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As contribuições dos economistas ao estudo da administração política: o institucionalismo, o gerencialismo e o regulacionismo.

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Academic year: 2017

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A

S

C

ONTRIBUIÇÕES

DOS

E

CONOMISTAS

AO

E

STUDO

DA

A

DMINISTRAÇÃO

P

OLÍTICA

:

O

I

NSTITUCIONALISMO

,

O

G

ERENCIALISMO

E

O

R

EGULACIONISMO

*

Re g in a ld o So u z a Sa n t o s* *

R

ESUMO

st e ar t igo é fr u t o do r esu lt ado par cial do t r abalh o de pesqu isa t eór ica qu e est am os desen v olv en do n o cam po de adm in ist r ação e qu e t em com o pon t o de par t ida u m a d iscu ssão ep ist em ológ ica q u e in t en t a v er if icar se o con h ecim en t o p r od u zid o em Adm in ist r ação dá- lh e o st at us de u m cam po do con h ecim en t o pr ópr io e au t ôn om o. A pr eocu pação in icial f oi apr een der o con ceit o da Adm in ist r ação Polít ica, v isan do com pr e-en der a gest ão ( obj et o da adm in ist r ação) das r elações sociais de pr odu ção e dist r ibu ição no cont ex t o do capit alism o. O pr esent e ar t igo, por t ant o, é um a seqüência dest e t r abalho e qu e t em com o pr eocu pação f u n dam en t al in cor por ar ao con h ecim en t o con st r u ído n o cam -po da Adm in ist r ação as con t r ibu ições dos ch am ados econ om ist as r ebeldes, t om an do com o r ef er ên cia as escolas do inst it ucionalism o, do ger en cialism o e d o r egu lacion ism o e t en do com o pr incipais nom es Thor st ein Veblen, W. C. Mit chell, Gunnar My r dal, Jam es Bur nham , Michel Agliet a, Rober t Boy er e Alain Lipiet z.

A

BSTRACT

h is ar t icle is f r u it of a t h e par t ial r esu lt s f r om a t h eor et ical r esear ch w h ich w e ar e d e v e l o p i n g i n t h e f i e l d o f a d m i n i st r a t i o n a n d t h a t h a s a s i t s st a r t i n g p o i n t a n e p i st e m o l o g i ca l d i scu ssi o n t h a t i n t e n d s t o v e r i f y i f t h e k n o w l e d g e p r o d u ce d i n Adm inist rat ion gives t he field t he st at us of having it ’s ow n and independent know ledge. Our init ial concer n w as t o appr ehend t he concept of Polit ical Adm inist r at ion, aim ing t o com pr ehend t he m anagem ent ( obj ect of adm inist r at ion) of t he pr oduct ion’s social r elat ions in a capit alist cont ex t . Ther efor e, t he pr esent ar t icle is a follow - up of t his w or k and it ’s basic concer n is t o incor por at e w it hin t he k now ledge const r uct ed in t he field of adm inist r at ion, t he cont r ibut ions of t he so called r ebel econom ist s, t ak ing as r efer ence t he inst it ucionalism , ger en cialism , r egu lacion ism sch ools an d h av in g as m ain n am es au t h or s su ch as Th or st ein Veblen , W. C. Mit ch ell, Gu n n ar My r dal, Jam es Bu r n h am , Mich el Agliet a, Rober t Boy er e Alain Lipiet z.

E

* Tr abalho desenvolvido com a colabor ação dos alunos de gr aduação da disciplina Sem inár ios de Tem as Específicos em Planej am ent o, dur ant e o segundo sem est r e de 2001 e o pr im eir o sem est r e de 2002. Agr adeço, especialm ent e, aos alunos Eduar do Pint o e Thiago Chagas.

* * Pr of. do NPGA/ EAUFBA.

(2)

I

s d i f i cu l d a d es en co n t r a d a s p el o s p esq u i sa d o r es e p r o f i ssi o n a i s q u e est a -v am dir et am en t e pr eocu pados em con st r u ir as bases t eór ico- m et odológicas d o n ov o cam p o d iscip lin ar , p ar eciam d im in u ir à m ed id a q u e d issid ên ciasiam se ab r in d o n as h ost es d os econ om ist as, p ar t icu lar m en t e d aq u eles in -sat isf eit os com a econ om ia clássica e n eoclássica, su st en t ada n o in div idu alism o m et od ológ ico e n os p r essu p ost os t eór icos d o eq u ilíb r io g er al, or ig in ár ios d as com -p ar ações m ecan icist as d o -p ar ad ig m a d a f ísica n ew t on ian a.

Decer t o q u e os econ om ist as, st r ict o sensu, n ão est av am p r eocu p ad os em av an çar o con h ecim en t o n esse cam p o q u e est am os d en om in an d o d e Ad m in ist r a-ção Polít ica, ex p r essa n os con t eú d os ( essên cias) d a g est ão d as r elações sociais de pr odu ção par a a con st r u ção da m at er ialidade. Em v er dade, o I n st it u cion alism o, o Ger en cialism o e o Regu lacion ism o, em bor a n ascen do n o âm bit o da econ om ia ( em d if er en t es ép ocas) , são p en sam en t os q u e su r g em n o sen t id o d e en t en d er os m ov im en t os d a or g an ização e d a in st it u cion alização d as r elações sociais d e p r o-d u ção n u m o-d ao-d o ou em su cessiv os m om en t os h ist ór icos. Assim , p r essu p õe- se q u e est es ar q u ét ip os t eór icos ap r esen t em con t r ib u ições im p or t an t es p ar a a con s-t r u ção e a f or m ação do con ceis-t o de Adm in iss-t r ação Polís-t ica.

Por t an t o, f az- se n ecessár ia u m a an álise m ais ap r of u n d ad a, n as seções se-g u in t es, d essas cor r en t es, a p ar t ir d as an álises d as p r in cip ais ob r as d os au t or es con sid er ad os os m ais r ep r esen t at iv os d e cad a escola e, com isso, t en t an d o v is-lu m b r ar as in t er f aces e as d if er en ciações p ar a a con st r u ção d as b ases t eór ico-m et od ológ icas d esse caico-m p o d iscip lin ar a q u e d en oico-m in aico-m os d e Ad ico-m in ist r ação Polít ica.

II

O inst it ucionalism o1, m ais p r óx im o d o q u e est am os in v est ig an d o, su r g e d a

d iv er g ên cia com a lin h a or t od ox a d o p en sam en t o econ ôm ico, q u e d ist or ce a r eali-d aeali-d e, q u er en eali-d o ex p licá- la p elo u so eali-d e m oeali-d elos ex t r em am en t e ab st r at os e m at e-m át icos e d escon sid er an d o o ae-m b ien t e in st it u cion al q u e con d icion a a p olít ica eco-n ôm ica. Nesse seeco-n t ido, o ieco-n st it u cioeco-n alism o deseeco-n v olv e u m a aeco-n álise ecoeco-n ôm ica a p ar t ir d as est r u t u r as, n or m as e com p or t am en t os d as in st it u ições, a sab er : as em p r esas cap it alist a, os sin d icat os, os car t éis e t r u st es, o Est ad o ( com p r een d id o n o ex ecu t iv o, n os par t idos polít icos, n o j u diciár io e n o legislat iv o) .

A

1 Fundam ent alm ent e, aqui nós est am os m ais de per t o int er essados no cham ado cam po do

(3)

Essa est r u t u r a t eór ica t en d e a ap r esen t ar u m a in t er f ace m aior p ar a o d e-sen v olv im en t o do con ceit o cien t íf ico e acadêm ico da Adm in ist r ação Polít ica; por essa r azão, f or am d esen v olv id as an álises sob r e alg u m as ob r as clássicas d essa cor r en t e d e p en sam en t o.

Um d o s n o m e s m a i s i n f l u e n t e s d e ssa co r r e n t e d e p e n sa m e n t o é o d o eco n o m i st a e so ci ó l o g o su eco Gu n n ar My r d al . En t r e as i n ú m er as o b r as escr i -t as p o r My r d al , O Es-t ado do fu-t ur o ( -t í-t u l o em i n g l ês Bey ond -t he Welfar e S-t a-t e), t a l v e z se j a a m a i s r e p r e se n t a t i v a d o p e n sa m e n t o d o a u t o r p a r a e n q u a d r á - l o en t r e o s eco n o m i st a s i n st i t u ci o n a l i st a s. Esse t ex t o a n a l i sa , d en t r o d e co n t ex -t o s h i s-t ó r i co s d e-t er m i n a d o s, a ev o l u çã o eco n ô m i ca d e d i f er en -t es n a çõ es, r es-sa l t a n d o a s d i f e r e n ça s e n t r e p a íse s r i co s, p o b r e s e a q u e l e s d a ó r b i t a so v i é t i ca , p ar t i cu l ar m en t e em t er m o s d a p l an i f i cação , al ém d e r ev el ar as t en d ên ci as p ar a o f u t u r o .

Nos p aíses r icos, a p lan if icação acon t eceu ap ós a con solid ação d a econ om ia de m er cado e da dem ocr acia. Com a econ om ia de m er cado a plen o v apor , f oi n e-cessár io t r açar m et as e d ir et r izes p ar a g ar an t ir o em p r eg o e o d esen v olv im en t o p or lon g o t em p o. Com a d em ocr acia, o Est ad o t in h a r esp ald o d o p ov o p ar a in st t u ir m ecan ism os d e aj u d a aos p ob r es: p r ev id ên cia social, ig u ald ad e d e op or t u n i-d ai-d es et c. Por ou t r o lai-d o, m u it os t eór icos ob ser v ar am q u e essas m ei-d ii-d as f or am em g r an d e p ar t e u m a r esp ost a, u m “ p aliat iv o” ao av an ço d o socialism o q u e g a-r an t ia, em t ese, t u d o q u e o cid ad ão ia-r ia p a-r ecisaa-r , d u a-r an t e a v id a, p aa-r a a su a r epr odu ção m at er ial, psicológica e espir it u al.2

Nos países da ór bit a sov iét ica, ger alm en t e, a plan if icação da econ om ia acon -t eceu ap ós r ev olu ções “ p op u lar es” , e q u e er am p aíses d e econ om ia a-t r asad a, f eu d al e d e p od er cen t r alizad o. Nessas socied ad es, a p lan if icação d a econ om ia v eio an t es m esm o d a econ om ia d e m er cad o est ar m ais clar am en t e d ef in id a. Nos p aíses su b d esen v olv id os, o p r ocesso é u m p ou co sem elh an t e aos p aíses d e ór b i-t a socialisi-t a, m as sem r ev olu ções p op u lar es. Com o o d esen v olv im en i-t o cu si-t a a se est ab elecer , o p lan ej am en t o se t or n a u m a p r econ d ição p ar a t an t o.3

Par a My r dal ( 1 9 6 0 ) , as t en dên cias par a o plan ej am en t o econ ôm ico lev am a u m a só dir eção: o Est ado n ão ser ia m ais u m in t er v en t or , m as u m r egu lador , cr ian -d o con selh os p op u lar es, ag en cias f iscaliza-d or as et c. , t u -d o isso acon t ecen -d o n o âm b it o in t er n o d as n ações. E com as r elações in t er n acion ais? Seg u n d o My r d al, o

adequadam ent e por que, nos pr ocessos de t r ansfer ência ( t r ansação) , est ão env olv idas at iv idades de planej am ent o, adapt ação e m onit or am ent o – t udo isso com põe o cont eúdo básico de um a var iável analít ica denom inada de Cust os de Tr ansação; 2) gover nança, que se define com o sendo det er m inada pelas difer ent es for m as de coor denação da at iv idade econôm ica desenv olv ida pela fir m a, v isando m inim izar os cust os de t r ansação. Par a além dessa base analít ica, a com pr eensão do inst it ucionalism o fica m ais confusa ainda quando se t ent a analisá- lo a par t ir da econom ia de John Kenet h Galbr ait h, pois est e aut or , além de t om ar sem pr e a hist ór ia com o r efer ência, fundam ent ou os seus est udos econôm icos em análise da t ecnoest r ut ur a ( ent endida com o a supr em acia dos t écnicos e gest or es na condução dos negócios dos capit alist as) , do poder ( cuj a disposição ou m anipulação t or na- se de fundam ent al im por t ância par a se conhecer as possibilidades dos em pr eendim ent os) , da consolidação de um a cer t a cult ur a do cont ent am ent o ( ent endida com o o desenvolvim ent o de m ecanism os de pr eser v ação de in t er esses est abelecidos, m esm o qu e à cu st a do v ilipên dio da m aior ia m ais desprot egida) e, sobret udo, acerca da análise do papel da m ulher no cont ext o econôm ico ( ent endido est e a par t ir do desenv olv im ent o da gest ão do consum o no âm bit o da fam ília) . Dada essa im pr ecisão de se per ceber um aut or inst it ucionalist a ou não, par a os pr opósit os dest a pesquisa, opt ou- se por analisar com o aut or es inst it ucionalist as apenas aqueles em que há r elat iv o consenso, a ex em plo de Thor st ein Veblen, Gunnar Myr dal, Char les Lindblom e Douglass C. Nor t h.

2 Myr dal ( 1960) esquece de dizer , por ém , que o planej am ent o ( polít ica econôm ica e social de m édio

e longo pr azos) passou a ser adot ado no capit alism o por cont a de sua congênit a inst abilidade, que aum ent a à m edida que o sist em a econôm ico capit alist a v ai- se t or nando com plex o, t ant o do pont o de v ist a das inov ações t ecnológicas e financeir as quant o em t er m os de nov as for m as de or ganização social da produção.

3 Em ver dade, o Est ado com o int er vent or e planej ador da at ividade econôm ica dos países da per ifer ia

(4)

Est ad o d ev er ia or g an izar - se em t or n o d os p r od u t os m ais f or t es d o p aís, a f im d e d ar v isib ilid ad e a esses p r od u t os n o com ér cio in t er n acion al. Por ém , est a ser ia u m a t ar ef a m u it o dif ícil, pois o com ér cio in t er n acion al é algo qu e, em t odos os asp ect os, ser v e aos p aíses r icos.4

Ap esar d e n ão ap r esen t ar , d e f or m a ex p licit a, u m a d ef in ição d e p lan o ou p r oj et o n acion al, a an álise d est aca a im p or t ân cia f u n d am en t al d o p lan ej am en t o p ar a a est r u t u r ação d e u m p r oj et o n acion al. Nesse sen t id o, o p lan ej am en t o eco-n ôm ico lev a o Est ad o a ser u m r eg u lad or , cr iad or d e coeco-n selh os p op u lar es, ag êeco-n ci-as f iscalizador ci-as et c. , pr opician do, por t an t o, o desen v olv im en t o de u m n ov o pr o-j et o est at al, v olt ad o m ais p ar a as q u est ões r ed ist r ib u t iv as, com a ao-j u d a m ais in st it u cion alizad a aos p ob r es. Ap esar d e ser u m d ef en sor en g aj ad o d o p lan ej a-m en t o econ ôa-m ico ea-m socied ad es cap it alist as, My r d al r econ h ece ea-m su a an álise qu e a plan if icação m ais am pla do m er cado cr iou u m a est r u t u r a est at al f or t em en -t e bu r ocr á-t ica, qu e a lev ou a se desv in cu lar , em de-t er m in ados m om en -t os, das f in alid ad es d esej ad as.5

Sem d ú v id a, as an álises d e My r d al m ost r am q u e o p lan ej am en t o r ep r esen -t a u m d os com p on en -t es d a in s-t i-t u cion alização d a p olí-t ica p ú b lica; o p lan ej am en -t o e su as f or m as são com p r een d id os com o a r ep r esen t ação d e u m p r ocesso in d u t or p ar a a con f or m ação d e p olít icas e p lan os d e lon g o p r azo e n ov as est r u t u r as est at ais q u e r eg u lam as r elações sociais. En t ão, o p lan ej am en t o p od e ser v ist o com o u m a d as b ases d e an álise p ar a a com p r een são d a ad m in ist r ação p olít ica n o con t ex t o d o cap it alism o. Em b or a se saib a q u e o con j u n t o d a ob r a d e My r d al é b em m ais am p lo, n ão r est a d ú v id a d e q u e O Est ado do fut uro p ar ece ser aq u ela q u e m elh or sin t et iza o inst it ucionalism o do aut or.6

Por ou t r o lad o, My r d al sab ia d as lim it ações d e se av an çar n o d esen v olv m en t o d as con d ições d e v id a d aq u elas n ações con sid er ad as m ais p ob r es. A d ist r i-b u ição d a r en d a e d a r iq u eza sem p r e est ar á lim it ad a n o con t ex t o d o cap it alism o; t alv ez p or essa r azão, o au t or , a ex em p lo d o seu coleg a e con t em p or ân eo in g lês Ch ar les Lin d b lom , ad v og u e m u d an ças m en os aceler ad as n o p r ocesso d e in cor p o-r ação d as m assas ao con su m o cap it alist a. Poo-r essa p ost u o-r a con seo-r v ad oo-r a é q u e f ica con h ecid o com o f azen d o p ar t e d a cor r en t e q u e d ef en d e u m p lan ej am en t o est at al in cr em en t al e ad ap t at iv o.

T a l v e z o p e r s o n a g e m m a i s f o r t e e i n f l u e n t e d a c h a m a d a Es c o l a I n st it u cion alist a sej a o econ om ist a e sociólogo n or t e am er ican o, de or igem ir lan d esa, Th or st ein Bu n d e Veb len ( 1 8 5 7 1 9 2 9 ) , at é p or q u e é con sid er ad o o seu f u n -d a-d or . A su a lin h a -d e p esq u isa p r ocu r a ab r an g er o est u -d o -d o sist em a econ ôm ico com o u m t od o, d an d o d est aq u e p ar a o p ap el d as in st it u ições e o p ap el d a cu lt u r a q u e em an am e alim en t am o sist em a cap it alist a d e p r od u ção. Nesse p ar t icu lar d a

4 Nest a out r a passagem , a concepção de Myr dal par ece t am bém est ar equivocada. Não exist e um a

et apa sucedânea à out r a, se se t om a o Est ado com o int er v ent or e/ ou planej ador . Pr at icam ent e o planej am ent o é incor por ado enquant o m ét odo no pr ocesso de for m ulação e im plem ent ação de polít i-cas econôm ii-cas no m esm o inst ant e em que o Est ado assum e, em função da cr ise dos anos 30, blocos de capit ais j á ex ist ent es ( com o foi o caso eur opeu) ou inst it ui nov os capit ais par a im pulsionar o desenvolvim ent o e r eduzir a dependência do com ér cio ex t er no ( com o foi o caso dos países da per ifer ia capit alist a – inclusiv e o Br asil) . Nesse sent ido, o aper feiçoam ent o do inst r um ent al planej a-m ent o se deu passo a passo, coa-m a consolidação do Est ado enquant o capit alist a a coa-m andar capi-t ais; de oucapi-t r o m odo, quando o neoliber alism o im põe um a polícapi-t ica econôm ica com r escapi-t r ições à ação est at al nesse dom ínio, per de- se a noção de m édio e longo pr azos e, por conseqüência, o planej am en-t o, enquanen-t o m éen-t odo de ação de governo, perde qualquer senen-t ido práen-t ico.

5 É a par t ir desse pont o que, est udando a econom ia dos países subdesenv olv idos ( Ásia e Am ér ica

Lat ina, par t icular m ent e) , My r dal v ai const r uir a sua t eor ia da causação cir cular , segundo a qual o cír culo vicioso do at r aso e da pobr eza só ser á r om pido at r avés da ação planej ada do Est ado, ex pr essa nas r efor m as econôm icas.

6 Além dos est udos v inculados às quest ões r elat iv as a pr eços, m er cados et c. , pode- se dest acar

(5)

v er t en t e cu lt u r al, a pr in cipal con t r ibu ição de Veblen é o est u do da cult ura pecuniária con t id o n a su a p r in cip al e m ais f am osa ob r a The Theor y of t he leisur e class ( A Teoria d a classe ociosa) , n a q u al o au t or d iscu t e o lu g ar e o v alor d a classe ociosa, t o-m an d o- a n a q u alid ad e d e f at or econ ôo-m ico d a v id a o-m od er n a. Esse lu g ar n ão é m u it o h on r oso, p ois d escon sid er a q u alq u er f u n ção social n a su a at u ação, além d e d en u n ciar a ex p lor ação e a m an ip u lação d as m assas p elo q u e ele ch am a d e “ con -su m o con sp ícu o” e p ela “ em u lação p ecu n iár ia” . Tod a essa d iscu ssão t r ilh a sob r e a lin h a d e d er iv ação d as in st it u ições, b em com o p elos elem en t os car act er izad or es da v ida social n ão com u m en t e classif icados de econ ôm icos ( t r at a se, aqu i, par t icu -lar m en t e d os asp ect os cu lt u r ais) .

I n d o ad ian t e n essa an álise, a su a in d ig n ação est á em p er ceb er q u e as p essoas q u e est ão acim a d a lin h a d e m er a su b sist ên cia, n essa ép oca ( q u e é o con -t ex -t o sócio- h is-t ór ico em q u e Veb len es-t á escr ev en d o) e em -t od as as ép ocas an -t er ioer es, n ão ap er ov eit am o ex cesso q u e a socied ad e lh es d eu e n ão o u t ilizam v isan -d o, p r im or -d ialm en t e, a p r op ósit os ú t eis. Por isso, n ão b u scam ex p an -d ir su as p r ó-p r ias v id as, m as b u scam im ó-p r ession ar as ou t r as ó-p essoas ó-p or ser em ó-p ossu id or as d esse ex cesso. Os m ei os e m od os d essa cl asse são d en om i n ad os d e con su m o

conspícuo, ou sej a, u m d isp ên d io d e d in h eir o, esf or ço e t em p o p r at icam en t e in ú

-t eis, v isan d o, d e f or m a eg oís-t a, in su f lar seu eg o d ian -t e d as p essoas.

Nest es t er m os, A Teoria da classe ociosa ap r esen t a a f ace d a d om in ação m on et ár ia, p sicológ ica e cu lt u r al d as classes su p er ior es sob r e as in f er ior es m ed an t e g ast os su p ér f lu os e q u e cr iam , n o im ag in ár io colet iv o d essas classes in f er i-or es, d esej os d e m ov er o “ céu e a t er r a” a f im d e m elh i-or ar seu st at u s par a alcan çar o con su m o su p ér f lu o.

Ap esar d essa ob r a n ão d esen v olv er u m est u d o esp ecif ico sob r e o p ap el d a ad m in ist r ação n a f or m ação d e u m p r oj et o n acion al, ela ap r esen t a alg u m as con t r i-b u ições p ar a est e n osso est u d o. Um a d elas v in cu la- se à an álise d os in st r u m en t os id eológ icos e m an u t en ção d e u m st at u s q u o social d esig u al e com o a socied ad e m od er n a é assen t ad a em v alor es f ú t eis e in d iv id u ais. Esse d esd ob r am en t o societ al desm ist if ica o dit o desen v olv im en t o t ecn ológico e social m oder n o. Desen v olv im en -t o p ar a q u em ? Ver d ad eir am en -t e p ar a u m m in or ia q u e d e-t ém os con -t r oles econ ô-m icos e ideológicos, at r av és das in st it u ições. Na v er dade, a Adô-m in ist r ação Polít ica t en t a r om p er com o p ar ad ig m a con t em p or ân eo d e q u e a ad m in ist r ação f u n cion a ex clu siv am en t e com o f or m a de dom in ação en t r e classes e ex clu siv am en t e com o in st r u m en t o m icr o de est r u t u r ação or gan izacion al.

Por t an t o, essa ob r a, n a v er d ad e, n os d á p ist as im p or t an t es p ar a o en t en d i-m en t o d a r ealid ad e societ al e d e seu s ag en t es t r an sf or i-m ad or es. Assii-m , p er ceb e-se, a p ar t ir d ela, q u e t r an sf or m ações sociais est ão v in cu lad as às in st it u ições; en t ão, a ad m in ist r ação p olít ica d ev e t er t am b ém com o b ase essas est r u t u r as p ar a r om p er com o p ar ad ig m a d e con st r u ção e r eor g an ização d a socied ad e m od er n a. No liv r o The place of science in m odern civilizat ion and ot her essays ( O lu gar da ciên cia n a civ ilização m od er n a e ou t r os en saios, 1 9 1 9 ) , n o q u al est ão r eu n id os os p r in cip ais ar t ig os econ ôm icos escr it os ao lon g o d a v id a, Th or st ein Veb len d esen -v ol-v e u m est u d o am p lo d e -v ár ios p r ocessos q u e con f or m am a est r u t u r a social m oder n a. O eix o pr in cipal do liv r o f u n dam en t a- se n a an álise do papel da ciên cia n a est r u t u r ação d a socied ad e m od er n a e o in cr em en t o e a u t ilização d os p ost u la-d os cien t íf icos n a con j u n t u r a con t em p or ân ea, além la-d e ap r esen t ar u m a p er sp ect i-v a d e con f or m ação d a t eor ia ao socialism o, ao con t r ár io d o q u e p en sai-v a q u an d o escr ev eu A Teoria da Classe ociosa. A par t ir de u m a per spect iv a h ist ór ica e da im p or t ân cia d as in st it u ições, o au t or ap r of u n d a su as ob ser v ações e an álises d os d om ín ios in st it u cion ais ( leis, h áb it os et c. ) e d esen v olv e as in t er f aces d esse p r o-cesso n a f or m ação d a cu lt u r a societ al m od er n a.

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a leg it im ação societ al. No en t an t o, Veb len ob ser v a q u e o con h ecim en t o sem p r e ocu p ou u m a p ar t e cr escen t e d a at en ção d os h om en s n o p assad o, p or ém ch am a a at en ção d e q u e est e é u m p r ocesso d a r ed ist r ib u ição p r og r essiv a em q u e se d á m aior ên f ase aos p r econ ceit os d o q u e às or ien t ações su cessiv as d os cien t ist as ao r ealizar em seu s t r ab alh os.

Nou t r o en saio d o liv r o, Veb len ap r esen t a com o o p r ocesso d o d esen v olv i-m en t o i-m od er n o d a in d ú st r ia e d a or g an ização in d u st r ial d a socied ad e f az- se cad a v ez m ais n ecessár io p ar a a con f or m ação d e est r u t u r as d e olig op ólios e m on op óli-os. Essa est r u t u r a p r ov oca in j u st iça e d esig u ald ad e, p ois p r op icia u m a con cen t r a-ção d e cap it al e, p or con seq ü ên cia, d a r en d a. Par a a m od if icaa-ção d essa sit u aa-ção d e i n j u st i ça , é a p r esen t a d a a r el ev â n ci a d a s f o r ça s so ci a i s co n st a n t em en t e oper at iv as ( v ale dizer , t odo o sist em a social, com o con sider a o f or m u lár io da or ga-n ização) q u e lev am à q u ed a ou ascega-n são d e u m a classe; ist o é, o q u e se coga-n sid e-r a com o o p e-r ocesso ce-r iad oe-r d as con d ições sociais p ae-r a a m od if icação d a e-r elação societ al. De acor d o com essa g en er alização, ob ser v a- se q u e o sist em a m od er n o d e c o n t r a t o o u d a c o m p e t i ç ã o l i v r e d e v e s e r d e s l o c a d o , a t r a v é s d e u m a r eest r u t u r ação or g an izacion al. Nessa p er sp ect iv a, a coop er ação v olu n t ár ia p od e ser su b st it u íd a som en t e p ela coop er ação com p u lsór ia, q u e é id en t if icad a com o u m sist em a est r u t u r ad o p elo Est ad o. Nesse sen t id o, p od e- se con clu ir q u e, ao m en os em m at ér ia d e est r u t u r ação e d e en cam in h am en t o d e solu ções, o sist em a r acion al in st r u m en t al n ão é a ú n ica alt er n at iv a e, m u it o m en os, a m elh or .

Os p on t os r elev an t es d essa ob r a p ar a est r u t u r ação d a ad m in ist r ação p olít ica v in cu lam se ao d esen v olv im en t o d a im p or t ân cia d as in st it u ições p ar a a est r u -t u r a social, sen d o o Es-t ad o con sid er ad o com o a in s-t i-t u ição p r in cip al n a f or m ação social. No en t an t o, é lem b r ad o q u e essas in st it u ições ( or g an izações, Est ad o e ciên cia) são in st r u m en t os d e p od er d e u m a classe d om in an t e, cu j a m an u t en ção é p ossib ilit ad a p elas in t er ações con st an t es d as f or ças sociais, o q u e só ser á alt e-r ad o com a e-r u p t u e-r a com o d et ee-r m in ism o e o ev olu cion ism o d a socied ad e e d a ciên cia. Ou sej a, n a leit u r a de Veblen , v islu m br am - se per spect iv as de t r an sf or m a-ções societ ais r eais d iv er sas.

Por t an t o, f ica am pliada a per cepção par a além da ciên cia posit iv ist a clássi-ca, o q u e se co ad u n a co m o s p r essu p o st o s d est e est u d o p ar a a ap r een são e com p r een são d a essên cia d a ad m in ist r ação p olít ica. Além d e se con sid er ar as in st it u ições e or g an izações com o ag en t es d as m od if icações est r u t u r ais q u e con -f or m am a b ase d a cr iação d a g est ão e d esen v olv im en t o d e u m p lan o n acion al ( obj et iv o m aior da adm in ist r ação polít ica) , est as in st it u ições t am bém se v in cu lam a u m a classe d om in an t e, e, p or con seg u in t e, n ão é p ossív el cr iar m od if icações p r of u n d as sem p r ocessos sociais am p los d e m u d an ças. Sen d o assim , ab r e u m q u est ion am en t o p ar a o p r óp r io est u d o d a ad m in ist r ação p olít ica, com o est am os p r et en d en d o, p ois n ão ser á p ossív el u m p lan o social n acion al com o f im d e b em -est ar m aior sem t r an sf or m ar as classes e os in t er esses d e classes q u e su b v er t em os lu cr os d o sist em a at u al.

Th or st ein Veblen , n o liv r o The Theor y of business ent er pr ise ( A Teor ia da em p r esa in d u st r ial, d e 1 9 1 9 ) con f ig u r a e con cr et iza a em p r esa com o o con j u n t o d e v alor es q u e in st it u cion aliza a civ ilização m od er n a, q u e é m ar cad a p ela op osi-ção en t r e os in t er esses p u r am en t e p ecu n iár ios d os h om en s d e n eg ócios e a p r o-d u ção o-d e b en s ú t ei s aos i n t er esses o-d a soci eo-d ao-d e. Não o-d ei x a o-d e r essal t ar q u e esse con j u n t o d e v alor es é leg it im ad o p elo sist em a cap it alist a or ien t ad o p ar a f in s lu cr at iv os e com b ase n a p r op r ied ad e p r iv ad a com o u m b em n at u r al p r ot eg id o p or leis in st it u cion alizad as. O ad m in ist r ad or d en t r o d essa con j u n t u r a p assa a d esem -p en h ar -p a-p el d e r elev ân cia, -p ois é ele q u e d et ém o con t r ole d e d ecisões d e in v es-t im en es-t os, p ossu i con h ecim en es-t o d e m er cad o e eses-t á ap es-t o a d ir ecion ar os r u m os d a socied ad e m od er n a.

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pas-sou a ser u m v alor ob j et iv o e a p r óp r ia j u st if icat iv a d e ex ist ên cia d a em p r esa m oder n a. Cr iou - se, t am bém , u m v alor ét ico e m or al em pr esar ial n as t r an sf or m a-ções f in an ceir as in t er n as e ex t er n as. Por ou t r o lad o, é b om salien t ar q u e esse cód ig o d e ét ica em p r esar ial com b ase n a eq ü id ad e e h on est id ad e n ão v ai em op osição ao lu cr o, m as ser v e com o in st r u m en t o d e m an u t en ção d o p r óp r io sist e-m a ee-m p r esar ial con cor r en cial q u e est á ee-m op osição à n oção d e b ee-m - est ar social. Nesse sen t id o, o q u e t em os é u m a ad m in ist r ação p olít ica v olt ad a p ar a os in t er esses d a b ase econ ôm ica sob o d om ín io d o cap it al, v ist o q u e p on t o v it al d e t od os os esf or ços ad m in ist r at iv os v in cu la se à t r an sf or m ação d os p r od u t os e ser -v iços em -v alor m on et ár io qu e pr opicie lu cr os. Assim , as n ecessidades r eais da socied ad e f icam em seg u n d o p lan o, su b m issas aos in t er esses d o cap it al.

A p olít ica in st it u cion al cap it alist a ap r esen t a a p r op r ied ad e, f u n d am en t o b ásico do pr ocesso pr odu t iv o m oder n o, com o u m dir eit o n at u r al, legit im an do a con -d u t a -d a a-d m in ist r ação p ar a -d ir ig ir e or ien t ar as -d ecisões em p r esar iais. As leis, as in st it u ições, a p olít ica d e t r an sações f in an ceir as n acion ais e in t er n acion ais, a ad -m in ist r ação pú blica e pr iv ada legit i-m a-m e con f or -m a-m a -m an u t en ção e segu r an ça d os d ir eit os n at u r ais d o in d iv íd u o, sen d o q u e o d ir eit o d e p r op r ied ad e se sob r e-p õe às d em ais leis e aos in t er esses sociais. Fica e-p ost o, en t ão, q u e o at o d e ad m in ist r ar est á d ir et am en t e r elacion ad o ao p r ocesso d e su b st it u ições ( ou com -p r een sões) d e t eor ias -p olít icas. Os v alor es e as in st it u ições ( en t r e elas, as em -p r e-sas e o Est ad o) se t r an sf or m am e se ad ap t am às ex ig ên cias p olít icas d e cad a m od o d e p r od u ção, em d et er m in ad o p er íod o h ist ór ico.

Esse liv r o de Veblen f oi escr it o n o in ício do sécu lo XX, por t an t o, m om en t o em q u e est á n ascen d o a ad m in ist r ação en q u an t o cam p o d o con h ecim en t o, d aí as su as ab or d ag en s ser em m u it o r elev an t es p ar a o d esen v olv im en t o d est e est u d o, p ar t icu lar m en t e q u an d o Veb len an alisa a con f or m ação d o p ap el d a ad m in ist r ação e d o ad m in ist r ad or n a est r u t u r a cap it alist a d e su a ép oca. Ob ser v a- se q u e os f in s da Adm in ist r ação Polít ica pou co m u dar am n o t r an scor r er do sécu lo XX, qu e con t i-n u am sei-n d o t r ai-n sf or m ar em v alor m oi-n et ár io os p r od u t os e ser v iços q u e p r op iciem lu cr os. Nessa p er sp ect iv a, a ad m in ist r ação e o Est ad o são in st r u m en t os d e m an u -t en ção d o s-t a-t u s q u o d o sis-t em a cap i-t alis-t a. O au -t or n ão d esen v olv e o con cei-t o d e adm in ist r ação n u m a con cepção m acr o, ou sej a, com o u m pr ocesso de t r an sf or m a-ção social; ele ap r esen t a a su a an álise d a ad m in ist r aa-ção sob o v iés f u n d am en t al-m en t e eal-m p r esar ial, n a p er sp ect iv a d a r acion alid ad e in st r u al-m en t al q u e ob j et iv a ex clusiv am ent e o lucr o com o fim últ im o.

Por ou t r o lad o, é im p or t an t e r essalt ar q u e a ad m in ist r ação est á d ir et am en -t e r elacion ad a com o p r ocesso d e -t r an sf or m ação d as -t eor ias p olí-t icas, seg u n d o o au t or . Assim , a adm in ist r ação e a polít ica est ão r elacion adas e f u n cion am com o u m ag en t e d e t r an sf or m ação, d em on st r an d o, d esse m od o, q u e o con ceit o d e g est ão sob o v iés ú n ico d a or g an ização é m u it o r est r it o e sim plist a par a ex plicar a con f igu -r ação da est -r u t u -r a societ al m ode-r n a, con clu i o au t o-r .

Tam bém t ido com o u m au t or in st it u cion alist a, m esm o por qu e foi u m discípu -lo dest acado de Vebblen , o econ om ist a n or t e- am er ican o Wesley Clair Mit ch ell, em seu liv r o Os ciclos econôm icos e suas conseqüências ( 1 9 4 6 ) , r et r at a as f ases d os ciclo econ ôm ico, d escr ev en d o as car act er íst icas, cau sas e con seq ü ên cias d e cad a u m a d elas, b em com o o p r ocesso d e t r an sição d e u m a f ase p ar a ou t r a e su as esp ecif icid ad es.

Nessa an álise d o ciclo, Mit ch ell é b ast an t e d id át ico e com eça d escr ev en d o a r esp eit o d o in ício e d esen v olv im en t o d e u m t em p o d e p r osp er id ad e econ ôm ica. Ele cr ed it a à d if u são d as p r óp r ias at iv id ad es econ ôm icas o g r an d e f at or p ar a a p r osp er id ad e. Um f at o q u e m er ece m u it a at en ção, e q u e ser v ir á p ar a ou t r as f ases d o ciclo, r elacion a- se ao com p or t am en t o e às ex p ect at iv as e p r oj eções q u e os p r in cip ais ag en t es f azem , p ois o com p or t am en t o e as ex p ect at iv as d as p essoas p od em au m en t ar a p r osp er id ad e ou lev ar a u m a cr ise.

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n o m er cado f in an ceir o, qu e aj u dar á n a t r an sição par a u m a cr ise. Mit ch el descr ev e, t am b ém , o t em p o d e cr ise, q u e con sid er a ser p r op iciad o p elos au m en t os d os cu s-t os q u e n ão p od em m ais ser com p en sad os com os au m en s-t os d os p r eços, n em con t ar com em p r ést im os b an cár io, q u e p assam a f icar r est r it os n essa con j u n t u r a. O in cr em en t o d o en d iv id am en t o g lob al d as em p r esas n essas con d ições econ ôm icas p r ov oca u m p r ocesso d e liq u id ação. Esse cen ár io p r op icia u m am b ien t e con -t u r b ad o, d eses-t r u -t u r an d o o m er cad o e am p lian d o a cr ise.

Com o ser ia óbv io, par a o au t or , o ciclo de cr ise é f in alizado qu an do o ciclo seg u in t e p od e lev ar a u m t em p o d e p r osp er id ad e; e ist o ocor r e a p ar t ir d e ex p ec-t aec-t iv as p osiec-t iv as, q u an d o as em p r esas com eçam a au m en ec-t ar as aec-t iv id ad es econ ô-m icas, f azen d o coô-m q u e o aô-m b ien t e ô-m elh or e su b st an cialô-m en t e, p r op ician d o o r e-com eço de u m ciclo ascen den t e.

Essa ob r a p ou co se coad u n a com o con ceit o d e Ad m in ist r ação Polít ica. O liv r o seg u e u m a v isão r acion alist a e m at em at izad a p ar a o en t en d im en t o d a r eali-d aeali-d e, em b or a in cor p or e f at or es su b j et iv os eali-d e ex p ect at iv as econ ôm icas, sem eali-d ei-x ar , por ém , de v in cu lá- los à su a base an alít ica pr in cipal, n o caso à r azão pu r a, in st r u m en t al. O m er cad o é ap r esen t ad o com o elem en t o m aior e or d en ad or d a est r u t u r a econ ôm ica. As or g an izações são os ú n icos ag en t es r eg u lad or es d a eco-n om ia e d as est r u t u r as societ ais. Seeco-n d o assim , a p er sp ect iv a é m icr o e eco-n ão ex ist e u m d esen v olv im en t o d a con f or m ação d e p lan o m acr o p ar a t r an sf or m ações e m o-dif icações n o ciclo, por t an t o, u m a per cepção adm in ist r ada de f or m a descen t r alizd a n o âm b it o alizd o m er caalizd o e sem a m ealizd iação m ais alizd et er m in an t e p or p ar t e alizd o Est a-do. Nessa f or m u lação, t em os, en t ão, u m cer t o det er m in ism o econ ôm ico v in cu lado a u m ciclo est r u t u r al do m er cado.

Out r a im por t ant e e cont em por ânea cont r ibuição par a um m elhor ent endim ent o do I nst it ucionalism o ( par t icular m ent e do Nov o I nst it ucionalism o) é dada pelo eco-n o m i st a eco-n o r t e - a m e r i ca eco-n o D o u g l a ss C. No r t h , eco-n o l i v r o I eco-n st it u ições, m u d aeco-n ça

inst it ucional e desem penho econôm ico (I nst it ut ions, inst it ut ional change and econom ic perform ance – 1 9 9 0 ) , n o qu al con ceit u a as in st it u ições com o sen do a ex pr essão das

r egr as do “ j ogo” de u m a sociedade, ou sej a, são as lim it ações idealizadas pelo h om em e qu e dão for m a à in t er ação h u m an a, con for m an do, assim , as r elações, sej am elas polít icas, sociais ou econ ôm icas. A com pr een são das t r an sf or m ações hist ór icas, segundo o aut or , dependem da com pr eensão das m udanças inst it ucionais e da for m a com o a sociedade ev olu i. Por u m lado, t an t o as in st it u ições afet am a econ om ia e as est r u t u r as sociais com o são in f lu en ciadas por elas.

Par a o au t or , n ão ex ist em m u it os est u d os q u e an alisem a socied ad e e a econ om ia pelo v iés in st it u cion al. Assim , o seu liv r o pr et en de ser u m a im por t an t e con t r ib u ição p ar a u m a r ev isão d a t eor ia social b ásica d a econ om ia sob o v iés in st it u cion al e ap r esen t a a t eor ia d a m u d an ça in st it u cion al at r av és d as in t er f aces en t r e p assad o, p r esen t e e f u t u r o. O liv r o t em , ain d a, com o ob j et iv o a com p r een -são d a econ om ia e d a socied ad e ao lon g o d a h ist ór ia, cu j o p r ocesso é sin t et iza-do pelo au t or , con f or m e se coloca em segu ida.

As escolh as d e h oj e e d e am an h ã est ão con f or m ad as p elo p assad o, t an t o q u e ist o só se p od e f azer in t elig ív el n a m ed id a em q u e est e sej a con sid er ad o com o h ist ór ia d a ev olu ção in st it u cion al. I n t eg r ar as in st it u ições n o seio d a t eor ia econ ôm ica e d e u m a h ist ór ia ig u alm en t e econ ôm ica é u m p asso essen cial n o es-f or ço p ar a m elh or ar essa t eor ia e essa h ist ór ia.

Dessa m an eir a, as in st it u ições são con f or m ad as p ar a r ed u zir as in cer t ezas, est r u t u r ar a v id a d as p essoas, g u iar a in t er ação h u m an a. Essas est r u t u r as v ar iam a d ep en d er d a con f ig u r ação d a socied ad e n as q u ais est ão in ser id as. Melh or d i-zen d o: n u m con ceit o am p lo d e in st it u ições, seg u n d o Nor t h , elas in clu em t od o t ip o d e lim it ações q u e os ser es h u m an os cr iam p ar a d ar f or m a às su as in t er ações e podem ser de dois t ipos: f or m ais ( n or m as, leis, códigos et c. ) e in f or m ais ( h ábit os, cost um es et c. ) .

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A ef iciên cia d as in st it u ições d ev e- se, seg u n d o Nor t h , aos m od elos su b j et i-v os d os at or es sociais, d a cap acid ad e em r ed u zir cu st os d e t r an sações e d o g r au d e m ob ilid ad e em r esp on d er às d em an d as e em ad ap t ar - se às t r an sf or m ações. Em b or a, em p r in cíp io, a t eor ia in st it u cion al p ossa ser con sid er ad a com o est an d o em sin t on ia f in a com os d et er m in an t es su b j acen t es à con d u t a h u m an a, n o âm b it o econ ôm ico, a m aior ia d as t eor ias t ev e com o b ase o u t ilit ar ism o e a escolh a r acio-n al com o g u ias d o com p or t am eacio-n t o h u m aacio-n o. De t od o m od o, d o p oacio-n t o d e v ist a f o r m a l , n a t eo r i a i n st i t u ci o n a l a co o p er a çã o h u m a n a é a p r esen t a d a co m o o em b asam en t o d essas est r u t u r as sob os v ieses d a m ot iv ação, d as r elações com -p lex as d os m eios, d os m od elos su b j et iv os d a r ealid ad e e d e seu s at or es sociais. Assim , o liv r o d e Nor t h an alisa a socied ad e sob o v iés in st it u cion al, ap r e-sen t an d o as in t er f aces n a con f or m ação d as r elações sociais. Con sid er an d o q u e a ad m in ist r ação p olít ica é a ex p r essão d as in t er ações d o Est ad o com a socied ad e n a f or m ação d o p r oj et o d e n ação, log o o m od elo d e g est ão ( b ases in st it u cion ais e or g an izacion ais) con st it u i o ob j et o d a ad m in ist r ação. En t ão, essa ob r a, p or com -p r een d er as in st it u ições e as or g an izações cor r elacion ad as com a con ce-p ção d e socied ad e e su as t em p or alid ad es h ist ór icas, ap r esen t a con j ect u r as/ elem en t os par a desen v olv im en t o da Adm in ist r ação Polít ica. A an álise societ al sob a ót ica in st it u cion alist a f u n d am en t a e car act er iza as in st it u ições e as or g an izações q u e são as b ases d e co n f o r m ação d o m o d el o d e g est ão d e n ação .

Por su a v ez, a an álise in st it u cion al lev a em p er sp ect iv a a con d u t a h u m an a sob os asp ect os d e m ot iv ação, r elações com p lex as h u m an as e m od elos su b j et i-v os de com por t am en t o. Assim , per cebe- se u m cer t o r om pim en t o com u m a an álise sob o v iés d a r azão in st r u m en t al e f u n cion alist a, p r econ izan d o u m a cer t a in ser ção d as an álises su b j et iv as n a com p r een são d as r elações h u m an as, p or t an t o n as r elações sociais d e p r od u ção.

A com p r een são d essa r u p t u r a in st r u m en t alist a d ev e ser u m d os f u n d am en -t os b ásicos d os p r essu p os-t os d a ad m in is-t r ação p olí-t ica. En -t ão, as in -t er f aces en -t r e as r elações d as r azões in st r u m en t ais e su b j et iv as con st it u em , n est e liv r o, u m p r essu p ost o b ásico d a est r u t u r ação d a Ad m in ist r ação Polít ica p ar a p r iv ileg iar u m plan o n acion al com f in s societ ais de desen v olv im en t o h u m an o com u m .

III

O Ger encialism o7, em v er dade, t em in spir ação n o I n st it u cion alism o, par t icu

-lar m en t e n a ob r a d e Veb len Os engenheir os e o sist em a de pr eços ( l921) , quando o au t or an t ev ê u m a t en d ên cia p ar a a f or m ação d e u m a t ecn ocr acia com an d ad a p or econ om ist as e en g en h eir os, d eslocan d o, assim , o p od er d e com an d o d a b u r g u e-sia in d u st r ial, d aí a su a p r eocu p ação em d est acar o asp ect o d a cu lt u r a p ecu n iár ia

7 O Ger encialism o é com pr eendido com o um a dout r ina econôm ica, de inspir ação or iginár ia no

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( u m a ab or d ag em p sicológ ica e an t r op ológ ica) d a b u r g u esia am er ican a.

Est e ar qu ét ipo t eór ico t em em Jam es Bu r n h am o seu pr in cipal t eór ico, t en do com o pr in cipal t r abalh o A revolução dos gerent es . Nest e liv r o, Jam es Bu r n h am apr esen t a u m a d ef in ição r azoáv el p ar a r ev olu ção q u e se car act er iza p or : i) t r an sf or -m ações qu e pr odu za-m -m u dan ças r adicais n as pr in cipais in st it u ições sociais, polít icas e econ ôm icas; ii) m u dan ças em par alelo n as in spolít ipolít u ições cu lpolít u r ais e n as cr en -ças q u e con f or m am o p en sam en t o h u m an o; iii) ap ar ição d e u m g r u p o d e h om en s q u e d om in am e con t r olam a m aior p ar t e d o p od er e p r iv ilég ios sociais.

Na r ealid ad e, as in st it u ições sociais e cu lt u r ais, cr en ças e r elações d e p od er est ão su b m et id as a m od if icações con st an t es. No en t an t o, q u an d o ex ist e u m a p er íod o d e r ev olu ção social, ob ser v a- se q u e est as t r an sf or m ações seg u em u m r it m o aceler ado. Além dessa def in ição, o liv r o v ai de en con t r o a algu m as af ir m a-ções t idas com o ir r efut áv eis na época, t ais com o : i) as m esm as causas que dest r óem o Capit alism o f or t alecem o Socialism o e v ice- v er sa; ii) su cessão au t om át ica do Capit alism o par a o Socialism o, sem n en h u m ou t r o t ipo de r egim e polít ico a m ais.

Segu n do Bu r n h am , a pr in cipal t r an sf or m ação do con t ex t o econ ôm ico, eix o cen t r al do liv r o, v in cu la- se a u m dit o n ov o sist em a pr odu t iv o, o Regim e dos Diret

o-res ( p or ele av en t ad o) , r ef lex o d o au m en t o d a com p lex id ad e d a p r od u ção, q u e

ex ig ir ia u m a d ir eção elit ist a f or m ad a p elos ch ef es d e p r od u ção e n ão p elos acio-n ist as ou d oacio-n os d as em p r esas. Est e ser ia u m f eacio-n ôm eacio-n o q u e ocor r er ia t aacio-n t o acio-n a em p r esa est at al q u an t o n a p r iv ad a. Com o au m en t o d e seu p od er , est es d ir et or es i r i a m ca d a v e z m a i s e x i g i r p a r t i ci p a çã o n o s l u cr o s e r e co m p e n sa s p o r su a in dispen sabilidade. Com a ev olu ção econ ôm ica, eles logo ir iam t om ar u m a con sci-ên cia d e classe e, con seq ü en t em en t e, b r ig ar iam p elos seu s in t er esses8. Com o

desapar ecim en t o do capit alism o, t ido com o cer t o por Bu r n h am , os f in an cist as, a p r op r ied ad e p r iv ad a d os m eios d e p r od u ção, t u d o ir ia su m ir . Só r est ar ia a classe d os d ir et or es, e a d ir eção d a p r od u ção se con f u n d ir ia com a p r óp r ia d ir eção d a socied ad e, j á q u e eles n ão ser iam m ais lim it ad os p elo Est ad o Cap it alist a.9

Est a ob r a n ão t r at a ex p licit am en t e sob r e o con ceit o e a p er cep ção d a Ad m i-n ist r ação Polít ica, ei-n t r et ai-n t o, alg u m as ob ser v ações são p lau sív eis p ar a est e es-t u d o. Na v er d ad e, o au es-t or p r op õe u m g er en ciam en es-t o f eies-t o p or u m a n ov a classe ( ad m in ist r ad or es) su b st it u in d o o Est ad o e a classe b u r g u esa n o p ap el d e con d u -ção d o d est in o d a socied ad e. Assim , p er ceb e- se im p licit am en t e a p er sp ect iv a d o au t or p ar a o im p or t an t e p ap el d a g est ão ( Regim e dos Diret ores ) n a con f or m ação d os esp aços p r od u t iv os e d ist r ib u t iv os d a n ov a r elação social d e p r od u ção. Nesse p r essu p ost o, ex ist e u m a clar a ap r ox im ação d o au t or com o n osso con ceit o d e Ad m in ist r ação Polít ica n a r elação d a im p or t ân cia d ad a à g est ão.

Talv ez p elo est ág io n ov icial em q u e se en con t r av a essa d iscu ssão, p ou co se p ôd e av an çar a r esp eit o d e se con ceb er a g est ão com o ob j et o d a ad m in ist r ação e, assim , det er m in ar m ais clar am en t e u m n ov o cam po do con h ecim en t o. É cer t o q u e est a p r ox im id ad e ex ist e e é v ist a a p ar t ir d o m om en t o em q u e o au t or com p r een d e q u e o Est ad o ( p r in cip al ag en t e d a ad m in ist r ação p olít ica, p or t an t o o p r in -cip al ag en t e m ob ilizad or d os in st r u m en t os d e g est ão d as r elações sociais n o m od o

noção do que sej a a adm inist ração enquant o cam po próprio da ciência, part icularm ent e do seu obj et o, do seu m ét odo de inv est igação e das suas leis ger ais, t ent am fazer v er que o Ger encialism o que apr egoam , not adam ent e aquele que est á sendo ut ilizado na base est at al ( à sem elhança daquele inst r um ent alizado pelo set or pr ivado) é um gêner o novo, descober t o pela ciência social pr oduzida pelos neoliber ais. Sem dúv ida, isso é lev iano, idiot a e r epugnant e par a aqueles que sincer am ent e pr ocur am fazer pesquisa t eór ica e aplicada nas univ er sidades, pois o com pr om isso dessa gent e é com o opor t unism o pr ofissional que se or ient a pelos cam inhos m ais fáceis par a se ganhar dinheir o.

8 Em bor a m ediant e um pr ocesso difer ent e daquele pr evist o por Bur nham , foi exat am ent e dur ant e o

pr ocesso de desapar ecim ent o da URSS e o sur gim ent o da Rússia que os ger ent es do socialism o se t r ansfor m ar am , de um a noit e par a o dia, em v er dadeir os capit alist as – um ex em plo per feit o da acum ulação pr im it iv a analisada por Mar x em O Capit al.

9 A ant evisão do desapar ecim ent o da pr opr iedade pr ivada dos m eios de pr odução e o sur gim ent o do

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d e p r od u ção cap it alist a ) é su b st it u íd o ( d en t r o d e u m a con cep ção m ar x ist a-l e n i n i st a ) . Nã o é a p r e se n t a d o , p o r é m , d e f o r m a ca-l a r a , co m o se d a r i a a in st it u cion alização d essa n ov a est r u t u r ação societ al, car act er izad a n o q u e o au t or ch am a d e Regim e de Diret ores, n em t am pou co os f in s pr et en didos, par t icu -lar m en t e qu an do se per cebe ex ist ir u m a t en dên cia de m an u t en ção da est r at ificação

da soci

edade em cl

asses.

10

Tan t o o av an ço d a n oção d o ger encialism o, q u an d o a con f u são t eór ica d e Jam es Bu r n h am v ão est ar n o seu liv r o in t it u lado A lut a pelo m undo, escr it o após a Segu n da Gu er r a Mu n dial, em plen a gu er r a f r ia, cu j o eix o pr in cipal é a def esa da p ossib ilid ad e d e u m a u n icid ad e m u n d ial11. O m u n d o, seg u n d o Bu r n h am , q u an d o

an alisado t an t o em t er m os n at u r alist as, com o em t er m os f ísicos ou m et af ísicos, d en ot a q u e t em u m a u n icid ad e. Por ém isso n u n ca im p ed iu q u e o h om em v iv esse em con st an t e con f lit o. Se se q u iser , t am b ém o m u n d o p od e ser con sid er ad o u m só p elo asp ect o t ecn ológ ico e econ ôm ico, m as ain d a h á u m u n iv er so d e d ist ân cia d e ser ú n ico cu lt u r al e socialm en t e. Seu p on t o d e ch eg ad a é q u e, sen d o elim in ad as as d ist ân cias cu lt u r ais e sociais ( p or t an t o os con f lit os d aí d ecor r en t es) , est ar iam con cr et izad as as p r econ d ições p ar a u m a con f or m ação ú n ica d o m u n d o.

Par a a v iabilização do pr ocesso de u n if icação m u n dial, dev e ex ist ir u m país q u e con t r ole e con f or m e essas est r u t u r as m u n d iais. Esse com an d o acon t ecer ia at r av és d e u m g ov er n o escolh id o e aceit o v olu n t ar iam en t e p or t od os os p ov os. Por ou t r o lad o, se n ão h ou v esse p ossib ilid ad e d e h av er esse con t r ole v olu n t ár io, a or dem só poder ia ser alcan çada pelo u so da f or ça, cr ian do, assim , u m im pér io m u n d ial u n id o m ed ian t e a coer ção.

A par t ir de um a análise ex t r em am ent e par cial e ideologizada, Jam es Bur nham d ef en d e a id éia d e q u e o con t r ole p olít ico in t er n acion al d ev er ia ser d iv id id o en t r e os Est ad os Un id os d a Am ér ica ( EUA) e a en t ão Un ião d as Rep ú b licas Socialist as Sov iét icas ( URSS) , por ém ser ia con v en ien t e o con t r ole de com an do ú n ico com os EUA, pois ex ist ir ia u m a con f or m ação de u m im pér io dem ocr át ico qu e r espeit ar ia a lib er d ad e d e cu lt u r a e ex p r essão d os p ov os p or ele g u iad os. Já o con t r ole v ia URSS lev ar ia à cr iação de u m im pér io t ot alit ár io, at r av és dos con t r oles absolu t os d os seu s m em b r os.12

A f or t e d ose id eológ ica d as t eses d e Bu r n h am n ão p od er ia d eix ar d e ser acom pan h ada de u m a pr ofecia qu e coin cidisse com a su a ideologia – assim , escr e-v eu o lie-v r o int it ulado A inee-vit áe-vel derrot a do com unism o ( 1950) . Bur nham basicam en-t e an alisa e q u esen-t ion a os g an h os e p er d as d o com u n ism o n o cen ár io m u n d ial sob u m pon t o de v ist a n ão com u n ist a, pr opon do ações qu e lev em à elim in ação desse

1 0 Duas coisas nos par ecem pr oblem át icas nessa for m ulação de Bur nham sobr e o pr ocesso de

subst it uição do capit alism o por um out ro m odo de produção. Em prim eiro lugar, não deixa claro por que o capit alism o ser á subst it uído e, m uit o m enos ainda, a r elação de pr opr iedade que ser á est abelecida na nov a sit uação, que ele cham a de societ al. Em segundo, é const r uir essa nov a or dem social sem o Est ado, ou m elhor , sem um Est ado. Tant o na concepção m ar x ist a- leninist a quant o nessa de Bur nham , não fica m uit o j ust ificado com o ser iam confor m adas r elações sociais em cont ex -t os com plex os, sem o es-t abelecim en -t o de in s-t i-t u ições qu e r epr esen -t assem os sis-t em as de leis e nor m as ( o apar at o j ur ídico) , os m ecanism os de sanções ( o apar at o de segur ança, cont r ole e ar bit r a-gem ) , os espaços das r epr esent ações polít icas ( o apar at o par lam ent ar ) e os inst r um ent os de enca-m inhaenca-m ent o das deenca-m andas sociais ( os par t idos polít icos, eenca-m sent ido aenca-m plo) . Desse enca-m odo, qualquer inst it ucionalização que se faça dessas r epr esent ações est am os diant e de um Est ado; pode não ser , e v er dadeir am ent e não ser á, um Est ado de nat ur eza e pr opósit os bur gueses, m as ser á um Est ado. Nesse sent ido, é bom que se diga que o Est ado se define pela nat ur eza e pelo seu cont eúdo e não pela for m a.

1 1 Essa pr opost a de Bur nham denot a um a t r ansição do ger encialism o do espaço nacional par a o

int er nacional. Essa possibilidade só é ant ev ist a depois da inst it ucionalização das r elações int er naci-onais, a par t ir de Br et t on Woods, at r av és dos sist em as Nações Unidas, Banco Mundial, o Acor do de Tar ifas e Com ér cio, o Fundo Monet ár io I nt er nacional, inclusiv e o Plano Mar shall, que significav a a pr át ica m ais ev ident e da “ solidar iedade” ent r e as nações, enfim , ent r e os pov os.

1 2 I nfelizm ent e, o desej o do aut or est á- se cum pr indo nest e ex at o m om ent o da hist ór ia da hum

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r eg im e. Essa t eor ia f u n d am en t a- se n as an álises d os acor d os in t er n acion ais q u e r eflet em as h ier ar qu ias de poder en t r e as n ações, n o cr escim en t o da Un ião Sov iét i-ca dent r o do pr ocesso de guer r a fr ia e no m ov im ent o polít ico- hist ór ico com unist a qu e se au t odef in e com o “ u n ião da t eor ia à pr át ica” e, ain da, n a con st r u ção de est r at égia dos países n ão com u n ist as par a o en f r en t am en t o da “ gu er r a f r ia” .

As con clu sões d e Bu r n h am d av am con t a d e q u e n ão ex ist ia u m a con sciên -cia e n em u m a est r at égia par a com bat er a polít ica com u n ist a de av an ço in t er n aci-on al. Nesse sen t id o, er a p r eciso u r g en t em en t e d esen v olv er u m a est r at ég ia d e com b at e a est e av an ço com u n ist a. Essa, en t ão, p assa a ser a t ar ef a à q u al Jam es Bu r n h am v ai se dedicar n o liv r o A inevit ável derrot a do com unism o, m as com um r esu lt ad o p r év io j á em m ãos: n a b at alh a en t r e os d ois r eg im es, h av ia a cer t eza d e q u e o cap it alism o su p lan t ar ia e d er r ot ar ia o r eg im e com u n ist a.

Em bor a os pr opósit os sej am dist int os, par t icular m ent e em r azão do v iés for t e-m ent e ideologizado, o ger encialise-m o de Bur nhae-m t ee-m algue-m as int er faces coe-m as nossas pr eocupações a r espeit o da Adm inist r ação Polít ica. A sua idéia de m ont ar um m odelo de or ganização m undial único, a par t ir de dois países hegem ônicos, par a a elim inação de conflit os e a cr iação de um a sociedade única, é um a apr ox im ação for t e do nosso conceit o de Adm inist r ação Polít ica, que se t r aduz na pr eocupação de cons-t r ução de um a gescons-t ão das r elações sociais par a a elev ação do gr au da m acons-t er ialidade da hum anidade. Cer t am ent e, est e não t em sido e não ser á um a pr ocesso pacífico, por que env olv e m últ iplos int er esses de classes, por t ant o im possív el de se m at er iali-zar no cont ex t o do capit alism o, em bor a nest e se possa av ançar consider av elm ent e

vis-à-vis com out r os m odos de pr odução j á ex per im ent ados pela hum anidade.

Desse m odo, qu an do a an álise de Bu r n h am pr essu põe a elim in ação de con -flit os e difer en ças cu lt u r ais n ão só assu m e o t ot alit ar ism o ( e n ão a dem ocr acia) com o a con dição polít ica v iabilizador a da paz en t r e as n ações e do bem - est ar m a-t er ial da h u m an idade, assim com o a-t am bém n ega a ex isa-t ên cia de con flia-t os de in a-t e-r esses en t e-r e os d if ee-r en t es g e-r u p os e classes sociais – con cep ções q u e n ão p od em r epr esen t ar u m in st r u m en t o de f or m ação de u m a gest ão das r elações sociais sob a p er sp ect iv a d est e est u d o. A in g en u id ad e ou a m á f é d o au t or ch eg a ao seu áp ice qu an do, n a t en t at iv a de aper f eiçoar o seu m odelo, elim in a a bipolar idade de co-m ando ent r e coco-m unisco-m o e capit alisco-m o, diz que o fico-m do coco-m unisco-m o é uco-m a quest ão de t em po e passa a adv ogar a ideologia am er ican a com o a m ais adequ ada aos in t er esses em qu est ão ( óbv io qu e aos in t er esses do capit alism o) . Sen do assim , podem os dizer qu e esse m odelo con cebido pelos ger en cialist as n ão f oi desen v ol-v ido pr opr iam en t e com u m a pr eocu pação de est r u t u r ação ou plan ej am en t o de u m sist em a pr odut iv o que pr opicie um fim societ al m ais igualit ár io. Dessa for m a, per ce-bem os qu e o ar qu ét ipo t eór ico ger en cialist a desen v olv eu - se com o u m f im , ou sej a, a gest ão com o um fim e não com o um m eio par a const r ução societ al. Assim , a sua co n t r i b u i çã o t o r n a - se p e q u e n a e p o u co co l a b o r a p a r a a co n f o r m a çã o e inst r um ent alização do conceit o t eór ico ( por t ant o am plo) da Adm inist r ação Polít ica.

IV

A ch am ada Escola Francesa da Regulação13, assim com o o I nst it ucionalism o e

o Ger en cialism o, t am b ém se f u n d am en t a n a op osição às leis econ ôm icas ab st r a-t as p r od u zid as p ela or a-t od ox ia, p ar a-t in d o d a h ip óa-t ese d e q u e as ciên cias h u m an as são as q u e t êm com o ob j et o d e est u d o as r elações sociais. Os t r ab alh os p ion eir os

1 3 Par a alguns aut or es, e não sem r azão, a Escola da Regulação é um a der iv ação da Escola

(13)

su r g em ain d a n a d écad a d e 6 0 , e G. Dest an n e d e Ber n is ( u m d os p r im eir os a in t r od u zir a ex p r essão n as p esq u isas em ciên cias sociais) e o Gr u p o d e Pesq u isa sob r e a Reg u lação d a Econ om ia Cap it alist a ( GRREC, f or m ad o p or p esq u isad or es d a ch am ad a Escola d e Gr en ob le) p r ocu r ar am d ef in ir as n or m as e as d if er en t es v ar iáv eis d e aj u st am en t o p r óp r ias d as econ om ias cap it alist as. Não ob st an t e a p olissem ia d e ab or d ag en s, as p esq u isas q u e m ais car act er izam essa Escola p ar -t em d a co m p r een são d a i n -t er v en ção a-t i v a e co n sci en -t e d o Es-t ad o : n o p l an o m acr oecon ôm ico, a com p r een são r elev an t e r ecai n a p olít ica k ey n esian a d a est ab i-lização e d o cr escim en t o e, n o p lan o set or ial ou m icr oecon ôm ico, as p r eocu p ações est ão cen t r ad as n os d if er en t es in st r u m en t os d e r eg u lam en t ação. Par a alg u n s au t or es ( com os q u ais n ós con cor d am os) , a Escola d a Reg u lação é u m a d er iv ação da Escola I n st it u cion alist a, v ale dizer , do v elh o in st it u cion alism o, t en do com o pr in -cip ais n om es e ob r as os q u e an alisar em os a seg u ir .

Michel Agliet t a, no liv r o Regulación y crisis del capit alism o ( 1 9 9 1 ) , t r at a a t eo-r ia d a eo-r eg u lação d o cap it alism o at eo-r av és d e u m a an álise h ist óeo-r ica d a acu m u lação cap it alist a n os Est ad os Un id os, p ar a ex p licit ar as p r in cip ais t r an sf or m ações d o sécu lo. A t eor ia d a r eg u lação d o cap it alism o é o f u n d am en t o d o con ceit o d e

Capi-t alism o MonopolisCapi-t a do EsCapi-t ado. Essa ex p r essão é p r od u zid a ao f in al d e u m p r

oces-so an alít ico q u e d esv en d a as leis g er ais d a r eg u lação e a f or m a com o essas leis se t r an sf or m am h ist or icam en t e.

A cr ise d o cap it alism o f az p ar t e d as leis d e r eg u lação p or q u e os m om en t os d e t r an sf or m ação d os m od os d e p r od u ção e t r oca são n ecessár ios p ar a m an t er as leis d e acu m u lação. O cap it alism o só p od e sair d e su a cr ise or g ân ica con t em p or â-n ea at r av és d e u m a â-n ov a coesão, u m â-n eof or d ism o. Essa com p at ib ilid ad e só é p ossív el se as t r an sf or m ações est r u t u r ais p r ov ocar em u m a r ed u ção, a lon g o p r a-zo, d os cu st os sociais d a f or ça d e t r ab alh o, q u e é a b ase d a acu m u lação in t en si-v a. O m od o d e con su m o t er á q u e ser r eest r u t u r ad o p r of u n d am en t e, at r asi-v és d a socialização cen t r ad a n os m eios d e con su m o colet iv o, o q u e ser á p ossív el p or m eio d e u m n ov o m od o d e or g an ização d o t r ab alh o.

A socialização m aciça d as con d ições d e v id a ser á f eit a f or çosam en t e e aca-b ar á p or d est r u ir a liaca-b er d ad e d as em p r esas, p ilar es d a id eolog ia liaca-b er al. A m ag n it u d e d as it r an sf or m ações n as con d ições d e ex isit ên cia d o it r ab alh o assalar iad o in -ser e u m n ov o car át er p ar a a in t er v en ção d o Est ad o n as f or m as est r u t u r ais. Um elem en t o t am b ém im p or t an t e é a f u são d os v ár ios sist em as in st it u cion ais d e seg u r id ad e e assist ên cia em f av or d a g ar an t ia d e u m a r en d a m ín im a q u e se ap lica a qu alqu er sit u ação social. Ou t r o elem en t o essen cial ser á a coor den ação dos m eios colet iv os e p r iv ad os d os m eios d e con su m o, q u e, d ev id o aos in t er esses sociais r esu lt an t es, ex ig ir á u m sist em a d e n or m as m ín im as d e q u alid ad e e q u an t id ad e.

A ar t icu lação cad a v ez m aior d as r elações sociais d o Est ad o é a ú n ica r es-p ost a com es-p at ív el com a m an u t en ção d a r elação salar ial q u an d o a socialização d as con d ições d e v id a con t r ad izem os m od os d e est r at if icação d o p r olet ar iad o. O f u t u r o d ir á se a ev olu ção d as f or m as d e r eg u lação p er m it ir á f alar d e u m a t r an sf or -m ação d o cap it alis-m o -m on op olist a d o Est ad o e-m cap it alis-m o d o Est ad o.

O liv r o pr opõe u m n ov o pr ocesso de in t er v en ção de f or m a dif er en ciada com o ag en t e r eg u lad or . Sen d o essa p r em issa u m p ar ad ig m a d e con f or m ação d o est u d o da Adm in ist r ação Polít ica, a r egu lação pr et en de r eor gan izar as est r u t u r as de m odo a con f or m ar u m a p r op ost a d e d esen v olv im en t o d e u m m od elo d e g est ão societ al su st en t áv el. Por t an t o, o Est ad o n ão elim in a os con f lit os, m as ab r e esp aços p ar a ou t r as in st it u ições assu m ir em a r esp on sab ilid ad e d a con j u n t u r a social.

Referências

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