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Mudanças no mundo do trabalho, globalização, neoliberalismo

Em 1974-1975 explode a “primeira recessão generalizada da economia capitalista internacional desde a Segunda Guerra Mundial” (Mandel, 1990, p.9). Chegava ao fim o padrão de crescimento adotado desde o segundo pós-guerra e por quase trinta anos – as “três décadas gloriosas” do capitalismo monopolista.

Como resposta à queda das taxas de lucro na década de 70, os anos 80 são marcados por uma ofensiva revolução tecnológica na produção, pela globalização da economia e pelo ajuste neoliberal.

Emerge um novo padrão de crescimento que, operando por meio de “ondas longas recessivas” (Mandel, 1982) corroia as bases de toda a articulação sociopolítica até então vigente e ressaltava as contradições imanentes à lógica do capital.

De acordo com Harvey (1993, p.117) a crise dos anos 70 assinalou a exaustão do padrão capitalista monopolista fundado num regime de acumulação “rígido”, que ele designa como “fordista-keynesiano”; para se preservar e reproduzir-se, o capitalismo monopolista contemporâneo – que Mandel (1982) caracterizou como “capitalismo tardio” – recorre a um outro regime de acumulação “flexível”.

Assim, no mundo da produção e do trabalho generaliza-se o modelo japonês, o “toyotismo”, que altera o padrão rígido fordista da linha de montagem. Efetivamente, as transformações ocorridas no mundo do trabalho são coerentes com os fundamentos da proposta neoliberal. Estas alterações – na organização da produção, no gerenciamento da indústria, nas relações contratuais de trabalho, na comercialização – têm como fundamento a

reestruturação produtiva, particularmente, o modelo de produção japonês concebido inicialmente por Ohno, na indústria automotiva Toyota.

Em Montaño (1997, p.107) podemos encontrar referências sobre as mudanças no mundo do trabalho neste período:

A empresa japonesa enfrentava crises financeiras num país com um reduzido e heterogêneo mercado e sem capacidade de exportação. Devia reduzir-se, pois, os custos de produção de forma diferente ao usualmente feito dentro do modelo taylorista/fordista; assim, surge a necessidade de recortes no pessoal ocupado e na infra-estrutura industrial.

Esta redução da força de trabalho é possível, em primeiro lugar, pelo desenvolvimento tecnológico, fenômeno conhecido como automação da produção28.

Por outro lado, a redução do pessoal do “chão de fábrica” deve ser buscada sem que isto afete o volume de comercialização de empresa, o que significou alteração nas relações trabalhistas; agora o vínculo tende a ser a de subcontratação e não mais de assalariamento. Desta forma, já não é necessário produzir dentro da indústria, porque é possível comprar a produção de outras empresas. Assim, o que a empresa matriz compra não é a força de trabalho – cara, devido aos direitos trabalhistas e conflitiva, dada a organização sindical – mas o produto do trabalho, as mercadorias prontas, produzidas por empresas subcontratadas. Com estas novas características a empresa matriz evita grandes investimentos, diminui custos e adequa sua produção (em quantidade e qualidade) às variações do mercado.

28Se desde a Revolução Industrial a máquina substitui o homem, este nunca pôde ser totalmente eliminado do processo, dada a necessidade de comando humano sobre a máquina, que, sem a manipulação do homem, nada poderia fazer. A informática veio ocupar este papel por meio do comando pré-programado de atividades, desenvolvido nos softwares. Neste contexto, não somente o trabalhador manual torna-se supérfluo, mas também muitos cargos gerenciais, de inspeção, de engenharia industrial, administrativos. (MONTAÑO, 1997, p. 108).

Além disso, o contrato de trabalho deve ser modificado, sendo criados postos de trabalho com baixos salários, com renúncia de benefícios trabalhistas, com precariedade em relação à permanência no cargo, ou seja, que reflitam relações contratuais flexíveis, de tal modo que implique redução dos custos de produção da força de trabalho ao capitalista e maleabilidade da quantidade de trabalho pago em função das variações da demanda de mercado.

Harvey (1993) identifica um grupo de trabalhadores centrais, que têm maior estabilidade, perspectivas de promoção e reciclagem, bons salários diretos e indiretos e se caracterizam por sua adaptabilidade, flexibilidade e mobilidade. Na periferia, ele vê outros dois grupos de trabalhadores. No primeiro, têm-se os empregados em tempo integral com habilidades menos especializadas, que possuem alta taxa de rotatividade e menos oportunidades que os trabalhadores centrais. No segundo, e este grupo é o que mais tem crescido, têm-se os trabalhadores em tempo parcial, com contrato por tempo determinado e sem direitos assegurados: são os subcontratados.

Todos estes elementos derivam não só no aumento sem precedentes do desemprego estrutural, como também na perda do nível de poder político-sindical, em dimensões inéditas do capitalismo.

Antunes oferece um amplo panorama das implicações da reestruturação produtiva, de como o “toyotismo penetra, mescla-se ou mesmo substitui o padrão fordista dominante” (1995).

Esses processos abalam fortemente as condições de trabalho e de vida da “classe-que- vive-do-trabalho” e vêm desencadeando mudanças nas formas de sua organização política.

As metamorfoses do mundo do trabalho são acompanhadas pelo processo de globalização da economia.

As alterações na organização da produção e comercialização desenvolvidas em torno da indústria japonesa (e repercutindo em todo o chamado “Tigre Asiático”) determinaram um lugar privilegiado da economia desta região no processo de mundialização ou globalização da economia.

Custos mais baixos e flexibilidade nos contratos de trabalho e na produção (derivados da subcontratação) determinam uma melhor adaptação ao heterogêneo e variante mercado global: a empresa-matriz pode responder a demandas diversas em quantidade e qualidade dos mercados nos diversos países.

Neste sentido, a relação de subcontratação de empresas permite algo inédito na história da produção: a globalização da produção (MONTAÑO, 1997, p.110). Hoje se pode produzir uma mercadoria montando peças fabricadas em vários países, por meio da subcontratação de empresas no estrangeiro, o que permite à empresa-matriz subcontratar as empresas que produzem melhor e mais barato, não só no nível nacional, mas mundial.

Paralelo ao processo de mundialização da economia, há também o processo de globalização política, o qual deriva na perda da autonomia e do poder político dos Estados nacionais. A presença, no cenário político mundial, de organizações transnacionais (como a ONU, OEA) , de instituições financeiras (como o FMI) e de empresas multinacionais, muitas delas com um PIB ou movimentos financeiros maiores dos Estados nacionais, minimiza o impacto das decisões destes últimos.

Todavia, esse fenômeno não se apresenta de forma homogênea para todos os países: a perda de autonomia dos Estados nacionais é uma realidade muito mais relevante para os países periféricos.

Com um sistema político e econômico globalizado, com Estados nacionais e seus sistemas de governos democráticos cujas autonomias são minimizados, com relações econômicas que não precisam ser controladas por um organismo central e sem a necessidade

de incentivos e complementos salariais para reverter a tendência ao subconsumo, a existência de um Estado forte e interventivo torna-se não apenas desnecessária, como também negativa aos olhos neoliberais.

O neoliberalismo, portanto, configura-se o conjunto de valores normativos e procedimentos políticos, que submete os Estados à dinâmica da globalização capitalista, transferindo as responsabilidades do Estado para o mercado, da esfera pública para a iniciativa privada. É uma ideologia capitalista que defende o ajuste dos Estados nacionais à exigências do capital transnacionalizado, portanto, contrária aos pactos que subordinam o capital a qualquer forma de soberania popular ou instituições de interesse público.

A respeito do surgimento do neoliberalismo, Perry Anderson (In SADER e GENTILI, 1995) realiza um retrospecto histórico:

O neoliberalismo nasceu logo depois da II Guerra Mundial, na região da Europa e da América do Norte onde imperava o capitalismo. Foi uma reação teórica e política veemente contra o Estado intervencionista e de Bem-Estar. Seu texto de origem é O Caminho da Servidão, de Friedrich August Von Hayek, escrito já em 1944. O alvo imediato de Hayek, naquele momento, era o Partido Trabalhista Inglês, às vésperas da eleição geral de 1945 na Inglaterra.

Três anos depois, em 1947, enquanto as bases do Estado de Bem-Estar na Europa do pós-guerra efetivamente se constituíam, não somente na Inglaterra, mas também em outros países, neste momento Hayek convocou aqueles que compartilharam sua orientação ideológica para uma reunião na pequena estação de Mont Pèlerin, na Suíça.

Aí se fundou a sociedade de Mont Pèlerin, uma espécie de franco-maçonaria neoliberal, altamente dedicada e organizada, com reuniões internacionais a cada dois anos. Seu propósito era combater o keynesianismo e o solidarismo reinantes e preparar as bases de um tipo de capitalismo, duro e livre de regras para o futuro.

Hayek e seus companheiros argumentavam que o novo igualitarismo deste período, promovido pelo Estado de Bem-Estar, destruía a liberdade dos cidadãos e a vitalidade da concorrência, da qual dependia a prosperidade de todos. Eles argumentavam que a desigualdade era um valor positivo – na realidade imprescindível em si - pois disso precisavam as sociedades ocidentais.

Montaño (2003, p.76) destaca que Hayek pode ser considerado o verdadeiro pai do neoliberalismo, desenvolvendo seus postulados básicos e, principalmente, promovendo sua atividade de claro enfrentamento às democracias, à justiça social e à igualdade em prol da “liberdade”, uma vez que opõe, no seu esquema analítico, liberdade à igualdade, Estado de direito a Estado totalitário (intervencionista), sistema de liberdades individuais a sistema planejado centralmente, desenvolvimento do liberalismo inglês à Alemanha, de Bismark a Hitler.

Para ele, o planejamento estatal alemão levou ao totalitarismo, que derivou no

nazismo; uma ideologia que preconizava o poder central de decidir por todos e que,

sustentado na defesa desmedida da “igualdade”, se arrogava a superioridade racial, eliminando o diferente. Baseado nesse pressuposto, Hayek opõe liberalismo a nazismo, identificando esta último com o socialismo – ambos regimes totalitários, por se organizarem em torno de um planejamento estatal.

A liberdade constitui o valor supremo. O Estado intervencionista, a justiça social, a igualdade de oportunidades, o planejamento estatal, a seguridade social, por constituírem impedimentos ao pleno desenvolvimento da liberdade devem ser enfrentados. A concorrência, efetivada no mercado, seria, portanto, para Hayek, o verdadeiro meio de organização e regulação social.

Há uma clara oposição, em Hayek, entre igualdade (e justiça social) e liberdade (negativa). Na hora de optar, não renuncia à (sua) liberdade (“negativa”), preferindo desprezar

a igualdade, a justiça social. Mais do que isso, não apenas aceita a desigualdade (“como um mal necessário”), como defende a necessidade da desigualdade, como mecanismo (“natural”) estimulador do desenvolvimento social e econômico. (cf. MONTAÑO, 2003).

Segundo Anderson (1995), a chegada da grande crise do modelo econômico do pós- guerra, em 1973, mudou tudo. A partir daí as idéias neoliberais passaram a ganhar terreno. As raízes da crise, afirmaram Hayek e seus companheiros, estavam localizadas no poder excessivo e nefasto dos sindicatos e, de maneira mais geral, do movimento operário, que havia corroído as bases de acumulação capitalistas com suas pressões reivindicativas sobre os salários e com sua pressão parasitária para que o Estado aumentasse cada vez mais os gastos sociais.

Esses dois processos construíram os níveis necessários de lucros das empresas e desencadearam processos inflacionários que não podiam deixar de terminar numa crise generalizada das economias de mercado. O remédio, então, era claro: manter um Estado forte, sim, em sua capacidade de romper o poder dos sindicatos e no controle do dinheiro, mas parco em todos os gastos sociais e nas intervenções econômicas. A estabilidade monetária deveria ser a meta suprema de qualquer governo. Para isso seria necessária uma disciplina orçamentária, com a contenção dos gastos com bem-estar, e a restauração da taxa “natural” de desemprego, ou seja, a criação de um exército de reserva de trabalho para quebrar os sindicatos. Isso significava reduções de impostos sobre os rendimentos mais altos e sobre as rendas. Uma nova e saudável desigualdade iria voltar a dinamizar as economias avançadas, então às voltas com uma estagflação, resultado direto dos legados combinados de Keynes e de Beveridge, ou seja, a intervenção anticíclica e a redistribuição social, as quais haviam tão desastrosamente deformado o curso normal da acumulação e do livre mercado. O crescimento retornaria quando a estabilidade monetária e os incentivos essenciais houvessem sido restituídos. Em 1979, na Inglaterra, foi eleito o governo Thatcher, o primeiro regime de um

país de capitalismo avançado, publicamente empenhado em pôr em prática o programa neoliberal.

Um ano depois, em 1980, Reagan chegou à presidência dos Estados Unidos. Em 1982, Khol derrotou o regime social liberal de Helmut Schimidt. Em 1983, a Dinamarca, Estado modelo do poder escandinavo, caiu sob o controle de uma coalizão clara de direita, o governo de Schluter. Em seguida quase todos os países do norte da Europa Ocidental, com exceção da Suécia e da Áustria, também viraram à direita. A partir daí, a onda de direitização desses anos tinha um fundo político para além da crise econômica do período. Em 1978, a segunda guerra fria eclodiu com a intervenção soviética no Afeganistão e a decisão norte- americana de incrementar uma nova geração de foguetes nucleares na Europa Ocidental.

Os anos 80 viram o triunfo da ideologia neoliberal nesta região de capitalismo avançado. O modelo inglês foi, ao mesmo tempo, o pioneiro e o mais puro. O governo Thatcher contraiu a emissão monetária, elevou as taxas de juros, baixou drasticamente os impostos sobre os rendimentos altos, aboliu controles sobre os fluxos financeiros, criou níveis de desemprego massivos, impôs uma nova legislação anti-sindical e cortou gastos sociais. E, finalmente – lançou-se num amplo programa de privatização.

Reagan também reduziu os impostos em favor dos ricos, elevou as taxas de juros, mas não respeitou a disciplina orçamentária; ao contrário, lançou-se numa corrida armamentista sem precedentes, envolvendo gastos militares enormes, que criaram um déficit público muito maior do que qualquer outro presidente da história norte-americana.

No continente europeu, os governos de direita deste período praticaram em geral um neoliberalismo mais cauteloso e matizado que as potências anglo-saxônicas, mantendo a ênfase na disciplina orçamentária e nas reformas fiscais, mais do que em cortes brutais de gastos sociais ou enfrentamentos deliberados com os sindicatos. Contudo, a distância entre estas e as da social-democracia governante anterior já era grande. E, enquanto a maioria dos

países do norte da Europa elegia governos de direita empenhados em várias versões do neoliberalismo, no sul do continente, previamente uma região muito mais conservadora politicamente, chegavam ao poder, pela primeira vez, governos de esquerda. Todos se apresentavam como uma alternativa progressista, baseada em movimentos operários ou populares, contrastando com a linha reacionária dos governos de Reagan, Thatcher, Khol e outros do norte da Europa.

Enquanto isso no outro lado do mundo, na Austrália e na Nova Zelândia, sucessivos governos trabalhistas ultrapassaram os conservadores locais de direita com programas de neoliberalismo radical.

O que demonstravam estas experiências era a hegemonia alcançada pelo neoliberalismo como ideologia. Ao final dos anos 80, o projeto neoliberal alcançava a quase totalidade do mundo ocidental.

Elegendo o Welfare State Keynesiano e seus pilares – pleno emprego, serviços sociais universais e proteção social básica garantida – como os grandes responsáveis pela crise econômica iniciada no final dos anos 70, o pensamento neoliberal propõe a minimização do Estado, a privatização de empresas públicas, a não intervenção do Estado nos aspectos econômicos que devem desenvolver-se no “livre” jogo do mercado, a redução do gasto público, esta última especialmente centrada na diminuição dos recursos destinados à área social.

Uma das conseqüências das privatizações de empresas estatais é a queda da arrecadação do Estado por vias não impositivas. A isto, agrega-se a reforma tributária – donde se reduzem os impostos diretos (permanece basicamente a carga sobre o salário), aumentando proporcionalmente a tributação indireta (fundamentalmente dirigida ao consumo) e como conseqüência, o Estado não arrecada recursos minimamente suficientes para manter seus gastos. É neste sentido que se propõe a redução do gasto público e, principalmente, a

diminuição dos recursos destinados às políticas sociais. Trata-se da defesa do “Estado mínimo para os trabalhadores e um Estado máximo paro o capital” (Netto, 1993, p.81)

No campo da proteção social, Laurell (1995, p.163) destaca que os neoliberais sustentam que o bem-estar social pertence ao âmbito privado e que suas fontes “naturais” são a família, a comunidade e os serviços privados. Por isso, o Estado só deve intervir com o intuito de garantir um mínimo para aliviar a pobreza e produzir serviços que os privados não podem ou não querem produzir, além daqueles que são, a rigor, de apropriação coletiva. Propõem uma política assistencialista com um forte grau de imposição governamental sobre que programas instrumentar e quem incluir. Além disso, para se ter acesso aos benefícios dos programas públicos, deve-se comprovar a condição de indigência. Rechaça-se o conceito dos direitos sociais e a obrigação a sociedade de garanti-los através da ação estatal. O neoliberalismo opõe-se à universalidade, igualdade e gratuidade dos serviços sociais.

...as quatro estratégias concretas da implantação da política social neoliberal são o corte dos gastos sociais, a privatização, a centralização dos gastos sociais públicos em programas seletivos contra a pobreza e a descentralização. A privatização é o elemento articulador dessas estratégias, que atende ao objetivo econômico de abrir todas as atividades econômicas rentáveis os investimentos privados, com o intuito de ampliar os âmbitos de acumulação, e ao objetivo político-ideológico de remercantilizar o bem-estar social. Porém, atingir tais objetivos sem sobressaltos políticos que ameacem o seu cumprimento impõe a necessidade de se legitimar ideologicamente o processo de privatização e de gerar as mudanças estruturais necessárias. É nesta lógica que se inscrevem as outras três estratégias. (LAURELL, 1995, p.167)

A novidade introduzida, nesta perspectiva, foi a parceria entre Estado, mercado e sociedade, ou esquemas pluralistas (PEREIRA, 2001, p.39), os quais tiveram apelo muito mais ideológico do que prático, uma vez que o Estado vem abrindo mão de seu protagonismo

As opiniões contrárias ao esquema pluralista de bem-estar duvidam da capacidade do mercado e das instituições privadas, voluntárias e informais de substituir o protagonismo do Estado no processo de regulação social. Isso porque só o Estado possui a autoridade coativa para fazer cumprir a política social como direito de cidadania em nome da justiça social. E só ele tem o dever legal de zelar pelo bem comum. Desconfiam, portanto, do que está por trás do esquema pluralista, que vem sendo colocado em prática desde os anos 80, o interesse neoliberal de esvaziar o status de direito da política social de pós-guerra.

Efetivamente, as experiências de bem-estar pluralistas que vêm sendo realizadas expressam dois sentidos opostos: um chamado de “pluralismo residual”, em que o Estado se desobriga de seus deveres e responsabilidades, transferindo-os para a sociedade, e em que vários direitos de cidadania social são restringidos e outro, o chamado “pluralismo institucional”, em que o Estado não foge de seus deveres e responsabilidades, embora acate parcerias e trabalhe articulado com iniciativas privadas, sem perder o horizonte dos direitos.

O crescimento da pobreza e da desigualdade social, nos últimos vinte anos, tem sido uma das conseqüências mais sérias do modo neoliberal de regular a economia e a sociedade. Tal fenômeno foi determinado, sobretudo, pela diminuição da oferta de empregos, acompanhada das desigualdades de salários, como resultado da desregulamentação do mercado de trabalho e da diminuição da progressividade fiscal; isto é, da redução do encargo tributário direto, que onerava, progressivamente, quem possuía mais renda, e do aumento dos impostos indiretos, que incidia mais pesadamente sobre os trabalhadores e consumidores de baixa renda.

É nesse sentido que o balanço do neoliberalismo nos anos 90, realizado por Anderson atesta-nos que, se do ponto de vista político-ideológico, pode ser considerado vitorioso, no âmbito econômico, a despeito da vitalidade do capitalismo de 30 anos atrás, ele não possibilitou um índice de crescimento satisfatório, o que permite a afirmação de que “a

recuperação dos lucros não levou a uma recuperação dos investimentos” (In SADER & GENTILI, 1995, p.16).

Em todos os itens - deflação, lucros, empregos e salários - podemos dizer que o programa neoliberal se mostrou realista e obteve êxito. Mas, no final das contas, todas estas medidas haviam sido concebidas como meios para alcançar um fim histórico, ou seja, a reanimação do capitalismo avançado mundial, restaurando taxas altas de crescimento estáveis, como existiam antes da crise dos anos 70. Nesse aspecto, no entanto, o quadro se mostrou absolutamente decepcionante. Entre os anos 70 e 80 não houve nenhuma mudança – nenhuma – na taxa de crescimento, muito baixa nos paises da OCDE.

Cabe perguntar por que a recuperação dos lucros não levou a recuperação dos investimentos? Essencialmente, pode-se dizer, porque a desregulamentação financeira, que foi um elemento tão importante do programa neoliberal, criou

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