Volume 34 - N.° 4
Dezembro de 1976
P R O T E Í N A S T O T A I S DO LIQUIDO C E F A L O R R A Q U E A N O
OBTIDO POR PUNÇÃO D A C I S T E R N A M A G N A :
V A L O R E S N O R M A I S
V A R I A Ç Õ E S L I G A D A S A O S E X O
L . M . SINGER VERMES * RUBENS GUIMARÃES FERRI * J. AlSEN ***
J. M . MARLET * * * *
As taxas de proteínas totais do líquido cefalorraqueano (LCR) normal
referidas na literatura, variam segundo os diferentes autores. Estas
varia-ções das taxas consideradas normais podem ser atribuídas, entre outros
fato-res, às diferentes técnicas laboratoriais que são utilizadas, assim como à
dificuldade de obtenção de amostras de LCR de indivíduos sadios.
Em estudo prévio
2 2comparamos quatro metodologias de quantificação
de proteínas totais aplicáveis a fluídos biológicos diluídos — o método
turbi-dimétrico após precipitação das proteínas com ácido tricloracético
1-
2 1, o
colorimétrico preconizado por Heer & Margni
7, o turbidimétrico após
trata-mento do material com solução de ácido sulfossalicílico e sulfato de sódio
1 5e o colorimétrico desenvolvido por Lowry e col.
1 1— e concluímos que, no
cômputo geral, o método de Lowry é o mais adequado dos procedimentos
estudados, em virtude de sua alta sensibilidade e exatidão, e por consumir
pequeno volume de amostra.
A possível presença de taxas de proteínas totais mais altas no LCR normal
de pessoas do sexo masculino (em relação àquelas encontradas nos de sexo
feminino) tem sido objeto de controvérsia entre os pesquisadores; enquanto
Izikowitz
9, Dencker
3, Spina-França & A m a r
2 1, Dencker & Zethraeus
4e
* Prof. Assistente do D e p a r t a m e n t o de Microbiologia e I m u n o l o g i a do Insti-tuto de Ciências Biomédicas da Univ. de São P a u l o .
** Prof. L i v r e - D o c e n t e do D e p a r t a m e n t o de Microbiologia e I m u n o l o g i a do Instituto de Ciências Biomédicas da Univ. de São P a u l o .
*** Assistente da Clínica N e u r o l ó g i c a da F a c u l d a d e de Medicina da Universi-dade de São P a u l o .
Marron
1 3observaram que, em média, indivíduos do sexo masculino
apresen-tam proteinorraquia mais elevada que aqueles do sexo feminino, outros
pes-quisadores
2.
6.
1 0>
1 2>
1 4.
1 8>
1 9não verificaram diferenças significantes quanto às
taxas protêicas totais do LCR normal entre os dois sexos.
Em face dos fatos acima mencionados, e levando em consideração que em
nosso meio é mais freqüente o emprego da punção subocicpital para a
co-lheita do LCR, determinamos pelo método de Lowry os níveis de proteínas
totais do LCR normal obtido por punção da cisterna magna (LCR-SO).
Ana-lisamos também se, quanto à proteinorraquia total normal, indivíduos do
sexo masculino e feminino pertencem a uma mesma população.
M A T E R I A L E M É T O D O S
D e t e r m i n a m o s a proteinorraquia total do L C R - S O de 98 pacientes a m b u l a t o r i a i s . Todos os pacientes a p r e s e n t a v a m e x a m e neurológico n o r m a l e as a m o s t r a s de L C R e r a m normais q u a n t o à pressão, cor, citologia, conteúdo em glicose, cloretos e uréia; a l é m disto, em todas as a m o s t r a s de L C R e r a m n e g a t i v a s as reações de Pandy, N o n n e - A p p e l t - S c h u m e T a k a t a - A r a ( p a r a pesquisa de globulinas) e soro-lógicas p a r a lues e cisticercose.
Dos 98 pacientes c u j a s idades v a r i a r a m entre 5 meses e 7 5 anos, 58 eram do sexo m a s c u l i n o e 4 0 do f e m i n i n o . Os dados de identificação destes pacientes en-c o n t r a m - se nas t a b e l a s 1 e 2 .
A p ó s a colheita o m a t e r i a l foi sempre centrifugado para eliminação de possí-veis células e m a n t i d o a 4 ° C (por prazo m á x i m o de 72 h o r a s ) até o m o m e n t o de e f e t u a r m o s as determinações de proteínas t o t a i s .
A quantificação das proteínas totais foi e f e t u a d a e m 0,2 m l de cada amostra, utilizando os reagentes cupro-alcalino e de Folin & Ciocalteu, conforme descrito por L o w r y e col. 1 J
. A colorimetria foi realizada em espectrofotômetro "Spectronik 20", no c o m p r i m e n t o de onda de 6 3 0 n m .
A análise estatística p a r a estudar a diferença n a proteinorraquia entre pacientes do sexo m a s c u l i n o e feminino foi feita usando-se a distribuição de freqüência "t" de S t u d e n t . I g u a l teste foi e m p r e g a d o para testar a hipótese de igualdade das médias de idades nos dois s e x o s . P a r a estas análises estabelecemos u m nível de rejeição de 5 % .
R E S U L T A D O S
Os resultados das determinações de proteínas totais efetuadas e m 58 a m o s t r a s de L C R de pacientes do sexo m a s c u l i n o e 4 0 do feminino a c h a m - s e respectivamente nas tabelas 1 e 2 ; as médias, desvios-padrão e intervalos de confiança ( 9 5 , 5 % ) c a l c u l a d o s p a r a a m b o s os sexos e n c o n t r a m - s e na t a b e l a 3, assim c o m o os dados estatísticos referentes à população m i s t a .
Os valores m á x i m o e m í n i m o de proteínas totais encontrados nas pessoas do sexo m a s c u l i n o f o r a m 47,13 e 16,96 m g / I C O m l , r e s p e c t i v a m e n t e . O m a i o r teor protêico encontrado no L C R de pessoas do sexo feminino foi d e 37,68 m g / 1 0 0 m l e o m e n o r foi de 14,43 m g / 1 0 0 m l .
D I S C U S S Ã O
O teor protêico médio encontrado no LCR-SO de 98 pessoas (de ambos
os sexos) foi de 26,78 mg/100 ml. Este valor é mais alto que aqueles
encon-trados por Hill e col.
8, Spina-França & A m a r
2 0, Rieder
1 8e Rieder &
Wü-thrich
1 9, como se pode observar pelo diagrama apresentado na figura 2. Esta
diferença de resultados, em parte pode ser decorrência do uso de diferentes
metodologias (e conseqüente variabilidade de exatidão), pois tanto Hill e
col.
8quanto Spina-França & A m a r
2 0estabeleceram os níveis normais da
proteinorraquia cisternal, mediante determinações efetuadas por métodos
tur-bidimétricos. De fato, em estudo prévio
2 2demonstramos que o método
tur-bidimétrico após precipitação das proteínas com ácido tricloracético fornece
valores 12,33% inferiores aos reais, e a colorimetria de soluções protêicas
após tratamento com os reagentes cupro-alcalino e de Folin-Ciocalteu
ofere-cem valores que, em média, são 5,41% mais elevados que os reais.
Os níveis médios de proteínas totais do LCR-SO calculados por Rieder
1 8e Dieder & Wüthrich
1 9(que também utili2aram o método de Lowry) foram
também inferiores aos obtidos na presente investigação, embora a diferença
entre os resultados referidos por estes autores e os nossos seja pouco
acentua-da. Esta diferença poderia ser explicada pela hipótese levantada por alguns
autores
6-
1 0-
1 9de que fatores ecológicos possam atuar sobre os níveis de
proteínas totais do LCR normal; além disso devemos ainda considerar que
Jung e c o l .
1 0observaram aumento na proteinorraquia total de 18% por
dé-cada e sugeriram que tal elevação de valores poderia estar relacionada a
mudanças que a humanidade vem sofrendo, nos seus hábitos e fatores
am-bientais .
O teor protêico médio encontrado no LCR-SO dos indivíduos do sexo
masculino foi de 28,76 mg/100 ml e o intervalo de confiança (95,5%) foi
de 14,76 a 42,76 mg/100 ml. Já os indivíduos do sexo feminino
apresenta-ram teores protêicos inferiores: 23,91 mg/100 ml em média, e um intervalo
de confiança de 13,01 a 34,81 mg/100 ml. Apesar de vários autores
2.
6»
1 0-
1 2da proteinorraquia total de homens e mulheres, a análise estatística de
nos-sos resultados mostrou haver, nos indivíduos do sexo masculino, valores
mé-dios de proteínas totais do LCR significantemente mais elevados que aqueles
do sexo feminino. Esta observação concorda com aquelas feitas por Dencker
s,
Dencker & Zethraeus
4, Izikowitz
9, Marron
1 3e Spina-França & A m a r
2 1.
Dado que alguns autores
1 0.
1 4>
16>
1 7.
2 2.
2 3verificaram tendência
progres-siva para elevação dos valores da proteinorraquia com o avançar da idade,
e outros
1 3>
2 1observaram valores elevados de proteínas totais do LCR
nor-mal em indivíduos com mais de 60 anos de idade, tomamos a precaução de
verificar se os diferentes valores encontrados quanto às proteínas totais do
LCR nos dois sexos, não poderiam ser atribuídos a erros de amostragem,
no sentido de haver diferenças quanto ao fator idade (entre indivíduos do
sexo masculino e feminino).
Como verificamos que a média das idades dos indivíduos do sexo
mas-culino (31,7 anos) não diferia significantemente (t = 0,39) daquela encontrada
nas pessoas de sexo feminino (28,7 anos), pudemos concluir que não havia
tal tipo de interferência em nossos resultados.
A diferença relativa entre a concentração protêica média do LCR de
indivíduos do sexo masculino e do feminino foi de aproximadamente 20%.
Esta diferença é menor que aquelas encontradas por Dencker
3, Dencker &
Zethraeus
4e Izikowitz
9(que foram de 25,27 e 27%, respectivamente) e
maior que aquela encontrada por Spina-França & A m a r
2 1C O N C L U S Õ E S
Indivíduos do sexo masculino apresentam, em média, taxas de proteínas
totais do LCR-SO superiores àquelas encontradas em indivíduos do sexo
femi-nino. As taxas normais de proteínas totais do LCR-SO de pessoas do sexo
masculino e feminino encontram-se entre 14,76 e 42,76 mg/100 ml e 13,01 a
34,81 mg/100 ml, respectivamente, quando efetuamos a quantificação de
proteínas totais pelo método de Lowry.
R E S U M O
Aplicando o método de Lowry, determinamos as proteínas totais do LCR
considerado normal de 98 pessoas: 58 do sexo masculino e 40 do feminino.
Todas as amostras de LCR foram obtidas por punção da cisterna magna
(LCR-SO).
Mediante tratamento estatístico dos valores obtidos, estabelecemos as
taxas normais de proteinorraquia cisternal para a população mista: limite
superior de 40,36 mg/100 ml, valor médio de 26,78 mg/100 e limite inferior
de 13,20 mg/100 ml. Estes valores são superiores àqueles referidos na
literatura.
Foi verificado que a proteinorraquia total é, em média, significantemente
maior nos indivíduos do sexo masculino, que nos de feminino.
Consequente-mente estabelecemos em separado os níveis normais de proteínas totais do
LCR-SO para pessoas do sexo masculino e feminino.
As taxas médias de proteínas totais do LCR-SO de pessoas do sexo
mas-culino e feminino são de 28,76 e 23,91 mg/100 ml, respectivamente; os limites
normais vão de 16,96 a 47,13 mg/100 ml para o sexo masculino e de 14,76
a 42,76 mg/100 ml para o sexo feminino.
S U M M A R Y
Total protein content of normal cisternal cerebrospinal fluid:
Variations related to sex
The average value and the normal range of cisternal fluid total protein
was calculated for the mixed population (males and females). The mean
protein value was 26.78 mg/100 ml, the lower and upper limits were
respec-tively 13.20 and 40.36 mg/100 ml. These data are higher than those
stated in some publications, and factors that could interfere in the different
results mentioned in the literature are briefly discussed.
Since the statistical analysis of the results showed that the mean total
protein concentration in males (28.76 mg/100 ml) was higher than in females
(23.91 mg/100 ml), normal limits for each sex were established: 16.96 to
47.13 mg/100 ml for males and 14.76 to 42.76 mg/100 ml for females.
R E F E R E N C I A S
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