuía mais de 50 escolas municipais de educação infantil, as

quais atendiam cerca de 7 (sete) mil alunos a partir de 4 anos e meio de idade. A rede

municipal de ensino fundamental atendia mais de 6 (seis) mil alunos.

Na área da cultura, o município contava com a Escola Municipal de Iniciação Musical,

atendendo 350 crianças de 7 a 12 anos, com iniciação em arte musical.

No esporte, existiam diversos trabalhos realizados pela Secretaria Municipal de

Educação e Esportes para a faixa etária de 7 a 14 anos, através de 38 “escolinhas” de iniciação

esportiva, localizadas em algumas regiões do município, as quais ofereciam várias

modalidades de esporte.

A Coordenadoria de Esportes, ligada à Secretaria Municipal de Educação e Esporte,

desenvolvia, ainda, trabalho de profissionalização no esporte com adolescentes a partir de 14

anos, em várias modalidades.

14 O cálculo foi baseado nos seguintes indicadores: Considerando-se que o município possui 28.817 crianças na

(35)

No município de Franca havia também, no período abordado, o projeto “Educarte”,

desenvolvido pela Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social15, atendendo 400

crianças e adolescentes na faixa etária de 7 a 14 anos, de famílias de baixa renda residentes

em bairros populares, o qual previa a realização de atividades sócio-educativas, culturais e de

lazer no período contrário ao escolar.

Analisando dados do IBGE-2000, constata-se que o município possuía um déficit

aproximado de 6.504 vagas para atividades complementares. Este dado mostra que havia uma

seqüência na problemática apresentada para o atendimento às crianças, pois a faixa etária de

07 a 14 anos que não contava mais com creches, também encontrava dificuldades para se

inserir em atividades que preenchessem seu período contrário à escola. Muitos, cujos pais

trabalhavam, ficavam desprovidos dos cuidados necessários que esta fase do desenvolvimento

exige.

Outro projeto da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social era a

Casa do Aconchego, que atendia crianças vitimizadas e impossibilitadas de retorno imediato

ao convívio familiar na faixa etária de 0 a 11 anos e 11 meses.

Como alternativa para a situação de acolhimento temporário dessas crianças, foi criado

o Projeto Família de Apoio, em 1998 (conforme Dossiê do Programa Família de Apoio,

2001), em parceria com o Poder Judiciário, realizado de forma voluntária por famílias da

comunidade. De acordo com informações contidas em documentações da Secretaria

Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, o projeto diminuía o abrigamento e tinha

uma relação custo/benefício muito positiva em relação aos tradicionais abrigos. Porém, havia

necessidade de investimentos financeiros para auxiliar as famílias que se dispunham a cuidar

das crianças.

15 Conforme explicitamos na Introdução, a referida Secretaria teve seu nome diversas vezes modificado; estamos

(36)

A mesma Secretaria era responsável, ainda, pelo equipamento Mosaico – Centro de

Orientação ao Adolescente e à Família - para atendimento às crianças e aos adolescentes em

situação de rua e adolescentes em medida sócio-educativa de liberdade assistida.

Em 2000 o município foi incluído no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

(PETI), com disponibilização de 150 vagas. Foram inclusas 87 famílias residentes nas regiões

Norte, Sul, Leste, Oeste e Centro da cidade, contemplando 150 crianças de 07 a 16 anos.

Eram realizadas pelo empresariado francano ações de combate ao trabalho infantil

através de uma organização criada para este fim. Com adesões do empresariado, bancas e

parcerias com a comunidade, eram realizadas atividades educativas e de sensibilização contra

a utilização da mão-de-obra infantil. Para os adolescentes, eram oferecidos cursos de

mecânica de automóveis, jovem cidadão, datilografia e atendimento psicológico.

Além dos trabalhos elencados, a cidade contava com outros desenvolvidos por

entidades filantrópicas, na área de atividades complementares, em período contrário ao

escolar. Eram cinco entidades, que atendiam a faixa etária de 7 a 14 anos, com uma média

mensal de 416 adolescentes atendimentos.

Os jovens de Franca encontravam dificuldades em relação à oferta de cursos de

formação profissional, uma vez que o número de vagas do ensino médio profissional, de

competência da rede estadual e particular era de 13.976 para uma população de 27.303 jovens

na faixa etária de 15 a 19 anos. (Fonte: SEADE, 2000).

Se considerarmos que 71,56% da população francana inserida no mercado formal

recebia entre 1 a 4 salários mínimos (RAIS, 1997), esse quadro se agravava para as camadas

empobrecidas, pois havia apenas uma entidade (Guarda Mirim) que desenvolvia este trabalho

na área da Assistência. A referida entidade oferecia 450 vagas para trabalho aprendiz, para

adolescentes de 14 a 16 anos e oferecia também cursos gratuitos de iniciação profissional.

(37)

Trabalho para adequar o trabalho desenvolvido às exigências da legislação pertinente ao

trabalho do adolescente aprendiz (conforme relatórios da Secretaria Municipal responsável

pela Assistência Social e atas do CMDCA).

Existiam outras entidades, mantidas pelos setores da indústria e do comércio, que

ofereciam cursos profissionalizantes, porém, em sua quase totalidade, pagos. Os cursos eram

distribuídos nas áreas de: calçados, mecânica, negócios, informática, saúde, beleza, moda,

decoração, comunicação e outros.

Ainda na área profissionalizante, porém, específica ao portador de deficiência havia: -

Oficina pré-profissionalizante vinculada ao Centro de Educação da Prefeitura Municipal,

atendendo 100 adolescentes, a partir de doze anos, visando sua preparação para o mercado de

trabalho.

- Na área privada, uma instituição particular que prestava serviços especializados e

mantinha oficinas semiprofissionalizantes para os acima de 14 anos, nas áreas de: artesanato,

horticultura, informática e estágio semiprofissionalizante remunerado nas atividades de

auxiliar de cozinha, auxiliar na sala de aula, fisioterapia, almoxarifado e serviços gerais.

De acordo com apresentação realizada em maio de 2002 pelo prefeito, no primeiro

Fórum do Programa Rede Criança/Adolescente, as ações voltadas às crianças e adolescentes

podiam ser assim resumidas:

I – AÇÕES ATRAVÉS DAS POLÍTICAS BÁSICAS

Pré-escolas: 51, as quais atendem 6494 crianças. Além do professor, contam com professor de educação física e de educação musical (ambos especialistas da área) e equipe de apoio (assistente social, psicólogo, fonoaudiólogo e pedagogo).

Creches conveniadas: 22 (recebem subvenção) Creche do CAIC.

Escolas de ensino fundamental: 08, atendem 7681 crianças. Além do professor, contam com professor de educação física , de educação musical (este, nas primeiras séries, por enquanto) e equipe de apoio (assistente social, pedagogo e psicólogo).

(38)

Biblioteca Municipal: atende mensalmente cerca de 10 mil alunos. Museu Municipal: recebe em média, cerca de 800 alunos por mês.

Escola Municipal de Iniciação Musical (EMIM): atende 300 crianças semestralmente, de 8 a 13 anos, com iniciação em arte musical (canto, expressão, ritmo e audição, percepção, flauta, violão, percussão, coral e teclado).

Oficinas itinerantes de arte: crianças e adolescentes de 07 a 16 anos.

Projeto Folia no Parque: até 12 anos; oferece atividades sócio-pedagógicas para crianças da rede escolar no mês de outubro.

Projeto de Educação ambiental nas escolas.

Escolinhas de iniciação esportiva: atendem aproximadamente 6000 crianças e adolescentes, de ambos os sexos, distribuídos em 38 locais que cobrem a cidade toda, em diversas modalidades esportivas.

Equipes intermediárias: Aproximadamente 300 crianças e adolescentes de 11 a 14 anos.

Equipes de representação: Aproximadamente 300 crianças, adolescentes e jovens adultos de 15 a 22 anos.

Unidades Básicas de Saúde: 13, com atendimento em nível primário às crianças, adolescentes e famílias.

Programa de Saúde da Família (PSF): 05 núcleos que atendem famílias em nível de prevenção de doenças e recuperação da saúde.

Projeto Dentinho de Leite: atendimento à crianças de 0 a 2 anos; preventivo e educativo.

Projeto Sorria: atende crianças em idade pré-escolar (creches).

Programas educativos/preventivos (fonoaudiologia): para gestantes, grupos de pais e crianças. Procura despertar a conscientização quanto aos distúrbios de comunicação e, com isso, promover uma diminuição dos casos de patologias fonoaudiológicas.

Programa de atendimento clínico – fonoaudiologia

Programa de identificação e intervenção precoce da deficiência auditiva: atende recém nascidos (0 a 28 dias).

Prevenção e detecção de hipotireocolismo, fenilcetonúria e anemia falciforme: atende recém- nascidos do município em nível de prevenção e detecção precoce através do exame do pezinho.

Oficina Sexo Seguro: atende adolescentes e adultos usuários do SUS.

Comitê da mortalidade materno-infantil : Vigilância da mortalidade materno-infantil (crianças de 0 a 5 anos e gestantes)

Programa de assistência pré- natal e parto: atendimento preventivo e educativo a gestante.

II – AÇÕES SUPLETIVAS

UNISER- Unidades de Serviço Social: 05 núcleos, atendimento assistencial às famílias.

Educarte: realização de atividades sócio-educativas, culturais e de lazer no período contrário ao escolar, em 4 núcleos; 245 crianças de 7 a 14 anos, com parcerias (AABB, PETI, Capela Sagrado Coração,Igreja Presbiteriana, Igreja Metodista Renovada).

Banco do Povo: oferece financiamento com juros de 1% para pequenos empreendedores formais e informais. (Parceria com governo do Estado) Cursos de iniciação profissional (costura industrial e pedreiro eclético). Plano de subvenções às instituições de atendimento às famílias e às creches. Comissão Municipal de Emprego – encaminhamento ao mercado de trabalho; cursos de qualificação e requalificação profissional; orientação ao crédito (PAT – parceria com Governo do Estado).

(39)

III- SERVIÇOS ESPECIAIS E DE PROTEÇÃO SOCIAL

Centro de Apoio Psico-Social (CAPS): atende dependentes químicos em tratamento.

Bolsa Educação: 180 famílias, 450 crianças e adolescentes em situação de risco (combate ao trabalho infantil).

Casa do Aconchego: atende crianças vitimizadas e impossibilitadas de retorno imediato ao convívio familiar na faixa etária de 0 a 11 anos e 11 meses.

Projetos Família de Apoio e Família Eventual: acolhimento temporário de crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica. (Parceria com poder

judiciário). Abrigo provisório: para adolescentes, mulheres vitimizadas e famílias em

situação de risco.

Projeto Educação de rua: atende crianças e adolescentes em situação de rua. Projeto Liberdade Assistida: atende adolescentes (12 a 18 anos) autores de atos infracionais. Este projeto está em fase de municipalização e parceria com Pró-Criança.

Projeto Prestação de Serviço à Comunidade: para atendimento de adolescentes autores de atos infracionais. Em fase de implantação.

PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil): atende 150 crianças e adolescentes envolvidos na coleta de lixo ou situação de risco. Parceria com Governo Federal

Projeto Desabrigamento: atende adolescentes em fase de desabrigamento do Abrigo de Batatais

Ambulatório de bebês de alto risco: atende bebês de alto risco encaminhados após alta hospitalar para diagnóstico precoce e seguimento de caso.

Oficina pré-profissionalizante para portadores de deficiência, vinculada ao CEI Centro de Educação Integrada), atende adolescentes, a partir de 12 anos, visando sua preparação para o mercado de trabalho.

Apoio e subvenção à APAE. Ambulatório de Saúde Mental: Atende crianças, adolescentes e adultos que

apresentam dificuldades e conflitos emocionais.

Bolsa Escola – bolsa para manter a criança na escola, parceria com Governo

Federal.

(40)

Um indicador importante para o nosso estudo é o Índice de Desenvolvimento Infantil

(IDI), desenvolvido pelo Unicef, o qual incorpora algumas das dimensões do conceito de

desenvolvimento infantil e elementos do enfoque de direitos humanos contidos na doutrina da

proteção integral da Convenção sobre os direitos da Criança e do Estatuto da Criança e do

Adolescente.16

O IDI de um município, conforme esta classificação, vai de 0 a 1, sendo 1 o valor

máximo que o município deveria buscar atingir no processo de sobrevivência, crescimento e

desenvolvimento de suas crianças no primeiro período da vida. No estado de São Paulo,

Franca aparece em 215º lugar, destacando os seguintes indicadores (as principais fontes para a

compilação destes indicadores são a Pesquisa de Amostra por Domicílios – PNAD – para

1999, do IBGE, e os sistemas reguladores de informação dos ministérios da Educação e da

Saúde, que também trazem informações do mesmo ano).

* Escolaridade dos pais: % de crianças cujos pais têm escolaridade precária (menos de 4 anos de estudo: pai: 32,14; mãe: 11,86.

* Serviços de saúde: % de crianças menores de 1 ano vacinadas: sarampo: 87,30; DTP: 80,76.

% de gestantes com mais de 6 consultas: 53,52. * Serviços de educação: % de crianças matriculadas em creche: 5,79. % de crianças matriculada em pré-escola: 44,66.

IDI: 0,635.

16 O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) foi criado para acompanhar, nos Países membros do Sistema das

(41)

Além dos indicadores, o documento (Unicef, 2001, p.158) contém ainda, o

mapeamento do Brasil, o qual considerou cinco grupos, de acordo com o valor do IDI:

a) 1,000 a 0,800

b) 0,799 a 0, 600

c) 0,599 a 0,400

d) 0,399 a 0,200

e) 0,199 a 0,000.

Desta forma, Franca está classificada no grupo b (0,799 a 0,400), em relação a todas as

cidades do Brasil.

Em relação aos adolescentes, o Unicef elaborou um documento, no qual apresenta a

situação dos municípios brasileiros em relação à situação dos adolescentes. Franca situa-se,

conforme podemos constatar pelo quadro a seguir, em 139º lugar no estado de São Paulo.

Pop. total

12 a 17 a 14 a 15 a 15 a 17 16 e 17 a

% de analfabetos

de 12 a 17

Ranking UF

Ranking Brasil

287.737 31.973 10.582 15.909 10.699 1,1 139 573

Fonte: Unicef, 2002, p.71

Segundo o documento (2002, p.71) adotou-se como critério para o ranking dos

municípios o percentual de adolescentes (12 a 17 anos) analfabetos, por considerá-lo um dado

que revela uma situação grave de restrição de direitos e oportunidades aos adolescentes, ao

mesmo tempo em que expressa a limitação do alcance de outros indicadores relativos,

Referências

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