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Epilepsia abdominal na infância.

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Academic year: 2017

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EPILEPSIA ABDOMINAL NA INFÂNCIA

RUBENS MOURA RIBEIRO * JORGE ARMBRUST FIGUEIREDO * *

VALERIANA MOURA RIBEIRO *

A síndrome clínica caracterizada por manifestações paroxísticas de

loca-lização abdominal acompanhada, ou não, de distúrbios de consciência,

conti-nua sendo diagnosticada com pouca freqüência. Embora, em 1907, Gowers

9

já tenha descrito um complexo sintomático caracterizado por desconfôrto

abdominal e náuseas, em pacientes com crises convulsivas, foi sòmente em

1941, com Klingman e col.

1 4

que esta entidade pôde ser reconhecida em

bases clínicas mais definidas. A origem cerebral das manifestações

abdo-minais paroxísticas foi demonstrada por Cushing

3

e ulteriormente

confir-mada por Penfield e Jasper

2 1

, que estabelecaram a correlação diencefálica

dessas manifestações clínicas. As alterações eletrencefalográficas permitiram

a Gibbs

6

descrever, em 1951, certo tipo de disritmia cerebral considerada

específica da epilepsia abdominal.

Assim, é possível formular o diagnóstico da epilepsia abdominal,

carac-terizado essencialmente pelo início paroxístico com sintomatologia abdominal

e distúrbio de consciência, resposta favorável à terapêutica anticonvulsivante

e alterações eletrencefalográficas

1, 11, 15, 16, 17, 18, 20, 22, 23, 24

.

O presente estudo foi feito com o intuito de analisar as manifestações

clínicas e eletrencefalográficas de crianças portadoras de epilepsia

abdomi-nal. Pretendemos chamar a atenção para o valor da eletrencefalografia no

diagnóstico das síndromes abdominais paroxísticas em crianças,

principal-mente pela pouca importância que geralprincipal-mente se dá às suas queixas ou

pelas dificuldades de seu reconhecimento.

Queremos salientar também que as anormalidades eletrencefalográficas

são bastante freqüentes nesses pacientes e que, portanto, não devemos

pou-par esforços por encontrá-las.

M A T E R I A L E M É T O D O

O m a t e r i a l c o n s t a de 21 p a c i e n t e s cujos d a d o s de i d e n t i f i c a ç ã o f i g u r a m n o q u a -d r o 1: 11 e r a m -do s e x o f e m i n i n o e 10 -d o s e x o m a s c u l i n o ; as i -d a -d e s v a r i a r a m e n t r e 4 e 14 a n o s ( p a r a a s e l e ç ã o das i d a d e s f o i u t i l i z a d o o c r i t é r i o e s t a b e l e c i d o p o r S t u a r t2 6

) .

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A s q u e i x a s c l í n i c a s r e f e r i d a s p e l o s p a c i e n t e s p u d e r a m ser s u m a r i z a d a s nas se-g u i n t e s m a n i f e s t a ç õ e s de c a r á t e r p a r o x í s t i c o : m a l - e s t a r i n d e f i n i d o ( 1 1 c a s o s ) , m o - , v i m e n t o s n o e s t ô m a g o ( 4 ) , d o r e s n o e s t ô m a g o ( 3 ) , s e n s a ç õ e s d i v e r s a s n o e s t ô m a g o ( 2 ) , s e n s a ç ã o i n t e s t i n a l ( 1 ) .

N a m e d i d a d o p o s s í v e l , t o d o s os p a c i e n t e s f o r a m s u b m e t i d o s a e x a m e s subsidiá-r i o s de subsidiá-r o t i n a , i n c l u s i v e e x a m e subsidiá-r a d i o l ó g i c o do a b d o m e , n o s e n t i d o de sesubsidiá-r e x c l u í d o p r o c e s s o q u e pudesse i n t e r f e r i r c o m o d i a g n ó s t i c o n e u r o l ó g i c o . E m t o d o s os casos h o u v e r e s p o s t a f a v o r á v e l à m e d i c a ç ã o a n t i c o n v u l s i v a n t e , r e g i s t r a d a e m c o n t r ô l e s c l í n i c o s s u c e s s i v o s .

Os r e g i s t r o s e l e t r e n c e f a l o g r á f i c o s f o r a m f e i t o s e m a p a r e l h o G r a s s d e 8 c a n a i s , c o l o c a n d o os e l e t r o d o s c o n f o r m e t é c n i c a usual i n t e r n a c i o n a l , c o m d e r i v a ç õ e s m o n o e b i p o l a r e s . U t i l i z a m o s a t i v a ç ã o p e l a h i p e r p n é i a e m 17 p a c i e n t e s e p e l o sono es-p o n t â n e o ou i n d u z i d o es-p o r b a r b i t ú r i c o s e m 8 casos.

R E S U L T A D O S C L Í N I C O S E E L E T R E N C E F A L O G R Á F I C O S

D a a n á l i s e das m a n i f e s t a ç õ e s c l í n i c a s v e r i f i c a m o s q u e a p e n a s 4 p a c i e n t e s ( c a s o s 6, 9, 17 e 1 8 ) n ã o e v i d e n c i a r a m a l t e r a ç ã o de c o n s c i ê n c i a d u r a n t e ou a p ó s a crise c l í n i c a . A p ó s as m a n i f e s t a ç õ e s i n i c i a i s , 8 p a c i e n t e s r e l a t a r a m c r i s e c o n v u l s i v a m o -t o r a l a -t e r a l i z a d a ( c a s o s 3, 9, 10, 11, 14, 16, 20 e 2 1 ) ; 4 a p r e s e n -t a r a m crises psico-m o t o r a s ( c a s o s 2, 7, 8 e 1 7 ) ; 3 t i v e r a psico-m crises do t i p o g r a n d e psico-m a l ( c a s o s 4, 12 e 1 5 ) ; 2 t i v e r a m crises do t i p o a u s ê n c i a ( c a s o s 1 e 5 ) .

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1, 2, 3, 5, 9, 11, 13 e 1 6 ) , e s t a n d o a l t e r a d o e m 5 ( c a s o s 1, 2, 5, 11 e 1 3 ) . A h i p e r p -néia, u t i l i z a d a e m 17 p a c i e n t e s ( c a s o s 2, 3, 4, 5, 6, 8, 9, 10, 12 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20 e 2 1 ) , e v i d e n c i o u a l t e r a ç ã o e m 12 ( c a s o s 2, 5, 6, 8, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20 e 2 1 ) .

Os r e s u l t a d o s e l e t r e n c e f a l o g r á f i c o s ( q u a d r o 1 ) p o d e m ser r e s u m i d o s d a s e g u i n t e m a n e i r a : d i s r i t m i a p o r o n d a s h a r p ( 1 0 casos, ou seja 6 6 , 6 % ) ; d i s r i t m i a 14 e 6 p / s e g . ( 4 casos, ou seja 1 9 % ) ; p a r o x i s m o p / o n d a d e l t a ( 2 casos, o u seja 9 , 5 % ) .

A i n c i d ê n c i a t o p o g r á f i c a das a l t e r a ç õ e s o b e d e c e u a s e g u i n t e d i s t r i b u i ç ã o : f o c o s u b c o r t i c a l no l o b o t e m p o r a l e s q u e r d o ( 1 0 c a s o s ) ; f o c o s u b c o r t i c a l n o l o b o t e m p o r a l d i r e i t o ( 4 ) ; f o c o c o r t i c a l t e m p o r a l m é d i o e s q u e r d o ( 1 ) ; f o c o c o r t i c a l t e m p o r a l m é d i o d i r e i t o ( 1 ) .

D i s r i t m i a 14 e 6 por s e g u n d o e v i d e n c i a d a e m 4 p a c i e n t e s de 5 q u e a p r e s e n t a -v a m E E G a l t e r a d o d u r a n t e o s o n o ( f i g s . 1, 2, 3 e 4 ) .

C O M E N T Á R I O S

A contribuição fornecida pelos estudos experimentais e pela clínica

de-monstra a presença de centros de contrôle das funções autônomas no

rinen-céfalo e córtex cerebral

5

, sendo que a estimulação do giro hipocampal e do

núcleo amigdalóide provoca alterações na função gastrintestinal

4 , 7

. Não há

dúvida sôbre a importância que essas estruturas subcorticais têm para o

contrôle das manifestações ligadas ao aparelho digestivo

8

, seja pelos

resul-tados experimentais registrados mediante eletrocorticografia, seja pela

cor-relação da clínica com a eletrencefalografia

1 2

. Caracterizam-se êsses

acha-dos pela alta incidência de atividade epileptógena de projeção nos lobos

tem-porais, indicando a estreita correlação entre as estruturas inferiores e a

corticalidade; êstes estímulos no córtex cerebral ativariam centros

respon-sáveis pela regulação do tono e da atividade motora do trato

gastrintesti-nal

25, 28.

A variabilidade de sintomatologia clínica evidenciada pelos nossos

pa-cientes permite admitir a origem subcortical dessas manifestações, como

de-monstraram Green e Shimamoto

1 0

quando estudaram a origem hipocampal

da epilepsia abdominal. Por outro lado, nossos resultados

eletrencefalográ-ficos sugerem a interferência de mecanismos integradores do sistema

ner-voso central, seja pela alta incidência das descargas de origem subcortical,

seja pela presença das disritmias 14 e 6 por segundo.

Representa, portanto, o EEG um método seguro para o diagnóstico

di-ferencial entre uma síndrome clínica puramente abdominal daquela

decor-rente de patologia cerebral. Neste último caso o registro eletrencefalográ¬

fico evidencia em elevada percentagem alterações paroxísticas, na vigência

ou não da manifestação abdominal

2 7

.

Apesar de Chao e col.

2

e Kellaway e col.

1 3

(6)

R E S U M O

São analisados do ponto de vista clínico e eletrencefalográfico, 21 casos

relativos a crianças com epilepsia abdominal. Os autores chamam a atenção

para as dificuldades que freqüentemente surgem para estabelecer êsse

diag-nóstico em crianças e, principalmente, para correlacioná-lo à uma patologia

cerebral. Representa o EEG um exame subsidiário de valor como auxiliar

no diagnóstico, principalmente quando são registradas as disritmias 14 e 6

por segundo. É considerada também a importância das estruturas

subcor-ticais e suas ligações com o lobo temporal na regulação da atividade do

trato gastrintestinal.

S U M M A R Y

Abdominal epilepsy in children.

The clinical and electroencephalographic finding of 21 children with

abdominal epilepsy are analised. There is inquestionably an overlopping

be-tween the clinical syndrome of abdominal epilepsy and cerebral pathology.

The EEG is usually abnormal and often shows the "14 and 6 per second

dysrhythmia" which is an indication of abdominal epilepsy. In basis of

experimental and clinical evidence it seems probable that the state of activity

of the gastro-intestinal tract is under cerebral cortex and lower centers

influence.

R E F E R Ê N C I A S

(7)

1941. 15. L I V I N G S T O N , S. — A b d o m i n a l p a i n as a m a n i f e s t a t i o n o f e p i l e p s y ( a b -d o m i n a l e p i l e p s y ) in c h i l -d r e n . J. P e -d i a t . , 38:687-695, 1951. 16. M I L L I C H A P , J. G . ; L O M B R O S O , C. T . e C. T . L E N N O X , W . G. — C y c l i c v o m i t i n g as a f o r m o f e p i l e p s y in c h i l d r e n . P e d i a t r i c s 15:705-714, 1955. 17. M U L D E R , D . W . ; D A L Y , D . e B A I L E Y , A . A . — V i s c e r a l e p i l e p s y . A r c h . I n t . M e d . , 93:481-493, 1954. 18. N A E Y E , R . L . — C y c l i c f e v e r a b d o m i n a l p a i n and g r a n d m a l s e i z u r e s : case r e p o r t . A n n . I n t . M e d . , 48:859-963, 1958. 19. P E N F I E L D , W . — E p i l e p s y a u t o m a t i s m and t h e c e n t r e ¬ e n c e p h a l i c i n t e g r a t i n g s y s t e m . A . R e s . N e r v . M e n t . D i s . P r o c , 30:513-528, 1952. 20. P E N F I E L D , W . e J A S P E R , H . — E p i l e p s y a n d C e r e b r a l L o c a l i z a t i o n . C h a r l e s C. T h o m a s , B a l t i m o r e , 1941. 21. P E N F I E L D , W . e J A S P E R , H . — E p i l e p s y and t h e F u n c t i o n a l A n a t o m y o f t h e H u m a n B r a i n . L i t t l e B r o w n Co., B o s t o n , 1954. 22. P R I C H A R D , J. D . — A b d o m i n a l p a i n o f c e r e b r a l o r i g i n in c h i l d r e n . C a n a d . M . A . J., 78:665-668, 1958. 23. S H E E B Y , B . N . ; L I T T L E , S. C. e S T O R E , J. J. — A b d o m i n a l e p i l e p s y . J. P e d i a t . , 56:355-363, 1960. 24. S N Y D E R , C. H . — E p i l e p t i c e q u i v a l e n t in c h i l d r e n . P e d i a t r i c s 21:308-318, 1958. 25. S P I E G E L , E. S.; W E S T O N , K . e OP¬ P E N H E I M E R , M . J. — P o s t m o t o r f o c i i n f l u e n c i n g t h e g a s t r o i n t e s t i n a l t r a c t and t h e d e s c e n d i n g p a t h w a y s . J. N e u r o p a t h , a. E x p e r . N e u r o l . , 2:45-53, 1943. 26. S T U A R T , H . C. — N o r m a l g r o w t h a n d d e v e l o p m e n t d i v i n g a d o l e s c e n c e . N e w E n g -l a n d J. M e d . , 234:666, 1946. 27. v a n B U R E N , J. M . — T h e a b d o m i n a -l a u r a : a s t u d y of a b d o m i n a l s e n s a t i o n s o c c u r r i n g in e p i l e p s y and p r o d u c e d b y d e p t h s t i m u l a t i o n . E l e c t r o e n c e p h . C l i n . a. N e u r o p h y s i o l . , 15:1-19, 1963. 28. W A T T S , J. W . e F U L T O N , J. A . — I n t u s s u s c e p t i o n : t h e r e l a t i o n o f t h e c e r e b r a l c o r t e x in i n t e s t i n a l m o t i l i t y in t h e m o n k e y . N e w E n g l a n d J. M e d . , 210:833, 1934.

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