ANA PAULA GROTTI CLEMENTE
Associação entre estado nutricional e pressão arterial em pré-adolescentes e
adolescentes com déficit de estatura
Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo –
Escola Paulista de Medicina para obtenção do título de
Mestre em Ciências.
ANA PAULA GROTTI CLEMENTE
Associação entre estado nutricional e pressão arterial em pré-adolescentes e
adolescentes com déficit de estatura
Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina para obtenção do título de Mestre em Ciências.
Orientadora: Profa. Dra. Ana Lydia Sawaya
Co-Orientadora: Profa. Dra. Paula Andréa Martins
iii
Ficha Catalográfica
Clemente, Ana Paula Grotti
Associação entre estado nutricional e pressão arterial em pré-adolescentes e adolescentes com déficit de estatura/ Ana Paula Grotti Clemente —São Paulo, 2008.iii, 68f.
Tese (Mestrado) – Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina. Programa de Pós-graduação em Endocrinologia Clinica.
Título em inglês: Association between nutritional status and blood pressure in pre-adolescents and pre-adolescents with deficit of stature
iv
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
DEPARTAMENTO DE MEDICINA
DISCIPLINA DE ENDOCRINOLOGIA
Chefe da disciplina: Prof. Dr. Antônio Roberto Chacra
v
ANA PAULA GROTTI CLEMENTE
Associação entre estado nutricional e pressão arterial em pré-adolescentes e
adolescentes com déficit de estatura
Presidente da banca: Profa. Dra. Ana Lydia Sawaya
BANCA EXAMINADORA
Profa. Dra. Telma Maria de Menezes Toledo
Profa. Dra. Regina Mara Fisberg
Prof. Dr. Ricardo Cordeiro
Prof. Dr. Ricardo de Castro Cintra Sesso
vi
DEDICATÓRIA
vii
AGRADECIMENTOS
Embora uma tese seja, pela sua finalidade acadêmica, há contribuições de natureza
diversa que não podem e nem devem deixar de ser realçados.
À Profa. Ana Lydia Sawaya, pela orientação ao longo de toda a realização deste
trabalho, pelos ensinamentos, incentivos, contribuições científicas, apoio, compreensão,
paciência e principalmente pela amizade, que espero manter por toda a vida.
À toda minha família, pelo apoio, paciência, investimento e amor recebido, em
especial aos meus pais, José Carlos e Sônia Maria, meus irmãos André, Luciana, Andrea,
Maria Fernanda e João Lourenço. Amo vocês.
Ao Prof. Ricardo Cordeiro que sempre me incentivou na vida acadêmica. Muito
obrigado pelo apoio e amizade constante.
À Profa. Dra. Marise Lazaretti Castro e a funcionária Geni, da Disciplina de
Endocrinologia da UNIFESP, pela realização do DEXA.
À minha querida amiga, companheira de laboratório e “cunhada” Mônica, que sempre
me apoiou em todos os momentos de dificuldade.
A minha companheira, e amiga de mestrado, Carla Danusa da Luz Santos que por todo
mestrado acompanhou-me, incentivando e, sobretudo apoiando-me inigualavelmente nos
nossos exaustivos trabalhos de campo.
Aos meus queridos amigos e “cunhados” Sérgio e Gian que sempre me incentivaram e
apoiaram durante todo o mestrado;
As amigas e colegas, pelos maravilhosos momentos de aprendizagem, e descontração;
Ana Elisa, Cíntia, Bruna, Thaís, Thabata, Carol, Silvia, Marianas e mais tantos outros os
quais, peço desculpas por não estarem aqui, porém terão seus lugares, eternamente, guardados
viii
Aos colegas de trabalho Vinicius e Profa. Dra. Paula Martins. E a Gina pelas suas
inúmeras ajudas.
Aos colegas do laboratório de Fisiologia da Nutrição, à Ana Lúcia e à Amaryllis;
À Profa. Dra. Claudia Nascimento Oller pelas conversas agradáveis e incentivos
perante os momentos de dificuldades. E a todos os outros mestres e doutores que investiram
seu tempo, nesta maravilhosa arte do ensino. O meu sincero respeito e admiração, a todos
vocês.
À todos os funcionários do Cren - Centro de Recuperação e Educação Nutricional, em
especial, à Malu, Gisela, Maria Paula, Cris e Sr. Carlos (motorista), cuja dedicação e paciência
muitas vezes ultrapassaram suas funções rotineiras para poder atender nossas necessidades.
À todos às famílias que participaram deste estudo, por sua imensa colaboração e por
todo o carinho com que sempre me receberam.
E, enfim, a Fapesp – Fundação de Amparo a Pesquisa de São Paulo e a Capes –
1 SUMÁRIO
DEDICATÓRIA ... vi
AGRADECIMENTOS... vii
RESUMO... 12
2
3.11.Análise estatística ... 29
4. RESULTADOS ... 31
4.1. Dados Sócio-econômicos ... 31
4.2. Avaliação Nutricional ... 33
4.3. Composição Corporal ... 37
4.5. Pressão arterial... 44
5. DISCUSSÃO ... 53
5.1. Dados sócio-econômicos... 53
5.2. Composição corporal ... 54
5.3. Ingestão alimentar ... 56
5.4. Pressão arterial... 59
6. CONCLUSÕES ... 62
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 63
ANEXOS ... 67
Anexo1: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ... 68
Anexo 2 : Questionário sócio-econômico... 71
“Pouca observação e muito raciocínio conduzem ao erro.
Muita observação e pouco raciocínio conduzem à verdade.”
Alexis Carrel
RESUMO
13 1. INTRODUÇÃO
1.1. Desnutrição e Pobreza
A desnutrição energética-proteica (DEP) é um problema de dimensões alarmantes em
boa parte do mundo. Sua alta prevalência está concentrada entre as populações mais
miseráveis e, normalmente, não bem identificadas por levantamentos nacionais, ou valores
expressos em termos de médias populacionais (Sawaya, AL, 2002). Segundo o relatório da
Organização Mundial da Saúde (OMS) publicado em 2000 (WHO, 2000), 49% das mortes de
crianças menores de 5 anos nos países em desenvolvimento estão relacionadas à desnutrição.
As causas básicas e subjacentes da desnutrição são: ambientais, sócio-econômicas e políticas,
sendo a pobreza o fator mais importante (Black, ER; et al, 2008).
De acordo com sua etiologia a DEP é considerada primária quando é de origem
nutricional, e secundária quando é causada por doenças não-nutricionais como: cardiopatias,
nefropatias, doenças crônicas ou ainda por uma variedade de alterações metabólicas causadas
pelo estresse agudo (trauma, sepse e condições inflamatórias agudas) que resultam no
catabolismo das reservas endógenas de proteína, carboidrato e gordura (Caballero, B, 2005).
As causas diretas da deficiência de crescimento em crianças nos países em
desenvolvimento são: subnutrição materna, desnutrição intra-uterina, amamentação
inadequada, falta de alimentação complementar após 6 meses de vida, qualidade ou
quantidade inadequadas de complemento alimentar, absorção dos nutrientes prejudicada
devido a infecções intestinais e parasitárias ou a combinação destes problemas (Allen, LH;
Gillespei, SR, 2001).
Com relação ao diagnóstico da desnutrição este pode ser realizado pelo índice de
14
2000) ou pelo índice de estatura para idade quando este < -1 escore-z para classificação de
desnutrição leve, <-2 escore-z para desnutrição moderada e <-3 escore-z para desnutrição
grave (WHO, 1983).
Atualmente a estatura é considerada um importante parâmetro para se avaliar a
qualidade de vida de uma população, sendo capaz de monitorar mudanças que ocorrem nos
padrões econômicos, de saúde e nutrição (KAC, G, 1999). Em populações economicamente
desprivilegiadas, o déficit de estatura em adultos também poderia ser usado como um
indicador da iniqüidade sócio-econômica (WHO, 1995; Florêncio, et al, 2001).
Vários estudos realizados em paises em desenvolvimento têm mostrado a relevância
dos fatores sócio-econômicos na determinação da estatura de sua população, sendo estes
responsáveis por ¾ na variação da prevalência de déficit de estatura entre os países (Frongillo,
EA; et al, 1997).
1.2. Coexistência entre Desnutrição e Obesidade
A última Pesquisa de Orçamento Familiar realizada no Brasil (2002-2003) verificou
um aumento na prevalência de adolescentes com excesso de peso (16,7%) quando comparado
aos levantamentos anteriores (1974-1975: 3,9 % e 1989: 8,3 %); enquanto que declínios na
prevalência de adolescentes com déficit de estatura-para-idade (1974-1975: 33,5 %; 1989:
20,5 % e 2002-2003: 10,8%) assim como de IMC-para-idade (1974-1975: 4,8 %; 1989: 2,4 %
e 2002-2003: 2,8%) ocorreram ao longo dos três levantamentos (POF, 2006).
Porém nos bolsões de pobreza observam-se porcentagens de déficit de
estatura-para-idade (< -2 DP) e sobrepeso (> 25-<30 Kg/m2) muito acima das médias nacionais. Um estudo realizado com população de baixa renda em Alagoas (Maceió) encontrou uma coexistência
15
mostraram prevalências de 16% de desnutrição e 15.9% de sobrepeso. Enquanto em mulheres
a prevalência de desnutrição foi de 22,1% e 23.1% de sobrepeso. Além disso, nesse mesmo
estudo foi observada uma coexistência de desnutrição e sobrepeso no mesmo individuo
caracterizada por baixa estatura concomitante com sobrepeso. Nas mulheres com baixa
estatura, a prevalência de sobrepeso/obesidade foi de 34.9% enquanto que nas mulheres com
estatura normal foi de 31,3%. A mesma associação foi encontrada no sexo masculino. Embora
com uma menor prevalência de sobrepeso/obesidade, a prevalência foi de 24.5% na baixa
estatura e 14.8% na estatura normal entre os homens (Florêncio, et al, 2001).
Da mesma forma, estudos realizados em favelas paulistanas encontraram uma
prevalência maior de obesidade entre adolescentes com baixa estatura nutricional do que com
estatura normal (Sawaya, AL, et al, 1995). Estes achados indicam que a obesidade em
indivíduos pobres pode ocorrer como seqüela de desnutrição energético-proteica no início da
vida (Sawaya, AL; Roberts, SB, 2003).
Um estudo de base nacional analisando três levantamentos antropométricos (1975,
1989 e 1996) encontrou maiores IMC entre as mulheres com menor renda (camada ¼ pobre)
quando comparado ao grupo de mulheres com maior renda (camada ¼ mais rica) (Monteiro,
CA; et. al, 2002).
A coexistência entre desnutrição e sobrepeso/obesidade em populações pobres se deve
provavelmente a uma adaptação metabólica que leva a um regime de economia de substratos,
que ocorre nos indivíduos com desnutrição crônica, no início da vida. O sistema endócrino
16
utilização de substrato para a manutenção da vida e dos processos metabólicos essenciais e,
em geral, isto se faz à custa da redução do crescimento (Sawaya, AL; Roberts, SB, 2003).
1.3. Conseqüências em longo prazo da desnutrição
As primeiras evidências populacionais a cerca dos efeitos da desnutrição intrauterina,
iniciaram-se com os estudos de Ravelli (Ravelli, et al 1976) na década de 70, que mostrou que
homens que sofreram fome na vida intra-uterina apresentaram uma incidência maior de
obesidade aos 19 anos de idade.
Estudos realizados no inicio da decada de 90 na Inglaterra indicaram o baixo peso ao
nascimento como fator de risco para doenças não comunicáveis. Foi sugerido que esta
associação reflete um fenômeno que foi chamado de programação metabólica, onde um
estímulo ou um insulto durante um período crítico da vida intrauterina resultaria em alterações
na fisiologia e metabolismo durante toda a vida (Barker, DJP, 1998).
Nos paises em desenvolvimento vários estudos foram então realizados para verificar a
associação entre desnutrição, não apenas intra-uterina, mas também durante a infância com
obesidade futura, visto que a população de baixa renda desses países vive em condições
precárias de vida, sendo acometida por altas prevalências de infecções e parasitas ou a
combinação destes problemas, entre outros.
Vários estudos mostraram que o efeito da desnutrição no início da vida em adultos de
baixa renda, ocasiona mudanças irreversiveis na estrutura e na função dos órgãos, quando o
estado nutricional deficitário não é recuperado em tempo hábil, levando ao aumento do risco
de obesidade, diabetes tipo 2, hipertensão e doenças cardiovasculares (Black, ER; et al, 2008;
Victora, CG et al, 2008). Estes autores sugerem que este fenômeno vem causando um
aumento na mortalidade, nas duas últimas décadas, nos paises em desenvolvimento (Victora,
17
Thomas e Strauss estimaram o impacto direto que a estatura causa sobre o salário na
população adulta brasileira. Embora exista uma grande variabilidade entre os sexos, estes
autores encontraram que um aumento em 1% na estatura leva ao aumento de 2-2,4% nos
salários ou ganhos (Strauss, J; et al, 1996)
Um estudo com a população adulta de baixa renda, moradora de favelas em Maceió
(Alagoas), encontrou maior prevalência de obesidade abdominal em mulheres, aferida através
da mensuração da circunferência da cintura (Florêncio, T, et al, 2004). O perfil lipídico e os
índices HOMA–IR e HOMA-Beta que avaliam resistência a insulina e produção de insulina
pelas células beta pancreáticas, respectivamente, mostraram-se aumentados nos individuos
obesos sendo maior nos inidividuos com baixa estatura associada à obesidade (Florêncio, T; et
al, 2007).
Martins e colaboradores (2006) avaliando 61 pré-adolescentes e adolescentes de baixa
renda em São Paulo encontraram menor produção de insulina pelas células beta pancreáticas
(HOMA-Beta) e maior sensibilidade a insulina (HOMA-S) de ambos os sexos com baixa
estatura. A diminuição da função das células beta e o aumento da sensibilidade à insulina
representam um forte fator preditor para o desenvolvimento de diabetes mellitus tipo 2.
Vários estudos em adolescentes com baixa estatura mostraram alterações na
composição corporal. Hoffman e colaboradores (2000a) encontraram alterações na
composição corporal favorecendo um aumento na gordura corporal em adolescentes com
baixa estatura nutricional. Um estudo em meninas com baixa estatura mostrou uma taxa
metabólica de repouso menor associada a um ganho de peso maior quando comparadas com
meninas de estatura normal (Grillo, LP; Martins, PA; Sawaya, AL, 2005). Em um outro
estudo encontrou-se elevado quociente respiratório (QR) em meninos e meninas com baixa
estatura; o que reflete uma maior oxidação dos carboidratos e consequentemente, menor
18
desenvolvidos pelo organismo para otimizar o aparecimento de energia durante o processo de
privação alimentar, já que a utilização dos carboidratos é mais vantajosa na produção de ATP
do que substratos não glicídicos como proteínas e gorduras. A desvantagem desse mecanismo
é que mesmo após a recuperação do peso, esses indivíduos parecem permanecer com limitada
capacidade de oxidação das gorduras favorecendo o acúmulo de gordura corporal,
predispondo ao sobrepeso e obesidade futura (Sawaya, AL; Roberts, S, 2003).
Um estudo de coorte com moradores de favelas de São Paulo avaliando a composição
corporal durante três anos em adolescentes com e sem baixa estatura, através do método do
DEXA, encontrou um ganho maior de gordura corporal no grupo com baixa estatura, em
detrimento de ganhos menores em massa magra (Martins, PA, et al., 2004).
1.4 Efeitos da Recuperação Nutricional
Mais recentemente, estudos comparando grupos de crianças que receberam tratamento
em centro de recuperação nutricional e controles (crianças sadias sem intervenção)
encontraram percentual de massa magra e gordura corporal significantemente menor do que o
grupo controle em ambos os sexos, porém dentro da faixa de normalidade. De forma
semelhante, as crianças recuperadas apresentaram valores de densidade mineral óssea (BMD)
similares aos indivíduos controles. Este estudo mostra que quando crianças desnutridas são
recuperadas adequadamente, essas apresentam crescimento linear, ganho de massa magra e
BMD adequados (Neves, J; et al, 2006).
Um outro estudo também analisando crianças recuperadas da desnutrição nesse mesmo
centro de tratamento, observou que essas crianças apresentaram HOMA-beta e Homa-S
semelhantes ao grupo controle (Martins, VJB; et al, 2007). Assim depreende-se que um
tratamento adequado é capaz de recuperar: a produção de insulina pelas células
19 1.5. Ingestão alimentar
Ao contrario do acreditava-se no passado a desnutrição não está somente associada ao
consumo insuficiente de alimentos ou a obesidade ao consumo excessivo de alimentos.
Sabe-se que os gastos com a alimentação consomem uma proporção considerável da renda familiar
e os preços têm um forte efeito sobre a seleção de alimentos específicos. A globalização dos
mercados de alimentos resultou na introdução de alimentos produzidos em massa e com baixo
custo, no suprimento alimentar doméstico de muitos países em desenvolvimento. Esta
mudança, juntamente com as campanhas publicitárias, pode ter um efeito poderoso sobre a
escolha dos alimentos e os padrões alimentares das famílias de baixa renda. Alimentos
baratos, com alta densidade energética e pobre em nutrientes, afetam negativamente o
crescimento das crianças, porém fornece calorias o suficiente para que o indivíduo ganhe peso
em excesso (Caballero, 2005).
Estudo realizado com a população adulta moradora de favelas de Maceió (Alagoas),
analisando a ingestão alimentar de adultos com baixa estatura e estatura normal. Observou que
ambos os grupos não consumiam a necessidade energética requerida, em ambos os sexos.
Sendo que o grupo com baixa estatura, independente do IMC e do sexo consumia menor
quantidade energética. Foi achado que mulheres com baixa estatura e obesas consumiam
apenas 65% do requerimento energético necessário, enquanto que o grupo de mulheres com
estatura normais e obesas consumia 86% do requerimento energético recomendado (Florencio
20 Justificativa
Estudos que avaliam a pressão arterial corrigida pelos percentis de estatura, em
adolescentes com déficit de estatura apontam maior tendência à hipertensão nesta população
(Fernandes, 2003), sugerindo que desnutrição no início da vida tem conseqüências em longo
prazo semelhantes às descritas por Barker no mecanismo da “programação” (Barker, DJP,
1998).
Sesso e colaboradores, ao estudar crianças de baixa renda que sofreram desnutrição no
início da vida, porém foram recuperadas em um centro de recuperação nutricional e um grupo
controle da mesma população, encontraram maior pressão arterial diastólica no grupo de
recuperados. A prevalência de hipertensão foi maior no de crianças desnutridas (29%), sendo
seguida pelo grupo de crianças recuperadas (20%), enquanto que as crianças controle
apresentaram valores de 2% de hipertensão. Estes resultados mostram que mesmo após a
recuperação nutricional, não há recuperação da pressão arterial nas crianças que sofreram
desnutrição no início da vida (Sesso,R; et al, 2004).
Além disso, estudos que investigaram crianças de baixa renda que sofreram
desnutrição intra-uterina mostraram que estas apresentaram alterações em biomarcadores
plasmáticos e disfunção endotelial, ocasionando perda da elasticidade e dilatação arterial, e
assim desencadeando o aumento da pressão arterial sistólica já na infância, contribuindo para
a ocorrência de doenças cardiovasculares na vida adulta (Franco et al., 2006; Franco et al.,
21 2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo Principal
Investigar a associação entre composição corporal e pressão arterial, em
pré-adolescentes e pré-adolescentes, com déficit de estatura e estatura normal de ambos os sexos, em
diferentes estados nutricionais: com déficit de estatura e baixo peso ou sobrepeso, com
estatura normal com peso normal ou sobrepeso.
2.2. Objetivos Específicos
• Caracterizar o perfil sócio-econômico-demográfico.
• Avaliar o estado nutricional.
• Avaliar a pressão arterial.
• Avaliar a ingestão alimentar.
22 3. METODOLOGIA
3.1. Desenho do Estudo
Trata-se de um estudo transversal, cuja população é constituída por uma amostra de
pré-adolescentes e adolescentes de ambos os sexos (n=87), de baixa renda, moradores da zona
sul do município de São Paulo, divididos em 2 grupos com estatura normal e déficit de
estatura. Os grupos foram selecionados da seguinte forma: indivíduos com déficit de estatura e
baixo peso ou sobrepeso; com estatura normal e peso normal ou sobrepeso.
3.2. Critérios de Inclusão/Exclusão no estudo
Os critérios de inclusão dos adolescentes e adolescentes no estudo foram: ser
pré-adolescente ou pré-adolescente (classificado de acordo com o estadiamento puberal), com idade
entre 08 e 19 anos; ter estatura normal (estatura-para-idade: escore z E/I > -1) e baixo peso (<
P5 IMC/I) ou sobrepeso (> P85 IMC/I); ou ter déficit de estatura (escore z E/I < -1) e peso
normal (< P5 IMC/I-< P85 IMC/I) ou sobrepeso (> P85 IMC/I); ser freqüentador de escolas
públicas ou Núcleos Sócios Educativos (freqüentado por pessoas de baixa renda) da zona sul
do município de São Paulo. O ponto de corte de E/I < -1 escore z E/I foi adotado devido a
evidências crescentes que crianças com desnutrição leve já apresentam alterações metabólicas
na pressão arterial e na composição corporal.
As famílias dos participantes do estudo foram esclarecidas sobre os objetivos da
pesquisa e convidadas a assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, aprovado
23
Não foram incluídos no estudo pacientes com alguma outra patologia a não ser com
desnutrição caracterizada por baixa estatura nutricional.
3.3. Protocolo Experimental
Este estudo foi desenvolvido em cinco etapas. 1) Primeiramente foram feitos contatos
com a direção das escolas públicas e dos Núcleos Sócio Educativos da zona sul do município
de São Paulo para explicar os objetivos e convidar a instituição a participar como
colaboradora do projeto. 2) Em seguida foram encaminhadas cartas aos pais dos
pré-adolescentes e pré-adolescentes dessas instituições para explicar os objetivos da pesquisa e pedir o
consentimento para que seus filhos participassem da pesquisa. 3) Nesta etapa foram
agendados mutirões para avaliação antropométrica (peso e estatura). Os pré-adolescentes e
adolescentes que estavam dentro dos critérios de elegibilidade pré-definidos pelo estudo foram
convidados a participar da etapa seguinte. 4) Realizou-se então, um screening, que consistiu
na coleta de amostra de sangue para realização de hemograma e de amostras de urina e fezes
para investigação de infecções e parasitoses. Todos os indivíduos que apresentaram alterações
nos exames foram tratados, conforme o protocolo do Hospital São Paulo. 5) Por fim, foram
coletados os seguintes dados: exame clínico (onde foi verificado o grau de estadiamento
puberal), avaliação sócio econômica, pressão arterial, composição corporal (DEXA e
24 3.4. Localização da área do estudo
O estudo foi realizado em área com baixo Índice de Desenvolvimento Humano onde
foi registrado crescimento populacional desordenado sem investimento suficiente em
equipamentos urbanos e de infra-estrutura. A localização das escolas públicas e núcleos
sócio-educativos que participaram deste estudo estão na figura 1.
Figura 1. Localização das escolas e núcleos sócio-educativos que freqüentam os
pré-adolescentes e pré-adolescentes deste estudo (Mapa gerado a partir da base Cartográfica de favelas
do Município de São Paulo, da Prefeitura Municipal de São Paulo-PMSP e do Centro de
25 3.5. Antropometria
Para a avaliação antropométrica aferiu-se peso e a estatura conforme as normas
recomendadas por Lohman (2000). Utilizou-se balança eletrônica (modelo SD-150, Country
Technologies, Willisnton, Gay Mills, USA) com capacidade de 150 Kg e precisão de 100g. A
estatura foi avaliada com o uso de um estadiômetro padrão, modelo Alturexata utilizando-se o
valor mais próximo de 0,1 cm. Os alunos foram avaliados com o mínimo de roupas e
descalços.
Para a classificação nutricional foram utilizados dois índices antropométricos:
estatura-para-idade e índice de massa corporal-estatura-para-idade, conforme recomendação da OMS. A curva
de referência utilizada para classificação nutricional foi NCHS/2000. O cálculo do estado
nutricional foi feito utilizando-se o programa Epi-info 2000.
Para mensuração da circunferência da cintura foi utilizada fita métrica, com extensão
de 2m, flexível e inelástica, dividida em centímetros e subdivida em milímetros. A
circunferência da cintura (CC) foi obtida durante a expiração normal, sendo circundada a
menor circunferência horizontal localizada abaixo das costelas e acima da cicatriz umbilical.
3.6. Estadiamento Puberal
O estadiamento puberal foi avaliado por uma médica, de acordo com o procedimento
de Tanner (1962). Os pré-adolescentes e adolescentes foram classificados de acordo com os
níveis de corte estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (WHO, 1995), foram
consideradas púberes as meninas com estágio das mamas igual ou maior a 2 (M2) e os
meninos com estágio da genitália igual ou maior a 3 (G3); abaixo desses níveis as crianças
26 3.7. Pressão Arterial
A mensuração da pressão sanguínea sistólica e diastólica foi realizada em todos os
participantes da pesquisa. Utilizou-se esfigmomanômeto clínico padrão, com o estetoscópio
posicionado sobre o pulso na artéria braquial proximal, medial à fossa cubital e abaixo da borda
inferior do manguito inflável. Para correta mensuração da pressão sanguínea foi utilizado
manguito apropriado ao tamanho da criança e à parte superior do antebraço direito. Durante a
mensuração, este era posicionado ao redor da circunferência do braço, entre o olecrano e
acrômio, para cobrir de 80 a 100% da circunferência do braço. Os indivíduos investigados
permaneceram sentados com a fossa cubital elevada na altura do coração e descansaram por 10
minutos antes da mensuração, que ocorreu 3 vezes com 5 minutos de intervalo entre cada uma
das medidas. A pressão sanguínea sistólica foi determinada pelo primeiro som de Korotkoff e a
pressão diastólica pelo 5a som de Korotkoff ou pela ausência de som (Task Force Report, 1996).
Para a classificação da pressão arterial foram utilizados os padrões preconizados na
National High Blood Pressure Education Program Working Group on Hypertension Control
in Children and Adolescents, que levam em conta o sexo, idade e percentil de estatura.
Consideraram-se os valores abaixo do percentil 90 como normotensão; entre os percentis 90 e
95, como pré-hipertensão; e iguais ou superiores ao percentil 95, como hipertensão arterial
(Task Force Report, 1996). A pressão arterial foi avaliada pela média das três aferições
27 3.8. Composição Corporal
A avaliação da composição corporal foi realizada através de dois métodos:
Bioimpedância bioelétrica (BIA) e densitometria óssea (DEXA).
Bioimpedância elétrica
A bioimpedância elétrica baseia-se no princípio de que os componentes corporais
oferecem uma resistência diferenciada à passagem da corrente elétrica. Uma corrente elétrica
imperceptível de 500 a 800Ma e 50 kHz é introduzida pelos eletrodos distais e captada pelos
eletrodos proximais, gerando vetores de resistência (medida de oposição pura ao fluxo de
corrente elétrica através do corpo) e reactância (oposição ao fluxo de corrente causada pela
capacitância produzida pela membrana celular). As medidas de resistência e de reactância são
obtidas por aparelho apropriado, com quatro eletrodos auto-adesivos, através de corrente
padrão de 800 µA e freqüência de 50 khz. Dois eletrodos são colocados no dorso do pé
direito, e dois são colocados na superfície dorsal da mão direita dos jovens estudados,
conforme recomendações do fabricante. Antes dos eletrodos serem instalados, a pele do dorso
da mão e do pé é apropriadamente limpa com álcool.
O aparelho de bioimpedância utilizado neste projeto foi o ImpediMed e o software
usado para as analises foi Body Composition Analysis (Imp DF50, Austrália).
Densitometria óssea (DEXA – Dual energy X-ray absorptiometry)
O método de densitometria óssea (DEXA) utiliza a técnica de emissão de pulsos
alternados de raio X, através de duplo feixe de diferentes intensidade, 100 e 140 KeV. Ao
passar pelo corpo, esses raios são atenuados de acordo com o tipo de tecido e a atenuação é
28
sistema permite a determinação da massa óssea e de tecidos moles, que são posteriormente
29
carboidratos e 25-35% em lipídeos. Com relação aos micronutrientes, consideram-se os
valores recomendados de acordo com faixa etária e sexo, utilizando-se como ponto de corte
valores compreendidos entre 90-110% da recomendação, para classificação como ingestão
adequada.
O cálculo do requerimento energético total foi realizado com base nas equações
propostas pela FAO/WHO em 1985 e multiplicado pelo fator de atividade especifico
correspondente a cada sexo, para atividade leve.
3.11. Análise estatística
Para avaliar os dados sócio-econômicos foram realizadas análises descritivas, dos
seguintes dados: situação do domicílio, grau de instrução materna e paterna e renda da
população estudada.
Para investigar o perfil nutricional e composição corporal dos pré-adolescentes e
adolescentes com déficit de estatura e estatura normal foi realizado o teste-t para amostras
independentes quando as variáveis foram consideradas continuas.
Para as variáveis categorizadas (IMC – baixo peso, eutrófico, sobrepeso e Pressão
arterial–normal, pré-hipertensão, hipertensão) foi realizado o teste de Qui-quadrado para
verificar a associação entre os grupos.
A análise de covariância (ANCOVA) foi utilizada para avaliar as diferenças entre os
grupos. Foram avaliados os parâmetros de condição nutricional, composição corporal e
pressão arterial, e ajustou-se por sexo, idade, IMC (z-escore) e estadiamento puberal. Esta
análise foi estratificada por grupos de estatura.
Para verificar a associação entre pressão arterial e as outras variáveis antropométricas e
de composição corporal estudadas, foi realizado o método estatístico de regressão linear
30
Para avaliar a diferença da ingestão alimentar foi realizada análise de covariância
(ANCOVA) ajustada por sexo, idade e estadiamento puberal. Esta análise foi estratificada por
grupos de estatura.
O programa EPI-INFO versão 3.3.2 foi empregado para a construção do banco de
dados. As análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o Programa Estatístico SPSS
31 4. RESULTADOS
Participaram deste estudo 41 indivíduos com déficit de estatura e 46 indivíduos com
estatura normal.
4.1. Dados Sócio-econômicos
O número de famílias que responderam ao questionário sócio-econômico foi 51. A
tabela 1 mostra as condições do domicilio das famílias estudadas.
Tabela 1 – Características do domicilio
Tipo de domicilio
Madeira 5,88 %
Misto 3,90 %
Alvenaria 90,20 %
Revestimento do piso
Sim 100 %
Destinação do esgoto
Rede pública 60,78 %
Fossa 19,60 %
Céu aberto 19,60 %
Fornecimento de água
Rede pública 100 %
Destinação do lixo
32
Aproximadamente 10% dos indivíduos estudados moravam de forma inadequada ou
precária, com moradias feitas de madeira ou outros materiais. Cerca de 39,20% das moradias
não possuíam destinação de esgoto em rede pública, sendo que 19,60% despejavam os dejetos
em fossa e 19,60% a céu-aberto. Todas as moradias possuíam abastecimento de água e coleta
de lixo adequado.
Na tabela 2 são descritos os dados de grau de instrução e renda familiar das famílias
estudadas.
Tabela 2 – Grau de instrução e renda das famílias estudadas.
Grau de instrução materna
Sabe ler + escrever + Assina o nome 85.10
Analfabeto 10.64
Grau de instrução paterna
Sabe ler + escrever + Assina o nome 93.75
Analfabeto 5.56
Número médio de pessoas por domicilio 3.86
Renda mensal (por domicilio) R$ 907.50
Renda per capita diária R$ 7.83
Observou-se uma prevalência maior de mães analfabetas do que de pais. Foram
considerados analfabetos os indivíduos que não sabiam ler ou escrever ou só assinavam o
nome.
O número médio de moradores por domicilio foi pequeno.
33 4.2. Avaliação Nutricional
O gráfico 1 mostra a distribuição dos dados na triagem inicial (peso, estatura),
realizada para selecionar os 87 indivíduos participantes desde estudo, conforme protocolo
experimental. Participaram da triagem inicial (etapa 3) do estudo 3766 indivíduos, sendo 756
(20,1%) indivíduos com déficit de estatura e 3010 (79,9%) com estatura normal. Quando
classificados pelo IMC, 203 indivíduos (5,4%) tinham baixo peso, 2894 (76,8%) eram
eutróficos e 669 (17,8%) com sobrepeso. Foi significante (p<0, 001) a diferença entre as três
classificações de IMC de acordo com a presença ou não de déficit de estatura.
Observou-se no baixo peso uma prevalência maior de déficit de estatura (10,3%),
enquanto que no sobrepeso uma prevalência maior de indivíduos com estatura normal
(19,9%).
Gráfico 1 - Estado nutricional dos participantes da triagem, de acordo com classificação do
IMC e estatura.
10,3 80,3 9,4 4,2 76 19,9 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Baixo peso Eutrofico Sobrepeso
Déficit de estatura Estatura Normal
Baixo Peso: < P5 IMC/I; Eutrófico: > P5 IMC/I e <P85 IMC/I; Sobrepeso: > P85 IMC/I.
Déficit de estatura (z-escore E/I < -1); Estatura Normal (z-escore E/I > -1).
34
A tabela 3 mostra as distribuições dos pré-adolescentes e adolescentes investigados
segundo, sexo e estadiamento puberal, subdivididos em dois grupos: grupo com déficit de
35
meninas nos valores de IMC e circunferência da cintura entre os dois grupos de estatura.
Enquanto que os meninos com déficit de estatura apresentaram valores significantemente
menores de peso, estatura (escore-z), IMC e IMC/idade (percentil) quando comparados ao
grupo controle.
Tabela 4 – Avaliação antropométrica dos pré-adolescentes e adolescentes investigados, do
sexo feminino.
Meninas
Déficit de estatura
(n= 22)
Estatura Normal
(n= 22)
Idade (anos) 13,10 ± 2,05 12,13 ± 3,51
Peso (kg) 42,08 ± 15,52 52,20 ± 21,73
Estatura (cm) 141,30 ± 9,32 148,86 ± 15,47
Estatura/ Idade (z-escore) -1,95 ± 0,57 0,31 ± 0,67*
IMC (kg/m2) 20,58 ± 5,91 22,49 ± 6,03
Percentil IMC/idade (kg/m2) 54,73 ± 44,80 73,42 ± 24,05
Circ. Cintura (cm) 64,61 ± 9,89 71,81 ± 18,99
Déficit de estatura (z-escore E/I < -1); Estatura Normal (z-escore E/I > -1). Valores expressos em média ± DP.
36
Tabela 5 – Avaliação antropométrica dos pré-adolescentes e adolescentes investigados, do
sexo masculino.
Meninos
Déficit de estatura
(n= 19)
Estatura Normal
(n= 24)
Idade (anos) 12,71 ± 1,87 11,28 ± 2,44*
Peso (kg) 32,50 ± 11,40 44,45 ± 14,75*
Estatura (cm) 139,13 ± 9,49 146,32 ± 13,77
Estatura/ Idade (z-escore) -2,01 ± 1,03 0,10 ± 0,84*
IMC (kg/m2) 16,41 ± 4,01 20,26 ± 3,89*
Percentil IMC/idade (kg/m2) 20,54 ± 36,95 71,48 ± 26,92*
Circ. Cintura (cm) 59,77 ± 11,17 68,44 ± 11,04
Déficit de estatura (z-escore E/I < -1); Estatura Normal (z-escore E/I > -1). Valores expressos em média ± DP.
*Diferença significante entre os grupos. (p < 0,05). Teste-t para amostras independentes.
Para comparar a medida de circunferência da cintura entre os grupos foi feita análise
de covariância (ANCOVA) ajustada por sexo, idade, IMC (z-escore), estadiamento puberal e
37 4.3. Composição Corporal
A composição corporal dos pré-adolescentes e adolescentes foi mensurada através de
duas técnicas: Dexa e Bioimpedância.
Na tabela 6 observa-se que entre as meninas com déficit de estatura mostraram um
percentual significantemente maior de massa magra quando comparado ao grupo controle,
utilizando a técnica do densitometria óssea.
Na tabela 7 observa-se que os meninos com déficit de estatura apresentaram valores
significantemente menores de gordura corporal em termos absolutos e em percentual, e maior
percentual de massa magra (p=0, 008), quando utilizada a técnica de densitometria óssea.
Tabela 6 – Composição corporal das meninas investigados, segundo a técnica de DEXA.
Meninas
Déficit de estatura
(n= 14)
Estatura normal
(n= 22)
BMD (g/cm2) 0,89 ± 0,11 0,94 ± 0,16
BMC (kg) 1,37 ± 0,35 1,58 ± 0,58
Gordura corporal (kg) 11,42 ± 6,95 17,65 ± 10,85
Gordura corporal (%) 25,90 ± 8,14 31,60 ± 7,77
Massa Magra (kg) 27,73 ± 6,99 32,61 ± 11,86
Massa Magra (%) 74,82 ± 9,28 64,79 ± 9,09*
Déficit de estatura e/ou baixa estatura (z-escore E/I < -1); Estatura Normal (z-escore E/I > -1). Valores expressos em média ± DP.
38
Tabela 7 – Composição corporal dos meninos investigados, segundo a técnica de DEXA.
Meninos
Déficit de estatura
(n= 12)
Estatura normal
(n= 24)
BMD (g/cm2) 0,88 ± 0,07 0,91 ± 0,09
BMC (kg) 1,32 ± 0,29 1,47 ± 0,45
Gordura corporal (kg) 7,30 ± 5,23 12,17 ± 7,38*
Gordura corporal (%) 18,91 ± 6,52 25,61 ± 8,76*
Massa Magra (kg) 26,47 ± 7,69 31,77 ± 9,65
Massa Magra (%) 81,21 ± 7,20 72,82 ± 8,89*
Déficit de estatura e/ou baixa estatura (z-escore E/I < -1); Estatura Normal (z-escore E/I > -1). Valores expressos em média ± DP.
*Diferença significante entre os grupos. (p < 0,05). Teste-t para amostras independentes.
Na tabela 8 observa-se que não houve diferença significativa na composição
corporal entre as meninas quando utilizada a técnica de bioimpedância.
Na tabela 9 observa-se percentual significantemente menor de gordura corporal e
maior de massa magra nos meninos com déficit de estatura, quando a composição
corporal foi analisada pela técnica de bioimpedância. Sendo o mesmo resultado
39
Tabela 8 – Composição corporal das meninas investigados, segundo a técnica de
Bioimpedância.
Meninas
Déficit de estatura (n= 21) Estatura normal (n= 16)
Gordura corporal (kg) 11,78 ± 8,65 11,81 ± 10,65
Gordura corporal (%) 24,12 ± 11,62 29,06 ± 10,30
Massa magra (kg) 30,46 ± 7,60 35,91 ± 10,64
Massa magra (%) 75,87 ± 11,62 70,93 ± 10,30
Déficit de estatura (z-escore E/I < -1); Estatura Normal (z-escore E/I > -1). Valores expressos em média ± DP.
Teste-t para amostras independentes.
Tabela 9 – Composição corporal dos meninos investigados, segundo a técnica de
Bioimpedância.
Meninos
Déficit de estatura (n=19) Estatura normal (n= 20)
Gordura corporal (kg) 6,69 ± 5,47 13,71 ± 8,84*
Gordura corporal (%) 18,42 ± 8,20 27,72 ± 9,68*
Massa magra (kg) 25,76 ± 6,57 32,90 ± 9,04*
Massa magra (%) 81,57 ± 8,20 72,26 ± 9,68*
Déficit de estatura (z-escore E/I < -1); Estatura Normal (z-escore E/I > -1). Valores expressos em média ± DP.
*Diferença significante entre os grupos. (p < 0,05). Teste-t para amostras independentes.
Para confirmar as diferenças encontradas nos grupos investigados, realizou-se ajuste
40
através da análise de covariância (ANCOVA) estratificada por grupo de estatura, como
mostram as tabelas 10 e 11.
Na tabela 10 observa-se que os indivíduos com déficit de estatura quando avaliados
pela técnica do DEXA possuíam o conteúdo mineral ósseo (BMC) e massa magra em termos
absolutos significantemente menores do que o grupo de indivíduos com estatura normal, mas
quando os valores foram expressos em porcentagem estas diferenças desapareceram.
A tabela 11 mostra a distribuição da composição corporal dos indivíduos com déficit e
estatura normal, avaliados pela técnica de bioimpedância. Foi observado que os indivíduos
com déficit de estatura têm significantemente menor massa magra em termos absolutos (p
<0,001) do que os indivíduos com estatura normal, mas quando esta diferença é corrigida em
termos percentuais a diferença desaparece; de forma semelhante ao observado para a
avaliação realizada quando se utiliza o DEXA.
Tabela 10 – Composição corporal indivíduos investigados, segundo a técnica de DEXA.
Déficit de estatura
(n= 26)
Estatura normal
(n= 46)
BMD (g/cm2) 0, 891 ± 0, 016 0, 929 ± 0, 011
BMC (kg) 13,34 ± 0, 050 1,54 ± 0,03*
Gordura corporal (kg) 13,48 ± 1,08 12,55 ± 0, 75
Gordura corporal (%) 28,22 ± 1,14 25,34 ± 0,79
Massa Magra (kg) 28,06 ± 0, 96 31,66 ± 0, 67*
Massa Magra (%) 72,50 ± 1,38 71,96 ± 0,96
Déficit de estatura (z-escore E/I < -1); Estatura Normal (z-escore E/I > -1). Valores expressos em média ± SE.
41
Tabela 11 – Composição corporal dos indivíduos investigados, segundo a técnica de
Bioimpedância.
Déficit de estatura (n= 40) Estatura normal (n= 36)
Gordura corporal (kg) 11, 39 ± 0,82 12, 83 ± 0,87
Gordura corporal (%) 24, 76 ± 1,05 24, 59 ± 1, 12
Massa magra (kg) 28,78 ± 0, 69 33, 63 ± 0,74*
Massa magra (%) 75, 22 ± 1,05 75,39 ± 1,12
Déficit de estatura (z-escore E/I < -1); Estatura Normal (z-escore E/I > -1). Valores expressos em média ± SE
42 4.4. Inquérito Alimentar
A tabela 12 descreve a ingestão alimentar em termos de macronutrientes e de alguns
micronutrientes (cálcio, ferro, zinco e vit. C), de acordo com a recomendação das DRIs
(2000). O resultado obtido da média dos recordatórios quanto à ingestão energética não foi
estatisticamente diferente nos dois grupos investigados. A ingestão de ferro, zinco e vitamina
C foi diferente nos dois grupos estudados, sendo menor o consumo no grupo com déficit de
43
Tabela 12 – Média e desvio-padrão da ingestão de energia e nutrientes do percentual de adequação de nutrientes dos indivíduos
investigados.
Déficit de Estatura (n=15) Estatura Normal (n=8)
Média DP Média DP p
Energia (kJ)/ (kg.d)
188,18 14,79 173,75 20,41 0, 578
Macronutrientes
CHO (g/kg.d) 6,56 0,60 5,70 0,83 0, 419
Proteínas (g/kg.d) 1,42 0,11 1,50 0,15 0, 654
Lipídeos (g/kg.d) 1,41 0,11 1,50 0,15 0, 654
Micronutrientes
Cálcio (mg/d) 380,69 55,06 390,97 75,98 0, 915
Ferro (mg/d) 7, 85 1, 25 13, 01 1, 73 0, 029*
Zinco (mg/d) 5,14 1,17 9,78 1,61 0, 034*
Vitamina C (mg/d) 8,30 6,82 38,55 9,41 0, 019*
44 4.5. Pressão arterial
A tabela 13 mostra a distribuição de pressão arterial sistólica de acordo com o estado
nutricional dos indivíduos investigados, sendo significantemente diferente entre os grupos.
Observa-se que a prevalência de pré-hipertensão foi semelhante no grupo com déficit de
estatura/sobrepeso (17,7%) e no grupo com estatura normal/sobrepeso (16,7%). Porém, a
prevalência de pré-hipertensão mostrou-se ainda mais alta no grupo eutrófico, com estatura e
peso normais (18,2%). O grupo que apresentou valores maiores de hipertensão foi o grupo de
indivíduos com déficit de estatura/sobrepeso (29,4%) quando comparado com os demais grupos
do estudo. Observa-se, de forma semelhante, que o grupo que apresentou valores maiores de
pressão arterial diastólica foi o grupo de indivíduos com déficit de estatura/sobrepeso (29,4%),
45 Tabela13 – Pressão arterial sistólica dos indivíduos investigados.
Déficit de estatura Estatura Normal
Baixo Peso Sobrepeso Sobrepeso Eutrófico
n % n % n % n %
Normal 22 91,6 9 52,9 19 79,2 15 68,2*
Pré-Hipertensão 2 8,4 3 17,7 4 16,7 4 18,2*
Hipertensão 0 0 5 29,4 1 4,1 3 13,6*
Total 24 100 17 100 24 100 22 100
Déficit de estatura (z-escore E/I < -1); Estatura Normal (z-escore E/I > -1).
Baixo Peso: < P5 IMC/I; Eutrófico: > P5 IMC/I - <P85 IMC/I; Sobrepeso: > P85.
46 Tabela 14 – Pressão arterial diastólica dos indivíduos investigados.
Déficit de estatura Estatura Normal
Baixo Peso Sobrepeso Sobrepeso Eutrófico
n % n % n % n %
Normal 22 91,6 11 64,7 19 79,2 18 81,8
Pré-Hipertensão 2 8,4 1 5,9 3 12,5 4 18,2
Hipertensão 0 0 5 29,4 2 8,3 0 0
Total 24 100 17 100 24 100 22 100
Déficit de estatura (z-escore E/I < -1); Estatura Normal (z-escore E/I > -1).
Baixo Peso: < P5 IMC/I; Eutrófico: > P5 IMC/I - <P85 IMC/I; Sobrepeso: > P85.
47
Quando os valores médios de pressão arterial sistólica foram ajustados, através de
análise de covariância (ANCOVA), por sexo, idade, IMC (z-escore) e estadiamento puberal
não houve diferença entre os grupos de estatura (p= 0, 448). Da mesma forma, não houve
diferença estatística da pressão arterial diastólica entre o grupo com déficit de estatura e
estatura normal (p= 0, 874), após ajuste por sexo, idade, IMC (z-escore) e estadiamento
puberal.
Para verificar a associação entre pressão arterial e as variáveis antropométricas e de
composição corporal, investigadas neste estudo, foi realizada análise de regressão linear
univariada, tendo como variável dependente a pressão arterial sistólica e como variável
independente IMC, massa magra (absoluta e %) e gordura corporal (absoluta e %). A pressão
arterial sistólica se mostrou mais positivamente associada às seguintes variáveis: massa magra
em termos absolutos (aferida pela técnica de bioimpedância), gordura corporal em termos
absoluto (aferida pela técnica de bioimpedância) e IMC, conforme o gráfico 2 para o grupo
com déficit de estatura. De mesma forma, quando esta análise foi repetida para o grupo com
estatura normal, houve associação positiva significativa, porém mais fraca entre a pressão
arterial sistólica e gordura corporal em termos absoluto (aferida pela técnica de
bioimpedância) e IMC. A associação entre pressão arterial sistólica e massa magra no grupo
48
y = 1,5402x + 61,494 R2 = 0,2759
60 80 100 120 140 160 180 200
0 10 20 30 40 50 60
Massa magra (kg)
P re ss ão a rt er ia l s is tó lic a (m m H g)
y = 1,5944x + 89,989 R2 = 0,3124
60 80 100 120 140 160 180 200
0 10 20 30 40 50 60
Gordura corporal (kg)
P re ss ão a rt er ia l s is tó lic a (m m H g)
y = 2,2043x + 64,081 R2 = 0,3104
60 80 100 120 140 160 180 200
10 15 20 25 30 35
IMC (kg/m2) P re ss ão a rt er ia l s is tó lic a (m m H g)
Gráfico 2 - Associação entre pressão arterial sistólica e massa magra, gordura corporal e
IMC, respectivamente nos indivíduos investigados com déficit de estatura. R2 = 0, 257; p = 0, 001
R2 = 0, 294; p < 0, 001
49 0 20 40 60 80 100 120 140
0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00
IMC (kg/m2) P re ss ão a rt er ia l s is tó lic a (m m H g) 60 80 100 120 140 160 180 200
0 10 20 30 40 50 60 70
Massa Magra (Kg)
P re ss ão a rt er ia l s is tó lic a (m m H g)
Gráfico 3 - Associação entre pressão arterial sistólica e massa magra, gordura corporal e
IMC, respectivamente nos indivíduos investigados com estatura normal. R2 = -0, 005; p = 0, 367
R2 = 0, 086; p = 0, 027 60 80 100 120 140 160 180 200
0 10 20 30 40 50
Gordura Corporal (kg)
P re ss ão a rt eri al s is tó lic a (m m H g)
50
Para confirmar as associações entre pressão arterial e as variáveis antropométricas e de
composição corporal, investigadas neste estudo, foi realizada também análise de regressão
linear multivariada, tendo como variável dependente a pressão arterial. As variáveis sexo e
estadiamento puberal não foram significantes em nenhum dos modelos, porém foram usadas
para ajuste. A pressão arterial sistólica se mostrou mais associada a todas as variáveis
estudadas do que a pressão arterial diastólica. Nas tabelas 15 e 16 estão os resultados das
análises realizadas. Na tabela 15 observa-se que a pressão arterial sistólica nos indivíduos com
déficit de estatura está fortemente associada à massa magra (Kg) por ambas as técnicas e
porcentagem de massa magra pela técnica de bioimpedância; gordura corporal (Kg) por ambas
as técnicas e gordura corporal (%) pela técnica de bioimpedância; e IMC. Por outro lado, na
tabela 16 observa-se que a pressão arterial sistólica nos indivíduos com estatura normal não
51
Tabela 15 – Resultado obtido da regressão linear* multivariada no grupo com déficit de
estatura.
β
r 2 pIMC (kg/m2) 0, 619 0, 377 < 0, 001
IMC/I (z-escore) 0, 634 0, 392 < 0, 001
DEXA
Gordura corporal (g) 0, 663 0, 378 0, 014
Gordura corporal (%) 0, 562 0, 253 0, 087
Massa magra (g) 0, 853 0, 568 < 0, 001
Massa magra (%) -0, 542 0, 723 0, 076
Bioimpedancia
Gordura corporal (g) 0, 620 0, 351 < 0, 001
Gordura corporal (%) 0, 541 0, 301 0, 004
Massa magra (g) 0, 808 0, 416 < 0, 001
Massa magra (%) -0, 514 0, 301 0, 004
*Variável dependente: Pressão arterial sistólica. Déficit de estatura (z-escore E/I < -1).
52
Tabela 16 – Resultado obtido da regressão linear* multivariada no grupo com estatura
normal.
β
r 2 pIMC (kg/m2) 0, 066 0, 050 0, 540
IMC/I (z-escore) 0, 092 0, 053 0, 506
DEXA
Gordura corporal (g) 0, 294 0, 115 0, 159
Gordura corporal (%) 0, 141 0, 063 0, 431
Massa magra (g) 0, 437 0, 141 0, 092
Massa Magra (%) 0, 024 0, 001 0, 987
Bioimpedância
Gordura corporal (g) 0, 399 0, 176 0, 099
Gordura corporal (%) 0, 393 0, 188 0, 080
Massa magra (g) 0, 197 0, 069 0, 509
Massa magra (%) -0, 392 0, 187 0, 081
*Variável dependente: Pressão arterial sistólica. Estatura normal (z-escore E/I > -1).
Ajustado por estadiamento puberal e sexo.
53 5. DISCUSSÃO
5.1. Dados sócio-econômicos
A avaliação do perfil sócio-econômico da população estudada é fator fundamental
para identificar os fatores mais associados à desnutrição e para a melhor compreensão do
fenômeno.
A rápida urbanização e estagnação econômica do município de São Paulo nas últimas décadas, resultou numa região afligida por extensos problemas sociais. São Paulo tem a maior
densidade populacional da América do Sul (2.245 habitantes por km2), os mais altos aluguéis residenciais, a quarta mais alta parcela da população vivendo em favelas (9%) e a quinta mais
alta parcela da população vivendo em habitações informais (16%) (Aliança de Cidades, 2004).
Dados de 2007 relatam que um em cada seis paulistanos vive em favelas, acredita-se que entre
1,6 a 2 milhões de pessoas morem em favelas (O estudo da cidade de São Paulo, 2007).
Os adolescentes convidados a participar deste trabalho são habitantes de regiões de
baixa renda do município de São Paulo. As características dos domicílios estudados são mais
precárias que as médias dos indicadores habitacionais e de saneamento divulgados pela
prefeitura do município de São Paulo. No presente estudo, 100% dos domicílios dispunham de
fornecimento de água e coleta pública de lixo, contra 98.62% e 99.20%, respectivamente no
município de São Paulo. No entanto, apenas 60% da amostra do presente estudo possuía
destinação de esgoto em rede pública, contra 87.23% em média no município. Indicando que
muitos desses domicílios possuíam ligações clandestinas de água e luz. O grau de instrução
dos pais assim como a renda per capita das famílias estudadas, foram abaixo da média do
município. A renda mensal (R$ 907,50) foi bem inferior ao rendimento médio de
54
1.190,00) previsto pela Fundação Seade, para a população moradora do município de São
Paulo.
Portanto, os resultados encontrados neste estudo, ajudam a explicar a maior
susceptibilidade dessa população às alterações metabólicas estudadas, visto que a prevalência
de doenças não comunicáveis é maior na população de baixa renda, assim como o déficit de
estatura. (Jha, 2007).
5.2. Composição corporal
A avaliação da composição corporal mostrou resultados semelhantes entre os dois
grupos de estatura indicando que o déficit leve de estatura considerado como nível de corte
para a divisão dos grupos está associado a valores normais de composição corporal. Apenas a
massa magra em termos absolutos foi significantemente menor no grupo com déficit de
estatura em relação ao grupo com estatura normal quando ajustado por sexo, idade,
estadiamento puberal e IMC (z-escore). Porém quando esta diferença é corrigida em termos
percentuais a diferença desaparece.
Um estudo realizado com cinqüenta adolescentes moradores de favelas de São Paulo,
com idade entre onze e quinze anos, sendo vinte deles com baixa estatura nutricional média
mais grave que a do presente estudo (escore z E/I < -2), investigou a composição corporal dos
mesmos e encontrou menor percentual de massa magra e maior percentual de gordura corporal
(Martins, 2004). De forma semelhante, Walker et al. (2002) encontraram a razão prega
cutânea subescapular/triciptal maior em adolescentes com baixa estatura. Recentemente, um
estudo realizado em adolescentes, em São Paulo, encontrou uma associação significante entre
déficit de estatura-para-idade e gordura no tronco (Hoffman,et al, 2007). Estes achados
sugerem que à medida que se agrava o déficit de estatura aumenta a quantidade de gordura
55
Foi observado no presente estudo menor conteúdo mineral ósseo (BMC) no grupo com
déficit de estatura. Porém quando essa diferença é corrigida em termos percentuais (densidade
mineral óssea – BMD) essa diferença desaparece. Sabe-se que o período da infância e
adolescência é considerado o mais importante para aquisição do pico da massa óssea. Este é
definido como o mais alto nível de massa óssea alcançado como resultado do crescimento
normal, sendo influenciado por fatores ambientais (dieta rica em cálcio, exercício físico),
hormonais e genéticos (Bouillon, R; Prodonova, WH, 2000). Aproximadamente 85-90% da
massa óssea final do adulto é adquirida até os 18 anos, em meninas, e até os 20 anos, em
meninos. A partir de então, mantém-se constante até a quarta década de vida, quando se inicia
a perda fisiológica gradual decorrente do avanço da idade (Heaney, RP; et al, 2000).
A correlação entre os métodos empregados neste estudo, isto é, densitometria óssea
(DEXA) e bioimpedância foi bastante satisfatória (r = 0.85 para massa magra e r = 0.88 para
gordura corporal), sendo significativa quando se testou os pares. A avaliação da composição
corporal por DEXA é considerada como padrão ouro. Em virtude disso, mas tendo em vista
que este método tem um alto custo e necessita o deslocamento do paciente para a realização
do exame, procurou-se utilizar também um outro método de mais baixo custo e de mais fácil
realização em pesquisas de campo. Assim foi empregado também o método de bioimpedância.
Os resultados obtidos pelo método de bioimpedância também não encontraram diferenças
56 5.3. Ingestão alimentar
Os resultados encontrados neste estudo mostram que os indivíduos com déficit de
estatura apresentaram consumo alimentar semelhante ao grupo com estatura normal, quando
ajustados por sexo, idade e estadiamento puberal. Observou-se diferença significante na
ingestão alimentar apenas de ferro e zinco, sendo menor no grupo com déficit de estatura. No
entanto apenas 23 individuos participaram do estudo.
Para avaliação da ingestão alimentar neste estudo foi utilizado o método de
recordatório alimentar de 24 horas. Este é um método retrospectivo onde o entrevistado
descreve todos os alimentos ingeridos nas últimas 24 horas e suas respectivas quantidades
(Pereira, et al, 1997). Porém o uso desse método não reflete o consumo usual dessa população.
A detecção de associações entre a ingestão alimentar e o risco de doenças em estudos
populacionais é limitada pela dificuldade de se mensurar o consumo de forma acurada. Este
problema é inerente a todos os métodos de avaliação da ingestão alimentar que dependem do
relato individual. Embora se saiba que, para estudos de associação, a classificação dos
indivíduos em função do consumo alimentar é mais importante do que a aferição precisa
deste, os vieses de mensuração do consumo podem produzir resultados inconsistentes (Slater,
E; et al, 2005).
Apesar disso foram observadas diferenças nos dados de inquérito alimentar entre os
dois grupos de estatura. Embora os resultados deste estudo mostrassem que o valor energético
total não foi diferente nos dois grupos, 86,7% dos indivíduos do grupo com déficit de estatura
estavam abaixo da porcentagem de adequação, enquanto que no grupo com estatura normal
62,5% tinham consumo energético abaixo do recomendado. A composição da dieta foi mais
inadequada no grupo com déficit de estatura, tendo estes uma dieta menos equilibrada. A
57
estatura: 56,99% de carboidrato (g), 14,81% de proteína e 28,19% de lipídeo; b) e no grupo
com estatura normal: 53,73% de carboidrato, 14,59 de proteína e 31,66% de lipídeo.
Um estudo que analisou a ingestão a alimentar de 56 indivíduos entre 8 e 11 anos de
idade, moradores em favelas de São Paulo, divididos em 2 grupos: baixa estatura (<-1,5
escore-z E/I) e controle (> -1,50 escore-z E/I) e com < 2 escore-z para peso-para-estatura,
encontrou consumo energético em kJ/ por kg de peso corporal maior no grupo com baixa
estatura quando comparado ao controle. Esse aumento na ingestão alimentar no grupo com
baixa estatura que levaria a um maior risco de excesso de peso nesse grupo futuramente, não
foi observado no presente estudo.
Florêncio et. al (2003) investigaram a ingestão alimentar de 532 adultos moradores em
58
zinco ser menor no grupo com déficit de estatura pode ser explicado pelo baixo consumo de
proteína de alto valor biológico, como o consumo de carne.
Por fim, apesar do pequeno tamanho da amostra, foi encontrada diferença no consumo
de ferro, zinco e na adequação do consumo energético nos dois grupos de estatura
59 5.4. Pressão arterial
Desde a década de 70 diversos fatores conhecidamente associados à hipertensão nos
adultos têm sido também associados com o aumento nos níveis da pressão arterial na infância
e adolescência (Gortmaker SL et al, 1987). Dentre os fatores ambientais associados à
fisiopatologia da hipertensão arterial, o sobrepeso é reconhecido como o mais importante
determinante da elevação de pressão arterial, tanto em adultos quanto em crianças e
adolescentes. Entretanto poucos estudos têm analisando a pressão arterial em indivíduos com
baixa estatura. Sabe-se que, a desnutrição crônica, caracterizada pela baixa estatura está à
associada ao aumento da pressão arterial, segundo a teoria proposta por Barker (Barker, DJP,
1998).
Os resultados encontrados no presente estudo confirmam a hipótese do projeto, que os
indivíduos com déficit de estatura apresentam aumento de pressão arterial, tendo seu nível
agravado à medida que aumenta o IMC. Observou-se tendência semelhante nos indivíduos
com estatura normal, mas, o resultado nos indivíduos com déficit de estatura foi muito mais
evidente. Neste estudo quando se comparou prevalência de hipertensão (pressão arterial
sistólica) no grupo com déficit de estatura/sobrepeso com o grupo estatura normal/sobrepeso,
as prevalências foram de 29,4% e 4,1%, respectivamente.
Dados obtidos em população adulta, entre moradores de favela em Maceió (Alagoas)
sugerem que a prevalência de hipertensão tende a se agravar com o avanço da idade. Foi
encontrada prevalência de 50% de hipertensão nas mulheres com sobrepeso e pertencentes ao
primeiro quartil de estatura (média de estatura: 146,6 cm) (Florêncio et al., 2004).
Fernandes, et al (2003) estudando população adolescente entre 10 e 16 anos de idade
com baixa estatura nutricional encontrou 36% de prevalência de pré-hipertensão; e 21% de
prevalência de hipertensão. Estudos internacionais encontraram prevalências de hipertensão