SOCIEDADE BRASILEIRA DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA
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Artigo
original
Índice
de
fadiga
do
músculo
quadríceps
femoral
em
atletas
de
futebol
após
reconstruc¸ão
do
ligamento
cruzado
anterior
夽
Maria
Luzete
Costa
Cavalcante
a,
Paulo
Renan
Lima
Teixeira
a,∗,
Tamara
Cristina
Silva
Sousa
b,
Pedro
Olavo
de
Paula
Lima
ae
Rodrigo
Ribeiro
Oliveira
a aHospitalUniversitárioWalterCantídio(HUWC),UniversidadeFederaldoCeará(UFC),Fortaleza,CE,BrasilbUniversidadeUnichristu,Fortaleza,CE,Brasil
informações
sobre
o
artigo
Históricodoartigo:
Recebidoem12demarçode2015 Aceitoem14dedezembrode2015
On-lineem1dejunhode2016
Palavras-chave:
Fadiga
Ligamentocruzadoanterior Futebol
r
e
s
u
m
o
Objetivos:Opresenteestudopropõeavaliarafadigamusculardomúsculoquadrícepsem atletasdefuteboldealtorendimentosubmetidosàligamentoplastiadoligamentocruzado anterior(LCA).
Métodos:Foramavaliados17atletasdefutebolcomaltorendimentoquepertenciam con-juntamenteatrêstimesdefutebolprofissionaldeumdeterminadoestadobrasileiro,de agostode2011ajulhode2012.Todosforamavaliadosentre5,5e7mesesdepós-operatório deligamentoplastiadoLCAnodinamômetroisocinéticodamarcaBiodex®(System4Pro) comprotocolodetesteCON/CONnasvelocidadesde60◦/se300◦/scom5e15repetic¸ões, respectivamente.Nocálculodafadigamuscularlocal,usamosoíndicedefadigaqueé cal-culadocomadivisãodotrabalhofeitonoterc¸oinicialdasrepetic¸õespeloterc¸ofinaldas repetic¸õesea multiplicac¸ãopor100paraexpressarumaunidadeem porcentagem(i.e., variávelquantitativadiscreta).
Resultados: Todoseramdosexomasculino,commédiade21,3±4,4anos;IMCmédiode 23,4±1,53cm;comdominânciaàesquerdaem47%(n=8)dosatletas;eadireitaem53% (n=9)dosatletas;omembroenvolvidonalesãofoiodominanteem29%(n=5)doscasoseo nãodominanteem71%(n=12).Osíndicesdefadigaforamde19,6%nomembroenvolvido ede29,0%nosmembrosnãoenvolvidos.
Conclusão:Osresultadosnospermitemconcluirquenãohádiferenc¸asignificativaentreos membrosenvolvidosenãoenvolvidosnalesãodeLCAnoquedizrespeitoàfadigamuscular local.Tambémnãofoiobservadaassociac¸ãoentreserdestrooucanhotocomomembro envolvidonalesãodeLCA.
©2016SociedadeBrasileiradeOrtopediaeTraumatologia.PublicadoporElsevierEditora Ltda.Este ´eumartigoOpenAccesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND(http://
creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
夽
TrabalhodesenvolvidonoServic¸odeOrtopediaeTraumatologia,HospitalUniversitárioWalterCantídio(HUWC),UniversidadeFederal doCeará(UFC),Fortaleza,CE,Brasil.
∗ Autorparacorrespondência.
E-mails:renanteixeira.ortopedia@hotmail.com,prenanlt@yahoo.com.br(P.R.L.Teixeira).
http://dx.doi.org/10.1016/j.rbo.2015.12.002
Index
of
fatigue
quadriceps
in
soccer
athletes
after
anterior
cruciate
ligament
reconstruction
Keywords:
Fatigue
Anteriorcruciateligament Football
a
b
s
t
r
a
c
t
Objective: Thepresentstudyaimedtoevaluatethemusclefatigueofthequadricepsmuscle inhigh-performancesoccerplayersundergoing(anteriorcruciateligament)ACL reconstruc-tion.
Methods: Weevaluated17high-performancesoccerplayersfromthreeprofessionalsoccer teamsofastateinBrazilfromAugust2011toJuly2012.Allsubjectswereevaluatedbetween 5.5and7monthsafterACLreconstructionwithaBiodex®isokineticdynamometer(System 4Pro)withtestprotocolCON/CONat60◦/sand300◦/swith5and15repetitions,respectively. Inthecalculationoflocalmusclefatigue,thefatigueindexwasused,whichiscalculated bydividingthelabordoneinthefirstone-thirdoftherepetitionsbythatdoneatthefinal one-thirdoftherepetitions,andmultiplyingby100toexpressaunitinpercentage(i.e.,as adiscretequantitativevariable)
Results: All subjects were male, with a mean age of 21.3±4.4 years and mean BMI 23.4±1.53cm;leftdominancewasobservedin47%(n=8)ofathletes,andrightdominance, in53%(n=9)ofathletes;andthelimbinvolvedinthelesionwasthedominantin29%(n=5) andthenon-dominantin71%(n=12).Fatiguerateswere19.6%intheinvolvedlimband 29.0%inthenon-involvedlimb.
Conclusion:Theresultsallowustoconcludethattherewasnosignificantdifferencebetween thelimbsinvolvedandnotinACLinjuriesregardinglocalmusclefatigue.Noassociation wasobservedbetweenthedominantsideandthelimbinvolvedintheACLinjury.
©2016SociedadeBrasileiradeOrtopediaeTraumatologia.PublishedbyElsevierEditora Ltda.ThisisanopenaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense(http://
creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Introduc¸ão
Arupturadoligamentocruzadoanterior(LCA)éumalesão recorrenteefuncionalmentelimitanteentreosatletasde fute-bol.Aliteraturaindicaquenofuteboleuropeuumatletade altorendimentotemoLCAlesionadoacada2.000horasde práticadoesporte,14%dasentorsesdejoelholesionamessa estruturaeportemporadacadaclubedisputa12,8jogoscom otimedesfalcadodevidoàrupturadeLCA.1Essalesãoé fre-quenteematletasdefuteboldealtorendimento,quefazem movimentosdehiperextensãobruscos,torc¸ãovalgaerotac¸ão dojoelhoemexcessocomopéfixonosolo.2
Somadosao grandenúmero de pessoas expostas atais agravos,aslesõesresultantesdapráticadofuteboleos ris-coselevadosparaoseudesenvolvimentotêmsidoobjetode interessee preocupac¸ãodeprofissionais da área da saúde. Afinal,namaioriadoscasoselaéincapacitanteedetermina o afastamento, por períodos variados, dos treinamentos e das competic¸ões,para queseja tratada de forma corretae coerente.3
Além das func¸ões biomecânicas conhecidas, estudos anatômicostambémtêmdemonstradoqueoLCA,por con-termecanorreceptores,tambémtemfunc¸ãosensorial.4Após arupturatotalouparcialdoLCA,osindivíduospodem apre-sentar déficit da consciência de posicionamentoarticular,5 deficiêncianapercepc¸ãodamudanc¸ade posic¸ãoduranteo movimentopassivo6ereflexodecontrac¸ãodosmúsculosque posteriorizamatíbiaemrelac¸ãoaofêmur,principalmenteo grupamentoisquiotibialdoladoacometido.7Essasalterac¸ões proprioceptivas, por sua vez, inibem a ac¸ão das unidades
motorasdogrupamentomuscularextensordojoelhoe dimi-nuem, assim, a forc¸a, a potência e o trabalho muscular e causamumapossívelperdaderendimento.2
Acirurgiadereconstruc¸ãodoligamentocruzadoanterior (LCA)écomumentefeitanapráticaortopédica.Aescolhado melhorenxertoautólogoparaareconstruc¸ãodoLCA,em joe-lhoscominsuficiênciadesseligamento,temsidoassuntode debate.Oenxertodo1/3centraldoligamentodapatela(TP) foiamplamenteusado,nasdécadasde1980e1990.Nofim dosanos1990,ostendõesflexoresdosemitendíneoegrácil (TF)passaramaserusadoscommaiorfrequência.Porém,até omomento,hádiscordânciasparaaescolhadoenxertopara areconstruc¸ãodalesãodoLCA.8
Dentreasdisfunc¸õesmuscularesobservadasempacientes apósareconstruc¸ãodoLCA,destaca-seafraquezadomúsculo quadrícepsfemoral,promovidapelareduc¸ãodasobrecarga,o derramearticulareador,quepodepersistirmesmodepois de maisde seis meses de pós-operatório com reabilitac¸ão agressiva.Essafraquezaédecorrentedeumaativac¸ão volun-tária incompletadomúsculo advindada inibic¸ão muscular artrogênica,quesetratadeumreflexodeinibic¸ãocontínuo da musculaturaaoredordojoelhoquandohádanos nessa articulac¸ão,retardaareabilitac¸ãonamedidaemqueimpede ganhosnaforc¸amusculardoquadrícepsfemoralealteraa propriocepc¸ão.9
conduc¸ãodessesimpulsos.Apesardeesseserumtema rele-vante,nãoécompletamenteelucidado.10–12Deacordocoma definic¸ãodefadigamusculareseusaspectos,épossível hipo-tetizarqueexistealgumaalterac¸ãodessavariávelnomúsculo quadrícepsapósarupturadoLCA.
Tipicamentesãodefinidosdoistiposdefadigamuscular:a queresultadealterac¸õesdahomeostasianopróprio muscu-loesquelético,independentementedavelocidadedeconduc¸ão doimpulsoneural,edesignadaporfadigadeorigem perifé-rica;eaqueresultadealterac¸õesdoinputneuralquechega aomúsculo,traduzidaporumareduc¸ãoprogressivada velo-cidadeefrequênciadeconduc¸ãodoimpulsovoluntárioaos motoneurôniosduranteoexercício,normalmentedesignada porfadigadeorigemcentral.13
Umadasformasdeseavaliaroequilíbriomuscularentreo quadrícepsfemoraleosisquiotibiaispodeserapartirdeum testefeitoemumequipamentochamadodinamômetro iso-cinético.Aavaliac¸ãodaforc¸amuscularespecificamentefeita emdinamômetroisocinéticovemsendousadanodiagnóstico dedisfunc¸õesneuromusculares,nareabilitac¸ão,notreinoena investigac¸ão,comoindicadordafunc¸ãoedodesempenhode certosgruposmusculares.14
Estudosdivergemsobreosíndicesdefadigamuscularem indivíduossubmetidos à cirurgiade reconstruc¸ão ligamen-tare,emvirtudedeosresultadosobtidosnaliteraturaserem conflitantes,surgiuaideiadetestareavaliarrealmentequal ocomportamentodamusculaturaextensoranoprocessode fadigamuscular.Alémdisso,comoaumentodaincidênciadas lesõesligamentaresematletasdefutebolprofissional, pode-remosobservardiretamenteemaisclaramenteoimpactoda cirurgiano desempenhodesses atletas dealto rendimento e no futuro a ideia de se propor o uso de protocolos de reabilitac¸ãoquepossibilitemumamelhoriadodesempenho eaumentodaresistênciaàfadiga.
Osprincipaisobjetivosdareabilitac¸ãoapósareconstruc¸ão do LCA são readquirir uma normal estabilidade articular, reestabeleceraamplitude totaldosmovimentos,conseguir boaforc¸amusculardomembrolesado,aumentarocontrole neuromuscular, retomarumaatividade funcionalnormal e minimizaroriscodelesãodeestruturassecundáriasdojoelho, tendocomoobjetivoprioritárioatingirasimetriapós-cirúrgica dosjoelhos.15Portanto,oprotocolodereabilitac¸ão deveser cuidadosamenteplanejado,comoobjetivoprimeiramentede restaurac¸ãodaamplitudedomovimentoegradativoaumento deresistênciaeforc¸amuscular.14
Opresenteestudotemcomoobjetivoavaliaroíndicede fadigamusculardoquadrícepsematletasdefuteboldealto rendimentosubmetidos à reconstituic¸ãodoligamento cru-zadoanterior,tendocomoreferênciaomembrocontralateral.
Metodologia
Estudotransversal,desenvolvidoemumLaboratóriode Aná-lisedeMovimentoHumano,deagostode2011ajulhode2012, aprovadopeloComitêdeÉticaemPesquisacomprotocolode número230/2011.Otermodeconsentimentolivree esclare-cidofoi assinadopelosparticipantes,queconfirmaram sua participac¸ãovoluntárianapesquisa.
Foramusados17atletasdefutebolcomaltorendimento quepertenciamconjuntamenteatrêstimesdefutebol profis-sionaldeumdeterminadoestadobrasileiro,foramincluídos todosaquelesquesofreramlesãodoLCA eforam submeti-dosàcirurgiadereconstituic¸ãoligamentar.Osatletasforam encaminhadospelodepartamentomédicodostimesdosquais faziam parte. Para participar da pesquisa os atletas não deveriamapresentardescompensac¸ãodosistema cardiorres-piratório,como hipertensãoarterialnãocontrolada, angina ouarritmia eforamexcluídososatletas queapresentaram dor agudaantesou duranteos testes(Escala Analógica de Dorigualousuperiora70/100mm),lesãosemtratamentoou qualqueroutrofatorqueafetasseodesempenhodoatletano teste.
Oequipamento usadoparaavaliarafadigamusculardo quadrícepsfoiodinamômetroisocinéticodamarcaBiodex® (System4Pro).Oatletafezumaquecimentoaeróbioleve,sem exercíciosdealongamento,durantecincominutosantesdo testeisocinético.Acadeiradodinamômetrofoiposicionada de forma queo quadril ficassea 85◦ deflexão eo eixode
movimentodoequipamentoestivessealinhadocomoespac¸o intercondilarlateral.Emseguidaossujeitosforamsentados nacadeiradodinamômetroeoseuposicionamentofoi esta-bilizadocom cintascolocadasnoníveldotronco,abdômen edacoxanãoavaliada,nosentidodeprevenirmovimentos compensatórios.Obrac¸odealavancadoaparelhofoifixadoa 2cmacimadomaléolomedial.Otestesempreseiniciavapelo membrodominante.Oprotocoloisocinéticoestabelecidofoi decontrac¸õesconcêntricas(CON/CON)comduasvelocidades: 60◦e300◦/s,comcincoe15repetic¸õesrespectivamente,com
intervalode30segundosderepouso.Oequipamentofoi cali-bradocomamplitudedemovimentoapartirdeumaflexão máxima atéumaextensãomáximapara cadaparticipante, naqualopontodereferênciaera90◦deflexão.Omembrofoi
pesadopelopróprioequipamentoparaevitaroviéscausado pelaac¸ãodagravidade.Apósosprocedimentosde posiciona-mentoealinhamentofoisolicitadoaossujeitosfazeremcinco movimentosdeflexãoeextensãoàintensidadesubmáxima nosentidodecompletaroaquecimentoeparafamiliarizac¸ão comoequipamentoeprocedimentodetestagem.Os mem-brossuperioresforamfixadoslateralmenteàcadeiraemlocal apropriado.Aseguirfoiiniciadooteste,emqueocomando verbal foi dado pelo mesmo avaliador durante todos os testes.
Paratestarahipótesedequeomúsculoquadríceps femo-ralnomembroenvolvidonalesãodeLCAémaissuscetível afadigamuscular doqueomembronãoenvolvido, aplica-mosotesteinferencialtdeStudentparaamostraspareadas, umavezqueomembrosadiofoiadotadocomocontrolepara omembrolesionado.Paraanáliseeprocessamentodosdados foiusadooprogramaSPSS(versão15.0)eadotou-senívelde significânciade5%paratodososcálculos.
Nocálculodafadigamuscularlocal,usamosoíndicede fadiga, que écalculado coma divisãodotrabalho feitono terc¸oinicialdasrepetic¸õespeloterc¸ofinaldasrepetic¸õese comamultiplicac¸ãopor100paraexpressarumaunidadeem porcentagem(i.e.,variávelquantitativadiscreta).16
Tabela1–Caracterizac¸ãodossujeitosdaamostra
Idade(anos) 21,3±4,4a
IMC(kg/cm2) 23,4±1,5a
Sexo 100%masculino
Ladodominante 47%(n=8)Esquerdo 53%(n=9)Direito
Membroenvolvido nalesão
29%(n=5)Dominante 71%(n=12)Não dominante
IMC,índicedemassacorpórea.
a Valoresexpressosemmédia±desviopadrão.
distribuic¸ãodosdadosfoi aplicadoo testede Kolmogorov--Smirnov,queacusoupadrãodedistribuic¸ãonormal.
Resultados
Caracterizac¸ãodaamostra
Osdados referentesàs característicasdosparticipantes da amostraestãoapresentadosnatabela1.
Índicedefadigadomembronãoenvolvido
Oíndicedefadigadomúsculoquadrícepsfemoralno mem-bronãoenvolvidocomalesãodoLCAestárepresentadona
figura1.
Fadigadomembroenvolvido
Oíndicedefadigadomúsculoquadrícepsfemoralnomembro envolvidocomalesãodoLCAestárepresentadonafigura2.
Médiadoíndicedefadigaparaextensãodomembro envol-vidoenãoenvolvidoemcirurgiareconstrutora(fig.3).
Discussão
Estudosdecaracterizac¸ãodaperformanceisocinéticasão fre-quentesnaliteraturaesportiva,principalmenteemvirtudeda altaprevalênciadelesõesligamentaresematletasdefutebol dealtorendimento,quesedevem,parcialmente,àsmudanc¸as esportivasocorridasnosúltimosanos,nasquaisas exigên-cias físicas são maiores,obrigam esses atletas a trabalhar
60
% 50
40
30
20
10 30,5
47,7
26,9 34,7 35
25 38,3
29,8
23,9 37,8
20 30,5
24,7
7,5 29,7
22,7
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 29,1
0
Fadiga para extensão do membro não envolvido
Figura1–Gráficodafadigaparaextensãodomembro nãoenvolvidoemcirurgiareconstrutora.
50
33,9 44,1
33,1 33,1
33,8 39,6
35,4
27,4 32,6
10,6 20,6
37,6 32,4
14,3
1,2 31,831,7
45
40
35 30
25
20 15
10
5 0
1 2 3 4 5 6
Fadiga para extensão do membro envolvido %
7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17
Figura2–Gráficodafadigaparaextensãodomembro envolvidoemcirurgiareconstrutora.
próximodoseulimitederendimentoefavorecemaocorrência delesões.
Em relac¸ão aos dados antropométricos, analisados na
tabela 1, a médiade idade dospacientes estudados foi de
21,3±4,4anos,oquecorroboraaliteratura,vistoqueaslesões doligamento cruzadoanterior ocorremcommais frequên-ciaemindivíduosjovensquepraticamalgumtipodeesporte, principalmenteempacientesdosexomasculino.17
Nesteestudo,foiobservadoque71%(n=12)dopacientes apresentavam omembronãodominantecomo oenvolvido nalesão doligamento cruzadoanterior,oqueéjustificado pelotraumarotacionalseromecanismomaisfrequentedessa lesão.Nessescasos,ocorpogiraemrotac¸ãoexternasobreo membroinferiorapoiadonosolo.18
Omecanismodelesãoclássicodoligamentocruzado ante-riorédeumatorc¸ãocomopéfixonosolo,mecanismoesse emqueatíbiasemoveparaanterioremrelac¸ãoaofêmur. Outrostiposdetraumatambémpodemlevaraslesõesdo cru-zadoanterior,principalmenteduranteapraticaesportiva,mas semdúvidaaprojec¸ãoanteriordatíbiaemrelac¸ãoaofêmur éoprincipalcausadordalesãodoligamento.18,19
Foiobservado que47% dosnossosatletas apresentavam o lado esquerdo como membro dominante e, consequen-temente 53%apresentavamdominâncianomembrodireito (OddisRatiode0,476,ICde95%,0,057-3,990),oquedemonstra
p = 0,246 60
%
40
Membro envolvido Membro não envolvido 20
0
quenãoexisteassociac¸ãoentreserdestrooucanhotocomo membroenvolvidonalesãodeLCA.
Nonosso estudo, dos17 atletas estudados, a média do índicedefadigamuscularemextensãodomembroenvolvido nalesãofoi de19,6%±39,4eo índicedefadiga em exten-sãoobservadonomembronãoenvolvidocomalesãofoide 29,0%±11,1(P=0,246).Apesardeoíndicedefadigasermaior nomembronãolesionado,verifica-sequenãohádiferenc¸a significativaentreosmembrosenvolvidosenãoenvolvidosna lesãodoLCA,noquedizrespeitoàvariávelfadigamuscular local.
SegundoOliveira,20hádiferenc¸asestatisticamente signifi-cativasentremembrosdoadoresereceptoresdeenxertode ligamentospatelar,apenasnaextensão,paravaloresdepico detorque, potênciamédiaefadigaao trabalhoemrelac¸ão aosmúsculosquadrícepseisquiotibiais.Bonatoetal.21 obser-varamqueindivíduoscomlesãodeLCAapresentammenos resistência à fadiga do que sujeitos sadios, decorrente da fraqueza do quadríceps femoral. Contudo, McNair et al.22 acreditamquepacientescomlesõescrônicasdeLCA desen-volveramhipertrofiadotipodefibraII,jáqueessessujeitos apresentarammaiorresistênciaàfadigadoqueosindivíduos sadios.
Oiníciodafadigapodeestarrelacionadoaoaumentoda concentrac¸ãodeácidolácticonomeioextracelulardotecido muscular.Teoricamente,oaumentodaconcentrac¸ãodeácido lácticolevaàdiminuic¸ão do pHextracelular,fato queestá relacionadocomadiminuic¸ãonavelocidadedeconduc¸ãodo potencialdeac¸ãoatravésdafibramuscular.23
Estudos anatômicos do joelho humano demonstraram fibras nervosas que penetram nos ligamentos cruzados. Numalesãodoligamentocruzadoanteriorocorreperdade informac¸ãoproprioceptiva,oqueagravaainstabilidadedessa articulac¸ãopeladiminuic¸ãodasensac¸ãodeposic¸ãoe ausên-ciadoestímuloparaacontrac¸ãoreflexa.Asdemaisestruturas dojoelhotêmoutrasfontesdeinformac¸õesproprioceptivas pormeiode treinamentoespecíficodacoordenac¸ão neuro-muscular,necessáriaparaestabilizaraarticulac¸ão,deveessa respostaserfeitapormeiodecontroledinâmico,comvistasà diminuic¸ãodotempoderespostadereac¸ãomuscular.24
Afadigamuscularéumfenômenofrequentenarotinade treinamentosecompetic¸õesdealgunsatletas,podeprejudicar odesempenhoepredispô-losaumasériedelesões musculo-esqueléticas.Esseprejuízopodesertransitório,durarminutos ouhorasapósoexercícioouterdurac¸ãodelongosperíodos, comováriosdias.25 Osprejuízosdecurtadurac¸ãoresultam dedistúrbiosmetabólicosocorridosapósoexercíciodealta intensidade.26Jáosprejuízosdelongadurac¸ãopodemestar relacionadosàlesãotecidualcausadapeloexercícioeao fenô-menoconhecidocomodormusculartardia.27
Váriasestratégiasterapêuticas,difundidasnomeio despor-tivo,comafinalidadedeaceleraroprocessoderecuperac¸ão muscular pós-exercício vêm sendo estudadas, como, por exemplo,recuperac¸ãoativa,crioterapia, massagem,terapia decontrastetérmico,hidroterapia,alongamento,terapiade oxigênio hiperbárico, anti-inflamatórios não esteroidais e eletroestimulac¸ão.28
Osprincipaisfatorescausaisparaadiminuic¸ãodasreac¸ões proprioceptivassãoaslesõesnasarticulac¸ões,ouseja,a rup-turaouadistensãopermanentedecomponentesarticulares
queconstituemosligamentos,ostendõeseacápsula,resulta nãosóemumaalterac¸ãomecânica,mastambémemperdado sensoposicional,emvirtudedadisfunc¸ãodos mecanorrecep-toresperiféricos.Odesenvolvimentoourestabelecimentoda propriocepc¸ão,dacinestesiaedocontroleneuromusculardo indivíduolesadominimizaráoriscodereincidênciadalesão erestauraráaconsciênciacinestésica.24,29,30
Conclusão
Os resultadosnospermitem concluirquenãohádiferenc¸a significativaentreosmembrosenvolvidosenãoenvolvidosna lesãodeLCA,noquedizrespeitoàfadigamuscularlocal. Tam-bémnãofoiobservadaassociac¸ãoentreserdestrooucanhoto comomembroenvolvidonalesãodeLCA.
Estudoslongitudinaisqueavaliemparâmetrosisocinéticos variadosaindasãopoucodocumentadosnaliteratura,porisso recomenda-seafeituradenovosestudosparaaanálisedesses parâmetros.Deve-seincluirumnúmeromaiordeindivíduos, abrangeroutrasmodalidadesesportivaseenvolverambosos gêneros.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
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