w w w . r b o . o r g . b r
Relato
de
caso
Lipoma
intraósseo
do
ilíaco:
relato
de
caso
夽
Frederico
Barra
de
Moraes
∗,
Rodrigo
Marques
Paranahyba,
Rogério
Andrade
do
Amaral,
Vinícius
Mendes
Bonfim,
Nathalya
Ducarmo
Jordão
e
Raimundo
Djalma
Souza
FaculdadedeMedicina,UniversidadeFederaldeGoiás,Goiânia,GO,Brasil
informações
sobre
o
artigo
Históricodoartigo:
Recebidoem24deoutubrode2014
Aceitoem19defevereirode2015
On-lineem3deoutubrode2015
Palavras-chave:
Neoplasiasósseas/etiologia
Neoplasiasósseas/diagnóstico
Lipoma
r
e
s
u
m
o
Oslipomassãotumoresbenignosqueacometemcélulasadiposas,maiscomumenteafetam
ostecidos molesnaidadeadulta.Raramentepodemafetarosossos,preferencialmente
metáfisesdosossoslongos.Sãogeralmenteassintomáticos,naradiografiaverifica-selesão
radiotransparente,comumafinabordaescleróticaoulesãoradiodensacomumaespessa
bordaesclerótica.Atransformac¸ãomalignadotumorérara,assimcomoarecorrência,sem
necessidadecirúrgicanamaioriadoscasos.Nesterelatoapresentamosumcasorarode
lipomaintraósseodoilíaco.
©2015SociedadeBrasileiradeOrtopediaeTraumatologia.PublicadoporElsevierEditora
Ltda.Todososdireitosreservados.
Intraosseous
lipoma
of
the
iliac:
case
report
Keywords:
Boneneoplasms/etiology
Boneneoplasms/diagnosis
Lipoma
a
b
s
t
r
a
c
t
Lipomasarebenigntumorsthatattackfatcellsandmostoftenaffectingsofttissuesin
adulthood.Onrareoccasions,theymayaffectbones,preferentiallythemetaphysesofthe
longbone.Theyaregenerallyasymptomaticandradiographyshowsradiolucentlesions
withathinscleroticrimorradiodenselesionswithathickscleroticrim.Malignant
trans-formationofthesetumorsisrare,asistheirrecurrence,andthereisnoneedforsurgeryin
mostcases.Inthisreport,wepresentararecaseofintraosseouslipomaintheiliacbone.
©2015SociedadeBrasileiradeOrtopediaeTraumatologia.PublishedbyElsevierEditora
Ltda.Allrightsreserved.
夽
TrabalhodesenvolvidonoDepartamentodeOrtopediaeTraumatologia,HospitaldasClínicas,FaculdadedeMedicina,Universidade
FederaldeGoiás,Goiânia,GO,Brasil.
∗ Autorparacorrespondência.
E-mail:fredericobarra@yahoo.com.br(F.B.Moraes).
http://dx.doi.org/10.1016/j.rbo.2015.02.005
adultaesãorarosnosossos.1Aincidênciadolipoma
intraós-seo é de aproximadamente 0,1% dentre todos os tumores
ósseos primários e acredita-se não haver preferência por
sexo.Afaixaetáriaacometidaébastanteampla,podemser
encontradoscasostantoemcrianc¸asquantoemidosos,mais
comumentediagnosticadosnaquartadécadade vida,com
etiologiaaindadesconhecidaecontroversa.2
Oslipomas intraósseospodemafetarqualquer partedo
esqueleto,comlocalizac¸ãomaisfrequentenaregião
transtro-cantéricadofêmurproximal(34%),tíbia(13%),fíbula(10%),
calcâneo(8%),ossoilíaco(8%),úmeroecostelas(5%).Afetam
preferencialmenteasmetáfisesdosossoslongosese
apre-sentamcomolesõesúnicas.Noentanto,existemrelatosde
múltiplostumoresespalhadosportodooesqueleto.3
Oslipomasapresentampoucossintomas,adoréomais
comum,eaausênciadesintomasespecíficospodedificultar
odiagnóstico,hánecessidadedeauxíliodeexamesde
ima-gem.Noentanto,umavezconstatadoolipoma,oprognóstico
geralmenteébomeacuratotalpodeserobtida.4Oobjetivo
desteestudoérelatarumrarocasodelipomaintraósseodo
ilíaco.
Relato
de
caso
Paciente, masculino, 45 anos, refere dor insidiosano
qua-drildireito,iniciadahácercadetrêsmeses,nãorelacionada
atrauma,semcaracterísticasespecíficas,comescalavisual
analógica(EVA)de5em10,quemelhora comusode
anti--inflamatóriosnãohormonaisepioracompequenosesforc¸os.
Aoexamefísiconãofoievidenciadaqualquerlimitac¸ãode
movimentodapelve,dacolunalombaroudoquadrildireito.
Foientãofeitaradiografiadapelveemanteroposteriore
obser-vadalesãoosteolíticacircunferencialnaasadoilíacodireito,
de aproximadamente 3cm de diâmetro com margens bem
definidas(fig.1A).Devidoàinespecificidadedaimagemobtida
naradiografia,foisolicitadatomografia,comreconstruc¸ão
tri-dimensional.Foipossívelaobservac¸ãodelesãoqueacometia
acorticalposteriordaasadoilíacodireito(fig.1B).
Ocortecoronalparajanelaóssea(fig.2A)eocorteaxial
parajaneladepartesmoles(fig.2B)evidenciamquealesão
seestendepelamedular,desdearegiãoanteromedialatéa
posterolateraldoossoilíacodireito.Nessaregiãohouvefratura
dacortical,decaracterísticaosteolíticaeinsuflativa.
Foifeitacintilografiaósseacomtecnécioquenão
eviden-ciou alesão (fig. 3Ae B), o que sugereuma característica
benigna.Para complementaraavaliac¸ão,foi feitauma
res-sonânciamagnéticadapelve,emqueaimagemcoronalem
T1evidencioulesão comhipossinal,seminvasãode partes
moles(fig.4A).JáaimagemcoronaldapelveemT2(fig.4B)
evidenciouumalesãocomhipersinalnoilíacodireito.
Assim,opacientefoisubmetidoacuretagemcirúrgicado
tumorna asa do osso ilíaco direito que evidenciou tecido
gorduroso com adipócitos sem atipias, com fragmento de
2,8cmcolorac¸ãopardo-brancacenta,firme,comtecidoósseo
opacientenãoapresentavamaisdorenãohouverecidivada
lesão.
Discussão
Olipomaintraósseoéumtiporaroebenignodetumorósseo.
Acomete principalmente a metáfise de ossos longos eem
aproximadamentemetadedoscasoséassintomático.5,6Afeta
quase queigualmenteambos os sexos,com umapequena
prevalênciapelosexomasculino.6Ocorreemtodasasfaixas
etárias,comumapequenapreferênciapelaquartaequinta
décadadevida.5Oacometimentodoossoilíacoéaindamais
raro.6,7
Dhalincalculouaincidênciadelipomasintraósseosemum
acadamil tumoresósseos.8 Masessevalorpodesermaior
por causadadificuldade de sediagnosticaremcasosdesse
tipolipoma.Écomumqueosdiagnósticosocorram
aciden-talmentepormeiodeumexamedeimagem.5,9
Oprimeirorelatodelipomaintraósseodoossoilíaco foi
feitopor BuckleyeBurkus10 em1988.Desdeentão, devido
principalmente aodesenvolvimentodas técnicas
diagnósti-cas, o número de casos relatados de lipomas intraósseos
aumentou.Entretanto,alocalizac¸ãonoossoilíacocontinua
extremamenterara.11
Quando os lipomas intraósseos são sintomáticos, eles
podemgerarmanifestac¸õesclínicas,comodor,inchac¸olocal
efraturaspatológicas.5,6Afaltadesinaisesintomasdifereos
lipomasintraósseosdeoutrostumoresósseoseéuma
dificul-dadeencontradaparaodiagnósticodessetipode tumor.5,7
A suaetiologia écontroversa.9 Todavia, existemrelatosna
literatura de pacientes com hiperlipoproteinemia e
macro-distrofia lipomatosa que desenvolveram múltiplos lipomas
intraósseos.12,13 SauereOzonoff14demonstraramuma
pos-sível relac¸ão entreanomaliasósseascongênitas elipomas.
Outromotivorelatadonaliteraturaquedificultaodiagnóstico
éofatodequeasimagensradiológicaspodemser
confun-didascominfartosósseos,osteoblastomasemaisraramente
encondromas.9
De acordo com a classificac¸ão de Milgram, os lipomas
intraósseos são divididosemtrês estágios. O estágioI são
ostumoressólidoscomadipócitosviáveis.JáoestágioIIsãoos
casosdetransic¸ão focal,visualizam-senecrosegordurosae
calcificac¸ãofocal,emadic¸ãoàsregiõescomadipócitos
viá-veis.Porfim,oestágioIIIérepresentadoporcasostardiosnos
quaishánecrosegordurosa,formac¸ãodecistos,calcificac¸ãoe
formac¸ãoreativadeumanovaestruturaóssea.Amaioriadas
lesõesdescritasédoestágioI.Essasmudanc¸asdeestágiossão
resultadodeumprocessodeinvoluc¸ãoedeinfartosqueessas
lesõessofremcomopassardotempo.6Aslesõesemestágios
iniciaiscausamreabsorc¸ãodastrabéculasósseaspreviamente
existentes.15
Porcausadosdiversosestágiosdeapresentac¸ãodolipoma
intraósseo,elepodeapareceremumaradiografiatantocomo
Figura1–Radiografiadapelveemanteroposteriorevidencialesãoosteolíticacircunferencialnaasadoilíacodireito,de
aproximadamente3cmdediâmetrocommargensbemdefinidas(A).Tomografiaemreconstruc¸ãotridimensionalemque
seobservalesãoqueacometeacorticalposteriordaasadoilíacodireito(B).
Figura2–Cortestomográficosemcoronalparajanelaóssea(A)eaxialparajaneladepartesmoles(B)evidenciamquea lesãoseestendepelamedular,desdearegiãoanteromedialatéaposterolateraldoossoilíacodireito.Nessaregiãohouve fraturadacortical,decaracterísticaosteolíticaeinsuflativa.
Figura4–Ressonânciamagnéticadapelve,emqueaimagemcoronalemT1evidencioulesãocomhipossinal,seminvasão departesmoles(A),eemT2(B)comhipersinalnoilíacodireito.
quantocomoumalesãoradiodensacomumaespessaborda
esclerótica.7Apartirdaradiografia,odiagnósticodiferencial
tambémdepende doestágio emqueseencontra olipoma
intraósseo.Osprincipais diferenciaisrelatadosnaliteratura
são:pseudocistoósseo,infartoósseo,displasiafibrosa,
oste-oblastoma, encondroma, condroblastoma, condrosarcoma,
fibromanãoossificanteetumorósseodecélulasgigantes.16,17
Acredita-sequeaTCeaRMsãoexamesmaiscompletos
paraemissãode umdiagnóstico, poissãocapazesde
reve-larlesõesdeestágioIeosanéis degorduracaracterísticos
daslesõesdeestágioIIeIII.7Alémdisso,pelograndenúmero
dediagnósticosdiferenciaisdadospelaradiografia,comovisto
anteriormente,muitosautoresrecomendamousodaTCeRM
paradescartaroutrashipóteses.
ATCéútilnodiagnósticodelipomaintraósseoporrevelar
umaatenuac¸ãocaracterísticadotecidoadiposo.Adensidade
tecidualpode sercalculadacom o“índice de Hounsfield”.6
Otecidoadiposotemumadensidade menordoque tecido
fibroso e neoplasias celulares e, por isso, é especialmente
radiotransparente.17EmalgunscasosimagensdaTCpodem
sertãotípicasdelipomaintraósseoquemuitosautores
suge-remadispensadabiópsia.15–18
NaTClesõesdeestágioIsãocaracterizadaspelareabsorc¸ão
dastrabéculasósseasepelaexpansãoóssea.Visualiza-seuma
áreadeatenuac¸ãoquecorrespondeàáreade
radiotransparên-ciadaradiografia.OestágioIIédemonstradopelasáreasde
atenuac¸ãosomadasporáreasdecalcificac¸ãoenecrose
gordu-rosa.OestágioIIIsãooslipomasdediagnósticomaisdifícil,
porcausadaossificac¸ão,calcificac¸ão,necroseeformac¸ãode
cistos.7
OusodaRMnodiagnósticodolipomaintraósseoé
impor-tantepelofatodequealesãotemumadensidadesemelhante
aotecidosubcutâneotantoemT1quantoemT2.ARMno
estágio I revela umalesão de densidade igual em relac¸ão
aotecidosubcutâneo emT1eexibe umhipossinalemT2.
NoestágioIIsãoexibidasáreasdehipossinalnaregiãocentral
deT1eT2quesãoconsistentescomasáreasdecalcificac¸ão.
Alémdisso,pode-sevisualizarumanelesclerose.Noestágio
IIIpodeservistoumaneldegorduradelgado,alémdaárea
decalcificac¸ãocentraleumlargoaneldeesclerose,quetem
um hipossinalemT1e T2.As áreasde necrosegordurosa
têmumsinalvariávelemT1ehipersinalemT2.7
Histologicamente as lesões são caracterizadas pela
presenc¸a de tecido gorduroso maduro e trabéculasósseas
atrofiadas.Adiferenciac¸ãoentrecélulasadiposasneoplásicas
e não neoplásicas é fundamental, apesar de complicada.
Oaumentodevasossanguíneospodeserumdosindíciosde
malignidade. Na histologiadoslipomas écomumaindase
observardegenerac¸ãomucinosae,porcausadela,podemser
tambémobservadoscistosmicroscópicosemacroscópicos.6,19
Atémesmohistologicamenteédifícildiferenciarlipomas
dosinfartosósseos,masalgumascaracterísticaspodem
auxi-liar. Nosinfartos destaca-sea faltade calcificac¸ões.János
lipomasdestacam-seadiminuic¸ãodasestruturas
trabecula-res,aexpansãocorticaleapossívelpresenc¸adecistos.15
Quantoaotratamentodoslipomasintraósseos,namaioria
dos casos não é indicada cirurgia para pacientes
assinto-máticos. Já para os pacientes sintomáticos, o tumor pode
sertratadocomcuretagemecolocac¸ãodeenxertoósseo.5,6
A transformac¸ão maligna do tumor é rara, assim como a
recorrência.5,6,19
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
r
e
f
e
r
ê
n
c
i
a
s
1.RosenbergAE.Ossos,articulac¸õesetumoresdetecidosmoles. In:KumarV,AbbasAK,FaustoN,editors.Robbins&Cotran Patologia.7ed.RiodeJaneiro:Elsevier;2005.p.1331–85.
3. VargasCSV,GonzalezC,AtencioE,CellamareO,FuenmayorJ, NietoO.Lipomaintraóseodelcalcâneo.Apropósitodeun casoclínico.AcadBiomDigital.2011;48:987.
4. ÖztekinÖ,ArginM,OktayA,ArkunRemide.Intraosseous lipoma:radiologicalfindings.RadiolBras.2008;41(2): 81–6.
5. MilgramJW.Intraosseouslipomas:radiologicandpathologic manifestations.Radiology.1988;167(1):155–60.
6. MilgramJW.Intraosseouslipomas:aclinicpathologicstudy of66cases.ClinOrthopRelatRes.1988;231:277–301.
7. PropeckT,BullardM,LinJ,DoiK,MartelW.
Radiologic-pathologiccorrelationofintraosseouslipomas. AJRAmJRoentgenol.2000;175(3):673–8.
8. UnniK.Lipomaandliposarcoma.In:UnniK,editor.Dahlin’s bonetumors:generalaspectsanddataon11087cases. Philadelphia:Lippincott-Raven;1996.p.349–53.
9. ChowLT,LeeKC.Intraosseouslipoma.Aclinicpathologic studyofninecases.AmJSurgPathol.1992;16:401–10.
10.BuckleySL,BurkusJK.Intraosseouslipomaoftheilium. Acasereport.ClinOrthopRelatRes.1988;(228): 297–301.
11.GotoT,KojimaT,IijimaT,YokokuraS,MotoiT,KawanoH, etal.Intraosseouslipoma:aclinicalstudyof12patients. JOrthopSci.2002;7(2):274–80.
12.RehaniB,WissmanR.Multipleintraosseouslipomatosis: acasereport.CasesJ.2009;2:7399.
13.DohlerR,PoserHL,HarmsD,WiedemannHR.Systemic lipomatosisofbone.JBoneJointSurgBr.1982;(6491):84–7.
14.SauerJM,OzonoffMB.Congenitalboneanomaliesassociated withlipomas.SkeletalRadiol.1985;13(4):276–9.
15.WilliamsCE,ClosePJ,MeaneyJ,RitchieD,CogleyD,CartyAT. Intraosseouslipomas.ClinRadiol.1993;47(5):348–50.
16.GoldmanAB,MarcoveRC,HuvosAG,SmithJ.Casereport280: intraosseouslipomaofthetibia.SkeletalRadiol.
1984;12(3):209–12.
17.OnguruO,Pabuc¸cuY,CelasunB.Intraosseouslipomaofthe fibula.ClinImaging.2002;26(1):55–7.
18.SchatzSG,DipaolaJD,D’AgostinoA,HannaR,QuinnSF. Intraosseouslipomaofthecalcaneus.JFootSurg. 1992;31(4):381–4.