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Percepção de riscos ambientais de populações vulneráveis a inundações e deslizamentos de dunas em Natal-RN

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE/PRODEMA

PERCEPÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS DE POPULAÇÕES

VULNERÁVEIS A INUNDAÇÕES E DESLIZAMENTOS DE

DUNAS EM NATAL-RN

JULIANA DA SILVA IBIAPINA CAVALCANTE

2013 Natal – RN

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Juliana da Silva Ibiapina Cavalcante

PERCEPÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS DE POPULAÇÕES

VULNERÁVEIS A INUNDAÇÕES E DESLIZAMENTOS DE

DUNAS EM NATAL-RN

A BIOTECNOLOGIA VEA COTONICULTURA FAMILI

SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTER PARA A COTONICULTUIAR SUSTENTÁVEL

Dissertação apresentada ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN), como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre.

Orientador:

Prof. Dr. Magdi Ahmed Ibrahim Aloufa

2013 Natal – RN

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Juliana da Silva Ibiapina Cavalcante

Dissertação submetida ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN), como requisito para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

Aprovada em:

BANCA EXAMINADORA:

_______________________________________________ Profº. Drº. Magdi Ahmed Ibrahim Aloufa

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN)

______________________________________________ Profº. Drº. Rosemeri Melo e Sousa

Universidade Federal de Sergipe (PRODEMA/UFS)

_______________________________________________ Profº Drº Jorge Eduardo Lins

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Dedicatória

Aos meus pais, Katia e Edivar, meu porto-seguro; À minha irmã, Amanda, parceria constante; À minha avó, Valdeci, meu eterno aconchego;

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeira lugar, à Deus, por iluminar minha caminhada e me fazer chegar até aqui, me dando forças para almejar novas conquistas.

Aos meus pais que sempre acreditaram na minha trajetória e me apoiaram em minhas escolhas.

A meu marido Danilo pelo companheirismo, apoio, conselhos e amor sem igual.

Aos meus familiares por torcerem pela minha vitória.

Ao CNPq pela bolsa concedida.

Ao meu orientador Prof.º Drº. Magdi Ahmed Ibrahim Aloufa pela orientação, por ter acreditado em mim desde o início e por confiar nas minhas decisões enquanto orientanda.

A todos os professores do PRODEMA, que compartilharam conhecimentos e experiências.

Ao Prof°. Lutiane Queiroz de Almeida do departamento de Geografia da UFRN e seu grupo de pesquisa por todas as contribuições e esclarecimentos tão necessários.

Ao Prof . Dr. Ricardo Ojima pelos esclarecimentos de ordem metodológica.

Aos professores Dra. Rosemery Melo e Dr. Jorge Lins pela participação na banca examinadora.

Aos meus amigos Rafaela, Mikaelle e Francker por terem feito todos os momentos sempre valiosos.

Ao colega Henrique Roque Dantas pela confecção dos mapas.

Aos demais colegas de classe da turma 2011-2013 pelos bons momentos compartilhados.

À todos os colegas do LABCEN.

Aos moradores participantes da pesquisa pela receptividade.

Aos líderes comunitários, Gilberto e Erinelson, facilitadores desta pesquisa.

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Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...

Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, Mas porque a amo, e amo-a por isso.

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RESUMO

No espaço urbano, as inundações e deslizamentos de terra estão entre os problemas que mais trazem prejuízos humanos e materiais. Este estudo objetivou, portanto, realizar uma análise da percepção de riscos de populações residentes em áreas de vulnerabilidade socioambiental a fim de compreender de que forma essas populações percebem os riscos a que estão expostas e quais as estratégias de enfrentamento desenvolvidas por elas. A primeira área analisada foi o Complexo Passo da Pátria com a problemática dos riscos de inundações e em seguida o bairro Cidade Nova, sujeito a riscos de deslizamentos de dunas. As áreas localizam-se, respectivamente, nas zonas oeste e leste de Natal-RN. Com um roteiro de entrevistas adaptado de pesquisas sobre percepção de riscos em diferentes cidades brasileiras, foram coletados dados primários referentes às variáveis: percepção, avaliação e escolha, limiar de segurança, ajustamento, decisão e participação. Devido às características das áreas de estudo, a abordagem qualitativa adequou-se às dificuldades de acessibilidade nas áreas. Os locais estudados se caracterizam por situações de insegurança como venda/uso de drogas, assaltos, homicídios, entre outros. Devido a isso, os indivíduos abordados foram os que se encontravam mais acessíveis e disponíveis no momento e as entrevistas foram realizadas na presença dos líderes comunitários de ambas as áreas. Através da análise do discurso dos entrevistados pôde-se concluir que a população entrevistada está exposta a um alto grau de vulnerabilidade e riscos. Porém, identificaram-se diferenças significativas entre a percepção de riscos no Complexo Passo da Pátria e no bairro Cidade Nova, haja visto que na primeira área os entrevistados reconhecerem o alto risco à que estão expostos de maneira mais enfática em comparação aos entrevistados do bairro Cidade Nova. Além disso, há uma grande insatisfação da população das duas localidades quanto ao posicionamento da prefeitura em relação aos problemas presentes nas áreas de estudo. Identificou-se, também o desenvolvimento de estratégias de convivência com o risco nos locais de pesquisa, além de um sentimento de pertencimento e afeição entre os moradores e seu espaço; porém com maior evidência no Complexo Passo da Pátria. Através dessa análise foi possível compreender a percepção e o comportamento de indivíduos ou grupos sociais diante dos riscos, como aceitação e rejeição de determinados riscos, além de medidas de adaptação e convivência com a presença constante de riscos. Portanto, pesquisas de natureza qualitativa com ênfase na abordagem perceptiva são de fundamental importância nos estudos sobre riscos, sendo possível oferecer subsídios ao planejamento e gestão urbana na implantação de medidas preventivas eficazes e compatíveis com os anseios da população.

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ABSTRACT

In urban, flooding and landslides are among the troubles that most bring human and material loss. Therefore, this study objected to perform an analysis on the risk perception on the population living in social environmental vulnerable places in order to understand what is the way this population realize the risks they are exposed to and what are the outbrave strategies the develop. The first analyzed area was Complexo Passo da Pátria for the flooding risk problematic and then the Cidade Nova neighborhood threatened by the dunes slides. The areas locate, respectively, in the West and East zones of Natal-RN. Using an interview screenplay adapted from risk perception researches from different brazilian cities, it was collected primarily data on the variables: perception, evaluation and choice, safety threshold, adjustment, decision and participation. Due to the studied areas characteristics the qualitative approach adjusted itself to the difficulties for accessing the areas. The studied places characterize for its insecure situation like selling/using drugs, robbery and murder among others. Due to this situation the interviewed individuals were the ones that could be found more accessibly and available in the moment and the interviews were made in the community leader presence of each area. Through the discourse of the respondents’ analysis it was able to conclude that the interviewed population is exposed to a high vulnerability grade and risks. However it was identified substantial differences between the perception and risks of Complexo Passo da Pátria and bairro Cidade Nova, because in the first area the intervied ones can recognize the high risk they are exposed to in a more emphatic way to the interviewed ones for the Cidade Nova neighborhood. Furthermore, there is a heavy dissatisfaction for the population of the two places about the city hall positions relating to the present problems in the studied areas. It was also identified the strategy development of acquaintanceship with the risk in the research places beyond a feeling of belonging and affection between the dwellers and the places, yet it was more evident for Complexo Passo da Pátria. Though this analysis it was possible to understand and perceptions and the behavior of the individuals or social groups facing the risks as acceptance and rejection of determined risks beyond adaptation measures of living together with the persistence presence of risks. Therefore, qualitative nature researches emphasizing the perception approach are in the fundamental importance in the studies about risks making it possible to offer aids to the urban planning and management in the implement of effective preventive measures and compatible with the population aims.

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LISTA DE FIGURAS CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO

Figura 01- Localização do Complexo Passo da Pátria no bairro Cidade Alta, Natal/RN... 22 Figura 02- Localização do bairro Cidade Nova... 24

CAPÍTULO 1

Figura 01- Localização do Complexo Passo da Pátria, Natal/RN... 34 Figura 02- Características do Complexo Passo da Pátria, Natal/RN. A: Passagem improvisada sobre o Canal do Baldo; B: Ausência de Saneamento no Complexo Passo da Pátria; C: Rua do Complexo Passo da Pátria; D: Canal do Baldo... 53

CAPÍTULO 2

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LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO 1

Tabela 01- Distribuição da população por sexo e idade... 37

Tabela 02- Distribuição da população por sexo e escolaridade... 37

Tabela 03- Causas das inundações... 40

Tabela 04- Responsáveis pelas inundações... 41

Tabela 05- Motivos para escolha da área... 43

Tabela 06- Motivos para deixar a área... 44

Tabela 07- Atitudes a serem tomadas em caso de prejuízos materiais ou à integridade física e saúde dos membros da família em decorrência de inundações... 45

Tabela 08- Medidas tomadas pela prefeitura para reduzir as inundações... 47

Tabela 09- Avaliação do trabalho da prefeitura e da Defesa Civil no Complexo Passo da Pátria... 48

CAPÍTULO 2 Tabela 01- Distribuição da população por sexo e idade... 61

Tabela 02- Distribuição da população por sexo e escolaridade... 61

Tabela 03- Motivos dos entrevistados pela escolha da área... 62

Tabela 04- Ações dos entrevistados para minimização dos riscos de deslizamentos de dunas... 64

Tabela 05- Responsabilidade, segundo os entrevistados, pela ocorrência dos deslizamentos de dunas... 64

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO GERAL/FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA... 12

2. CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO...21

3. METODOLOGIA GERAL... 25

REFERÊNCIAS... 27

CAPÍTULO 1- Percepção de riscos ambientais: uma análise sobre riscos de inundações em Natal-RN... 31

RESUMO... 32

ABSTRACT... 32

INTRODUÇÃO... 33

METODOLOGIA... 34

RESULTADOS E DISCUSSÃO... 36

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 49

AGRADECIMENTOS... 49

REFERÊNCIAS... 49

CAPÍTULO 2- Risco vivido e risco percebido: percepção de riscos de população exposta à deslizamentos de dunas... 54

RESUMO... 55

ABSTRACT... 55

INTRODUÇÃO... 56

MATERIAIS E MÉTODOS... 57

RESULTADOS E DISCUSSÃO... 60

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 66

AGRADECIMENTOS... 67

REFERÊNCIAS... 67

4. CONCLUSÃO GERAL... 70

ANEXOS... 71

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1. INTRODUÇÃO GERAL

Em decorrência das diversas consequências de desequilíbrios naturais provocados pela ação humana visíveis nos dias de hoje, as preocupações e discussões de cunho ambiental assumem destacáveis proporções. Essa crescente preocupação torna-se uma tentativa de resgate dos valores que compõem a relação sociedade/natureza (BERNARDES; FERREIRA, 2008). Diante do processo de reorganização pelo qual o mundo vem passando durante este início de século, torna-se de suma importância entender a essência dessa relação.

O homem sempre criou ao seu redor um ambiente próprio, adaptando o ambiente natural às suas necessidades (DIAS, 2006). Porém, a natureza da relação homem/ambiente é dialética, ou seja, ao mesmo tempo em que o homem molda o ambiente este também o molda. A partir dessa concepção o homem já passa a ser socialmente ativo, pois a relação humana com a natureza não tem apenas um sentido biológico, mas, principalmente social.

A Revolução Industrial do século XVIII trouxe um crescimento econômico, gerando riquezas, porém com grandes implicações ambientais, pois conforme Santos (1988) o espaço adquiriu características qualitativas e estruturais diferentes após a Revolução Industrial. Neste período, portanto, segundo Bernardes e Ferreira (2008), ficam evidentes as relações de troca em que a apropriação da natureza era mediada por instituições sociais. Dessa forma, os seres humanos não mais produziam apenas o necessário para sua sobrevivência imediata, mas voltavam seus esforços para o sustento de toda uma estrutura social baseado por um processo de acumulação. Todo esse processo implicou em uma nova relação com a natureza, trazendo efeitos perversos para o meio ambiente e para a humanidade (BERNARDES E FERREIRA, 2008).

É sob essa ótica, conforme Smith (1988), que o capitalismo se expande mundialmente, tornando-se a acumulação do capital uma necessidade absoluta, sendo necessário, para tanto, a dominação e apropriação sem limites da natureza. Desta forma, as relações sociais passam a basear-se nos princípios capitalistas, assim como todo o processo de produção do espaço. Além disso, os objetos espaciais refletem a natureza das relações sociais e destas com o meio ambiente. Assim o espaço adquire valor que se expressa na qualidade, quantidade e variedade de recursos naturais disponíveis. (MORAES; COSTA, 1984 citado por BERNARDES; FERREIRA, 2008).

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natureza, fazendo surgir uma “segunda natureza”. Dessa forma, o espaço acaba incorporando o conceito de produção. Nesse sentido, Godoy (2004) assinala que a produção do espaço se reflete na produção de objetos que articulam e organizam, em suas funções específicas, intercâmbios sociais que envolvem o trabalho e a produção. Assim, o espaço seria o resultado material das relações entre trabalho, sociedade e meio circundante.

Para Pereira (2001), a produção do espaço é ação cotidiana do homem e aparece na forma de ocupação de um determinado lugar em um momento histórico. Ainda segundo a autora a produção do espaço envolve, não somente uma questão ambiental, como também, um processo de produção social. Sobre isso Bernardes; Ferreira (2008), afirmam que o processo de diferenciação social precede e predetermina toda diferenciação ecológica.

A construção do espaço e toda a dinâmica social envolvida nesse processo fazem surgir o espaço urbano, necessário ao processo de produção, desenvolvimento do capitalismo e suas estruturas (LEFEBVRE, 1973). Para tanto é necessário abordar a concepção de urbanização proposta por Giddens (1989), em que afirma que o espaço não deve ser entendido apenas como o lugar ocupado por populações organizadas social, econômica e politicamente, definindo a urbanização como um processo social de maior significância na estruturação do território.

Tem-se a cidade, portanto, como o fruto do processo de desenvolvimento capitalista. De acordo com Pereira (2001), visto que o próprio capitalismo é, em sua essência, desigual, o espaço urbano torna-se o palco de desigualdades, onde é possível observar grandes disparidades como “ilhas” de riqueza e áreas urbanas desprovidas de qualquer benefício. Carlos (1994) ressalta o fato de que a cidade é reflexo, ao mesmo tempo, de um processo de produção e de uma forma de apropriação do espaço produzido, ou seja, nos padrões de uso do solo urbano, o que gera um processo de segregação espacial dentro do espaço urbano.

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urbano, conforme Pereira (2001) implica na distribuição espacial da população urbana de acordo com a disponibilidade que esta tem em arcar com os custos de uma determinada localização.

Sendo assim, a parcela da população que não pode pagar pelos elementos urbanos e serviços agregadores de valor ao solo urbano tendem a se concentrarem em áreas menos favorecidas em relação à infraestrutura urbana. Dessa forma, tem-se a procura por habitação em áreas com baixo preço da terra, o que provoca aumento das ocupações precárias, como favelas e loteamentos irregulares, em áreas sem infraestrutura e expostas a risco e degradação ambiental (ALVES et.al., 2010). Tem-se, portanto, o processo de periferização que tem fortes implicações de caráter social e ambiental. Ainda segundo estes autores a expansão das periferias significa ausência de saneamento básico, principalmente rede de esgoto, e poluição de rios e córregos, além de um forte processo de desmatamento e degradação ambiental.

Esse padrão de urbanização traz uma situação de insustentabilidade urbana caracterizada pela prevalência de um processo de expansão e ocupação dos espaços intra-urbanos, onde se encontram baixa qualidade de vida e parcela significativa da população (JACOBI, 2006). Nesse cenário surgem as desigualdades ambientais que, segundo Alves (2007), podem ser definidas como a exposição diferenciada de indivíduos e grupos sociais a amenidades e riscos ambientais. Dessa forma, “a desigualdade ambiental pode ser relacionada com outras formas de desigualdade presentes na sociedade, tais como entre raças, sexo, grupos de renda, etc. e, neste caso, os indivíduos são desiguais ambientalmente porque são desiguais de outras maneiras” (ALVES, 2007; p. 302 ).

No campo das análises socioambientais existem termos ainda imprecisos. Nesse contexto, um dos primeiros desafios é o desenvolvimento de conceitos apropriados. A falta de consenso sobre definições apropriadas tem levado muitos pesquisadores a ampliar o seu enfoque (HOGAN, 2005). O autor nos alerta, ainda, que é inevitável tomar conceitos do discurso não científico, ou até mesmo, de outras áreas, agregando significados a eles. Este é o caso de riscos e vulnerabilidades.

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humanos, estando ligados não somente à processos naturais como também a processos relativos às atividades humanas.

Nos estudos referentes a riscos é comum utilizar-se do termo hazard como sinônimo. De acordo com Souza; Zanella (2009) existe uma imprecisão quanto ao significado da palavra

hazard. Isso acontece porque não há uma palavra em português que corresponda ao verdadeiro significado da palavra. Porém, na Geografia muitos autores têm interpretado o termo como risco. Entende-se então, que hazards são eventos que se relacionam ou ocorrem em áreas ocupadas pelo homem, gerando danos, perdas e colocando em perigo estas populações. Dessa forma, hazard é um evento que ocorre na interface sociedade-natureza (WHITE, 1974).

Para Castro et.al. (2005) e Souza; Zanella (2009) o risco se refere à probabilidade de ocorrência de um fenômeno que induza a acidentes e às consequências que esses acidentes podem trazer à uma determinada população num dado local. Percebe-se, portanto, que a noção de risco está intimamente relacionada com outros conceitos como o de perigo e vulnerabilidade. Assim, Souza; Zanella (2009) explicam que o perigo se relaciona com a possibilidade ou com a ocorrência de fato de um fenômeno que traga prejuízos à uma população. Enfim, Smith (2001) esclarece que o perigo é uma ameaça potencial ao tempo em que o risco é a probabilidade da ocorrência de um perigo.

Sobre vulnerabilidade Eakin; Luers (2006) afirmam que ela é frequentemente caracterizada como uma exposição e sensibilidade de um sistema a estresses e sua capacidade de absorver ou lidar com esse estresse; podendo ela resultar de processos políticos, sociais, econômicos e ambientais, isoladamente ou em conjunto. Visto isso, entende-se que a concepção de vulnerabilidade geralmente é definida como uma situação em que estão presentes a exposição ao risco, a incapacidade de reação e a dificuldade de adaptação diante do risco (ALVES, 2006). Assim, a vulnerabilidade pode ser definida como a sobreposição entre o risco existente em um determinado lugar e as características e o grau de exposição da referida população.

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Os riscos possuem sua percepção relacionada com sua dimensão espacial e, portanto, sua classificação segue essa lógica (ALMEIDA, 2010). Conforme Marandola Jr.; Hogan (2004), o estudo dos riscos naturais ou natural hazards é tradição entre os geógrafos desde 1920. Segundo os autores, a origem destes estudos possui como marco o ano de 1927, quando o governo dos Estados Unidos solicitou ao Corpo de Engenheiros dos EUA pesquisas e proposições de medidas para solucionar o problema das inundações que afligiam tanto áreas rurais como urbanas. Estes riscos são aqueles presentidos, percebidos e suportados por um grupo social sujeito à ação de um processo físico social (VEYRET, 2007; ALMEIDA, 2010).

Surge em seguida ao desenvolvimento desses estudos os environmental hazards. Esse panorama traz a preocupação com os reflexos das dinâmicas naturais na geração de danos às populações. Aliado a isso está a concepção de que os danos são causados pela forma de ocupação do território e pela não consideração dos impactos e riscos que tal uso ou o próprio local podem gerar a si mesmas (MARANDOLA JR; HOGAN, 2004).

Há, ainda, de acordo com Beck (2010), os riscos tecnológicos que surgem em face às tecnologias contemporâneas, principalmente relacionadas ao desenvolvimento das indústrias de diversos tipos. Quando essas atividades industriais são realizadas sem a devida preocupação e responsabilidade trazem sérias implicações à saúde da população e do meio ambiente, decorrentes, principalmente de despejos de efluentes industriais, liberação de gases poluentes e outros acidentes envolvendo resíduos perigosos. Dessa forma, a industrialização e os avanços tecnológicos trazem vastas implicações para o bem-estar das pessoas e para a qualidade do meio ambiente à medida que fazem aumentar vertiginosamente a quantidade e a variedade de contaminantes químicos eliminados no meio (BECK, 2010).

Há, ainda, os riscos econômicos, geopolíticos e sociais que, segundo Veyret (2007); Almeida (2010) são os riscos que podem se traduzir em conflitos decorrentes da divisão e do acesso a determinados recursos, sejam renováveis ou não; bem como riscos originados das relações econômicas e sociais como um todo.

Dessa forma, é possível identificar uma grande variedade de riscos. Atualmente eles possuem uma maior complexidade principalmente, se levado em consideração as suas interações, cada vez mais presentes, contribuindo para a geração das vulnerabilidades de um modo geral (MARANDOLA JR.; HOGAN, 2004).

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básica dos estudos ambientais, é possível observar toda a dinâmica relacional entre os componentes ambientais e todos os conflitos gerados pela inadequada produção e ocupação do espaço urbano. As inundações são, portanto, os fenômenos mais evidentes decorrentes do povoamento de áreas impróprias de bacia hidrográfica. No entanto é necessário se fazer a distinção entre os conceitos de enchente e de inundação. O fenômeno da enchente ocorre quando há aumento do nível de água de um rio ocasionado por fortes precipitações, mas sem transbordamento do leito menor do rio. A inundação, porém, acontece quando o transbordamento d’água se dá para além do leito menor ocupando também o leito maior ou planície fluvial (ALMEIDA, 2010).

Devido à especulação imobiliária que institui diferentes preços à terra urbana desenvolve-se uma forte segregação espacial, o que contribui para a perpetuação das desigualdades sociais. Almeida (2010) esclarece que no caso das inundações, à população vítima dessas desigualdades não resta alternativa senão a ocupação de margens de rios e quaisquer espaços mais susceptíveis a fenômenos naturais. Na origem desses problemas estão uma legislação inadequada de uso do solo ou o não cumprimento da legislação já existente (CARNEIRO, et.al., 2010).

Diante de toda a problemática ambiental atual, decorrente, em grande parte, pela ação antrópica é de grande importância entender como a própria sociedade enxerga suas interferências no meio em que vivem e como entendem essa relação. O estudo da percepção ambiental pode ser, portanto o instrumento que viabiliza esse entendimento.

Para Santos et al. (2007) a palavra percepção vem de “perceber” (percebere do latim), e significa apoderar-se de, adquirir conhecimentos por meio dos sentidos, formar ideias, distinguir, notar, ver, ouvir e entender e, cada ser humano tem uma forma individual de perceber o ambiente ao seu redor.

Segundo Ferreira (2005), a percepção ambiental abrange conceitos da Psicologia, da Geografia, da Biologia e da Antropologia, entre outras ciências, com o objetivo de entender os fatores, os mecanismos e os processos que levam o homem a possuir distintos comportamentos e percepções a cerca do meio ambiente. Assim, segundo Hoeffel et.al

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percepção cognitiva. Esta percepção permite ao indivíduo novas formas de compreensão de seu entorno ao estabelecer relações com o ambiente no qual está inserido (TUAN, 1980).

A abordagem do lugar nos estudos de percepção ambiental possibilita uma análise integrada e uma melhor compreensão da relação população-ambiente. Sobre isso:

“O lugar é conceituado na dimensão da experiência perpassando as escalas

individual e coletiva, nas suas diversas esferas, e consubstanciando também as escalas espaciais de ocorrência dos fenômenos físicos, sociais e identitários. O lugar é, portanto, centro da afetividade e da razão sensível, constituindo-se no foco da

experiência humana” (MARANDOLA JR.; HOGAN, 2009; p. 167).

Sendo assim, também deve ser levada em consideração nos estudos sobre percepção ambiental, a topofilia, conceito difundido na literatura por Tuan (1980) e que significa o elo afetivo e de envolvimento entre as pessoas e o seu ambiente, constituindo-se a partir desse envolvimento, o lugar. Dessa forma, segundo Marandola Jr.; Hogan (2009), em situações em que há uma fraca aderência ou relação de afetividade entre as pessoas e o lugar as situações de vulnerabilidade podem ser potencializadas, conforme essa percepção. Para Fontenele Jr. (2004), cada lugar tem um valor relativo que o é atribuído de acordo com as experiências pessoais e individuais, formadas ao longo da vida do indivíduo, fruto da relação entre sentimentos e ideias.

A percepção ambiental, de modo geral, vem chamando a atenção para um diagnóstico mais profundo através da análise de como a comunidade interpreta o ambiente em que vive (BARRETO, 2008). A partir disso, o conhecimento sobre a percepção ambiental permite a implementação de programas e ações de caráter educativo dirigido às comunidades proporcionando uma revisão da natureza das relações dos grupos sociais envolvidos com o ambiente, provocando uma mudança de escalas de valores e atitudes dominantes na sociedade atual, viabilizando o apoio comunitário para a valorização e proteção da área (FIORI, 2006).

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De acordo com Castro (2000) citado por Souza; Zanella (2009) os primeiros estudos sobre percepção de riscos na década de 1960 do século XX indicaram que a imagem que os habitantes de lugares perigosos têm sobre a sua situação de risco e sobre as possíveis medidas de combate podem ser completamente divergentes da imagem que têm os técnicos e os políticos. Além disso, esses estudos também evidenciaram que a percepção do risco influenciam vários aspectos da vida individual e coletiva.

Porém, questões relativas à avaliação dos riscos pelos próprios moradores e às decisões que estes tomavam frente às situações de ameaça ainda geravam muitas dúvidas. Para responder à estas questões diversos profissionais de outras áreas participaram dos estudos. Dessa forma, a abordagem perceptiva no estudo dos riscos tornou-se, então, difundido, sob a responsabilidade de geógrafos como Gilbert F. White, Ian Burton e Robert W. Kates. (WHITE, 1973; CASTRO, 2000; MARANDOLA Jr.; HOGAN, 2004).

Segundo Souza; Zanella (2009), as motivações para as pesquisas sobre percepção de riscos são as mais diversas. Por exemplo:

“Procura-se compreender como diferentes indivíduos ou grupos sociais percebem os riscos e se comportam diante dele, por que alguns riscos são aceitos e outros são rejeitados, quais são as medidas adotadas pelas pessoas para que possam conviver

com o perigo e, em primeiro lugar, por que os indivíduos vivem em áreas de risco”

(SOUZA E ZANELLA, 2009; p. 40).

Também é importante salientar que a percepção sobre os riscos sofre diversas influências. Essas influências podem ser de valores (culturais, religiosos etc.) e de outras características inerentes a cada indivíduo, sem os quais não seria dotada de subjetividade.

Portanto, o estudo da percepção de riscos se mostra um instrumento de grande valia para a compreensão da relação da população com o seu local de moradia e suas formas de entender os riscos aos quais está exposta, o que pode vir a contribuir, posteriormente com a elaboração de estratégias de políticas públicas voltadas à melhoria da qualidade de vida dessa população.

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O pressuposto deste trabalho é que as populações estudadas reconhecem que estão expostas a riscos. Porém essa percepção varia de acordo com o elo de pertencimento que a população tem com o seu ambiente.

Diante do exposto, este trabalho teve por objetivos analisar a percepção ambiental de riscos de populações residentes em áreas de vulnerabilidade socioambiental; Compreender de que forma essas populações percebem os riscos a que estão expostas e quais as estratégias de enfrentamento desenvolvidas por elas. A primeira área analisada foi o Complexo Passo da Pátria com a problemática dos riscos de inundações e em seguida o bairro Cidade Nova, sujeito a riscos de deslizamentos de dunas. As áreas localizam-se, respectivamente, nas zonas oeste e leste de Natal-RN.

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2. CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO

De acordo com Medeiros (2001), o município de Natal está situado no litoral oriental do estado do Rio Grande do Norte, região nordeste brasileira, apresentando uma altitude média de 40 m em relação ao nível do mar. A cidade apresenta uma área total de 168,53 km² e coordenadas geográficas de 5º47’42” de latitude Sul e 35º12’34” de longitude Oeste (PREFEITURA DO NATAL, 2010). Segundo a classificação climática de Köppen o clima da cidade é quente e úmido (As’) com chuvas de outono-inverno e verão seco (ANDRADE, 1977). A cidade apresenta uma média diária de temperatura de 24,4ºC (NASCIMENTO, 2003). Em relação à precipitação a cidade de Natal se caracteriza por apresentar uma heterogeneidade temporal e espacial quanto ao regime pluvial, apresentando oscilações mensais de 17,5 mm e 208,5 mm com maior concentração entre os meses de abril a junho (MEDEIROS, 2001).

A geologia de toda a cidade de Natal é essencialmente formada por materiais de origem sedimentar do período cenozoico (JESUS, 2002). São representadas, principalmente pela formação Barreiras, constituindo-se de um ambiente frágil ecologicamente, porém de grande importância para a recarga de aquíferos. Situa-se, portanto, do ponto de vista hidrogeológico, sob o Sistema Aquífero Dunas/Barreiras onde as dunas exercem um papel fundamental na infiltração das águas pluviométricas (MEDEIROS, 2001). Quanto ao solo da cidade de Natal, Nunes (1996) identificou 3 tipos de solos: Areias Quartzosas Distróficas, Areias Quartzosas Distróficas Marinhas e Latossolo Vermelho-amarelo Distrófico. Em relação à hidrografia, segundo Medeiros (2001) a cidade está representada pelo estuário Potengi/Jundiaí e pelos rios Doce, Pirangi, tendo como afluente o Pitimbu e os riachos do Baldo, das Quintas, Ouro e Prata.

De acordo com Prefeitura do Natal (2010), a partir de 1994, a unidade territorial de planejamento de Natal passou a ser o bairro, por definição legal e a cada uma dessas unidades foram atribuídas características urbanísticas, segundo as suas condições ambientais, sociais, geopolíticas, econômicas, dentre outros. Dessa forma, Natal se divide em 04 regiões administrativas - Norte, Leste, Oeste e Sul - com um total de 36 bairros.

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férrea; ao Leste, com a Pedra do Rosário e, a Oeste, com a Base Naval Almirante Ary Parreira. Na figura 01 abaixo é possível visualizar a localização do Complexo Passo da Pátria dentro da cidade de Natal-RN.

Figura 01.Localização do Complexo Passo da Pátria, no bairro Cidade Alta, Natal-RN Elaboração: Henrique Roque Dantas, 2012.

O complexo Passo da Pátria engloba quadro comunidades: Pedra do Rosário, Passo, Areado e Pantanal. Segundo Nesi (1997) citado por Souza (2007), os registros mais antigos sobre o Passo da Pátria datam do final do século XVIII na região do Porto do Oitizeiro à margem direita do rio Potengi. Ao final do século XIX o porto passou a contar com uma feira semanal em que o movimento era bastante intenso e frequentado por moradores de toda a cidade. Todo esse movimento comercial favoreceu o surgimento das primeiras habitações do Passo da Pátria, no início do século XX, nos arredores da feira, mais especificamente, entre o rio Potengi e a linha férrea.

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Alecrim. Segundo os autores, com a decadência da feira e do porto, a localização do Passo da Pátria também favorecia aos moradores o acesso a outros postos de trabalho nos principais bairros comerciais de Natal, o Alecrim e Cidade Alta. A partir da década de 80 o local passou por um acelerado processo de crescimento populacional, fazendo com que as quatro comunidades (Pedra do Rosário, Passo, Areado e Pantanal) se unissem pelas moradias.

Segundo Souza (2007) essas primeiras habitações foram construídas em áreas aterradas das margens do rio Potengi constituídas por habitações irregulares que se desenvolveram com a total ausência de saneamento básico. E essa situação vigora até a atualidade sendo o principal problema socioambiental da área. De acordo com Prefeitura do Natal (2010) o Passo da Pátria é uma localidade de assentamentos precários com 535 domicílios e 2.142 habitantes.

De acordo com o Plano Municipal de Redução de Riscos do Município de Natal (2008) o Complexo Passo da Pátria é uma área em processo de resolução de risco. A classificação dos riscos do Plano de Riscos acima citado varia de 0 (sem riscos) a 5 (muito alto). O Complexo Passo da Pátria apresenta grau 3 para riscos de inundações e alagamento pluvial. O grau 3 se refere a processos destrutivos que se encontram condições potenciais de desenvolvimento, constatando-se condicionantes físicos predispostos ao risco e/ou indícios ao desenvolvimento do processo.

A segunda área de trabalho deste estudo é o bairro Cidade Nova que se insere na Zona de Adensamento Básico, estabelecida no macrozoneamento da Lei Complementar nº 082 de 21 de junho de 2007 que dispõe sobre o Plano Diretor de Natal. De acordo com a Prefeitura do Natal (2012) o bairro tem 17.651 habitantes.

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Figura 02- Localização do bairro Cidade Nova – Natal/RN Elaboração: Henrique Roque Dantas, 2012.

Faz parte do bairro Cidade Nova inúmeras dunas e a Zona de Proteção Ambiental 01 – ZPA01 regulamentada pela lei municipal nº 4.664 de 31 de julho de 1995 por ser a principal área responsável pela recarga do aquífero subterrâneo, que garante a demanda de água potável da cidade, além de proteção de flora e fauna das dunas.

(26)

3. METODOLOGIA GERAL DO ESTUDO

Para atingir ao objetivo proposto, inicialmente, elaborou-se um instrumento de coleta de dados, o roteiro de entrevista. Este foi adaptado do trabalho de Souza; Zanella (2009) que realizaram pesquisas sobre percepção de riscos ambientais nas cidades de Juiz de Fora - MG e Fortaleza - CE.

O roteiro possui uma linguagem de fácil entendimento e se estrutura da seguinte forma: a primeira parte se refere a dados pessoais do entrevistado para a identificação do perfil socioeconômico. A segunda parte se constitui de questões referentes à percepção, experiência do entrevistado com relação ao fenômeno estudado como também a identificação da percepção do sujeito quanto à causalidade e responsabilidades pelas inundações. A terceira parte do roteiro tem a finalidade de compreender a avaliação e a escolha dos moradores pelo local de moradia, considerando sua percepção sobre a realidade local. O quarto grupo de perguntas objetiva conhecer a conduta do sujeito em caso de serem atingidos por inundações, além de identificar possíveis situações indutoras de intolerância por parte dos moradores. O quinto grupo de questões se refere aos ajustamentos realizados pelos entrevistados e pela prefeitura quanto aos riscos de inundação. Por fim, o último grupo de perguntas permite avaliar como os moradores atuam e participam das problemáticas da sua comunidade.

No início desta pesquisa o objetivo era abordar a problemática dos riscos de maneira mais ampla, com realização de entrevistas a uma amostra representativa do total da população dos locais estudados. Porém, ao se iniciar o processo de visitas às áreas de estudo foram constatadas situações adversas ao desenvolvimento da pesquisa tal qual havia sido preliminarmente delimitada. As duas localidades de estudo apresentaram dificuldades de acessibilidade a pesquisadora, tendo sido fundamental a presença dos respectivos líderes comunitários para o acompanhamento da fase de entrevistas. As lideranças comunitárias facilitaram o acesso dos envolvidos com a pesquisa à área na tentativa de minimizar qualquer possível conflito causado por uma pessoa estranha à comunidade, conferindo, assim uma maior segurança a esses envolvidos. Isso porque, os locais estudados se caracterizam por situações de insegurança como assaltos, homicídios, bem como venda/uso de drogas, situação esta presenciada no momento da realização das entrevistas.

(27)

grupos estudados. Assim, os indivíduos foram escolhidos entre aqueles mais acessíveis e disponíveis dentro do contexto já citado e que, conforme cita Mayan (2001) ao explicar como conseguir os sujeitos participantes da pesquisa qualitativa, pudessem dar melhores informações referentes ao objeto de estudo. No Complexo Passo da Pátria as entrevistas foram realizadas no período de fevereiro a março de 2012, enquanto que no bairro Cidade Nova realizou-se essa fase entre agosto e novembro de 2012.

Sendo assim, a quantidade de entrevistados atende aos princípios da pesquisa qualitativa que, segundo Minayo (1999) aborda dados não mensuráveis e não se preocupa com a generalização dos resultados. Portanto, os resultados obtidos são válidos para os grupos de entrevistados.

As entrevistas foram realizadas com a utilização de gravador de voz. Os dados das entrevistas foram tabulados manualmente e efetuada a transcrição das falas de todos os entrevistados para a realização da análise de conteúdo por meio da análise temática ou categórica. Segundo Bardin (2006), esta análise consiste na decomposição dos textos em unidades seguindo-se de suas classificações por agrupamento.

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(32)

ARTIGO 1 – Percepção de riscos ambientais: uma análise sobre riscos de inundações em Natal-RN

(33)

* Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Centro de Biociências – Campus Universitário, Lagoa Nova –

Natal-RN, Brasil. CEP 59.072-970. E-mail: juliana.ibiapina@hotmail.com.

** Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Centro de Biociências – Campus Universitário, Lagoa Nova

– Natal-RN, Brasil. CEP 59.072-970. E-mail: magdialoufal@gmail.com.

PERCEPÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS: UMA ANÁLISE SOBRE RISCOS DE INUNDAÇÕES EM NATAL-RN, BRASIL

PERCEPCIÓN DEL RIESGO AMBIENTAL: UN ANÁLISIS DE RIESGO DE INUNDACIONES EN NATAL-RN, BRASIL

Juliana da Silva Ibiapina Cavalcante* Magdi Ahmed Ibrahim Aloufa**

RESUMO

A noção de risco rodeia a sociedade em seus diversos âmbitos e se refere à probabilidade de ocorrência de um fenômeno que induza a acidentes trazendo consequências à população de um dado local. Nessa problemática o processo de urbanização no Brasil tem se caracterizado por problemas recorrentes que envolvem situações de riscos. Dessa forma, no espaço urbano, as inundações estão entre os problemas que mais trazem prejuízos humanos e materiais. Este estudo objetivou, portanto, realizar uma análise da percepção de riscos do Complexo Passo da Pátria, zona oeste da cidade de Natal-RN. Para tanto foram coletados dados primários através da realização de entrevistas. Através da análise do discurso dos entrevistados pôde-se concluir que a população do Complexo Passo da Pátria está exposta a um alto grau de vulnerabilidade e riscos, haja vista a recorrência dos episódios de inundações na localidade. Além disso, há uma grande insatisfação da população quanto ao posicionamento da prefeitura em relação aos problemas da localidade. Através dessa análise foi possível compreender a percepção e o comportamento de indivíduos ou grupos sociais diante dos riscos, como aceitação e rejeição de determinados riscos, além de medidas de adaptação e convivência com a presença constante de riscos.

Palavras-chave: inundações, riscos, vulnerabilidade, percepção. RESUMÉN

La noción de riesgo a la sociedad en sus diversos âmbitos y se refiere a la probabilidad de la aparición de un fenómeno que induzca a accidentes traendo consecuencias población en un local determinado. Dentro de esta problemática el proceso de urbanización en el Brasil se ha caracterizado por problemas provenientes que envuelven situaciones de riesgo. De esta forma, dentro del espacio urbano, las inundaciones están entre los problemas que más traen pérdidas humanas y materiales. Este estudio centralizó, por lo tanto, a realizar un análisis de percepción de riesgos de la comunidad “Paso de la Patria”, zona oeste de la ciudad de Natal/RN. Para esto fueron recolectados datos primarios mediante la aplicación de cuestionario. A través de este estudio se puede concluir que la población de la comunidad “Paso de la Patria” está expuesta a un alto grado de vulnerabilidad y riesgo. Aparte de eso, hay una grande insatisfacción de la población con relación al posicionamiento de la Alcaldia. Mediante este análisis fue posible comprender la percepción y el comportamiento de los individuos ó grupos sociales delante de los riesgos, como aceptación y rechazo de determinados riesgos, más allá de las medidas de adaptación y convivencia con los riesgos.

Palabras clave: inundaciones, riesgos, vulnerabilidad, percepción.

(34)

INTRODUÇÃO

Em decorrência do processo desordenado de urbanização é notável a existência de

inúmeros problemas que contribuem para um cenário de insustentabilidade urbana. Dessa

forma, é possível visualizar situações de desigualdades ambientais em que se pode verificar a

exposição diferenciada de indivíduos e grupos sociais a amenidades e riscos ambientais

(ALVES, 2007:302)

Colabora para esta situação “a especulação imobiliária, os diferentes preços da terra

urbana e as desigualdades sociais” (ALMEIDA, 2010:132). Dessa forma, tem-se a procura

por habitação em áreas com baixo preço da terra, o que provoca aumento das ocupações

precárias, como favelas e loteamentos irregulares, em áreas sem infraestrutura e expostas a

risco e degradação ambiental (ALVES et.al., 2010:143).

Isto posto, é de grande importância entender como os grupos populacionais expostos à

vulnerabilidades e riscos ambientais interpretam o meio em que vivem. De acordo com

Veyret (2007), o risco não existe sem um indivíduo ou população que o perceba e que possa

sofrer seus danos. Portanto, através de estudos de percepção de riscos é possível compreender

como uma determinada população percebe e se comporta diante dos riscos, aceitando e/ou

rejeitando determinados riscos, além de entender porque esses indivíduos vivem em áreas de

risco (SOUZA; ZANELLA, 2009).

Nesse sentido, assim como a maioria das cidades brasileiras, a cidade de Natal-RN

sofreu um processo de urbanização desordenado, apresentando, então, diversas situações de

riscos e vulnerabilidades; contendo, inclusive, 74 áreas de risco, de acordo com o Plano

Municipal de Redução de Riscos do Município de Natal (2008). O complexo Passo da Pátria

zona leste de Natal-RN, portanto, mostra uma situação preocupante por constituir-se de

habitações irregulares que se desenvolveram com a total ausência de saneamento básico,

(35)

disso, a área do complexo Passo da Pátria localiza-se às margens do rio Potengi e, em eventos

de grandes precipitações parte da localidade fica comprometida pela ocorrência de

inundações. Visto isso, a Lei Municipal Complementar nº 44 de 2002, define o complexo

Passo da Pátria como Área Especial de Interesse Social (AEIS), definição utilizada para

designar moradias geralmente situadas em áreas de risco e que apresentam ausência de

serviços públicos essenciais.

Diante do exposto, o objetivo deste trabalho é analisar a percepção da população do

Complexo Passo da Pátria sobre os riscos de inundações da localidade, identificando, entre

outras, as causas e as responsabilidades atribuídas pelos entrevistados.

METODOLOGIA A- Área de Estudo

A área de estudo deste trabalho é o complexo Passo da Pátria (figura 01), situado no

bairro Cidade Alta, zona leste da cidade de Natal. O complexo Passo da Pátria engloba quatro

comunidades: Pedra do Rosário, Passo, Areado e Pantanal.

(36)

Segundo Souza (2007) as primeiras habitações da comunidade foram construídas em

áreas aterradas das margens do rio Potengi e se desenvolveram com a total ausência de

saneamento básico. E essa situação vigora até a atualidade sendo o principal problema

socioambiental da área. O Complexo Passo da Pátria é denominado como uma localidade de

assentamentos precários e conta com 535 domicílios e 2.142 habitantes de acordo com Natal

(2010).

B- Procedimentos metodológicos

Utilizou-se como instrumento de coleta de dados um roteiro de entrevista adaptado de

Souza; Zanella (2009) sobre percepção de riscos ambientais nas cidades de Juiz de Fora - MG

e Fortaleza – CE.

O roteiro de entrevistas é constituído de questões relativas à: identificação do perfil

socioeconômico, para percepção e experiência do entrevistado com o fenômeno estudado,

identificação da percepção do sujeito quanto à causalidade e responsabilidades pelas

inundações, avaliação e a escolha dos moradores pelo local de moradia, ajustamentos

realizados pelos entrevistados e pela prefeitura quanto aos riscos de inundação e atuação e

participação dos moradores nas problemáticas da comunidade.

No início desta pesquisa o objetivo era abordar a problemática dos riscos de maneira

mais ampla, com realização de entrevistas a uma amostra representativa do total da população

do Complexo Passo da Pátria. Porém, ao se iniciar o processo de visitas ao local de estudo

foram constatadas situações adversas ao desenvolvimento da pesquisa tal qual havia sido

preliminarmente delimitada. O local apresentou dificuldades de acessibilidade a pesquisadora,

tendo sido fundamental a presença do líder comunitário para o acompanhamento da fase de

entrevistas. A liderança comunitária facilitou o acesso dos envolvidos com a pesquisa à área

na tentativa de minimizar qualquer possível conflito causado por uma pessoa estranha à

(37)

estudado se caracteriza por situações de insegurança como assaltos, homicídios, bem como

venda/uso de drogas, situação esta presenciada no momento da realização das entrevistas.

Em decorrência dessas dificuldades, entre outras, optou-se por realizar um número

menor de entrevistas para minimizar a exposição da pesquisadora a tais situações. Dessa

forma, foram realizadas 20 entrevistas, quantidade essa que nos permitiu extrair as

informações necessárias ao entendimento do fenômeno de interesse no grupo estudado.

Assim, os indivíduos foram escolhidos entre aqueles mais acessíveis e disponíveis dentro do

contexto já citado e que, conforme cita Mayan (2001) ao explicar como conseguir os sujeitos

participantes da pesquisa qualitativa, pudessem dar melhores informações referentes ao objeto

de estudo. No Complexo Passo da Pátria as entrevistas foram realizadas no período de

fevereiro a março de 2012. Sendo assim, a quantidade de entrevistados atende aos princípios

da pesquisa qualitativa que, segundo Minayo (1999) aborda dados não mensuráveis e não se

preocupa com a generalização dos resultados. Portanto, os resultados obtidos são válidos para

os grupos de entrevistados.

As entrevistas foram realizadas com a utilização de gravador de voz. Posteriormente,

todas as entrevistas foram transcritas para se efetuar a análise de conteúdo que se deu através

da análise temática ou categórica. Esta análise foi descrita por Bardin (2006) como a

decomposição dos textos em unidades de análise seguindo-se de suas classificações por

agrupamento ou categorização, estabelecendo-se relações entre as unidades rumo ao

entendimento do todo e, finalmente, chegando-se à compreensão do conteúdo das falas dos

entrevistados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O grupo alvo da pesquisa foi composto de 20 pessoas, residentes do Complexo Passo

(38)

A média de idade dos entrevistados é de 37 anos. A faixa etária com maior número de pessoas

é a faixa dos 27 a 35 anos de idade com o correspondente a metade dos entrevistados. A

tabela 01 abaixo mostra a distribuição dos sujeitos por sexo e por idade:

Tabela 01 – Distribuição da população por sexo e idade

SEXO

IDADE (Anos)

18 a 26 anos 27 a 35 anos 36 a 44 anos 45 a 54 anos Mais de 55 anos TOTAL

Masculino - 7 1 3 - 11

Feminino 2 3 1 2 1 9

TOTAL 2 10 2 5 1 20

Na tabela 02 a seguir encontra-se a distribuição da população por sexo e escolaridade.

Tabela 02 – Distribuição da população por sexo e escolaridade

SEXO

GRAU DE ESCOLARIDADE

Nenhum Fund.

incompleto

Fund. completo

Médio incompleto

Médio completo

TOTAL

Masculino 1 6 3 - 1 11

Feminino 1 3 2 1 2 9

TOTAL 2 9 5 1 3 20

É possível observar que as pessoas sem nenhum grau de alfabetização juntamente com

aqueles que possuem o ensino fundamental incompleto representam mais da metade dos

entrevistados, o que indica um baixo nível de escolaridade. Para Torres et.al. (2003) essa baixa escolaridade implica em dificuldades de acesso a bons empregos, deixando-os na

informalidade e no desemprego. Entre esse grupo de baixa escolaridade (analfabeto e

fundamental incompleto) tem-se uma maioria de homens. Porém, entre os que tiverem mais

tempo de estudo tem-se, proporcionalmente, uma maioria feminina. Esse resultado deve-se ao

fato de os homens, como chefes de família, sentirem-se na obrigação de ter um emprego para

sustentar sua família, o que leva a esses indivíduos abandonar os estudos. Além disso,

Lavinas (1996) afirma que os homens trabalham, em sua maioria, em tempo integral o que

(39)

Em relação aos rendimentos familiares tem-se que a maior parte dos entrevistados, o

que corresponde à 14 moradores, possui renda familiar de até 01 salário mínimo, 06 possuem

renda de até 02 salários mínimos e nenhuma família apresentou renda superior a 02 salários

mínimos. Com essa renda as famílias precisam sustentar uma média de 04 pessoas por

família. Para Torres et.al (2003) essa renda torna-se insuficiente para a quantidade de pessoas

que dependem dela para a sobrevivência, pois um alto número de pessoas por domicílio

significa que mais pessoas necessitam partilhar os recursos comuns, trazendo consequências

para a saúde, nutrição e educação. A baixa renda é um fator importante nas questões

referentes à exposição dessa população às condições de risco ambiental. Isso porque, para

Torres (2000), as áreas de risco ambiental, muitas vezes, são as únicas acessíveis às

populações de baixa renda.

De acordo com esses resultados, pode-se afirmar que os baixos índices apresentados

em termos de renda e escolaridade contribuem para as situações de vulnerabilidade

socioambiental a que estas pessoas estão expostas. Sobre isso, Alves; Torres (2006) afirmam

que essas áreas podem ser denominadas de “favelas em áreas de risco” que se caracteriza

como grupos populacionais particularmente marginalizados que seriam também afetados pelo

risco ambiental. Nesse sentido, para Alves (2007), assim como a renda e o acesso aos serviços

públicos os riscos ambientais também são distribuídos desigualmente entre os grupos sociais.

Dessa forma, a exposição aos riscos evidencia uma situação de desigualdade ambiental

originada por uma desigualdade social uma vez que os grupos sociais diversos possuem

acesso diferenciado aos bens de qualidade ambiental. Alves (2007) também já evidenciou que

em regiões pobres, onde a renda da maioria das famílias é de até 01 salário mínimo, a

proporção de pessoas vivendo em áreas de risco é bem maior que em regiões de classe média

(40)

Com relação ao tempo de moradia da população entrevistada foi possível constatar que

14 entrevistados já se encontram residindo na área há mais de 20 anos e, apenas 06 famílias

encontram-se na localidade há menos de 05 anos. Sobre isso, Giddens (2002) citado por Ribas

et.al. (2010) afirmam que o tempo de residência num dado local é um importante fator para a formação de uma identidade da população com o lugar. Além disso, todos os entrevistados

afirmaram que suas moradias são próprias. Isso se deve ao fato de os moradores terem

recebido definitivamente a posse de suas residências devido ao Projeto de Urbanização

realizado pela prefeitura em 2002. Segundo Souza (2007), nesse projeto foi realizada a

regularização fundiária e construção de diversas unidades habitacionais, legalizando, assim, as

ocupações.

PERCEPÇÃO

Inicialmente os entrevistados foram questionados quanto à sua experiência com os

eventos de inundações no Complexo Passo da Pátria. Foi constatado que 15 dos 20

entrevistados já tiveram suas casas atingidas por inundações e, 16 pessoas reconheceram

haver possibilidade de suas casas serem atingidas em um futuro evento de inundação. Esses

resultados podem evidenciar que este grupo sente-se vulnerável aos riscos de inundações.

Acserald (2006) reafirma essa situação ao dizer que a vulnerabilidade está normalmente

associada à exposição aos riscos e a maior ou menor suscetibilidade a eles, quer seja de

pessoas, lugares ou infraestruturas. Isso porque, para Jacobi (2006), territórios como a

comunidade Passo da Pátria são áreas irregulares que ficam excluídas do acesso aos serviços e

investimentos públicos. Assim, o conjunto dos problemas socioambientais desses espaços

acaba sendo resultado da precariedade dos serviços, da omissão do poder público e do

(41)

Outro questionamento relaciona-se às causas das inundações na localidade de estudo

apontadas pelos entrevistados. Identificaram-se quatro unidades de contexto, a saber: naturais,

políticas, infraestruturais e antrópicas, de acordo com a tabela 03 abaixo:

Tabela 03 – Causas das inundações

UNIDADES DE CONTEXTO

SUBUNIDADES

DE CONTEXTO CITAÇÕES

Natural

Maré cheia Quando a maré tá cheia ela entra pra cá. Chuva

Duas horas de chuva grossa é o suficiente pra acabar com tudo aqui.

Quando chove aqui inunda tudo.

Política

Trabalho inacabado A prefeitura disse que ia tampar o bueirão e não tampou. Projeto de

urbanização Foi depois desse projeto de urbanização que teve aqui.

Infraestrutura

Bueiro

Mexeram no bueiro aí, estourou os canos aí, pronto, a chuva que deu a pressão, entrou água aqui num bocado

de casa.

Esgoto São os esgotos entupidos. Tubulação A tubulação mal feita.

Canal É esse canal aí que atrapalha muito. Galeria Essa galeria aí que tá com mais de ano entupida.

Valas Essa vala entupida, esgoto entupido nas casas. Canos A chuva deu pressão, os canos estourou e entrou água aqui num bocado de casa. Córrego Primeiro esse córrego aí que é mal feito. Antrópica Lixo Porque o povo joga lixo e a prefeitura disse que ia

tampar o bueirão e não tampou. Povo

Através dessas respostas percebe-se que, embora tenha se identificado diferentes

subunidades de contexto, muitas delas acabam sendo sinônimos. E como constatado em

outros estudos, como no trabalho de Souza; Zanella (2009) sobre percepção de riscos de

inundação realizado em Fortaleza – Ceará é possível observar também, que alguns

entrevistados já conseguem perceber sua própria interferência nos eventos de inundações no

Complexo, ao reconhecer que a própria população acaba destinando seus resíduos

inadequadamente, deixando-os nas ruas, contribuindo, assim, para o entupimento das galerias

e agravamento dos episódios de inundações. Além disso, como afirma Alves; Torres (2006) é

Imagem

Figura 01. Localização do Complexo Passo da Pátria, no bairro Cidade Alta, Natal-RN  Elaboração: Henrique Roque Dantas, 2012
Figura 02- Localização do bairro Cidade Nova  – Natal/RN  Elaboração: Henrique Roque Dantas, 2012
Figura 01  – Localização do Complexo Passo da Pátria, Natal-RN  Elaboração: Henrique Dantas
tabela 01 abaixo mostra a distribuição dos sujeitos por sexo e por idade:
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Referências

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