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1. Professora-doutora da disciplina de Nefrologia Pediátrica do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (UNESP).2. Professora-doutora do Departamento de Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina de Botucatu da UNESP.
3. Professor-adjunto livre docente da disciplina de Nefrologia Pediátrica do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina de Botucatu da UNESP.
y unitermos
key words
resumo
Objetivos: Avaliar a associação entre os parâmetros clinicolaboratoriais e alteração morfológica de bi-ópsias renais em crianças com síndrome nefrótica. Métodos: Os dados foram obtidos dos prontuários médicos de 43 crianças com síndrome nefrótica submetidas a biópsia renal. Resultados: Vinte e oito pacientes eram do sexo masculino (65,1%), idades entre 1,4 a 12 anos (média de 4,7±3,2). Quarenta e dois pacientes (97,7%) apresentaram edema; 83,7%, oligúria e 32,5%, hipertensão arterial. A média de proteinúria foi 15,3g/1,73m2SC/dia e 55,8% apresentaram hematúria microscópica. As biópsias renais mostraram: glomerulonefrite proliferativa mesangial (GNPM) em 37,2%, glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF) em 27,9%, alterações glomerulares mínimas (LM) em 25,6%, glomerulone-frite membranoproliferativa (GNMP) em 7% e glomeruloneglomerulone-frite membranosa (GNM) em 2,3%. Vinte e seis pacientes (60,5%) apresentaram resistência ao corticosteróide. Idade, sexo, hipertensão arterial, oligúria, uréia e creatinina séricas não mostraram diferenças estatísticas signifi cativas entre os pacientes com GNPM, GESF e LM. Os pacientes com GNPM e GESF apresentaram maior freqüência de hematúria microscópica (p < 0,003 e p < 0,03; respectivamente). Os pacientes com GESF apresentaram maiores níveis de proteinúria (p < 0,01 versus LM e p < 0,05 versus GNPM). Os pacientes com LM apresentaram sensibilidade ao corticosteróide (p < 0,001 versus GESF e p = 0,047 versus GNPM). Conclusões: Sexo, idade, presença de hipertensão arterial ou oligúria e níveis séricos de uréia e creatinina não auxiliaram na diferenciação entre pacientes com GNPM, GESF e LM. Os pacientes com LM apresentaram sensibilidade a corticosteróides e menos probabilidade de apresentar hematúria microscópica. Pacientes com GESF apresentaram maiores níveis de proteinúria.
Histologia renal
Achado clinicolaboratorial
Síndrome nefrótica
Criança
abstract
Objectives: To evaluate the association between clinical features and laboratory fi ndings with the morphologi-cal changes in children with nephrotic syndrome. Methods: The data were obtained from medimorphologi-cal records of 43 children with nephrotic syndrome submitted to renal biopsy. Results: Twenty-eight patients were male(65.1%), aged 1.4-12 years (mean 4.7 ± 3,2). Forty-two patients (97,7%) presented edema, 83.7% oliguria
and 32.5% hypertension. The mean of proteinuria was 15.3g/1.73m2 BSA per day and 55.8% presented
micro-scopic hematuria. Renal biopsies showed: proliferative mesangial glomerulonephritis (PMGN) in 37.2%, focal segmental glomerulosclerosis (FSGS) in 27.9%, minimal change disease (MCD) in 25.6%, membranoprolifera-tive glomerulonephritis (MPGN) in 7% and membranous glomerulonephropathy (MGN) in 2.3%. Twenty-six patients (60.5%) were steroid-resistant. Age, sex, hypertension, oliguria, serum urea and creatinine showed no statistically signifi cant change between the patients with PMGN, FSGS and MCD. The patients with PMGN and FSGS showed higher frequency of microscopic hematuria (p < 0.003 and p < 0.03, respectively) and those with FSGS higher level of proteinuria. The patients with MCD were steroid responsive (p < 0.001 versus FSGS and p = 0.047 versus PMGN). Conclusion: Age, sex, hypertension, oliguria, serum urea and creatinine did not help to distinguish between the patients with PMGN, FSGS and MCD. The patients with MCD were steroid responsive and less likely to have microscopic hematuria. Patients with FSGS presented higher level of proteinuria.
Renal histology
Clinical and laboratory
fi ndings
Nephrotic syndrome
Children
Padrões morfológicos de lesão glomerular e correlação com
achados clinicolaboratoriais de 43 crianças com síndrome
nefrótica
Morphologic patterns of glomerular lesion and correlation with clinical and laboratory fi ndings of 43 children
with nephrotic syndrome
Márcia Camegaçava Riyuzo1; Rosa Marlene Viero2; Célia Sperandéo Macedo3; Herculano Dias Bastos3
raranoJapão(3),eaGNMécomumemcriançasnefróticas noJapão(3).
Objetivo
O objetivo desse estudo foi determinar a freqüência dasdiferentesformasdelesãoglomerularcomcorrelação clinicolaboratorialemcriançascomsíndromenefrótica.
Casuística e métodos
Foramavaliados43pacientescomsíndromenefrótica atendidos no Ambulatório da Disciplina de Nefrologia Pediátrica do Departamento de Pediatria da Faculdade deMedicinadeBotucatu–UNESP,noperíodode1967a 2001,submetidosàbiópsiarenal,comseguimentomínimo detrêsmeses.Noperíodoentre1967e1979,todosos11 pacientestiveramindicaçãodebiópsiarenalantesdoinício dotratamentocomcorticosteróides.Apartirde1980,as indicaçõesderealizaçãodebiópsiarenalforam:resistência aocorticosteróideem25pacientes,dependênciadocorti-costeróideemcincoesensibilidadeaocorticosteróidecom recidivasfreqüentesemdois.Foramexcluídosospacientes comdoençasistêmica,comolúpuseritematososistêmico, púrpuradeHenoch-Schönlein,anemiadecélulasfalcifor-mes,neoplasiasedesordensmetabólicas.
Histopatologia
Asbiópsiasrenaisforamprocessadasparamicroscopias deluzeimunofluorescênciapelosmétodoshabituais.Os diferentespadrõesdelesõesforamdefinidosdeacordocom
aclassificaçãodaOrganizaçãoMundialdeSaúde(8).
Dados clinicolaboratoriais
Os parâmetros clínicos avaliados foram: sexo, idade, peso,estatura,presençadeedema,oligúria,hipertensão arterial, hematúria macroscópica. Peso e estatura foram classificadosdeacordocomoscritériosdeHamilletal.(13). Hipertensãofoidefinidacomopressãoarterialsangüínea maiorqueopercentil95paraidade,deacordocomos dadosdoNationalHighBloodPressureEducationProgram WorkingGrouponHypertensionControlinChildrenand Adolescents(23).
Osdadoslaboratoriaisavaliadosforam:níveisdepro-teinúria,hematúria,níveisséricosdeuréiaecreatinina.A
Introdução
Nasdécadasde1960e1970todasascriançascom síndromenefróticaeramsubmetidasabiópsiarenalantes doiníciodotratamentocomcorticosteróides(6,7,9,12,15,31). Diversaslesõesglomerularesforamdescritasnacriança comsíndromenefrótica,sendoasmaisfreqüenteslesões
mínimas(LM)em60%a85%eglomeruloescleroseseg-mentarefocal(GESF)em6,9%a9,5%doscasos(2,6,7,9,
12,15,31)
.Outraslesõesrenaisencontradasforamglomeru-lonefrite proliferativa mesangial (GNPM), glomerulone-fritemembranoproliferativa(GNMP)eglomerulonefrite membranosa(GN)(2,6,7,9,12,15).
Aspectoclinicolaboratorial,indicaçãodebiópsiarenal, padrão histopatológico das lesões e tratamento dessa síndrometêmsidoestudados(2,6,7,9,10,12,15,16,31).Relatosdo iníciodadécadade1980estabeleceramqueodiagnóstico deLMéomaisprovávelemcriançasnefróticascomidades entre1e6anos,comproteinúriaseletivaesemhematúria microscópica,hipertensãoarterialouinsuficiênciarenale queapresentavamremissãodoquadronefróticocomtrata-mentocomcorticosteróides(16,17).Assim,criançascomessas características clínicas e laboratoriais seriam inicialmente
tratadas,nãohavendonecessidadedebiópsiarenal(6).
Apartirdadécadade1980,arealizaçãodebiópsiarenal passouaserindicadaparagruposselecionadosdepacientes nefróticoscujosachadosclinicolaboratoriaissugeriamlesão diferentedaLM:1.criançasmaioresde6anosapresentando hematúriamicroscópicapersistente,hipertensãoarterialou insuficiênciarenal;2.complementoséricobaixoassociado ounãoàresistênciaaotratamentocomcorticosteróides; 3.criançasquenãoapresentaramremissãodaproteinúria entre4e8semanasdetratamento(7,9,16).
Aimportânciadoconhecimentodopadrãohistológico nessespacientes,associadoànão-remissãodaproteinúria, está no fato de que 30% de pacientes com síndrome nefrótica com resistência ao corticosteróide tendem a progredirparainsuficiênciarenalterminalemcincoanos, principalmentenaquelescomGESFquepodemapresentar
recorrênciadadoençanorimtransplantado(9).
proteinúriafoiexpressaemg/1,73m2
daáreadesuperfí-ciecorpórea/dia(9).Ograudehematúriamicroscópicafoi
expressoemescores(14):escore0=0a5;escore0,5=5
a10;escore1=10a30eescore2=30a100hemácias porcampo.Osvaloresséricosdeuréiaecreatininaforam expressosemmg/dl.
Tratamento
Todos os pacientes foram tratados com prednisona
(2mg/kg/dia),máximode80mg/dia(9).Nospacientesem
tratamentodoprimeirosurto,essadosefoimantidapor quatrosemanas,seguidaporreduçãopelametadedadose apósremissãodaproteinúria.Foramrealizadasreduçõesda dosesubseqüenteacadaduasoutrêssemanas,deacordo com resultado negativo da proteinúria de 24 horas. A respostaaocorticosteróidefoiclassificadadeacordocom o International Study of Kidney Disease in Children(15): sensibilidade ao corticosteróide (completa resolução da proteinúrianoperíododeoitosemanasdaterapiainicial); resistênciaaocorticosteróide(ausênciaderepostaaocorti-costeróidecomoitosemanasconsecutivasdetratamento); dependênciadocorticosteróide(recorrênciadasíndrome nefróticanareduçãodadosedocorticosteróideoudentro dedoismesesapósadescontinuidadedaterapia);recidivas (quandoocorremdoisoumaisepisódiosdesíndromene-fróticaduranteoperíododeseismesesdarespostainicial ouquatrooumaisepisódiosemumano).
Ciclofosfamidafoiutilizadaem27pacientes,nadosede 2-3mg/kg/dia,pordeza12semanas,comcontroledacon-tagemdeglóbulosbrancossangüíneosquinzenalmente.
Doispacientesreceberamlevamisol,nadosede50mg/ dia,emdiasalternadospor30diase15pacientesrecebe-rammetilprednisolonaintravenosanadosede30mg/kg/ dose,máximode1g.
Evolução
Otempodeseguimentovarioudetrêsa192meses
(média=69,8±63,6;medianade68meses).Trêscrianças
tiveramseguimentodetrêsmeses;oito,até24mesesea maioriadospacientes(31/43–72,1%)foiacompanhada alémde24meses.
Análise estatística
Osdadosdospacientesforamexpressoscomomédia
±desviopadrão,medianaouporcentagem.
Naanálisedosdadosdecorrelaçãoclinicolaboratoriale histopatológicos,consideraram-seosúltimosresultadosde avaliaçãoclínicaelaboratorialpróximosàdatadarealização dabiópsiarenal.
A análise estatística foi utilizada na comparação de parâmetros clínicos e laboratoriais entre os pacientes portadoresdeGNPM,GESFeLM.Nacomparaçãoentre asmédiasdeidade,proteinúria,creatininaeuréiaséricas utilizou-seotestedeanálisedevariância.Nacomparação entreasmedianasdoescoredehematúriamicroscópica utilizou-seotestenão-paramétricodeKruskalWallis.Na comparação entre as proporções de sexo masculino ou feminino,presençaouausênciadeoligúria,dehematúria microscópica, de hipertensão arterial, na proporção de crianças<ou≥6anosenaproporçãoentrepacientescom sensibilidadeouresistênciaaocorticosteróide,utilizou-seo testedequi-quadradoouotesteexatodeFisher,quando pertinentes. Os testes estatísticos foram realizados com auxíliodeumprogramadecomputador(SigmaStatfor WindowsVersion2,0–1992-1995,JandelCorporation). Significânciaestatísticafoidefinidacomop≤0,05.
Resultados
Aanálisehistopatológicadasbiópsiasrenaismostraram GNPMem16pacientes(37,2%),GESFem12(27,9%),LM em11(25,6%),GNMPemtrês(7%)eGNMemum(2,3%). AFiguraapresentaexemplodecadalesãohistológicados pacientescomsíndromenefrótica.
Vinteeoitopacienteseramdosexomasculino(65,1%) e15(34,9%),dosexofeminino.Aidadevarioude1,4a12
anos(médiade4,7±3,2),sendocinco(11,6%)menores
de2anos,23(53,5%)entre2e6anose15(34,9%)acima de6anos.Nomomentodarealizaçãodabiópsiarenal,a
médiadaidadefoide5,42±2,52anosemedianade5,7
anos.Apenasumacriançaapresentouopesoabaixodo percentil5,e10/43(23,2%)apresentaramestaturaabaixo dopercentil5.
Oedemafoiobservadoem97,7%,oligúriaem83,7% ehipertensãoarterialem32,5%dospacientes.Nenhuma criançaapresentouqueixadehematúriamacroscópica,e ahematúriamicroscópicaestevepresenteem55,8%dos pacientes.
Os níveis de proteinúria variaram entre 2,6 e
29,1g/1,73m2SC/dia,comamédiade15,3±5g/1,73m2SC/
Figura–Lesõesglomerularesdepacientescomsíndromenefrótica.A)glomerulonefriteproliferativamesangial,coloraçãoPAS,100x;B)glomeruloesclerosesegmentarefocal, coloraçãotricrômioMasson,100x;C)lesõesmínimas,coloraçãotricrômioMasson,100x;D)glomerulonefritemembranoproliferativa,coloraçãoHE,100x;E)glomerulonefrite membranosa,coloraçãoPrata,100x
Ospadrõesdaslesõesrenaisecaracterísticasclinicola-boratoriaisdas43criançascomsíndromenefróticaestão expressosnasTabelas1e2.
Comparando os dados clinicolaboratoriais entre os pacientesportadoresdeLM,GESFeGNPM,nãoseobser-voudiferençaestatísticasignificativaentre:proporçãode sexomasculinoefeminino;médiasdeidadenoiníciodo seguimentoenomomentodarealizaçãodabiópsiarenal; ausênciaoupresençadehipertensãoarterial;ausênciaou presençadeoligúriaeasmédiasdeuréiaecreatininaséricas. OspacientesportadoresdeGESFapresentarammédiade proteinúriasignificativamentemaiorqueospacientescom
GNPMouLM.Hematúriaocorreuemmaiorproporçãode pacientescomGNPMeGESF,comparadosaoscomLM.
Característicasclínicasem43criançascomsíndromenefrótica
Característicasclínicas
Tipo
delesão
n(%)Períododabiópsia
n(S/D/R)Sexo Idade(anos)
Idadeno
momentoda
biópsia(anos)
Hipertensão
arterial
(mmHg)
Oligúria
1967-1979 1980-2001 M/F Média±DP Média±DP n n GNPM 16(37,2) 3(2/1/0) 13(1/2/10) 10/6 5,6±2,7 6,4±2,4 5 11GESF 12(27,9) 2(1/0/1) 10(0/0/10) 7/5 7,1±3,7 7,6±3,6 4 11 LM 11(25,6) 6(3/3/0) 5(1/2/2) 10/1 4,1±3 4,6±3,1 3 10
GNMP 3(7) – 3(0/1/2) 1/2 6,8±3,6 7±3,5 2 2
GNM 1(2,3) – 1(0/0/1) 1/– 1,5 1,5 – 1
GNPM=glomerulonefriteproliferat GNM=glomerulon
Tabela1
Característicaslaboratoriaisem43criançascomsíndromenefrótica
Característicaslaboratoriais
Tipo
delesão
microscópica
Hematúria
hematúria
Escoreda
(g/1,73m
Proteinúria
2/dia)
Creatinina
(mg/dl)
(mg/dl)
Uréia
n
n
0
0,5
1
2
Média
±
DP
Média
±
DP
Média
±
DP
GNPM 16 12 4 3 2 3 11,5±6,7 0,8±0,4 36,6±19,3 GESF 12 7 – 1 1 5 18,5±7,6 0,6±0,4 37,8±30,5LM 11 1 – 1 – – 8,9±4,4 0,6±0,3 24,5±5,8
GNMP 3 3 – – – 3 10,7±6,3 0,9±0,6 54,3±28
GNM 1 1 – – – 1 27 0,4 22
GNPM=glomerulonefriteproliferat GNM=glomerulonefritemembranosa.
Tabela2
Remissãodasíndromenefróticafoiobservadaem27 pacientes(62,8%),destes,12(44,4%)permaneceramem remissão,porémnecessitandodecorticosteróide.Outros tratamentos realizados foram ciclofosfamida associada a prednisona em: cinco pacientes com GNPM; dois com dependênciaetrêscomresistênciaaocorticosteróideoral; emtrêscomLM,todoscomdependênciaaocorticosteróide oral;emtrêscomGESF,todoscomresistênciaaocorticos- teróideoral;emumcomGNMP,comresistênciaaocorti-costeróideoral.Ciclofosfamidaoralassociadaaprednisona oraleametilprednisolonaintravenosafoiadministradaem cincopacientescomGNPMcomresistênciaaocorticoste-róideoral;emtrêscomLM,doiscomresistênciaeumcom dependênciaaocorticosteróideoral;emsetecomGESFcom resistênciaaocorticosteróideoral.Aproporçãodepacientes
comremissãodasíndromenefróticaapósessestratamentos foisignificativamentemaiornosportadoresdeLM.
Recidivasfreqüentesforamobservadasem12pacientes (27,9%),dosquaisseisapresentaramGNPM;dois,GESF; três, LM e um, GNM. A proporção de pacientes com recidivasfreqüentesnãodiferiuestatisticamenteentreos portadoresdeGNPM,GESFouLM.
Níveis persistentes de proteinúria menores de
1g/1,73m2SC/dia foram observados em nove pacientes
óbitofoisepsenopacientecomGESFeinsuficiênciarenal comdistúrbiocardiovascularnopacientecomGNPM.
ATabela3 apresentaaevoluçãoearespostaaotra-tamentodospacientescomsíndromenefrótica.Aanálise estatísticacomparativadospacientescomGNPM,GESFe
LMestáexpressanaTabela4.
Discussão
Opadrãohistológicodaslesõesrenaisdepacientesse-lecionadoscomsíndromenefróticanosrelatosdeliteratura ésemelhanteaoobservadonopresenteestudo(1,21,25).
AfreqüênciadeGESFempacientesnão-selecionadosé
de5,3%,enquantoempacientesselecionadoséde11,4%(6,
7, 12, 20, 31). Alguns autores têm descrito maior incidência
de GESF (31%) em crianças com características clínicas e laboratoriais sugestivas de LM(5, 27, 30). Em decorrência dessa observação, esses autores têm proposto a realiza-çãodebiópsiarenalemtodosospacientesnefróticos.A causaparaocrescenteaumentodeGESFédesconhecida; têm-serelatadomaiorincidênciaemcriançasamericanas
nefróticasdescendentesdeafricanos(5,26,27) .AGESFédes-critaem28,9%decriançascomsíndromenefróticacom dependênciadocorticosteróide(25).Napresentecasuística, essalesãofoimaisfreqüenteempacientescomresistência aocorticosteróide.
AfreqüênciadeGNPMdescritanaliteraturaévariável; existem relatos de baixas freqüências com valores entre
2,3%e5,5%(7,15,31),bemcomofreqüênciasemtornode
25%(5,25)comoobservadoemnossoestudo.
Osresultadosdiferentespodemdever-seadiferentes critérios na classificação histológica(17). Lesões mínimas podem-se acompanhar de proliferação mesangial pela classificação de doenças glomerulares do International
StudyofKidneyDiseaseinChildren(17),eforamdescritas
mudanças do padrão histológico das lesões renais em biópsiasseqüenciais(1, 12).AhmadeTejani(1)estudaram25 criançasqueapresentaramLMnaprimeirabiópsiarenal;na segunda,seteapresentaramnefropatiaporIgMe14,GESF.
Otempomédioentreasduasbiópsiasfoide27,4meses(1).
NoclássicoestudoInternationalStudyofKidneyDiseasein ChildrenhácitaçãodetrêscriançasnefróticascomLMque
Evoluçãode43criançascomsíndromenefrótica
Tipode
lesão(
n
)
seguimento(m)
Tempode
Variação(média)
Tratamento
(
n
)
Remissão
Proteinúria
persistente
<1g/1,73m
2SC/dia
Persistência
s.nefrótica
Com
corticoterapia
corticoterapia
Sem
n n
n
n
GNPM(16) 8-180(70,3) P(5) 2 1 2 –
P+C(4) 2 – 1 1
P+C+L(1) – 1 – –
P+L(1) 1 – – –
P+C+M(5) 1 2 2 –
GESF(11) 8-192(86,2) P(1) – – 1 –
P+C(3) 1 1 – 1
P+C+M(7) – 3 1 3
LM(11) 3-180(79,1) P(5) 2 3 – –
P+C(3) – 3 – –
P+C+M(3) 2 1 – –
GNMP(3) 3-126(55) P(2) 1 – – 1
P+C(1) – – 1 –
GNM(1) 6 P(1) – – 1 –
GNPM=glomerulonefriteproliferat GNM=glomerulonefritemembranosa;P=prednisona;C=ciclofosfamida;L=levamisol;M=metilprednisolona.
foramaóbitoeemcujasautópsiasfoidemonstradoGESF nointervaloentreotratamentoeoóbitode9,2;12,8e 16,5meses(18).Aexplicaçãomaisprovávelparaessesfatos équeaslesõesdaGESFsãofocaisenãoforamidentificadas naprimeirabiópsiarenal.
AbaixafreqüênciaGNMPeGNMestádeacordocom osdadosdeliteraturaquereferemincidência,variandode
4,7%a7,5%e1,5%a2,8%,respectivamente(15,31).
Os resultados dos dados clínicos e laboratoriais das criançascomsíndromenefróticanopresenteestudoforam semelhantesaosdescritosnaliteratura.Idadeinferiora6 anosérelatadaem64,5%einferiora8anos,em75%;pre-dominânciadosexomasculino,em57%a69%;edema,em 98%;hipertensãoarterial,em19,4%a25,6%;hematúria microscópica,em27,6%a32%eelevaçãodosníveisde uréiasérica,em19,2%(5,15,31).
Nos portadores de LM observamos predomínio do sexomasculinoeidadeinferiora6anos,comoédescrito naliteratura(7, 15, 31).Édifícildistinguircriançasnefróticas portadorasdeLM,GESFeGNPMemrelaçãoàidade.Ao contrário,amaioriadosportadoresdeGNMPapresenta idadesuperiora6anospertenceaosexofeminino(7,15,31).
Hipertensãoarterialéobservadaem41%a48,5%dos
pacientescomGESFeem51,4%a67%doscomGNMP(15).
Nesteestudoafreqüênciadehipertensãoarterialnãofoi
significativamente diferente entre as crianças com LM, GESFeGNPM.AlgunscasosdeLM(44%)apresentaram hipertensão arterial, provavelmente relacionada ao uso crônicodecorticosteróide.
Nopresenteestudoaproteinúriafoisignificativamente maiornascriançascomGESF.Naliteraturaclínicanãohá referênciaquantoaesseachado,entretantoháreferências em relação à seletividade da proteinúria, que é alta na LM(16).
Nomodeloexperimentaldanefropatiaporadriamicina, osratosapresentamproteinúrialogoapóssuainduçãona primeira semana, quando as lesões se caracterizam por
perdadosprocessospodálicos(4)
.Naevoluçãodestanefro-patia,aproteinúriaseelevaconsideravelmente,atingindo níveismáximoscom16a28semanas,quandoseobservam lesõesdeescleroseglomerularsemelhantesàsdescritasna GESF(4,24).
NosportadoresdeGESF,GNMP,GNPMeGNMhematú-riamicroscópicaéfreqüenteachado(15,31) ,dadossemelhan-tesaosencontradosnopresenteestudo.Nosportadores deLM,afreqüênciadehematúriamicroscópicadescritaé de13%(31)e22,7%(15).
Semelhante ao descrito na literatura, os níveis de creatinina sérica não diferiram estatisticamente entre os padrõesdaslesõesrenais(15, 31).Édescritoqueaelevação
Análiseestatísticadecomparaçãodosparâmetrosclinicolaboratoriaisederesposta
aotratamentoentreospacientesportadoresdeGNPM,GESFeLM
Parâmetro
clinicolaboratorial
Lesõesglomerulares
LMxGESF
LMxGNPM
GESFxGNPM
p
p
p
Sexo(M/F) 0,15 0,18 1
Idade 0,09 0,09 0,09
Idadenomomentodabiópsia 0,15 0,15 0,15
Hipertensão 1 1 1
Oligúria 1 0,35 0,19
Proteinúria <0,01* >0,05 <0,05*
Hematúriamicroscópica 0,03* 0,003* 0,43
Uréiasérica 0,18 0,18 0,18
Creatininasérica 0,43 0,43 0,43
Sensibilidadecorticosteróide <0,001* 0,047* 0,18
Remissãodasíndromenefrótica 0,006* 0,05* 0,45
Recidivas 0,64 0,69 0,4
*Significante(p≤0,05).
dosníveisséricosdecreatininaemportadoresdeLMpode estarassociadaàfaseoligúricadasíndromenefrótica,na qual a hipovolemia ocasiona a redução da filtração glo-merular(31).
Com relação à evolução de pacientes nefróticos, no presenteestudoafreqüênciaderecidivasdasíndromene-fróticafoisemelhanteentreostrêspadrõeshistológicosmais encontrados.Recidivassãomuitofreqüentesnosportadores deLM,principalmentenospacientescomidadeinferiora 4anosnoiníciodoquadronefrótico(19).
Afaltaderespostaaotratamentocomcorticosteróide temsidodescritacomoumdosmelhoresindicadoresde evolução,independentedalesãohistológica.Portadores deLMcomousemproliferaçãomesangialsubmetidosao tratamento com pulsos de metilprednisolona associada ounãoaagentealquilanteapresentarammaiortaxade remissãoquandocomparadosaosportadoresdeGESFcom proliferaçãomesangial(20).Apersistênciadaproteinúriaé
maisfreqüentenosportadoresdeGESF,GNMPeGNM(31),
dadossemelhantesaosobservadosemnossotrabalho. Insuficiênciarenalcrônicaocorreem3,4%dospacientes comGESFaté12anosdeidade,em1,5%comGNMPentre
6e12anoseem0,2%comGNMentre2e12anos(11).
Nopresenteestudoencontramosresultadossemelhantes. Aavaliaçãodopadrãohistológicorenaldecriançascom síndrome nefrótica, com resistência a corticosteróides, submetidasaotratamentocompulsosdemetilpredniso-lonaassociadaounãoaagentealquilante,reveloumaior incidênciadeinsuficiênciarenalcrônicanospacientescom
GESF(20).Osachadosreforçamaimportânciadaavaliação
histológica,identificandoalteraçõescomoescleroseglo-merular,queapresentapiorprognósticoemcriançascom síndromenefróticacomresistênciaacorticosteróides.
Na década de 1960, a mortalidade em crianças nefróticas era em torno de 27%, sendo relacionada a complicações trombóticas e infecciosas(2). Relatos pos-terioresdescrevemtaxadeóbitomenorerelacionada a processo infeccioso em 4,2% a 6,7% das crianças
nefróticas(12,31).EmportadoresdeLMtemsidodescrito
óbitoem2,7%doscasos(18).Adiminuiçãodamortalidade
temserelacionadoaocontroledoquadronefróticocom tratamentosmaisagressivosnaslesõesquesãoresistentes aocorticosteróide(6,10,22,28,29,30).
Conclusões
Nesta casuística observou-se predomínio de lesões glomerularesdiferentesdeLMnascriançascomsíndrome nefrótica. Os dados clinicolaboratoriais de sexo, idade noiníciodoseguimentoenomomentodarealizaçãoda biópsiarenal,presençadehipertensãoarterialoudeoli-gúriaeníveisséricosdeuréiaecreatininanãoauxiliaram na diferenciação entre LM, GESF e GNPM. Observou-se sensibilidadeacorticosteróidesemLM,proteinúriamaior em GESF e hematúria microscópica principalmente em GESFeGNPM.
Síndromenefróticaépatologiacomsignificantemor-bidade, principalmente nos pacientes que apresentam resistênciaaoscorticosteróidesousãodependentesdeles, cujosdadosclinicolaboratoriaisnãosãosuficientesparadife-renciaraslesõesmorfológicas.Oconhecimentodopadrão histológiconessespacientesédefundamentalauxíliono tratamento,emparticularnaGESFque,comtratamentos mais agressivos, tem 50% dos pacientes apresentando remissãodadoença(6,10,22,28-30).
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Endereçoparacorrespondência
MárciaC.Riyuzo
DepartamentodePediatriadaFaculdadedeMedicina deBotucatu–UNESP
RubiãoJr.s/n
CEP18618-970–Botucatu-SP Tel./fax:(14)3811-6274/3811-6083 e-mail:mriyuzo@fmb.unesp.br
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