REVISTA
BRASILEIRA
DE
ANESTESIOLOGIA
PublicaçãoOficialdaSociedadeBrasileiradeAnestesiologiawww.sba.com.br
ARTIGO
CIENTÍFICO
Efeitos
neurotóxicos
de
levobupivacaína
e
fentanil
sobre
a
medula
espinhal
de
ratos
Yesim
Cokay
Abut
a,∗,
Asli
Zengin
Turkmen
b,
Ahmet
Midi
c,
Burak
Eren
d,
Nese
Yener
ce
Asiye
Nurten
baDepartamentodeAnestesiologia,KanuniSultanSuleymanEducationandTrainingHospital,Istambul,Turquia bDepartamentodeFisiologia,FacultyofMedicine,YeniYuzyilUniversity,Istambul,Turquia
cDepartamentodePatologia,FacultyofMedicine,MaltepeUniversity,Istambul,Turquia
dDepartamentodeNeurocirurgia,BakirkoySadiKonukEducationandTrainingHospital,Istambul,Turquia
Recebidoem20dejaneirode2013;aceitoem15dejulhode2013 DisponívelnaInternetem28deoutubrode2014
PALAVRAS-CHAVE
Levobupivacaína; Neurotoxicidade; Fentanil
Resumo
Justificativa: Oobjetivodesteestudofoicompararosefeitosneurotóxicosdaadministrac¸ão porviaintratecaldelevobupivacaínaefentanilesuasmisturassobreamedulaespinhalde ratos.
Métodos: Oexperimentocompreendeuquatrogruposquereceberammedicamentoeumgrupo
controle.Osratosforamsubmetidosainjec¸ãodesalina(15L)oufentanil(0,0005g/15mL), levobupivacaínaa0,25%(15L)efentanil(0,0005g+levobupivacaínaa0,25%/15L)porvia intratecaldurantequatrodias.Otestedeplacaquentefoiusadoparaavaliarafunc¸ão neuro-lógicaapóscadainjec¸ãonosminutoscinco,30e60.Cincodiasapósaúltimainjec¸ãolombar, secc¸õesdamedulaespinhalentreosníveisvertebraisT5eT6foramobtidasparaanálise histo-lógica.Usamosumescorecombasenaavaliac¸ãosubjetivadonúmerodeneurônioseosinofílicos (neurôniosvermelhos),oquesignificadegenerac¸ãoneuronalirreversível.Essesneurônios refle-temonúmeroaproximadodeneurôniosemdegenerac¸ãopresentesnasáreasneuroanatômicas afetadasdaseguinteforma:1=nenhum;2=1-20%;3=21-40%;4=41-60%e5=61-100% neurô-niosmortos. Umescore neuropatológicoglobal foi calculado paracada rato pela somados escorespatológicosparatodasasáreasexaminadasdamedulaespinhal.
Resultados: Nosresultados doTPQ,comparando ogrupocontrole, alatênciaanalgésicafoi
estatisticamenteprolongadaparatodososquatrogrupos.
Eminvestimentoneuropatológico,osgruposfentanilefentanil+levobupivacaína apresenta-ramdegenerac¸ãoneuronalemcontagenssignificativamentemaisaltasdiqueosgruposcontrole esalina.
Conclusões: Essesresultadossugeremquefentanilelevobupivacaína,quandoadministrados
por via intratecal em ratos, se comportam de forma semelhante à ac¸ão analgésica, mas
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:yesimabut2000@yahoo.com(Y.C.Abut).
fentanilpodeserneurotóxicoparaamedulaespinhal.Nãohouvedegenerac¸ãosignificativacom levobupivacaína,masogrupofentanilapresentoudegenerac¸ãosignificativa.
©2013SociedadeBrasileiradeAnestesiologia.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todosos direitosreservados.
KEYWORDS
Levobupivacaine; Neurotoxicity; Fentanyl
Neurotoxiceffectsoflevobupivacaineandfentanylonratspinalcord
Abstract
Background: Thepurposeofthestudywastocomparetheneurotoxiceffectsofintrathecally administeredlevobupivacaine,fentanylandtheirmixtureonratspinalcord.
Methods:In experiment,therewerefour groupswithmedicationandacontrolgroup.Rats
wereinjected15Lsalineorfentanyl0.0005g/15L,levobupivacaine0.25%/15Land fen-tanyl0.0005g+levobupivacaine0.25%/15L intrathecallyforfourdays.Hotplatetestwas performedtoassessneurologicfunctionaftereachinjectionat5th,30thand60thmin.Five daysafterlastlumbalinjection,spinalcordsectionsbetweentheT5andT6vertebrallevels wereobtained forhistologic analysis.Ascore basedonsubjectiveassessmentofnumberof eosinophilicneurons---Redneuron ---whichmeans irreversibleneuronaldegeneration.They reflecttheapproximatenumberofdegeneratingneuronspresentintheaffected neuroanato-micareasasfollows:1,none;2,1---20%;3,21---40%;4,41---60%;and5,61---100%deadneurons.An overallneuropathologicscorewascalculatedforeachratbysummatingthepathologicscores forallspinalcordareasexamined.
Results:In the results ofHPT, comparing the control group, analgesic latency statistically prolongedforallfourgroups.
Inneuropathologicinvestment,thefentanylandfentanyl+levobupivacainegroupshave sta-tisticallysignificanthighdegenerativeneuroncountsthancontrolandsalinegroups.
Conclusions:Theseresultssuggestthat,whenadministeredintrathecallyinrats,fentanyland levobupivacainebehavesimilarforanalgesicaction,butfentanylmaybeneurotoxicforspinal cord.Therewasnosignificantdegenerationwithlevobupivacaine,butfentanylgrouphashad significantdegeneration.
©2013SociedadeBrasileiradeAnestesiologia.PublishedbyElsevier EditoraLtda.Allrights reserved.
Introduc
¸ão
Oaumentodeevidênciaslaboratoriais1-5 sugereque todos
os anestésicos locais são potencialmente neurotóxicos e que o dano neurológico após o bloqueio neuraxial pode resultar do efeito direto de medicamentos neurotóxicos. Atualmente, a bupivacaína comercialmente disponível é uma mistura racêmica de enantiômeros S (-) e R (+). O seu enantiômero isolado, S (-) levobupivacaína, tem potencialinferiorparaproduzirtoxicidadenosistema ner-vosocentralecardiovasculardoqueoR(+)bupivacaínaem animaisesereshumanos.6-8Emabordagemclínica,o princi-palobjetivodaadministrac¸ãodeopiáceosporviaespinhal éreduziradose doanestésico localparamaximizar a efi-cáciae minimizar osefeitos colaterais dos medicamentos queatuamnosistemanervoso central.Osopiáceos lipofí-licos,comofentanil,sãocomumenteadministradosporvia espinhalemadultos.Hápoucosrelatosqueabordam espe-cificamenteahistologia, fisiologiaou evidência clínicade neurotoxicidade com a administrac¸ão de fentanil por via espinhal.9,10
Nopresenteestudo,investigamosserepetidasinjec¸ões
embolus intratecalde fentanil,levobupivacaínae desua
combinac¸ãopodemserneurotóxicasparaamedulaespinhal emmodeloderato.
Métodos
O protocolo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pes-quisa e Uso de Animais da Universidade de Istambul (Número: 26; 25/02/2010). Todos os experimentos foram feitos no Departamento de Neurociências do Instituto de Medicina Experimental,UniversidadedeIstambul(Detae). O experimento foi conduzido em ratos albinos Wistar, 6-8 meses de idade, com peso de 240-320g. Os ani-mais foram alocados em cinco grupos de oito cada. O grupocontrole nãorecebeumedicamento. Apóso posi-cionamentoem decúbitoventral e araspagem dospelos, sob condic¸ões assépticas e sem anestésicos, os seguin-tesmedicamentosforaminjetadosporviaintratecal,uma vez por dia e no mesmo horário, durante quatro dias, no espac¸o intervertebral L4-5: soluc¸ão isotônica (grupo salina),50g.mL---1defentanil(grupofentanil),2,5mg.mL---1 levobupivacaína(grupolevobupivacaína)ou50g.mL---1 de fentanil+2,5mg.mL---1 de levobupivacaína (grupo
Tabela1 DensidadedoLCR,salinaisotônica, levobupiva-caínaefentanila37◦C
37◦C
LCR 1,000646±0,000086
Salina 0,99951±0,00001
Levobupivacaína---2,5mg/mL 0,99985±0,00002
Fentanil 0,99333±0,00002
soluc¸õesforampreparadaseinjetadasatemperatura
ambi-ente (20-24◦C). Como a implantac¸ão crônica de cateter
intratecal pode induzir danosao tecido,11,12 preferimos a
técnicadeinjec¸ãointratecalemvezdecateterintratecal.A func¸ãoneurológicafoiobservadaeostestesdeplacaquente (TPQ) mensurados nos minutos cinco, 30 e 60, durante quatrodiasseguidosdepoisdecadaadministrac¸ãodo medi-camento.ArespostaaoTPQ foiavaliadacom acolocac¸ão dosratossobreumaplacametálicamantidaa45◦C.A
latên-ciaentreacolocac¸ãodoanimalsobreaplacaearesposta comportamental foi registrada. A resposta de lamber as patas traseiras foi observada na maioria dos animais; no restante, otempodecorteem que oanimal respondeao tentarpularfoide15s. Ostestescomportamentaisforam feitosporumneurocientista,cegadoparaadesignac¸ãodos grupos.Afunc¸ãomotoradosmembrosposterioresfoi avali-adabilateralmenteeseclassificouobloqueiomotorcomo: 0,nenhum;1,parcialmentebloqueadoe2,completamente bloqueado.13Obloqueiomotorfoiclassificadocomonenhum quando o rato não apresentou fraqueza muscular visível das patas e a marcha era normal; parcialmente bloque-adoquandoosmembrossemoviam,masnãosustentavam o animal; completamente bloqueado quando os membros estavamflácidos,semresistênciadetectávelàextensãodos mesmos.Osanimaisforamexaminados30minutosantese apóscadainjec¸ão.Osanimaiscomproblemademovimento dacaudaoudisfunc¸ãomotoradosmembrosposterioresnão foramusadosnos experimentos.Oseguinteparâmetro foi mensuradoeregistradoduranteumperíododeduashoras: bloqueiosensorial,determinadopelarespostaaotesteda pinc¸ahemostática.Apóscadainjec¸ão,osratosforam man-tidos em regime de12horas claro/escuro e alojados com livreacessoacomidaeágua.
Avaliac¸ãohistológica
Apósoúltimoexamefuncional,osratosforamsacrificados com doses elevadas de pentobarbital (100mg.kg), admi-nistradas por via intraperitoneal. A medula espinhal foi excisada por um neurocirurgião, cegado para a alocac¸ão dosgruposeparaosresultadosdasmensurac¸ões comporta-mentais.Paradescobriradispersãocranialdosanestésicos locais, assecc¸ões damedula espinhalobtidas a partir de T5-6foramusadas paraa avaliac¸ãoqualitativa.Amedula espinhalfoi fixada em formalinatamponada neutraa10% durantesete dias.Ostecidosforamexpostos aformalina, álcool,xiloleparafinacomousodemáquina(Thermo Shan-don Exelsior ES) e embebidos em parafina com o uso de técnicasderotina.Amedulafoicortadaemlâminasde2m comaajudadeummicrótomotiporotary(ThermoShandon Finesse325).Ostecidosforamcoradoscomhematoxilinae
eosinae avaliadospormicroscopiadeluz(Olympus CX31) porum patologista,cegadopara a designac¸ão dos grupos eparaosresultadosdasmensurac¸õescomportamentais.A primeiraalterac¸ãoneuropatológicaobservadanosratosfoi adegenerac¸ão aguda deneurônio eosinofílico.14 Osgraus dasalterac¸õesneuropatológicasdentrodeumadeterminada regiãoanatômicaforampontuados combase na avaliac¸ão subjetiva do número e distribuic¸ão dos neurônios eosino-fílicos (neurônio vermelho), o que significa degenerac¸ão neuronalirreversível.Elesrefletemonúmeroaproximadode neurôniosemdegenerac¸ãopresentesnasáreas neuroanatô-micasafetadasdaseguinteforma:1,nenhum;2,1-20%;3, 21-40%;4,41-60%;5,61-100%neurôniosmortos.Umescore neuropatológico global foi calculado para cada rato, com asomadaspontuac¸ões patológicas paratodasasmedulas espinhais,10áreasexaminadasparacadapreparac¸ão.
Análiseestatística
OsresultadosdoTPQforamavaliadoscomousodaanálise devariânciasimples(Anova),seguidopelotestepós-hocde Dunnettpara comparartodososgrupos com o grupo con-trole.
Para o exame detolerância, os valoresde latênciado TPQdosegundo,terceiroequartodiasforamcomparados comosresultadosdoprimeirodiadecadagrupoeoteste AnovaseguidopelotestedeDunnetforamfeitos.Afunc¸ão motoranãofoiavaliada porquetodososanimais apresen-tavam nível zero dafunc¸ão motora. O grau de alterac¸ão neuropatológicadamedulaespinhalfoiavaliadocomoteste deKruskal-Wallis e o testeU de Mann-Whitney.Um valor p<0,05emAnovafoiconsideradosignificativo.
Resultados
Todososratoscompletaramoexperimentoeforamincluídos naanálisededados.Todososanimaisserecuperaram total-mente,estavamacordadoseativamentemóveis,comendo ebebendonormalmente30minutosapósainjec¸ão.Durante o experimento, o bloqueio motor não foi observado em nenhumdosratos. Nenhumanimal apresentoulesões visí-veisousangramentodamedulaespinalquandoamedulafoi excisadanofimdoexperimento.
As latências no TPQ foram prolongadas para todos os gruposemcomparac¸ãocomogrupocontrolesembloqueio motor.
OsresultadosdalatêncianoTPQnoprimeiro,segundo, terceiro e quartodias nos minutos cinco,30 e 60 podem servistos na tabela 2. No quintominuto, as latências no TPQforamsignificativamenteprolongadasnosgrupossalina (p<0,02), fentanil e fentanil+levobupivacaína (p<0,05), em comparac¸ãocom o grupocontrole. No 30◦ minuto, as
latências no TPQ aumentaram de forma estatisticamente significativanosgrupos salina(p<0,02),fentanil(p<0,01) e fentanil+levobupivacaína (p<0,02), em comparac¸ão com o grupo controle. Verificou-se que os valores do TPQ para os grupos levobupivacaína (p<0,01) e fen-tanil+levobupivacaína (p<0,02) foram significativamente diferentesdosvaloresdogrupocontroleno60◦minuto.
Tabela2 Efeitosdotratamentofarmacológicorepetidonodesenvolvimentodatolerância
Grupo n Latênciaemplacaaquecida
Dia1 Dia2
5min 30min 60min 5min 30min 60min
Controle 8 1,3±0,3 1,3±0,2 1,3±0,2 1,1±0,1 1,3±0,2 1,4±0,3
Salina 8 5,3±1,3 3,9±0,3 2,9±0,6 3,9±0,7 2,1±0,3a 2,3±0,3
Fentanil 8 4,9±0,.7 4,4±0,9 1,8±0,3 3,1±0,6b 2,5±0,5 2,1±0,4 Levobupivacaína 8 3,9±1,0 3,3±0,5 3,5±0,8 2,8±0,5 2,4±0,5 2,4±0,5 Fentanil+levobupivacaína 8 4.9±1,1 3,8±0,7 3,4±0,4 2,9±0,3 3,1±0,9 3,4±0,5
Dia3 Dia4
5min 30min 60min 5min 30min 60min
Controle 8 1,3±0,1 1,4±0,1 1,3±0,2 1,3±0,2 1,3±0,2 1,4±0,2
Salina 8 2,7±0,6 2,1±0,1a 2,6±0,2 3,1±0,6 3,6±0,3 2,8±0,4
Fentanil 8 2,5±0,2c 2,5
±0,4 3,5±0,6d 2,6
±0,3c 3,0
±0,5 3,6±0,5e
Levobupivacaína 8 2,8±0,6 3,0±1,0 3,4±0,6 3,3±1,2 3,3±0,9 3,6±0.7 Fentanil+levobupivacaína 8 1,8±0,3b 3,0
±0,5 3,8±0,8 3,8±0,8 2,9±0,4 3,4±0,4
n,númerodeanimais.
Valoresexpressoscomomédia±DP.
ap<0,001comparadoaoDia1,valornominuto30. b p<0,02comparadoaoDia1,valornominuto5. c p<0,01comparadoaoDia1,valornominuto5. d p<0,05comparadoaoDia1,valornominuto60. e p<0,02comparadoaoDia1,valornominuto60.
comparac¸ãocomogrupocontrole.Esseprolongamentofoi consideradosignificativonosgrupossalina(p<0,01), fenta-nilefentanil+levobupivacaína(p<0,05)noquintominuto. No30◦minuto,nãohouvediferenc¸aestatisticamente
signi-ficativaemlatênciasprolongadas.Oincrementodosvalores noTPQ dogrupo fentanil+levobupivacaína no60◦ minuto
foisignificativamentediferente daqueledogrupocontrole nosegundodia(p<0,1).
Nogrupolevobupivacaína,oresultadodalatêncianoTPQ noterceirodia,nosminutoscinco,30e60,foi significativa-menteprolongado noquintominuto,em comparac¸ãocom ogrupocontrole(p<0,05).Houveumaumentosignificativo nosgrupos fentanil (p<0,05),levobupivacaína(p<0,05) e fentanil+levobupivacaína(p<0,02)no60◦minuto.
O resultado da latência no TPQ no quarto dia, nos minutoscinco, 30 e 60, nãoapresentou alterac¸ão signifi-cativanosvaloresdoquintominutodoTPQnoquartodia. Houveaumentoestatisticamentesignificativodosvaloresno 30◦ minuto nos grupos salina (p<0,02) e levobupivacaína
(p<0,05),emcomparac¸ãocomogrupocontrole.As latên-ciasnoTPQdosgruposfentanil(p<0,01),levobupivacaína (p<0,01)efentanil+levobupivacaína(p<0,05)foram signi-ficativamenteprolongadasno60◦ minuto, emcomparac¸ão
comogrupocontrole(tabela2).
Afigura1mostraqueasaplicac¸õesrepetidasdos medica-mentosapresentaramefeitosanalgésicos.Ogrupocontrole mostrou que não houve alterac¸ão no tempo de resposta analgésicadurante quatrodias.No grupo salina,o tempo deresposta analgésicafoi estatísticae significativamente curtonosegundoeterceirodiasno30◦ minuto(p<0,001).
Nogrupofentanil,otempoderespostaanalgésicafoimais curtonosegundo(p<0,02),terceiro(p<0,01)equartodias
(p<0,01)noquintominutoenoterceiro(p<0,05)equarto dias(p<0,02)no60◦minuto.Nogrupolevobupivacaínanão
houvealterac¸ãodarespostaanalgésicadurantequatrodias. No grupo fentanil+levobupivacaína, o tempode resposta analgésicafoimaiscurtonoquintominutodoterceirodia (p<0,02).
A figura 2 mostra as análises neuropatológicas das medulasespinhaisdetodososgrupos.Naavaliac¸ão neuro-patológica,oescoredegenerativodoneurônioaumentoude formaestatisticamentesignificativanogrupofentanil,em comparac¸ão com osgrupos controle e salina (p<0,05). O grupofentanil+levobupivacaínamostrouescoresmaisaltos dedegenerac¸ãoneuronaldoqueosgruposcontrole,salina ebupivacaína(p<0,01).
Discussão
0 1 2 3 4 5 6 7
Controle Salina
Fenta Levo
Fenta+Levo
Controle Salina
Fenta Levo
Fenta+Levo
A
B
C
D
0 1 2 3 4 5 6 7
Controle
Salina Fenta Levo
Fenta+Levo
Controle
Salina Fenta Levo
Fenta+Levo
5 min
30 min 60 min a
a
a
a
a aa
aaa
bb bb
bbb
b bb
cc ccc
ccc
c c cc
c
ccc ccc
Figura1 Efeitosdasaplicac¸õesdosfármacosnoprimeiro(A),segundo(B),terceiro(C)equarto(D)diassobreosresultadosda latêncianoTPQ.
Todososdadossãoexpressoscomomédia±DP.
ap<0,05,aap<0,02,aaap<0,01deacordocomovalornoquintominutoparaogrupocontrole. bp<0,05,bbp<0,02,bbbp<0,01deacordocomovalorno30◦minutoparaogrupocontrole. cp<0,05,ccp<0,02,cccp<0,01deacordocomovalorno60◦minutoparaogrupocontrole.
porDrasneretal.Nesse estudo,semrelevância clínica,o comprometimento funcional e o dano morfológico foram observados.18EstudosanterioresconduzidosporKofke indi-caram queopiáceos podemproduzir hipermetabolismo do sistemalímbicoedanoscerebraisquandoadministradosde formasistemáticaeem dosesaltas.19---21 Em2000,a densi-dadeeabaricidadedasmisturasusadasemraquianestesia foramdeterminadaspelaprimeiraveznoBrasil.22
À luz desses estudos, queríamos observar se alguns medicamentosintratecaispenetrariamdeformacrônicana medulaespinhalesepoderiamserneurotóxicosounão.Em nossoestudo,osresultadosdoTPQindicaramquenãohouve
bloqueiomotor,masosefeitosanalgésicos/antinociceptivos foramsignificativosemtodososgrupos.
Noquintominuto, aslatênciasnoTPQforam prolonga-dasdeformaestatisticamentesignificativanogruposalina (p<0,02),emcomparac¸ãocomogrupocontrole.Deforma semelhante,apósinjec¸õesrepetidas,otempoderesposta analgésicanogruposalinafoi diminuídocomocomoutros opiáceosanalgésicos.Nãopodemosexplicarporqueasalina secomportoucomoumasoluc¸ãoanalgésica.
0 1 2 3
Fenta+Levo Levo
Fenta Salina
Controle
Escore neuropatológico
*
**
Figura2 Efeitosdasaplicac¸õesrepetidasdosfármacossobre amedulaespinhal.
Osdadossãoexpressoscomomédia±DP. *p<0,05comparadoaosgruposcontroleesalina.
**p<0,01comparadoaosgruposcontrole,salinae levobupiva-caína.
Tambémtestamosadisseminac¸ãorostraldosfármacos. Hámuitos anos, sabemosque existem muitos fatoresque afetamadispersãocranialdaraquianestesia,incluindo posi-cionamentodo paciente, composic¸ão dasoluc¸ão, tipo de agulha,nívelevelocidadedainjec¸ão,volume,viscosidade, obstruc¸ão da veia cava inferior e gravidez.23---27 Porém, a baricidade e a temperatura dos anestésicos locais são os fatoresmaisimportantesdadistribuic¸ãodoanestésicolocal noespac¸osubaracnóideo.28---30
Adensidadedolíquidocefalorraquidiano(LCR)humano nãoéuniformeepodevariarcomaidade,osexo,agravidez eváriasdoenc¸as.Arelac¸ãoentreadensidadedoanestésico localeadoLCRéconhecidacomobaricidade.
As mudanc¸as de temperatura também afetam a distribuic¸ãodos anestésicos locais.Quando osanestésicos locaissãoinjetados noespac¸osubaracnoideo(geralmente emtemperaturaambiente20-24◦C),atemperaturado
anes-tésicolocalentraemequilíbriocomatemperaturadocorpo (37◦C)muitorapidamente,antesdefixar-seàsraízes
ner-vosas,eaos37◦Ctodososanestésicosisobáricossetornam
soluc¸õeshipobáricas.
Adjuvantessãofrequentementeadicionadosaos anesté-sicoslocaisparamelhoraraanestesiaeprolongaraanalgesia pós-operatória.Osopiáceos(morfina,fentanilesufentanil) eaclonidinamostraramserhipobáricosa37◦C.Quando
adi-cionados aos anestésicos locais, reduzem a densidade da nova soluc¸ãoe a tornam maishipobárica, de acordocom algunsestudos,31,32 masnãopareceterqualquerefeitona práticaclínica.Issosugereque amudanc¸adedensidadeé muitopequena.27,33---35
Em nosso estudo, a temperatura das soluc¸ões (tempe-raturaambiente20-24◦C)esuacombinac¸ãocomopiáceos
afetaram a propagac¸ão rostral dos fármacos, mas esse mecanismonãoexplicaacontagemexcessivadeneurônios eosinofílicos,especialmenteemalgunsgrupos.
Napráticaclínica,hámuitosestudosnosquais anestési-coslocaisforamdiluídoscomsoluc¸ãosalinaestérilisotônica como fizemos em nosso estudo.36-39 A difusão rostral dos fármacos podeser explicada pela hipobaricidade de nos-sassoluc¸ões;entretanto,emcomparac¸ãocomosresultados deFukushima,nossos resultadosneuropatológicos mostra-ramquequandoosfármacosforamusadosmesmoemdoses
Figura 3 A seta mostra o neurônio eosinofílico da medula espinhalderatodogrupofentanil.
analgésicas muito baixas (sem bloqueio motor), os efei-tos neurotóxicos foram permanentes na medula espinhal torácica.40 Emnossoestudo,usamosacontagemde neurô-nio eosinofílico como sinal de neurotoxicidade porque o mesmo mostradanoneuronalnãorecuperável,em vezde achadosnãoespecíficos,comovacuolizac¸ão,edema, inva-sãodemacrófagosenúcleospicnóticos.41Podemosobservar a degenerac¸ão do neurônio eosinofílico na figura 3. Essa degenerac¸ãofoipreviamentedeterminadaporKofke.14
O escore de degenerac¸ão do neurônio na coluna ver-tebral foi significativamente elevado nos grupos fentanil e fentanil+levobupivacaína, em comparac¸ão com os gru-pos controle e salina. O grupo fentanil+levobupivacaína tambémapresentou escore maiordo queo grupo levobu-pivacaína.
De fato, um dos principais objetivos deste estudo foi determinar as alterac¸ões neuropatológicas na medula espinhal após a sua exposic¸ão crônica a medicamentos intratecais.Cateteresintratecaiscronicamenteimplantados caracteristicamenteinduzemlesõesemanimaiscontroles. Portanto,preferimosatécnicadeinjec¸õesrepetidasemvez decateterintratecal.11,12
Nossosdadosconfirmamquefentanilelevobupivacaína podemcausardanosàmedulaespinhalderatosquando inje-tadosdurantequatrodias,mesmoemdosesanalgésicas.
Em conclusão, nossoestudo procurouexplicar os dife-rentes lados da neurotoxicidade. Este foi um estudo experimentalcomanimaisetemumcomponente comporta-mental.Ametodologianeuropatológicaédiferenteepode sermaisobjetivadoqueadeestudosanteriores;alémdisso, nosso estudo teve como base estudos in vitro da barici-dadeedadistribuic¸ãodeanestésicoslocaisemLCR.Novos estudosdevemserplanejados commicroscopia eletrônica ouestudos decomportamento que possammostrar que a penetrac¸ãoemlongoprazodeanestésicoslocaispode cau-sardegenerac¸õesneuropatológicasnamedulaespinhal,no futuro.
Conflitos
de
interesse
Referências
1.SakuraS,ChanVW,CirialesR,DrasnerK.Theadditionof7.5% glucosedoesnotaltertheneurotoxicityof5%lidocaine adminis-teredintrathecallyintherat.Anesthesiology.1995;82:236---40. 2.SakuraS, Bollen AW, CirialesR, Drasner K. Local anesthetic neurotoxicitydoesnotresultfrom blockadeofvoltage-gated sodiumchannels.AnesthAnalg.1995;81:338---46.
3.HashimotoK,SakuraS,BollenAW,etal.Comparativetoxicity ofglucoseandlidocaineadministeredintrathecallyintherat. RegAnesthPainMed.1998;23:444---50.
4.SakuraS,KiriharaY,MugurumaT,etal.Thecomparative neuro-toxicityofintrathecallidocaineandbupivacaineinrats.Anesth Analg.2005;101:541---7.
5.YamashitaA,MatsumotoM,MatsumotoS,etal.Acomparison oftheneurotoxiceffectsonthespinalcordoftetracaine, lido-caine,bupivacaine,andropivacaineadministeredintrathecally inrabbits.AnesthAnalg.2003;97:512---9.
6.AbergG. Toxicologicaland localanaesthetic effects of opti-callyactiveisomersoftwolocalanaestheticcompounds.Acta Pharmacol.1972;31:273---86.
7.McLeod GA, Burke D. Levobupivacaine. Anaesthesia. 2001;56:331---41.
8.GautierP,deKockM,HubertyI,etal.Comparisonoftheeffects ofintrathecalropivacaine, levobupivacaine,and bupivacaine forcaesareansection.BrJAnaesth.2003;91:684---9.
9.AllenJW,HoraisKA,TozierNA,etal.Opiatepharmacologyof intrathecalgranulomas.Anesthesiology.2006;105:590---8. 10.BaharM,CohenML,GrinshpoonY,etal.Aninvestigationofthe
possibleneurotoxiceffectsofintrathecalmidazolamcombine withfentanylintherat.EJA.1998;15:695---701.
11.Bahar M, Rosen M, Vickers MD. Chronic cannulation of the intradural or extradural space in the rat. Br J Anaesth. 1984;56:405---10.
12.Sakura S, Hashimoto K, Bollen A, et al. Intratecal cathe-terisation in the rat: improved technique for morphologic analysis of drug induced injury. Anesthesiology. 1996;85(5): 1184---9.
13.KanekoM,SaitoY, KiriharaY, etal. Synergistic antinocicep-tiveinteraction afterepidural coadministration of morphine andlidocaineinrats.Anesthesiology.1994;80:137---50. 14.KofkeWA,GarmanRH,GarmanR,etal.Opiodneurotoxicity:
fentanyl-induced exacerbation of cerebral ischemia in rats. BrainResearch.1999;818:326---34.
15.BierA.Versucheubercocainisirungdesruckenmarkes.DtschZ Chir.1899;5151:361.
16.Ready LB, Plumer MH, Haschke RH, et al. Neurotoxicity of intrathecal local anesthetics in rabbits. Anesthesiology. 1985;63:364---70.
17.Hodgson PS, Neal JM, Pollock JE, et al. The neurotoxi-city of drugs given intrathecally (spinal). Anesth Analg. 1999;88:797---809.
18.DrasnerK,SakuraS,ChanVWS.Persistentsacralsensory defi-citinducedbyintrathecallocalanestheticinfusionintherat. Anesthesiology.1994;80:847---52.
19.KofkeWA,GarmanRH,TomWC,etal.Alfentanil-induced hyper-metabolism,seizure,and histopathologyinratbrain.Anesth Analg.1992;75:953---64.
20.KofkeWA,GarmanRH,JanoskyJ,etal.Opioidneurotoxicity: neuropathologiceffects in rats of different fentanyl conge-nersandtheeffectsofhexamethonium-inducednormotension. AnesthAnalg.1996;83:141---6.
21.KofkeWA,GarmanRHDVMSS,StillerRL,etal.Fentanyl dose--responserelationinrats.AnesthAnalg.1996;83:1298---306. 22.CangianiLM.Determinac¸ãodadensidadeedabaricidadedas
misturas para anestesia subaracnóidea. Rev BrasAnestesiol. 2000;50:92---4.
23.GreeneNM.Distributionoflocalanestheticsolutionswithinthe subarachnoidspace.AnesthAnalg.1985;64:715---30.
24.Stienstra R, Greene NM. Factors affecting thesubarachnoid spreadoflocalanestheticsolutions.RegAnesth.1991;16:1---6. 25.CarpenterRL,HoganQH,LiuSS,etal.Lumbosacral
cerebros-pinalfluidvolumeistheprimarydeterminantofsensoryblock extentanddurationduringspinalanesthesia.Anesthesiology. 1998;89:24---9.
26.ConnollyC,McLeodGA,WildsmithJA.Spinalanaesthesiafor Caesareansectionwithbupivacaine5mgml±1inglucose8or 80mgml±1.BrJAnaesth.2001;86:805---7.
27.McLeod GA. Density of spinal anaesthetic solutions of bupi-vacaine, levobupivacaine, and ropivacaine with and without dextrose.BritishJournalofAnaesthesia.2004;92(4):547---51. 28.LuiAC,PolisTZ,CicuttiNJ.Densitiesofcerebrospinalfluidand
spinalanaestheticsolutionsinsurgicalpatientsatbody tempe-rature.CanJAnaesth.1998;45:297---303.
29.HorlockerTT,WedelDJ.Density,specificgravity,andbaricityof spinalanestheticsolutionsatbodytemperature.AnesthAnalg. 1993;76:1015---8.
30.StienstraR,GielenM,KroonJW,etal.Theinfluenceof tempe-ratureandspeedofinjectiononthedistributionofasolution containingbupivacaineand methylenebluein aspinal canal model.RegAnesth.1990;15:6---11.
31.ParlowJL,MoneyP,ChanPS,etal.Additionofopioidsaltersthe densityandspreadofintrathecallocalanesthetics?Aninvitro study.CanJAnaesth.1999;46:66---70.
32.Hare GM,Ngan JC.Density determinationof local anaesthe-tic opioid mixtures for spinal anaesthesia. Can J Anaesth. 1998;45:341---6.
33.PattersonL,AveryN,Chan P,etal.Theadditionoffentanyl doesnotaltertheextentofspreadofintrathecalisobaric bupi-vacaineinclinicalpractice.CanJAnaesth.2001;48:768---72. 34.Imbelloni LE, Moreira AD, Gaspar FC, et al. Assessment
of the densities of local anesthetics and their combination withadjuvants. Anexperimental study.Rev BrasAnestesiol. 2009;59:154---65.
35.NicolME,HoldcroftA.Densityofintrathecalagents.Br JAna-esth.1992;68:60---3.
36.FaustA,FournierR,VanGesselE,etal.Isobaricversus hypo-baricspinalbupivacainefortotalhiparthroplastyinthelateral position.AnesthAnalg.2003;97:589---94.
37.HellerAR,ZimmermannK,SeeleK,etal.Modifyingthebaricity oflocalanestheticsforspinalanesthesiabytemperature adjust-mentmodelcalculations.Anesthesiology.2006;105:346---53. 38.SrivastavaU,KumarA,SaxenaS,etal.Spinaanaesthesiawith
lignocaneandfentanyl.IndianJAnaesth.2004;48:121---3. 39.Ben-DavidB,Solomon E,LevinH, etal.Intrathecal fentanyl
withsmalldosedilutebupivacaine:betteranesthesiawithout prolongingrecovery.AnesthAnalg.1997;85:560---5.
40.FukushimaS, TakenamiT,YagishitaS, etal.Neurotoxicityof intrathecallyadministeredfentanylinaratspinalmodel.Pain Med.2011;12:717---25.