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A batalha fiscal que se aproxima

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A batalha fiscal que se aproxima

Correio Braziliense

Marcos Cinora – 08/11/2006

Infelizmente, as discussões sobre a participação do Brasil na Área de Livre Comércio das Américas (Alca)

começaram da pior maneira possível. Mesmo sem dispor de informações confiáveis ou de modelos de simulação minimamente realistas, as opiniões se polarizam, e os preconceitos e dogmas ideológicos já se fazem sentir nos debates sobre essa questão.

A decisão de participar, ou não, desse bloco comercial será a mais importante opção de política econômica a ser adotada nos próximos anos, e seus efeitos impactarão a economia brasileira durante as próximas gerações.

Portanto, uma decisão dessa monta não pode estar envolta em idéias preconcebidas, muito menos em esquemas de pensamento estáticos e ultrapassados.

Há duas vertentes de pensamento sobre o tema. Ambas precisam ser urgentemente exorcizadas. De um lado, um nacionalismo esclerosado; de outro, o liberalismo ortodoxo do “laissez faire, laissez passer”. O que as une é que ambas já foram superadas pela História.

A primeira, marcada por suspeitas de estratégias conspiratórias, relembra a Doutrina Monroe, e desenterra velhas expressões e frases de efeito, como imperialismo ianque, geopolítica de dominação continental e pacto neocolonial. Nessa forma de pensamento, os países que se unirem aos Estados Unidos na Alca reverterão ao status de

exportadores de commodities e de matérias-primas, e para sempre se transformarão em retardatários tecnológicos, com suas populações de miseráveis camponeses e favelados para sempre afastadas de qualquer veleidade

civilizatória.

A agenda para o Brasil em 2007 tem nas áreas fiscal e tributária dois aspectos determinantes na retomada do crescimento sustentado da economia. Os principais desafios que aguardam o presidente Lula são: 1 – revisão dos gastos públicos; 2 – prorrogação da DRU e da CPMF; 3 – déficit da Previdência Social; 4 – tributação trabalhista; e 5 – reforma tributária.

Nos últimos anos a despesa pública cresceu de modo vertiginoso por conta da pressão dos gastos federais. Seria até aceitável se essa elevação tivesse sustentado investimentos na expansão da infra-estrutura ou na melhoria da educação pública. Mas não foi isso que ocorreu: o crescimento se deu nos gastos correntes.

As despesas correntes da União em relação ao PIB sofreram seguidas elevações de 1996 até 2002. Saltaram de 14,1% para 16,9%. Após uma leve redução para 16,5% em 2003 elas voltaram a crescer e chegaram a 17,8% em 2005. Em 2006 a previsão é de que esses gastos atinjam 18,2% do PIB. A combinação entre despesa corrente crescente e orçamento rígido resultou na queda dos investimentos em infra-estrutura, caindo para níveis baixíssimos, cerca de 0,5% do PIB.

Sem margem para aumentar o endividamento e, menos ainda para impor maior carga tributária à sociedade, a única saída será o corte de gastos e a flexibilização do orçamento.

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Nesta situação, não resta alternativa senão a prorrogação da DRU e da CPMF. A desvinculação de receitas pode saltar dos atuais 20% para 25% ou 30% por mais dez anos. Quanto à CPMF, não há como fazer a União abrir mão de recursos que devem somar R$ 36 bilhões em 2007.

A ampliação da DRU poderá causar mais oposição política ao governo do que a prorrogação da CPMF.

Se há resistência de parlamentares e da máquina burocrática na simples prorrogação da desvinculação essa

pressão vai aumentar com a proposta de aumento de seu montante. A flexibilização do orçamento é necessária, mas todo cuidado deve ser observado para que isto não abra espaço para a expansão de gastos correntes.

Outro grande nó nas despesas públicas brasileiras se refere aos gastos previdenciários. O déficit médio do INSS em relação ao PIB passou de 0,3% no período de 1995-1998 para 1,1% no quadriênio 1999-2002. A partir de 2003 o crescimento do desequilíbrio se acentuou. Naquele ano chegou a 1,7% do PIB e em 2006 deve ultrapassar 2% do PIB.

A questão previdenciária é grave. Sua reforma e a captura da informalidade são os grandes desafios que o governo ainda não teve coragem de enfrentar. A desoneração da folha de salários pode ser uma saída para a resolução do problema. O Brasil tributa em 42,5% os salários brutos, ficando atrás apenas da Dinamarca, onde esse peso é de 42,9%.

O elevado ônus imposto sobre a folha de salários no Brasil compromete a competitividade das empresas e é um dos principais estimuladores da informalidade no mercado de trabalho, que, por sua vez, agrava o desequilíbrio da previdência. Só os encargos sociais de um empregado registrado no Brasil é de mais de três vezes que a média observada nos países emergentes, como os tigres asiáticos. Isso contribui negativamente para o nível de emprego e para a geração de renda, e ajuda a explicar as razões de menos da metade dos trabalhadores ocupados contribuir para a previdência.

A “reforma” tributária de 2003 foi uma grande decepção, e precisa ser retomada. Segundo o Banco Mundial, o país tem um dos piores sistemas tributários do mundo, com estrutura complexa, injusta e de alto custo.

Estes são alguns itens da pauta fiscal e tributária para o presidente eleito. Ações tímidas e ortodoxas nessas áreas perpetuarão o desempenho medíocre da economia. Seria oportuno o governo investir na transformação da CPMF em imposto permanente e utilizá-la para substituir os encargos incidentes sobre a folha de salários, como vem sendo proposto pela Confederação dos Serviços do Brasil. A medida tornaria as empresas mais competitivas e reduziria a informalidade no mercado de trabalho.

Com orçamento mais flexível e a CPMF substituindo os encargos trabalhistas tornar-se-ia possível canalizar recursos para aumentar o nível de investimentos público e privado. Ademais, a maior participação das

movimentações financeiras como base de incidência tributária seria mais um passo rumo a uma reforma tributária que efetivamente simplifique o sistema e reduza a carga individual de impostos.

Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor

titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas.

Internet: www.marcoscintra.org

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