Faculdade de Letras
Universidade Federal de Minas Gerais
Alcione Cunha da Silveira
POLÍTICAS E POÉTICAS DA TRANSGRESSÃO:
corpo e escrita em Ana Miranda, Arundhati Roy
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Alcione Cunha da Silveira
POLÍTICAS E POÉTICAS DA TRANSGRESSÃO:
corpo e escrita em Ana Miranda, Arundhati Roy
e Jeanette Winterson
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras: Estudos Literários da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para obtenção do título de doutor em Estudos Literários.
Área de concentração: Literatura Comparada
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RESUMO
Nos romances Amrik (1997), de Ana Miranda, O deus das pequenas cdisas (1997), de
Arundhati Roy, e A paixãd (1987), de Jeanette Winterson, criados praticamente na mesma
época por escritoras originárias de países distintos — Brasil, Índia e Inglaterra,
respectivamente —, políticas e poéticas da transgressão se encontram de várias maneiras. A
partir de uma perspectiva comparatista, exploro essa dinâmica tendo por base o fato de as
obras revelarem uma preocupação equivalente com o entrelaçamento transgressor do corpo e
da escrita. Considerando-se a utilização, igualmente comum às três obras, de protagonistas
representadas por figuras subversivas, discuto o consequente desenvolvimento de processos
de contestação dos sistemas de opressão e subordinação dos sujeitos, em especial o
patriarcalismo. Em seguida, examino os movimentos de desordem elaborados, também pela
via do corpo e da escrita, nesses textos literários, em suas tentativas de questionar e
desestabilizar discursos totalitários. Detenho-me, em especial, na questão da reescrita da
história a partir das margens como elemento capaz de possibilitar o aparecimento de vozes
comumente silenciadas, e na problematização do conceito gendrado da loucura, que,
atravessando tempos e espaços, ainda é usado como um signo de manutenção das relações
assimétricas de poder. Objetivando uma leitura contemporânea das narrativas em questão,
valho-me, portanto, de uma metodologia bibliográfica dos estudos de gênero, embasada pela
ABSTRACT
In Ana Miranda’s Amrik (1997), Arundhati Roy’s The Gdd df Small Things (1997) and
Jeanette Winterson’s The Passidn (1987) — created around the same time by writers from
Brazil, India and England — politics and poetics of transgression become interconnected in
many ways. From a comparative perspective, I explore this dynamic having as a basis the fact
that these works reveal an equivalent concern with the transgressive intertwinement of body
and writing. Considering the portrayal, also common among these three works, of
protagonists represented by subversive figures, I discuss the development of disruptive
processes perpetrated on the systems that oppress and subordinate subjects, especially
patriarchy. Then, I examine the movements of disorder depicted in these literary texts, also
through the body and writing, that attempt to question and destabilize totalitarian discourses. I
dwell, in particular, on the issue of the rewriting of history from the margins, as an element
that enables the emergence of voices often silenced, and on the questioning of the gendered
concept of madness, which, across time and space, still emerges as a sign that retains
asymmetrical power relations. With the aim to provide a contemporary reading of these
narratives, I base my analysis on gender studies, with a focus on feminist literary criticism and