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Memórias de um soldado-recruta

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Academic year: 2017

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Fundação Getulio Vargas

Escola Superior de Ciências Sociais

Graduação em Ciências Sociais

Memórias de um soldado-recruta

Por:

Jonas Dias da Conceição

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Fundação Getúlio Vargas

Escola Superior de Ciências Sociais

Graduação em Ciências Sociais

Memórias de um soldado-recruta

Por:

Jonas Dias da Conceição

Trabalho entregue ao orientador Celso Castro como parte dos requisitos fundamentais à obtenção de créditos na matéria de Trabalho de Conclusão de Curso.

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AGRADECIMENTOS

À Escola Superior de Ciências Sociais por ter me concedido uma bolsa de estudos integral. Sem isso, seria impossível a conclusão da primeira etapa dos meus estudos acadêmicos.

Ao meu orientador Celso Castro que sempre demonstrou interesse pelos meus trabalhos e esteve acessível para apontar os possíveis caminhos a prosseguir.

Aos Professores Carlos Sarmento, Mariana Cavalcanti, Mônica Kornis e Júlia Galli O´Donnell que acompanham cada passo do meu progresso acadêmico. Todos sabem das minhas dificuldades e não ponderam esforço para oferecerem ajuda.

Aos grandes amigos que encontrei no curso de ciências sociais, e que levarei para o resto da vida. Eles são os grandes responsáveis pelo caminho que escolhi prosseguir. Obrigado Júlio Nassar, Lucas Assis, Lucas Correa, Rômulo, Marcella, Natália, Vivian, Diquilene, Ana Cláudia, Mila, Bernardo, Juliana Paula, Rafael Aleixo e Thiago Moreira.

À minha família que sempre apoiou as minhas escolhas. Fico feliz por ser o primeiro da geração a ter um curso superior.

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo apresentar, através de um diário de memórias, parte da minha experiência pessoal, como soldado das Forças de Armadas na Escola de Material Bélico (ESMB), Deodoro – RJ, no período de 2005-2006. A experiência de ter passado pelas Forças Armadas e, posteriormente, o curso de ciências sociais instigou a minha curiosidade de compreender o sentido das diversas construções simbólicas presentes no aquartelamento. Nesse período como soldado, fui participante de uma instituição que hoje é o objeto de estudo de muitos historiadores, cientistas políticos, sociólogos e antropólogos. O texto a seguir é fruto de uma seleção de fatos, narrados a partir da minha memória, que relacionarei com as questões aportadas no que hoje é conhecido como “Antropologia do Militares”.

Palavras-chave: Forças Armadas, soldado-recruta, Antropologia dos militares e

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Sumário

Introdução...6

A chegada...9

Adaptação...13

O decorrer do ano...18

A saída...28

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Introdução

Este trabalho tem como objetivo apresentar, através de um diário de memórias, parte da minha experiência pessoal, como soldado das Forças de Armadas. Há algum tempo essa vontade já se fazia presente, entretanto, minhas tentativas eram sempre interrompidas por outras atividades de cunho mais urgente. Resolver trabalhar com essas memórias no meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi a motivação para refletir sobre o sentido das diversas construções simbólicas presentes no aquartelamento a partir da minha vivência como na caserna.

O texto a seguir é fruto de uma seleção de fatos, narrados a partir da minha memória, que relacionarei com as questões aportadas no que hoje é conhecido como “Antropologia do Militares”. Temas como hierarquia, rituais e símbolos são apresentados como a “metaforização da cultura” (Wagner, 1981) militar, o seu “espírito”. Questões como individualismo/holismo, civil/militar e instituição total/totalizante também refletem a complexidade no interior da caserna, mostrando a importância da inserção do antropólogo em campo para a percepção mais próxima possível dessas “ambigüidades” (Wagner, idem).

Cabe apontar que essas questões teóricas serão o meu ponto de partida, pois ao ter contato com tais trabalhos fui instigado a fazer analogias com minha experiência pessoal como nativo na Escola de Material Bélico (ESMB), Deodoro – RJ, no período de 2005-2006.

O fato de ter ocupado a posto de soldado-recruta na hierarquia militar é um ponto importante para meu trabalho, pois, como Celso Castro afirma em seu texto sobre os recrutas e alistamento militar, “a experiência subjetiva dos conscritos durante a prestação do serviço militar é tema praticamente inexplorado” (Castro e Chinelli, 2006). Outro fator instigante é saber que a maioria dos trabalhos que tomam como base a “Antropologia dos Militares”, circunscreveu-se aos estudos sobre oficiais, ficando inexplorado o estudo sobre os praças e recrutas.

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7 (a) – Chegada: o que estava em jogo ou quais “relevâncias” contribuíram para a minha vontade de fazer parte das Forças Armadas? Como foi a experiência básica de iniciação na vida militar ou como foi o primeiro contato na caserna?

(b) - Adaptação: O caos da primeira semana e o inferno das “vivacidades”, a disciplina dos corpos; o “apagamento” da identidade civil e a internalização das normas e valores militares, militar/paisano; o conscrito, militar novato; humilhação verbal.

(c) - O decorrer do ano: os outsiders; rituais e símbolos; conjunto/companheirismo e

união/coletividade. Como minha situação mudou ao longo do ano? As perspectivas anteriores permaneceram? Como era o cotidiano e a relação com os militares de outras patentes – soldados engajados, sargentos e oficiais? Como era o serviço e as punições? (d) – Saída: Como foi a saída? O que contribuiu para isso? Foi uma escolha?

Muitas questões utilizadas nesses tópicos são oriundas do trabalho de Celso Castro, O espírito militar: um antropólogo na caserna e Meia-volta volver: um estudo antropológico sobre a hierarquia militar de Piero Leirner. Portanto, é de grande

importância partir das “memórias” e estabelecer paralelos com as questões referentes à instituição militar.

Sobre rituais e símbolos destacarei os trabalhos de Van Gennep, Os ritos de passagem, e Victor Turner, Floresta de símbolos: aspectos do ritual Ndembu. A partir

desses autores podemos destacar que os rituais e símbolos possuem importância no que diz respeito ao ordenamento e a continuidade de uma instituição. Nesses estudos também podemos compreender melhor o que seria o estado de liminaridade e rituais de aflição em determinada cerimônia, ponto capital para compreender a mudança de um

“conscrito” para soldado e o sofrimento no “campo” (simulação de combate) para se tornar um soldado.

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8 (Pollak, idem) Entretanto, também devemos considerar que os acontecimentos vividos pessoalmente são “elementos constitutivos da memória”. (Pollak, idem) É através da memória que podemos ter acesso aos “discursos subterrâneos” (Pollak, 1989).

Além dessas limitações, também há o questionamento a respeito do problema entre experiência no campo e a formulação do discurso etnográfico. Para Viveiros de Castro, “o antropólogo não carece ser excessivamente civilizado, ou modernista, sequer estrangeiro ao povo sobre o qual discorre” (Viveiros de Castro, 2002). Um discurso antropológico surge quando há “práticas de sentido” (Viveiros de Castro, idem), ou seja, quando técnicas são utilizadas para relacionar o discurso do nativo e do antropólogo. É certo que determinadas noções presentes em cada um desses mundos, do nativo e do antropólogo são distintas – como exemplo, “cultura1” (Wagner, 1981) -, mas devemos atentar para esse “jogo de linguagem em freqüente elaboração” (Viveiros de Castro, idem). A idéia de “dimensão ficcional da etnografia” se faz presente no trabalho do autor.

Buscando me basear nessas afirmações, meu objetivo é “experimentar uma imaginação” (Viveiros de Castro, idem), colocando-me entre as duas “culturas” para tentar traduzir um grupo de significados para outro, “inventando uma cultura” (Wagner, 1981). Aqui “invenção” ganha a acepção de resultado de um grupo de analogias que traduz um grupo de significados para outro. O antropólogo, conhecendo ambas as culturas, a sua e a do nativo, apesar das limitações da sua própria cultura, é quem faz a ponte entre ambas.

Não obstante, o fato de estar realizando antropologia “em casa” (Strathern, 1987), isto é, falando de uma cultura que já fiz parte exige-me uma consciência reflexiva a respeito do que estou fazendo, por que, e se são válidas as minhas questões. É preciso um exercício de auto-antropologia.

1Podemos compreender essa questão a partir do conceito de “antropologia reversa” trabalhada por Roy

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A chegada

Ainda bem novo, ouvi falar da instituição militar como disciplinadora, que faz o jovem se portar como homem, longe da cômoda casa da família. Isto era uma opinião quase unânime entre os meus familiares. Com aproximadamente dez anos de idade, pude perceber como meus primos mudaram suas aparências físicas (corte de cabelo e corpos mais atléticos) e modos de agir (rostos mais sérios e economia de palavras) após ingressarem na caserna. Os mesmos tinham sido convocados para servirem na Pára-Quedista (PQDT). Um foi selecionado, em 1995, para 20° BLOG Pára-Pára-Quedista, situado em Deodoro – Rio de Janeiro. A mesma Brigada recebeu, dois anos depois, o outro primo. A opinião de grande parte da família, e da rede de amigos, era de que estavam aprendendo a ter responsabilidade, a serem homens e resolverem seus problemas; estariam ganhando independência. Além disso, também havia a questão de estar cumprindo um serviço obrigatório – algum tipo de cidadania. Pude perceber o mesmo discurso quando que optei por servir às Forças Armadas.

Um grande amigo de meu pai era recém formado na Escola de Sargentos (ESA). Quando estava junto do mesmo, indagava-o a respeito do cotidiano no aquartelamento e como o mesmo fazia com os seus comandados. Em meus pensamentos, e muito influenciado pelas construções fílmicas que assistia com meus tios, imaginava constantes momentos de aventuras e onde o sargento tinha uma tropa de subalternos. Tal imagem permaneceu comigo durante algum tempo, sendo reforçada pelos dois primos que serviram em um batalhão operacional de infantaria, o qual forma militares prontos para “atuar com rapidez nas ações de defesa externa e de garantia da lei e da ordem, em qualquer parte do território nacional e, eventualmente, em operações de paz”. (Site)

Um exemplo dessa imagem construída é um trecho da “Oração do Pára-Quedista”, a saber:

“Dai-me senhor meu Deus o que vos resta, aquilo que ninguém vos pede. Não vos peço o repouso e a tranqüilidade, nem da alma e nem do corpo. Não vos peço a riqueza, nem o êxito e nem a saúde. Tanto vos pedem isso, meu deus (...)”(entrevista com ex- PQDT)

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10 Acreditava que assim conseguiria um regime regular de trabalho e independência financeira.

O fato de ser músico desde muito novo me fez pensar que isto poderia ser um caminho possível para tornar real a minha aspiração frente à dependência familiar. Nesse período, no qual, sem trabalho, eu passava dias estudando o meu instrumento, alguns familiares também aproveitavam para dar alguns palpites abelhudos a respeito da minha idade e dependência em relação aos pais.

Ao chegar o meu período de alistamento, pensei na possibilidade de me apresentar e servir às Forças Armadas. Assim eu poderia participar da banda de música e tentar fazer provas internas para, conseqüentemente, galgar uma patente que me garantisse emprego para o resto da vida – possibilitando uma carreira como músico. Também achava que ao fazer isso me desviaria das críticas recebidas pelos meus familiares - os primos mais velhos também tinham feito o mesmo.

Após ter passado um longo período de idas e vindas em quartéis, os quais eu era designado para fazer testes - e o meu diferencial era sempre o mesmo, "Sou músico" -, fui para a Escola de Material Bélico (ESMB). Dentre os quartéis visitados, um em especial criou em mim grande expectativa, a saber, o CPOR (Centro de Preparação para Oficiais da Reserva). Lá eu teria a chance de fazer uma faculdade nos períodos em que não estivesse no aquartelamento, e depois do período de formação (aproximadamente um ano) eu sairia com uma patente de oficial, a qual eu poderia ficar por um período de seis anos.

Ao visitar o CPOR, logo no primeiro teste fui reprovado nos exames, algo que me causou grande frustração. Depois fiquei sabendo de alguns militares mais antigos sobre aquela Organização Militar (OM), ela era muito disputada e eu só conseguiria entrar lá sendo um “peixe”2

Já na ESMB, logo nos primeiros dias de visita para os testes de aptidão, encontrei um dos meus professores de clarinete e o mesmo disse que falaria com os responsáveis pela seleção dos futuros “conscritos”3 para que eu ficasse. Isso me trouxe grande animação, pois, se ele estava lá, aquilo era um sinal de que havia banda naquele quartel e que eu era um “peixe”. Algo que, posteriormente percebi, foi bem assim.

Durante o processo de seleção, fiz algumas entrevistas, afirmei que estava interessado em "servir" e fiquei convencido de que havia conseguido vencer esta etapa,

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11 e realmente eu tinha. Recebi a farda e ganhei os objetos necessários para a estadia na "nova casa" - também chamado pelos soldados "mais antigos"4, para nos amedrontar, de “inferno verde”.

Lembro-me de quando recebemos as fardas. Para nós era tudo novidade. Todos eufóricos, um novo habitus que seria adquirido aos poucos. Havia alguns que

especulavam levar as fardas para casa e dar umas voltas de "milico". Um grande amigo, após a nossa “baixa”5, me confessou que no mesmo dia em que recebeu o material verde-oliva foi ao mercado, fardado, fazer compras. Confesso que no dia em que recebi também pensei em sair para algum lugar, mas acabei não sendo tão corajoso.

Durante o período de adaptação, tivemos instrução de armamento, "ordem unida"6, código de conduta do militar - este tanto interno quanto externo ao aquartelamento- e das canções; entre elas o Hino Nacional (ainda desconhecido por muitos) e a canção da própria Escola.

A Escola de Material Bélico é a Organização Militar responsável por receber e formar parte dos alunos aprovados para a Escola de Formação de Sargentos (ESA). Lá os alunos podem escolher se a sua formação será em manutenção de armamento, viaturas ou mecânico operador. Podemos perceber de antemão que nessa escola na há o objetivo de formar soldados combatentes, como no caso dos quartéis de infantaria ou cavalaria.

Retomando o tema das instruções, a mais esperada era a de armamento. Todos ficavam eufóricos com a permissão manipular o “seu” armamento7. Esperávamos ansiosamente para que o dia da visita ao estande de tiros chegasse. Às vezes, não compreendíamos porque os soldados mais antigos pediam e faziam tanta questão de que fôssemos tão logo ao referido estande - isto era perceptível durante as instruções.

As instruções eram dadas de modo muito agressivo - não fisicamente, mas de modo verbal. Em todo momento éramos colocados no menor escalão dos adjetivos, pois esta era a nossa posição na hierarquia, e qualquer motivo era perfeito para que o superior ordenasse o "recruta" sentar e levantar sem nenhuma finalidade, ou "pagar" flexões, até que fosse novamente ordenado o fim do exercício. Os gritos eram

4 Soldados que permanecem por sua própria vontade nas Forças Armadas por um período de, no máximo,

seis anos.

5 Período de saída daqueles que completaram o tempo obrigatório – cerca de 12 meses - nas Forças

Armadas.

6 Treinamento coletivo de marchas, continências e posturas militares.

7 Cada fuzil possui um número que é idêntico ao do soldado. Ou seja, durante o período de permanência

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12 freqüentes: "Seu bisonho!"; "ridiculão!"; "Não faz nada direito!". Cabe lembrar que a escala de adjetivos em que éramos colocados difere da usada no meio civil.

Em relação às "pagações8" e às "mijadas9" eu me saía muito bem. Só "pagava" quando a ordem era coletiva: "Por causa de um, todos pagam!"; referente às "mijadas", eu era o "moita10".

Lembro-me de que certa vez não escapei de punição. Eu estava de serviço em um posto no qual deveria ficar durante duas horas. Peguei o telefone e passei um trote para a guarda – nós, soldados, tínhamos o costume de galhofar um ao outro no momento do serviço para passar o tempo. Alguém que estava na guarda ligava para os outros fingindo ser um superior.

Acreditando ser um soldado correspondente ao meu ano do outro lado da linha telefônica, acabei xingando o sargento da guarda. O sargento, e este era o que todos tinham ojeriza em tirar serviço de guarda – para grande parte ele era um “caxiador11” -, pediu para que o responsável pela “alopração12” "se acusasse"; no contrário, todos seriam punidos. Como alguns já sabiam quem era o “aloprado” da situação, não me restou outra escolha, pois eu poderia levar um “rope13” dos companheiros se não me acusasse.

Não compreendi porque não fui “caxiado”, ele nem mesmo gritou. Parece-me que o sargento ficou confuso com a minha coragem - mal sabia ele que não me restava outra escolha, pois perderia menos com ele me punindo do que com toda a guarda de serviço. O sargento me passou um pedaço de esponja de aço e ordenou que lavasse todo o banheiro com aquilo. Terminada a limpeza, voltei para o meu lugar.

8 Exercícios de vivacidades como sentar e levantar, “pagar” flexões, ou subir e descer escadarias sem um

motivo prévio.

9 Momento em que o superior põe o subordinado em posição de sentido e o chama a atenção. 10 Aquele que está presente, mas não é visto e, por isso, não é lembrado na hora das “pagações”

individuais. Isto também pode trazer um efeito inverso, quando o militar quer ganhar destaque.

11 Referência ao militar superior que sempre interpreta as ações dos subalternos como insubordinações.

Ver também referência ao Exército de Caxias em CASTRO, 2002.

12 Perder a linha e a razão.

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Adaptação

Sofri um impacto psicológico grande nos primeiros dias. Dormi mal durante semanas, pois sempre lembrava a gritaria: “porra nenhuma!”, “correndo!”, “sentado, um dois!”, “de pé, um dois!”. Havia um soldado mais antigo que, enquanto tomávamos banho, utilizava um apito para nos apressar. Quando o seu próprio rosto passava da cor negra para roxa, e se cansava de aflar, ele gritava com todo vigor: “rapidamente!”.

Lembro-me também de um sargento que, segundo alguns recrutas, falava como um personagem dos desenhos animados, Taz-Mania14. Na maioria das vezes, quando se digira a um soldado, ninguém compreendia o que era falado, mas certamente, ao invés de tentar ouvir e saber o porquê da ordem seria melhor “cair e pagar”.

Após algum tempo, presenciar aqueles militares expressando com orgulho as respectivas frases feitas começou a ser torturante: “curiosidade é um atributo feminino”; “Quem não é visto, nunca será lembrado”; “Missão dada é missão cumprida”. Tais frases eram repetidas freqüentemente e, na maioria das vezes, com violência verbal.

*

Celso Castro em seu livro O espírito militar: um antropólogo na caserna

(Castro, 2004) apresenta os resultados da sua dissertação de mestrado. Realizado na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) entre 1987 e 1988, o trabalho possui como principal aspecto metodológico a “tradição clássica da antropologia”, com seus pioneiros Franz Boas e Bronislaw Malinowski, através da observação participante. (Castro e Leirner, 2009)

Com seu foco no processo de formação dos cadetes na AMAN - os futuros oficiais -, o autor começa falando da chegada dos “candidatos a cadete” (Castro, 2004) na academia e aponta para o período de adaptação, no qual sofrem uma “transição brusca e intensa”. (Castro, idem) Em tal período, o candidato fica em regime de aquartelamento, ou seja, em internato, onde ele aprende “ordem unida” e regulamentos militares.

O autor também afirma que esses futuros cadetes ainda não são considerados como tais, visto que os mesmos se encontram em período adaptativo – não realizaram a

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14 matrícula -, e por isso podem optar por sair, deixando a vaga para outro. O período que aparentemente parece ser tranqüilo é de extrema pressão sobre os considerados “candidatos a cadete” (Castro, idem). Os treinamentos de ordem unida são realizados simultaneamente com exercícios de vivacidade.

Para Celso, um dos poderosos instrumentos de pressão sobre os candidatos é a humilhação verbal; a gritaria é intensa, há pouco tempo para pensar. As pressões são oriundas dos tenentes, estes são os responsáveis pela formação dos futuros cadetes e estão respaldados no voluntarismo dos candidatos. Após a realização da matrícula, os candidatos fazem parte do corpo de cadetes, não cessando as pressões.

A rotina é regulada em seus mínimos detalhes; há o horário da alvorada, café, almoço, jantar, educação física, entre outros. Tudo é executado de forma homogênea por todos. Os deslocamentos são feitos em conjunto sempre com um responsável chamado de “xerife”15. Ele realizada os comandos da tropa - “atenção”, “sentido” (movimentos de ordem unida) - para a apresentação aos superiores. Tal apresentação é conhecida como “formatura”16.

Com essas descrições o autor mostra a “preocupação dos oficiais em homogeneizar os cadetes o mais rapidamente possível em relação ao nível de formação do militar”. (Castro, idem) O esforço feito pelos oficiais para estimular o espírito de união entre os cadetes, traz uma situação similar com a formação do soldado-recruta. A saber: a situação de choque, ocasionado por tal rigor, é o que possibilita o companheirismo entre os indivíduos, pois a ajuda mútua é imprescindível na maioria dos casos. Essa homogeneização também é evidente a partir da partilha do cotidiano, símbolos e gírias entre os militares. É difícil haver lugar para os “desunidos”, os

outsiders da caserna.

Essas características compartilhadas entre os novos militares é o que colabora para o processo de criação do “espírito militar” (castro, idem). Isto faz com que haja uma distinção entre o “militar” e o “paisano”. Para os militares, o paisano é um sujeito egoísta, que não pensa no bem do grupo, sem bons hábitos, desleixado e irresponsável.

Schutz faz referência aos costumes que são estabelecidos como padrão em um “grupo interno”. Segundo ele,

15 Componente do grupamento incumbido de comandar o todo.

16 Existem tipos de formatura, algumas com um caráter mais formal, que são feitas em dias especiais, e

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15 “(...) os costumes do grupo interno, são socialmente aceitos como formas boas e corretas de se confrontar coisas e pessoas. São vistos como pressupostos porque se provaram eficientes até então e, sendo socialmente aprovados, são vistos como fatos, como fatos que dispensam explicação ou justificativa. (Schutz, 1979)

Em suma, relacionando ambas as situações, a formação do recruta e do cadete, esses militares entram em regime de aquartelamento, passam por situações humilhantes, apropriam-se do espírito da comunidade e compartilham costumes – ganhando distinção frente ao “paisano”. Isto para Schutz é a negociação que um estranho faz para participar de uma nova realidade. Segundo ele, “só depois de reunir certo conhecimento da função de interpretação do novo padrão cultural é que o estranho pode começar a dotá-lo como

código para a sua própria expressão”. (Schutz, idem)

*

Tive sorte de ter sido inserido em um grupo no qual julguei ser unido. Os comandantes do nosso pelotão eram dois oficiais, e ambos eram figuras muito “tranqüilas”. Chegavam a nos defender quando percebiam que os sargentos, cabos e soldados mais antigos ultrapassavam os limites conosco.

O nosso pelotão acabou se destacando frente aos outros por causa da união. Éramos sempre os primeiros a realizar as atividades mais cobiçadas. Chegamos a ganhar um concurso de “ordem unida” disputada internamente entre os pelotões. Entretanto, essas diferenças entre pelotões foram dissipadas após a distribuição dos soldados para os setores de trabalho – as “seções” - e após a visita ao “estande de tiros”. Tanto na guarda quanto no trabalho, o soldado entra em contato com os outros recrutas, até então circunscritos às interações com o seu pelotão e, portanto, torna-se possível a aproximação com os “estranhos” que até então desconhecia17.

Completada a fase dos tiros no estande, estaríamos verdadeiramente aptos para tirar o serviço de guarda do quartel. Após o período de formação da nova turma de EVs18 - com duração aproximada de três meses -, a caserna fica sob nova vigilância até que os outros cheguem, isto é, a turma do próximo ano.

Percebemos o porquê da tal ansiedade dos mais antigos a respeito dos tiros. No

17 A grande quantidade do efetivo faz com que o contingente seja distribuído em pelotões, formando uma

companhia.

18 Referência ao “efetivo variável” da companhia, ou seja, a rotatividade de soldados que entram e saem a

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16 serviço, a pressão com o armamento é grande. Qualquer falha do militar é motivo para punição. Percebi que a responsabilidade havia crescido e que as coisas no cotidiano da companhia tenderiam a ficar mais estreitas. Lembro-me de quando o primeiro pelotão a dar tiros chegou do estande. Os de guarda, mais antigos - do ano anterior -, “vibraram” com entusiasmo um pouco assustador. Após o meu último serviço, também senti determinado alívio.

Durante o serviço, o medo de perder o armamento impede que esses militares fiquem indiferentes. Eles tiram serviço vinte e quatro horas, e na maioria das vezes - por motivos de faxina na guarda, punições freqüentes ou “desunidos” – o soldado dorme umas quatro, com intermitências, quando está com sorte. A aversão de “tirar serviço” com o “caga-pau”19 é grande, visto que todos querem ter um serviço “tranqüilo” e serem liberados para casa – após o serviço; passadas as vinte e quatro horas, há grande expectativa dos soldados de não serem designados para as suas respectivas seções.

Alguns meses depois, comecei a calcular se compensaria todo o sacrifício, durante o serviço de guarda, para somente ficar carregando aquele “trambolho” pesado para todo lugar sem poder, nem mesmo, tirar o carregador do fuzil. Foi uma frustração não somente para mim, mas para muitos. Dificilmente teríamos ação, pois estávamos em uma vila com mais de trinta quartéis diferentes. Seria improvável que houvesse um corajoso para pular o muro.

*

O livro Um Soldado Brasileiro no Haiti, ilustra bem o que um soldado brasileiro

pensa do cotidiano da caserna. A falar das motivações desses militares e a respeito do seu voluntarismo na Missão de Paz no Haiti, ele diz: “Quando você decide ser militar, você pensa que quer fazer algo de militar, e essa foi uma situação que exigiu algo mais militar (...). Porque não adianta nada você dizer que é militar e nunca participou de uma missão.” (Rupental, 2007)

Em outro trecho: “(...) muitos soldados acalentam uma vida militar como a que o cinema norte-americano divulga e propagandeia no mundo (...). Eles adoravam as

19 Denominação para o militar que na maioria das vezes não faz o previsto – realizando as suas atividades

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17 patrulhas [no Haiti]...” (Rupental, idem) A procura de uma missão real, apontada no depoimento do soldado como “algo de militar”, é utilizada como uma motivação para o voluntarismo na missão de paz no Haiti.

*

A decepção com o cotidiano na caserna foi maior quando descobri, no dia das distribuições para os setores de trabalho, que o quartel não possuía banda de música e, com isso, seria impossível a realização do meu objetivo principal. Eu sempre via uma banda tocando nos dias de “formatura”20 e, por acaso, quando afirmei que queria “servir”, a tal banda estava lá. Descobri, pouco tempo depois, que era de outra companhia. Pensei em tentar uma transferência, mas para isso era necessário ser “peixe”. O meu professor era componente da banda, mas, além de fazer parte de outra OM, a sua patente na hierarquia – sargento – trazia determinadas limitações frente às suas vontades. Para ser “peixe” é preciso que o interessado fique próximo da patente superior.

*

Piero Leirner em Meia-volta volver: um estudo antropológico sobre a hierarquia militar, fala da rigidez hierárquica, a cadeia de comando, dentro das Forças

Armadas. Seu interesse surgiu a partir de uma tentativa frustrada de estudar os militares na Amazônia em 1992. Ao tentar conseguir autorização junto ao Exército na Escola de Comando Estado-Maior do Exército (Eceme), ele identificou que a cadeia de comando se fecha entre as patentes, produzindo os “círculos hierárquicos” (Leirner, 1997). Tais círculos são incorporados na vida dos militares, “ambiente de trabalho, salas, refeitório, banheiro (...)” (Leirner, Idem) impedindo a relação próxima entre diferentes patentes – “promiscuidade hierárquica”. Em poucas palavras, se conseguimos determinadas vantagens e mordomias por ser “peixe” de algum militar, é preciso considerar o “círculo hierárquico” do mesmo, pois isso é o que determina os limites dessas vantagens.

20 Momento em que a companhia é apresentada para o comandante da OM. Aqui ela possui um tom mais

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O decorrer do ano

Ao ser designado para a seção “Garagem”, na qual se encontravam blindados e viaturas sobre rodas, fui assistente dos sargentos mecânicos responsáveis pela manutenção dos blindados. O chefe da garagem era um capitão recém promovido. Ele era responsável por cerca de vinte militares motoristas e mecânicos; as patentes variavam entre sargentos, cabos e soldados. Havia até um aluno com a sua formatura em atraso há alguns anos. Isto era uma incógnita, e nós ousávamos perguntar, o aluno era muito grande e violento – este fato poderia ser uma hipótese para a sua estagnação na patente de aluno.

O capitão era uma figura interessante. Seu apelido entre os soldados de outras seções era “capitão-missão21” por sempre recrutar vários soldados de diversas seções para eventuais faxinas na garagem. Certa vez, muitos soldados já se preparavam para a saída, inclusive já estavam “paisanos22”, e o capitão ordenou que todos limpassem a grande garagem da Companhia.

Muitos perguntavam se trabalhávamos bastante com o “capitão-missão”. No início sim, mas, passado o período da nossa chegada – momento em que a OM precisa de uma “moral23” – e quando começamos a conhecer o capitão, os trabalhos da garagem ficaram mais “acochambrados” – com pouca intensidade. Ele chegava ao ponto de nos livrar da “boca-podre24” argumentando para o capitão responsável pela CCS – este mais antigo - que havia muito trabalho para nós na garagem. Quando chegávamos à garagem, íamos para a sua sala conversar e comer. No horário das formaturas diárias acontecia o mesmo, o capitão nos livrava e mandava cada um se “camuflar25” na garagem para não ficarmos “voando” – ficar andando pelo quartel.

21 Cabe aqui fazer uma definição sobre “missão” dentro da caserna. É a execução de qualquer ordem do

superior, ou seja, na maioria das vezes faxina ou alguma atividade burocrática. Como fazíamos parte da Companhia de Comandos e Serviços (CCS) dentro da OM, éramos responsáveis pela manutenção de todo o aquartelamento, desde obras a faxinas.Todos os quartéis possuem essa Companhia (CCS), quase sempre composta por soldados EVs (Efetivo Variável) . As seções eram as responsáveis por trabalhos

específicos, como a seção de obras, de serviços gerais, entre outras. Os soldados eram designados para cada seção.

22 Termo para se referir ao civil. Aqui o “paisano” ganha um sentido de militar sem farda, mas há outros

sentidos como apontado anteriormente. Ver CASTRO, 2004.

23 Designa a transição de aparente abandono para um estado considerável. Realizar pinturas e capinação. 24 Missões que nenhum soldado quer realizar, como ir ao lixão despejar os restos de lixo da semana. 25 Ato de se esconder para não ser designado para uma ”boca-podre”. Alguns ocupavam blindados velhos

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19 Alguns soldados chegavam ao ponto de ocupar a mesa do capitão, e nunca presenciei algum tipo de “mijada” a respeito de tal ação. Segundo ele, éramos os seus “peixes” e por isso, protegidos. Realizamos churrascos e bebedeiras. Lembro-me de certa vez que fomos a um sítio e fizemos um grande churrasco. O capitão pediu autorização para que os soldados da garagem fossem no ônibus do quartel. Durante a bebedeira, jogamos todos os sargentos e cabos, inclusive o capitão, na piscina, afirmando que ali a maioria mandava.

*

A figura do “peixe” é importante para refletirmos questões a respeito de individuo/pessoa (Matta, 1997). Para Roberto Damatta, ao falar da distinção entre “indivíduo” e “pessoa”, o “individuo” é detentor do seu espaço próprio, ele tem consciência individual, possuindo como ideal a igualdade. A sociedade está inserida dentro dele e esta se encontra a serviço do indivíduo (Matta, 1997). Com isso, o autor acredita que “indivíduo” está ligado a uma posição que o coloca em anonimato, pois, na medida em que todos são iguais, as leis e as oportunidades serão iguais para todos, não havendo distinções. “Pessoa” está presa à totalidade, a sua consciência é social, ou seja, se encontra inserida na sociedade - esta tem precedência sobre o indivíduo. Em oposição ao “indivíduo”, “pessoa” está ligada à hierarquia, isto é, haverá distinção. Visto que o indivíduo é parte de um todo, ele possui o seu privilégio.

O autor conclui que pode haver coexistência entre ambos os sistemas. Ao estudar a sociedade brasileira, Damatta procura provar a sua conclusão com a frase “você sabe com quem está falando” (Matta, idem). Este termo, na medida em que vivemos em uma sociedade moderna na qual a lei precisa ser aplicada de uma maneira igualitária, isto é, considerando o anonimato do indivíduo, serve para o indivíduo ostentar a sua posição na sociedade, respaldada por algum poder econômico ou pessoal. Quando o recruta se torna “peixe”, apesar de possuir a patente que possui o mais baixo escalão, as suas ações tem como respaldo a proteção de outro militar de alta patente. Ser “peixe” entre os militares pode ter uma acepção boa ou pejorativa. Boa por se tratar de uma relação pessoal com o tal “grandão” ou pejorativa por ganhar um significado de “puxa-saco” ou “baba-ovo”.

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20 recruta chega a receber mais de duas ordens, sucessivamente, por militares de patentes e antiguidades distintas – prevalecerá a ordem do mais antigo. O pressuposto para que a ordem seja executada é que “não pode haver ponderação”, pois, ocorrendo esta, o militar está sujeito a acusação de insubordinação e receberá a sua “razão de defesa26”

O status de “peixe” na caserna possibilita ao militar mais moderno acesso a determinados privilégios que podem chegar ao ponto de oferecer ao recruta o poder de ponderar, de maneira eufemista, as ordens de outro militar mais antigo, utilizando a saída de que já foi ordenado por um oficial superior. A sua “escala de serviço” – esquema de rodízio entre os soldados para tirar guardas no quartel – pode diminuir consideravelmente ou até mesmo nem chegar a existir.

Vemos que na caserna o recruta ocupa o patamar de “indivíduo”, pois no âmbito militar ele se encontra no posto inferior a todos, sendo considerado como um anônimo e ficando sujeito a qualquer tipo de imposição hierárquica - em suma, não há distinção nele. Não obstante, o status de “peixe” no meio militar seria o mesmo modo de solução “você sabe com quem está falando”, pois ao ser um “peixe” o recruta também ganha distinção entre os “indivíduos” – demais recrutas -, afirmando a sua pessoalidade

*

Percebi que os outros oficiais ficavam extremamente incomodados com a relação entre o capitão e os seus soldados. Poucos chegavam a tal ponto de relacionamento com outras patentes. Quando realizávamos alguma missão na garagem, o capitão era o primeiro a se sujar de graxa. Todos os soldados o consideravam como um deles. O capitão era um desviante, um legítimo Outsider, e, por isso, isolado do seu

“círculo hierárquico” (Leirner, 1997). Suas interações estavam sempre restritas aos sargentos, cabos e soldados.

Certa vez pude perceber o grau de hostilidade que os outros oficiais mais antigos tinham pelo “capitão-missão”. Estávamos todos em “forma27”, e passados alguns minutos o “capitão-missão” pediu permissão para falar com o mais antigo, o nosso comandante. Por uma razão qualquer, o mais antigo ordenou que ele ficasse em posição de sentido e o respeitasse como tal, dando uma grande “mijada” na frente de toda a

26 Documento que dá ao militar o direito de defesa por escrito. A crença entre os recrutas é de que o

mesmo dificilmente é lido pelo comandante.

27 Momento em que toda a CCS está sendo apresentada ao seu comandante, o capitão mais antigo citado

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21 Companhia (CCS). Fato que deixou todos os soldados perplexos, um capitão dando “mijada” em outro capitão!

Ao chegar o período do acampamento, momento em que todos os soldados precisam realizar atividades em “campo” para aprenderem os treinamentos de guerra, vivemos alguns momentos difíceis. Sem trégua, havia muita chuva e, após a farda ficar molhada e enlameada, o frio era intenso; a única maneira de se manter aquecido era saltar, isto é, saltar e não parar mais. Lembro das ordens “saltitando sem parar!”

Os exercícios nas “pistas de progressão28” eram cansativos. É preciso muito cuidado para não sair com escoriações ou luxações. O militar precisa ser “safo” – soldado rápido e esperto - e “bizurado” – aquele que está sempre ligado em tudo, tem a manha - no campo, pois os superiores, a qualquer momento, podem tomar o seu fuzil e esconderem em algum lugar. Caso não o encontre, carregará uma pedra bem mais pesada até o fim do acampamento ou “pagará” até não agüentar mais.

No meu caso, como sempre era o “moita”, fazia o esperado sem ser visto. Tudo ocorria de maneira tranqüila. Apenas uma vez me vi em situação difícil, quando quase morri afogado em um lago. Eu estava todo equipado - mochila, fuzil e capacete - e junto com o meu pelotão; éramos cerca de quarenta pessoas. Ordenaram para a gente mergulhar, mas fui em direção a um buraco muito profundo. Não consegui sair. Minha sorte foi ter um gigante ao meu lado que viu o “cú da tropa29” afundar nas águas. Ele me puxou.

*

O acampamento é o que determina a passagem do militar-recruta para soldado. Presenciei por diversas vezes antes do campo os soldados mais antigos dizerem que só seríamos respeitados por eles quando chegássemos cheios de lama. O “campo” marcou a nossa passagem de recruta para soldado. Fomos “ralados30” pelos “engajados” e, com isso ganhamos o respeito.

Turner (2005) e Van Gennep (1978), falam da importância dos rituais no que diz respeito ao ordenamento e a continuidade de uma instituição. Não obstante, é preciso

28 Rotas planejadas com obstáculos para dificultarem o caminho do militar, objetivando o seu treinamento

para uma possível missão de guerra.

29 Termo utilizado para designar os soldados mais baixos do pelotão. A formação da tropa é organizada

do maior para o menor, ou seja, na “testa” estão os mais altos e na “retaguarda” os mais baixos. Como eu era o último da companhia, o “cú da tropa”.

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22 tentar perceber não somente o fenômeno ritual como uma descrição de símbolos e valores, mas como ele se encontra interligado com outros fatores importantes na composição do grupo social envolvido. É preciso aplicar um método “exegético”

Victor Turner afirma:

Descobri que não conseguiria analisar símbolos rituais sem estudá-los numa série temporal em

relação com outros “eventos” (...). Vim a conceber os desempenhos do ritual como sendo fases distintas, no processo social, através das quais os grupos se ajustavam a mudanças internas e se adaptavam ao seu ambiente externo.” (Turner, 2005)

Tomando como base a formação do PQDT31, podemos questionar como os valores envolvidos nos rituais, que ocorrem durante a formação do militar, ganham potencialidade no que diz respeito ao contexto em que esses voluntários estão inseridos. Ou seja, por que a sujeição ao sofrimento? Quais são os símbolos envolvidos que levam esse sujeito audaz às emoções mais fortes? Que ritos fazem o militar se sentir um PQD32? O que diferencia este militar de outro “convencional”?

Tais questões são oriundas de uma série de etapas que marca desde a sua candidatura à formação do PQD. Tais etapas exigem grandemente da força física do militar e cada passagem para o próximo estágio é comemorada com grande vibração e tom de ritual.

Segundo Van Gennep:

“Para passar de qualquer uma delas [categorias] a qualquer das outras, para passar de camponês a operário e mesmo de servente de pedreiro a pedreiro é preciso satisfazer certas condições que entrando têm de comum assentarem somente em uma base econômica ou intelectual. (...) para o indivíduo que é leigo tornar-se sacerdote, ou inversamente, é preciso executar cerimônias, isto é, atos de um gênero especial, ligados a uma certa tendência de sensibilidade e a determinada orientação mental.” (Van Gennep, 1978)

Sobre os símbolos presentes no ritual aponta Turner:

“cada tipo de ritual tem o seu símbolo “sênior” ou, como vou denominá-lo, seu símbolo “dominante” (...) Por ora, será suficiente dizer que os símbolos dominantes são encarados não meramente como meios para o cumprimento dos fins confessos de um dado ritual, mas também e com maior importância, se referem a valores que são considerados fins em si mesmos, quer dizer, a valores axiomáticos.” (Turner, 2005)

31 Trabalho de campo realizado em 2008 para a matéria de antropologia. Os exemplos sobre a formação

do PQDT são ricos por explicitarem os seus rituais, símbolos e fases de diversas maneiras, visto que o PQDT está sempre se diferenciando dos militares mais convencionais por se definirem como uma espécie de “tropa de elite” do Exército. A presença dos rituais, símbolos e fases marca a passagem de um estágio para outro.

32 A partir de agora utilizarei o termo PQD para designar o pára-quedista. Ele é mais utilizado pelos

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23 Um dos símbolos “dominantes” do pára-quedista é o “but marrom33”, pois, para

o PQD, isto o diferencia dos demais militares, os chamados “pé-preto”.O “but marrom” é um dos símbolos mais caros para o pára-quedista, apenas o recebe aquele que passou por todas as fases da formação com sucesso.

Outros símbolos podem ser apontados como diferenciadores do militar convencional, a saber, a “boina grená34”, e o “brevê35”.Entretanto, estes últimos, apesar de serem adquiridos após a conclusão do curso, não são citados com tanta ênfase no que diz respeito a diferenciações dos “outros” militares.

Disse um ex-PQDT:

“A diferença está no “but marrom”, né? Vamos dizer: a gente têm que ralar para conquistar o

“but marrom.” (Entrevistado)

Esses símbolos, e em especial o “but marrom”, possuem justamente os “valores axiomáticos” apontados por Turner, pois os mesmos apontam um valor a ser galgado. Eles afirmam a finalização e concretizam a conquista do PQD.

Os candidatos a pára-quedistas se alistam como voluntários na Brigada. Para serem aceitos, precisam passar por uma série de testes que envolvem competição, pois não há muitas vagas para todos. Todos os testes envolvem a educação física - execução de barras, flexões corridas e outros.

Após a primeira etapa, o “conscrito” recebe a sua farda e começa as atividades para iniciar o seu primeiro “campo”. Isto é, ele se prepara para fazer a primeira expedição na mata, o chamado “Gericinó”.

Ao voltar, mais uma fase se completa, e ele se prepara para a “Área de estágio”. Esta envolve um período de duas semanas na qual, ainda “pé-preto”, aprende-se todo o processo do salto do avião. Lá o militar adquire conhecimento que vai desde o aprontamento do seu material, até a solução dos possíveis problemas que podem surgir no decorrer do salto. Outro fator a ressaltar é que ainda na área de estágio o “pé-preto” está sujeito a notas que o qualificam para ser ou não um PQD. Além de ficar sujeito a humilhações verbais, “pagações” e vivacidades.

Após a “Área de Estágio”, o militar se apronta para enfrentar o seu próximo

33 Nome para designar a cor do coturno do PQD, marrom, em oposição ao “pé-preto” do militar

convencional.

34 Boina de cor vermelha que se diferencia da convencional verde.

35 Símbolo colocado na farda para indicar que o referente militar já realizou saltos. É considerado como

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24 obstáculo, a “Serra do Mendanha” - lugar em que o “pé-preto” passa uma semana sujeito a fome, chuva e outros tipos de dificuldades. Lá o militar sabe que é a sua última fase antes do salto. Em alguns casos ele pode até saltar antes da “Serra”, mas isso não significa que é um PQD.

Com a sua chegada, o salto é o que finalizará um período de sete meses no qual o indivíduo se dedica a um fim, sujeitando-se às humilhações, cansaço, fome entre outros. Podem existir casos em que o “pé-preto” desiste justamente no dia do salto.

Há um ritual específico que marca essas passagens em particular. Citarei duas: A cerimônia de “brevetação” e a chegada da “Serra do Mendanha”. Na brevetação, os PQDs recebem os símbolos tão aspirados por eles, a “boina grená”, o “brevê” e o “but marrom”. É um momento de extrema emoção para todos, tanto para os familiares quanto para todos da Brigada – e isto envolve os superiores.

Na chegada da “Serra”, os familiares dos mesmos se encontram presentes no momento da chegada do campo para ver os novos pára-quedistas. Eles chegam em estado precário, sujos e maltrapilhos. Após algumas considerações na formatura, para finalizar, é feita a “Oração do Para-quedista” – referência no início do texto.

Ao apontar a presença dos familiares e do envolvimento dos seus superiores nos respectivos rituais, cito o que Victor Turner afirma:

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25 “Quando você está no campo é que você vê que, realmente, aquela alto-estima sobe em tu, e você tem que... vê o que fizeram contigo... bate ainda um pouco. Aí você pensa: caraca, fizeram isso comigo. Aí você: Não, vou ter que dar pelo menos uma raladinha nesse cara. Porque senão ele vai sair PQD, a auto-estima dele vai levantar, e ele vai falar que não sofreu nada. Porque, realmente eu posso falar que eu sofri (...)” (Entrevistado)

Os pára-quedistas mais antigos têm a função de fazer com que os “pré-pretos” aprendam os procedimentos corretos, e isto quer dizer que eles precisam sofrer o mesmo que os outros sofreram para dar continuidade ao ciclo. Para possuir a autoridade de PQD, é preciso andar pelo caminho espinhoso da formação.

Ao falar de “liminaridade”, Van Gennep aponta um momento de suspensão da ordem social em que o indivíduo se encontra. Em tal momento, o indivíduo está em um estágio onde não é nem o anterior e nem o posteior, ou seja, “assim o noivado constitui realmente um período de margem entre a adolescência e o casamento.” (Van Gennep, 1978)

Ao pensar os rituais como um processo, isto é, momentos identificados quase como tese, antítese e síntese, porém, definidos por ele como pré-liminar, liminar e pós-liminar, o autor diz que a fase liminar seria um momento de extrema individualização do ator envolvido no ritual que está por vir.

“Realmente naquele momento [Serra do Mendanha] você se sente um zero à esquerda, ali você é sempre humilhado, eles fazem de tudo para você não ser um pára-quedista e se tornar um lixo, um merda. Mas aí você tem que demonstrar para si mesmo, pra você mesmo, que pode.” (Entrevistado)

Momentos liminares como a Serra do Mendanha, na qual o “pé-preto” já passou por diversas fases, mas que ainda não é um PQD, são exemplos de como há suspensão da ordem social e de que há um completo isolamento do indivíduo.

Minhas conclusões dizem respeito aos rituais como meios específicos de manter a ordem das instituições, sejam elas modernas e como foram as pré-modernas, e aos símbolos enquanto fins em si mesmos a serem alcançados, estes sustentam o ritual, sempre renovando as suas emoções. Nas Forças Armadas o fato dos antigos formarem os novos, quando estes passaram pelas mãos daqueles, é o cimento deste processo de renovação do espírito militar. O respeito adquirido dos mais antigos pelos modernos, após serem “ralados”, também age para sustentar a instituição.

(26)

26 Após o acampamento, havia entre nós a moral elevada de que não “baixamos36” no campo. O sentimento do coletivo era de resistência física e psicológica. Situações difíceis fizeram com que a união entre nós se consolidasse cada vez mais, e isso proporcionou um espírito de unidade. Tal sentimento, em outros momentos, fez-se presente: quando a tropa cantava e bradava o nome do pelotão escolhido pelos próprios soldados. Não obstante, é no campo que a união do pelotão é levada às últimas conseqüências. Se um “baixar”, todos são responsáveis; se outro perder caminho, todos precisam resgatar. O pelotão chegou sem “baixas”, e, por isso, fomos gloriosos. Em poucas palavras, a visão de que o recruta é a “imagem do cão37” ganha abrandamento, pois o respeito de que não “acochambramos” e cumprimos a missão em campo nos proporcionou legitimidade para usar a farda, a boina e empunhar o fuzil.

Alguns meses depois, ficamos sabendo que chegara o período de classificação do “praça mais distinda” e do destaque no campo. O primeiro, diz respeito ao “soldado padrão” – aquele considerado como modelo para os outros; o segundo seria o mais “vibrador” dentre os soldados que foram ao acampamento, o que mais se destacou. Havia grande expectativa, visto que esses seriam os grandes indicados para o “engajamento”, caso houvesse poucas vagas.

Já nos aproximávamos dos meses finais e aqueles que objetivavam permanecer nas Forças Armadas tinham que ser “bizurados” para não perderem a chance. Cada um procurava um modo de se diferenciar: eu era “peixe” do “capitão-missão” e minha expectativa era de que sairiam vagas para a garagem. Parte considerável para que essa possibilidade ocorresse era o tamanho da seção e demanda de missões. O próprio “capitão-missão” havia prometido uma vaga pela minha pontualidade e competência, mas seus problemas com o comandante da CCS e o desvio em relação ao seu “círculo hierárquico” (Leirner, 1997) fizeram com que seus pedidos de engajamento fossem negados. O sargento, amigo de meu pai, o qual eu sempre expressava interesse a respeito das Forças Armadas, era efetivo da minha OM, mas suas limitações hierárquicas também o impediram de conseguir algo.

*

36 Refere-se ao militar que por algum motivo físico ou psicológico não conseguiu completar todas as

atividades no acampamento.

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27 Ao pensarmos nas condições de “engajamento” e os possíveis caminhos existentes para que isso ocorra, a saber, ser o “praça mais distinta” e o “destaque no campo”, cabe aqui refletir sobre algumas questões que envolvem a relação entre individualismo/holismo levantadas por Louis Dumont e sobre o conceito de “englobante e englobado” criado pelo autor. (Dumont, 1992)

Para ele, individualismo e holismo são apenas ideologias, estas não são entendidas como nos moldes da definição de Marx – falsa consciência -, mas formas diferenciadas de organização social. Segundo Dumont, a ideologia será a organização social predominante, porém, existirão estruturas com características opostas nessa mesma sociedade. Ou seja, em determinada sociedade holista – hierárquica -, haverá estruturas com características individualistas. O conceito de “englobante e englobado” faz referência a essas sobreposições. Se para o autor existe diferença entre sociedade individualista e holista, também haverá a distinção entre hierarquia e ideologia.

No seu trabalho Homo Hierarquicus, o estudo se volta para a sociedade indiana.

Para o autor, estudar a Índia, baseada na hierarquia, é importante para comparar uma sociedade de ideologia holista com o Ocidente, de ideologia individualista - baseada no princípio da igualdade. Dumont percebe que cada casta assume uma posição de acordo com as suas funções específicas, a autoridade de cada um está dividida entre poder político, econômico e religioso. Para o autor a multiplicidade das castas não problematiza o funcionamento do todo, pois essas divisões funcionais estão voltadas para o todo. Há uma relação mútua entre as diferentes castas.

Se a desigualdade entre as diferentes castas está baseada no grau de proximidade com o divino, isto é pureza versus impureza, e por isso a hierarquização, nosso autor

aponta que há estruturas individualistas - o destaque individual de cada casta e sua importância econômica, religiosa e político - que englobam a ideologia holista.

Partindo das questões desenvolvidas por Dumont no Homo Hierarquicus e da

relação entre “englobante e englobado” dentro da caserna38, a questão se volta agora para a expectativa do “engajamento” e sua possibilidade. Como apontado anteriormente, um dos principais meios para que o soldado-recruta possa se manter nas Forças Armadas é sendo “praça mais distinta” ou o “destaque no campo”. Ou seja, em ambos os casos, o militar está se diferenciando dos outros e pontuando sua individualidade em

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28 uma instituição que possui o predomínio ideológico hierárquico. A individualidade para ser o “praça mais distinta” ou para ser o “mais vibrador”, serviriam como meios individualistas (englobados) para manter um grupo baseado na hierarquia (englobante).

A saída

Fomos eu e um companheiro para outras OMs procurar vagas, mas esta seria a tarefa mais difícil – como aceitar um soldado de outra OM e deixar de engajar os da casa? Ao sabermos que o número de engajados seria bem menor do que o efetivo, eu e o amigo começamos a pensar em alternativas. Estudamos para a ESA – era o período em que estavam abertas as inscrições para o concurso -, mas não conseguimos uma pontuação considerável para a aprovação; falamos com o comandante da CCS que queríamos continuar, mas o mesmo não podia prometer nada.

O desencanto do engajamento começou a surgir: não tínhamos mais vontade de nos apresentar, em dias de serviço, com a farda e o coturno impecáveis; as intransigências em relação às ordens começaram a surgir, ocorrendo várias prisões por insubordinações. Elas partiam especialmente daqueles que já tinham consciência da sua não permanência na companhia. Quando não estávamos de serviço, todos “voavam” e “acochambravam”, caso recebessem alguma missão.

Os últimos dias na caserna era uma mescla de frustração e alegria. Os que aspiravam ficar e não conseguiram, estavam desvanecidos; e os que estavam “cagando39” para o “engajamento”, regozijavam. Algumas inversões ocorreram: militares que entraram apenas para cumprir o serviço obrigatório, resolveram ficar; ao passo que outros, os quais objetivavam ficar nas Forças Armadas, mudaram de opinião.

Com a chegada dos novos “conscritos”, a certeza de que o dia da “baixa” - termo também utilizado para se referir ao desligamento das Forças Armadas - estava próximo se fez presente. Após o nosso último serviço gritamos para aqueles que nos substituíam o mesmo que ouvimos no dia da nossa primeira guarda, a saber, “sangra na hora!”. Realizada a “baixa”, o nosso único dever seria a visita anual ao quartel para carimbar o Certificado de Alistamento Militar (CAM). Lembro-me da minha visita à ESMB no ano posterior ao da “baixa” (2007), os “engajados” que haviam se formado no meu ano, participando do acampamento comigo, assustaram-se com o rasta barbudo. “O mundo

39 Referência ao militar que não leva em consideração o que acontece na caserna. Ele fica no

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29 civil faz a gente mudar rápido!”, comentou um cabo. Algum tempo depois, já interessado nas questões que as ciências sociais me apresentavam, refleti sobre a minha condição de “forasteiro”, que se tornou explícita naquele dia. Ou seja, eu novamente era um paisano.

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