357
Respostas de Freqüência Cardíaca, Consumo
de Oxigênio e Sensação Subjetiva ao
Esforço em um Exercício de Hidroginástica
Executado por Mulheres em Diferentes
Situações Com e Sem o Equipamento
Aquafins
Heart Rate, Oxygen Consumption and Rating of Perceived Exertion Responses
in a Water Aerobic Exercise Performed by Women at Different Situations
with and without the Aquafins Apparatus
ARTIGO ORIGINAL
RESUMO
As aulas de hidroginástica estão cada vez mais diversificadas com o uso de materiais apropriados ao meio aquático. Entretanto, poucos estudos verificaram a influência da utilização de tais materiais nas respostas cardiorrespiratórias. O objetivo foi analisar as respostas de freqüência cardíaca, consumo de oxigênio e sen-sação subjetiva ao esforço em mulheres durante a execução de um exercício de hidroginástica em diferentes situações com e sem o equipamento resistivo Aquafins. Onze mulheres realizaram o exercício deslize frontal com a flexão e extensão horizontal de ombros em quatro situações: sem equipamento resistivo (S-FINS),
com Aquafins nos membros inferiores (FINS-MIs), com Aquafinsnos membros superiores (FINS-MSs) e com
Aquafins nos membros superiores e inferiores (FINS-MIs/MSs). Em todas as situações foi verificado a FC, o VO2
e a SSE. Utilizou-se ANOVA para medidas repetidas, com post-hoc de Bonferroni (p < 0,05). A FC foi significati-vamente mais elevada nas situações FINS-MIs/MSs (159 ± 12bpm) e FINS-MIs (147 ± 18bpm), comparando-as com as demais situações. No entanto, a situação FINS-MIs apresentou FCsimilar à FINS-MSs (148 ± 16 bpm). Por sua vez, as três situações com o Aquafinsforam diferentes da situação S-FINS (131 ± 14bpm). Para o VO2 houve diferença significativa entre a situação FINS-MIs/MSs (22,77 ± 3,58ml.kg-1.min-1), comparando-a com as
demais. As situações FINS-MSs (19,67 ± 4,29ml.kg-1.min-1) e FINS-MIs (20,38 ± 3,99ml.kg-1.min-1) apresentaram
VO2 significativamente maior que S-FINS (15,18 ± 4,67ml.kg-1.min-1). A SSE foi significativamente maior na
situação FINS-MIs/MSs (16 ± 1,55), comparando-a com FINS-MIs (14 ± 0,9) e S-FINS (13 ± 1,29), entretanto, não foi diferente da FINS-MSs (14 ± 1,57). Portanto, a utilização de equipamentos que promovam resistência ao movimento na hidroginástica é indicada para melhorias no sistema cardiorrespiratório.
Palavras-chave: freqüência cardíaca, consumo de oxigênio, esforço percebido, equipamento resistivo.
ABSTRACT
Aquatic exercise sessions are becoming increasingly diversified due to the use of apparatus appropriate to aquatic environment. However, few studies analyzed the influence of the use of such apparatus in the car-diorespiratory responses. The purpose was to analyze the heart rate, oxygen consumption and the rating of perceived exertion of effort in women during an aquatic exercise performed in different situations with and without resistive equipment, Aquafins. Eleven women performed the cross country skiing exercise with hori-zontal shoulder flexion and extension in four situations: without resistive equipment (NO-FINS), with Aquafins
on the lower limbs (FINS-LLs), with Aquafins on the upper limbs (FINS-ULs) and with Aquafins on the lower and upper limbs (FINS-LLs/ULs). In each situation HR, VO2 and SSE were verified. For data analysis, ANOVA for repeated measures were used, with the Bonferroni post-hoc test (p < 0.05). When compared to the other situa-tions, HR was significantly higher with the FINS-LLs/ULs (159 ± 12 bpm) and FINS-LLs (147 ± 18 bpm). However, the FINS-LLs situation exhibited a similar HR to that of FINS-ULs (148 ± 16 bpm). In turn, the three situations with
Aquafins were different from the NO-FINS (131 ± 14 bpm) situation. In the case of VO2, there was a significant
difference between the FINS-LLs/ULs (22.77 ± 3.58 ml.kg-1.min-1) situation and the other situations. The FINS-ULs
(19.67 ± 4.29 ml.kg-1.min-1) and FINS-LLs (20.38 ± 3.99 ml.kg-1.min-1) situations exhibited significantly higher VO 2
levels than NO-FINS (15.18 ± 4.67 ml.kg-1.min-1). The RPE was significantly greater in the FINS-LLs/ULs (16 ± 1.55)
situation when compared to FINS-LLs (14 ± 0.9) and NO-FINS (13±1.29), though there was no difference from the FINS-ULs (14 ± 1.57) situation. Therefore, the use of equipments that promote resistence to the movement in aquatic exercise is recommended to improvement in the cardiorespiratory system.
Keywords: heart rate, oxygen consumption, perceived exertion, resistive apparatus. Stephanie Santana Pinto
Cristine Lima Alberton Paulo André Poli de Figueiredo Carlos Leandro Tiggemann Luiz Fernando Martins Kruel
Grupo de Pesquisa em Atividades Aquáticas e Terrestres, Escola de Educação Física
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.
Endereço para correspondência:
Stephanie Santana Pinto Laboratório de Pesquisa do Exercício, sala 208 Rua Felizardo, 750 – Jardim Botânico
90690-200 – Porto Alegre, RS, Brasil E-mail: tetisantana@yahoo.com.br
358
INTRODUÇÃO
Os exercícios físicos realizados no meio aquático na posição vertical, como a hidroginástica, estão sendo cada vez mais indicados devido aos seus diversos benefícios à saúde(1-2). Essa modalidade pode promover
melhoria nos diversos componentes da aptidão física, como força(3-6),
flexibilidade(5,7), composição corporal(5) e condicionamento
cardior-respiratório(5,8-9), quando prescrita adequadamente para tais objetivos.
Além disso, exercícios realizados na água apresentam reduzido impacto comparado com o meio terrestre(2,10) e comportamento de freqüência
cardíaca e pressão arterial mais baixos(11-12).
Os benefícios que um programa de exercícios realizado no meio aquático proporciona no condicionamento geral do corpo estão re-lacionados com as propriedades físicas da água. Podemos destacar, dentre essas propriedades, a resistência ao avanço (R), que pode ser expressa como R = 0,5 *ρ*A *v2
*Cd, onde, ρ é a densidade do fluido,
A é a área de superfície projetada, v é a velocidade do movimento e
Cd é o coeficiente de arrasto(13). Nas modalidades realizadas no meio
aquático, podem-se utilizar exercícios que proporcionam maior resis-tência ao avanço, com conseqüente incremento de intensidade dos mesmos, através do aumento da velocidade de execução e/ou através da alteração da área projetada, que pode ser modificada pela utilização do corpo de diferentes formas na água e também pela execução de exercícios com o uso de equipamentos que promovam resistência ao movimento(14).
As aulas de hidroginástica estão cada vez mais diversificadas com o uso de diferentes materiais apropriados ao meio aquático. Entretanto, existem poucos estudos verificando a influência da utilização de tais materiais nos parâmetros fisiológicos. No que se refere à utilização de equipamentos resistivos, alguns estudos analisaram os efeitos de treinamento de força no meio aquático com grupos treinando com e sem equipamento(6). Os resultados mostraram que houve incremento
de força similar em ambos os grupos. Resultados semelhantes são encontrados com estudos analisando a atividade eletromiográfica de determinados músculos em movimentos específicos com e sem o equipamento resistivo, demonstrando também uma mesma ativação muscular para os movimentos executados com e sem o equipamento resistivo na velocidade máxima de execução(15).
Na literatura pesquisada foi encontrado apenas um estudo relacio-nando dois exercícios de hidroginástica executados com e sem o uso de diferentes equipamentos resistivos nos membros inferiores e suas respectivas respostas cardiorrespiratórias(16). Os resultados mostraram
que houve aumento significativo no consumo de oxigênio (VO2) com o uso de ambos os equipamentos resistivos para um dos exercícios analisados. Já o comportamento da freqüência cardíaca (FC) foi signi-ficativamente mais elevado com o uso dos equipamentos resistivos para os dois exercícios comparados com a situação sem equipamento. Ainda é importante salientar que, ao compararem a utilização do equi-pamento Aquafinse Aqualogger,houve diferença entre eles apenas para a FC em ambos os exercícios. Entretanto, nesse estudo de Pinto
et al.(16) não foram analisados os efeitos da utilização de equipamentos
nos membros superiores nas respostas cardiorrespiratórias quando comparados aos membros inferiores e também não foi verificada a sensação subjetiva ao esforço.
Com relação à execução de exercícios aeróbicos utilizando movi-mentos combinados de membros superiores e inferiores, a literatura demonstra não existir uma relação linear entre a FC e o VO2, tanto no meio aquático como no terrestre(1,17). Isso pode ser explicado pelo fato
de o exercício com os membros superiores produzir aumento da freqü-ência cardíaca através de ativação simpática no sistema cardiovascular, enquanto que o VO2 não sofre a mesma alteração durante a execução
do mesmo exercício em uma mesma intensidade(18). Partindo desse
pressuposto, a realização de exercícios aquáticos com a utilização de equipamentos nos membros superiores, nos membros inferiores ou em ambos poderia resultar em respostas distintas.
Portanto, o objetivo do presente estudo foi analisar as alterações nas respostas de freqüência cardíaca (FC), consumo de oxigênio (VO2) e sensação subjetiva ao esforço (SSE) em mulheres durante a execução de um exercício de hidroginástica em diferentes situações com e sem o equipamento resistivo Aquafins. A hipótese dos autores é de que as variáveis analisadas apresentarão comportamento diferente entre as quatro situações de utilização ou não de equipamento.
METODOLOGIA
A amostra deste estudo foi composta por 11 mulheres jovens ambientadas ao meio líquido, com idade entre 19 e 26 anos. Todas realizavam a prática regular de aulas de hidroginástica de duas a três vezes por semana. A seleção da amostra foi realizada através de convite verbal para os alunos do Centro Natatório da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. As voluntárias assinaram um termo de consentimento informado, no qual constavam todas as informações pertinentes ao estudo. Como critérios de inclusão foram adotados: isenção de problemas ostearticulares, não estar tomando medicação, ser familiarizada com o meio líquido e praticar hidroginás-tica por no mínimo um ano.
Na primeira sessão de avaliação, foram obtidas as medidas de massa corporal e estatura, em uma balança de alavanca Filizola, com estadiômetro acoplado, e um teste de esforço máximo, em uma es-teira 10200 ATL, da marca Inbramed (Porto Alegre, Brasil). O protocolo usado para determinação do VO2 de pico (VO2pico) foi em rampa, com velocidade inicial de 5km.h-1 e incrementos de 1km.h-1 a cada minuto,
com elevação fixa em 1%.
A seguir foi realizada uma sessão de testes aquáticos no Centro Natatório da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Nessa sessão, os indivíduos realizaram o exercí-cio deslize frontal combinado com a flexão e extensão horizontal de ombros (DF-FE), conforme figura 1. Esse exercício foi realizado na ca-dência de 60bpm, que foi reproduzida por um metrônomo modelo Matrix MR-500 da marca Quartz, durante quatro minutos, nas seguin-tes situações (figura 2): sem o uso de equipamento resistivo (S-FINS), com o uso do equipamento resistivo Aquafins nos membros supe-riores (FINS-MSs), com o uso do equipamento resistivo Aquafins nos membros inferiores (FINS-MIs) e com o uso do equipamento
359
vo Aquafins nos membros superiores e inferiores simultaneamente
(FINS-MSs/MIs). O equipamento Aquafins foi escolhido pelo fato de proporcionar grande resistência na água e ser de fácil utilização, de-vido ao seu material e design que permitem seu uso nos membros superiores e inferiores.
As situações foram randomizadas através do método do quadra-do latino(19) e respeitaram intervalos de 20 minutos. O equipamento
Aquafinsnos membros inferiores foi cuidadosamente localizado 3cm
acima do maléolo medial, com as abas posicionadas no plano fron-tal, proporcionando resistência aos movimentos ântero-posteriores durante o exercício deslize frontal. Já nos membros superiores, os in-divíduos seguravam o equipamento na palma das mãos com as abas posicionadas com intuito de proporcionar resistência aos movimentos contralaterais durante o exercício de flexão e extensão horizontal de ombros.
Em ambas as sessões de testes, para a verificação da freqüência cardíaca (FC) foi utilizado um freqüencímetro S610, da marca Polar
(Kajaani, Finlândia) e, para a verificação do consumo de oxigênio (VO2), foi utilizado um analisador de gases portátil KB1-C, da marca
Aerosport (Ann Arbor, EUA)(16). Antes do início do procedimento da
coleta de dados foi realizada calibração com gases específicos; cali-bração automática também foi realizada antes de cada situação. Os critérios estabelecidos para a coleta desses dados foram: alimentar-se no período de 3 a 4h antes do início da sessão de testes, sem a in-gestão de estimulantes, e evitar a prática de atividades físicas intensas durante as últimas 24h(20). Os valores dessas variáveis foram obtidos a
cada 20 segundos.
Para análise desses dados, utilizou-se a média dos valores coletados entre o terceiro e o quarto minuto da execução do exercício em cada situação, correspondente à FC e ao VO2 em steady state(21). Além disso,
foi calculado o percentual do VO2pico (%VO2pico) nas diferentes situações através do valor de referência do VO2pico obtido no teste máximo.
Por fim, a verificação da sensação subjetiva ao esforço (SSE) geral, que pode ser definida como um esforço percebido que está intima-mente relacionado com as respostas do sistema musculoesquelético, cardiovascular e pulmonar, foi realizada através da escala RPE de Borg. Essa escala apresenta os níveis de 6 a 20, sendo que 6 significa “sem nenhum esforço” e 20, “máximo esforço”. A SSE local, dividida em
mem-bros superiores e inferiores, corresponde à percepção de esforço nos grupos musculares solicitados no exercício executado, e também foi verificada através da escala citada anteriormente. Os sujeitos indicavam sua estimativa de esforço, tanto geral como local, ao final do exercício em cada uma das situações.
Os testes foram realizados em uma piscina com profundidade entre 1,10 e 1,40m. Isso permitia que a profundidade de imersão ficasse entre o processo xifóide e ombros. A temperatura da água foi mantida entre 32 e 33°C. Essas variáveis foram controladas para evitar sua influência nas respostas fisiológicas(22-23).
Para a análise dos dados coletados foi utilizada estatística descritiva (média ± desvio-padrão). Verificou-se a normalidade dos dados através do teste de Shapiro-Wilk. Para análise das variáveis dependentes entre as diferentes situações foi utilizado ANOVA para medidas repetidas, com o teste post-hoc de Bonferroni. O nível de significância adotado neste estudo foi p < 0,05. Todos os dados foram processados no programa estatístico SPSS versão 13.0.
RESULTADOS
Para a amostra do presente estudo foram avaliadas 11 mulheres jovens voluntárias, ambientadas ao meio líquido, com as características apresentadas na tabela 1.
Figura 2. Execução do exercício deslize frontal combinado com a flexão e extensão horizontal de ombros nas diferentes situações: sem equipamento resistivo (S-FINS), com equipamento Aquafinsnos membros superiores (FINS-MSs), com equipamento Aquafinsnos membros inferiores (FINS-MIs) e com o equipamento Aquafins nos membros superiores e inferiores (FINS-MIs/MSs).
Tabela 1. Caracterização da amostra com valores de idade, massa, estatura e consumo de oxigênio de pico (VO2pico) como média e desvio-padrão (DP).
N = 11 MÉDIA DP
Idade (anos) 22,0 ±2,0
Massa (kg) 58,3 ±6,5
Estatura (cm) 163,4 ±7,0
VO2pico (ml.kg-1.min-1) 41,1 ±2,8
Os resultados da FC, do VO2 e do %VO2pico entre as diferentes
si-tuações, no exercício DF-FE são apresentados na tabela 2. O com-portamento da FC foi significativamente mais elevado nas situações FINS-MIs/MSs e FINS-MIs, comparando-as com as demais situações. A situação FINS-MIs também apresentou comportamento de FC seme-lhante ao da FINS-MSs. Por sua vez, as três situações com o Aquafins
foram diferentes da situação S-FINS. Para o VO2 e %VO2pico houve
dife-rença significativa entre a situação FINS-MIs/MSs, comparando-a com as demais. As situações FINS-MSs e FINS-MIs apresentaram comporta-mento semelhante de VO2 e %VO2pico, que foi significativamente mais
elevado que S-FINS.
Tabela 2. Valores de freqüência cardíaca (FC), consumo de oxigênio (VO2) e percentual
do consumo de oxigênio de pico (%VO2pico) nas situações sem equipamento
resisti-vo (S-FINS), com equipamento Aquafinsnos membros superiores (FINS-MSs), com equipamento Aquafinsnos membros inferiores (FINS-MIs) e com o equipamento Aquafins nos membros superiores e inferiores (FINS-MIs/MSs).
Situação
FC (bpm) VO2 (ml.kg-1.min-1) %VO2pico (%)
Média DP Média DP Média DP
S-FINS 131a ±14 15,18a ±4,67 36,95a ±11,35
FINS-MSs 148b ±16 19,67b ±4,29 47,97b ±10,28
FINS-MIs 147bc ±18 20,38b ±3,99 49,77b ±9,80
FINS-MIs/MSs 159c ±12 22,77c ±3,58 55,48c ±7,79
360
Os resultados da SSE geral entre as diferentes situações são apresen-tados na figura 3. A SSE geral foi significativamente maior na situação FINS-MIs/MSs, comparando-a com a FINS-MIs e S-FINS, entretanto, não foi diferente da FINS-MSs. Já a FINS-MSs também foi igual à FINS-MIs e à S-FINS. Por fim, a situação FINS-MIs foi igual à da S-FINS.
a SSE geral entre essas duas situações, houve tendência de o uso do equipamento nos membros superiores apresentar maior resposta de SSE.
O uso do equipamento resistivo nas diferentes situações aumentou a intensidade do exercício pelo aumento da área projetada que, con-seqüentemente, aumentou a resistência ao avanço(4), maximizando as
respostas cardiorrespiratórias. Embora o Aquafinsapresente uma área projetada pequena em relação à área do segmento perna ou braço, provavelmente seu coeficiente de arrasto associado ao aumento de área projetada é suficiente para influenciar a magnitude da resistência oferecida no meio aquático. Esses dados corroboram os resultados de outros estudos que também encontraram aumento nas respostas de FC e VO2 conforme o aumento da intensidade de execução dos exercícios(14,16,24-25).
No caso do estudo de Pinto et al.(16), essa intensidade foi alterada
pela escolha de diferentes exercícios e também pela execução dos mesmos com dois tipos de equipamentos resistivos (Aquafinse
Aqua-logger) nos membros inferiores, aumentando a resistência ao avanço
no meio aquático. Os resultados mostraram que houve incremento significativo nas respostas de VO2 com o uso do equipamento resistivo apenas no exercício deslize frontal. Já as respostas da mesma variável no exercício deslize lateral não mostraram aumento significativo com o uso de tais equipamentos. Isso provavelmente pode ser explicado pelo fato de o exercício deslize frontal apresentar maior amplitude de movimento e também maior massa muscular envolvida na execução do mesmo em comparação com o exercício deslize lateral.
No presente estudo analisou-se apenas um exercício, portanto, o grupo muscular envolvido na sua execução, provavelmente, sempre foi o mesmo. A intensidade deste estudo foi modificada pela execução do exercício utilizado em diferentes situações com o equipamento resistivo
Aquafins, proporcionando, assim, um comportamento distinto entre
as variáveis do presente estudo.
Observou-se aumento no VO2 e na FC com o uso do equipamento
Aquafins nas diferentes situações; houve maior resposta dessa variável
quando o exercício foi realizado com o equipamento resistivo em ambos os membros. O uso de tal equipamento tanto nos membros superiores como nos membros inferiores aumentou a ativação muscu-lar, recrutando maior número de unidades motoras durante a execução do exercício(26), ocasionando maior gasto energético. Embora menor
massa muscular seja envolvida no exercício de membros superiores
Figura 3. Sensação subjetiva ao esforço geral (SSE) nas situações com o equipamento Aquafins nos membros superiores e inferiores (FINS-MIs/MSs), com equipamento Aquafinsnos membros superiores (FINS-MSs), com equipamento Aquafinsnos mem-bros inferiores (FINS-MIs) e sem equipamento resistivo (S-FINS). Obs.: letras diferentes representam diferenças significativas (p<0,05) entre as situações.
SSE Geral
6 8 10 12 14 16 18 20
FINS -MI s / MSs FINS -MSs FINS-MIs SEM
a
a b
b
b
Figura 4. Sensação subjetiva ao esforço local de membros inferiores (SSE MIs) nas situações com o equipamento Aquafins nos membros superiores e inferiores (FINS-MIs/MSs), com equipamento Aquafinsnos membros superiores (FINS-MSs), com equipamento Aquafinsnos membros inferiores (FINS-MIs) e sem equipamento re-sistivo (S-FINS). Obs.: letras diferentes representam diferenças significativas (p<0,05) entre as situações.
SSE Local MIs
6 8 10 12 14 16 18 20
FINS -MIs/MSs FINS -MSs FINS-MIs SEM
a
b
a
b
Figura 5. Sensação subjetiva ao esforço local de membros superiores (SSE MSs) nas situações com o equipamento Aquafins nos membros superiores e inferiores (FINS-MIs/MSs), com equipamento Aquafinsnos membros superiores (FINS-MSs), com equipamento Aquafinsnos membros inferiores (FINS-MIs) e sem equipamento resistivo (S-FINS). Obs.: letras diferentes representam diferenças significativas (p<0,05) entre as situações.
SSE Local MSs
6 8 10 12 14 16 18 20
FINS-MIs/MSs FINS-MSs FINS-MIs SEM
a a
b b
Os resultados da SSE local de MIs e MSs entre as diferentes si-tuações são apresentados nas figuras 4 e 5, respectivamente. A SSE local de MIs foi significativamente maior nas situações FINS-MIs/MSs e FINS-MIs, comparando-as com FINS-MSs e à S-FINS. Para a SSE local de MSs encontraram-se valores maiores e significativos nas situações FINS-MIs/MSs e FINS-MSs, comparando-as com as demais.
DISCUSSÃO
361
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Eckerson J, Anderson T. Physiological response to water aerobics. J Sports Med Phys Fitness 1992;32:255-61.
2. Kruel LFM. Alterações fisiológicas e biomecânicas em indivíduos praticando exercícios de hidrogi-nástica dentro e fora d’água. Santa Maria, 2000. Tese de Doutorado. Universidade Federal de Santa Maria.
3. Müller FG. A treinabilidade da força muscular em idosas praticantes de hidroginástica. Florianópolis, 2002. Dissertação de Mestrado. Universidade do Estado de Santa Catarina.
4. Pöyhönen T, Sipilä S, Keskinen KL, Hautala A, Savolainen J, Mälkiä E. Effects of aquatic resistance training on neuromuscular performance in healthy women. Med Sci Sports Exerc 2002;34:2103-9.
5. Takeshima N, Rogers ME, Watanabe WF, Brechue WF, Okada A, Yamada T, et al. Water-based exercise improves health-related aspects of fitness in older women. Med Sci Sports Exerc 2002;33:544-51.
6. Barella RE, Muller FG, Severo CR, Cardoso AS, Figueiredo PAP, Brentano MA, et al. Efeitos de um treinamento de força aplicado em mulheres praticantes de hidroginástica. Rev Bras Fisiol Exerc 2004;3:136.
7. Alves RV, Mota J, Costa MC, Alves JGB. Physical fitness and elderly health effects of hydrogymnastics. Rev Bras Med Esporte 2004;10:38-43.
8. Avellini BA, Shapiro Y, Pandolf KB. Cardio-respiratory physical training in water and on Land. Eur J Appl Physiol 1983;50:255-63.
9. Taunton JE, Rhodes EC, Wolski LA, Donelly M, Warren J, Elliot J, et al. Effect of land-based and water-based fitness programs on the cardiovascular fitness, strenght and flexibility of woman aged 65-75 years. Gerontology 1996;42:204-10.
10. Miyoshi T, Shirota T, Yamamoto S, Nakazawa K, Akai M. Effect of the walking speed to the lower limb joint angular displacements, joint moments and ground reaction forces during walking in water. Disabil Rehabil 2004;26:724-32.
11. Nakanishi Y, Kimura T, Yoko Y. Maximal responses to deep water running at termoneutral temperature. J Physiol Anthropol Appl Human Sci 1999;18:31-5.
12. Srámek P, Simecková M, Janski L, Savlíková J, Vybíral S. Human Physiological responses to immersion into water of different temperatures. Eur J Appl Physiol 2000;81:436-42.
13. Pöyhönen T, Keskinen KL, Hautala A, Mälkiä E. Determination of hydrodinamic drag forces and drag coefficients on human leg/foot model during knee exercise. Clin Biomech 2000;15:256-60.
14. Alberton CL, Coertjens M, Figueiredo PAP, Kruel LFM. Behavior of oxygen uptake in water exercises performed at different cadences in ad out of water. Med Sci Sports Exerc 2005;37:S103.
15. Pöyhönen T, Kyrolainen H, Keskinen KL, Hautala A, Savolainen J, Mälkiä E. Electromyographic and kinematic analysis of therapeutic knee exercises under water. Clin Biomech 2001;16:496-504.
16. Pinto SS, Alberton CL, Becker ME, Olkoski MM, Kruel LFM. Respostas cardiorrespiratórias em exercícios de hidroginástica executados com e sem o uso de equipamento resistivo. Rev Port Cienc Desp 2006;6:336-41.
17. Parker SB, Huerley BF, Hanlon DP, Vaccaro P. Failure of target heart rate to accurately monitor intensity during aerobic dance. Med Sci Sports Exerc 1989;21:230-4.
18. Martinovic NVP, Marques MB, Novaes JS. Respostas cardiovasculares e metabólicas do step training em diferentes alturas de plataforma. Rev Bras Ativ Física Saúde 2002;7:5-13.
19. Calegare AJA. Introdução ao delineamento de experimentos. São Paulo: Ed Edgard Blücher, 2001.
20. Cooke CB. Metabolic rate and energy balance. In: Eston R, Reilly T, editors.Kinanthropometry and exercise physiology laboratory manual. London: E & FN Spon 1996;175-95.
21. Linnarsson D. Dynamics of pulmonary gas exchange and heart rate changes at start and end of exercise. Acta Physiol Scand Suppl 1974;415:1-68.
22. Gleim GW, Nicholas JA. Metabolic costs and heart rate responses to treadmill walking in water at different depths and temperatures. Am J Sports Med 1989;17:248-52.
23. Müller FG, Alberton CL, Tartaruga LAP, Kruel LFM. Freqüência cardíaca em homens imersos em diferentes temperaturas de água. Rev Port Cienc Desp 2005;5:266-73.
24. Mcardle WD, Magel JR, Lesmes GR, Pechar GS. Metabolic and cardiovascular adjustment to work in air and water at 18, 25 and 33oC. J Appl Physiol 1976;40:85-90.
25. Shono T, Fujishima K, Hotta N, Ogaki T, Ueda T, Otoki K, et al. Physiological responses and RPE during underwater treadmill walking in women of middle and advanced age. J Physiol Anthropol 2000;19:195-200.
26. Lagally KM, Robertson RJ, Gallagher KI, Goss FL, Jakicic JM, Lephart SM, et al. Perceived exertion, electromyography, and blood lactate during acute bouts of resistance exercise. Med Sci Sports Exerc 2002;34:552-9.
27. Doherty M, Smith PM, Hughes MG, Collins D. Rating of perceived exertion during high- intensity treadmill running. Med Sci Sports Exerc 2001;33:1953-8.
28. Gearhart RF, Goss FL, Lagally KM, Jakicic JM, Gallagher J, Gallagher KI, et al. Ratings of perceived exertion in active muscle during high intensity and low intensity resistance exercise. J Strength Cond Res 2002;16:87-91.
29. Svedenhag J, Seger J. Running on land and in water: comparative exercise physiology. Med Sci Sports Exerc 1992;24:1155-60.
em comparação com membros inferiores, encontraram-se respostas similares de VO2 e FC em ambas as situações, provavelmente por-que a carga relativa do equipamento foi maior quando utilizado nos membros superiores, proporcionando, assim, intensidade semelhante de esforço.
A sensação subjetiva ao esforço pode ser definida como a tensão relativa que ocorre nos sistemas musculoesquelético, cardiovascular e pulmonar, durante o exercício físico(27). Nos resultados do presente
estudo pode-se afirmar que houve aumento nas respostas de SSE geral quando o exercício foi realizado com o equipamento Aquafins em ambos os membros e apenas nos membros superiores comparando com as outras situações. Tais respostas parecem estar mais interligadas com o sistema musculoesquelético do que com o sistema cardiorres-piratório. Como citado anteriormente, a musculatura solicitada durante o exercício com o equipamento nos membros superiores é menor em comparação com o uso do mesmo nos membros inferiores. Isso possivelmente faz com que exista maior recrutamento de unidades motoras para os membros superiores, em valores relativos, em com-paração com as outras situações sem o equipamento nos membros superiores, aumentando os índices de percepção de esforço durante a execução do exercício(26,28). Em relação à SSE local, pode-se dizer
que houve aumento nos índices de percepção de esforço quando o equipamento resistivo foi utilizado nos membros superiores e/ou inferiores, o que corrobora outros estudos que também verificaram a SSE local de membros superiores e inferiores separadamente no meio aquático(29).
Sugere-se que futuras pesquisas sejam realizadas com indivíduos do sexo masculino e com faixa etária mais abrangente. Além disso, no
presente estudo analisaram-se as respostas de apenas um exercício nas diferentes situações, limitando, por sua vez, os dados para uma sessão de hidroginástica, na qual se utiliza um repertório de diferentes exercícios no meio aquático.
CONCLUSÃO
Pode-se concluir que a utilização do equipamento Aquafins nas diferentes situações aumentou as respostas cardiorrespiratórias e a sensação subjetiva ao esforço para uma cadência submáxima de exe-cução. A situação que apresentou maior aumento de todas as variáveis analisadas no estudo foi a de executar o exercício com o Aquafins em ambos os membros. Além disso, independente do posicionamento do equipamento utilizado, membros superiores ou membros inferiores, as respostas de FC, VO2 e SSE foram semelhantes. Porém, é importante salientar que a utilização do equipamento resistivo nos membros su-periores faz com que o indivíduo perceba o exercício mais intenso do que ele realmente é, de acordo com as suas respostas cardiorrespira-tórias, visto que essa situação não apresentou diferenças significativas na SSE comparando-a com a situação de utilização do equipamento em ambos os membros.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos aos integrantes do Grupo de Pesquisa em Atividades Aquáticas e Terrestres (GPAT) pelas correções e críticas construtivas.